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O CÂNON DE YAO (1)

(Livro de T'ang. Textos Antigo e Moderno) (2)

1. Investigando a Antigüidade (3), verificamos que Ti Yao se chamava Fang- hsün. Era
reverente, esclarecido, instruído e atento, com naturalidade e sem esforço. Era
sinceramente cortês e capaz de toda e qualquer complacência. A gloriosa influência
dessas qualidades foi sentida nos quatro quadrantes do território e alcançou o céu no
alto e a terra aqui em baixo.

Distinguiu os capazes e virtuosos; depois, amou a todos aqueles pertencentes às nove


classes da sua parentela, que assim se tomou harmoniosa. Regulamentou e refinou
também o povo dos seus domínios, que se tornou todo ele brilhantemente esclarecido.
Por fim unificou e harmonizou os inúmeros estados; assim se transformaram as
populações de cabelos pretos. E o resultado foi a concórdia universal.

2.Ordenou aos Hsis e Hos, em reverente acordo com a sua observação dos largos céus,
que calculassem e desenhassem os movimentos e aparências do sol, da lua, das estrelas
e dos espaços zodiacais; e, desse modo, respeitosamente decretassem quais as estações a
serem observadas pelo povo.

Ordenou separadamente ao segundo irmão Hsi que residisse em Yü-i, no lugar


denominado Vale Brilhante e ai respeitosamente hospedasse o sol nascente e regulasse e
ordenasse os trabalhos da primavera. "O dia", disse ele, "é de duração média e a estrela
está em Mao; - assim podereis determinar exatamente o meio da primavera. O povo está
disperso pelos campos e os pássaros e animais se cruzam e copulam".

Depois ordenou ao terceiro irmão Hsi que residisse em Naon- chiao, no lugar
denominado Capital Brilhante, para que regulasse e ordenasse as transformações do
verão e respeitosamente observasse os limites exatos da sombra. "O dia", disse ele, "está
na sua duração máxima e a estrela acha-se em Huo; - assim podereis determinar
exatamente o meio do verão. O povo está mais disperso e os pássaros e animais, com as
penas e o pêlo ralos, mudam de roupagem".

Ordenou separadamente ao segundo irmão Ho que residisse no ocidente, no lugar


denominado Vale Obscuro e aí respeitosamente acompanhasse o sol poente e regulasse
e ordenasse os trabalhos do outono, em conclusão. "A noite", disse ele, "está na sua
duração média e a estrela acha-se em Hou; - assim podereis determinar exatamente o
meio do outono. O povo sente-se bem e os pássaros e animais estão com a sua
roupagem em bom estado".

Depois ordenou ao terceiro irmão Ho que residisse na região norte, no lugar


denominado Capital Sombria e aí regulasse e observasse as mudanças do inverno. "O
dia", disse ele, "está na sua duração mínima e a estrela acha-se em Mao; - assim
podereis determinar exatamente o meio do inverno. O povo fica em casa e a roupagem
dos pássaros e animais é farta e recoberta de penas ou pêlos".

Disse o Ti (4): "Ah! vós, Hsis e Hos, um ano inteiro consiste de trezentos e sessenta e
seis dias. Mediante o mês intercalar, fixam as quatro estações e completai o período do
ano. E após, estando os vários funcionários assim regulamentados, todos os trabalhos
serão plenamente executados".

3.Disse o Ti: "Quem procurará para mim um homem de acordo com a época, a quem eu
possa elevar e empregar? Fang - ch'i disse: "O vosso filho e herdeiro Chu é muito
esclarecido". Disse o Ti: "Ah! ele é insincero e turbulento; - poderá satisfazer?"

Disse o Ti: "Quem procurará para mim um homem à altura das exigências dos meus
negócios?" Huan- tao disse: "Oh! os méritos do Ministro de Obras acabaram de ser
exibidos em larga escala". Disse o Ti: "Oh! ele fala quando tudo é calmo; mas, quando
trabalha, as suas ações se exprimem de modo diferente. Só é respeitoso na aparência.
Vede! as inundações molestam os Céus!"

Disse o Ti: "Oh! Presidente das Quatro Montanhas, as águas da enchente são
destruidoras no seu transbordar. Na sua vasta extensão, abarcam os montes e sobem
além das grandes alturas; ameaçam os Céus com a inundação, que o povo até resmunga
e murmureja! Haverá um homem capaz a quem eu possa encarregar de corrigir essa
calamidade?" Todos na corte disseram: "Ah! pois não existe Kun?" Disse o Ti: "Ah!
como ele é perverso! Desobediente às ordens, procura prejudicar os seus pares". Disse o
Presidente das Montanhas: "Sim, mas. . . experimentarei para ver se ele consegue
realizar o trabalho". E assim Kun foi empregado. Disse-lhe o Ti: "Ide e sede reverente!"
Ele labutou durante quatro anos, mas a obra não se realizou.

Disse o Ti : "Oh! Presidente das Quatro Montanhas, estou ocupando o trono há setenta
anos. Vós podeis executar as minhas ordens; abdicarei do meu cargo em vosso
benefício". Disse o chefe: "Eu não possuo a virtude; - eu desgraçaria o vosso cargo".
Disse o Ti: "Apontai-me alguém entre os ilustres ou indicai-me alguém entre os pobres
e os humildes". "Todos então disseram ao Ti: "Existe, entre a gente de condição
inferior, um homem solteiro chamado Shun de Yü" (5). Disse o Ti: "Sim, ouvi falar
nele. Que tendes a dizer a seu respeito?" Disse o Chefe: "Ele é filho de um cego. O pai
era obstinadamente inescrupuloso; a madrasta, insincera; o irmão unilateral, Hsiang,
arrogante. Ele conseguiu, entretanto, com a sua piedade filial, viver em harmonia com
eles e os levar, gradualmente, ao domínio de si mesmos. Assim, eles já não se tornam
cada vez mais perversos". Disse o Ti: "Eu o experimentarei; eu o casarei e, desse modo,
verei qual o seu comportamento para com as minhas duas filhas". E assim preparou e
enviou as duas filhas ao norte de Kwei para serem esposas (a família) de Yü. O Ti lhes
disse: "Sede reverentes !"

[nt.No Texto Antigo existe, nesta altura, uma divisão e dá-se ao que segue o nome de
"Cânon de Shun", ao passo que o Texto Moderno considera o todo como sendo o Cânon
de Yao. Omitimos um parágrafo espúrio, de vinte e oito palavras, acrescentado no ano
de 497 d.C.]

E eles chegaram a ser universalmente observados. Nomeado Governador Geral, foram


providenciados os negócios de cada departamento oficial, nas épocas oportunas.
Encarregado de receber os príncipes dos quatro quadrantes da terra, todos se mostraram
docilmente submissos. Enviado às grandes planícies ao sopé das montanhas, não se
perdeu, apesar das tempestades de vento, trovão e chuva.

Disse o Ti: "Aproximai-vos, Shun. Eu vos consultei a respeito de todos os negócios,


meditei nas vossas palavras e verifiquei que podem ser postas em prática; - subireis,
durante três anos, ao trono do Ti". Shun desejou declinar em favor de alguém mais
virtuoso e não consentir em ser o sucessor de Yao. No primeiro dia do primeiro mês,
entretanto, aceitou a abdicação de Yao dos seus encargos, no templo do Ancestral
Instruído.

5.Examinou a esfera giratória adornada de pérolas, com o seu tubo transverso de jade e
reduziu a um sistema harmonioso os movimentos dos Sete Diretores.

Em seguida, sacrificou de modo especial a Deus, embora segundo as fórmulas usuais;


sacrificou, com reverente pureza, aos Seis Honrados; ofereceu os devidos sacrifícios aos
montes e rios; e estendeu a sua adoração às hostes de espíritos.

Convocou todos os cinco símbolos de jade da hierarquia; e, acabado o mês, deu


audiência diária ao Presidente das Quatro Montanhas e a todos os Pastores (6),
devolvendo finalmente aos vários príncipes os seus símbolos.

No segundo mês do ano, realizou uma viagem de inspeção rumo a leste, até Tai- chung,
onde apresentou aos Céus uma oferenda ardente e sacrificou na devida ordem aos
montes e rios. Em seguida, deu audiência aos príncipes do oriente. Estabeleceu
harmoniosamente as suas estações e os seus meses e regulou os seus dias - uniformizou
os tubos- padrão, com as medidas de comprimento e capacidade e as jardas de aço;
regulamentou as cinco classes de cerimônias, com os vários artigos de introdução - os
cinco símbolos de jade, as três qualidades de seda, os dois animais vivos e o morto.
Quanto aos cinco instrumentos da hierarquia, devolveu-os quando tudo estava
terminado. No quinto mês, fez uma viagem semelhante rumo ao sul, até as montanhas
do meio-dia, onde celebrou as mesmas cerimônias de Tai. No oitavo mês, fez uma
viagem rumo a oeste, até as montanhas do ocidente, onde procedeu como dantes. No
décimo primeiro mês, fez uma viagem rumo ao norte, até as montanhas do setentrião,
onde celebrou as mesmas cerimônias do ocidente. Regressou então à capital, dirigiu-se
ao templo do Ancestral Cultivado e sacrificou um único touro.

No decurso de cinco anos, houve uma viagem de inspeção e quatro comparências dos
príncipes à corte. Estes apresentaram relatórios verbais do seu governo, claramente
comprovados pelos seus trabalhos. Receberam carros e vestes segundo os méritos de
cada um.

Instituiu a divisão da terra em doze províncias, nelas erguendo altares no alto de doze
montes. Também aprofundou os rios.

Expôs ao povo as punições estatutárias, promulgando o banimento como forma de


mitigação das cinco grandes penas; o chicote a ser empregado pelos tribunais de
magistrados, a vara a ser usada nas escolas e o dinheiro a ser recebido pelos delitos
resgatáveis. Seriam perdoados os delitos por inadvertência e os que pudessem ser
atribuídos à infelicidade; mas as pessoas que violassem as leis, presunçosa e
repetidamente, seriam punidas de morte. "Que eu seja reverente! Que eu seja
reverente!" dizia ele a si mesmo. "Que a compaixão reine em matéria de punições".

Baniu o Ministro de Obras para a ilha de Yü; confinou Huan - tao ao Monte Ch'ung;
impediu o chefe de San- Miao e o seu povo para San- wei e aí os conservou; e manteve
Kun prisioneiro até a morte, no Monte Yü. Assim tratados esses quatro criminosos,
todos na face da terra reconheceram a justiça da administração de Shun.

6. Decorridos vinte e oito anos, faleceu o Ti: então o povo o pranteou durante três anos,
como a um pai. Quedaram e emudeceram as oito qualidades de instrumentos de música
compreendidas nos quatro mares. No primeiro dia do primeiro mês do ano seguinte,
Shun foi ao templo do Ancestral Instruído.

7. Deliberou com o Presidente das Quatro Montanhas sobre a maneira de manter abertas
as portas de comunicação entre ele próprio e os quatro quadrantes da terra e a respeito
de como poderia ver com os olhos e ouvir com os ouvidos de todos.

Consultou os doze Pastores e lhes disse: "O alimento depende da observância das
estações. Sedes bondosos para com os distantes e cultivai a capacidade dos que estejam
próximos. Honrai os virtuosos e confiai nos bons, ao passo que recusai favorecer os
espertos; assim as tribos bárbaras induzirão umas às outras a se submeterem".

Shun disse: Oh! Presidente das Quatro Montanhas, haverá alguém à altura de atender,
com vigorosa capacidade de servir, a todos os negócios do Ti e a quem eu possa nomear
Governador Geral, para auxiliar-me em todas as questões, administrando cada
departamento conforme a sua natureza?" Todos, na corte, replicaram: "Existe Po- yü,
Ministro de Obras". Disse o Ti: "Sim, Oh! Yü, vós regalastes a água e a terra. Esforçai-
vos neste novo cargo. Yü exprimiu obediência, com a cabeça tocando o solo e desejou
declinar em favor do Ministro da Agricultura, de Hsieh ou Kao- yao". Disse o Ti: "Sim;
mas, ide e assumi os encargos".

Disse o Ti: "Chi'i, o povo de cabelos pretos ainda padece fome. Continuai, ó Príncipe,
como Ministro da Agricultura, a semear para ele as várias qualidades de grão".

Disse o Ti: "Hsieh, os povos ainda carecem de afeição uns pelos outros e não observam
docilmente as cinco ordens de relações. Compete-vos, na qualidade de Ministro da
Instrução, pregar com reverência as lições do dever, que concernem àquelas cinco
ordens. Fazei-o brandamente".

Disse o Ti: "Kao - yao, as tribos bárbaras perturbam a nossa grande terra. Há também
ladrões, assassinos, insurretos e traidores. Compete-vos, na qualidade de Ministro do
Crime, aplicar as cinco punições no trato dos seus delitos. Três são os locais
determinados para a punição desses delitos. Cinco os casos em que se deve recorrer ao
banimento para os lugares devidos, sendo designadas três localidades embora sejam eles
cinco. Desempenhai esclarecidamente os vossos encargos e conseguireis sincera
submissão".

Disse o Ti: "Quem poderá superintender as minhas obras, segundo diversamente


requerem? Todos na corte replicaram: "Não existe Shui?' Disse o Ti: "Sim, ó Shui,
deveis ser o Ministro de Obras". Shui exprimiu obediência, com a cabeça tocando o solo
e desejou declinar em favor de Shu, Ch'iang ou Po- yü. Disse o Ti: "Sim; mas, ide e
assumi os encargos. Promovei a harmonia de todos os departamentos".

Disse o Ti: "Quem poderá superintender, como requer a natureza dos trabalhos, a relva
e as árvores dos meus montes e pântanos com os seus pássaros e animais?" Todos, na
corte, replicaram: "Não existe Yi?" Disse o Ti: "Sim, ó Yi, sede o meu Guarda -
Florestal. Yi exprimiu obediência, com a cabeça tocando o solo e desejou declinar em
favor de Chu, Nu, Hsiung ou Pi (7)". Disse o Ti: "Sim; mas, ide e assumi os encargos.
Deveis administrá-los harmoniosamente".

Disse o Ti: "Oh! Presidente das Quatro Montanhas, haverá alguém capaz de dirigir as
minhas três cerimônias religiosas?" Todos, na corte, responderam: "Não existe Po-i ?"
Disse o Ti: "Sim, ó Po, deveis ser Administrador do Templo do Ancestral. Sede
reverente de manhã à noite. Sede reto, sede puro". Po exprimiu obediência, com a
cabeça tocando o solo e quis declinar em favor de K'uei (8) ou Lung (9). Disse o Ti:
"Sim; mas, ide e assumi os encargos. Sede reverente!"

Disse o Ti: "K'uei, eu vos nomeio Diretor de Música a fim de ensinar aos nossos filhos,
para que os francos sejam dóceis: os brandos sejam dignos; os fortes não sejam
tirânicos; e os impetuosos não sejam arrogantes. A poesia é a expressão dos grandes
pensamentos; o canto é a enunciação prolongada dessa expressão; as notas
acompanham-na e se harmonizam através dos tubos- padrão. Desse modo, os oito
diversos tipos de instrumentos de música poderão ser ajustados para que um não tome
de outro nem interfira com terceiros; e os espíritos e os homens se harmonizarão". K'uei
disse: "Eu firo a pedra que soa, tanjo-a suavemente e os vários animais convidam-se
mutuamente à dança".

Disse o Ti: "Lung, eu abomino os faladores, que difamam e os destruidores dos retos
caminhos, que agitam e alarmam o meu povo. Eu vos nomeio Ministro das
Comunicações (10). Transmiti as minhas ordens, a qualquer hora e apresentai relatórios,
verificando que tudo seja verdadeiro".

