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INTRODUÇÃO
argumentos oferecidos pelos críticos contra a data tradicional do livro e sua autoria.
Data do Livro: De acordo com a afirmação de Dan.1:1 Daniel teria sido levado
para Babilônia em 605 a.C., e teria estado na ativa "até o primeiro ano do rei Ciro" (1:21),
até pouco depois da queda de Babilônia em 539 a.C. De onde a tradição de que o livro foi
escrito no sexto século a.C. Esta opinião foi mantida pela maioria dos comentadores judeus
e cristãos até fins do séc. 18. Com o avanço da crítica literária desde então, a opinião da
seguintes:
no cap. 11, explica-se melhor como uma pseudo-profecia, ou uma profecia post-eventum.
De acordo com os críticos, a descrição corresponde bem com os fatos até 164 a.C., mas
profecia, ou pelo menos profecia de longo alcance, como as que se acham no livro de
Daniel. Conseqüentemente, de acordo com os críticos, uma explicação natural deve ser
proposta quando uma profecia bíblica parece corresponder aos acontecimentos previstos. A
explicação proposta é que a profecia foi escrita depois dos acontecimentos, e não passa de
uma pseudo-profecia.
Para aqueles que crêem na revelação divina e que os profetas foram habilitados
por DEUS para prever o futuro, o argumento não é convincente. Se para DEUS o futuro é
como um livro aberto não há razão para crer que Ele não tenha comunicado a Seus
profetas tanta informação do futuro quanto em Sua sabedoria Ele tenha considerado próprio
revelar.
Jeremias só trataram da situação histórica de seus dias. Adereçaram-se sobre tudo aos
arrependimento e reforma. Por que deveria um profeta do sexto século a.C. se preocupar
com os acontecimentos políticos do terceiro e segundo séculos a.C., como parece ser o
caso de Dan. 11 ?
A resposta a essa objeção é que embora os profetas do V.T. como regra estejam
mais interessados nos problemas morais e religiosos de sua própria geração, eles se
pronunciam freqüentemente sobre juízos iminentes, os juízos que cairiam sobre gerações
livro prediz que o cativeiro babilônico duraria 70 anos. Além disto há não poucas passagens
nos profetas clássicos que referem-se ao "dia do Senhor", um acontecimento que ocorreria
num futuro indeterminado. As muitas referências nos escritos proféticos a um "dia" futuro
com conota- ção escatológica indicam sua preocupação com o futuro tanto imediato como
distante.
militares dos séculos que precederam a era cristã enquadra-se num propósito religioso. Sua
intenção era preparar a comunidade judaica para fazer frente a uma grave ameaça à sua
própria existência. Uma predição tão detalhada estimularia a fé em DEUS como o Senhor
da História, e como Aquele que não falharia a Seu povo num período crítico de sua
existência como nação. A seu turno toda a profecia cumprida fortaleceria a fé naquelas
porções da palavra profética ainda não cumpridas (Dan.9:24). Dada a inspiração divina do
livro de Daniel, as profecias de longo alcance cessam de ser um ônus insuportável para a
fé.
contra uma data no sexto século para o livro de Daniel. Um autor do sexto século estaria
melhor informado quanto aos fatos históricos que lhe eram contemporâneos, argumentam
Embora nenhum sítio de Jerusalém ocorrido em 605 a.C. seja mencionado nos
livros de Reis ou Crônicas, II Reis afirma que "nos dias de Joaquim, subiu Nabucodonozor,
rei da Babilônia, contra ele e ele, por três anos ficou seu servo". (Ver também II Crôn. 36:6).
Esta invasão de Judá não pode ser a de 597 a.C., porque Joaquim morreu no curso
daquele ano. Comparar o v.6 de II Reis 24 com o v.10. De acordo com as Chronicles of
Chaldean Kings (626-556 B.C.), publicadas por D.J. Wiseman, em 1956, pp. 25-27,
Nabucodonozor depois de sua vitória sobre o exército egípcio em 605 a.C., em Carquemis,
avançou vitoriosamente sobre a Síria e a Palestina, entre Abril e agosto do mesmo ano.
agosto, quando foi obrigado a voltar rapidamente a Babilônia. Joaquim, que tinha sido posto
no trono de Jerusalém pelo Faraó Neco II, foi obrigado a transferir sua lealdade a
Nabucodonozor. Se isto ocorreu após um breve sítio em Jerusalém não é claro, mas
concebível. Em sua pressa de voltar a Babilônia, Nabucodonozor poderia ter aceito uma
entre os quais se encontrariam Daniel e seus companheiros. Uma tal hipótese não
1:1.
históricas gregas, os críticos faziam muito do silêncio das fontes quanto a Belsazar. Este
silêncio, porém, foi rompido quando tabletes cuneiformes foram desenterrados e decifrados
medida que o nome de Belsazar aparecia num número crescente de documentos associado
Sidney Smith demonstrou em 1924 que Nabonido, que esteve ausente de Babilônia durante
dez anos, conferiu a regência a Belsazar durante sua longa estada em Tema1. Como J. C.
Baldwim observa: "Uma vez que Belsazar foi para todos os efeitos rei, é pedantismo acusar
o escritor do livro de Daniel de inexatidão por chamar Belsazar de Rei. A acusação é mais
ainda fora de propósito à luz de dan. 5:7, 16 e 29, onde a recompensa oferecida a quem
lesse a escrita misteriosa era de ocupar o terceiro lugar no reino. Evidentemente o autor
sabia que Belsazar mesmo ocupava o segundo lugar depois de seu pai Nabonido".2
c. O fato de Nabucodonozor ser chamado o pai de Belsazar em Dan. 5:11, 18 e
22.
O termo "pai" tem uma conotação tão geral nas línguas semíticas antigas que
não se pode atribuir erro a Daniel por empregá-lo no sentido de avô ou simples
antepassado dinástico de Belsazar. Com efeito não há palavra para o "avô" nem no
hebraico nem no aramaico. Basta dizer que Davi é chamado pai de diversos reis de sua
dinastia: de Abdias (I Reis 15:3), de Asa (15:11), de Amazias (II Reis 14:30), de Jotão
(15:38), de Acaz (16:2), de Ezequias (18:3), e de Josias (22:2). Os leitores não tinham
dúvidas sobre o que o autor queria dizer. A hipótese de que Nabonido tivesse casado com
uma filha de Nabucodonozor não deve ser excluída. Seu prestígio na corte retrocede a 585
a.C., na qual data ele mediou um tratado de paz entre a Média e a Lídia fixando o rio Halis
como a fronteira entre os dois reinos. Além disto, diversos reis assírios chamavam seus pais
Babilônia não deve ser interpretado como se o autor assumisse a existência de um Império
Medo que teria sucedido ao de Babilônia. O que os textos acima provam é que de acordo
com o autor, houve um rei Dario o Medo que reinou em Babilônia entre a morte de Belsazar
De acordo com o livro de Daniel o Império Babilônico foi sucedido pelo Império
Medo-Persa. Segundo Dan. 5:28, o reino de Belsazar seria dado aos "Medos e Persas".
Segundo o cap. 6 a lei do novo império é chamada "a lei dos Medos e Persas" (vv. 8, 12,
15). O carneiro do cap. 8 é interpretado como sendo "os reis da Média e da Pérsia", a
Média e a Pérsia sendo consideradas como uma unidade política. Do mesmo modo que o
e não dois.
Embora as fontes históricas não nos permitam identificar Dario o Medo, o fato de
que Ciro, segundo textos comerciais contemporâneos, não assumiu o título de rei da Babilô-
nia a não ser um ano depois da queda da cidade, abre a possibilidade de um breve reinado
de um rei desconhecido nas fontes extra-bíblicas, mas identificado no livro de Daniel como
Dario o Medo.
