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André Lévy
FUNREI/FAPEMIG. vista e avaliada. A reflexão foi
André Nicolaï
fortemente influenciada pela Psi-
Eliana de Moura Castro canálise, mas também pelo pen-
Eugène Enriquez
samento filosófico que aponta
Jean Dubost
é doutora em Psicanálise e
para as representações imaginá-
professora aposentada da
rias do social e, recentemente,
UFMG.
pela sociologia da ação. Como
de Araújo é doutor em
conhecimento da natureza do
vínculo que congrega os indiví-
Psicologia Social e Clínica ISBN 978-85-7526-022-7 duos, de um saber a respeito
e professor da PUC Minas. das mudanças e rupturas da di-
ORGANIZADORES
Marília Novais da Mata Machado
Eliana de Moura Castro
José Newton Garcia de Araújo
Sonia Roedel
COLABORADORAS:
Regina D.B. de Barros
Teresa Cristina Carreteiro
Psicossociologia
Análise social e intervenção
Belo Horizonte
2001
Copyright © 2001 by Os Organizadores
Capa
Jairo Alvarenga Lage
Editoração eletrônica
Waldênia Alvarenga Santos Ataide
Revisão de textos
Erick Ramalho
Editora responsável
Rejane Dias
ISBN 85-7526-022-7
CDU 316.6
2001
Autêntica Editora
Rua Januária, 437 – Floresta
31110-060 – Belo Horizonte – MG
PABX: (55 31) 3423 3022
TELEVENDAS: 0800-2831322
www.autenticaeditora.com.br
e-mail: autentica@autenticaeditora.com.br
SUMÁRIO
O VÍNCULO GRUPAL
Eugène Enriquez.......................................................................................... 61
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PREFÁCIOÀSEGUNDAEDIÇÃO
É com grande satisfação que vemos este livro chegar à sua segunda
edição. A coletânea de textos que o compõem interroga e constrói a psi-
cossociologia, esta transdisciplina simultaneamente teórica e prática, hoje,
bem conhecida e divulgada no Brasil.
Desde a primeira edição, o campo da psicossociologia cresceu. A sua
perspectiva clínica ganhou espaço, principalmente em suas vertentes so-
ciológica e psicossocial. A psicanálise seguiu sendo uma das principais
teorias inspiradoras, mas novas e originais elaborações teóricas foram de-
senvolvidas. À metodologia de intervenções/pesquisas, cada vez mais uti-
lizada, juntou-se o levantamento e análise de histórias de vida, esclarece-
doras dos processos de criação do social. O fortalecimento do CIRFIP –
Centro Internacional de Pesquisa, Formação e Intervenção Psicossocioló-
gica – acompanhou todo esse vigor teórico, prático e metodológico.
Por tudo isso, este livro, fruto do trabalho de psicólogos, sociólogos e
um economista, tornou-se ainda mais importante, pois apresenta justa-
mente os fundamentos e a história dessa disciplina que se fortalece: esbo-
ça uma teoria do socius, da organização e do funcionamento social, feita à
partir de análises sociais de práticas realizadas em situações concretas,
reais, por meio da “intervenção psicossociológica”, dispositivo de con-
sulta e pesquisa, cuja história é nele revista e avaliada.
Assim, tal como no momento da primeira edição, o livro continua
sendo de interesse para os estudiosos das ciências humanas e sociais em
geral, tanto para os que se dedicam à reflexão teórica, quanto para os que
praticam a psicologia, a sociologia, a economia, a psicanálise, a educa-
ção, o direito, a administração e a política.
Junho de 2001
Os organizadores
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Psicossociologia – Análise social e intervenção
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PREFÁCIO
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Psicossociologia – Análise social e intervenção
Entretanto, se foi esse vínculo estreito entre pesquisa e ação que ca-
racterizou a Psicossociologia dos anos 50, 60 e 70, hoje ela se renova,
adquire um sabor de novidade, retirando sua originalidade sobretudo de
sua construção teórica. A partir da análise social instaurada com a inter-
venção psicossociológica, é formulada uma teoria, sempre inacabada, do
socius, da organização e do funcionamento social. Paulatinamente, che-
ga-se ao conhecimento e à explicação da natureza do vínculo que congre-
ga os indivíduos, de onde e como surge a dinâmica social, com suas
mudanças e rupturas, e do processo de criação institucional. Teoria e
prática se confundem nessa tarefa, pois a teorização é fruto da reflexão
que, a partir de eventos da vida cotidiana e de intervenções psicossocioló-
gicas, torna visível a presença do sujeito social.
Ora, contra esse pano de fundo, pouco a pouco tecido, a Psicosso-
ciologia redescobre sujeitos pulsionais, fortemente movidos por sentimen-
tos ambivalentes de amor e ódio, mobilizados por ilusões e crenças, dis-
putando tanto mais com seu semelhante quanto mais iguais figurem ser,
idealizando e buscando destruir seus chefes, irmãos apenas no complô
contra os que são representados como diferentes. Reencontra indivíduos
que caem facilmente no fanatismo, no “narcisismo das pequenas dife-
renças” (FREUD), na crença exacerbada em valores estimados como
transcendentes, buscando certezas através das quais vão abrandar seus
sentimentos de desamparo e impotência. Porém, encontra também su-
jeitos capazes de saírem desse “imaginário enganoso”, nos termos de E.
ENRIQUEZ, e serem criadores da história, aptos a um “imaginário
motor”, sujeitos que, por um ato de decisão, que é também um ato de
palavra, são capazes de realizar “esse obscuro objeto do desejo”, a
mudança social (A. LÉVY), sujeitos que são verdadeiros autores e ato-
res, mesmo que involuntariamente, de transformações nos sistemas
sociais (A. NICOLAÏ), sujeitos capazes de serem autônomos, podendo
se tornar os principais agentes de suas próprias evoluções e das de
seus grupos e organizações (J. DUBOST).
Ao lado do reconhecimento de uma ordem social marcada pela luta
de todos contra todos, do trabalho da pulsão de morte, dos desejos de
onipotência e dominação, foi possível também constatar o trabalho da
pulsão de vida, da sublimação e de um imaginário que facilitariam a
solidariedade entre os homens.
É essa trajetória teórica que se pretende apresentar neste livro, no
qual um convite à análise e à reflexão é repetido em cada texto, já sendo
a priori evidente que a opacidade do social não será eliminada, que a
análise talvez pouco abale uma instituição que se imagina estável, que
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Prefácio
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Psicossociologia – Análise social e intervenção
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Prefácio
desejo” (A. LÉVY) – uma vez que marcam um ponto de transição teórica na
forma de conceber, respectivamente, o grupo e a questão da mudança.
- Em terceiro lugar, optou-se por uma seqüência de textos de caráter
histórico, alguns mostrando a evolução do pensamento psicossociológico
(“A respeito da formação e da intervenção psicossociológicas” – E. EN-
RIQUEZ, 1976; “Notas sobre a origem e evolução de uma prática de
intervenção psicossociológica” – J. DUBOST, 1980; “Intervenção como
processo” – A. LÉVY, 1980) e um texto que faz uma retrospectiva desse
pensamento, contrapondo as origens a temas recentes (“As origens
técnicas da intervenção psicossociológica e algumas questões atuais” –
J. DUBOST, 1987).
Esses artigos foram organizados em três grupos que correspondem
às três partes do livro. A primeira – Análise Social – apresenta a constru-
ção teórica feita na disciplina. A segunda – Psicossociologia em Exame –
é uma avaliação crítica da evolução da área e, finalmente, a terceira –
Intervenção Psicossociológica –, além de ser uma parte de retrospectiva
histórica, apresenta a intervenção, esse dispositivo de consulta e pesquisa
que fundamentou e inspirou a construção teórica.
Todas as traduções foram feitas por professores universitários ou
por estudiosos ligados, em maior ou menor grau, à Psicossociologia e
à Psicanálise. Seus nomes aparecem, em cada texto, na primeira nota
de rodapé. As traduções foram revistas por J. ARAÚJO, E. CASTRO e
M. MATA-MACHADO.
Buscou-se uma certa uniformização. Por exemplo, o termo lien social
foi traduzido por “vínculo social”, mantendo-se a tradução utilizada
por T. CARRETEIRO e J. NASCIUTTI para o livro de E. ENRIQUEZ: Da
horda ao Estado. Psicanálise do vínculo social, editado por Jorge Zahar.
Mais de uma dificuldade de tradução, certamente refletindo postu-
ras teóricas diferentes, foi objeto de discussão e comparação. Por exem-
plo, a palavra forclusion tem aparecido em português como “foraclusão”,
“forclusão” ou “preclusão”; a última tradução foi preferida, por estar
dicionarizada (Novo Dicionário Aurélio) e por permitir, através da análi-
se etimológica, a apreensão de seu sentido original. Outro exemplo: para
a palavra fantasme (fantasia ou fantasma, de acordo com a tradução por-
tuguesa do Vocabulário de Psicanálise de LAPLANCHE e PONTALIS),
preferiu-se “fantasia”; a possível confusão com a fantasia carnavalesca só
auxilia a aproximação com esse mundo imaginário, de atividades e produ-
ções criadoras, algumas aterrorizantes; contudo, mantiveram-se termos
como “fantasmático”. Utilizou-se a palavra “narcíseo”, para designar
13
“relativo a narciso”, seguindo o Novo Dicionário Aurélio ou “narcísico” e
“narcisista”, seguindo o fluxo corrente das traduções de textos psicanalíti-
cos, a critério do tradutor. Finalmente, para a palavra enquête, não se utili-
zou uma tradução uniforme: empregou-se “pesquisa” na maior parte das
vezes; quando a referência era obviamente a um “levantamento de dados”,
expressão bastante usada em português, essa foi a escolha; entretanto, a
palavra investigation, na expressão méthodes d’investigation, foi igualmente
traduzida por “pesquisa”.
Agradecemos a colaboração de José Walter Albinati SILVA, nosso
primeiro leitor, que procedeu a uma cuidadosa revisão final.
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ANÁLISESOCIALESUBJETIVIDADE
Eliana de Moura Castro
José Newton Garcia de Araújo
A leitura dos artigos que compõem a primeira parte deste livro nos
coloca em contato com alguns temas de rara atualidade. Cabe, no entan-
to, a cada leitor se deter naquelas questões que lhe parecerem mais in-
quietantes, seja porque elas demandam um exercício novo de reflexão,
seja porque elas põem a nu alguns ranços de nossas posições teóricas
ou da “visão de mundo” que inspira o conjunto de nossas práticas
cotidianas.
Ao apresentar tais artigos, corremos o risco de enfatizar arbitraria-
mente apenas alguns de seus conteúdos. Mas não poderia ser diferente,
visto que todo leitor recebe, preenche ou interpreta, à sua maneira, aquilo
que lhe cai nas mãos.1 Pois bem, vamos selecionar três questões para as
quais dirigimos nossos comentários. A primeira delas diz respeito a uma
discussão sobre o sujeito, no enfoque psicossociológico. A segunda dis-
cute alguns fenômenos (a intolerância, por exemplo) situados na gênese
da violência que permeia a “afetividade coletiva”. A terceira se volta so-
bre o esquecido e fascinante tema da interioridade, marcando suas espe-
cificidades na articulação entre o psicológico e o social..2
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Análise social e subjetividade
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As “referências duras” ou
as sementes da violência grupal
Passemos agora à segunda questão, que se refere a um núcleo de
fenômenos essencialmente coletivos, presentes ora nos grupos nascentes
e minoritários, ora nos grupos que já se impuseram em uma dada cultura
ou sociedade, mas que tentam ainda se expandir. Falamos da ocorrência
cada vez maior – inclusive no Brasil – de episódios de intolerância, xenofo-
bia, fanatismo e outras manifestações daquilo que ENRIQUEZ denomina
“referências duras e estabilizadas”. E aí o vínculo grupal se exterioriza em
forma de violência: ódio ao exterior, amor (ou cumplicidade?) mútuo,
sentimento de “sermos portadores” da verdade etc. A isso se ajunta a
observação – importante e oportuna – de que o estofo da afetividade gru-
pal não é a racionalidade (afinal, estamos falando de mecanismos in-
conscientes), mas sim os processos de idealização, ilusão e crença. Assim, o
grupo se atribui uma aura de excepcionalidade, além de poupar toda
interrogação sobre o valor ou o sentido de seu projeto (seja esse projeto
político, religioso, esportivo, científico ou outro qualquer). O que os seus
membros fazem é incontestável para eles mesmos, pois sua ação – presu-
mem – tem a marca do sagrado. Conseqüências imediatas: toda alterida-
de (outros grupos, outras idéias, outras propostas políticas, religiosas,
científicas etc.) deve ser eliminada, pois ela se torna uma ameaça. O grupo
não suporta nenhuma outra verdade, além da sua. E aí florescem as con-
dutas totalitárias e massificadas, como a intolerância e o fanatismo.