Disse o Ti: "Oh! vós, vinte e dois homens, sede reverentes; assim sereis úteis aos
negócios que me foram confiados pelo Céu".

De três em três anos, procedeu-se a exame dos méritos e após três exames foram
degradados os não merecedores e promovidos os merecedores. Graças a essa
disposição, foram plenamente cumpridos os encargos de todos os departamentos; o
povo de San - miao foi também discriminado e separado.

8. No décimo terceiro ano de sua existência, Shun foi investido no cargo. Permaneceu
trinta anos no trono, com Yao. Cinqüenta anos depois, foi para o Céu e morreu.

OS CONSELHOS DO GRANDE YU

(Livro de Yü (11), II. Texto Antigo)

1.Investigando a Antigüidade, verificamos que o Grande Yü (12) se chamava Wen -


ming. Tendo ordenado e dividido toda a terra, até os quatro mares, disse ao Ti, em
reverente resposta: "Se o soberano puder conceber a dificuldade da sua soberania e o
ministro a dificuldade do seu ministério, o governo será bem disciplinado e o povo de
cabelos pretos procurará zelosamente ser virtuoso".

Disse o Ti: "Sim, que seja realmente esse o caso e as boas palavras não fiquem ocultas
em parte alguma; que nenhum homem de virtude e talento seja esquecido ou conservado
fora da corte e todos os inúmeros estados gozem de tranqüilidade. Mas, obter os pontos
de vista de todos; pôr de lado a nossa opinião e seguir a de terceiros; deixar de oprimir
os desamparados e não esquecer os aflitos e os pobres; só o antigo Ti o poderia
conseguir";

Disse Yü: "A vossa virtude, ó Ti, é imensa e incessante. É sábia, espiritual, inspiradora
de temor e adornada de todos os atributos. O Grande Céu vos contemplou com o seu
favor e vos conferiu o seu mandato. Possuístes, subitamente, tudo o que está
compreendido nos quatro mares e vos tornastes o governante de tudo quanto existe na
face da terra".

Disse Yü: "A obediência ao direito conduz à boa fortuna; seguir o que se lhe opõe, à má
fortuna; - à sombra e ao eco". Disse Yi: "Ah! Sedes prudentes! Exortai-vos à prudência,
mesmo quando pareça não ser momento de ansiedade. Não deixeis de observar as leis e
ordenações. Não encontreis satisfação na ociosidade. Não vos excedais no prazer. No
emprego de homens de mérito, não permitais que alguém se coloque entre vós e eles.
Ponde o mal de lado, sem hesitação. Não executeis planos de cuja sabedoria tiverdes
dúvida. Atentai bem para que todos os vossos propósitos possam receber a luz da razão.
Não ides contra o que é correto, visando obter o louvor do povo. Não vos oponhais à
vontade do povo para seguir os vossos próprios desejes. Atendei a essas coisas sem
ociosidade ou omissão e as tribos bárbaras em derredor se aproximarão e reconhecerão
a vossa soberania".

Disse Yü: Oh! Meditai a esse respeito, ó Ti. A virtude do governante se revela no seu
bom governo e esse governo, na nutrição do povo (13). Temos a água, o fogo, o metal, a
madeira, a terra e o grão: deverão ser devidamente regulados; temos a correção da
virtude do povo, dos instrumentos e de várias outras coisas, que proporcionam as
conveniências da vida e a obtenção de abundantes meios de sustento: deverão ser
harmoniosamente atendidos. Quando os nove serviços assim indicados tiverem sido
realizados, na devida ordem, isso será saudado com os cânticos do povo. Adverti-o com
palavras brandas, corrigi-o com a majestade da lei, estimulai-o com as canções sobre
esses noves assuntos - para que o vosso êxito não sofra diminuição". Disse o Ti: "A
terra foi posta em ordem e as influências do Céu produzem os seus plenos efeitos;
aqueles seis depósitos e três departamentos da ação governamental estão todos
devidamente regulados e poderão merecer confiança durante um sem número de
gerações; esse é o vosso mérito".

2.Disse o Ti: "Aproximai-vos, Yü. Eu ocupei o meu cargo durante trinta e três anos.
Medeio entre os noventa e os cem anos de idade e os laboriosos deveres me afadigam.
Afastando toda a indolência, dirigi o meu povo (14).Yü replicou: "A minha virtude não
está à altura do cargo e o povo não terá confiança em mim. Mas existe Kao - yao, cuja
atividade forte espalha aos quatro ventos a sua virtude. Ela chegou até o povo de
cabelos pretos, que o preza de todo o coração. Ó Ti, pensai nele! Quando nele concentro
o pensamento, o meu espírito repousa; ele é o homem para esse cargo; quando o afasto
da mente, o meu espírito ainda nele confia; quando cito o seu nome e falo da sua pessoa,
o meu espírito nele deposita confiança; a sincera expressão dos meus sentimentos a seu
respeito é que ele é o homem. Ó Ti, meditai nos seus méritos".

Disse o Ti: "Kao- yao, a circunstância de ser dificilmente encontrado entre os meus
ministros e em todo o meu povo, alguém que viole os regulamentos do governo - deve-
se ao fato de serdes Ministro do Crime, esclarecido no emprego das cinco penalidades,
assim auxiliando a inculcar os cinco deveres cardeais e tendo em vista a perfeição do
meu governo, para que, mediante as punições se possa chegar a não aplicar pena alguma
(15), e o povo concorde em seguir o caminho da Moderação. Continuai a ser tenaz".
Kao- yao replicou: "A vossa virtude, ó Ti, é irreprochável. Condescendeis com os
vossos ministros, com bondosa facilidade; presidis às multidões com generosa
indulgência. As punições não se estendem aos herdeiros dos criminosos ao passo que as
recompensas alcançam as gerações seguintes. Perdoais as faltas inadvertidas, embora
graves e punis os crimes propositais, ainda que sejam leves (16). Diante de crimes
duvidosos, procedeis com brandura; nos casos de mérito discutível, preferis a opinião
favorável. Ao invés de condenar à morte o inocente, correríeis o risco da irregularidade
e do erro (17). Essa virtude de amar a vida penetrou o espírito do povo e. por isso, ele
não se torna passível de castigo da parte dos vossos funcionários". Disse o Ti: "É à
vossa excelência que eu devo poder seguir e obter o que desejo no meu governo,
reagindo o povo, em toda a parte, como se fosse tangido pelo vento".

Disse o Ti: "Aproximai-vos, Yü. As águas transbordantes encheram-me de terror e vós,


de fato, cumpristes tudo quanto havíeis afirmado e concluístes os vossos serviços; -
demonstrastes, desse modo, a vossa superioridade sobre os demais. Careceis da menor
presunção orgulhosa; mas ninguém, na face da terra, poderá concorrer convosco à
palma do mérito (18). Vejo como é grande a vossa virtude, como são admiráveis as
vossas imensas realizações. O positivo mandato do Céu recai na vossa pessoa; devereis
eventualmente subir ao trono do grande soberano. O espírito do homem é inquieto,
propenso ao erro; é pequena a sua afinidade pelo que é reto (19). Sede discriminador,
sede uniforme na procura do correto para que possais sinceramente ater-vos com
firmeza à Moderação (20).Não deis ouvidos a palavras não comprovadas; não sigais
planos a respeito dos quais não procurastes aconselhar-vos. Não é o governante o
principal daqueles que devem ser amados? Se a multidão fosse privada do seu chefe
soberano, a quem sustentaria no alto? Se o soberano não tivesse a multidão, não haveria
quem lhe guardasse o país. Sede reverente. Conservai cuidadosamente o trono, que
devereis ocupar, cultivando as virtudes que são para desejar-se em vós. Se houver
miséria e pobreza na terra compreendida nos quatro mares, terão fim perpétuo as vossas
rendas concedidas pelo Céu. É a boca que origina o que é bom e desperta as guerras. Eu
não modificarei as minhas palavras". Disse Yü: "Submetei os ministros dignos de
mérito. um a um, a prova da adivinhação e permiti seja seguida a indicação favorável".
O Ti replicou: "Conforme as normas que regulam as adivinhações, deve-se primeiro
tomar a decisão e referir o juízo firmado ao grande casco de tartaruga (21). Nesse
particular, tomei antes a minha decisão; consultei todos os meus ministros e todo o
povo; deliberei com eles e todos se mostraram de acordo comigo. Os espíritos
testemunharam o seu assentimento e o casco de tartaruga, bem como as hastes divinas
igualmente concordaram. A consulta aos augúrios, quando auspiciosa, não deve ser
repetida". Yü exprimiu obediência, com a cabeça tocando o solo e declinou firmemente
aceitar o cargo. Disse o Ti: "Não deveis assim proceder. Sois quem pode ocupar
devidamente o cargo". Na primeira manhã do primeiro mês, Yü assumiu o mandato no
templo consagrado por Shun aos espíritos dos seus antepassados e tomou a direção de
todos os funcionários, conforme procedera o Ti, no início do seu governo.

3.Disse o Ti: "Ah! o Senhor de Miao é o único a recusar obediência: ide e corrigi-o.
Diante disso. Yü refluiu todos os príncipes e pronunciou um discurso as suas hostes
dizendo : "Multidão aqui formada, ouve as minhas ordens. O Senhor de Miao é
insensato, ignorante, criminoso e desrespeitoso. Cheio de desprezo e insolente para com
os outros, pensa que toda a capacidade e toda a virtude nele se resumem. Rebelde ao
direito, destrói todas as obrigações da virtude. Homens superiores são por ele mantidos
na obscuridade e pessoas mesquinhas preenchem todos os cargos. O povo o despreza e
não o protegerá. O céu faz descer calamidades sobre ele. Por conseguinte, minha
multidão de homens valentes, eu tenho instruções do Ti para punir os seus crimes, ao
teu lado. Procede com um só coração e uma só força para que o nosso empreendimento
seja coroado de êxito (22)".

Ao cabo de três decênios, o povo de Miao continuava rebelde às ordens a ele dirigidas,
quando Yi veio em auxilio de Yü, dizendo: "É a virtude que move o Céu; não há
distância que ela alcance. O orgulho acarreta prejuízos e a humildade é recompensada
(23); - esse é o estilo do Céu. Nos primeiros tempos do Ti, quando ele vivia perto do
Monte Li, metia-se nos campos e se debulhava em lágrimas, visando obter a compaixão
do Céu; e chorava pelos seus pais, tomando a si todo o pecado e imputando-se até a
maldade deles. Ao mesmo tempo, possuído de respeitoso espírito de serviço,
compareceu perante Ku- sau (24), parecendo grave e atemorizado até que, diante do seu
exemplo, Kü também se transformou. "A sinceridade completa comove os seres
espirituais - quanto mais não moverá a esse Senhor de Miao!" Yü prestou homenagem
às excelentes palavras e disse: "Sim". Logo depois, retirando as tropas recuou o seu
exército. O Ti pôs-se a difundir em larga escala as virtuosas influências da paz; os
soldados dançaram com os seus escudos e plumas entre as duas escadarias do pátio. Ao
cabo de setenta dias, o Senhor de Miao se aproximou e exprimiu a sua submissão (25).

OS CONSELHOS DE KAO - YAO

(Livro de Yü, III. Texto Moderno e Texto Antigo)

1. Investigando a Antigüidade, verificamos que Kao - yao (26) disse: "Se o soberano
procede sinceramente de acordo com a virtude, os conselhos que lhe forem dados serão
esclarecidos e será harmonioso o auxílio das advertências que receber". Disse Yü: "Sim,
mas explicai-vos". Disse Kao - yao: "Oh! Que ele cuide do seu cultivo pessoal, possuído
de idéias de larga repercussão e assim dará origem à generosa bondade e escrupulosa
observância das distinções entre os nove ramos da sua parentela. Todas as pessoas
esclarecidas também se esforçarão a seu serviço; e, desse modo, partindo do próximo
ele alcançará o distante". Yü prestou homenagem às excelentes palavras e disse: "Sim".
Kao - yao continuou: "Oh! é conhecer os homens e dar tranqüilidade ao povo". Disse
Yü: "Ah! alcançar essas duas coisas talvez fosse difícil até para o próprio Ti. Quando o
soberano conhece os homens, é sábio e capaz de colocar cada um no cargo para o qual
seja apto. Quando dá tranqüilidade ao povo (27), a sua bondade é sentida e a raça de
cabelos pretos o preza de todo o coração. Quando consegue ser assim sábio e
magnânimo, que ocasião terá de ficar ansioso a respeito de um Huan- tao? Que seria da
remoção de um Senhor de Miao? Que recear de qualquer indivíduo verboso, de
aparência insinuante e grande esperteza?"

2. Kao - yao disse: "Oh! existem ao todo nove virtudes a serem descobertas na conduta;
e quando afirmamos que um homem possuí uma virtude é a mesma coisa do que dizer
que ele pratica certas e determinadas ações". Yü perguntou: "Quais são as nove
virtudes?" Kao - yao replicou: "Afabilidade com dignidade; suavidade com firmeza;
rudeza com respeito; aptidão para o governo com reverente prudência; docilidade com
intrepidez; franqueza com brandura; fácil condescendência com discriminação; arrojo
com sinceridade; valor com retidão. Quando se revelam essas qualidades e isso acontece
continuamente, não temos nós o bom funcionário? Quando existe uma exibição diuturna
de três dessas virtudes, o seu possuidor poderá, a qualquer hora, regular e enobrecer o
clã do qual foi feito chefe. Quando existe o cultivo diário e severo de seis delas, o seu
possuidor poderá brilhantemente conduzir os negócios do Estado nos quais foi
investido. Quando tais homens forem admitidos e elevados, os possuidores dessas nove
virtudes serão empregados no serviço público. Os homens de mil (chefes de mil) e os
homens de cem estarão nos seus escritórios; os vários ministros se emularão
reciprocamente; todos os funcionários cumprirão as suas obrigações na ocasião devida,
observando as cinco estações, segundo predominam os diversos elementos - e assim as
suas várias atribuições serão plenamente desempenhadas. Não permitais que o Filho do
Céu dê àqueles que exerçam autoridade sobre os Estados o exemplo da indolência e da
dissolução. Que ele seja cauteloso e temente, lembrando-se de que num ou dois dias
podem originar-se mil coisas. Que os seus vários funcionários não sejam meros
atravancadores dos cargos. O trabalho pertence ao Céu; os homens devem agir em seu
nome".

3."Do Céu decorrem relações sociais, com os seus vários deveres somos encarregados
de tornar obrigatórios esses cinco deveres; - e atentai bem! dispomos dos cinco
caminhos da conduta honrosa (28). Do Céu decorrem as distinções sociais com a suas
diversas cerimônias; da nossa parte compete a observância dessas cinco cerimônias.
Atentai bem! elas surgem na prática comum. Quando o soberano e os ministros
demonstram-lhes reverência e respeito unânimes, a natureza moral do povo se torna
harmoniosa. O Céu graciosamente distingue os virtuosos; - não existem para eles cinco
trajes e cinco condecorações? O Céu pune os culpados; - não existem as cinco punições
a serem diversamente aplicadas com esse propósito? As funções do governo! - não
devemos ser zelosos nessas funções?"

"O Céu ouve e vê assim como ouve e vê o nosso povo; o Céu brilhantemente aprova ou
exibe os seus terrores conforme o nosso povo brilhantemente aprova ou aterroriza (29);
existe essa relação entre o mundo superior e o inferior. Como devem ser reverentes os
senhores dos territórios!"

