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Universidade Fernando Pessoa

Pós-graduação em Ciências da
Informação e da Documentação

Tecnologias de Informação Documental

Iolanda Sofia Rendeiro Valente

Comparação entre Formatos de Classificação


CDD, CDU e LCC

Porto, Junho de 2003

Universidade Fernando Pessoa


Praça 9 de Abril, 349
P-4249-004 Porto
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Fax. +351-22550.82.69
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Resumo

O presente trabalho propõe, numa primeira fase, o estudo de três sistemas de


classificação, mais especificamente, a Classificação Decimal de Dewey (CDD),
a Classificação Decimal Universal (CDU) e a Classificação da Biblioteca do
Congresso (LCC).

Finda a primeira etapa, entramos questão principal do trabalho, ou seja,


escolher um sistema de classificação mais indicado para utilizar numa
biblioteca portuguesa. Para efectuar essa escolha começamos por comparar os
três sistemas, apontamos as suas vantagens e desvantagens e estudamos o
panorâmica dos sistemas de classificação utilizados em Portugal.

Feita a analise de todos os elementos fundamentais para efectuar uma


escolha, elegemos a CDU como o sistema de classificação a utilizar, por três
motivos decisivos: é mais fácil de utilizar, quer para utentes, quer para os
bibliotecários; é a que melhor se adequa em Portugal e é a mais utilizada
(exemplos: Biblioteca Nacional).

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Índice

Introdução .......................................................................................................... 4

Descrição do problema ...................................................................................... 5

1 – Classificação ................................................................................................ 5

1.1 – Classificação Decimal de Dewey (CDD) ................................................... 6

1.2 – Classificação Decimal Universal (CDU) .................................................... 7

1.3 – Classificação da Biblioteca do Congresso (LCC) ................................... 10

Revisão bibliográfica ........................................................................................ 12

Aspectos importantes ...................................................................................... 14

Conclusão ........................................................................................................ 15

Bibliografia ....................................................................................................... 16

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Introdução

Para a frequência do módulo de Tecnologias de Informação Documental, da


pós-graduação em Ciências da Informação e da Documentação, foi-nos
proposto a elaboração de um trabalho que levantasse um problema ou uma
questão relevante para o módulo.

Assim surgiu a ideia de fazer um estudo dos três maiores sistemas de


classificação (a Classificação Decimal de Dewey (CDD), a Classificação
Decimal Universal e a Classificação da Biblioteca do Congresso (LCC)).
Resumindo a questão que se levanta neste ensaio é: Qual o sistema de
classificação mais apropriado para as bibliotecas portuguesas?

Para nos ajudar a responder a esta questão começamos por definir o que é a
classificação, para então podermos fazer uma viagem pelos três sistemas de
classificação, onde os descrevemos, salientamos as suas vantagens e
desvantagens; passamos uma vista de olhos pelo historial das bibliotecas
portuguesas no que se reporta ao tema.

Uma vez levantados e postos na balança os pontos fulcrais para poder efectuar
uma escolha em consciência explicamos quais os motivos da a nossa decisão.

2
Descrição do problema

A questão que este trabalho levanta é: Qual o sistema de classificação mais


apropriado para as bibliotecas portuguesas?

Vejamos em que consiste a Classificação, como funciona a CDD, a CDU e a


LCC:

1 – Classificação

A Classificação consiste no acto de classificar, de distribuir por classes, por


categorias, segundo uma certa ordem e método. Foskett afirma que a
classificação é o assunto que levanta mais polémica na ciência
biblioteconómica e defende que “a Classificação só vale quando encarada
como ferramenta ao serviço da recuperação de informação e de referência –
mas quando assim a considerem, pode tornar-se vital para os bons resultados
a obter” (1981: 89). A classificação nasce da necessidade do indivíduo partilhar
experiências, e para que essa partilha se efectue é preciso organizar a
informação para poder procurar o conhecimento.

Cabe aos bibliotecários a tarefa de classificar os documentos, para oferecer


aos investigadores das diversas áreas resultados que lhes sejam pertinentes.
Quando um autor escreve uma obra, esta enquadra-se num determinado
assunto, pois tudo está relacionado com alguma coisa, assim o bibliotecário
tem que acusar essa relação através de uma sequência de códigos.

Para ordenar o conhecimento é pertinente o estabelecimento de classes , ou


seja, arrumar as ideias num sistema organizado do pensamento. Existem
vários tipos de organizações, como por exemplo: as alfabéticas, as numéricas
e as alfanuméricas.

A ordenação alfabética é pouco eficaz porque não estrutura a informação,


dispersa-a, subdividi-a e não é universal, porque no mundo existem várias
línguas. A alfanumérica pode tornar-se pouco aconselhável pois é mais
confusa, pois combina dois tipos de simbologia. Por exclusão de partes a

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classificação mais prática, quer para o bibliotecário quer para o utente é a
numérica.