A essa altura, cabem algumas observações. A primeira: é importan-
te considerarmos que o recrudescimento das ideologias nazistas e de
um racismo generalizado não são um privilégio da Europa Central, como
se tinha notícia até pouco tempo.8 Essas “ideologias petrificadas” são
também assunto de fartos noticiários na mídia brasileira. Basta lembrar,
como um fenômeno “periférico”, mas exemplar, que os skinheads já têm
seus representantes no Brasil. Esses musculosos jovens de cabeça ras-
pada já se tornaram, em diversos momentos, objeto do noticiário nacio-
nal: querem garantir um “futuro glorioso” para o nosso país, tentando
eliminar dele os negros, os judeus e... árida novidade, os nordestinos.
Mas as ideologias petrificadas acabam gerando suas réplicas ou o seu
avesso. Assim, algum tempo após as notícias, no início de 1993, sobre os
skinheads verde-amarelos a imprensa também informou sobre a existên-
cia de um grupo denominado Nação Islã,9 composto por militantes islâmi-
cos negros que, “céticos quanto à eficiência do Estado”10 se armam contra
“as violências cometidas pelos carecas e pela polícia contra negros...”
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conteúdo que constitui o sujeito, naquilo em que ele é diferente do outro. Por
isso, a interioridade é mais palpável (quase que literalmente).
É por seu cunho espacial que a interioridade comporta um caráter
estável e estático. E o mais importante, já dissemos, é que ela remete à vida
consciente e não ao inconsciente. O espaço de dentro é o lugar ao mesmo
tempo da certeza de si próprio e do seu lado desconhecido, do outro que
eu sou. Essa dimensão do inatingível e do secreto constitui a interiorida-
de. O oculto, isto é, o profundo – e aqui a referência espacial é clara –
marca a individualidade.
Assim, por ser essencialmente espacial, a interioridade considerada,
quer como sentimento pessoal, quer como conceito psicológico, é certa-
mente desprovida de energia ou, em outros termos, é passiva, só poden-
do, pois, oferecer uma resistência passiva. Dessa passividade podemos
inferir o caráter estático da interioridade e isso faz ressaltar o papel das
forças sociais que a agridem. Uma tal instância parece estar realmente à
mercê dos ataques perpetrados por uma sociedade cruel; e como bem
captou ENRIQUEZ, é no cenário da espacialidade que essa ameaça se
realiza. As propostas absolutizantes, feitas pela religião, pela empresa ou
pela sociedade, se tornam assim mais claras, porque confrontadas à inte-
rioridade (e não à identidade, ao eu e muito menos ao sujeito). A imposi-
ção de um padrão idealizante de comportamento e de pensamento impli-
ca uma “profunda” agressão à intimidade da pessoa. Em outras palavras,
a imagem do dentro carnal corresponde a uma imagem do dentro espiri-
tual, isto é, à concepção de uma interioridade psíquica que está sujeita a
todas as investidas externas.
Finalmente, pelo fato de que ela aparece sobretudo como uma região
espacial metafórica, resta-nos reafirmar que a noção de interioridade com-
porta certa ambivalência teórica: de uma lado, o fato de ser uma noção
construída a partir da espacialidade faz dela uma metáfora limitada do
psiquismo; de outro lado, o seu manejo “espacial” apresenta vantagens de
apreensibilidade, no campo da argumentação psicossociológica.
Notas
1
Humberto ECO, em sua obra Lector in Fabula (trad. francesa Grasset, 1985) nos
aponta essa singularidade do lugar do leitor. Ele diz, entre outras coisas, que todo
texto é um tecido de espaços em branco, com interstícios a serem preenchidos pelo
leitor. Afinal, nenhuma leitura é um ato neutro.
2
Esta última questão foi elaborada por Eliana de Moura CASTRO, enquanto as duas
primeiras ficaram a cargo de José Newton G. ARAÚJO.
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Análise social e subjetividade
3
Cf. BALANDIER, G. “Essai d’identification du quotidien”. In: Cahiers Internationaux de
Sociologie, 1983, vol. LXXIV, p. 5-12. BALANDIER comenta (e esse artigo é de 1983)
que o mais importante da multiplicidade de pesquisas sobre a vida cotidiana é que
esse “movimento recente... fez reaparecer o sujeito, face às estruturas e aos sistemas”.
4
Conseqüentemente, nessa mudança, concedeu-se também lugar à vida privada e
não apenas às “grandes causas” trabalhista e revolucionária.
5
P. SELLIER (cf: Le mythe du héros. Paris: Bordas, 1970, p. 29-31) afirma que, na Biblio-
teca Nacional de Paris, uma boa metade dos livros consagrados a heróis são livros
russos e posteriores à Revolução de 1917. Lembremos, mais perto de nós, o culto à
figura de GUEVARA, que incontestavelmente “sustentou a fé” de várias gerações,
na América Latina e mesmo na Europa.
6
Alain RENAUT (cf: L’ère de l’individu. Paris: Gallimard, 1989) chama nossa atenção
para uma simplificação das discussões sobre a idéia de sujeito, “como se todo uso da
noção de subjetividade devesse inevitavelmente aludir a um sujeito inteiramente
transparente a si mesmo, soberano, senhor de si e do universo e como se, por isso
mesmo, a incontestável condenação desta figura do sujeito devesse se traduzir pelo
abandono puro e simples de qualquer referência à subjetividade” (op. cit., p. 13).
7
O autor evoca J. McDOUGALL (cf: Plaidoyer pour une certaine anormalité. Paris:
Gallimard, 1978) para quem a normalidade seria “uma carência que atinge a vida
fantasmática e que afasta o sujeito dele mesmo”.
8
Não vem ao caso evocar aqui a ameaça do racismo na Europa do Leste, principal-
mente após as recentes eleições da Rússia, nas quais o Sr. JIRINOWSKI saiu vito-
rioso. De outro lado, não esqueçamos também a intolerância no interior das
sociedades muçulmanas, empenhadas numa guerra dita religiosa e que leva aos
extremos o endurecimento ideológico grupal.
9
Cf. reportagem da revista Isto É, de 28/04/93, p. 50-53.
10
Essa mesma revista, em seu número de 1º/12/93, publica uma reportagem intitu-
lada “Quarto Reich – nazismo no ar”. A matéria se refere a uma empresa gaúcha,
uma editora de propaganda nazista, vendendo livros e vídeos pelo Brasil afora. Seu
objetivo é uma “revisão” da história do nazismo, visando negar os massacres
cometidos pelo Terceiro Reich (entre outras coisas, o dono dessa editora diz que
o massacre dos judeus teria sido uma “montagem da mídia”). Observação
semelhante já fora feita, alguns anos atrás, por Jean-Marie LE PEN, líder da
extrema-direita francesa. Para ele, a questão dos fornos crematórios nos campos
de concentração, além de serem historicamente contestáveis, não passavam de
“mero detalhe”.
11
P. ANSART vê a ideologia como um sistema simbólico que favorece a regulação
social, à medida em que estrutura as economias psíquicas e funciona como um
aparelho redutor de angústia, como um instrumento terapêutico, em nível
individual. A adesão a uma ideologia leva o indivíduo a um mundo de trocas com o
outro, encontrando aí as condições de gratificação narcísica. (Cf: ANSART, P. “Dis-
cours politique et réduction de l’angoisse”. In: Bulletin de Psychologie. Paris, n. 322, tomo
XXIX, 1975-1976, p. 445-449).
12
Cf: ANZIEU, D. Le groupe et l’inconscient: l’imaginaire groupal. Paris: Dunod, 1984.
13
Esse autor comenta que os termos nó e círculo, inferidos da etimologia do termo e da
elucidação do conceito de grupo, desembocam na idéia central de uma conexo fecha-
da. Assim, em seus níveis mais profundos, a vida grupal seria experimentada como
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OPAPELDOSUJEITOHUMANONADINÂMICASOCIAL1
Eugène Enriquez
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não parece que se possa levar o homem, seja lá por que modo, a
trocar sua natureza pela de um térmita; ele sempre estará incli-
nado a defender seu direito à liberdade individual, contra a von-
tade da massa.8
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se fizer como eu, se tiver tanta coragem quanto eu”. O grande patrão
italiano C. de BENEDETTI exprime muito bem essa posição:
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Mas essa consistência deve ser perceptível e deve poder provocar rea-
ções e discussões. MOSCOVICI, igualmente, acrescenta que um tal sujeito
deve “optar por uma posição clara, visível e, em seguida, criar e sustentar
um conflito com a maioria, lá onde a maioria é tentada a evitá-lo.”
O sujeito não é homem de comprometimentos. Ao mesmo tempo, é
uma pessoa capaz de criar redes de alianças, pois sabe que se ele se
encontrar sozinho, se outros não podem se identificar a ele e com sua
causa, só poderá fracassar (não é à toa que a criação da Associação Inter-
nacional de Psicanálise pode tranqüilizar FREUD e que a criação da 1a
Internacional era ardentemente desejada por MARX). A idéia fixa não
impede a astúcia (no sentido da Mètis dos gregos) e o aproveitamento da
oportunidade, quando ela se apresenta. ARISTÓTELES dizia que o ho-
mem de gênio deveria saber utilizar o Kairos, a ocasião. Aqui não se trata
de manipulação, porque o sujeito deve estar cheio de furor (de hybris),
deve ser capaz de sair dele mesmo (ek-stase), para fazer triunfar suas
idéias. ARISTÓTELES já o sabia e o mostra muito bem no “problema
trinta”, recentemente republicado. Consistência e furor, consistência e
astúcia andam juntas. Nem MARX nem FREUD foram pessoas boazi-
nhas; no entanto, souberam conciliar furor, consistência e astúcia, o que
não é nada fácil.
Uma outra característica do sujeito é a de viver como um “exota”,
segundo a expressão de V. SEGALEN. Para SEGALEN, o exota é aquele
que tem a percepção do diverso e o poder de conceber outro, sendo assim
aquele que olha o mundo como se o visse pela primeira vez. Ele é, portanto,
o homem pronto a ser tomado pela surpresa e pelo inusitado, como também
a provocá-los. Está muito próximo do que BLANCHOT evoca a respeito do
homem votado ao exílio, à dispersão. BLANCHOT escreve:
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Notas
1
Traduzido de ENRIQUEZ, Eugène. “Le rôle du sujet humain dans la dynamique sociale”.
Revue Européenne des Sciences Sociales. Tomo XXIX, 89, 1991, p. 75-89, por Sonia
Roedel.
2
Cf. meu texto “Individu, création et histoire”. In: Connexions, n. 44, E.P.I., 1984, e o
capítulo de minha tese Pouvoir et lien social, Paris: Gallimard, 1980, intitulado “O
papel da conduta do indivíduo”.
3
CASTORIADIS, C. L’institution imaginaire de la société. Paris: Seuil, 1975.
4
VEYNE, P. Les Grecs ont-ils cru a leurs mythes? Paris: Seuil, 1975.
5
ENRIQUEZ, E. “Le mythe ou la communauté inchangée”. L’esprit du temps, n. 11, Ed.
de Minuit, 1986.
6
Ibidem.
7
Esse ponto será retomado mais adiante neste texto.
8
FREUD, S. Malaise dans la civilisation (1929). Paris: PUF., 1970.
9
CASTORIADIS, C., op. cit.
10
WEBER, M. L’éthique protestante et l’esprit du capitalisme. Paris: Plon, 1964.
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REICH, W. Écoute, petit homme.(1948). Trad. franc. Paris: Payot, 1973.
12
REICH, W. op. cit.
13
DEVEREUX, G. Ethnopsychanalyse complémentariste. Paris: Flammarion, 1975.
14
FREUD, S., op. cit.
15
WINNICOTT, D. W. Jeu et réalité. Paris: Gallimard, 1975.
16
Sublinhado por mim.
17
ENRIQUEZ, E. Individu, création et histoire, op. cit.
18
SERRES, M. “La thanatocracie”. Critique, março 1973.
19
FREUD, S. e BULLITT, W. Le président T. W. WILSON. Nova trad. Paris: Payot,
1990.
20
FREUD, S. e BULLITT, W., op. cit.
21
FREUD, S. e BULLITT, W., op cit.
22
McDOUGALL, J. Plaidoyer pour une certaine anormalité. Paris: Gallimard, 1978.
23
MOSCOVICI, S. Psychologie des minorités actives. Paris: PUF., 1979.
24
BLANCHOT, M. L’entretien infini. Paris: Gallimard, 1970.
25
Citemos simplesmente o último texto publicado: Idéalisation et sublimation. Psycho-
logie Clinique, n. 3, 1990.
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AINTERIORIDADEESTÁACABANDO?1
Eugène Enriquez
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Posso apenas indicar uma pista que mereceria ser explorada mais
sistematicamente. Minha contribuição será, então, escrita num estilo la-
pidar que poderá chocar, mas que deveria também ter a vantagem de
provocar vivas discussões.
A proposição é a seguinte:
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A interioridade está acabando?
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A interioridade está acabando?
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Notas
1
Traduzido de ENRIQUEZ, Eugène. “Vers la fin de l’intériorité?” Psychologie Clinique,
1989-2, p. 61-76, por Sonia Roedel.