4. Disse Kao - yao: "As minhas palavras estão de acordo com a razão e podem ser
postas em prática". Disse Yü: "Sim, as vossas palavras podem ser postas em prática e
coroadas de êxito". Kao- yao acrescentou: "Quanto a isso não sei; mas desejo ser útil
cada dia. Que o governo possa ser aperfeiçoado (30)".

OS CÂNTICOS DOS CINCO FILHOS

(Livro de Hsia, III. Texto Antigo)

1. T'ai K'ang (31) ocupou o trono como um arremedo do morto. Extinguiu a própria
virtude com a ociosidade e a dissipação, até que todo o povo de cabelos pretos vacilou
na sua lealdade. Ele, entretanto, persistiu nos prazeres e no erro sem qualquer
constrangimento. Foi caçar além do Lo; cem dias eram passados e ele não regressava.
Diante disso Yi, príncipe de Ch'iung, aproveitando-se do descontentamento do povo,
resistiu à sua volta ao sul do Ho (32). Os cinco irmãos do Rei haviam acompanhado a
sua mãe, que o fora a encontrar todos estavam à espera ao norte do Lo; quando ouviram
falar no movimento de Yi, todos eles, cheios de pesar, recitaram as Advertências do
grande Yü (33), sob a forma de cânticos.

2. Disse o Primeiro:

"Foi a lição do nosso grande antepassado;

O povo devia ser tratado com carinho

E não olhado de cima (34);

O povo é a raiz de uma nação.

Se a raiz é firme ela vive tranqüila (35),

Quando olho para tudo o que existe na face da terra.

Os homens simples e as mulheres simples...

Qualquer deles poderá vencer-me;

Se o Primeiro Homem repetidamente erra,

Devemos esperar até surgir o descontentamento?

É preciso preveni-lo antes de o sentir” (36).

“Quando eu trato com os milhões do povo,

Devo ter tanta ansiedade como se estivesse a guiar seis

Cavalos, com as rédeas apodrecidas.

O governante dos homens...

Como deverá ser senão reverente nas suas atribuições".

Disse o segundo:

"Está nas Lições;

Quando o palácio é um campo aberto à luxúria


E o país uma selva para as caçadas;

Quando as bebidas espirituosas são apreciadas e a música é um deleite;

Quando existem altos tetos e paredes esculpidas;

A presença de qualquer dessas coisas

Jamais foi senão o prelúdio da ruína (37)".

Disse o terceiro:

"Era uma vez o Senhor de T'ao e T'ang (38)

Que possuía esta região de Chi.

Nós nos afastamos dos seus rumos

E lançamos à confusão as suas normas e leis;

O resultado é a extinção e a ruína".

Disse o quarto:

"Gloriosamente esclarecido era o nosso antepassado,

Soberano de inúmeras regiões;

Tinha cânones, tinha padrões,

Que transmitiu à posteridade.

A pedra padrão e o quartil uniformizador

Estavam no tesouro real

Abandonamos desenfreadamente a orientação que ele nos dera.

Subvertendo o nosso templo e extinguindo os nossos sacrifícios".

Disse o quinto:

Oh! para onde nos voltaremos?

Os pensamentos em meu peito me confrangem.

Todo o povo é hostil;


Em quem podemos confiar?

A ansiedade enche os nossos corações;

A pele dos nossos rostos, grossa embora, está recoberta de rubor.

Nós não cuidamos da nossa virtude;

E apesar de arrependidos, não podemos alcançar o passado (39)".

A PROCLAMAÇÃO DE T'ANG

(Livro de Shang, III. Texto Antigo)

1. Quando o rei (40) voltou da subjugada Hsia e veio para Po, fez uma grande
proclamação às inúmeras regiões.

2. Disse o rei: "Ah! multidões das inúmeras regiões, ouvi claramente a minha
proclamação. Eu sou o Primeiro Homem. O grande Deus conferiu senso moral (até) ao
povo aqui da terra; e a conformidade com o mesmo revela a natureza invariavelmente
correta desse povo (41). Fazê-lo prosseguir tranqüilamente o curso indicado pelo senso
moral é a missão do soberano".

"O rei de Hsia destruiu a sua própria virtude e portou-se como tirano, estendendo a
opressão a vós, povos das inúmeras regiões. Padecendo com os seus cruéis malefícios e
incapazes de suportar a amargura e a malignidade, protestastes a uma só a vossa
inocência aos espíritos do Céu e da Terra. O estilo do Céu é abençoar os bons e tornar
miseráveis os malvados (42). Ele fez descerem calamidades sobre a Casa de Hsia a fim
de patentear-lhe a culpa. Por conseguinte, eu, pobre criança, intimado pelo decreto do
Céu pelos seus gloriosos terrores, não ousei perdoar o criminoso. Aventurei-me a
utilizar um touro- vítima de cor escura; e, dirigindo uma clara proclamação ao Soberano
Espiritual dos Altos Céus, solicitei permissão para tratar como criminoso o governante
de Hsia. Procurei, então, o grande Sábio com quem poderia unir a minha força, visando
solicitar o favor do Céu em vosso benefício, minhas multidões. Os Altos Céus
demonstraram de fato a sua graça em favor do povo aqui da terra e o criminoso (43) foi
degradado e submetido. O que o Céu determina está isento de erro; hoje, gloriosamente,
como o florescer das plantas e árvores, os milhões do povo apresentam um verdadeiro
revivescer".

3.Compete a mim, o Primeiro Homem, assegurar a harmonia e tranqüilidade dos nossos


Estados e clãs; e não sei se ofendo às forças superiores e inferiores. Receio e tremo
como se estivesse em perigo de cair em profundo abismo. Em todas as regiões que
iniciam vida nova sob o meu governo, não segui, vós, ó príncipes, os caminhos fora da
lei; não vos aproximeis da insolência e da dissolução; cada um cuide de manter os seus
estatutos; - que assim possamos receber o favor do Céu. Não ousarei conservar oculto o
bem que existe em vós; e quanto ao mal que existe em mim, não ousarei perdoar-me.
Examinarei esses assuntos em harmonia com o espírito de Deus. Quando e onde quer
que seja, fordes achado sem culpa, vós que ocupais as inúmeras regiões, que ela recaia
sobre mim, o Primeiro Homem. Quando eu for achado em culpa, ela não será atribuída
a vós, que ocupais as inúmeras regiões (44)".

T'AI CHIA

(Livro de Shang, V. Texto Antigo. A Seção A foi aqui omitida)

Seção 2.

1.No primeiro dia do décimo mês do seu terceiro ano, Yi Yin (45) acompanhou de
regresso ao Po ao jovem rei, que usava o chapéu e as vestes reais. Na mesma ocasião,
redigiu o seguinte escrito:

"Sem soberano, o povo não obteria a orientação necessária ao conforto da vida; sem o
povo, o soberano não teria influência sobre os quatro quadrantes do reino (46). O
Grande Céu graciosamente favoreceu a Casa de Shan e vos permitiu, afinal, ó jovem rei,
ser virtuoso. Em verdade, isso é uma bênção que se estenderá indefinidamente a dez mil
gerações".

2. O rei exprimiu obediência, com o rosto nas mãos e a cabeça tocando o solo, dizendo:
"Eu, pobre criança, não compreendia a virtude e estava me tornando um indigno.
Anulava, com os meus desejos, todas as normas da conduta e violava, com a minha
indulgência, todas as normas da propriedade; o resultado deveria ter sido a célere ruína
da minha pessoa. As calamidades enviadas pelo Céu podem ser evitadas; não há, porém,
como fugir daquelas causadas por nós mesmos (47). Até hoje, eu tenho voltado as
costas às vossas instruções, meu preceptor e tutor - o meu começo foi assinalado pela
incompetência. Que eu ainda confie na vossa virtude corretiva e preservadora,
conservando-o na mente para que o meu fim seja feliz !"

3.Yi Yin exprimiu obediência, com o rosto nas mãos e a cabeça tocando o solo, e disse:
"Quem cultivar a personalidade e for sinceramente virtuoso, induzirá todos os inferiores
a um harmonioso acordo com a sua pessoa - essa é a missão do soberano esclarecido. O
antigo rei era magnânimo para com os aflitos e sofredores, como se fossem os seus
próprios filhos e a população submeteu-se aos seus mandamentos - toda ela com sincera
alegria. Até mesmo nos Estados dos príncipes vizinhos, o povo disse: "Estou à espera
do meu soberano e não sofrerei os castigos que ora padeço".

Ó rei, cultivai zelosamente a virtude. Atentai no exemplo do vosso avô, tão cheio de
mérito. Não vos permitais, em tempo algum, o prazer e a ociosidade. Ao cultuar os
antepassados, meditai sobre como podereis provar a vossa piedade filial; ao receber os
ministros, pensai em como podereis revelar-vos respeitoso; ao contemplar o que esteja
distante, procurai ver com clareza; tende os vossos ouvidos sempre abertos às lições da
virtude; eu reconhecerei, então, a excelência da vossa majestade com infatigável
devoção ao vosso serviço e responderei por ela (48)".

Seção 3.

1.Yi Yin dirigiu novamente uma proclamação ao rei, dizendo: "Oh! o Céu não tem
afeições parciais (49); só demonstra afeto aos que forem reverentes. O povo não é
constante àqueles a quem quer bem; só quer bem a quem for benevolente. Os espíritos
nem sempre aceitam os sacrifícios que lhes são oferecidos; - só aceitam a oblação dos
sinceros. O posto conferido pelo Céu (50) é cheio de dificuldades. Quando existem
aquelas virtudes, realiza-se o bom governo; quando elas faltam, sobrevém a desordem.
Perseverar nos mesmos princípios daqueles que asseguram o bom governo, certamente
conduzirá à prosperidade; prosseguir o curso da desordem por certo levará à ruína. A
pessoa que assim no fim como no principio é atenta àqueles a quem segue e àquilo a
que segue, é soberano verdadeiramente esclarecido. O antigo rei foi sempre zeloso no
reverente cultivo da virtude e por isso era companheiro de Deus...Ó rei, entrastes na
posse da herança da sua excelente fortuna; - concentrai nela a vossa atenção".

2."O vosso rumo deverá ser tal que ao ascender a alturas começareis de baixo e ao viajar
para o lugar distante partireis do próximo. Quando ouvirdes palavras desagradáveis ao
vosso espírito, devereis indagar se porventura são acertadas. Quando ouvirdes palavras
que concordarem com as vossas opiniões, devereis indagar se não são contrárias ao que
é correto. Oh! que realizações poderão ser conseguidas sem esforço? Que o Primeiro
Homem seja muito magnânimo e as inúmeras regiões serão por ele corrigidas (51)".

3."Quando o soberano não lança à confusão as velhas normas de governo, com palavras
que dêem origem a debates e o ministro, por favor ou benefício pessoal, não permaneça
no cargo cujos trabalhos já tenham sido executados - então o país gozará da felicidade
segura e duradoura".

A POSSE EM COMUM DA VIRTUDE PURA

(Livro de Shang, VI. Texto Antigo)

1. Tendo Yi Yin restituído o governo às mãos do soberano e estando prestes a anunciar


o seu afastamento, proclamou certas advertências a respeito de virtude.

2. Disse ele: "Oh! é difícil confiar no Céu; os seus mandatos não são permanentes (52).
Mas, se o soberano provê no sentido da sua virtude ser constante, conservará o trono; se
essa virtude não for constante, as nove províncias serão por ele perdidas. O rei de Hsia
não pôde manter inalterada a virtude dos antepassados: desprezou os espíritos e oprimiu
o povo. O Grande Céu já não lhe estende a sua proteção. Investigou as inúmeras regiões
para orientar aquele que deveria ser investido no mandato cheio de favor, procurando
afetuosamente um possuidor da virtude pura a quem pudesse fazer o senhor de todos os
espíritos. Havia, então, eu - Yin e T'ang, cada qual possuidor da virtude pura e capaz de
satisfazer ao espírito do Céu. Ele recebeu, por conseguinte, o brilhante favor do Céu
(53), tornando-se, desse modo, o senhor das multidões das nove províncias; e depois
mudou o começo do ano de Hsia. Não que o Céu demonstrasse qualquer parcialidade
especial pelo Senhor de Shang; - concedeu simplesmente o seu favor à virtude pura.
Não que Shang buscasse a lealdade do povo aqui da terra; o povo simplesmente voltou-
se para a virtude pura. Quando a virtude do soberano é pura, os seus empreendimentos
são afortunados; quando ela é vacilante e incerta, todas as suas empresas são
desafortunadas. O bem e o mal não recaem erroneamente sobre os homens; o Céu faz
descer a miséria e a felicidade conforme a sua conduta".
3."Agora, ó jovem rei, que iniciais o vosso grande mandato - deveríeis estar procurando
renovar a vossa virtude. Assim no fim como no início, tomai-o como o vosso único
objetivo, para que realizeis uma renovação diária da vossa virtude. Os funcionários que
empregardes hão-de ser homens dotados de virtude e capacidade e os ministros que vos
cercarem, os homens adequados. Com relação ao seu soberano, que é superior a ele,
cabe ao ministro promover-lhe a virtude; e com relação ao povo que é inferior, cabe
procurar-lhe o bem. Como deve ser difícil encontrar o homem adequado! Que atenção
cuidadosa há de ser requerida. Por conseguinte, deve existir harmonia com ele cultivada
e unidade de confiança nele depositada.

"Não existe modelo invariável de virtude (54), a suprema consideração ao bem lhe
proporciona o padrão. Não há característica invariável do bem a ser julgado supremo: -
ela se encontra onde existir acordo com a consciência unânime a respeito do que seja o
bem. Essa virtude levará todo o povo a dizer, com os seus inúmeros sobrenomes:
"Como são grandiosas as palavras do rei"! E também: "Como é único e puro o coração
do rei !" Ela será eficaz para manter em tranqüilidade as ricas possessões do antigo rei e
assegurar para sempre a existência feliz das multidões.

4.Oh! Conservar um lugar no templo dos sete escrínios (55) dos antepassados é
suficiente testemunho de virtude. Ser reconhecido como chefe pelos inúmeros cabeças
de família é prova cabal a favor do governo de alguém. O soberano sem o povo não tem
a quem empregar; e o povo sem o soberano não tem a quem servir (56). Não vos
julgueis tão grande a ponto de considerar pequenos os demais. Se os homens e mulheres
comuns não encontrarem ensejo para o pleno desenvolvimento das suas capacidades, o
senhor do povo será privado do auxílio adequado a integrar-lhe o mérito".
_____________________________

(1) Embora pouco tenha a ver com a democracia, este documento é interessante por si
mesmo, como a mais antiga peça escrita em chinês, que se conhece. O Imperador Yao
reinou de 2256 a. C. O Cânon foi provavelmente escrito séculos depois.

(2) Veja-se a Introdução.

(3) Isso demonstra que o Cânon de Yao não foi escrito ao tempo de Yao, porém muito
mais tarde, o que poderá ter sido em qualquer altura do segundo milênio a.C. Supõe-se
que a escrita chinesa tivesse sido inventada por Ts'ang Chi, ministro do Imperador
Amarelo, o que é tradição de caráter lendário. Inscrições ósseas oraculares,
recentemente escavadas, datando aproximadamente de 2000 a.C., já revelam adiantado
progresso.

(4) Ti significa Imperador ou Governante.

(5) O Imperador Shun, que reinou de 2255 a 2206 a.C., como sucessor de Yao Shun
pregou cuidadosamente a beleza dos cinco deveres cardeais.

(6) Mu, literalmente, "Pastores (do povo)".