Persa. Ele propõe que Das. 6:28 seja traduzido como segue: "Daniel, pois, prosperou no
reinado de Dario, isto é, no reinado de Ciro o Persa", tratando a conjunção hebraica waw
como um waw explicativo5. J. C. Whitcomb sugere que Dario o Medo era outro nome de
além do rio6. Este Gubaru é sem dúvida o Gobryas que aparece nas fontes gregas.
conhecimentos presentes, mas o que é certo é que o autor de Daniel não postulou a
críticos deveriam responder à pergunta de como um autor do segundo século poderia ter
quando os historiadores gregos que ele poderia ter consultado ignoravam totalmente o fato.
século a.C. podia ter sabido que Nabucodonozor merece o crédito principal para a
construção de Babilônia em sua última fase (Dan. 4:30). Comentando o fato, E. B. Pfeiffer
escreveu: "provavelmente nunca saberemos como nosso autor descobriu que a nova
encontra não entre os profetas, mas na terceira seção conhecida como os "escritos".
Dever-se-ia dizer em primeiro lugar, que não há nada sagrado sobre a ordem
dos livros no canon hebraico. Esta ordem varia nos manuscritos do V. T., bem como nas
edições impressas da Bíblia hebraica. Além disso, a ordem dos livros na Bíblia hebraica é
diferente da ordem da Septuaginta, a tradução grega feita em Alexandria entre 250 e 150
a.C. Nos melhores manuscritos da Septuaginta o livro de Daniel aparece na mesma posição
como nas edições modernas da Bíblia, isto é depois de Ezequiel. Outra indicação de que
não havia uma ordem fixa dos livros canônicos é que as listas destes livros que se
encontram nos escritos patrísticos diferem bastante uma das outras tanto na ordem como
Josefo que era sacerdote versado nas Escrituras, afirma haver 22 livros no Velho
Testamento. Ele especifica que 5 constituiam a Lei, e que quatro continham "Hinos a Deus
e preceitos para a conduta da vida humana". Estes quatro com toda probabilidade
seção, a dos Profetas, continha, segundo Josefo, treze livros, entre os quais certamente ele
Doze, Daniel, Ezequiel e Esdras. R. D. Wilson menciona que "Origenes, em 250 A.D., e
Jerônimo, em 400 A.D., ambos instruídos por rabinos judaicos e afirmando ter obtido sua
informação de fontes judaicas, colocam Daniel entre os profetas... E, afinal, todos os unciais
gregos e os Pais gregos e latinos, são unânimes em colocar Daniel entre os profetas, e em
Há boas razões para crer que o livro de Daniel foi transferido pelos massoretas,
por razões dogmáticas, de entre os Profetas para sua posição presente entre os Escritos. O
fato do livro de Daniel ter sido considerado uma arma importante para os apologistas
cristãos em sua controvérsia com os rabinos sobre a pretensão messiânica de Jesus Cristo,
tendia a despertar o preconceito dos rabinos contra o livro. Particularmente ofensiva aos
judeus era a tentativa da parte dos cristãos de fundar o messianismo de Jesus sobre a
profecia de Daniel 9. O Talmude pronuncia uma maldição contra os que faziam cálculos
volta de 180 A.C., nada sabia de Daniel, de outro modo ele o teria mencionado em seu
panegírico das celebridades bíblicas (caps. 44-50). O fato do Sirácida não mencionar
nenhum dos profetas menores por nome, e nem mesmo Esdras que tanto se destaca na
tradição judaica, torna o argumento sem valor. O argumento reteria seu peso somente se a
lista fosse completa, o que não é o caso. Provavelmente Daniel não se enquadrava nos
critérios do Sirácida sobre quem deveria figurar em sua lista. de outro lado o elogio
exagerado que ele faz do sumo-sacerdote Simeão, seu contemporâneo, nos faz duvidar da
de Gênesis até o livro de Zacarias. É verdade que o livro de Daniel é o único a mencionar
anjos pelo nome, como Gabriel (Dan. 8:16 e 9:21), e Miguel (10:13 e 21; 12:1). Deve-se
observar, porém, que este último nome é atribuído a um príncipe e não a um anjo
dos apocalípticos escritos a partir do segundo século A.C. o Livro de Enoque, por exemplo,
menciona não menos de 27 anjos.11 Outros livros apocalípticos são manos prolíficos, mas
escrevendo em 520 A.C. - e ninguém duvida da data da primeira parte do livro - refere a seu
anjo intérprete dezoito vezes. Além das duas referências a Gabriel, anjos são
especificamente mencionados somente em mais dois textos do livro de Daniel 3:28 e 6:22.
Pode-se, pois, concluir que a angelologia de Daniel é pouco mais avançada que a de seu
contemporâneo Zacarias, que aliás usa o termo "Satan" quase como um nome próprio
(3:1,2).
aramaico (2:4b-7:28), outra língua semítica como o hebraico. O aramaico começou a tornar-
se uma língua internacional no Próximo Oriente desde o oitavo século a.C.. Judeus
educados podiam falá-lo como é evidente em II Reis 18:26. Daniel deve ter sido versado
exílio babilônico a maior parte dos judeus só falava aramaico, o que obrigou Esdras a fazer
uso de tradutores ao expor a lei ao público.
Daniel tinha peculiaridades que traiam uma data posterior ao de Esdras. Assim, S. R. Driver
escreveu no fim do século XIX: "As palavras persas pressupõem um período depois do
império Persa estar bem estabelecido; as palavras gregas exigem, o hebraico apoia, e o
aramaico permite, uma data depois da conquista da Palestina por Alexandre o Grande (332
a.C.)"12.
Os critérios usados para atribuir uma data tardia ao hebraico de Daniel são
"Débora não fala de modo muito diferente de Qoheleth, embora mil anos os separem"13.
do Mar Morto desde 1947, fornecendo aos estudiosos uma abundância de documentos em
aramaico, os quais datam respectivamente do quinto séc. A.C. e de 150 A.C. a 68 A.D.,
forçou uma revisão crítica quanto à data do aramaico do Livro de Daniel. Assim G. F. Hasel
Buch Daniel", ZKT 59 (1935), pp. 502-545, concluiu em 1939 que a velha 'evidência
lingüística' (para uma data tardia para Daniel) deve ser posta de lado".14
H.H. Rowley contestou a opinião expressa acima, mas seus argumentos foram
refutados por E.Y. Kutscher em seu artigo, "Aramaico", Current Trends in Lingistics 6th ed.
T.A. Seboek (The Hague, 1970), pp. 400-403. A opinião que o aramaico de Daniel pertence
1962), p. 154; e por F. Rosenthal, A Grammar of Biblical Aramaic, 2nd ed. (Wiesbaden
1963), p.6.
paleográficas e lingüísticas ele pertence ao primeiro séc. A.C. Estudando este documento
P. Winter observou que ao passo que o aramaico de Daniel e de Esdras é aramaico oficial
por Glenson L. Archer em seu artigo, "O Aramaico do Gênesis Apócrifo Comparado ao
Aramaico de Daniel", New Perspectives on the Old Testament, ed. J. B. Payne (Waco,
J.C.Baldwin conclui: "Está se tornando um fato aceito que a data de Daniel não pode ser
decidida por argumentos lingüísticos, e a evidência que se acumula não favorece uma
apenas três, e todas as três são nomes de instrumentos musicais - demonstra que o livro de
Daniel foi escrito depois das conquistas de Alexandre o Grande e a difusão da língua grega
no Próximo Oriente. Mas como J.A. Montgnomery observa em seu comentário: "A refutação
deste (argumento baseado no uso de três palavras gregas) para uma data tardia consiste
evidente que as trocas comerciais e culturais entre o mundo grego e o Oriente remontam ao
oitavo século A.C. Cerâmica grega daquela época tem sido encontrada em muitos lugares
Delta Nilo, por volta de 600 A.C. Mercenários gregos estavam sendo engajados em
exércitos estrangeiros por este tempo. E podemos imaginar que onde soldados iam os
gregos empregados na construção dos palácios de Persépolis (500 A.C.), e é provável que
O fato que a palavra sinfonia não consta ter sido usada no grego como o nome de um
instrumento musical antes do tempo do historiador Pelíbio (c.150 A.C.), pode ser pura
consciência. Muito da literatura grega antiga simplesmente não sobreviveu até nossos dias.
Daniel, nenhum leva um nome hebraico, se o livro foi escrito na Palestina no segundo séc.
A.C.?"18 Quando o grego era bastante disseminado na Palestina a partir do terceiro séc.