2
Grandes escritores alemães, tão diversos quanto GOETHE, NOVALIS e KLEIST
testemunham esse movimento de ligação entre razão e paixão. GOETHE, espírito
racional e humanista por excelência, descreve “os sofrimentos do jovem Werther” e
inicia, assim, involuntariamente, o romantismo, o gosto pelo mórbido, pela emoção,
contribuindo para a onda de suicídios que pontua o princípio do século XIX. NOVA-
LIS, seu oposto, o homem dos Hinos à noite, da poetização do universo, do culto do
inconsciente e dos instintos, deseja escrever (e redige em parte) uma Enciclopédia.
Quanto a KLEIST, sem dúvida o mais apaixonado dos românticos e que sanciona
sua vida por um suicídio, nunca se contenta de por ordem na vida e de dizer que é
impossível viver sem “um projeto de existência”. Cf. sobre KLEIST: E. ENRIQUEZ.
Entre la marionnette et Dieu.Topique, 34, 1985, p. 89-112.
3
Cf. ENRIQUEZ, E. “Immuable et changeante illusion: l’illusion nécessaire”. Topique, 37,
1962, p. 135.
4
Como um cadáver (em latim no original). Segundo o Larousse, “expressão pela qual Sto.
Inácio de Loyola, em suas constituições, prescreve aos jesuítas a disciplina e a obediência
a seus superiores, reserva feita dos casos nos quais a consciência proíbe”. (N. da T.).
5
FREUD, S. “Psicologia de Grupo e Análise do Ego” (1921). Edição Standard Brasileira das
Obras Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1976. v. XVIII, p. 163. (N. da T.).
6
Thomas MANN escreveu: “A interioridade, a Bildung do homem alemão, é a absor-
ção em si ou introspeção; é uma consciência cultural individualista; é a inquietação
com o cuidado, com a formação, com o aprofundamento do eu puro ou, em termos
religiosos, da salvação e da justificação da vida pura; é, então, um subjetivismo
espiritual apreciador da autobiografia e da confissão, na qual o mundo objetivo, o
mundo político, é sentido como profano e abandonado com indiferença pois, como
diz Lutero, ‘essa ordem exterior não tem importância’”. Considérations d’un apoliti-
que, citado por L. DUMONT. Individualisme apolitique. In: Sur l’individu. Paris:
Seuil, 1987, p. 38-53.
Referências
ABRAHAM, N. e TOROK, M. Le Verbier de l’homme aux loups. Paris: Aubier,
1976.
ABRAHAM, N. L’écorce et le noyau. Paris: Aubier, 1976.
59
Psicossociologia – Análise social e intervenção
60
OVÍNCULOGRUPAL1
Eugène Enriquez
O projeto comum
Um grupo só se constitui em torno de uma ação a realizar, de um projeto
ou de uma tarefa a cumprir. Todos sabem e reconhecem isso. O que parece, no
entanto, menos evidente são as implicações e as conseqüências de tal axioma.
Um projeto comum significa, de início, que o grupo possui um siste-
ma de valores suficientemente interiorizado pelo conjunto de seus mem-
bros, o que permite dar ao projeto suas características dinâmicas (fazê-lo
passar do estágio de simples plano ao estágio da realização).
Vamos um pouco adiante. Tal sistema de valores, para existir, deve
se apoiar em alguma (ou mais de uma) representação coletiva, em um
imaginário social comum. Por imaginário social entendo que só podemos
61
Psicossociologia – Análise social e intervenção
agir quando temos uma certa maneira de nos representar aquilo que
somos, aquilo que queremos vir a ser, aquilo que queremos fazer e
em que tipo de sociedade ou organização desejamos intervir. Para
serem operantes, tais representações devem não só ser intelectual-
mente pensadas, mas afetivamente sentidas. Não se trata unicamen-
te de querer coletivamente; trata-se de sentir coletivamente, de expe-
rimentar a mesma necessidade de transformar um sonho ou uma
fantasia em realidade cotidiana e de se munir dos meios adequados para
conseguir isso.
Mas esse sentimento, motor de nossa conduta, só pode emergir e
ter força de lei quando ligado a um sistema de idealização de nós mes-
mos e de nossa ação. Somente um projeto tido como objeto ideal e so-
mente nós mesmos tidos como seres idealizados (mais puros, mais belos
que os outros) podem ser elementos suficientemente mobilizadores para
fazer-nos sair da apatia ou da simples expressão de nossa boa vontade.
Todo grupo funciona à base da idealização, da ilusão e da crença. A
idealização está presente na elaboração de um projeto comum, pois ela
é o elemento que dá consistência, vigor e “aura” excepcional, tanto ao
projeto quanto a nós mesmos que, a nossos próprios olhos, nos fortifi-
camos (reforçando simultaneamente o eu ideal e o ideal do eu), cor-
rendo esse risco intelectual e social, tentando nos situar a uma altura
que nos parecia antes inatingível. A ilusão deixa igualmente sua marca.
Ela é um dispositivo simbólico que permite a canalização de nossos
desejos, que nos poupa toda interrogação sobre o valor desses desejos
e que fornece uma solução pronta para os possíveis conflitos entre es-
ses.2 Se FREUD criticou tanto a ilusão religiosa é porque, nela, ele via o
protótipo de uma Weltanschauung que tinha a pretensão de dizer a ver-
dade sobre a verdade e de incluir o indivíduo, com uma força particu-
larmente viva, em um sistema de pensamento e em um sistema social
que lhe tiravam toda possibilidade de pensar por si mesmo e de “tra-
balhar” as Condições e as conseqüências de seus comportamentos. Ora,
para que um projeto comum possa verdadeiramente nos mobilizar, cons-
ciente e inconscientemente, é necessário que, num grau maior ou menor,
ele se apresente sob um aspecto religioso, sagrado, inatacável: assim, ele
pode nos atrair, nos inspirar, nos fazer sair de nossa cotidianidade e nos
unir aos outros que partilham da mesma ilusão. Da ilusão à crença, a pas-
sagem é rápida. Um dispositivo simbólico que funciona encobrindo toda
dúvida, todo trabalho de interrogação sobre si, transforma-se logo em um
sistema de crença. Pois o ato de crer permite a certeza e elimina a questão
da verdade. Um grupo que queira fazer alguma coisa deve acreditar nela
62
O vínculo grupal
63
Psicossociologia – Análise social e intervenção
Um grupo minoritário
Se o grupo tem uma causa a defender e a promover, isso significa
que ele se pensa, se representa e quer se definir como uma minoria atuante.
A maioria não tem jamais uma causa a defender; a causa que ela repre-
senta já triunfou anteriormente, faz parte do bem comum ou se tornou
mesmo um lugar comum. (Pensemos na afirmação da liberdade de todo
cidadão no momento do sobressalto revolucionário de 1789 e no empo-
brecimento desse termo, utilizado nos dias de hoje por todos os partidos
políticos, sem exceção, mesmo pelos mais sedentos de combatê-la). A
maioria tem por objetivo o de bem gerir o patrimônio coletivo e manter
uma ideologia favorável à ordem social que ela instituiu. A maioria não
tem jamais um grande propósito; ela só tem interesses a conservar e uma
organização a consolidar.
Só um grupo minoritário (como os psicanalistas – e FREUD em pri-
meiro lugar –, os primeiros psicossociólogos e numerosos outros exem-
plos), isto é, um grupo que tem a comunicar uma mensagem nova, a procla-
mar uma visão nova do mundo (ou, mais modestamente, de uma profissão
ou de uma disciplina), a manifestar uma conduta desviante em relação às
normas da instituição ou da sociedade, pode ser capaz de se arriscar para
fazer triunfar o que presidiu sua fundação. As idéias novas, nós o sabe-
mos, são o feito de um número muito pequeno de pessoas, algumas vezes
de uma só3 , lutando contra o que IBSEN já denominara “a maioria com-
pacta”, encarnação da ordem estabelecida e das idéias esclerosadas e
enrijecidas. Essas pessoas sabem que, geralmente, têm poucas chances de
serem bem sucedidas e as mais conscientes pressentem que, no caso de
sucesso, são sobretudo os seus discípulos e seguidores que ganharão
com esse avanço. Pouco importa. “A dissidência de um só” (retomando
a bela expressão de MOSCOVICI4 sobre SOLZHENITSYN) pode, pro-
gressivamente, se tornar a dissidência de muitos, propagar-se como uma
mancha de óleo e, talvez mesmo, triunfar. IBSEN acreditava nos que diziam
que “é a minoria que tem sempre razão”. Eu serei menos afirmativo, mas
direi que, caso uma minoria, um dia, queira triunfar, ela deve, imperativa-
mente, acreditar que está com a razão. Do contrário, sua luta não terá
alma nem razão de ser.
Toda minoria tem, pois, vocação majoritária: mas, antes de chegar a
seus fins, ela deve primeiro, para se reforçar, atingir o grau de adesão que
permite aos indivíduos se sentirem, antes de tudo e contra tudo, membros
do grupo. Para isso, só existe um caminho: o do complô contra os valores
instituídos, o da conjuração tramada no segredo e assegurada pela fé
64
O vínculo grupal
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Psicossociologia – Análise social e intervenção
O desejo e a identificação
O grupo assim formado vai se encontrar diante de um problema estru-
tural que tentará tratar continuamente, porém sem sucesso. Esse problema
é o do conflito entre o desejo e a identificação ou, em outras palavras, entre
o reconhecimento do desejo e o desejo de reconhecimento.
O reconhecimento do desejo
Em um grupo, cada sujeito procura exprimir seus desejos e fazer
com que os outros os considerem. Ele quer se fazer amado pelo que é ou,
ao menos, não ser rejeitado, conquistar prestígio ou uma certa posição
social e quer realizar o que sente como se fosse a própria essência de
seu ser. Se ele faz parte do grupo, não é só porque quer realizar um
projeto coletivo, mas sobretudo porque pensa que é com essas pessoas
e não com outras, graças a esse imaginário comum e não a outro, que
pode chegar a tornar seu desejo reconhecido em sua originalidade e
em sua especificidade, tornar seus sonhos reais, fazer-se aceito em sua
66
O vínculo grupal
A MASSA
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Psicossociologia – Análise social e intervenção
68
O vínculo grupal
A DIFERENCIAÇÃO
Certos grupos admitem, em seu interior, uma diferenciação dos in-
divíduos e uma variedade dos desejos expressos. Se não se trata de ques-
tionar o projeto comum, a concepção que tais grupos têm desse projeto
não apresenta nenhum aspecto monolítico. Todo mundo, ao contrário,
acreditará que um projeto tem tanto mais chance de ser pertinente, eficaz
e de suscitar adesão ou mesmo entusiasmos, quanto mais ele se apresen-
tar como o resultado de discussões finas, de negociações rigorosas, de
argumentações contraditórias. Os membros do grupo são, então, irmãos
em sua capacidade própria de pensar e de agir, cada qual reconhece a
competência do outro (ou de um outro subgrupo) em domínios específi-
cos que utilizam abordagens e técnicas adequadas (assim, em um centro
de jovens inadaptados, a administração, os educadores, o psicólogo e o
psiquiatra poderão trabalhar em conjunto e não um contra o outro). A
tolerância existe, mesmo se as posições de cada um são defendidas com
clareza e determinação.
No entanto, como a cooperação idílica não existe mas, ao contrário,
todo mundo concorda com a idéia de que a cooperação nasce da expres-
são e do tratamento de conflitos, é possível e mesmo provável que o grupo
viva momentos de desacordos e tensões que podem mesmo atingir, em
certos momentos, “níveis insuportáveis” (FREUD). Teme-se mesmo que o
grupo se desagregue em subgrupos ou em partidos, cada qual acreditando
deter a verdade, orgulhoso de suas prerrogativas e seguro de estar no bom
caminho. A aceitação do conflito institucional como modo normal de regu-
lação do grupo pode acarretar, então, uma maximização das contradições
e pode orientar a maior parte da energia do grupo para a resolução desses
conflitos. Em tal caso, o grupo acabará por esquecer o seu projeto e passa-
rá a maior parte de seu tempo tentando analisar e compreender o que se
passa. A vontade operatória desaparecerá para dar lugar a uma expres-
são afetiva superabundante. O grupo se centrará em si mesmo. No limite,
ele esquecerá os objetivos que deve perseguir. (Assim, em um seminário
para diretores de um centro de jovens inadaptados, tive a surpresa de
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Psicossociologia – Análise social e intervenção
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O vínculo grupal
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Psicossociologia – Análise social e intervenção
Notas
1
Traduzido de: ENRIQUEZ, Eugène. “Le lien groupal”. Bulletin de Psychologie. Tomo
XXXVI, no 360, p. 631-637, 1983, por José Newton Garcia de Araújo.
2
Cf. J. B. PONTALIS. “L’illusion mantenue”. Nouvelle Revue de Psychanalyse, n. 4.
3
FREUD podia escrever com orgulho: “A Psicanálise é minha criação. Por dez anos,
fui o único a me ocupar dela e, por dez anos, foi sobre minha cabeça que se
abateram as críticas pelas quais os contemporâneos expressaram seu descontenta-
mento e seu mau humor em relação à Psicanálise.” (FREUD, S. Ma vie et la psycha-
nalyse. Gallimard).
4
MOSCOVICI, S. Psychologie des minorités actives. P.U.F.
5
LEFORT, C. Um homme en trop. Seuil.