(7) Quatro nomes de pessoas: Cedro (possivelmente Porco, Tigre, Urso e Urso
Cinzento).
(8) Animal de chifres.

(9) Dragão.

(10) No - yen, estritamente "receber relatórios". A primeira referência a um órgão de


comunicação entre o governante e o povo. Em dinastias posteriores existiu sob várias
denominações.

(11) Denominada a Regra de Shun. Nesse "Livro", o Ti, ou Governante, se refere a


Shun.

(12) Esse Yü não é o mesmo da nota 11, mas sim o grande Imperador Yü, fundador da
Dinastia de Hsi e sucessor de Shun.

(13) Yen Jô - chü, que procurou provar serem falsos todos os Textos Antigos, cita, a
esta altura, uma passagem similar do Tsochüan para revelar a fonte da falsificação. A
mesma prova poderá ser aduzida para demonstrar que os textos eram verdadeiros,
porquanto o Tsochüan reproduz expressamente o Livro da História. Isso é típico do
método de raciocinar de Yen e também de Hui- T'ung. Quase todas as passagens dessa
peça remontam as passagens paralelas dos textos antigos (Tsochüan, Livro das
Modificações, Laotse, Motse, Hsüntse, Analectos, etc.), a maioria dos quais as
apresenta como citações do Livro da História.

(14) Shun, como o seu predecessor Yao, não deu o trono ao filho, mas sim ao melhor
homem do reino, de comprovada capacidade. A sucessão hereditária teve com o filho de
Yü.

(15) Passagem paralela existe numa citação do livro Shang Yang.

(16) Passagem paralela existe em Wang Ch'ung.

(17) Palavras exatas de uma citação do Livro da História (Livro de Hsia ), feita no
Tsochüan.

(18) Veja-se o Laotse - cap. 22, 24. A mesma idéia é expressa em palavras idênticas.

(19) Passagem paralela existe no Hsüntse.

(20) O Analecto atribui essa citação ao Livro da História.

(21) Essa idéia muito interessante e sensata se encontra igualmente no Grande Plano
noutra parte do Livro da História, da coleção do Texto Moderno.

(22) Outra interpretação é de trinta dias.

(23) Passagem paralela no Livro das Modificações.

(24) O perverso pai de Shun. Narrativa paralela, com mais pormenores, no Mêncio.
(25) Como exemplo de mau raciocínio utilizado para provar a falsificação do Texto
Antigo, posso citar o caso presente, no qual Hui e Yen perguntam com impaciência: se
os Miaos estavam pacificados, por que houve mais tarde outra expedição. O bom senso
deveria perceber que não são de modo algum pouco comuns as revoltas periódicas e
repetidas de aborígenes pacificados. Nada provam argumentos desse tipo.

(26) Ministro da Justiça durante o governo do Imperador Shun.

(27) Idéias como esta, comuns no Livro da História, inspiraram Mêncio na sua teoria do
"governo benevolente". Mêncio citou o Livro da História em tal extensão, que estamos
justificados ao afirmar que esse livro foi a fonte das suas idéias democráticas. As
passagens que citou faltam, muitas vezes, no Texto Moderno e se encontram no Texto
Antigo.

(28) A tradução de Legge segue, como de costume, os comentadores Tang e Sung. Essa
interpretação confucianista não é justificada pelos comentadores de Han, como Cheng
K'ang- Ch'eng nem pelo próprio texto.

(29) Esta tradução é bem má e inexata. Deveria ler-se: "O Céu ouve e vê através dos
ouvidos e dos olhos do nosso povo. O Céu exprime a sua desaprovação através da
desaprovação expressa do nosso povo". Compare-se a expressão quase análoga na
citação da Grande Declaração, feita por Mêncio.

(30) Conforme o Texto Antigo, aqui termina o documento, ao passo que o Texto
Moderno o incorpora a outro documento (Yi e Chi), não reproduzido neste volume.

(31) Imperador T'ai K'ang, que reinou de 2188 a 2160 a.C., tinha cinco irmãos que se
revoltaram contra ele. Os críticos não abraçam a idéia do fratricídio, do ponto de vista
moral, e a utilizam como argumento a favor da teoria da Falsificação dessa peça".

(32) O Rio Amarelo.

(33) O seu avô.

(34) Citação feita num comentário do Kuoyü, por Wei Chao (204-273 d. C.) tal qual
existe no Livro de Hsia, demonstrando que Wei Chao conhecia esse texto, isto é, que
esse texto existiu e não era desconhecido antes de Mei Cheh o "falsificar" subitamente,
no século seguinte.

(35) Huainantse (178 - 122 a.C.) diz: "O povo está para o Estado assim como os
alicerces estão para os muros da cidade".

(36) Citações existentes no Tsochüan e no Kuoyü.

(37) Narrativa das afirmações de Yü, contidas no Chankuots'eh.

(38) "T'ao T'ang" é a denominação da regra de Yao.

(39) É inteiramente injusta a acusação de Yen de que "não existe suficiente rima nessas
canções".
(40) O Imperador T'ang (reinado de 1783-1764 a. C.), fundador da Dinastia de Shang,
havia justamente derribado Chieh, o último imperador de Hsia e regressado à capital.
Nesta proclamação destinada a solicitar o apoio dos príncipes e do povo, encontra-se,
pela primeira vez, a famosa teoria do mandato do Céu, segundo a qual o governante
governa o povo para o bem desse povo, conforme o mandato do Céu. O direito de
revoltar-se, em contradição com a doutrina da lealdade ao monarca, a princípio tornou
perplexos os Confucianistas. Essa teoria foi a resposta. Mêncio a desenvolveu
plenamente.

(41) Citado por Hanfeitse, como afirmação de Confúcio.

(42) Passagens paralelas existem no Tsohüan e no Kuoyü.

(43) Mêncio afirma que um governante, quando desgoverna, é um ladrão comum. A


tradução de Legge - "povo inferior", por "povo que está aqui embaixo" (isto é, na terra),
é positivamente errada.

(44) Citação existente nos Analectos, no Kuoyü, no Motse e no Shiki. Não existe no
Discurso de Tang (Texto Moderno). Num caso como esse, Yen argüe que Tang fez essa
afirmação; entretanto, ela deveria ainda ter sido registada nalgum Texto Antigo perdido
e não no atual, espúrio.

(45) Yi Yin, exasperado diante da conduta do jovem rei havia se retirado para o campo,
em sinal de protesto.

(46) Esta frase existe no Shiki, como citação deste documento.

(47) Palavras exatas empregadas por Mêncio e encontradas no Liki, como citação deste
documento.

(48) Todo o espírito da história chinesa demonstra que os imperadores só foram


refreados contra o abuso do poder pelos sábios conselheiros e pela opinião pública.
Nenhum chinês jamais pensou em restrição legal (constituição) como coisa distinta da
restrição moral. Assim, o desenvolvimento da maquinaria democrática foi
essencialmente diverso. Os moldes das idéias políticas chinesas já estavam
estabelecidas no Livro da História.

(49) O Tsochüan o transcreve como citação do Livro da História.

(50) Palavra comum para designar Deus, Shangti.

(51) Passagem paralela no Liki.

(52) Essa afirmação se repete noutra parte do Livro da História (Príncipe Shih Texto
Moderno) e nas Grandes Odes do Livro da Poesia. Quanto à expressão appointnments -
"nomeações" - leia-se "mandatos".

A idéia é que o direito de governar pode ser facilmente perdido pela má conduta.
(53) Deveria ler-se: "recebeu o claro mandato do Céu".

(54) Paralelo nos Analectos.

(55) Ponto de grande discussão (cinco ou sete escrínios) entre os estudiosos do Texto
Antigo e do Texto Moderno, apontado como prova de que Wang Shu falsificou esse
livro.

(56) Citação existente no Kuoyü, do Livro de Hsia.

AS INSTRUÇÕES A YUEH

(Livro de Shang, VIII. Texto Antigo) Seção 1

1.O rei (57) passou a fase de tristeza na cabana de prantear durante três anos; terminado
o período de luto, não pronunciou palavra alguma, para transmitir qualquer ordem.
Todos os ministros o censuraram, dizendo: "Oh! Nós proclamamos inteligente aquele
que é o primeiro a conceber; e o homem inteligente é o modelo dos outros. O Filho do
Céu governa inúmeras regiões e todas as autoridades o veneram e reverenciam. As
palavras do rei são ordens para elas". Diante disso, redigiu o rei um escrito para
esclarecê-las, nos seguintes termos: "Competindo a mim ser governador dos quatro
quadrantes do reino, tenho estado receoso de que a minha virtude não seja igual à dos
meus predecessores; por conseguinte, abstive-me de falar. Mas, enquanto estava
reverente e silenciosamente a pensar nos retos caminhos, sonhei que Deus me concedera
um bom auxiliar, que falaria por mim". Então evocou minuciosamente a aparência da
pessoa que tinha visto e determinou fosse procurada por toda a parte, mediante um
retrato. Yüeh (58), um construtor da região de Fu - yen, foi julgado parecido com esse
retrato.

2. Diante disso, o rei se ergueu e fez Yüeh o seu primeiro-ministro, conservando-o


também ao seu lado.

Deu - lhe instruções, dizendo: "Apresentai, de manhã e à noite, as vossas advertências,


para auxílio da minha virtude. Imaginai que eu seja uma arma de aço; - eu vos utilizarei
como pedra de amolar. Imaginai que eu atravesse um grande curso d'água; eu vos
utilizarei como barco a remos. Imaginai que eu esteja vivendo um ano de grandes secas;
eu vos utilizarei como copiosa chuva. Abri o vosso espírito e enriquecei o meu. Sede
como o remédio, que deve afligir o paciente para curar-lhe a doença (59). Pensai em
mim como se eu fosse alguém a andar descalço e cujos pés por certo ficariam feridos, se
eu não enxergasse o solo.

Que todos os vossos companheiros nutram o mesmo propósito de auxiliar o soberano,


para que eu possa seguir os meus predecessores reais, caminhar nas pegadas do meu
grande antepassado e proporcionar tranqüilidade aos milhões do povo. Oh! Respeitai
essas minhas instruções; - assim conduzireis os vossos trabalhos a um feliz termo".

3. Yüeh replicou ao rei, dizendo: "A madeira é retificada com o emprego do fio de
prumo e o soberano que obedece à censura torna-se cheio de sabedoria. Quando o
soberano é capaz de assim fazer-se um sábio, os ministros antecipam-lhe as ordens, sem
que sejam especialmente mandados: - quem ousaria deixar de agir em respeitosa
conformidade com essas excelentes instruções de Vossa Majestade?"

4. Tendo assumido o cargo e a presidência de todos os funcionários, Yüeh apresentou-se


ao rei e disse: "Oh! os reis esclarecidos agem segundo reverente obediência aos
caminhos do Céu. A fundação de Estado e o estabelecimento de capitais, a nomeação de
reis soberanos, duques e outros nobres, com os seus altos funcionários e chefes de
departamentos, não se destina a servir à ociosidade e aos prazeres de um indivíduo, mas
ao bom governo do povo (60). O Céu é todo esclarecido e atento; - que o sábio rei o
tome como padrão. Assim os ministros concordarão com ele, cheio de reverência e, por
conseguinte, o povo será bem governado".

“É a boca que dá origem à vergonha (61), são a cota de malhas e o elmo que dão origem
às guerras. As vestes superiores e as roupagens inferiores para as recompensas não serão
levianamente retiradas das suas arcas; antes do emprego da lança e do escudo deve a
pessoa examinar-se a si mesma. Se Vossa Majestade for prudente nesse particular,
assim o julgando, conseguirá que esse emprego seja esclarecido e o vosso governo será
em tudo e por tudo excelente. O bom e o mau governo dependem dos vários
funcionários. Os cargos não deverão ser atribuídos a favoritos, mas somente a homens
capazes. As dignidades não deverão ser conferidas a pessoas de práticas pervertidas,
mas apenas às de mérito (62)”.

"Ansiosas cogitações a respeito do que seja o melhor deverão preceder os vossos


movimentos, que igualmente serão feitos no momento oportuno. Entregar-se à
consciência de ser bom é o meio de perder a bondade; ser vão a respeito da própria
capacidade é o meio de perder o mérito, que ela possa gerar (63)".

"Que exista o preparo para todas as questões; - com esse preparo não haverá
conseqüências calamitosas. Não abrais a porta aos favoritos de quem recebereis o
desprezo. Não vos envergonheis dos erros a ponto de tornar crimes. Permiti que o vosso
espírito repouse nos objetos próprios e os negócios do vosso governo serão puros. A
oficiosidade no sacrificar se denomina irreverência; e a multiplicação das cerimônias
conduz à desordem. É difícil assim servir aceitavelmente aos espíritos".

5. Disse o rei: "Excelente! As vossas palavras, ó Yüeh, deveriam em verdade ser postas
em prática por mim. Se não fosseis tão bom conselheiro, eu não teria ouvido essas
normas para a minha conduta". Yüeh exprimiu obediência, com a cabeça tocando o solo
e disse: "Difícil não é saber mas fazer (64)". Entretanto, como Vossa Majestade bem o
sabe, não haverá dificuldades e vós vos tornareis, quanto à virtude plena, de fato igual
ao nosso primeiro rei. Ao passo que eu, Yüeh, se deixar de dizer o que devo, a censura
recairá sobre mim".

Seção 3.

1. Disse o rei: "Aproximai-vos, ó Yüeh. Eu, pobre criança, aprendi primeiro com Kan
P'an. Depois vivi oculto entre os rudes camponeses e mais tarde fui para o país de Ho e
lá residi - De Ho fui para Po; e o resultado é que não sou esclarecido. Vós me ensinareis
quais deverão ser os meus desígnios. Sede para mim como o fermento e o malte no
preparo dos doces licores e como o sal e as ameixas no preparo da sopa saborosa (65).
Usai de vários métodos para cultivar-me; não me abandoneis; assim eu conseguirei pôr
em prática as vossas instruções".

Yüeh disse: "Ó rei, um governante deve procurar aprender muito com os ministros,
visando dar estabilidade aos seus negócios; aprender as lições dos antigos, porém, é o
meio de o conseguir. Jamais ouvi dizer que os negócios de alguém, que não faça dos
antigos os seus senhores, possam ser perpetuados através das gerações".

"Ao aprender, deve o espírito ser humilde e cumpre haver um zêlo constante; - nesse
caso, os progressos daquele que aprende decorrerão de maneira segura. Quem
sinceramente prezar tal coisa, verá que toda a verdade se reunirá na sua pessoa. O
ensino é meia aprendizagem (66); quando os pensamentos de um homem, do começo ao
fim, estão constantemente voltados para a aprendizagem, o seu virtuoso cultivo advirá
sem ser percebido".

"Analisai o modelo perfeito que foi o nosso primeiro rei; assim estareis para sempre
preservado de erro. Então eu serei capaz de atender, cheio de reverência, às vossas
opiniões e olhar para todos os lados em busca de homens eminentes para colocar nos
vários cargos".

2. Disse o rei: "Oh! Yüeh, deve-se a vós o fato de todas as pessoas compreendidas nos
quatro mares venerarem a minha virtude. Assim como as pernas e os braços formam o
homem, o bom ministro forma o rei sábio. Viveu, outrora, o primeiro ministro da nossa
dinastia - Pao-haig - que educou e formou o seu real fundador. Disse ele: "Se eu não
fizer do meu soberano igual a Yao ou a Shun, sentirei vergonha no coração como se
fosse espancado na praça do mercado (67). Se qualquer homem comum não obtiver
tudo quanto desejar, disse ele - "será minha culpa". Assim ele assistiu ao seu meritório
antepassado e o mesmo se tornou igual ao Grande Céu. Dai-me o vosso esclarecido e
preservador auxilio e não permitais que A-heng (68) monopolize os bons serviços à
Casa de Shang.