A.C., os críticos devem explicar porque há tão poucos termos emprestados ao grego em
Daniel, se é que o livro foi escrito na Palestina na época dos macabeus. A maior parte das
grego.19
parte desta literatura. Como vários estudiosos têm observado, a apocalíptica é filha da
profecia, e não se pode estabelecer uma distinção absoluta entre ambas. Traços do estilo
Em vários dos últimos escritos proféticos nota-se uma tendência de mudar o foco
outras de natureza universal. O propósito de Deus para com Israel começou a ser melhor
discernido num contexto mais amplio. Com o exílio ampliou-se a perspectiva geográfica de
Israel, e o conceito de Deus como soberano universal raiou como uma nova revelação. Que
as nações vizinhas, tais como Moabe, Amon, Aram, Filístia, estavam sob a jurisdição de
Jeová e lhe eram moralmente responsáveis, Amós já o tinha afirmado. Mas o exílio
horizonte geográfico mais amplo ajuntou-se uma perspectiva temporal mais vasta. A história
começou a ser vista como se desenrolando numa escala temporal muito mais longa. As
estendendo sobre milênios, Israel estava preparado para receber uma nova espécie de
revelação caracterizada por sua preocupação universalista e seu escopo escatológico. Esta
revelação seria muito mais rica em simbolismos por causa da dificuldade de expressar
comunicar a verdade religiosa não somente ao intelecto, mas ao ser humano em sua
totalidade. Como uma figura diz mais do que mil palavras, de igual modo símbolos.
Notamos três traços comuns nos escritos apocalípticos: Preocupa- ção supra-
nacional, perspectiva escatológica e uso mais freqüente de linguagem simbólica. Mas todos
os três já estão presentes nos escritos dos profetas exílicos e pós-exílicos em graus
diferentes. Como A.C. Wech observou, "daniel deve ser julgado pelas afinidades com os
profetas que o precederam,e não pelas afinidades com seus imitadores".21 Todos os fatos
Uma razão adicional pode ser sugerida para a necessidade do tipo de revelação
lento e penoso, e a nação de Israel nunca atingiu o nível de prosperidade material previsto
por Isa. 60, por exemplo. Ao contrário, como Neemias testifica, a obra de restauração foi
O que faltava nos escritos proféticos era uma clara perspectiva de tempo.
Acontecimentos futuros na história da redenção eram vistos como um só evento que enchia
todo o horizonte. Não se fazia uma distinção clara entre a primeira e a segunda vindas do
Messias. Chegara o tempo para que apocaliptistas como Daniel introduzissem um senso de
perspectiva nas visões indistintas dos profetas clássicas. Não só o tempo estava maduro
para uma tal revelação, mas a necessidade era urgente para que a fé de um remanescente
fiel não viesse a sossobrar. A Daniel, e mais tarde a João no Apocalipse, luz adicional foi
dada por Deus para iluminar a ordem dos acontecimentos futuros na história da redenção.
O futuro seria dividido em períodos claramente definidos e a fé teria seu fardo aliviado.
Assim é que o conflito secular entre os santos e o anticristo é limitado a três anos
e meio na profecia de Dan. 7:25. A vindicação da verdade de Deus e de Seu propósito
redentor é localizada no final da história, no fim das 2300 "tardes e manhãs" de Dan. 8:14.
Setenta semanas de graça adicional seriam concedidas à nação judaica, período este que
devia culminar com a vinda do Messias e Sua morte de acordo com Dan. 9:24-27.
Temos aqui três profecias com tempo específico que introduziram perspectiva e
ordem onde antes havia apenas uma vaga expectativa do "dia do Senhor". De acordo com
uns aos outros dentro do programa divino. Os crentes poderiam levantar suas cabeças e
renovar sua coragem vendo os marcos sinalizando onde estavam em sua longa peregrina
Do que acaba de ser dito torna-se evidente porque o livro de Daniel ocupa uma
posição pivotal no canon bíblico. Se a fé neste livro é minada, a fé cristã tem muito a perder.
Isto explica porque o autor pagão Porfírio, que viveu na última parte do século terceiro a.d.,
fez um ataque tão resoluto contra a credibilidade do livro. Fazendo-o passar por uma
de sua principal arma na defesa da fé. Ele percebia que seu valor apologético seria
Estudiosos que mantêm que o livro de Daniel foi escrito no segundo século a.C.
argumentam que a influência da teologia de Zoroastro seria mais sentida nesta época mais
tardia do que no sexto século a.C. O fato é que a pretendida religião de Zoroastro sobre a
apocalíptica em geral, e sobre o livro de Daniel em particular, está perdendo muito de sua
que tanto a influência persa como a helenística foram tardias, "surgindo apenas depois que
alguma das idéias escatológicas mantidas pelos zoroastrianos nos últimos quatro séculos
antes de Cristo"23.
É um fato que os ensinos de Zoroastro não foram reduzidos à forma escrita até o
começo da era cristã. O Avesta não datar que do quarto século a.d.24. O Dinkart é, segundo
admite S. B. Frost, uma obra do nono século a.d.25. Em vez de ver idéias iranianas
Lambert, por sua vez, inclina-se à ver nas profecias babilônicas um protótipo das
atenção a estas assim chamadas profecias babilônicas em seu livro, Babylonian Historical-
Literary Texts, publicado em 1975. Grayson pensou poder ver uma relação íntima entre as
O máximo que se pode dizer é que este gênero de profecia não era
quanto à soberania divina sobre o curso da História. Tais predições satisfariam uma
pudessem vir a sofrer na próxima grande crise que a nação teria que enfrentar.
não seria um anacronismo como alguns estudiosos propõem. Como os profetas clássicos
povo. Este estava sendo confrontado com pseudo-profecias e o caráter único de Jeová
estava sendo posto em dúvida. Os repetidos desafios que Isaías tinha feito aos deuses de
Babilônia de predizer o futuro deviam ainda soar no ouvido do povo (Isa. 41:21-23; 44:7-8;
forte contraste entre profecias autênticas e as que estavam sendo compostas no meio
pagão. A. K. Grayson chama atenção a um tal contraste quando observa: "Não há sugestão
dominante nas profecias de Daniel. Ele revelaria aquilo que a mera sabedoria humana não
apocalípticos, Daniel iria muito além descrevendo um conflito multi-secular pela dominação
F. M. Cross bate na tecla certa quando afirma: "A origem da apocalíptica deve
ser procurada no sexto século a.C. Na catástrofe do exílio a velha forma de fé e tradição
entrou em crise, e as instituições de Israel sofreram colapso ou foram transformadas"30.
antes de nossa era. Nenhum manuscrito completo de Daniel foi encontrado, mas diversos
publicados, mas os seguintes textos vieram à luz: Dan.1:10-17; 2:2-6; 2:19-35; 3:22-30; 7:28
- 8:1; 8:16,17, 20-21; 10:8-16; 11:33-36, 38. Um fragmento preserva a transição do hebraico
para o aramaico em cap. 2:4, e outro a transição do aramaico para o hebraico em 7:28 -
8:1. Todos testificam da correção geral do texto massorético, apesar de variações aqui e
100 a 50 a.C. A presença de um tal fragmento nas cavernas de Qumrã constitui argumento
forte contra uma data na época dos macabeus para a composição do livro de Daniel. De
acordo com R. K. Harrison uma tal data é "absolutamente excluída pela evidência
encontrada em Qumrã... O tempo seria insuficiente para uma composição macabeana ser
posta em circula - ção, venerada, e aceita como escritura canônica por uma seita
macabea".31
invalida o argumento acima. O debate aqui não é sobre a canonicidade do livro de Daniel,
mas quanto a sua data. Um livro que não tivesse sido conhecido previamente como perten-
cendo à coleção de livros tidos como canônicos pelos judeus não poderia ganhar tanto
prestígio em tão pouco tempo, para ser reconhecido pela comunidade de Qumrã.