6
Segundo os termos de C. CASTORIADIS.
74
OFANATISMORELIGIOSOEPOLÍTICO1
Eugène Enriquez
75
Psicossociologia – Análise social e intervenção
***
Tratar conjuntamente do fanatismo religioso e político significa que
a religião, como o pensavam DURKHEIM e FREUD, está na própria base
da instauração da comunidade (e mais tarde da sociedade) e de seus
modos de gestão política. Não existe corpo social nem orientação norma-
tiva desse corpo sem religião (sem culto dos ancestrais, sem totens, sem
deuses ou sem Deus único). A religião nos institui como seres heterôni-
mos (segundo a expressão de CASTORIADIS), como indivíduos que de-
pendem da existência de um Sagrado transcendente e obrigados, sob pena
de exclusão da comunidade, a lhe render uma homenagem constante
pelos dons recebidos, além de nos sentir para sempre em dívida, com
relação a ele. A religião produz então o “ser-junto”, ela nos religa uns aos
outros, ela nos protege da angústia do caos primordial e de uma interro-
gação que poderia apontar o aspecto arbitrário de nossa presença no
mundo (seja como ser individual, seja como ser coletivo). Pois bem, dizer
que a religião é consubstancial a todo corpo social e a toda forma de
governar esse corpo, isso não a obriga, necessariamente, a se apresentar
sob a máscara do fanatismo.
Ao contrário, pode-se dizer que, enquanto as sociedades (desde a
Revolução Francesa, ou seja, desde a entrada na modernidade) souberam
deixar um espaço ao religioso, sem lhe outorgar, no entanto, um domínio
completo sobre as consciências e um papel central na organização políti-
ca (esse foi o caso tanto nas sociedades arcaicas como nas sociedades do
antigo regime, apesar de todas as diferenças possíveis de se observar em
seus modos de existência social), o fanatismo religioso – isto é, a crença
exacerbada em um mito, um dogma, um ritual compartilhado que é pre-
ciso defender, às custas da própria vida – encontrou pouco sustento
para crescer. No conjunto, as religiões no mundo moderno ocidental
desempenharam, às vezes com reticência, o papel que lhes estava desti-
nado, deixando ao Estado e ao seu aparelho educativo o cuidado de
completar ou de contradizer seus próprios ensinamentos. A César o que
era de César, a Deus o que era de Deus. Assim, as grandes religiões
monoteístas foram, ao longo do tempo, se depurando, elas não coloca-
vam mais problemas particulares. As crenças, sustentadas por rituais
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O fanatismo religioso e político
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O fanatismo religioso e político
O indivíduo desaparece.
O aparecimento do “narcisismo”
das pequenas diferenças. (FREUD, 1930)
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Psicossociologia – Análise social e intervenção
FREUD mostrou que era sempre possível “unir uns aos outros, pe-
los vínculos do amor” (e nós acrescentaremos: pelos vínculos da fasci-
nação, da sedução ou da coerção), uma imensa massa de homens, com a
única condição de “que alguns outros fiquem de fora para serem alvo
dos ataques”. É por isso que “grupos étnicos estreitamente aparentados
se repelem reciprocamente: a Alemanha do Sul não pode suportar a Ale-
manha do Norte, o inglês fala tudo de ruim do escocês, o espanhol des-
preza o português”. Esse “narcisismo das pequenas diferenças” permite
uma “satisfação cômoda do instinto agressivo e é através dela que a
coesão da comunidade se torna mais fácil aos seus membros”. Não es-
queçamos, além disso, que esse “narcisismo grupal” pode levar à xeno-
fobia exacerbada e ao racismo.
O desenvolvimento do fanatismo.
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O fanatismo religioso e político
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O fanatismo religioso e político
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Psicossociologia – Análise social e intervenção
2- No mundo não existe ninguém que seja não-crente. Todos nós cre-
mos em certos valores e é impossível decidir racionalmente que va-
lores são preferíveis a outros. Os valores religiosos, na medida em
que favorecem uma relação com um sagrado transcendente não
colocado a serviço de uma vontade política de dominação, devem
ser levados em consideração, tanto quanto outros tipos de valores.
3- O que me parece crucial é que não se interrompa a reflexão filosófica
sobre o homem e sobre as sociedades. Se, em certos casos (eu penso
na Teologia da Libertação, na América do Sul), a religião pode levar
os grupos sociais a se darem conta da situação de dominação na
qual eles vivem, ela lhes permite tomar iniciativas, ter uma outra
visão do mundo e conceber Ações coletivas. Ela assume então o
papel de desalienação, habitualmente reservado à Filosofia ou à
Sociologia. O que eu quis enfatizar em meu texto são os aspectos
mais negativos do fato religioso, do fato ideológico, do fato nacional.
Eu não quis dizer, em nenhum momento, que a religião, a ideologia,
a política da cidade ou da nação nada mais são do que perversões
do espírito, uma vez que elas são, efetivamente, o fundamento mes-
mo da instauração de toda vida social. Por outro lado, o que eu quis
sublinhar – e isso com bastante ênfase – é que, quando o religioso se
põe a serviço do político, quando a ideologia dura impede o livre
pensar, quando uma cidade ou uma nação desenvolvem uma cultu-
ra na qual elas se fecham e fecham seus membros, então a reflexão
desaparece, a perversão ou a paranóia triunfam, Thanatos ocupa
todo o campo espiritual e social. Ora, a tentação totalitária está con-
tinuamente presente nos processos religiosos, ideológicos e nacio-
nais. Ela lhes é consubstancial. Também o papel de todo intelectual
e de todo homem prático é dar caça a esse desejo de homogeneiza-
ção e de morte do pensamento, nos fenômenos sociais, nos seus
interlocutores e, naturalmente, antes de tudo, em si mesmo, sob
pena de cair, se ele não faz esse trabalho, na armadilha que denun-
cia, tão fácil e prazerosamente, no outro.
Notas
1
Traduzido de: ENRIQUEZ, Eugène. “Le fanatisme religieux et politique”. Connexions,
n. 55, p. 137-149, 1990-1, por Leila de Melo Franco S. Araújo.
2
“A última tentação de Cristo”. (N. T.)
88
O fanatismo religioso e político
Bibliografia
BAREL, Y. (org.). L’autonomie sociale. PUG, 1985.
CASTORIADIS, C. “Notations sur le racisme”. Connexions, n. 48, Épi, 1987.
DELEUZE, G. Présentation de Sacher-Masoch. Editions de Minuit, 1967.
DEVEREUX, G. Essais d’ethnopsychiatrie générale. 1973.
ENRIQUEZ, E. “Malaises dans les identifications”. In: Autonomie sociale. PUG, 1985.
ENRIQUEZ, E. Entrevista à revista “L’événement du jeudi”, sobre o fanatismo hoje,
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ENRIQUEZ, E. “L’individu pris au piège de la structure stratégique”. Connexions, n. 54,
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ENRIQUEZ, M. Au carrefour de la haine, Epi, 1984.
FREUD, S.(1930) Malaise dans la civilisation, PUF, 1971.
KLOSSOWSKI, P. La monnaie vivante. 1971..
LAPLANCHE, J. “La défense et l’Interdit”. In: La NEF. 1967.
LEFORT, Cl. Un homme en trop. Seuil, 1976.
LYPSET, S. L’homme et la politique. Seuil, 1963.
MOSCOVICI, S. Psychologie des minorités atives. PUF, 1979.
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Psicossociologia – Análise social e intervenção
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CONJUNÇÃO, NA EMPRESA, DE UM
PROJETO PESSOAL E FAMILIAR, COM A
HISTÓRIA DE UMA REGIÃO: O PROCESSO DE
CRIAÇÃO INSTITUCIONAL1
André Lévy
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Psicossociologia – Análise social e intervenção
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Conjunção, na empresa, de um projeto pessoal e familiar,
com a história de uma região: o processo de criação institucional
A terra
Essa referência é onipresente, quer se exprima pela relação com o
solo, com a propriedade do camponês que fornece diretamente as matéri-
as primas (fibras, argila, grão etc.) que se trabalha ou, de maneira mais
abstrata, com o território (nome das cidades, ruas ou áreas) que define o
campo de atividade onde a empresa está implantada; ou ainda, de manei-
ra mais extensa, com a região (no caso, a regiões de Mauges, de Bocage, ou
então o Oeste) que constitui uma unidade geográfica, histórica e socioló-
gica, no seio da qual e para a qual a empresa se desenvolve.
Nesse último sentido, a terra ou a região, designa não apenas um lugar
geográfico mas também seus habitantes, sua cultura, suas tradições e a
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Psicossociologia – Análise social e intervenção
A família
Tratando-se, na maior parte dos casos, de empresas familiares, o
lugar dessa é aí dominante, tanto no imaginário quanto no real.
Antes de ser um projeto pessoal, a empresa é um projeto de família.
Essa é aqui entendida como um nome próprio – com freqüência o mesmo
que empresa, mas também e sobretudo como a história de gerações suces-
sivas cujas relações, atividades e lucros organizam-se em torno dela.
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Conjunção, na empresa, de um projeto pessoal e familiar,
com a história de uma região: o processo de criação institucional
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Psicossociologia – Análise social e intervenção
O ofício, o produto
Em função de sua origem artesanal, numerosas PMEs definem-se em
relação ao ofício de seu fundador. Esse empresta um valor emblemático
ao produto que é a sua razão social.
Um ofício é uma maneira de trabalhar uma matéria – madeira, couro
etc. – e de lhe imprimir uma marca pessoal. Está diretamente associado às
mãos do artesão, no seu corpo-a-corpo com uma terra e seus produtos.
Apalpar essa matéria, evocar sua origem terrena ou seu significado
cultural e mítico – receita caseira, lenços da região do Cholet, frangos que
a gente destrincha de maneira especial etc. –, tudo isso é sempre ocasião
de um prazer intenso, pois esse restitui a ancoragem do homem na natu-
reza e a transformação que ele nela provoca.
Mais do que um produto com valor de troca num lugar qualquer ou
para cliente qualquer, o ofício exprime o orgulho do trabalho cumprido e
sua utilidade social para seus próximos, seus vizinhos. Ele exprime tam-
bém o reconhecimento da herança recebida, da receita ou do jeitinho de
fazer, transmitidos de geração em geração.
Produzir e vender (até mesmo exportar) um lenço de Cholet ou uma
rosca da região de Vendée é tornar conhecido e apreciado um objeto
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Conjunção, na empresa, de um projeto pessoal e familiar,
com a história de uma região: o processo de criação institucional
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Psicossociologia – Análise social e intervenção
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Conjunção, na empresa, de um projeto pessoal e familiar,
com a história de uma região: o processo de criação institucional
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Psicossociologia – Análise social e intervenção
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Conjunção, na empresa, de um projeto pessoal e familiar,
com a história de uma região: o processo de criação institucional
O deslocamento
O deslocamento está carregado de conotações essencialmente ne-
gativas, na medida em que ele traduz de maneira mais direta a ruptura
com o local de origem, o solo no qual a empresa se situa. E, no entanto,
uma estratégia de desenvolvimento e de crescimento implica sempre,
necessariamente, uma tomada de distância em relação à terra natal.
Trata-se, pois, de um problema nevrálgico para as empresas e para seus
dirigentes.
Mesmo tratando-se de uma simples mudança (mas elas não são jamais
“simples”) da unidade fabril, ela se traduzirá por obrigações novas face a
outras populações com outros estilos de vida, outras aspirações, outras exi-
gências. Se o deslocamento para outra região, ou mesmo para o estrangeiro,
é importante para reduzir, por exemplo, o custo de mão-de-obra e encarar
uma certa concorrência, isso será vivido como algo em detrimento da prefe-
rência pelo local e, portanto, como uma espécie de traição.
Mas o deslocamento pode também significar a inserção numa rede
industrial e comercial mais ampla, o estabelecimento de vínculos mais ou
menos institucionais com outros parceiros – industriais, bancos etc. – e o
questionamento de vínculos anteriores. Se, além disso, a empresa adotar
uma estratégia de exportação, ser-lhe-á necessário adaptar-se a um mer-
cado regido por outras normas, outros modos de relação.
Em todos os casos, o deslocamento é conotado por um sentimento de
infidelidade face àquilo que constitui a especificidade da empresa e a
identidade de seus dirigentes.
Para essa questão, encontramos respostas extremamente diversas.
Alguns escolhem deliberadamente reivindicar e reforçar suas raízes lo-
cais, renunciando a uma expansão possível, mas permitindo a sobrevi-
vência da empresa, graças a constantes esforços no plano da inovação:
“permanecer pequeno”, manter uma qualidade de vida e de trabalho,
para si próprio como para o ambiente é, nesse caso, considerado preferí-
vel a uma expansão sem significado.
Outros se orientam para soluções, permitindo administrar as con-
tradições, isto é, preservar uma base local, mas evitando que essa se
torne uma limitação ou obstáculo à criação de novos vínculos abertos a
outras perspectivas.