"Não deve o soberano dividir o governo com pessoa alguma senão com o funcionário
digno. O funcionário digno não aceita o apoio de ninguém senão o do próprio soberano.
Que vós possais conseguir fazer do vosso soberano um verdadeiro sucessor daquele que
fundou a sua linhagem e assegurar a duradoura felicidade do seu povo".

Yüeh exprimiu obediência, com a cabeça tocando o solo e disse: "Eu ousarei assumir a
responsabilidade das excelentes instruções de Vossa Majestade e divulgá-las".

A GRANDE DECLARAÇÃO

(Livro de Chou, I. Texto Antigo) (69) Seção 1.

Na primavera do ano décimo terceiro (70), houve uma grande assembléia em Mengshin.
Disse o rei: "Ah! vós, governantes hereditários dos meus estados amigos e todos vós,
meus funcionários, administradores dos meus negócios, ouvi claramente a minha
declaração".
"O céu e a terra são os pais de todas as criaturas (71); e de todas as criaturas o homem é
a melhor dotada. Aquele que for sinceramente esclarecido entre os homens torna-se o
grande soberano; e o grande soberano é o pai do povo (72). Mas, em nossos dias, Shou
(73), rei de Shang, não reverencia o Céu, que está no alto e inflige calamidade ao povo
aqui da terra. Entregue á embriaguez e inconsiderado na luxúria, ousou exercer cruel
opressão. Estendeu a punição dos criminosos a todos os seus parentes. Distribuiu cargos
aos homens, segundo o principio hereditário. Fez do seu propósito possuir palácios,
torres, pavilhões, represas, lagos e todas as demais extravagâncias, para o mais doloroso
sofrimento de vós, populações inúmeras. Queimou e assou os leais e os bons.
Esquartejou mulheres grávidas. O Grande Céu foi tocado de indignação e encarregou a
Wen, meu falecido pai, de exprimir os seus terrores; ele morreu, porem, antes de estar
concluído o trabalho.

"Por esse motivo, eu, Fa, pobre criança, por vosso intermédio, governantes hereditários
dos meus estados amigos, considerei o governo de Shang. Mas Shou não mostra possuir
um coração arrependido. Ele se assenta nos calcanhares, desserve a Deus e aos espíritos
do Céu e da Terra e negligencia também o templo dos seus antepassados, nele não
sacrificando. As vítimas e as embarcações do milhete se tornam todas a prêsa de
malvados ladrões. E ele ainda diz: "O povo é meu: o mandato celeste é meu", jamais
procurando emendar o seu espírito desdenhoso.

"O Céu, em auxílio do povo aqui da terra, instituiu governantes e estabeleceu instrutores
para que ele fosse capaz de ser útil a Deus e visando assegurar a tranqüilidade dos
quatro quadrantes do reino. Como ousarei dar expansão aos meus próprios desejos
quanto aos que são ou não são criminosos? (74)".

"Quando a força for a mesma, medi a virtude das partes; quando a virtude for a mesma,
medi a sua retidão: Shou possui centenas de milhares e um sem número de funcionários,
eles, porém, têm centenas de milhares e um sem número de mentalidades. Eu tenho
apenas três mil funcionários; eles, porém, possuem uma só mentalidade. É completa a
iniqüidade de Shang. O Céu ordena que ela seja destruída. Se eu não obedecer ao Céu, a
minha iniqüidade será tão grande como a dele.

Eu, pobre criança, vivo sempre cheio de apreensão. Recebi ordens de Wen, meu
falecido pai; ofereci sacrifícios especiais a Deus; desempenhei os serviços devidos à
grande terra; e conduzo a multidão de vós a executar a punição determinada por Deus.
O Céu tem compaixão do povo. Aquilo que o povo deseja, ver-se-á o Céu executar (75).
Ajudai a mim o Primeiro Homem, a purificar para sempre tudo o que está
compreendido nos quatro mares. Agora é chegada a ocasião. Não deve ser perdida".

Seção 2.

No dia de Wu - wu, o rei fez alto ao norte de Ho. Quando todos os príncipes estavam
reunidos, com as suas hostes, passou-as em revista e fez a seguinte declaração: - "Oh!
vós, multidões do ocidente, atentai todos vós nas minhas palavras.

"Ouvi dizer que o homem reto, que pratica o bem, julga o dia insuficiente (76) e o
malvado, que pratica o mal, também assim o considera. Shou, rei de Shang. Ora segue
com vigor os caminhos fora da lei. Afastou os Senhores gastos pelo tempo e cultiva a
intimidade de homens perversos. Dissoluto, violento, inconsiderado, opressor - os seus
ministros se tornaram semelhantes a ele; formam conchavos, contraem animosidades e
confiam no próprio poder para se exterminarem uns aos outros, Os inocentes bradam
aos Céus. Sente-se no alto o odor desse estado de coisas.

“O Céu ama o povo e o soberano deve reverentemente cumprir o espírito do Céu. Chieh
(77), soberano de Hsia, não seguiu o exemplo do Céu, mas propagou os seus malefícios
peçonhentos pelos estados do reino; o Céu, por conseguinte, emprestou auxílio a T’ang,
o Bem- Sucedido, e o encarregou de pôr termo ao mandato de Hsia. Mas os crimes de
Shou excederam os de Chieh”.

"Shou possui centenas de milhares de milhões de homens bons; portou-se cheio de cruel
tirania para com o seu censor e auxiliar. Afirma que o mandato do Céu está com ele
(78); que não é digno de observância e reverente cuidado com a própria conduta; que os
sacrifícios não têm utilidade; que a tirania não é mal algum. Não está longe o quadro
que deveria contemplar; o do rei de Hsia. Parece que o Céu, por meu intermédio, vai
governar o povo. Os meus sonhos coincidem com os meus augúrios: é duplo o presságio
auspicioso. O meu ataque a Shang deve ser coroado de êxito".

"Shou possui centenas de milhares de milhões de homens comuns, divididos pelo


coração e pela ação. Eu tenho ministros capazes de governar, dez homens que são um só
coração e uma só ação(79). Embora ele tenha ao seu lado os parentes mais próximos,
eles não são como os meus virtuosos homens (80). O Céu vê conforme vê o meu povo;
o Céu ouve conforme ouve o meu povo (81). O povo censura a mim, o Primeiro
Homem, pela minha demora; devo marchar para a frente. A minha bravura militar é
demonstrada e eu penetro nos seus territórios para aprisionar o perverso tirano. A
punição do mal será grande e mais gloriosa do que a executada por T'ang. Erguei-vos,
meus heróis! Não julgueis que ele não seja para temer; pensai, antes, que não pode ser
resistido. O seu povo está a tremer, aterrorizado com ele, como se os seus chifres
estivessem a cair-lhes das cabeças - Oh! uni as vossas energias, uni os vossos corações;
desse modo, certamente realizarei de pronto a vossa missão, que há de perdurar para
todo o sempre".

Seção 3.

Foi na madrugada seguinte que o rei marchou em derredor das suas seis hostes
formadas e fez uma declaração positiva a todos os oficiais. Disse ele: "Meus valentes
homens do oeste! Do Céu dimanam brilhantes rumos ao dever, cujas diversas
exigências são bem nítidas. E, no entanto, Shou, o rei de Shang, trata com desdenhosa
negligência as cinco (virtudes) regulares e se entrega a desenfreada ociosidade e
irreverência. Rompeu com o Céu e acarretou a inimizade entre ele próprio e o meu
povo".

Ele cortou as tíbias daqueles que a custo caminhavam, pela manhã; arrancou o coração
dos homens dignos. Usando do seu poder, matando e assassinando, envenenou e afligiu
a todos aqueles compreendidos nos quatro mares. As suas honrarias e a sua confiança
são atribuídas aos vilãos e aos maus. Afastou de si os instrutores e tutores. Lançou aos
ventos os estatutos e as leis penais. Aprisionou e escravizou os funcionários retos.
Mostrou-se negligente nos sacrifícios ao Céu e à Terra. Suspendeu as oferendas no
Templo dos Ancestrais. Concebe projetos de maravilhoso artifício e extraordinária
astúcia para agradar à mulher. Deus já não é tolerante para com ele; mas sim, faz descer
esta ruína, acompanhada de maldição. Apóia-me com o vosso infatigável zêlo, a mim -
o Primeiro Homem, para reverentemente executarmos a punição ordenada pelo Céu.
Disseram os Antigos: "Aquele que nos alivia é o nosso soberano; aquele que nos oprime
é o nosso inimigo (82), Shou, esse homem solitário, tendo exercido grande tirania, é o
vosso perpétuo inimigo. Afirma-se, ainda: "Ao implantar a virtude de um homem,
esforçai-vos por fazê-lo pelas raízes (83)". Agora, eu, pobre criança, com o poderoso
auxílio de todos vós meus oficiais, exterminarei completamente o vosso inimigo. Todos
vós, meus oficiais, marchai à frente com determinada audácia a fim de apoiar o vosso
príncipe. Se houver mérito, haverá grandes recompensas; se vós assim não avançardes,
haverá notória desgraça.

"Oh! a virtude de Wen, meu falecido pai, era como a luz do sol e da lua. A sua
luminosidade se estendeu aos quatro quadrantes da terra e brilhou sobretudo na região
ocidental. Por isso é que o nosso Chou recebeu a vassalagem de muitos estados. Se eu
subjugar a Shou, não será pela minha bravura, mas pela virtude irreprochável de Wen,
meu falecido pai. Se Shou me subjugar, não será por qualquer falta de Wen, meu
falecido pai, mas porque eu, pobre criança, não sou digno".

O COFRE GUARNECIDO DE METAL

(Livro de Chou, VI. Textos moderno e antigo)

1.Dois anos após a conquista de Shang (84) o rei caiu doente e ficou muito
desconsolado. Os dois outros grãos - duques (85) disseram: "Consultemos
reverentemente o casco de tartaruga a respeito do rei"; o duque de Chou (86), porém,
disse: "Não deveis afligir desse modo os nossos antigos reis". Chamou a si, então, o
encargo e ergueu três altares de terra na mesma clareira; e, construindo outro altar ao sul
destes, voltado para o norte, aí tomou posição. Havendo colocado um símbolo de jade,
redondo, em cada um dos três altares e empunhando o símbolo maior da sua própria
hierarquia, dirigiu-se aos reis T'ai, Chi e Wen (87).

O grande historiador escreveu em tábuas a sua prece, que assim rezava (88): A. B. (89),
o vosso grande descendente, está sofrendo de moléstia grave e violenta; - se vós, três
reis, tendes no Céu o encargo de velar por ele - grande filho do Céu, permiti que eu,
Tan, seja o substituto da sua pessoa. Fui amorosamente obediente a meus pais; possuo
muitas capacidades e arte que me tornam apto a servir a seres espirituais. O vosso
grande descendente, por outro lado, não possui tantas capacidades e artes quanto eu e
não é capaz de servir aos seres espirituais. E, além disso, foi nomeado na casa de Deus
para estender o seu auxilio por todo o reino, visando estabelecer aqui na terra os vossos
descendentes. O povo dos quatro quadrantes permanece em reverente temor dele. Oh!
Não permiti que esse mandato precioso, conferido pelo Céu, caia por terra - para que
toda a longa linhagem dos nossos antigos reis também possua alguém em quem possa
confiar sempre, quanto aos nossos sacrifícios. Agora, buscarei a vossa determinação a
respeito do assunto, no grande casco de tartaruga. Se atenderdes o meu pedido, tomarei
desses símbolos e dessa maça, retornarei e aguardarei as vossas ordens. Se vós não o
atenderdes, eu os deixarei de lado".

Então, consultou o duque os augúrios, através dos três cascos de tartaruga. E foram
todos favoráveis. Abriu, com uma chave, o lugar onde estavam guardadas as respostas
oraculares e as contemplou. Elas foram igualmente favoráveis. Disse ele: "Segundo a
forma do prognóstico o rei não sofrerá mal algum. Eu, pobre criança, consegui junto aos
três reis a renovação do seu mandato, aos quais um longo futuro foi consultado. Devo,
agora, aguardar as conseqüências. Eles poderão agir em favor do nosso Primeiro
Homem".

Quando o duque regressou, colocou as tábuas da oração num cofre guarnecido de metal
e, no dia seguinte, o rei melhorou.

2.Mais tarde, com a morte do Rei Wu, o irmão mais velho do duque de Kuan e os seus
irmãos mais moços propalaram pelo reino um relatório sem fundamento para que o
duque não fizesse nenhum benefício ao jovem filho do rei (90). Diante disso o duque
declarou aos outros grãos duques: "Se eu não aplicar a lei a esses homens, não poderei
apresentar o meu relatório aos antigos reis".

Ele residiu assim no oriente, dois anos, durante os quais os criminosos foram presos e
levados perante a justiça. Depois, compôs um poema para apresentar ao rei e o
denominou: "A coruja" (91). O rei, por seu turno, não ousou censurar o duque.

No outono, quando o grão era abundante e maduro, porém, antes de ser colhido, o Céu
enviou uma grande tempestade de trovão e relâmpagos, acompanhada de ventos,
quebrando-se todo o grão e sendo desarraigadas grandes árvores. O povo ficou muito
atemorizado; o rei e os altos funcionários, todos com seus capacetes de autoridade,
puseram-se a abrir o cofre guarnecido de metal e a examinar os escritos nele contidos,
encontrando as palavras pronunciadas pelo duque, quando ele chamou a si o encargo de
ser o substituto do Rei Wu. Os dois grãos duques e o rei interromperam o historiógrafo
e todos os outros funcionários familiarizados com a questão. Eles replicaram: "Foi
realmente assim: mas, ah! o duque nos ordenou que não ousássemos falar a esse
respeito". O rei tomou o documento nas mãos e chorou, dizendo: "Nós hoje não
precisamos ir reverentemente proceder à adivinhação. Outrora o duque foi assim zeloso
da casa real; mas, sendo uma criança, não o soube. Hoje o Céu mobilizou os seus
terrores para exibir-lhes a virtude. Que eu, pobre criança vá agora ao seu encontro com
as minhas opiniões e sentimentos renovados, eis o que exigem as normas de
propriedade do nosso reino".

Quando o rei se dirigia às fronteiras ao encontro do duque, o Céu enviou chuvas; e, em


virtude de ventos contrários, todo o grão se ergueu. Os dois grãos duques deram ordens
ao povo para que levantasse as árvores que haviam caído e as substituísse. O ano, então,
tornou-se muito frutuoso.

A PROCLAMAÇÃO DO DUQUE DE SHAO (92)

(Livro de Chou, XII. Texto Antigo e Moderno)

1.No segundo mês, no dia de Yi- wei, seis dias depois da lua cheia, pela manhã, o rei
(93) se dirigiu de Chou para Fang. Daí o Grande Tutor (94) foi à presença do Duque de
Chou para inspecionarem o local da nova capital; e no terceiro mês, no dia de Wu -
shan, no terceiro dia depois do primeiro aparecimento da lua no Ping - wut, pela manhã,
ele foi a Lo. Consultou os augúrios, através do casco de tartaruga, a respeito das
diversas localidades; e tendo obtido indicações favoráveis, começou a traçar o plano da
cidade. Em Keu- hsü, ao cabo de três dias, orientou o povo de Yin no preparo dos vários
terrenos ao norte de Lo; esse trabalho foi completado em Chia- yin, ao cabo de cinco
dias.