Unidade do Livro
O fato do livro de Daniel ter sido escrito em duas línguas tem levado alguns
estudiosos a postular mais de um autor. Outro argumento que se alega para uma
diversidade de autores é que 5 dos primeiros 6 capítulos tratam de histórias, ao passo que
a segunda parte do livro é profética em estilo e conteúdo. Alguns estudiosos vão mesmo a
admitir a proveniência babilônica dos primeiros seis capítulos, aos quais um autor do
segundo século a.C. teria anexado o material profético dos últimos capítulos. O desejo de
emotiva que caracterizava a opinião pública na época dos Macabeus. Com efeito,
Daniel e seus companheiros não se sentem embaraçados em ocupar cargos públicos nas
época dos Macabeus proporia Daniel como um modelo. Ao contrário seria taxado de
religioso que prevalecia na judéia na época dos Macabeus, muitos estudiosos sustentam a
unidade do livro, entre eles S .R. Driver. De sua parte R. H. Pfeiffer não via razão para
impugnar a unidade do livro, mas pensava descobrir "em ambas suas partes o mesmo
objetivo e o mesmo fundo histórico"32. O defensor mais recente da unidade do livro foi H. H.
Rowley que mesmo em 1950 podia escrever: "As características mentais e literárias do livro
são as mesmas através do todo... O ônus de provar o contrário jaz com os que dissecam a
obra"33.
aceitasse uma data no sexto século a.C. Mas como ele propõe uma data no segundo
século, como a maioria dos estudiosos, seu argumento torna-se forçado. A opinião erudita
mais recente é que um editor do segundo século usou o material mais antigo de origem
babilônica e acrescentou as visões dos capítulos 7 a 12. Como A. Jepsen observou: "Se o
livro em sua presente forma data do tempo dos macabeus sua unidade cessa absolutamen-
te".34
parte do livro porque é escrito em aramaico; outros o ligariam com a segunda parte por
causa de sua natureza visionária. Em sua divisão da história em quatro períodos ele tem
afinidade com o cap. 2, mas em outros respeitos tem laços evidentes com os capítulos
subseqüentes. Na opinião deste autor o cap. 7 constitui uma ponte entre as duas seções do
livro e confirma sua unidade. O problema todo da unidade do livro seria resolvido se se
assumisse uma data no sexto século A.C. Afinal de contas esta é a única data derivada do
NOTAS
1. S. Smith, Babylonian Historical Texts (Londres, 1924), pp. 84,88; R.R. Dougherty,
ANET, p.276.
4. W.H. Shea, "Darius the Mede: An Update". AUSS, VOL. 20, pp.229-276.
9. Robert Dick Wilson, Studies in the Book of Daniel (New York, 1938), p. 49.
10.G. F. Moore, Judaism, Vol II, p.352. Talmud, Sanhedrim 97b (Vol.ii, p.659).
11.R.H. Charles, ed., The Apocrypha and Pseudoepigrapha, Vol. 2 (Oxford, 1913), pp.
191,193,201,220,223,236.
15."The Aramaic of Daniel", Notes on Some Problems in the Book of Daniel eds. D. J.
19.Em relação ao extenso uso do grego na Palestina nesta época ver Martin Hengel,
Judaism and Hellenism, I (Philadelphia, 1974), p.104, citado por J.C. Baldwin, Daniel,
p. 33.
23.The Dawn and Twilight of Zoroastrianism, (1961),p.57, quoted in D.S. Russell, The
Method and Message of Jewish Apocalyptic, (London, 1964), p.226, note 1.
24.Ninian Smart, The Religious Experience of Mankind, (Fontona, 1971), p.304, citada
27.Idid
Theology and Tehe Curch, VI, 1969, citado em Baldwin, Op.Cit, p.51.
34."Bemerkungen zum Danielbuch", VT, XI, 1961, p. 186, citado em Baldwin, Op.Cit., p.
46.
DANIEL 1
Este capítulo constitui uma introdução apropriada ao Livro como um todo, pois
para uma compreensão do capítulo 2, quando Daniel teve ocasião de interpretar o sonho de
Jerusalém, a profanação dos quais por Belsazar soou o dobre de finados para o império
babilônico.
deportação e cativeiro, o povo de Deus não precisava aderir às normas morais que
secundário. Focaliza a atenção sobre alguns momentos decisivos no conflito milenar entre a
derrota o povo de Deus sairá vitorioso no final. Os reinos deste mundo podem ter seu breve
período de glória, mas no fim "o domínio e a majestade dos reinos debaixo de todo o céu
1:1 A datação precisa dos acontecimentos mostra que o conteúdo do livro deve
ser tomado seriamente. Longe de serem "lendas" colecionadas por causa de seu valor
discordância entre esta data e a de Jer. 25:1, uma vez que se compreenda que o terceiro
corresponde ao primeiro ano do reinado deste monarca. O intervalo que decorria entre a
morte de um rei e a primavera seguinte, quando o novo rei recebia o cetro das mãos de
A afirmação de que Jerusalém foi sitiada então, isto é em 605 a.C., não é
uma das inexatidões históricas do livro. O fato é que depois da derrota de Neco II em
Carquemis, Nabucodonozor levou seu exército vitorioso através da Síria e da Palestina até
à fronteira do Egito. No meio tempo Jerusalém bem podia ter sido sitiada, mas o sítio teria
de voltar à Babilônia antes que surgisse um usurpador, Nabucodonozor teria aceito uma
respeito. Josefo cita Berosso como autoridade para a afirmação de que Nabucodonozor
deixou o exército por conta de seus generais e voltou apressadamente à Babilônia antes
Judá não foi o resultado da fraqueza de Jeová em face dos deuses de Babilônia, mas uma
O fato de Babilônia ser chamada "a Terra de Sinear" é um arcaismo que remonta
a Gên.10:10, 11:2 e 14:1. É possível que haja uma relação entre os nomes de Sinear e
A "Casa do Tesouro" pode ter sido uma espécie de museu, tal como se
encontrou no palácio real em Babilônia, onde objetos de arte de várias partes do império
1:3 O nome Aspenaz é de origem incerta. Talvez seja uma forma abreviada ou
persa.4 O título chefe dos eunucos traduz o termo Rabsaris, que algumas traduções retêm
como o nome próprio em II Reis 18:17 e Jer.30:3, 13. Sendo o guarda do harém real ele
exército. Em nosso texto ele é encarregado de selecionar alguns judeus da linhagem real e
estava apenas seguindo uma tradição antiga observada nas cortes do Egito e da Assíria.
Tutmosis III (1479 - 1425), por exemplo, costumava educar príncipes estrangeiros em sua
corte, tendo em vista enviá-los de volts oportunamente para governar seus países de
caldeus, língua que tinha muita afinidade com o aramaico e que era falada por uma tribo, os
antes de nossa era. O Império Neo-Babilônico foi a criação de uma dinastia caldéia. O
termo "caldeu" veio também a designar uma classe particular de sacerdotes com privilégios
especiais na corte.
este período tinham direito às finas iguarias da mesa real. A expressão finas iguarias traduz
o original pat-bag, um termo derivado do velho persa e que significava "dádivas honoríficas
da mesa real". A presença no livro de termos emprestados ao persa pode ser explicada
pela hipótese de que o livro foi escrito no final da carreira de Daniel, quando o persa tornou-
se a língua da corte, depois de Ciro ter conquistado Babilônia. Outra possibilidade é que a
linguagem do livro foi modernizada durante o período persa, isto é, entre 500 e 330 a.C.
Hananias, Misael e Azarias. Estes nomes que são bastante comuns em hebraico significam
respectivamente: "DEUS é meu juiz", "Jeová mostrou favor", "aquele que pertence a
DEUS", e "Jeová ajuda". Os novos nomes que lhes foram dados podem indicar uma
ambos os fatores operaram na mudança dos nomes dos últimos quatro reis de Judá. Assim,
Salum assumiu o nome de Jeocaz ao subir ao trono (comparar Jer.22:11 com II Reis
23:31). Eliaquim, filho de Josias, teve seu nome mudado para Heoaquim (II Reis 23:34);
Conias assumiu o nome oficial de Joaquim (comparar Jer.22:24 com II Reis 24:6); e
Matanias teve seu nome mudado para Zedequias (II Reis 24:17).