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Psicossociologia – Análise social e intervenção
102
Conjunção, na empresa, de um projeto pessoal e familiar,
com a história de uma região: o processo de criação institucional
Notas
1
Traduzido de: LÉVY, André. “Conjonction dans l’entreprise d’un projet personnel et
familial, et de l’histoire d’une région: le procès de création institutionnelle”. Paris, 1991.(mi-
meogr.), por Júlio M. Mourão. (Publicado também em “Actes du Colloque de l’Invention
Freudienne”, Toulouse, 1990, com o título Inconscient, organisation sociale, collectif).
2
Região situada no oeste da França. (N.T.)
103
Parte II
A psicossociologia em exame
Psicossociologia – Análise social e intervenção
106
PSICOSSOCIOLOGIAEMEXAME
Teresa Cristina Carreteiro
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Psicossociologia – Análise social e intervenção
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APSICOSSOCIOLOGIA:CRISEOURENOVAÇÃO?1
André Lévy
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Psicossociologia – Análise social e intervenção
110
A psicossociologia: crise ou renovação?
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Psicossociologia – Análise social e intervenção
112
A psicossociologia: crise ou renovação?
113
Psicossociologia – Análise social e intervenção
114
A psicossociologia: crise ou renovação?
115
Psicossociologia – Análise social e intervenção
técnica posta ao dispor de atores sociais, que suas teorias não se reduzem
a um quadro conceitual neutro, mas que traduzem um desejo, uma ética,
uma concepção da sociedade e das relações humanas.
Estar disposto a receber demandas sociais com toda sua dimensão
intersubjetiva e a reconhecê-las como tais – e não como simples reivindica-
ções –, afirmar que elas são, ao mesmo tempo, confessáveis e tratáveis,
incitar assim também os solicitantes a reconhecê-las como questão, enig-
ma, cujo sentido e destinatário verdadeiro ainda têm que ser decifrados
(renunciar, consequentemente, a reduzi-las a problemas específicos sus-
ceptíveis de terem uma solução externa), tudo isso expressa bem o que, na
falta de outro termo, parece-nos ser uma ética, uma perspectiva – que, desde
LEWIN, não deveria ser identificada a um projeto de sociedade.
Tal projeto reduziria a Psicossociologia a uma ideologia cujas meta-
morfoses certamente não seriam estranhas à “crise” que ela conheceu e
que tentamos analisar acima. Trata-se, ao contrário, de fixar um nível de
rigor mínimo que permita ao psicossociólogo resistir a pressões e superar
os riscos nos quais incorre: não através de uma filosofia abstrata, mas
através de princípios regendo procedimentos, princípios que não poderi-
am ser transigidos – inclusive, com uma preocupação ecumênica de bom
quilate – sob pena de trair o que dá sentido à sua ação.
Evidentemente, não é possível, no espaço desse artigo, desenvolver
esses princípios ou os procedimentos que os sustentam. Entretanto, al-
guns pontos nos parecem determinantes:
1- Analisar a demanda social implica que se considere sua hetero-
geneidade. Esse ponto, que foi particularmente desenvolvido por
Jean DUBOST, corresponde a uma representação da sociedade
como composta de uma pluralidade de atores, individuais e cole-
tivos, interagindo entre eles, cujas respectivas demandas só ad-
quirem sentido umas em relação às outras. Assim, um grupo,
uma empresa, um serviço administrativo, uma classe de atores
etc., não podem ser considerados como tendo uma “demanda”
analisável em si, independentemente das outras com as quais ela
se articula. Tal representação exclui, principalmente, toda análi-
se em termos de relações bipolares; da mesma forma, ela evita a
tentação antropomórfica que consiste em atribuir a um grupo
atributos de um sujeito individual e sua unidade imaginária.
Desse ponto de vista, a noção de sistema é bastante útil, com a
condição, entretanto, de ser interpretada em toda a sua complexi-
dade e com todos os seus paradoxos;6 como oportunamente evoca-
do por J. DUBOST, BRADFORD antecipava tal perspectiva de
116
A psicossociologia: crise ou renovação?
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Psicossociologia – Análise social e intervenção
“preso” pelo seu objeto, nem que seja apenas para legitimar sua
própria posição de sábio em relação às “crenças” de “indígenas
atrasados” cujos ritos estuda. Da mesma forma, questionar, inves-
tigar, assim como observar, implicam sempre em estar inscrito
numa relação de forças.9
O “desprendimento” implicado em um trabalho de pesquisa não
pode, então, ser estabelecido antecipadamente como um princípio
normativo; parafraseando J. FAVRET-SAADA, tal princípio ape-
nas levaria pesquisadores e atores “a se mirarem no espelho que
cada um mostra ao outro”, com tudo o que isso comporta de in-
consciente e de cumplicidade consciente.
O “desprendimento” só pode resultar de um movimento duplo:
em primeiro lugar, de apreensão – deixar-se prender pelos discur-
sos dos outros e participar deles, aceitar sua implicação e a subjeti-
vidade dela resultante; em seguida, de “re-apreensão” teórica das
situações observadas, dos discursos sustentados (incluindo o seu
próprio) e dos processos realizados – “re-apreensåo” quer dizer,
nos termos de J. FAVRET-SAADA, “saber como se foi apreendi-
do”, “o que pode ter sido através de seu próprio desejo de saber”.
Entretanto, essas diversas indicações não deveriam ser interpreta-
das como normas rígidas; elas expressam antes uma perspectiva,
uma orientação, e não condutas estritas às quais o interventor-
pesquisador deve se conformar. Embora seu enunciado seja neces-
sário, ele o é não tanto para prescrever uma tarefa que, de qualquer
jeito, é impossível, mas para levar os que se engajam nela a desco-
brirem seus limites.
118
A psicossociologia: crise ou renovação?
119
Psicossociologia – Análise social e intervenção
Notas
1
Traduzido de: LÉVY, André. “La psychosociologie: crise ou renouvau?” Cahiers d’Etude
du CUFCO, 17, p. 9-18, 1990, por Eliana Vianna Soares e Marília Novais da Mata
Machado.
2
Como exemplos: BARUS, J. Le sujet social. Dunod, 1987; DUBOST, J. L’intervention
psychosociologique. PUF, 1987.
3
ENRIQUEZ, E. “Eloge de la psychosociologie”. “Connexions”, 42, 1983.
4
WATZLAWICK et al. Changements, paradoxes et psychothérapies. Paris: Seuil, 1975.
5
BEAUVOIS, J. L. e JOULE, R. Petit traité de manipulation à l’usage des honnêtes gens.
PUG, 1987.
6
Em especial, ATLAN, H. Entre le cristal et la fumée. Paris: Seuil, 1979. e BAREL, Y. La
société du vide.
7
Cf. DUBOST, J. “Une analyse comparative des pratiques dites de recherche-action”.
Connexions, 43, 1984; RAPOPORT, R.N. “Les trois dilemmes de la recherche-action”.
Connexions, 7, 1973.
8
FAVRET-SAADA, J. Les mots, la mort, les sorts. Gallimard, 1977.
9
DUBOST, J. e LÉVY, A. “L’analyse sociale”. In: ARDOINO et al. L’intervention insti-
tutionnelle. Payot, 1980; LÉVY, A. “La recherche-action: une autre voie pour les sciences
humaines”. In: Du discours à l’action. L’Harmattan, 1985; LECLERC, G. L’observation
de l’homme. Seuil, 1979.
10
Por exemplo: ANZIEU, D. Le groupe et l’inconscient. Dunod, 1984; BION, W. Recher-
ches sur les petits groupes. PUF, 1965; JAQUES, E. Intervention et changement dans
l’entreprise. Dunod, 1972.
11
TOURAINE, A. La voix et le regard. Seuil, 1978.
12
BORZEIX, A. “Ce que parler peut faire”. Sociologie du Travail, 2:87; CHABROL, C. e
CAMUS-MALAVERGNE, O. “Coopération et analyse des conversations”. Connexions,
53, 1989; FLAHAULT. La parole intermédiaire. Seuil, 1978; GOFFMAN, E. Façons de
parler. Minuit, 1987; TROGNON, A. Situations de groupe et relations langagières. Tese
de Doutorado, Paris X, 1981.
120
A MUDANÇA: ESSE OBSCURO OBJETO DO DESEJO1
André Lévy
121
Psicossociologia – Análise social e intervenção
122
A mudança: esse obscuro objeto do desejo
A mudança é um trabalho
do espírito, do pensamento
123
Psicossociologia – Análise social e intervenção
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A mudança: esse obscuro objeto do desejo
125
Psicossociologia – Análise social e intervenção
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A mudança: esse obscuro objeto do desejo
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Psicossociologia – Análise social e intervenção
128
A mudança: esse obscuro objeto do desejo
129
Psicossociologia – Análise social e intervenção
130
A mudança: esse obscuro objeto do desejo
Notas
1
Traduzindo de: LÉVY, André. “Le changement: cet obscur objet du désir”. Connexions.
45, p. 173-184, 1985, por Maria Lívia do Nascimento e Sílvia C. Josephson.
2
BOUDON, R. La place du désordre. Paris: PUF, 1984. MENDRAS, H. e FORSI, M. Le
changement social. Paris: Colin, 1983.
3
POPPER, K. L’univers irrésolu, plaidoyer pour l’indéterminisme. Paris: Hermann, 1984.
4
ALTHUSSER, L. Pour Marx. Paris: Maspero, 1966; BAUDELOT, C., ESTABLET, R. e
MALEMORT, J. L’école capitaliste em France. Paris: Maspero, 1971.
5
LEWIN, K. “Décision de groupe et changement social”. In: LÉVY, André. Textes fonda-
mentaux de psychologie sociale. Paris: Dunod, 1964.
6
LÉVY, A. “Le changement comme travail”. Connexions, 7, 1973.
7
TROGNON, A. Situations langagières et processus de groupe. Tese de Doutorado de
Estado, 1980.
8
VALÉRY, P. Réflexions simples sur le corps. Variété V. Paris: Gallimard, 1945.
9
LÉVY, A., ibid.
10
VALÉRY, P., ibid.
11
LEWIN, K., ibid.
12
“A decisão de se restituir o pai, de reinstitui-lo depois de tê-lo descartado, é, como
em Totem e Tabu, o ponto essencial que terá seu fechamento no livro sobre Moisés”.
“Isolar o nome do pai é renunciar a se fundamentar no testemunho dos sentidos,
é decidir que a paternidade é mais importante que a maternidade, decisão que,
em si própria, é um dilaceramento, um distanciamento que se torna o seu próprio
(...), é, para FREUD, a aventura da humanidade que cada homem deve refazer,
pessoalmente, em seu destino”. GRANOFF, W. Filiations. Paris: Minuit, 1974.
13
LÉVY, A. Sens et crise du sens dans les organisations. Tese de Doutorado de Estado, 1978.
14
TROGNON, A., ibid.; FLAHAULT, F. La parole intermédiaire. Paris: Le Seuil, 1978.
15
FAYE, J.-P. Théorie du récit. Paris: Hermann, 1972.
16
LEGENDRE,P. L’amour du censeur. Paris: Le Seuil, 1974.
17
Essa vontade apoia-se também numa concepção relativista e subjetiva da verdade,
excluindo a possibilidade de diferir o verdadeiro do falso. Como demostra FAYE,
tal concepção está na origem do pensamento totalitário.
18
LÉVY, A. e DUBOST, J. “L’Analyse social”. In: ARDOINO et al. L’intervention insti-
tutionnelle. Paris: Payot, 1980; igualmente, LÉVY, A. Sens et crise du sens dans les
organisations, tese citada; LÉVY, A. e ENRIQUEZ, E. “Évolution technologique et pers-
pectives psychologiques”. Connexions 35, 1982.
19
CASTORIADIS-AULAGNIER, P. “Savoir et certitude”. Topique 13.
20
BATESON, G. e RUESCH. Communication. The social matrix of psychiatry. Norton, 1942.
21
Ibidem.
22
BAREL, Y. Le paradoxe et le système. PUG, 1979; ou, igualmente, LÉVY, A. Sens et
crise du sens dans les organisations, op. cit.
131
Psicossociologia – Análise social e intervenção
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RUPTURAS,MUTAÇÕESE
COMPLEXIFICAÇÃOEMECONOMIA1
André Nicolaï
133
Psicossociologia – Análise social e intervenção
134
Rupturas, mutações e complexificação em economia
***
Quais são, então, os novos conceitos e hipóteses, oriundos de ou-
tras áreas, que poderiam ser transpostos para o campo econômico?
1- Inicialmente, os conceitos de dinâmica dos sistemas e de auto-re-
gulação (a homeostase dos biologistas dos anos vinte). Eles se refe-
rem a sistemas autônomos, mas abertos ao seu meio ambiente e,
por isso, capazes de se auto-regularem, face a “ruídos” provenien-
tes do exterior. Mas já aí é preciso assimilar e divulgar a seguinte
hipótese: no campo econômico (e em geral no campo social), os
“ruídos” são cada vez mais endógenos, por serem produzidos
pelo próprio funcionamento do sistema. O ambiente natural e
mesmo o corpo natural dos agentes são, literalmente, “desnatu-
ralizados” pela extensão do mercado, enquanto que as “dife-
rentes sociedades” (outro componente do meio ambiente) desa-
parecem de modo acelerado (calculava-se que, em 1900, existiam
no globo cerca de 50 000 sociedades diferentes; em 1950, não
restavam mais que 10 000).