Em Yi- mao, no dia seguinte, o duque de Chou veio a Lo, pela manhã e inspecionou
cuidadosamente o plano da nova cidade. Em Ting- sze, passados três dias, ofereceu dois
touros em holocausto, nos subúrbios setentrional e meridional; e, pela manhã, no Wu-
wu, sacrificou um touro, um javali e um carneiro no altar do espírito da terra da nova
cidade. Passados sete dias, em Chi- tse pela manhã, mediante especificações escritas,
deu várias ordens ao povo de Yin (95) e aos chefes presidentes dos príncipes dos
domínios de Hou, Tien e Nau. Depois do povo de Yin ter assim recebido as suas ordens,
ergueu-se e iniciou o trabalho com vigor.

Quando a obra estava chegando ao seu termo, o Grande Tutor saiu com os príncipes
hereditários dos vários estados a fim de trazerem as suas oferendas ao rei; e, de
regresso, as presenteou ao Duque de Chou, dizendo: "Com as mãos na cabeça e a
cabeça tocando o solo, apresento esta oferenda a Sua Majestade e a Vossa Graça. As
proclamações para esclarecimento das multidões de Yin deverão provir de vós, a quem
incumbe a administração dos negócios".

2.Oh! o Deus que habita os Grandes Céus modificou os seus decretos a respeito do seu
grande filho e da grandiosa dinastia de Yin(96). Foi o nosso rei investido nesse decreto.
A felicidade sem limites a ele está ligada e ilimitada é a nossa ansiedade; - Oh! como
poderá ser o rei senão reverente?

“Quando o Céu rejeitou e pôs termo ao decreto em favor da grande dinastia de Yin, nele
se encontravam muitos dos seus antigos e sábios reis. O rei, entretanto, que deveria
suceder-lhes, o último de sua raça, procedeu de tal forma desde que assumiu o mandato,
que até chegou a manter os sábios na obscuridade e os viciosos nos cargos. Os pobres,
nessas circunstâncias, carregando os filhos e conduzindo as mulheres, erguerem aos
Céus as suas lamentações. Fugiram mas foram novamente presos. Oh! o Céu teve
compaixão do povo dos quatro quadrantes; o seu decreto favorecedor recaiu em nossos
zelosos fundadores. Que o rei cuidadosamente cultive a virtude da reverência”.

Analisando os homens da Antigüidade, vemos que existiu o fundador da dinastia de


Hsia. O Céu guiou-lhe o espírito, permitiu que os seus descendentes o sucedessem e os
protegeu. Ele se tornou familiar ao Céu e foi-lhe obediente. Com o passar do tempo,
entretanto, caiu por terra o decreto com o seu favor (97). Assim também ora acontece,
ao examinarmos o caso de Yin. Houve a mesma orientação do seu fundador, que,
corrigiu os erros de Hsia, cujos descendentes gozaram da proteção do Céu. Ele também
foi familiar e obediente ao Céu. Agora, porém, o decreto em seu favor caiu por terra.
Sobe hoje ao trono o nosso rei, na juventude; que ele não desdenhe dos mais velhos e
dos experientes, porque se pode afirmar que eles estudaram a virtuosa conduta dos
antigos e amadureceram os seus conselhos na contemplação do Céu.

Oh! Embora moço, o rei é o grande filho de Deus. Que ele promova a plena harmonia
do povo aqui da terra e seja a benção dos nossos tempos. Que não ouse o rei ser remisso
nesse particular, mas sim, continuamente considere a perigosa incerteza do devotamento
do povo e, diante dela, fique cheio de temor.

Que o rei advenha como vice - regente de Deus e assuma as atribuições do governo,
neste centro da terra. Disse Tan: "Agora, que foi construída esta grande cidade, ele
poderá ser o companheiro do Grande Céu e sacrificar reverentemente aos espíritos do
alto e da terra: de ora em diante, desse lugar central, poderá administrar com êxito o
governo". Assim o rei gozará do completo apreço do Céu e o governo do povo será
próspero.

"Que o rei primeiro subordine a si próprio os que foram administradores dos negócios
do nosso Chou. Isso regulará as suas perversas naturezas e eles progredirão cada dia.
Que o rei faça da reverência o remanso do seu espírito; ele deve conservar a virtude da
reverência".

Cumpre-nos, certamente, analisar as dinastias de Hsia e Yin. Eu não presumo que saiba
nem digo: "A dinastia de Hsia devia gozar do favorecedor decreto do Céu, durante
tantos anos; não presumo que saiba nem digo: "Ela já não poderia perdurar". O fato,
simplesmente, foi o seguinte: carecendo a mesma da virtude da reverência, o decreto
prematuramente caiu por terra, com o seu favor. Analogamente, não presumo que saiba
nem digo: "A dinastia de Yin devia gozar do favorecedor decreto do Céu precisamente
durante tantos anos; não presumo que saiba nem digo: "Ela já não poderia perdurar". O
fato, simplesmente, foi o seguinte: carecendo a mesma da virtude da reverência, o
decreto prematuramente caiu por terra, com o seu favor. O rei ora herdou esse decreto -
o mesmo decreto, eu presumo, que pertenceu àquelas duas dinastias. Que ele procure
herdar as virtudes dos seus meritórios soberanos; que o faça especialmente no início das
suas atribuições.

“Oh! é como se fosse o nascimento de um filho, quando tudo depende da instrução dos
primeiros anos de vida, durante os quais ele é capaz de assegurar a sua sabedoria futura,
como se ela fosse decretada. Ora, o Céu, poderá haver decretado a sabedoria do rei;
poderá haver decretado a sua boa ou má fortuna; poderá haver decretado para ele um
largo curso de anos; não só sabemos que lhe compete, agora, dar início às suas
atribuições. Residindo nesta nova cidade, que o rei cuidadosamente cultive a virtude da
reverência. Quando se devotar plenamente a essa virtude, poderá elevar as suas preces
aos Céus, solicitando um duradouro decreto em seu favor”.

Que ele não ouse, como rei e em virtude dos excessos do povo na transgressão das leis,
governar com a violenta imposição da morte; - quando o povo é dirigido com brandura,
o mérito do governo se torna patente. Compete-lhe, na qualidade de rei, exceder a todos
em virtude. Assim o povo o imitará por todo o reino e ele será ainda mais ilustre (98).

Que o rei e os ministros trabalhem com mútua simpatia, dizendo: "Recebemos o decreto
do Céu e ele será tão grande como os largos anos de Hsia; - sim, ele não falhará aos
largos anos de Yin". Desejo que o rei, graças ao devotamento do povo aqui da terra,
receba o duradouro decreto do Céu".

3.Então, o duque de Shao exprimiu obediência, com as mãos na cabeça e a cabeça


tocando o solo, dizendo: “Eu espero, pequeno ministro que sou, ao lado do povo do rei e
de todos os seus funcionários até então hostis, e do povo amigo e leal, manter e receber
as terríveis ordens e brilhantes virtudes da sua majestade. Não espero, entretanto,
trabalhar para que o rei consiga, finalmente, o decreto pleno e se torne ilustre. Trago
apenas, respeitosamente, estas oferendas a vossa majestade, a fim de serem utilizadas
nas suas preces ao Céu, pelo seu duradouro decreto”.

O DISCURSO DO MARQUES DE CH'IN (99)

(Livro de Chou, XXX. Textos Moderno e Antigo)

Seção 1.

Disse o duque: "Ah! Meus funcionários, ouvi-me sem arruido. Eu vos anuncio
solenemente o mais importante de todos os adágios; e o que os antigos afirmaram:
"Assim é com toda a gente; ela ama sobretudo o seu bem-estar. Não existe a menor
dificuldade em reprovar os outros; mas, receber reprovações e permitir o seu livre curso
- isto é difícil. O pesar do meu coração é que dias e meses são passados e não é provável
retornem para, que eu possa seguir outros caminhos.

"Eu tinha os meus velhos conselheiros". E disse: "Eles não se acomodarão a mim".
Odiei-os. Eu tinha os meus novos conselheiros: neles depositei, então, a minha
confiança. Assim me aconteceu, em verdade, mas, de hoje em diante, eu me
aconselharei com os homens encanecidos; assim estarei livre de erro. O bom velho
oficial; as suas forças estão exaustas; entretanto, antes eu o tenha como conselheiro.
Aquele ousado e bravo oficial; os seus tiros e evoluções no carro são irreprocháveis;
mas eu desejaria antes não o ter. Quanto aos homens de palavras equivocas, hábeis e
astutos, capazes de fazer as pessoas retas mudarem de propósitos, que poderei fazer para
os utilizar?

"Meditei profundamente e concluí: - que eu não tenha senão um ministro resoluto,


positivo e sincero, destituído de qualquer outra capacidade, dotado de espírito reto,
cheio de generosidade, que considere os talentos dos outros como se ele próprio os
possuísse; e ao encontrar homens instruídos e sábios, os preze de coração mais do que
possa exprimir a sua boca, mostrando-se verdadeiramente capaz de os apoiar; - esse
ministro se revelaria à altura de preservar os meus descendentes e o meu povo e seria,
em verdade, um distribuidor de benefícios".

Se o ministro, porém, ao encontrar homens de capacidade, for invejoso e os odiar; se, ao


defrontar-se a homens instruídos e sábios a eles se opuser e não permitir o seu
progresso, mostrando-se realmente incapaz de os apoiar; esse homem não poderá
proteger os meus descendentes e o meu povo. Não será ele um homem perigoso? O
declínio e a queda de um estado poderão resultar de um só homem. A glória e a
tranqüilidade de um estado poderão igualmente resultar da magnanimidade de um só
homem".(100)

_____________________________

(57) Wu- ting, o vigésimo soberano de Shang, 1324-1266 a. C.


(58) Fu Yüeh, que se tornou um dos melhores ministros da Dinastia, também com fama
de poeta.

(59) Citado por Mêncio.

(60) Idéias similares foram expressas por Motse, noutras palavras.

(61) O tradutor escreveu: "They are the coat of mail", ao invés de "it is the coat".

(62) Mais tarde se tornou importante idéia Taoísta; veja-se Laotse.

(63) Mais tarde se tornou dogma típico da escola confuciana.

(64) Também encontrado no Tsochüan. Tornou-se um provérbio. Sun- Yatsen o inverte,


ao pregar a ação.

(65) Veja-se a interessante e similar analogia empregada pelo rei na Seção 1. Não sendo
retirada de citação alguma, parece falar em abono da sua autenticidade.

(66) Famoso provérbio sobre a educação, encontrado também no capítulo do Liki,


relativo à educação.

(67) Expressão utilizada por Mêncio a propósito de outro assunto, significando desgraça
pública.

(68) Nome de Yi Yih (veja-se o documento precedente). Quanto a "engross", leia-se -


monopolizar.

(69) Esse é um dos mais importantes documentos do Livro da História e um dos mais
freqüentemente citados. Existe outra versão do Texto Moderno, totalmente diferente.
Diversas opiniões, baseadas em fontes igualmente boas, afirmam que esse documento
(1) pertenceu originariamente à coleção dos Textos Modernos, (2) foi encontrado mais
tarde, no tempo de Han Wuti (140-87 a. C.). (3) certa mulher o encontrou na casa de
Laotse, no ano de 73 a. C. (Certamente existiram muitos textos, devendo ser afastada a
idéia fantástica de que a queima dos livros tenha sido real). Aquele Texto Moderno foi
restaurado por Sun Hsingyen (1753-1818 d. C.); ainda é, porém, muito mesquinho e de
qualidade inferior, deixando inexplicadas todas as questões importantes desse
documento. Por essa e não por qualquer outra razão, é aqui adotada a versão do Texto
Antigo, que contém as famosas citações (Nota do diretor da antologia).

(70) 1122 a. C., ano da fundação da grande Dinastia de Chou, a mais longa da história
chinesa (1122 a. C. - 256 d. C.). Oitocentos chefes de estados ou tribos se reuniram para
derribar o malvado Chou, último imperador de Shan.

(71) Compare-se o ensaio de Chuangtse, "O Grande Supremo", no qual a mesma idéia é
expressa na conversação dos quatro amigos.

(72) Origem da teoria do "governo paternal". Expressa igualmente no Grande Plano.

(73) Outro nome de Chou ou variante deste.


(74) Citado por Mêncio, com palavras quase idênticas.

(75) Citado por Kuantse.

(76) Citado duas vezes no Kuoyü e uma vez no Tsochüan. Essa tradução não é bastante
boa. Literalmente: "O que o povo deseja o Céu atenderá"; ou "o Céu obedece à vontade
do povo".

(77) O último imperador de Hsia, igualmente dissoluto. Isso foi uma advertência ao
povo de Shang, lembrando que o primeiro governante também se revoltara contra um
imperador tirânico.

(78) Isto é, o mandato do Céu.

(79) Citado no Tsochüan e nos Analectos.

(80) Citado nos Analectos e no Motse.

(81) Essa é a mais importante afirmação, citada por Mêncio. O povo é o representante
do Céu ou de Deus e a voz do povo é a voz de Deus. Daí a importância da opinião
pública como fundamento de qualquer governo legítimo. Veja-se a minha História da
Imprensa e da Opinião Pública na China (Imprensa da Universidade de Chicago).

(82) Veja-se Mêncio (Livro IV, parte 2, III, 1).

(83) Citado como provérbio por Wu Yüan, no Tsochüan.

(84) 1121 ou 1120 a. C.

(85) O Duque de Shao e T'ain- kung.

(86) O Duque de Chou, irmão do Rei Wu, considerado por Confúcio como tendo
estabelecido o sistema governamental e os moldes gerais dos ritos e da música, da
Dinastia de Chou, Confúcio afirmou ter sonhado com ele, muitas vezes, o que significa
ser o sonho de Confúcio restaurar a ordem social que, no seu tempo, havia decaído.

(87) Antepassados do rei.

(88) O Duque de Chou se ofereceu para morrer em lugar do irmão.

(89) Literalmente, "Fulano de Tal", fazendo as vezes do nome do Rei Wu.

(90) O Rei Ch'eng. O Duque, seu tio, era suspeito de pretender roubar-lhe o trono.

(91) Veja-se o poema do mesmo nome no Livro da Poesia (in "Alguns Grandes
Poemas", deste volume).

(92) Este documento contém a mais clara exposição do 'mandato do Céu" e de como ele
muda de mãos. Os interessados em acompanhar a teoria do "mandato do Céu", da qual
existem muitas referências, poderão ler os caps. 14, 16 e 18, do Livro de Chou, no Shu
King (Livros Sagrados do Oriente, vol. III), na mesma tradução de James Legge.

(93) O Rei Ch'eng, segundo soberano de Chou (1115-1079 a. C.) filho do Rei Wu.

(94) O Duque de Shao.

(95) A nova capital Lo (perto da moderna Loyang), está situada muito próximo do
território do povo conquistado - Yin (ou Shang).

(96) Ou Shang.

(97) Essa mudança do mandato do Céu tornou-se a explicação estabelecida ou a


justificação da mudança de dinastias. No chinês moderno, a palavra que designa
"revolução" quer dizer "mudança de mandato".

(98) Vemos, aqui, a fonte das idéias de Confúcio sobre o governo pelo exemplo moral.

(99) É interessante observar a existência de povos conquistados hostis e ver como a


Dinastia de Chou governou e unificou a China durante quase novecentos anos e, desse
modo, foi capaz de imprimir a sua própria cultura a toda a China.

(100) Este é o último documento do Livro da História, que o remonta a 628 a.C.