A derivação mais provável para o nome dado a Daniel, Beltessazar, é do
babilônio Belet-sar-usur, "que a Madona (Ishtar) proteja o rei". Belet é o feminino de Bel,
"Senhor", título dado ao deus Marduk, chefe do panteão babilônico. Essa derivação
'Saduraku', 'sou respeitoso (de deus)'. Para Mesaque tem sido a proposta a derivação de
'Mesaku', "Sou de pouca estima", e em Abdnego alguns estudiosos vêem uma corrupção do
original 'Abed-Nebo', "servo do (deus) Nabu", nome atestado por um papiro aramaico
encontrado no Egito.6
matéria de comer e beber e estilo de vida amoral dos pagãos. Tanto Daniel como seus
pediu ao chefe dos eunucos que lhes permitisse não contaminar-se. Participar das iguarias
animais imundos, ou a participação em alimentos que tinham sido oferecidos aos ídolos, ou
apareceu no judaísmo muitos anos mais tarde levantam-se os textos de Oséias 9:3, Ez.
particularmente da carne de porco. J.C. Baldwin prefere ver na recusa de Daniel participar
da comida do rei seus desejos de não aceitar "uma obrigação de lealdade ao rei. Parece
que Daniel rejeitou este símbolo de dependência do rei porque estar livre para cumprir sua
obrigação primária ao DEUS que servia".7 Nada impede que todas as razões acima
propôs que se fizesse uma experiência durante dez dias, e que aos quatro fossem dadas
Daniel, e os quatro foram achados com melhor saúde que o resto dos jovens que estavam
Podemos supor que oraram a DEUS para que lhes desse firmeza de propósito
em toda cultura e sabedoria" (v.17). Quando o tempo determinado para o exame dos
respeito do que mesmo o pessoas mais maduro do colégio de sábios ligado à corte.
prefigurado. Este é o tema do conflito entre Babilônia e o povo de DEUS, entre a luz e as
exame ao qual Daniel e seus companheiros foram submetidos vindicou o caráter daqueles
dimensões mais ameaçadoras maior será o triunfo daqueles que escolheram ficar leais ao
lado de DEUS. Passaram por um tempo de prova e perseguição, mas sua vitória será tanto
mais explêndida.
1:21 "Daniel continuou até ao primeiro ano do rei Ciro". Isto significa que sua
conexão oficial com a corte de Babilônia estendeu-se até 539 a.C., quando Ciro da Pérsia
conquistou Babilônia.
Notas
6. Para uma esplicação diferente ver A. Lacocque, Op. Cit, pp.29, 30.
vez que é Daniel que afinal lembra o rei o sonho e diz-lhe a interpretação, há quem diga que
este verso contradiz a informação contida em 1:5, que afirma que Daniel e seus
companheiros deviam ser educados durantes 3 anos. Não há, porém, contradição se se
Síria e da Palestina realizou-se em seu ano de ascensão, isto é, em 605 a.C. A educação
de setembro de 605 a.C. até a primavera de 604. Teria continuado durante seu primeiro
ano, primavera de 604 a.C. a primavera de 603 e teria durado até um ponto no segundo
ano de seu reinado, 603/602. Além disto os judeus seguiam o sistema inclusivo de contar,
isto é, mesmo uma fração de um ano era contada como um ano inteiro, do mesmo modo
que uma fração de um dia era contada como o dia todo. Ver. Ester 4:16 e 5:1 como um
exemplo de como parte de um dia era contada como um dia todo. Do mesmo modo os "3
realidade somente parte da sexta feira, todo o sábado e parte do domingo. Trata-se de uma
expressão idiomática que deve ser entendida à moda dos que a compuseram.
A trivialidade da maior parte dos sonhos não significa que sonhos não possam
ser usados excepcionalmente como um meio de revelação divina. O V.T. atesta um tal uso
e Joel fala do tempo quando "vossos velhos sonharão e vossos jovens terão visões" (Joel
2:28). Numa cultura na qual sonhos eram tidos como significantes, não admira que DEUS
significado.1
encantadores, feiticeiros e caldeus para interpretá-los de acordo com manuais, dos quais
diversas cópias têm vindo à luz. O caráter fictício de tais manuais salta a vista. O fato de
que nenhum exemplo foi encontrado nos textos babilônicos do uso do termo caldeu para
designar peritos em magia, tem sido alegado por alguns estudiosos como indício da data
tardia do livro de Daniel. Haja vista, porém, que Heródoto (c. 450 a.C.) usou o termo neste
sentido. Ora, se Heródoto usou o termo neste sentido restrito menos de um século depois
do tempo de Daniel, é difícil negar a possibilidade de que o termo já levava esta conotação
2:4 Este verso marca a transição do hebraico para o aramaico, que continua
sendo a língua do livro até o final do cap. 7. A transição foi ocasionada pelo fato de que os
caldeus responderam ao rei em aramaico. Sendo de origem caldaica, o rei não teria
mesmo papel que o latim na Idade Média. Familiarizado em ambas as línguas, Daniel
continuou a escrever em aramaico até depor a pena no final do capítulo 7. Quando noutra
ocasião ele redigiu os últimos capítulos do livro voltou ao uso do hebraico. Alguns
para a unidade do livro. Chamam atenção para o fato de que o código de Hamurábi
apresenta o mesmo tipo de estrutura- as leis escritas em prosa são enquadradas entre o
dos sábios de Babilônia de recontar ao rei seu sonho põe em relevo a sabedoria de Daniel
recebida do único DEUS verdadeiro. É provável que as pretensões absurdas dos adivinhos
tenham despertado na mente na mente do rei expectativas altas demais. O que tornava a
situação pior é que a capacidade de alguém em recordar um sonho era tida como um sinal
de que seu deu estava encolerizado contra ele.2 Ameaçado de morte por sua inaptidão em
satisfazer a exigência do rei os caldeus finalmente admitiram: "A cousa que o rei exige é
difícil e ninguém há que possa revelar diante do rei, senão os deuses, e eles não moram
com os homens" (v.11). Esta confissão marcava como fraudulenta suas pretensões de
convocação dos sábios, deviam sofrer com eles a mesma penalidade de morte (vv.12-13).
morte por Arioque, chefe da guarda do rei, Daniel não hesitou em apresentar-se ao
monarca para pleitear uma audiência futura para lhe revelar o sonho e sua interpretação
(v.16). A coragem manifestada por Daniel, cremos, foi inspirada por sua perfeita confiança
figuram Daniel e seus 3 companheiros. Eles pleitearam que DEUS lhes revelasse o mistério
relacionado com o sonho do rei, porque desta revelação dependia sua própria vida. Sua fé
foi honrada, e o mistério foi revelado a Daniel numa visão da noite (v.19). A primeira reação
de Daniel foi de expressar sua gratidão numa prece que aparece em forma poética em
nosso texto (vv.20-23). Ele louva a DEUS por Sua sabedoria e poder e por Sua soberania
sobre o tempo e as estações o que equivale a dizer sobre o curso da História. Neste hino de
louvor Daniel anuncia o tema de todo o livro quando declara: É DEUS Quem "remove reis e
estabelece reis" (v.21). No conflito dos séculos esboçado no próprio sonho dado a
sabedoria aos sábios e entendimentos aos entendidos", Daniel declara que DEUS dá
sabedoria àqueles que são receptivos à luz celeste, isto é, aqueles cuja mente está
sintonizada à Sua. Em perfeita humildade Daniel não se arroga nenhum mérito, mas
reconhece que toda sabedoria e poder vem de DEUS, "que a todos dá liberalmente"
(Tia.1:5).
Daniel informa a Arioque que a sentença de morte não precisa ser levada a
efeito pois está pronto a comparecer perante o rei e declara-lhe a interpretação (v.24).
Arioque, aparentemente desejoso de angariar mérito para si, não perde tempo em trazer
Daniel à presença do rei: "Achei um dente os filhos dos cativos de Judá, o qual revelará ao
rei a interpretação" (v.25). O rei parece não menos surpreso à vista de Daniel, um mero
sem nenhuma credencial. Daniel começa por declarar que nenhuma sabedoria humana
poderia revelar o mistério do sonho e esta era a razão por que os sábios tinham falhado.
Mas ele conhecia um DEUS nos céus que revela segredos e seu DEUS se tinha dignado
revelar ao rei e a ele próprio um vislumbre dos acontecimentos futuros (vv.26, 27).
glória humana. Se o colosso assírio tinha sido derrubado de seu pedestal pelo curso dos
divina. Esta revelação era autenticada pelo fato de que o mesmo sonho foi concedido a
possuir qualquer sabedoria superior aos demais mortais. Ele era um simples canal através
do qual a revelação divina estava sendo comunicada ao rei concernente ao "que há de ser",
isto é quanto ao futuro curso dos acontecimentos até o desfecho final da história (vv.28-30).