Assim, a partir do século XIX, as crises econômicas foram, inicial-
mente, a tradução conjuntural de uma imperfeição repetitiva na
complementaridade dos papéis dos agentes, constituindo-se, pois,
como crises momentâneas de coerência. Em um período de crises
simplesmente conjunturais (as crises do ciclo Juglar), as regulações
espontâneas ou voluntaristas reequilibram o sistema, graças aos
comportamentos de adaptação de certos atores. O resultado disso
é um aumento da “variedade” do sistema, isto é, de sua capacida-
de de fazer frente a um leque amplo de disfunções.
2- Os conceitos de auto-organização, autopoieses, autocriação, auto-
geração etc. colocam outros problemas, visto se referirem a solu-
ções eventualmente encontradas (o êxito não é certo) para as cri-
ses estruturais e para as crises-ruptura. Nesses períodos,
verifica-se não apenas um deslocamento da coerência entre os
papéis, mas também um deslocamento da coesão entre os agen-
tes, ou seja, uma recusa em manter a adesão aos “compromissos
135
Psicossociologia – Análise social e intervenção
136
Rupturas, mutações e complexificação em economia
137
Psicossociologia – Análise social e intervenção
138
Rupturas, mutações e complexificação em economia
***
Tudo isso tem por objetivo nos lembrar que as analogias, para
serem fecundas, devem inicialmente ser especificadas, a fim de po-
derem ser transpostas ao novo campo de aplicação. Podemos sugerir
algumas hipóteses sobre as especificidades próprias aos sistemas so-
ciais antropológicos (incluindo a Economia), objetivando marcar suas
diferenças do estudo dos sistemas físicos, mecânicos, informáticos,
químicos, biológicos e mesmo etnológicos, dos quais recebemos hi-
póteses e conceitos novos.
1- Nos sistemas sociais, contrariamente a todos esses sistemas (por
exemplo, as sociedades animais), a complementaridade entre os
papéis e grupos de agentes detentores desses papéis nunca é per-
feita. Apesar da necessidade econômica ser reforçada pela coerção
social (o controle social e as normas interiorizadas) e mesmo pelo
prazer oriundo do jogo econômico (político etc.), o leque dos com-
portamentos não é, para cada grupo de agentes, completamente
fechado. Do mesmo modo, a complementaridade que os une (atra-
vés do mercado e dos poderes) é sempre imperfeita e potencial-
mente conflituosa. É preciso, pois, além das imposições do merca-
do e dos demais poderes, introduzir normas, regras ou convenções
para lhe dar suporte.4 Mas essas regras só têm valor à medida que
são (aproximativamente) respeitadas pela maioria dos agentes: a
coesão deve ser o suporte da coerência e supõe a adesão às regras
do jogo (J. D. REYNAUD). Essa adesão, por seu lado, não se dá
somente através do “interesse bem esclarecido”, como afirma o in-
dividualismo antropológico. Ela supõe, por um lado, uma interio-
rização das normas e uma culpabilização, quando da sua trans-
gressão e, por outro lado, identificações laterais (em relação ao
semelhante) e verticais (em relação ao superior). Contrariamen-
te, uma época de crise-ruptura supõe não somente um desloca-
mento da coerência, mas também um deslocamento da coesão: o
que acarreta, por um lado, a desculpabilização em relação ao de-
sejo de infração e, por outro, um deslocamento das identificações
laterais (o mais distante, ao invés do mais próximo) e verticais
(do establishment aos inovadores). E esses, para poderem inovar,
139
Psicossociologia – Análise social e intervenção
140
Rupturas, mutações e complexificação em economia
Notas
1
Traduzido de: NICOLAÏ, André. Ruptures, mutations et complexification en économie
(mimeogr.), por Teresa Cristina Carreteiro.
2
Nouveaux Pays Industrialisés – Países recém-industrializados (N.T.).
3
Cf. “Malaise dans l’identification”. Connexions, n. 55, Paris: ERES, 1990.
4
Cf. “L’économie des conventions”. Revue Économique. V. 40, n. 2, março 1989.
5
OPA: offre publique d’achat (oferta pública de compra. N.T.).
141
Psicossociologia – Análise social e intervenção
142
IDENTIFICAÇÕESEXPERIMENTAISEINOVAÇÕESSOCIAIS1
André Nicolaï
A crise das identificações, nos anos 60, precedeu uma crise política, a
qual, por sua vez, precedeu uma crise econômica. Atualmente, todas se
deslocaram para o Terceiro Mundo e para os países do Leste. No Ocidente,
não se trata mais de crises (isto é, de rupturas) mas sim de mal-estar (isto é,
de incertezas). E, se bem que o mal-estar é conseqüência das crises, talvez
anuncie o fim delas. Pois essas “perturbações”, quando não destroem a
sociedade em questão, criam, na imprecisão das referências e também no
mal-estar das identificações, condições de “saída da crise”:
l- Introduzindo o “jogo” na coerência instrumental dos papéis e na coe-
são (adesões complementares), a crise distende as complementarida-
des sociais e suscita falhas e interstícios. Esses se tornam “zonas de
incertezas” onde algumas estratégias podem nascer e se desenvolver: a
ocasião faz o ladrão.
2- A crise enfraquece a capacidade dos poderes vigentes de controlar
e de orientar o social. Assim, por exemplo, o Estado-Providência
perde ao mesmo tempo sua eficácia e sua credibilidade, só conser-
vando o papel tranqüilizador das figuras de tio (W. BRANDT,
MITTERAND, João Paulo II, GORBATCHEV) ou de irmão mais
velho (SOUCHON, MARADONA, ROCCARD, TAPIE e outros).
3- Ela mobiliza atores em potencial, na reserva de desviantes que exis-
tem em toda sociedade, e os transforma em autores das mudanças.
Do mesmo modo, ela mobiliza em cada “conformista” o lado desvi-
ante que persiste nele: há, de algum modo, “desfusão das pulsões”,
reorganização das personalidades e reciclagem da ação.
4- Ela confunde a hierarquia das referências culturais (o direito à dife-
rença concebido como a dignidade equivalente das culturas) e per-
mite, então, a introdução de novas referências.
143
Psicossociologia – Análise social e intervenção
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Identificações experimentais e inovações sociais
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Psicossociologia – Análise social e intervenção
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Identificações experimentais e inovações sociais
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Psicossociologia – Análise social e intervenção
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Identificações experimentais e inovações sociais
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Psicossociologia – Análise social e intervenção
Os novos atores
Entre os desviantes que toda sociedade necessariamente com-
porta, há os que são atores potenciais das mudanças. Se uma crise
abre falhas (na periferia) e interstícios (no centro), esses poderão pôr
em andamento estratégias de assimilação-inovação nas zonas de com-
plementaridade imperfeita.
Eles serão recrutados não somente nos meios geralmente margina-
lizados (um recente major na Escola normal é filho de Harki e as filhas
de imigrados norte-africanos se saem melhor na escola que seus irmãos).
Mas também nas famílias de classe média que têm uma estratégia de
ascensão social, ou mesmo nos micromeios do establishment que privi-
legiam mais a adaptabilidade que o conformismo. A isso é necessário
acrescentar que o fato de pertencer a uma sociedade só define e abre
leques de possibilidades às personalidades e que é o futuro agente, atra-
vés de identificações aceitas ou rejeitadas, que vai realizar, na sua bio-
grafia, uma dessas trajetórias possíveis.8 Sem esquecer também que cer-
tos adultos “estabelecidos” são capazes de reciclagem.
150
Identificações experimentais e inovações sociais
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Psicossociologia – Análise social e intervenção
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Identificações experimentais e inovações sociais
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Psicossociologia – Análise social e intervenção
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Identificações experimentais e inovações sociais
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Psicossociologia – Análise social e intervenção
vínculos societários (TONNIES revisto por FREUD). Mas, entre esses tipos
extremos e opostos, situam-se todos os barrocos das sociedades concretas.
O atual mal-estar na identificação não seria proveniente da passa-
gem por um barroco (inédito desde o período que precede o rapto das
Sabinas): a constituição tateante de um vínculo social por uma “socieda-
de de irmãos” sem referentes paternais plausíveis? Poderíamos sugerir a
seguinte seqüência:
- os vínculos sociais anteriores (constituídos evidentemente pela
emancipação e superação dos vínculos familiares) se revelam ca-
ducos e decepcionantes;
- tentam-se, então, retornos aos vínculos familiares verticais ou aos
dos sósias desses, mas constata-se ser isso impossível ou de novo
decepcionante;
- experimentam-se, então, tipos de vínculos laterais (de tipo irmãos-
irmãs) ou colaterais (de tipo tios-sobrinhos) que propõem identifi-
cações menos estruturantes que as precedentes;
- isso explicaria a diversidade das experimentações e também a predo-
minância atual da Métis e dos semióticos sobre o simbólico e o Logos;
- a dificuldade está, então, em transformar as identificações laterais,
imprecisas e transitórias, em identificações hierárquicas, representadas
e transicionais.13
Fundamentalmente, é um problema de escrita que obriga a ler o pro-
grama e a obedecê-lo, ao mesmo tempo que se escreve. Essa é, sem dúvida,
a fonte da atenção atual para as autopoieses e as auto-organizações (VARE-
LA, DUPUY, por exemplo). A autocriação da sociedade é recriação de seus
agentes. E o que permite essa simultaneidade está talvez indicado no divã
ou nos hospitais psiquiátricos, por uma dicotomia bem marcada entre os
distúrbios decorrentes da predominância das referências ao ideal do eu so-
bre as referências ao censor e os distúrbios estritamente inversos. Se se qui-
ser caricaturar: narcisismo atual contra neurose obsessiva de outrora.
Mas há formas de narcisismo bem mais numerosas do que aquelas
já mencionadas aqui. Salientemos uma que poderá ser encontrada como
traço de personalidade nos inovadores de que tratamos: um ideal do eu
nascido quase sem pai, onde o censor só interviria para condenar os
distanciamentos entre a realização e o eu ideal. Desse modo, é o fracasso
que sanciona e não a falta que culpabiliza. Resta ainda ligar o ideal do eu
a uma esfera de realização (mas, como vimos, as esferas atualmente se
interpenetram) e a uma figura representativa (mas a única figura grati-
ficante de identificação de prospeção é a do irmão mais velho, com o
156
Identificações experimentais e inovações sociais
Algumas conseqüências
1- O tipo de conseqüência mais marcante é o das apropriações: desde
1968 há apropriação pelos poderes políticos sucessivos de projetos (mo-
dernizar a universidade) e mesmo, às vezes, das utopias (“mudar a vida”,
em 1981). Mas também apropriação da tendência lúdica pela empresa e
pela Bolsa, das motivações de poder pelos agenciadores de OPA, das co-
ordenações pelos sindicatos etc. Essas apropriações podem, aliás, permi-
tir a certos herdeiros enfeitar o cadáver sob o disfarce da renovação.
2- Mais interessantes são as criações de novas redes e de novas re-
gras de jogo. Já mencionamos o desempenho das economias paralelas e
mesmo mafiosas na Itália, na Colômbia ou alhures. Poder-se-ia também
tomar o exemplo da organização progressiva dos movimentos ecologis-
tas ou o da proliferação das PME (pequenas e médias empresas). Mais
surpreendente ainda seria o caso da ligação dos movimentos carismáti-
cos com redes nacionais e mesmo internacionais que tendem a escapar
da autoridade episcopal e mesmo pontifical.
Há, pois, no fim de contas, reconstituições múltiplas do tecido soci-
al: passa-se das ilhas ao arquipélago. Mas essas reconstituições perma-
necem parciais e, por isso, podem entrar em conflito, como na tectônica
as placas entram em fricção, em oposição ou em encavalamento: daí
alguns tremores da sociedade em torno de véus, de bandeiras, de fetos
ou de liberdade de viajar. (O que prova, de passagem, que apesar de
HEGEL, da maioria dos marxistas, de Daniel BELL e de FUKUYAMA, o
fim da história só concerne a cada indivíduo).
Esses conflitos e fricções permitem acertos de contas e seleção das
experimentações de inovações e de seus atores, outsiders ou reciclados,
com a eliminação das organizações, dos indivíduos e da identificações
157
Psicossociologia – Análise social e intervenção
158
Identificações experimentais e inovações sociais
Notas
1
Traduzido de: NICOLAÏ, André. “Identifications expérimentales et innovations soci-
ales”. Connexions, 55, 1990-1, p. 61-78, por Eliana de Moura Castro.
2
NAP: Neuilly, Auteuil, Passy. Tende a substituir: BC-BG (bon-chic bon-genre). Essa
moda de aparência de NAP reintroduz a diferença de vestuário entre os sexos, assim
como os signos da diferença pelo dinheiro.
3
“Imago: estado do inseto que chegou ao seu completo desenvolvimento e à capaci-
dade de reproduzir”, Petit Larousse, edição de 1963. Já o estado de ninfa faz lembrar
o que FREUD diz do “bem-estar morno” que provoca a persistência de uma situa-
ção desejada inicialmente pela pulsão.