Extratos

I. O Canon de Yao.

1. Examinando a Antigüidade verificamos que o Ti Yao era intitulado Fang-xun. Era


respeitoso, inteligente, culto e meditativo, de modo natural e sem esforço. Era
sinceramente cortês e capaz de toda complacência. A brilhante influência dessas
qualidades era sentida nas quatro partes da terra e chegava ao Céu por cima e, por baixo,
a terra.

2. Fez com que se distinguissem o capaz e o virtuoso. E daí seguiu-se ao amor de todos
nas nove classes de sua casta, que tornou harmoniosa. Também ordenava e educava os
habitantes do seu domínio, tornando-se todos brilhantemente inteligentes. Finalmente
uniu e harmonizou milhares de Estados e assim se transformam as gentes de barrete
negro. O resultado foi a concórdia universal.

3. Determinou a Hsîs e Hos, em respeitoso acordo com sua observação dos vastos céus
que calculassem e delineassem os movimentos e aspectos do Sol, da Lua, das estrelas e
dos espaços zodiacais, entregando desse modo as estações à observação do povo.

4. Determinou ao segundo irmão Hsî, especialmente, que residisse em Yu-î, no


chamado Vale Claro, e ali recebesse respeitosamente, como a um hospede, o Sol
nascente, e ajustasse e organizasse os trabalhos da Primavera. “O dia – disse – é de
extensão média e a estrela está em Niâo. Assim poderás determinar exatamente a
Primavera média. As criaturas distantes nos campos e os pássaros e animais concebem e
se juntam”.

5. A seguir ordenou ao terceiro irmão Hsî que residisse em Nan-Kiâo, na chamada


Capital Brilhante, aí ajustando e organizando a transformação do Verão e observando
respeitosamente o limite exato da sombra. “O dia – disse – está em sua maior duração e
a estrela está em Huo; assim poderás determinar exatamente o Verão médio. As
criaturas estão mais dispersas e os pássaros e animais têm curtas penas e pelos e mudam
suas penugens”.

6. Ordenou separadamente ao segundo irmão Ho que residisse no oeste, no chamado


Vale Escuro, e ali convocasse respeitosamente o Sol poente a fim de ajustar e organizar
os trabalhos completos do Outono. “A noite – disse – é de duração média e a estrela está
em Hsu. As criaturas sentem-se cansadas e os pássaros e animais têm suas penugens em
bom estado”.

7. Mais tarde determinou ao terceiro irmão Ho que residisse na região do norte, na


chamada Capital Sombria, e ali ajustasse e organizasse as mudanças do Inverno. “O dia
– disse – está em sua menor duração e a estrela está em Mao. Assim poderás determinar
exatamente o Inverno médio. As criaturas ficam em casa e a penugem dos pássaros e
animais é então abundante e espessa”.

II. Os Conselhos do Grande Yu.

1. Examinando a Antigüidade verificamos que o Grande Yu era intitulado Wang-ming.


Depois de ajustar e dividir a terra, dentro dos quatro mares, sem reverente resposta a Tî,
disse: “Se o soberano pode compreender as dificuldades de tua soberania e o ministro a
dificuldade do seu ministério, o governo será bem ordenado e o povo de cabelos negros
tratará diligentemente de ser virtuoso”.

2. Disse Tî: “Sim, se realmente for esse o caso, a boa palavras não permanecerão ocultas
em parte nenhuma, os homens virtuosos e de talento não serão abandonados fora da
corte e os milhares de Estados gozarão descanso. Mas obter as opiniões de todos,
abandonar a própria opinião para seguir a dos outros, não oprimir os indefesos e não
abandonar o vivente, na angústia de sua pobreza, são coisas que só aquele Tî poderia
conseguir”.

3. Disse Yu: “Tua virtude, ó Tî, é grande e incessante! Sábia, espiritual, infunde temor e
está adornada com todas as perfeições. O Grande Céu concedeu-te seu favor e fez de ti
o seu eleito. Possuíste desde logo tudo o que existe dentro dos quatro mares e te
converteste em governante de tudo o que existe sob o Céu”.

4. Yu disse: “A conformidade com a retidão leva à boa fortuna. Seguir ao que se lhe
opõe, leva à má fortuna. A sombra e o eco”. Disse Yi: “Ah, sê prudente! Aconselha-te a
ti mesmo a prudência, quando parece não haver motivo para ansiedade. Não deixeis de
observar as leis e ordenações. Não encontres prazer na ociosidade. Não chegues ao
excesso no prazer. Em tua utilização dos homens dignos não deixeis que ninguém se
interponha entre tu e eles. Põe de lado o mal, sem hesitações. Não traces planos de cuja
sabedoria tenhas dúvidas. Estuda todos os teus propósitos à luz da razão. Não fiques
contra o justo para conseguir o elogio do povo. Não te oponhas aos desejos do povo
para seguir teus próprios desejos. Atende a essas coisas sem indolência nem omissão e
as tribos bárbaras dos arredores virão e reconhecerão tua soberania”.

III. Os Conselhos de Kao Yao.

1. Examinando a Antigüidade verificamos que Kao-Yao disse: “Se o soberano segue


sinceramente o caminho da virtude, os conselhos que se lhe dão serão inteligentes e as
exortações que recebe serão harmoniosas”. Disse Yu: “Sim, mas explica-te”. Kao Yao
disse: “Oh! Mostre-se cuidadoso acerca do seu cultivo pessoal, com pensamentos de
amplo alcance, e assim conseguirá a generosa bondade e uma exata observância das
distinções entre os novos ramos de sua casta. Todos os homens inteligentes também se
colocarão a seu serviço e deste modo chegará desde o próximo até o distante”. Yu
rendeu homenagem a essas excelentes palavras e disse: “Sim”. Kao-Yao continuou: Oh!
Isso se baseia em conhecer os homens e dar tranqüilidade ao povo”. Yu disse. “Ah!
Conseguir essas duas coisas pode ser difícil até para o Tî. Quando o soberano conhece
os homens é sábio e pode colocar cada um deles no posto para o qual está apto. Quando
dá tranqüilidade ao povo, sente-se sua bondade e a raça de cabelos negros o aprecia por
seu coração. Quando pode ser assim sábio e bondoso, que motivo de inquietação poderá
ter acerca de um Huan-tao? Que temor de ser deposto como senhor de Miao? Que
motivo para temer alguém de palavras suaves, aparência insinuante, rematada astúcia?”

2. Kao-Yao disse: Oh! Há em conjunto nove virtudes que “devem descobrir-se na


conduta e quando dizemos que um homem possui alguma virtude é o mesmo que dizer
que faz tais ou quais coisas”. Yu perguntou: “Quais são as nove virtudes?” Kao-Yao
respondeu: “A afabilidade combinada com a dignidade. A suavidade combinada com a
prudência reverente. A docilidade combinada com a audácia. A retidão combinada com
a urbanidade. Uma negligente condescendência combinada com a discriminação. A
audácia combinada com a sinceridade. O valor combinado com a retidão. Quando essas
qualidades se evidenciam de modo continuado, não temos então um bom funcionário?
Quando diariamente se mostram três dessas virtudes, seu possuidor podia, a princípio, e
mais tarde, regular e melhorar o clã do qual se tinha feito chefe. Quando havia
diariamente um cultivo severo e reverente de seis dessas virtudes, seu possuidor
conduzia brilhantemente os negócios do Estado com os quais fora investido. Quando
semelhantes homens são homenageados e elevados, os possuidores dessas nove virtudes
serão empregados no serviço público. Os homens de um milheiro e os homens de uma
centena estarão em seu posto. Os diversos”. Ministros emular-se-ão uns aos outros.
Todos os funcionários cumprirão seus deveres em tempo devido, observando as cinco
estações assim como os diversos elementos que nelas predominam e assim terão cum-
prido inteiramente os diversos deveres. Que o Filho do Sol não dê aos possuidores de
Estados um exemplo de indolência e dissolução. Que seja prudente e temeroso,
recordando que em um ou dois dias podem ocorrer dez mil mudanças nas coisas. Que
seus diversos funcionários não estorvem em seus postos. A obra pertence ao Céu. Os
homens devem agir para ele”.

IV. A Canção dos Cinco filhos.


1. Tai Kang ocupou o trono fazendo-se passar pelo rei morto. Mediante indolência e
dissipação extinguiu sua virtude até que o povo de cabelos negros vacilou em sua
lealdade. Ele, no entanto, continuou a se entregar aos prazeres e desvarios sem nenhuma
restrição. Saiu à caça além de Lo e transcorreram cem dias sem que ele voltasse. A vista
disso YI, príncipe de Kung, aproveitando-se do descontentamento do povo, opôs-se à
sua volta ao sul de Ho. Os cinco irmãos do rei haviam seguido o desejo de sua mãe de
seguir a este e o esperavam no norte de Ho. E quando tiveram noticia do movimento de
Yi, muito desgostosos, mencionaram as admoestações do grande Yu em forma de
canções.

Disse o primeiro:

Tal foi a lição de nosso grande antepassado

O povo deve ser amado

E não desprezado.

O povo é a raiz de uma pátria.

Se a raiz é firme, o povo está tranqüilo.

Quando contemplo tudo o que está sob o céu

Qualquer dos homens ou das mulheres comuns

Pode superar-me.

Se o homem Único erra repetidamente,

Deve-se esperar até que apareça o descontentamento?

Antes que este apareça é preciso defender-se contra ele.

Em minhas relações com os milhões de súditos

Deveria sentir tanta inquietação quanto se conduzisse seis cavalos, com rédeas podres

O governante dos homens

Como pode ser, senão respeitador de seus deveres?

Disse o segundo:

Nas Lições ficou dito:

Quando o palácio é um centro de luxúria


E o país um campo de caça;

Quando os espíritos são amados e a música deleita;

Quando há tetos altos e paredes talhadas,

A existência de qualquer dessas coisas

Nunca foi senão prelúdio da ruína.

Disse o terceiro:

Existiu o senhor de Dao e Dang

Que possuía esta região de Qi

Agora abandonamos seus métodos

E arrojamos à confusão suas regras e suas leis

A conseqüência é a extinção e a ruína.

Disse o quarto:

Nosso antecessor era brilhantemente inteligente.

Soberano de milhares de regiões.

Tinha cânones, modelos,

Que transmitiu à posteridade.

O padrão de medida e o peso igualador

Estavam no tesouro real.

Perdemos desvairadamente o guia que nos deu

Derrubando nosso tempo e suprimindo nossos sacrifícios.

Disse o quinto:

Oh! Para onde nos voltaremos?


Entristece-me meu pensamento

Todo o povo nos é hostil.

Em quem podemos confiar?

Cresce a ansiedade em nossos corações.

Ainda que sejam pálidos, nossos rostos estão cobertos de rubor.

Não cuidamos da nossa virtude

E ainda que nos arrependamos não podemos volver ao passado.

V. A Grande Declaração.

1. Na primavera do décimo terceiro ano houve uma grande assembléia em Mang-Qing.


Disse o rei: “Ah, vós, governantes hereditários de meus Estados amigos! E vós, todos os
meus funcionários, administradores de meus interesses: ouvi atentamente a minha
declaração”:

2. “O Céu e a Terra são pais de todas as criaturas e entre todas as criaturas o homem é o
mais altamente dotado. Entre os homens, aquele que é sinceramente inteligente chega a
ser o grande soberano. E o grande soberano é o pai do povo. Pois bem: Chou, rei de
Shang, não venera o Céu e inflige calamidades ao povo. Entregue à embriaguez e à
luxúria, atreveu-se a exercer uma opressão cruel. Estendeu o castigo dos ofensores a
todos os seus parentes. Colocou os homens nos postos administrativos de acordo com o
princípio hereditário. Utiliza-o para possuir palácios, torres, pavilhões, diques, lagos e
todas as outras extravagâncias, para mais penoso prejuízo vosso, milhares de criaturas
do povo. Queimou e chacinou os leais e os bons. Violou mulheres prenhes. O Grande
Céu indignou-se e encarregou meu falecido pai Wen de desencadear o seu terror. Mas
este morreu antes de terminar sua tarefa.

“Por isto, eu, Fa, o moço, por vosso intermédio, governantes hereditários de meus
Estados amigos, contemplei o governo de Shang. Mas Chou não têm um coração
arrependido. Senta-se de cócoras, não serve a Deus nem aos espíritos do Céu e da Terra,
abandona o templo dos seus antepassados e não sacrifica nele. Todas as vitimas e os
vasos de painço se convertem em presa dos malvados ladrões, e ele diz: “O povo é meu;
a dignidade celestial é minha”. E nunca trata de corrigir sua mente desdenhosa.

3. “Para ajudar a gente humilde deu-lhe o céu governantes e instrutores, para que
possam ajudar a Deus a assegurar a tranqüilidade das quatro partes do reino. Acerca dos
que são e dos que não são criminosos, como me atrevo a fazer concessão aos meus
próprios desejos?

“Quando o poder é o mesmo, medi a virtude das partes. Quando a virtude é a mesma,
medi sua retidão”. Chou possui centenas de milhares e milhares de funcionários, mas
estes têm centenas e milhares de opiniões. Eu não tenho mais do que três mil
funcionários, mas têm todos uma só opinião. A iniqüidade de Shang é completa. O Céu
ordena que ela seja destruída. Se eu não obedecesse ao Céu, minha iniqüidade seria
igualmente grande.

4. “Eu, o jovem, estou repleto de apreensões de princípio a fim. Recebi a ordem de meu
falecido pai Wen. Ofereci sacrifícios especiais a Deus. Cumpri os serviços à grande
terra e conduzo a vossa multidão para executar o castigo indicado pelo Céu. O Céu se
compadece do povo. O Céu realiza aquilo que o povo deseja. Ajudai-me, eu que sou o
único, à purificar para sempre tudo o que está dentro dos quatro mares. Agora é o
tempo! Não se deve perde-lo”.

VI. Afortunado término da Guerra.

1. No primeiro mês, o dia Zankhan seguiu-se imediatamente ao final da lua minguante.


O dia imediato seria quando o rei de Zhou iria, pela manhã, sair para atacar e castigar
Shang. No quarto mês, à primeira aparição da lua, o rei chegou de Shang à Fang,
finalizou todos os movimentos guerreiros e pôs-se a cultivar as artes da paz. Enviou
novamente seus cavalos ao sul do monte Hua e deixou em liberdade seus bois na região
aberta de Shaolin, mostrando a todos sob o céu que não queria utilizá-los novamente.

No dia Ting-wei sacrificou no templo ancestral de Zhou, quando os príncipes do


domínio real e dos domínios de Tien acudiram pressurosos levando os utensílios do
sacrifício. O terceiro dia depois era Kang-xu, quando ofereceu um holocausto ao Céu e
se inclinou, em adoração, para as colinas e os rios, anunciando solenemente o
afortunado término da guerra.

2. Depois que a luz começou a minguar, os príncipes hereditários dos diversos Estados e
todos os funcionários receberam suas nomeações de Zhou.

O rei assim falou: “Ó vós, multidão de príncipes. O primeiro de nossos reis fundou seu
Estado e começou a ampliar seu território. Kung Liû foi capaz de consolidar os serviços
de seu predecessor. Mas foi o rei Tai que lançou as bases do patrimônio real. O rei Qi
era diligente para a Casa Real. E meu falecido pai, o rei Wen, completou seu mérito e
recebeu generosamente os dons do Céu para apaziguar as regiões do nosso grande país.
Os grandes Estados temeram seu poder, os pequenos Estados estimaram afetuosamente
sua virtude. Em nove anos, no entanto, não pode unir-se todo o reino sob seu governo e
ficou a meu cargo realizar seu desejo”.