O que Nabucodonosor tinha visto no sonho era uma grande imagem ou estátua
(aramaico selem), cuja aparência era aterradora. Esta estátua composta de metade de
valor descrente é descrita em apenas dois versos (vv.32-33). O que avulta no sonho e
recebe atenção mais pormenorizada é uma pedra "cortada sem auxílio de mãos", que feriu
a estátua e a reduziu a pó tão leve como a palha que é levada pelo vento. Mais
surpreendente foi a percepção de que a pedra "se tornou montanha que encheu toda a
terra" (vv.34-35).
A Interpretação do Sonho
Seu vasto domínio é descrito numa hipérbole tipicamente oriental (comparar Jer. 27:6 para
uma linguagem semelhante). O fato de que as partes seguintes da estátua são interpretada
como "reinos" sugere que "a cabeça de ouro" simboliza o primeiro reino, do qual
Babilônia foi sucedida pela Medo-Pérsia como a maior potência da época. O domínio
A.C. Entrementes Ciro já havia conquistado a media, a Armênia e Lídia na Ásia Menor. Seu
Filho Cambises II anexaria o Egito em 525, e Dario estenderia seu domínio até à Trácia na
Europa.
sua vez foi conquistado por Alexandre o Grande numa campanha relâmpago. Embora
Alexandre mesmo tivesse uma carreira muito breve (356-323), seus sucessores, todos eles
generais de origem macedônica, puderam reinar sobre um mundo helenizado durante dois
quadra bem com os fatos, pois soldados gregos eram conhecidos por sua armadura de
bronze. Heródoto conta que "Psamético I do Egito viu os piratas gregos que invadiam o
domínio greco-macedônico estendeu-se sobre toda a terra, pois o território controlado por
Império Persa. Este era praticamente o mundo conhecido de então para quem vivesse na
Babilônia.
uma interpretação mais pormenorizada. Desde Hipólito e Jerônimo até o dealbar da crítica
A maioria dos comentadores admite que há um paralelo entre as visões dos cap.
(v.21). O rei da Grécia é identificado como o bode peludo, e o chifre grande entre os olhos
como o primeiro rei. Os quatro reinos nos quais o reino de Alexandre se dividiu são
simbolizados pelos 4 chifres que surgiram no lugar do primeiro. Segue-se que o ferro da
estátua não pode representar a Grécia nem os reinos dos sucessores de Alexandre. Só
apropriadamente descreve Roma como "A Monarquia de Ferro". Foi o império com maior
tenacidade e com a maior coerência interna. Não admira que Roma tenha exercido uma
soberania indisputada sobre o mundo Mediterrâneo durante mais de meio milênio. Sua
grande durabilidade explica-se tanto por suas leis como por seu poder militar.
como o ferro, Roma também sofreria decadência e ruína. A última fase de sua existência é
representada por pés e dedos em parte de barro e em parte de ferro (v.41). Sob o impacto
das invasões bárbaras o Império Romano finalmente fragmentou-se nas nações que
frágeis (v.42). A condição dividida da Europa, a despeito dos esforços para uni-la seja pela
guerra, seja por casamentos políticos, continuaria até o dia quando "o DEUS do céu
Os reinos deste mundo desfrutaram por um tempo o fastio de seu poder e glória
para cair no olvido de algumas décadas ou século. Mas o reino de DEUS subsistirá para
sempre. A grande lição que este sonho devia comunicar é que autoridade suprema
pertence a DEUS. Somente ele tem o futuro na mão. Impérios terrestres erigidos sobre
decadência e morte. Somente o reino de DEUS fundado sobre o amor e o sacrifício próprio
O valor decrescente dos metais da estátua não pode significar que cada império
desmentem essa idéia. O Império Medo-Persa abraçou um território muito mais extenso
que o de Babilônia. De igual modo o Império Romano excedeu de muito todos os outros em
extensão territorial e duração. É mais provável que o valor decrescente dos metais tenha
que ver com a perspectiva do profeta: os reinos que lhe eram mais próximos no tempo lhe
adjetivo 'inferior' no aramaico sugere uma interpretação pura geométrica: inferior significaria
mas isso pode ser subentendido. Alguns comentadores têm visto, e nós cremos com razão,
uma relação entre os (dez) dedos da estátua e os dez chifres da quarta besta em Dan.7:7.
Romano se desintegrou. Deve-se admitir, porém, que o número dez pode significar
simplesmente muitos nesta linguagem simbólica. De outro lado Daniel não menciona a
divisão do corpo da estátua em duas pernas, e não há razão para se atribuir significado
simbólico ao fato. Alguns pormenores são descritos apenas para completar o quadro.
épocas simbolizadas pelos quatro metais do poeta grego Hesíodo, ou de fontes iranianas.
O fato, porém, é que Hesíodo escreveu de 5 épocas e não de 4: ouro, prata, bronze, a
época dos heróis e ferro. Além disso sua visão era voltada para o passado, e não para o
futuro, como era o caso com Daniel. Hesíodo imaginava estar vivendo na época do ferro.
De outro lado, uma vez que as cópias mais antigas do Dinkart, onde as idéias de Zoroastro
quanto às 4 épocas se encontram, datam do nono século de nossa era, não há base para a
hipótese de que Daniel se tenha louvado nesta fonte. Ao contrário alguns estudiosos estão
começando a sugerir que os livros iranianos exibem dependência do V.T. e não vice-versa.4
e seu Deus pode ser desculpada por sua educação pagã. O que é de surpreender é que
Daniel não tenha recusado, tanto quanto se possa perceber do texto, esta homenagem
quase divina. Talvez a intenção do rei fosse de honrar a Deus na pessoa de Seu fiel
servidor. Como outra prova de sua gratidão p rei promoveu Daniel ao posto de governador
não se esqueceu de seus companheiros que estiveram a seu lado na crise e que com ele
pleitearam o favor divino. Também eles foram confiados com responsabilidades oficiais na
mesma província.
O que é incrível é que esta lenda da corte , como os críticos a chamam tenha
sido incorporada no livro de Daniel sem expurgo, se o livro foi editado no segundo século. A
idéia de um ser humano receber homenagem divina de um rei pagão seria extremamente
ofensiva aos judeus. Igualmente ofensiva na época dos Macabeus seria a história de os
inclinava a deificação própria como a história do cap.3 o mostra. Nada milita contra uma
divina.
Notas
Philophical Society, vol. 46, part 3, 1956,p. 227. Para um sonho de Assurbanipal ver ANET,
DANIEL 3
Na Fornalha Ardente
dos deuses e o Senhor dos senhores', é evidente que não estava contente com as
admitir que seu reino também fosse transitório. Como crente no poder da mágica, ele faria
construir uma imagem inteiramente de ouro que anulasse o encanto da imagem da qual
somente a cabeça era de ouro. Esta imagem devia ser erigida no campo de Dura, na
província Babilônica.
A altura dessa imagem seria de sessenta cúbitos e a largura de seis cúbitos, em
harmonia com o sistema sexagesimal babilônico. Sua falta de proporção era indício do
caráter irracional da idolatria. Sua aparência seria mais de um obelisco do que de uma
figura humana. Ou devemos imaginar um pedestal muito alto suportando uma figura
ordem subseqüente de que todos se prostrassem e adorassem a imagem de ouro foi uma
multidão.
A repetição monótona dos títulos dos oficiais, sete ao todo, bem como dos
nomes dos instrumentos musicais, era típica da retórica semítica, embora soe mal aos
nossos ouvidos. A LXX elimina a repetição sempre que compatível com a clareza do texto.