4
Os períodos de estabilidade (inclusive crescimento harmonioso) oficializam a predo-
minância do Todo (Holismo) sobre as Partes (os agentes). As épocas de crise e
reconstrução valorizam, ao contrário, os atores (Individualismo). Temos assim uma
alternância de interpretações. O problema: em época de “destruição criativa”, onde
se escondem os “vínculos sociais”?
5
Michel ROCARD acaba de propor o “sempre melhor”: mudança de máscara ou
mudança de projeto?
6
O esquilo aparecia nas armas do Superintendente, com a divisa: “Onde ele não
subirá?”. Mais dura foi a queda.
7
“L’économie des conventions”. Revue Economique, 40, 2 de março, 1989. [OPA: Offre
Publique d’Achat = oferta pública de compra. N.T.].
8
C. W. MILLS (L’imagination sociologique) propunha para as ciências do homem “ar-
ticular história e biografias, sociedade e personalidades”.
9
MARX, “Zur Kritik...” In: M. RUBEL. Oeuvres: Économie. Gallimard, Pléiade. Tomo 1,
p. 239. MARX acrescenta: É a superioridade dos yankees sobre os ingleses”. Hoje ele
teria, sem dúvida, escrito: “dos japoneses sobre os yankees”.
10
Autrement, n. 29, 1981.
159
Psicossociologia – Análise social e intervenção
11
Os jovens executivos estão submetidos a duas injunções contraditórias: por um
lado, a oposição entre a moral do trabalho e as incitações da sociedade de consumo
(D. BELL), por outro lado, a oposição entre a incitação à fidelidade à empresa e a da
idealização do sucesso pecuniário individual. Quanto aos jovens empresários: se
antes o fundador “não tinha filhos”, agora são os novatos que são levados a não
precisarem do pai.
12
Cf. Uma pesquisa de MCS de setembro de 1988: morosidade, mobilidade, oportu-
nismo.
13
Uma mudança social, para TARDE, é “uma verdadeira dissociação de pais e filhos
[...] uma não-imitação de exemplos paternais”.
Bibliografia
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ENRIQUEZ, M. Aux carrefours de la haine. Paris: Epi, 1984.
160
Identificações experimentais e inovações sociais
161
Parte III
Intervenção psicossociológica
Psicossociologia – Análise social e intervenção
164
INTERVENÇÃOPSICOSSOCIOLÓGICA
Regina D. Benevides de Barros
As décadas de 60/70:
Movimentos sociais e produção teórica
A Europa de pós-guerra defronta-se com experiências que convo-
cam um repensar sócio-político, desembocando, nas décadas de 60/70,
em uma espécie de “crise das instituições”.
É bem verdade, entretanto, que essa “crise” também eclode em vá-
rios países e que, em cada lugar, ela tomará formas próprias.
No Brasil, em fins de 50/início de 60, vivíamos experiências de edu-
cação popular que colocavam no centro da cena a instituição da Pedago-
gia, instrumentalizada então, na maioria das vezes, a partir da divisão
não-saber x saber. Poderíamos dizer, por exemplo, que o trabalho de
Paulo FREIRE e alguns desenvolvidos, mais tarde, pelas Comunidades
165
Psicossociologia – Análise social e intervenção
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Intervenção psicossociológica
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Psicossociologia – Análise social e intervenção
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Intervenção psicossociológica
Referências bibliográficas
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RODRIGUES, Heliana B. C. e BARROS, Regina D. B. História do Movimento Insti-
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e instituições em Análise. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 1992.
169
Psicossociologia – Análise social e intervenção
170
NOTAS SOBRE A ORIGEM E A EVOLUÇÃO DE UMA
PRÁTICADEINTERVENÇÃOPSICOSSOCIOLÓGICA1
Jean Dubost
1945-1950
Reflito sobre as primeiras ações de intervenção às quais estivemos
associados, no período que se seguiu à Liberação (éramos diversos mem-
bros fundadores da A.R.I.P.,2 hoje estando quase todos na faixa dos cin-
qüenta anos, e tendo conhecido o mesmo meio – o das grandes e médias
empresas industriais ou comerciais – e por intermédio do mesmo tipo de
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Notas sobre a origem e a evolução de uma prática de intervenção psicossociológica
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Psicossociologia – Análise social e intervenção
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Notas sobre a origem e a evolução de uma prática de intervenção psicossociológica
Os anos 50
Esses primeiros casos (conhecemos pessoalmente oito entre 1946 e
1951 ou 1952) aparecem, em última análise, sobretudo como uma aplica-
ção de uma técnica de levantamento de dados mais ou menos estrutura-
da, junto a pessoal assalariado de uma empresa. À medida que se de-
senvolvem certas formas de trabalho com perspectiva de formação –
desde os “círculos de aperfeiçoamento” até os primeiros seminários de
dirigentes, passando pelas reformulações européias do T.W.I. ou dos
métodos de educação popular do tipo “treinamento mental” –, a idéia
de articular a conduta das operações de pesquisa a um trabalho de con-
fronto e de reflexão em grupo, apoiando-se nos resultados, parece cada
vez mais interessante.
Da mesma forma, uma nova etapa é vencida quando as técnicas de
pesquisa psicossocial, aplicadas ao estudo de opiniões ou de escalas de
atitude, se abrem a uma abordagem mais clínica, facilitada pelo desen-
volvimento de registros em fitas magnéticas, que permitem uma transcri-
ção exaustiva de entrevistas aprofundadas – primeiro individuais, de-
pois eventualmente coletivas –, e pela passagem da simples codificação
de respostas a questões abertas a uma análise de conteúdo bem mais
apurada dos discursos registrados.
175
Psicossociologia – Análise social e intervenção
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Notas sobre a origem e a evolução de uma prática de intervenção psicossociológica
177
Psicossociologia – Análise social e intervenção
Os anos sessenta
No momento de criação da A.R.I.P. (1959), sua equipe agrupava es-
sencialmente dois grupos de práticos, ambos preocupados em criar uma
estrutura de trabalho que permitisse realizar diversos projetos sem as
limitações conhecidas anteriormente. Uma dessas equipes saía do orga-
nismo de consulta onde ela trabalhava em ligação estreita com engenhei-
ros organizacionais. A outra continuava a realizar, em uma empresa na-
cional, atividades de formação psicossocial no nível de dirigentes e
intervenções em unidades regionais.
Mas a organização e a animação de estágios do tipo Grupos de Evo-
lução, utilizando os métodos derivados do Grupo T de Bethel, do psico-
drama analítico etc., não poderiam ter lugar no interior de uma empresa
nem ser tolerados em um organismo cuja vocação continuava a ser a
organização científica do trabalho.
O caráter clínico do novo grupo, então, era bem mais claramente mar-
cado pelas atividades que ele iria desenvolver. No momento da criação, a
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Notas sobre a origem e a evolução de uma prática de intervenção psicossociológica
179
Psicossociologia – Análise social e intervenção
180
Notas sobre a origem e a evolução de uma prática de intervenção psicossociológica
1968 e depois
Como tantos outros, vivemos os acontecimentos de maio como uma
“intervenção”, simultaneamente política e cultural, de uma audácia espan-
tosa, que dava uma direção totalmente imprevista, desproporcional a tudo o
que poderíamos ter esperado desde a Liberação, a todos os tipos de temas
presentes de maneira mais ou menos explícita no projeto psicossociológico e,
como muitos outros, experimentamos a desilusão de constatar que o que nos
parecia ser bem mais que uma revolta cultural, a despeito de sua repercussão
no conjunto do país, não desembocou no político, que a “Comuna Estudan-
til” (MORIN) ficou sendo uma “revolução antecipada” (CASTORIADIS),
um “movimento revolucionário sem revolução” (TOURAINE).
Embora alguns dentre nós víssemos, antes de 68, nas ações de mo-
vimentos como a F.O.E.V.E.N., com os quais a A.R.I.P. trabalhava desde
1964, uma direção susceptível de provocar, dentro de certo prazo, uma
evolução global do sistema educativo, o período que se seguiu a maio
mostra, ao contrário, que o reconhecimento desses esforços pelos autores
da nova lei de orientação significava antes uma oposição à mudança,
mesmo que modesta, por parte da instituição; enquanto o projeto previa a
multiplicação de intervenções em todos os estabelecimentos onde uma pro-
porção suficientemente grande de professores já estava comprometida com
um trabalho de evolução a nível de sua sala de aula, a tendência foi retomar
atividades de formação visando a uma mudança pessoal.
Limites e impedimentos percebidos no confronto com a realidade das
instituições levam não apenas a renunciar a produzir uma mudança global,
através do desenvolvimento de ações locais, mas também a abandonar a
esperança de analisar a instituição, por meio de atividades do tipo interven-
ção psicossociológica. As instituições não se analisam, como o fazem os
indivíduos ou os grupos, ao considerarem suas relações e vida psicológica.
Antes de prosseguir no desenvolvimento desse último ponto,9 evo-
quemos ainda alguns aspectos da evolução da equipe desde 1970:
- as atividades de caráter clínico se tornam cada vez mais especiali-
zadas, centrando-se na evolução das pessoas, consideradas em seus
papéis sociais e modos de inserção;10
- integração de novos membros trabalhando em disciplinas diferen-
tes ou praticando abordagens diferentes;
- elaboração de projetos de pesquisa-ação; por exemplo, no domí-
nio do Aperfeiçoamento das Condições de Trabalho; por pesqui-
sa-ação entende-se aqui projetos integrando uma dupla perspecti-
va (heurística e de mudança) na realização de uma intervenção
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Psicossociologia – Análise social e intervenção
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Notas sobre a origem e a evolução de uma prática de intervenção psicossociológica
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Psicossociologia – Análise social e intervenção
Notas
1
Traduzindo de: DUBOST, Jean e LÉVY, André. “L’Analyse social”. In: ARDOINO et
al. L’intervention institutionnelle. Paris: Payot, 1980. p. 50-68, por Marília Novais da
Mata Machado.
2
Association pour la Recherche et l’Intervention Psycho-sociologiques.
3
A C.E.G.O.S., que era animada por Jean MILHAUD e Noël POUDEROUX; esse orga-
nismo tinha então relações estreitas com o I.F.O.P. presidido por Jean STOETZEL e,
de forma mais livre, com universitários como Georges FRIEDMANN.
4
Cf. a retomada recente desses textos na coleção 10/18 (Nos 751, 806, 825, 857, 1303,
1304, 1331, 1332 etc.) e dos de Cl. LEFORT em Eléments d’une critique de la bureaucra-
tie. Droz, 1971.
5
Compagnie Générale d’Organisation.
6
O distanciamento progressivo com relação à corrente rogeriana provocou, quatro
anos depois, a partida de Max PAGES, secretário geral da associação, desde sua
criação, e de A. de PERETTI, seu vice-presidente.
7
Max PAGÈS, “L’intervention psychosociologique dans l’entreprise”. In: Fondation Royau-
mont. Le psychosociologue dans la cité. Épi, 1967.
Jean-Claude ROUCHY. “Une intervention psychosociologique”. Connexions, n. 3, 1972.
8
Cf. sobre esse último ponto; LÉVY, André. “Une intervention psychosociologique dans
un service d’hôpital psychiatrique”. Sociologie du Travail, 1963, n. 2; Les paradoxes de la
liberté dans un hôpital psychiatrique. Paris: Epi, 1969; mais recentemente, “Dire la loi...”,
Connexions, n. 17, 1977.
9
Cf. n. 29 de Connexions, jan.-março, 1980, Psychosociologies, no qual são avaliadas as
transformações das práticas psicossociológicas nos últimos 10 ou 20 anos (N.T.).
10
Cf. por exemplo o artigo de J.-C. ROUCHY em Connexions, n. 29 (Vers une psycho-
sociologie psychanalytique).
11
Cf. J. LACAN. Ecrits (por exemplo, o capítulo “Variantes de la cure-type”, de 1955).
12
Cf. meu texto de introdução em Elliott JAQUES, Intervention et changement dans
l’entreprise. Paris: Dunod, 1972.
13
Les Mots, la Mort, les Sorts. Gallimard, 1978.
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INTERVENÇÃOCOMOPROCESSO1
André Lévy
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Intervenção como processo
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Intervenção e organização
Essa última observação permite-nos introduzir uma questão final:
que relações há entre, de um lado, a intervenção e o processo de análise
que ela instaura e, de outro, o processo organizacional? A análise é anti-
organizacional, opõe ao desenvolvimento da organização? Ou, ao con-
trário, ela constitui uma terapêutica dessa última, permitindo-lhe aumen-
tar sua força, melhorar seu funcionamento, seu rendimento? Ou situa-se
em outro plano, a-organizacional?
Bem entendido, tais questões vão de encontro àquelas que tratamos
sob o ângulo das relações entre o analista e o grupo junto ao qual ele
intervém.
Uma primeira abordagem da questão é fornecida pelo conceito de
pesquisa-ação, quando aplicado a um processo de intervenção, visto en-
tão como desenvolvendo-se em dois planos – empírico e acionador, de
um lado, reflexivo e crítico, de outro.