O grande dilema do bibliotecário começa quando tem que decidir se deve


seguir uma linha de classificação mais generalista ou especializada. O primeiro
aspecto a ter em consideração é identificar o tipo de biblioteca em que trabalha
e as características dos seus utentes. Assim, se o bibliotecário trabalhar numa
biblioteca pública poderá optar por uma classificação mais generalista; mas se
trabalhar numa biblioteca especializada deve classificar a obra
minuciosamente. O que acontece na prática é que quando entramos numa
biblioteca pública , que tenha adoptado a CDU, à procura dos Maias do Eça de
Queirós, encontramos a obra na secção 821 Literatura, onde não temos uma
distinção por: países, género e tempo; mas se procurarmos o mesmo livro na
biblioteca da Faculdade de Letras encontraríamos na secção 821.134.3-31”19”.

Actualmente, as editoras e os próprios autores já estão mais sensíveis aos


sistemas de classificação e incluem no livro a chamada “classificação pré-
natal”, expressão criada por Ranganatham. Este tipo de classificação ajuda
bastante o bibliotecário (tempo e precisão).

1.1 – Classificação Decimal de Dewey (CDD)

O pai da Classificação Decimal de Dewey (CDD) foi Melvil Dewey , fundador da


primeira escola de bibliotecários foi um bibliógrafo norte-americano, que
inventou a Classificação Decimal utilizada nas bibliotecas.

A CDD foi criada em 1876 e divide o conhecimento em nove classes; contém


ainda uma décima para as obras gerais; vejamos então as classes principais:

000 Computadores, informação, e Generalidades

100 Filosofia & psicologia

200 Religião

300 Ciências Sociais

4
400 Linguística

500 Ciências Puras

600 Tecnologia (Ciências Aplicadas)

700 Belas-Artes

800 Literatura

900 História Geral, etc

A CDD trabalha no mínimo com três dígitos, que podem ser seguidos por um
ponto e subclasses. A leitura faz-se decimalmente, ou seja, 869 Literatura
Portuguesa lê-se oito seis nove e nunca oitocentos e sessenta e nove.

Para complementar a tabela principal, Dewey criou a tabela de divisões de


forma, que permite acrescentar a qualquer assunto. A finalidade desta tabela é
conseguir ver os aspectos comuns entre os vários assuntos.

Como todos os sistemas de classificação, também a CCD está sujeita a


edições actualizadas, e foi na 13ª edição que surgiu a tabela de subdivisões
comuns, que se revelou muito vantajosa, pois veio facilitar a rápida
identificação da obra.

1.2 - Classificação Decimal Universal (CDU)

As linhas gerais deste sistema foram apresentadas em 1876 por Melvil Dewey,
que sofreram algumas alterações. No ano de 1895, Paul Otlet e Henry La
Fontaine trouxeram a Classificação Decimal para a Europa, mas necessitaram
de lhe fazer algumas alterações e extensões para adapta-la ao velho
continente, nascendo assim a Classificação Decimal Universal.

A CDU é um sistema de classificação bibliográfica que abarca a totalidade dos


conhecimentos em dez classes principais, ramificadas até ao infinito. As
classes são um conjunto de elementos que têm características comuns. Esta
classificação funciona no mínimo com três dígitos, que podem ser

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acompanhados por extensões, as subdivisões são acompanhadas por
símbolos, vejamos a tabela auxiliar:

1 - Tabela Auxiliar:

Símbolo Expresso por Significado

+ mais Conexão de símbolos não consecutivos

/ traço Conexão de símbolos consecutivos

: dois pontos Relação irreversível entre dois conceitos

[] parênteses rectos Relação (subordinação)

= igual Auxiliares Comuns de Língua

(0) zero, entre aspas Auxiliares Comuns de Forma

(1/9) parênteses curvo Auxiliares Comuns de Lugar

(=) Igual, entre parênteses Auxiliares Comuns de Raça e nacionalidade

“ ” Aspas Auxiliares Comuns de Tempo

-05 Hífen zero cinco Auxiliares Comuns de Pessoa

Ã/Z de A a Z Subdivisões individuais

- hífen Números analíticos especiais

.00 ponto, dois zeros Ponto de vista

.0 ponto, zero Números analíticos especiais

Podemos dividir os auxiliares em dois grupos: os dependentes e os


independentes. Os dependentes são: os de ponto de vista; os de
características gerais, de pessoas e materiais. Os independentes são os
auxiliares comuns de: língua; forma; lugar; raças e povos; tempo.