3. “Detestando os crimes de Shang, anunciei ao grande Céu, à Terra soberana, à famosa


colina e ao grande rio pelos quais passei: “Eu, Fa, o probo, rei de Zhou por grande
ascendência, estou na iminência de administrar grande corretivo à Shang. Chou, o atual
rei de Shang, carece de princípios, é cruel e destruidor com as criaturas do Céu, daninho
e tirânico com as multidões, senhor de todos os vagabundos sob o Céu, que se reúnem à
sua volta como os peixes nas águas profundas, como os animais na campina. Eu, o
jovem, tendo obtido a ajuda de homens virtuosos, proponho-me reverentemente cumprir
a vontade de Deus e pôr fim à sua conduta desordenada. Nossa terra florescente é
grande e as tribos do sul e do norte igualmente me seguem e estão de acordo comigo.
Obedecendo reverentemente ao conselho do Céu, realizo minha tarefa punitiva no leste,
para dar tranqüilidade aos seus homens e mulheres. Saem-me ao encontro com seus
cestos cheios de sedas escuras e amarelas, mostrando com isso as virtudes, as nossas
virtudes de reis de Zhou. Os favores do Céu os estimulam a oferecer sua lealdade ao
grande Estado de Zhou. E agora vós, concedei-me vossa ajuda para que eu possa
socorrer milhões de pessoas e não fazer nada que as envergonhe”.

4. No dia Wuwu o exército cruzou o rio Meng, e no Yuehai formou em ordem de


batalha nos limites de Shang, esperando a decisão do Céu. No Xiazi, ao amanhecer,
Chou avançou com suas tropas, semelhando um bosque, e reuniu-as no deserto de Mu.
Mas não ofereceram resistência ao nosso exército. Os que estavam na primeira fileira
voltaram suas lanças e atacaram os que estavam atrás, até que fugiram e o sangue fluiu
até submergir os monteiros. Assim o rei Wu vestiu a armadura e o reino ficou em
completa desordem. Derrubou o rei de Shang e fez com que o governo retomasse o
antigo curso. Libertou o conde Qi da prisão e levantou uma pedra tumular sobre a
sepultura de Ganbi. Inclinou-se no seu palanque à porta da aldeia de Shang Yang.
Dispersou os tesouros da torre e distribuiu o cereal de Zhao, outorgando assim grandes
bens a todos, dentro dos quatro mares, de tal modo que o povo de bom grado submeteu-
se.

VII. O grande plano.

1. No décimo terceiro ano o rei foi ao encontro do conde de Qi e disse: “O conde de Qi,
o Céu, trabalhando de modo invisível, assegura a tranqüilidade das pessoas mais
humildes ajudando-as a conformar-se à sua condição. Não sei como os princípios
invariáveis do seu método, ao assim agir, poderiam ser expostos na devida ordem”.

2. O conde de Qi replicou: “Ouvi que na Antigüidade Guan represou as páginas que


inundavam a terra e com isso desorganizou a distribuição dos cinco elementos. Shang
Di encolerizou-se, em conseqüência, e não lhe deu o Grande Plano com suas nove
divisões e assim se permitiu que fossem destruídos os princípios invariáveis do método
celestial. Guan foi conservado prisioneiro até a morte, e seu filho Yu ascendeu ao trono
e tentou a mesma empresa. O Céu deu-lhe o Grande Plano com as nove divisões e os
princípios invariáveis do seu método foram expostos na devida ordem”.

3. “Dessas divisões, a primeira é chamada “cinco elementos”; a segunda “atenção


reverente para com as cinco coisas pessoais”; a terceira, “fervorosa devoção para com
os oito objetos do governo”; a quarta, “uso harmonioso dos cinco divisores do tempo”; a
quinta, “estabelecimento e uso da perfeição real”, a sexta. “uso discernidor das três
virtudes”; a sétima, “uso inteligente dos meios para exame das dividas”; a oitava, “uso
meditado das diversas verificações”; a nona, “uso exortatório das cinco fontes de
felicidade e uso temeroso das seis oportunidades de sofrimento”.

4. “Primeiro: dos cinco elementos, o primeiro é a água; o segundo é o fogo; e o terceiro


a madeira; o quarto o metal; o quinto é a terra. A natureza da água consiste em molhar e
descer. A do fogo, em arder e subir. A da madeira, em curvar-se a alinhar-se. A do
metal, em amolecer e mudar. A da terra, em receber as sementes e produzir a colheita. O
que molha e desce se converte em sal. O que arde e sobe se converte em amargo. O que
se curva e se alinha se converte em ácido. O que amolece e muda se converte em acre. E
da semeadura e colheita procede a doçura”.

5. “Segundo: das cinco coisas pessoais, a primeira é o porte corporal; a segunda a


linguagem; a terceira, a vista; a quarta, ouvido; a quinta, o pensamento. A virtude do
pobre corporal é a conduta respeitosa. A da linguagem, sua concordância com a razão.
A da vista a claridade. A do ouvido, a diferenciação. A do pensamento, a perspicácia. A
conduta respeitosa manifesta-se na gravidade. A concordância com a razão, na ordem.
A claridade, no entendimento. A diferenciação, na deliberação. A perspicácia, na
sabedoria”.

6. “Terceiro: dos oito objetos do governo, o primeiro é o alimento, o segundo a riqueza


e os artigos do uso, o terceiro os sacrifícios, o quarto as tarefas do Ministro de Obras
Públicas, o quinto as do Ministro da Instrução, o sexto as do Ministro da Justiça, o
sétimo as cerimônias que devem ser tributadas aos hóspedes, o oitavo o exército”.

7. “Quarto: dos divisores do tempo, o primeiro é o ano do planeta Júpiter, o segundo a


Lua, o terceiro o Sol, o quarto as estrelas e os planetas e espaços zodiacais, o quinto os
cálculos do calendário”.

8. “Quinto: da perfeição real. Tendo constituído em si mesmo o mais alto grau e modelo
de excelência, o soberano concentra em sua própria pessoa as cinco fontes de felicidade
e trata de difundi-las e concede-las às multidões populares. Logo o povo, por sua vez,
incorporando tua perfeição, há de devolve-la a ti e assegurará sua conservação. Entre as
multidões não haverá cabalas ilegais e entre os funcionários não há de existir
combinações más e egoísticas. Que o soberano constitua em si mesmo o mais alto grau
e modelo de excelência.

9. “Entre as multidões haverá algumas pessoas que terão habilidade para planear e agir e
para livrar-se do mal. Lembra-te delas. Haverá algumas que, sem chegar ao mais alto
ponto de excelência, não obstante não se envolvem no mal. O soberano deve admiti-las.
E quando em seus semblantes demonstram satisfação plácida e dizem: “Nosso amor
baseia-se na virtude”, outorga-lhes teus favores. Assim esses homens rapidamente
progredirão até a perfeição do soberano. Este não deve oprimir os desamparados e sem
filhos, nem deve temer os elevados e distintos. Quando os funcionários tem habilidade e
faculdades administrativas, deixai que as aumentem para cultivar sua conduta; e com
isso se promoverá a prosperidade do país. Todos esses homens justos, em virtude de sua
competência, progredirão em bondade. Se não podes induzi-los a que tenham aquilo que
amam em suas famílias, procederão imediatamente de modo a tornar-se culpados de
crimes. No que respeita aos que não amam a virtude, ainda que lhes confiras favores e
emolumentos, nada mais farão do que implicar-te na culpa de empregar o mal.

Sem desvio nem irregularidade

Exerce a virtude real.

Sem preferências egoístas,

Segue o caminho real.


Sem antipatias egoístas,

Segue a senda real.

Evita o desvio, evita a parcialidade:

O caminho real é simples e fácil.

Evita a parcialidade, evita o desvio;

O caminho real é plano e fácil.

Evita a perversidade, evita a unilateralidade:

O caminho real é justo e reto.

Busca sempre esta perfeita excelência,

Volta sempre a esta excelência perfeita.

10. “Continuou dizendo: “Esta amplificação da perfeição real contém a regra invariável
e constitui a grande lição; mais ainda, é a lição de Deus. Todas as multidões, instruídas
nesta amplificação da excelência perfeita, e levando-a a prática, aproximar-se-ão da
glória do Filho do Céu e dirão: “O Filho do Céu é o pai do povo e por isso se converte
no soberano de tudo o que existe sob o firmamento”.

VIII. Declaração sobre a embriaguez.

1. O rei fala do seguinte modo: “Fazei conhecer claramente minhas grandes ordens no
país de Mei”.

“Quando vosso venerável pai, o rei Wen, lançou as bases de nosso reino na região
ocidental, fez declarações e admoestações aos príncipes das diversas regiões e a todos
os altos funcionários, com seus ajudantes e os diretores dos negócios, dizendo dia e
noite: “Devem ser empregados álcoois nos sacrifícios”. Quando o Céu outorgou seu
decreto favorecedor e assentou as bases da eminência do nosso povo, utilizavam-se as
bebidas espirituosas unicamente nos grandes sacrifícios. Quando o Céu envia seus
terrores e nosso povo se desorganiza consideravelmente com eles e perde sua virtude,
pode-se atribuir invariavelmente ao seu abuso, de bebidas. Mais ainda, a ruína dos
Estados pequenos e grandes, por esses terrores é invariavelmente motivada por sua
culpa no uso de bebidas.

2. “O rei Wen admoestou e instruiu os jovens nobres que desempenhavam funções


administrativas ou qualquer emprego para que não utilizassem ordinariamente as
bebidas espirituosas e em todos os Estados exigiu que esses funcionários não bebessem
a não ser por ocasião dos sacrifícios, e que então predominasse a virtude de modo a que
não pudesse haver embriaguez”.
3. Disse: “Ensine, meu povo, aos jovens, que unicamente devem amar os produtos da
terra, pois assim serão bons seus corações. Ouçam os jovens atentamente as constantes
recomendações de seus pais e contemplem todas as ações virtuosas, sejam estas grandes
ou pequenas, a mesma luz, com atenção vigilante”.

“Tu, povo da terra de Mei, se podes empregar teus membros, cultivando amplamente
tuas lavouras e mostrando-te ativo no serviço de teus pais e irmãos mais velhos; e se
com teus carros e bois transitas diligentemente até uma distância que te permita atender
filialmente a teus pais, então teus pais serão felizes e poderás preparar clara e
fortemente tuas bebidas espirituosas e utilizá-las”.

4. “Ouvi constantemente minhas instruções, todos vós, meus altos funcionários e chefes
de seção, todos vós, meus nobres principais; quando houverdes cumprido amplamente o
vosso dever na atenção de vossos maiores e no serviço de vosso governante, podereis
comer e beber livremente até saciar-vos. E para falar de coisas mais importantes:
quando puderdes manter constantemente um exame vigilante de vós mesmos e vossa
conduta esteja de acordo com a virtude correta, então podereis apresentar as oferendas
do sacrifício e ao mesmo tempo entregar-vos às festividades. Nesse caso sereis verda-
deiramente ministros que prestais o devido serviço ao vosso rei o Céu aprovará
igualmente vossa grande virtude, de modo que nunca sereis esquecidos na Casa Real”.

IX. Contra o Ócio luxurioso.

1. Disse o duque de Zhou: “Oh! o homem superior baseia-se nisto: não se entregar ao
ócio luxurioso. Antes de mais nada, compreende que o penoso trabalho de semear e
colher leva à fartura, assim como compreende que o povo humilde depende do trabalho
para sua subsistência. Observou entre os humildes que quando os pais trabalharam
diligentemente na semeadura e na colheita, seus filhos não compreendem com
freqüência esse penoso trabalho e se entregam ao ócio e à vagabundagem aldeã e se
tornam completamente desorganizados. Ou, quando assim não agem, desprezam seus
pais, dizendo: “Estes velhos ouviram e nada sabem”.

2. O duque de Zhou disse: “Oh! Ouvi que noutro tempo Kung Zung, um dos reis de
Yin, era sério, humilde, reverente e timoratamente prudente. Conformava-se
reverentemente aos decretos do Céu e abrigava uma reverente apreensão no governo do
povo, sem se atrever a abandonar-se ao ócio luxurioso. Assim desfrutou o trono durante
setenta e cinco anos. Se passarmos à época de Zhou Zung, este trabalhou a princípio
fora da Corte, entre as mais humildes criaturas. Quando subiu ao trono preferia não falar
mas quando falava suas palavras eram cheias de harmoniosa sabedoria. Não se atreveu a
entregar-se a um ócio inútil, presidiu admirável e tranqüilamente as regiões de Yin, até
que em todas elas pequenas e grandes, não houve um só murmúrio adverso. Assim
desfrutou o trono durante cinqüenta e nove anos. No caso de Zuxia, este se negou a ser
rei injustamente e foi, a princípio, um dos mais humildes súditos. Quando subiu ao
trono, sabia de que podia depender o povo de seu apoio e foi capaz de exercer uma
bondade protetora para com as massas e não se atreveu a tratar depreciativamente os
viúvos e viúvas. Assim desfrutou o trono durante trinta e três anos. Os reis que vieram
depois gozaram a ociosidade desde o nascimento. Desfrutando a ociosidade desde o
nascimento não conhecia o penoso trabalho de semear e colher e não haviam ouvido
falar do árduo labor da gente humilde. Não aspiravam outra coisa senão um prazer
excessivo e por isso nenhum deles viveu muito tempo. Reinaram durante dez anos,
durante sete ou oito, cinco ou seis, ou talvez unicamente durante três ou quatro anos.

X. Discurso do Marques de Qin.

1. Disse o duque: “Ah! Meus funcionários, ouvi-me em silêncio. Declaro-vos


solenemente a mais importante de todas as máximas. Foi o que disseram os antigos:
“Assim sucede a todos: amam, de preferência, o ócio. Não há dificuldade em censurar
os outros, mas é difícil aceitar a censura e dar-lhe livre curso. O que me entristece o
coração é que hajam transcorrido os dias e os meses e não seja provável que voltem, de
modo que devo seguir um caminho diferente.

2. “Ali estavam meus velhos conselheiros. Eu disse: “Não farão o que eu desejo”, e os
odiei. Ali estavam meus novos conselheiros e eu quis outorgar-lhes minha confiança.
Tal é certamente o que eu fiz. Mas daí por diante me aconselhei com os homens de
cabelos brancos e me livrarei do erro. Aquele bom funcionário velho! Sua força está
esgotada, mas preferiria não tê-lo como conselheiro. Aquele arrojado e bravo
funcionário! Seu modo de caçar e de guiar a carruagem são impecáveis, mas preferiria
não tê-lo por conselheiro. Quanto aos homens de palavras sutis, hábeis e astutos,
capazes de fazer mudar de propósito o homem bom, que hei de fazer com eles?

3. “Pensei profundamente e cheguei a uma conclusão. Tenha eu um só ministro


resolvido, simples e sincero, sem outra habilidade mas com uma inteligência honrada e
possuído de generosidade, que considere os talentos alheios como se ele mesmo os
possuísse, e que quando encontra homens perfeitos e sábios os ame de coração mais do
que a boca pode dizer, mostrando-se realmente capaz de apoiá-los. Semelhante ministro
seria capaz de proteger meus descendentes e meu povo e seria verdadeiramente um
outorgador de benefícios.

“Mas se o ministro quando encontra homens hábeis os inveja e odeia; se quando


encontra homens perfeitos e sábios opõem-se a eles e não consente que progridam,
mostrando-se incapaz de ajudá-los, semelhante homem não será capaz de proteger meus
descendentes e meu povo e não será um homem perigoso?”.

“O declínio e queda de um Estado podem ser devidos a um só homem. A glória e a


tranqüilidade de um Estado podem também ser devidos à bondade de um só

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