Nessa perspectiva, a intervenção não se limita a uma prática de mu-
dança cujo único objetivo seria o de favorecer a evolução de uma situação
e sua compreensão por atores nela implicados, mas seria também um
meio de produzir um saber específico a respeito das organizações; além
do sentido que as interpretações e tomadas de consciência podem ter em
relação a situações específicas e a problemas concretos, elas podem con-
tribuir para esclarecer os processos organizacionais em geral.
Mas o conceito de pesquisa-ação (se não o tomamos em um sentido
estritamente lewiniano) não corresponde a uma simples relação de dois
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Intervenção como processo
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Psicossociologia – Análise social e intervenção
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Intervenção como processo
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Psicossociologia – Análise social e intervenção
Notas
1
Traduzido de: DUBOST, Jean e LÉVY, André. L’Analyse social. In: ARDOINO et al.
L’intervention institutionnelle. Paris: Payot, 1980, p. 69-100, por Marília Novais da
Mata Machado.
2
“Vers une psychosociologie psychanalytique”. Connexions, 29, I/1980.
208
3
Inspirado em G. LAPASSADE, Connexions, 29, I/1980.
4
Em termos mais sofisticados, trabalhando com a própria contratransferência.
5
Cf. Notas sobre a origem e a evolução de uma prática de intervenção psicossocio-
lógica. Traduzido de: DUBOST, Jean e LÉVY, André. “L’Analyse social”. In: ARDOINO
et al. L’intervention institutionnelle. Paris: Payot, 1980. pp. 49-68.
6
Por exemplo: Max PAGES. “Une intervention psychosociologique sur les structures et
les communications sociales”. Sociologie du Travail, 196l.
7
Cf. especialmente o capítulo sobre intervenção de M. CROZIER. “L’acteur et le sys-
tème”. Paris: Seuil.
8
Descrita e analisada mais detalhadamente em A. LÉVY. “Sens et crise du sens dans les
organisations”. Thèse d’Etat, 1978, inédita.
9
FREUD, S. Mal-estar na civilização.
10
Particularmente em “Analyse et critique du groupe d’évolution” e “ L’analyse dans les
groupes de formation”, Connexions.
11
“Dire la loi...”. Connexions, 21.
12
Esse conceito, introduzido por R. KAES, postula dois aparelhos psíquicos distintos,
um individual e outro grupal.
13
“Dire la loi...”. Connexions, 21.
14
“Le changement comme travail”. Connexions, 7.
15
“Sens et crise du sens dans les organisations”, op. cit.
16
Como toda análise de conteúdo, cf. “L’interprétation de discours”. Connexions.
17
Segundo o Petit Robert, esse é o sentido corrente do termo “relativo”, ilustrado pelo
exemplo: ele é de uma honestidade bastante relativa.
18
Nesse exemplo, a análise desses dois termos permitiu evidenciar que, quando o
projeto sacerdotal era apresentado como englobando o espiritual e não o inverso,
isso implicava a exclusão de um certo número de atividades que eram objeto de
contestações.
19
Cf. Les Mots, la Mort, les Sorts de J. FAVRET-SAADA, Gallimard.
20
L’amour du censeur, de P. LEGENDRE, Seuil; também “Le pouvoir et la mort”, de E.
ENRIQUEZ, em Topique.
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DAFORMAÇÃOEDAINTERVENÇÃO
PSICOSSOCIOLÓGICAS1
Eugène Enriquez
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Psicossociologia – Análise social e intervenção
A perspectiva formadora
Ela se baseia em uma análise exata do mundo atual: as transformações
tecnológicas, o progresso dos conhecimentos, as mudanças nas discipli-
nas e a necessidade de interdisciplinaridade tornam rapidamente obsoleto
o saber que cada um dispõe, advindo a necessidade, de um lado, de recicla-
gem e, de outro, de uma nova oportunidade oferecida aos que não puderam
tirar proveito da escolarização à qual tiveram acesso. Assim, a formação
permanente torna-se indispensável. Orienta-se (e não apenas na China,
onde toda a sociedade é dirigida por uma vontade educativa) para uma
sociedade educativa, para um sistema onde, a todo momento, cada um
deverá atualizar seu saber e questioná-lo, a fim de poder seguir as mudan-
ças e, ainda mais, para desejá-las e provocá-las. Toda formação, todo cres-
cimento no domínio das informações, toda aprendizagem de técnicas teria,
então, um efeito positivo para o formado, que estaria mais à vontade para
viver e compreender o mundo técnico e social no qual está. Certamente,
alguns métodos de formação são preferíveis a outros. Será preciso empre-
ender uma experimentação de diferentes métodos e técnicas, assim como
aperfeiçoar os sistemas de avaliação dos resultados, a fim de se chegar a
uma formação verdadeiramente pertinente para os objetivos propostos.
Trata-se, então, de tempo, de paciência, de investimento pensado. O proble-
ma é unicamente operatório, mesmo se a noção de operação implica que se
seja obrigado a ter em conta motivações, resistências, temores do formado e
condicionamentos sociais.
212
Da formação e da intervenção psicossociológicas
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Psicossociologia – Análise social e intervenção
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Da formação e da intervenção psicossociológicas
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Psicossociologia – Análise social e intervenção
216
Da formação e da intervenção psicossociológicas
uma história, que sofre e que ama, que barra o acesso aos outros e que é
demanda de amor, contentando-se a brincar com ele como se se tratasse
de um instrumento controlável? Isso chega ao máximo nas inépcias dos
sexólogos atuais e de seus miseráveis manuais que tendem a sistemati-
zar um saber sobre a sexualidade, como se a relação passional entre dois
seres pudesse ser colocada em fórmulas, em técnicas e em posturas. Tem-
se que ser tão débil quanto os sexólogos americanos e seus discípulos
franceses (esses sendo ainda mais estúpidos que os primeiros, pois são
apenas seguidores) para acreditar nisso.
Comunicamo-nos sempre através de um conteúdo, de um dispositivo e
enquanto não questionamos esse conteúdo e esse dispositivo, não temos
nada a dizer. Certamente o amor-paixão e a ternura estão além das pala-
vras. Mas, justamente, eles não se explicam. Como escreve S. LECLAIRE:
Pode-se apenas descrever tal estado, mas não explicá-lo e ainda menos
provocá-lo. Não se aprende o amor, pois ele é o choque de duas verda-
des que lutam contra a (e a partir da) morte.
Então, tudo seria mentiras e ilusões nesse tipo de estágio? Res-
pondemos tranqüilamente que sim, se ele tem como finalidade apren-
der a se comunicar melhor, compreender-se melhor e se ele visa à ple-
nitude. Ele é apenas uma das fabulações que o mundo moderno
encontrou para mascarar sua frieza e a generalização da separação que
ele instituiu. Em contrapartida, permite colocar a questão: de que lu-
gar eu falo, a quem falo, por que falo dessa maneira, por quem e por
que sou falado, que instituições me sustentam, que desejos elas reto-
mam ou reprimem?; então, pode-se considerá-lo uma propedêutica a
uma análise social onde cada um é ao mesmo tempo ator e analista,
sujeito e objeto de desejos contraditórios do outro. Entretanto, mesmo
nesse último caso, subsiste um problema intransponível: o da lingua-
gem (palavra ou gesto) em um lugar fechado, durante um tempo de-
terminado. Trata-se unicamente de relações faladas e, como tais, sujei-
tas a serem apropriadas pelo discurso ideológico e pelo discurso
passional imaginário. O que se troca não é o projeto comum ou proje-
tos diferentes, complementares ou antagônicos, que podem ser atua-
dos, testados no mundo, dos quais podemos experimentar a boa base e
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Da formação e da intervenção psicossociológicas
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Da formação e da intervenção psicossociológicas
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Psicossociologia – Análise social e intervenção
com grupos reais, isto é, grupos que têm um certo lugar na estrutura da
organização, no processo de trabalho, na hierarquia interna, que têm
problemas concretos (de decisões, de melhoria de condições de trabalho,
de definições de tarefas etc.) e que desejam resolvê-los. A intervenção,
então, numa primeira análise, permite às pessoas falarem de sua vida
cotidiana, de seus sofrimentos e de suas esperanças e de se assumirem,
a fim de explorarem as vias que favorecerão a resolução de seus proble-
mas. O que está presente não é, como na formação, uma situação irreal,
mas, ao contrário, toda a violência do cotidiano que, além do mais, im-
pede de ver e de sentir outra coisa.
226
Da formação e da intervenção psicossociológicas
O imaginário e o simbólico
A experiência a ser promovida é bem a do imaginário motor, do
imaginário instituinte das relações novas entre si e as coisas, entre si e o
outro, transcrevendo os desejos na ordem organizacional e aí introduzin-
do rupturas, “ruídos”. O que resulta, então, é a subversão da ordem sim-
bólica reinante que se exprime pelo organograma, pelas relações codifica-
das, relações de poder e separações instituídas. É a busca de uma nova
ordem simbólica que só pode existir na medida em que ocorrem atos novos,
na medida em que as relações se desestruturam e se restruturam de outra
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Da formação e da intervenção psicossociológicas
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Da formação e da intervenção psicossociológicas
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Psicossociologia – Análise social e intervenção
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Notas
1
Traduzido de: ENRIQUEZ, Eugène. “De la formation et de l’intervention psychosocio-
logiques”. Connexions, 17, p. 137-159, 1976, por Marília Novais da Mata Machado.
2
A qual acontecimento ou a qual lei obedecem essas mutações que, repentinamente,
fazem com que as coisas não sejam mais percebidas, descritas, enunciadas, caracte-
rizadas, classificadas e sabidas da mesma maneira? Para uma arqueologia do saber,
essa abertura profunda na superfície das continuidades, mesmo que ela deva ser
analisada minuciosamente, não pode ser “explicada” nem reduzida a uma única
palavra. Ela é um acontecimento radical que se estende por toda a superfície visível
do saber, cujos signos, abalos e efeitos podem ser seguidos passo a passo. M.
FOUCAULT. Les mots et les choses. Gallimard.
3
Na primeira meditação, DESCARTES baseia a descoberta do “verdadeiro” na exclu-
são necessária da loucura, do sonho e do gênio maligno.
4
ENRIQUEZ, E. “Imaginaire social, refoulemente et répression dans les organizations”.
Connexions, no 3, 1972 (Imaginário social, recalcamento e repressão em organiza-
ções. Tempo Brasileiro 36/37: 53-94, 1974).
5
Segundo J.-M. DOMENACH: “Para não ser destruído, o Eu tudo destrói.” Le sauva-
ge et l’ordinateur. Le Seuil, “Points”.
6
CASTORIADIS-AULAGNIER, Piera. “A propos de la réalité: Savoir ou certitude”.
Topique, n. 13, Epi, 1974.
7
TOURAINE, A. Pour la Sociologie. Points, Le Seuil.
8
LECLAIRE, Serge. On tue un enfant. Seuil, 1975 (Mata-se uma criança. Rio de Janeiro:
Zahar, 1977).
9
Essa falta fundamenta a perspectiva dos sociólogos que pensam em termos de
sistemas e de modos de produção: quando os sociólogos (como TOURAINE) pen-
sam o socius em termos de relações sociais, não caem nesse erro, pois o centro de seu
pensamento é a ação social e não as normas sociais.
10
“Razão do encaminhamento do não ser ao ser” diz PLATÃO, cf. CASTORIADIS,
C. L’institution imaginaire de la société. Le Seuil (A instituição imaginária da socieda-
de, Paz e Terra).
11
Cf. MORIN. E. Le paradigme perdu. La nature humaine. Le Seuil.
12
Em Lip, os trabalhadores acreditavam que não poderiam compreender nada de
contabilidade e de problemas de gestão de empresa. Quando esses elementos lhes
foram explicados de forma direta e clara, eles disseram: “mas era apenas isso!”.
13
FREUD. Cinco lições de Psicanálise.
235
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ASORIGENSTÉCNICASDAINTERVENÇÃO
PSICOSSOCIOLÓGICAEALGUMASQUESTÕESATUAIS1
Jean Dubost
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As origens técnicas da intervenção psicossociológica e algumas questões atuais
239
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As origens técnicas da intervenção psicossociológica e algumas questões atuais
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As origens técnicas da intervenção psicossociológica e algumas questões atuais
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Notas
1
Traduzido de DUBOST, Jean. “Sur les sources techniques de l’intervention psychosocio-
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Novais da Mata Machado.
2
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260
As origens técnicas da intervenção psicossociológica e algumas questões atuais
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261
Psicossociologia – Análise social e intervenção
262
263
Qualquer livro da Autêntica Editora
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André Lévy
FUNREI/FAPEMIG. vista e avaliada. A reflexão foi
André Nicolaï
fortemente influenciada pela Psi-
Eliana de Moura Castro canálise, mas também pelo pen-
Eugène Enriquez
samento filosófico que aponta
Jean Dubost
é doutora em Psicanálise e
para as representações imaginá-
professora aposentada da
rias do social e, recentemente,
UFMG.
pela sociologia da ação. Como
de Araújo é doutor em
conhecimento da natureza do
vínculo que congrega os indiví-
Psicologia Social e Clínica ISBN 978-85-7526-022-7 duos, de um saber a respeito
e professor da PUC Minas. das mudanças e rupturas da di-