Vejamos, agora a tabela principal da CDU que integra as dez classes do


conhecimento:

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2 - Tabela Principal:

0 Generalidades. Informação. Organização.

1 Filosofia, Psicologia.

2 Religião

3 Ciências Sociais. Economia. Direito. Política. Assistência Social. Educação.

4 Classe vaga.

5 Ciências Puras. Matemática e Ciências Naturais.

6 Ciências Aplicadas. Medicina. Tecnologia

7 Arte. Belas-Artes. Recreação. Diversões. Desportos.

8 Linguagem. Linguística. Literatura

9 Geografia. Biografia. História.

Como já foi dito anteriormente, a CDU começou por ser constituída por dez
classes, contudo podemos verificar na tabela principal que a classe 4 está
vaga, este facto deve-se à necessidade de flexibilizar a tabela, para esta poder
integrar conhecimentos que surjam, por exemplo quando a CDU foi criada não
existiam as novas tecnologias e quando estas surgiram foram integradas na
CDU.

Cada uma das classes principais subdivide-se, vejamos o exemplo da classe 8:

8 Língua. Linguística. Literatura

80 Questões gerais referentes à linguística e à literatura. Filologia

81 Linguística. Línguas

820 / 89 Literaturas e obras literárias nos vários idiomas

Afinal na prática como utilizamos a CDU? Como Classificamos o livro Jangada


de Pedra, de José Saramago? Começamos por ver que espécie de obra se
trata e verificamos que é uma obra literária, logo vamos para a classe 8
(Linguagem. Linguística. Literatura). Mas como dissemos anteriormente, temos

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que ter no mínimo três dígitos, porque senão esta informação é vaga; então
enquadramos o livro em Literatura de Línguas Individuais 821. O próximo
passo é identificar a nacionalidade o autor e adicionamos a subclasse que
identifica a Literatura Portuguesa que é 821.134.3. Finalmente temos que dar a
informação de que género literário se trata e vemos que é um romance e
acrescentamos o número analítico especial –31. A Classificação da obra é
821.143.3-31.

1.3 – Classificação da Biblioteca do Congresso (LCC)

A Classificação da Biblioteca do Congresso (LCC) nasceu nos Estados Unidos


e em traços gerais segue a Classificação Expansiva de Cutter. Esta
classificação foi publicada em sete edições de extensão para se melhor
adequar aos diversos tipos de bibliotecas.

A LCC está dividida em classes que vão de A a Z :

A – General works

B – Philosophy, Psychology. Religion

C – Auxiliary Sciences of History

D – History (General) and History of Europe

E – History: America

F – History: America

G – Geography. Anthropology. Recreation

H – Social Sciences

J – Political Science

K – Law

L – Education

M – Music and Books on Music

N – Fine Arts

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P – Language and Literature

Q – Science

R – Medicine

S – Agriculture

T – Technology

U – Military Science

V – Naval Science

Z – Bibliography. Library Science. Information Resources (General)

A organização da LCC é feita de departamentos por assunto, assim cada


classe é dividida isoladamente por especialistas. Esta classificação não tem
símbolos, as divisões de forma são próprias de cada classe; assim sendo, o
esquema da LCC é muito volumoso, logo é mais difícil de trabalhar.

A LCC foi pensada para ser utilizada para a Biblioteca do Congresso, mas
muitas bibliotecas públicas e universitárias adoptaram o seu sistema de
classificação.

La Montagne e R. S. Angel (1951:11-12) sugeriram que se introduzisse o sinal


de relação para modernizar o sistema. Também algumas classes sofreram
alterações, como foi o caso da R (Medicina).

Uma das grandes desvantagens da LCC é que foi feita muito à feição da
América e não é aberta a grandes mudanças que podem ser vitais, como por
exemplo: não tem extensões antes da literatura publicada sobre os novos
tópicos a entrar na bibliotecas, o classificador não se pode guiar por regras
para proceder às suas próprias extensões; as revisões são frequentes. Assim
apercebemo-nos que a LCC é o sistema de classificação que tem mais
desvantagens.