é encontrado em outras seções do livro. Alguns destes títulos são de origem medo-persa, e
sua presença aqui pode ser explicada se esta parte do livro foi redigida depois da conquista
de Babilônia pelos persas. A palavra 'arauto' do v. 4 é uma tradução de keroz, termo que se
pensava outrora ser de origem grega, mas que se sabe hoje ser derivado do antigo persa.1
Baldwin: "Dos seis instrumentos mencionados aqui, somente o primeiro, 'trompa', ocorre no
identificar por falta de evidência, a única chave sendo uma possível conexão com o
hebraico saraq, 'sobiar'. Harpa ou lira (aram. gayteros) ou é a palavra emprestada do grego
kítara, ou tanto ela como o aramaico vêm de uma raiz comum. Cítara (aram. sabbeka)
também parece ser um termo estrangeiro de origem desconhecida... Saltério (aram.
psalterion. A última palavra na lista (aram. sumponeya) traduzida por gaita de foles, pode
não ser instrumento algum; antes significaria 'em uníssono'. De outro lado se tem sugerido
que não surpreende achar instrumentos de origem grega e com nomes gregos na Babilônia
rei. A ausência de Daniel nesta ocasião tem sido explicada por várias conjecturas. Mas o
que é certo é que se Daniel estivesse presente também teria recusado prestar culto à
imagem.
diante do rei. Uma segunda oportunidade lhes foi dada de obedecer, ou em caso contrário
de serem lançados na fornalha ardente. Uma vez que tinha admitido a verdade da
morrer por suas convicções religiosas. Criam firmemente que DEUS poderia salvá-los da
sentença de morte, mas mesmo se DEUS achasse por bem não livrá-los, não renegariam
sua decisão de não adorar a imagem de ouro. A rudeza aparente de sua resposta não
fornalha fosse aquecida ao máximo e os 3 indivíduos fossem lançados amarrados com suas
vestes. Fornalhas havia às dezenas num país que dependia de tijolos para a maior parte
das construções. O combustível usado nestas fornalhas consiste em "óleo cru e palha. Uma
temperatura tremenda é assim produzida, e pela abertura (lateral) o observador pode ver os
Sin, rei de Larsa (1750 a.C.). Outro vem de Neriglissar, genro de Nabucodonozor, que
que faz referência a este tipo de castigo infligido a dois falsos profetas por Nabucodonozor.
Este texto é praticamente contemporâneo de Daniel. A palavra usada por fornalha no texto
"quatro homens soltos, que andam passeando dentro do fogo" (v.25). Aparecem ilesos e o
quarto tem uma aparência divina. Em sua estupefação o rei se aproxima da boca da
fornalha e pede aos três mártires que saiam. O espetáculo insólito é testemunhado por
Mesaque e Abede-Nego, cuja fé foi assim publicamente honrada. Movido por esta
intervenção do Altíssimo, o rei baixou um decreto proibindo sob pena de morte qualquer
insulto ao DEUS, que de modo tão maravilhoso livrou Seus servos. A cerimônia toda que
tinha em vista ser uma ocasião para a deificação do monarca redundou para a exaltação
dAquele que pode frear o orgulho dos reis e exaltar os que põem sua confiança nEle.
A breve frase de Heb. 11:34, "extinguiram a violência do fogo", parece ser uma
Notas
1. Lexicon in Vestus Testamenti Liberos, por L. Koehler e W. Baumgartner, 1958.
DANIEL 4
nas histórias dos cap. 2 e 3, no cap. 4 este reconhecimento aparece como o prólogo e o
história, apesar do silêncio das fontes babilônicas a respeito. As crônicas dos reis de
Babilônia são muito incompletas. Os documentos publicados por D. J> Wiseman em 1956
atestada. O episódio todo foi um desvio insólito dos caminhos tradicionais do Egito, e é
Nabucodonozor descrita neste capítulo tem, pois, um paralelo notável. Além disto, há
evidência nos textos dos profundos sentimentos religiosos de Nabucodonozor, como o hino
seguinte ilustra:
O eterno príncipe!
Tu me criaste, e
Que tu conferes a
Todos os povos,
Faze-me amar teu supremo domínio,
O tom religioso da proclamação real pode também ser explicada pela hipótese
de que Daniel mesmo a compôs por ordem do rei. Afinal de contas, reis não costumam
escrever seus próprios discursos. A mudança do pronome da primeira pessoa nos vv. 2-27
para a terceira pessoa nos vv.28-33, e de volta à primeira pessoa nos vv. 34-37, pode ser
explicada se assume que Daniel adicionou algumas notas à proclamação. Seria mais
A saudação inicial, "paz vos seja multiplicada!" (v.1), encontra paralelos nos
editos de reis persas posteriores (ver Esd. 4:17; 7:12). O prólogo em forma de hino resume
a mensagem do livro todo, 'O Seu reino é reino sempiterno, e o seu domínio de geração em
geração' (v.3). Aquilo que e permanente é posto em contraste com a glória transitória dos
Depois desta doxologia, o rei continua contando como sua tranqüilidade foi
perturbada por um sonho, e como de novo os sábios de Babilônia não foram capaz de
interpretar o sonho. No final Daniel foi convocado, e nele somente o rei percebeu 'o espírito
dos deuses santos'. É impossível dizer se a palavra aramaica 'elahin deve ser tomada como
tradução grega do livro de Daniel leu, "o santo espírito de Deus", no que foi seguido por
mente dos antigos a linha divisória separando as várias classes sob cuja sombra animais e
aves achavam abrigo, e que provia alimento para todas as criaturas. Uma árvore
semelhante é usada pelo profeta Ezequiel para descrever a magnificência do rei do Egito
(Ez.31:3-9).
derivado do verbo ur, 'vigiar'. A Septuaginta traduz a palavra por aggelos, 'anjo'.Que se trata
de um ser celeste é claro no texto. A árvore possante é condenada a ser derrubada, mas
não desarraigada de toda. Que a cepa devesse ser atada com cadeias de ferro e de bronze
parece indicar continuidade da existência. Nenhum significado deve ser atribuído ao fato
das cadeias serem de ferro e de bronze. São pormenores necessários para completar o
nos vv. 15b e 16. A árvore realmente representa um ser humano que deve sofrer a
de um animal. Esta condição humilhante deveria durar sete tempos. A maior parte dos
intérpretes toma o aram. iddan, 'tempo', como significando anos. A Septuaginta traduz a
de que conheçam os vivente que o Altíssimo tem domínio sobre o reino dos homens e o dá
a quem quer, e até ao mais humildes dos homens constitui sobre eles". O seguinte
acontecimentos humanos está sob controle divino" e um "propósito dominante tem operado
através dos séculos". "A toda a nação... DEUS tem designado um lugar no Seu grande
plano" e lhe tem dado a oportunidade de "preencher o propósito do Vigilante e Santo".2
Qual seja este desígnio é claramente expresso pelo apóstolo Paulo em seu
discurso diante do Areópago: "Para buscarem a DEUS se, porventura, tateando O possam
achar" (At.17:27). Em Seu desígnio inescrutável DEUS pode colocar sobre uma nação "o
mais humilde dos homens". Nabopolassar, o pai de Nabucodonozor, foi "o filho de ninguém"
como ele próprio afirma em uma de suas inscrições. Humildade de origem não é obstáculo
divino.
Este relato autobiográfico conta a seguir como após o fracasso dos sábios de
Babilônia Daniel foi convidado a interpretar o sonho,pois nele habitava o Espírito de DEUS
alarmado com as implicações ele hesitou falar. Somente depois de ser encorajado pelo rei é
que ele procedeu a dar a interpretação. A árvore magnífica cuja fertilidade era uma bênção
para todas as criaturas simbolizava o próprio rei (vv.20-22). A sentença para abater a
árvore, mas deixar a cepa com as raízes na terra, significava que o rei seria banido do
convívio humano e viveria como um anima por sete anos (vv.23-25), mas que ele seria
restaurado afinal à sua dignidade real se reconhecesse que "o Altíssimo tem domínio sobre
de seu orgulho desmensurado, e se usasse de misericórdia para com os opressos para que
ele também alcançasse misericórdia. Daniel coloca-se na tradição dos profetas clássicos
com sua preocupação com a conduta moral. O homem por sua conduta pode influenciar o
curso dos eventos. Ele não é mero peão no tabuleiro da fatalidade. Como agente moral livre
pode escolher servir a DEUS com humildade de coração ou recusar. Mas naturalmente tem
de arcar com as conseqüências de sua escolha.