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Revisão bibliográfica

Classificação

D. J. Foskett afirma:

Segundo parece, nenhum outro assunto da ciência biblioteconómica levantou tanta


celeuma ou deu azo a tão diversos e opostos pontos de vista, como a Classificação (...)
a Classificação só vale quando encarada como ferramenta ao serviço da recuperação
de informação e de referência – mas quando assim a considerem, pode tornar-se vital
para os bons resultados a obter (FOSKETT, 1981)

Defende ainda, que há uma enorme vantagem em que todos os indivíduos


partilhem experiências e um os documentos escritos são um meio privilegiado
para efectuar essa partilha. Para que haja troca de informação é necessário
organizar os documentos pelo seu conhecimento essa é a tarefa do
bibliotecário, assim o especialista vê do que o documento trata e classifica-o.
De todos os sistemas de classificação os alfanuméricos são os menos
vantajosos:

Uma ordenação alfabética não consegue porque separa entidades que, na realidade,
estão relacionadas ainda que as suas designações as coloquem, alfabeticamente,
longe umas das outras. Um tal sistema não dá estruturação à informação – antes pelo
contrário pulveriza-a ao subdividi-la em fragmentos cercados por outros fragmentos
que não só não possuem qualquer relação com aqueles, mas até diferem de uma
língua para a outra (FOSKETT, 1981)

Generalizar ou personalizar? Devera-se fazer um esquema que englobe todos


os conhecimentos ou fazer um esquema particular? Deve-se usar um esquema
que cubra todas as áreas de interesse. (FOSKETT, 1981)

A Classificação na fonte, “classificação pré-natal” começa a aparecer


timidamente, onde encontramos com mais frequência é nas publicações muito
especifícas como Photographic Journal. (RANGANATHAM, 1951)

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CDD, CDU e LCC

CDD CDU LCC

- sistema numérico - sistema numérico - adequado para instituições


semelhantes, ou seja,
- sistema adaptado às
bibliotecas gerais (exemplo:
necessidades da
Biblioteca de Edimburgo)
Europa
Vantagens

- Flexibilidade (classe
vaga)

- sistema mais utilizado


em Portugal (inclusive
na BN)

- sistema criado para a


Biblioteca do Congresso
- está pensada
tendo como base a - constante actualização
cultura Americana
- divisão de classes é
isolada

- não tem subclasses


Desvantagens

- muito volumoso

- difícil de trabalhar

- o classificador não se
pode guiar por regras
(não pode fazer as
extensões que acha
pertinentes)

- é um sistema
alfanumérico (mais
confuso)

(FOSKETT, 1981)

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Aspectos importante

As classificações são uma preciosa ajuda para a recuperação de informação,


ajudam-nos a fazer uma triagem por assunto/ áreas de interesse. Quanto mais
universal for a classificação, mais probabilidade terá de ser partilhada. Para
que tudo corra bem, ela terá de ser bem organizada e respeitada pelos
especialistas, para que não haja dualidade de critérios a classificação pré-natal
é sempre bem vinda.

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Conclusões

O presente estudo permite conhecer melhor os três sistemas de classificação e


fazer um juízo critico de cada um deles.

Sem dúvida que o sistema de classificação menos vantajoso para as


bibliotecas nacionais é a Classificação da Biblioteca do Congresso (LCC). Este
sistema foi criado para uma instituição específica, como o nome indica, a
Biblioteca do Congresso, que é uma das maiores bibliotecas gerais do mundo.
O LCC tem raízes americanas muito vincadas, por isso é despropositado para
Portugal. A particularidade de ser um sistema alfanumérico, faz com que seja
difícil de trabalhar.

A CCD tem uma difusão maior do que a CDU, mas em Portugal esta é a mais
utilizada e este aspecto é bastante importante. Á semelhança da LCC também
a CDD tem raízes americanas. Resumindo, embora a CDD seja mais eficaz
para uma biblioteca portuguesa do que a LCC, as suas vantagens não
conseguem competir com as da CDU.

Não é difícil de concluir que a nossa escolha é a CDU. O primeiro motivo é a


sua flexibilidade fruto da constante actualização. Os seus moldes são mais
universais, não se comprometem com nenhuma cultura em especial. O seu
sistema numérico é de fácil utilização, quer para os especialistas, quer para os
comuns utentes. E sem dúvida, outro factor de supra importância é o da CDU
ser o sistema mais utilizado em Portugal, nomeadamente pela Biblioteca
Nacional. Estando nós a viver uma época do culto da troca da informação nada
mais pertinente do que a uniformização dos sistemas classificação.

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Bibliografia

Ashworth, W. (1981). Manual de Bibliotecas Especializadas e de Serviços


Informativos. Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian.

Cabral, M. L. (1996). Bibliotecas Acesso, Sempre. Lisboa, Edições Colibri.

Caravia, S. (1995). La Biblioteca y su Organización. Gijón, Trea.

La Montagne, Leo (1951). Revisión of the classification scheudule for medicine.


Washington, LCC.

Morrison, P.D.

Portugal, Biblioteca Nacional (1990). CDU – Classificação Decimal Universal:


Tabela de Autoridade. Lisboa, Biblioteca Nacional.

Ranganathan, S. R. (1951). Classification and communication. Londres, Delhi


Universiy.

www.cerem.ufp.pt/nunoribeiro/aulas/tid/tid.html

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