Há razão para supor que a seção seguinte (vv.28-33) foi redigida por Daniel
presságio sombrio, tudo indica que gradualmente expulsou a advertência de sua memória.
ocorreram quando Nabucodonozor estava no auge do poder, quando a riqueza das nações
conquistadas estavam sendo usadas para reconstruir Babilônia numa escala mais
que devia impressionar seus contemporâneos com a glória de sua majestade. Apesar da
advertência de Daniel o rei se deixou transportar pelo orgulho: "Não é esta a grande
fazer de Babilônia a maravilha do mundo. Eis um deles: "Em Babilônia, a cidade que prefiro,
que amo, achava-se o palácio, a admiração do povo, o liame do país, o palácio brilhante, a
Babilônia cuja importância como cidade remonta aos dias de Hamurabi, tinha
sofrido consideravelmente em 689 a.C., quando o rei Senaqueribe da Assíria irritado pelas
quando Assurbanipal tomou a cidade de assalto para sufocar uma revolução encabeçada
por seu irmão Shamash-Shum-ukim. Havia muito dano a ser reparado e Nabucodonozor
reconstrução foi tão extenso que eclipsou todas as realizações anteriores. Tem-se dito que
pouco podia ser visto que não tinha sido erigido em seus dias. Isto se aplica aos palácios,
Confirmando o provérbio, "o orgulho precede a queda" mal tinha o rei dado
expressão a sua soberba, quando sua razão apagou-se e ele perdeu o controle dos
negócios do reino. Sua enfermidade tem sido diagnosticada como licantropia, que se
caracteriza pelo fato que o paciente imagina ser um animal e age de acordo. Casos de uma
volta a razão quando reconhece a soberania divina. O v.34 diz que quando o rei levantou os
olhos ao céu, voltou-lhe o entendimento. Em vez de se exaltar no orgulho vão, o rei agora
atribui toda a honra ao Altíssimo, porque unicamente Seu domínio é um domínio eterno, e
somente sua soberania está acima de contestação (v.34-35). À luz de sua experiência
amarga, sua confissão de que "todos os moradores da terra são... reputados por nada"
por causa de sua alienação mental, pode-se responder que outros reis afligidos de loucura
retiveram suas prerrogativas enquanto viveram. O rei George III da Inglaterra (1738-1820)
não foi deposto do trono por motivo de insanidade mental, 6 nem foi o rei Otto da Baviera.
Em caso de incapacidade do Monarca, regentes são designados para cuidar dos negócios
proclamação real. Alega-se que o rei, apesar de sua confissão de fé, revela-se ainda muito
Altíssimo e Seus caminhos justos, unido à declaração de que DEUS "pode humilhar os que
espiritual de Nabucodonozor. Seus altos e baixos são típicos de toda a experiência humana.
Notas
1. G.S. Goodspeed, A History of the Babylonian and Assyrian, p.348, cit. em Jack Finegan,
3. E. Schraeder, Keilinschriftliche Bibliothek, v.3, parte 2, p. 39, citado no SDABC IV. p.793.
4. Ibid
5. F. M. Th. de Ligrebohl, Opera Minora (1953), p. 527, citado no SDABC, IV. p.793.
pp.96-147.
DANIEL 5
A ESCRITA NA PAREDE
O longo e próspero reinado de Nabucodonozor (605-562 A.C.) marcou o apogeu
império em 539 a.C. Nabucodonozor foi seguido no trono por Amel-Marduk (561-560), que
não possuia nada da habilidade do pai. Foi expulso do trono por seu cunhado Nergal-Shar-
Usur (na Bíblia Neriglissar), que reinou apenas 4 anos. Labash Marduk sucedeu a seu pai,
mas seu reinado foi interrompido pelos sacerdotes do deus Sin, que colocaram no trono
Nabonido (555-539). Crê-se que Nabonido tenha casado com uma filha de Nabucodonozor.
Neste caso, Belsazar filho de Nabonido, poderia ter sido neto de Nabucodonozor por parte
de mãe. A rainha mencionada no v.10 com toda probabilidade era a rainha-mãe, que estaria
historiadores gregos, a própria existência de Belsazar costumava ser negada pelos críticos.
Graças ao deciframento de numerosos tabletes babilônicos, sabe-se hoje que era Belsazar
que funcionava em Babilônia como co-regente durante a longa ausência de seu pai em
ciro", nos permitem ter uma idéia mais clara dos últimos acontecimentos em Babilônia,
antes de sua queda. Quando Nabonido voltou à Babilônia na primavera de 539 para
celebrar a festa do Novo Ano, era demasiado tarde para recuperar o apoio popular. No
outono do mesmo ano os exércitos persas estavam exercendo pressão sobre as fronteiras
de Babilônia. Nabonido deixou a capital para travar uma batalha em Ópis, mas foi tomado
prisioneiro. Na batalha de Sypar, Gubaru (Gobryas das fontes gregas), um general de Ciro,
dias mais tarde o exército persa entrou em Babilônia sem encontrar resistência (12 de
outubro de 539 a.C.). Não houve pilhagem, e os templos foram protegidos de modo
especial. Belsazar deve ter perecido numa escaramuça em volta do palácio, embora os
queda de Babilônia. Aparentemente ele confiava que a cidade fosse ivulnerável contra todo
ataque. Sua temeridade é patente em sua decisão de celebrar uma grande festa, quando
os exércitos inimigos estavam às portas da capital. Festas extravagantes como estas não
eram desconhecidas no Oriente Próximo. Uma inscrição descoberta em Calá menciona que
Assurbanipal II fez uma grande festa na inauguração de um novo palácio, durante a qual ele
entreteve 69.574 hóspedes durante dez dias. De Alexandre o Grande é dito que convidou
dez mil hóspedes para sua festa de casamento. W. H. Shea sugere que o banquete visava
celebrar a assunção do poder real por parte de Belsazar, quando chegou a notícia que seu
pai tinha sido aprisionado pelos persas. Tanto Herodoto quanto Xenofonte confirmam que
ordenou que os vasos do templo que Nabucodonozor tinha trazido de Jerusalém fossem
usados na ocasião. Não somente foram os vasos profanados, mas a ocasião foi
passado, Babilônia estava marchando para sua ruína inevitável. À fraqueza militar
A bacanália insensata foi silenciada pela aparição súbita de uma mão que
estranho não podia ser disfarçada. Como de costume o rei recorreu aos sábios para decifrar
Mais uma vez ficou provada a incapacidade da mera sabedoria humana para
desvendar os segredos divinos. O malogro dos sábios contribuiu ainda mais ao alarme do
rei e de seus grandes (v.9). Informada do pânico que reinava na sala do banquete, a rainha
mãe entrou sem esperar ser convidada. O prestígio da rainha mãe tanto nas cortes antigas
como modernas é bem conhecido. Para um exemplo particular ver II Reis 24:12 e 15. A
rainha lembrou como o rei confiava na sabedoria de um certo Daniel, que como resultado
tinha ocupado o cargo de chefe de todos os sábios de Babilônia. Ele deixou bem claro que
a distinção de Daniel residia no fato de que estava "o espírito dos deuses santos", ou
melhor "do DEUS santo (ver o comentário sobre Dan. 4:9 e 18). O estado de intoxicação de
Belsazar explica o fato dele esquecer o papel de Daniel como intérprete de sonhos na corte
distantes.
Daniel foi convocado à presença do rei e se lhe pediu que fizesse aquilo que os
sábios de Babilônia não tinham podido fazer, a saber, ler a escritura na parede e dar a sua
interpretação. Se tivesse êxito receberia as honras que os outros não tinham logrado
receber.
nas honras oferecidas. Nenhuma ambição material devia empanar seu cargo como
e a majestade de Nabucodonozor e como tinha sido deposto do trono quando permitiu que
casa de DEUS, Belsazar tinha ultrapassado os limites da paciência divina e selado sua
própria sorte. Esta sorte foi prefigurada nas 4 breves palavras escritas na parede: "Menem,
Tanto quanto possamos julgar não havia nada particularmente misterioso quanto
com a escrita e o vocabulário aramaicos poderia ter lido as palavras. O problema consistia
sobrenatural elas exigiam uma sabedoria mais do que humana para acertar com seu
significado fundamental.
significado 'numerado' ou 'contado'. Por iluminação divina Daniel extraiu desta palavra a
interpretação, "Contou DEUS o teu reino e deu cabo dele" (v.26). TEQUEL como MENEM
devia ter sido vocalizado como um particípio passivo TEQUIL, "pesado". A interpretação
divina foi, "pesado foste na balança e achado em falta" (v.27). A idéia de pesar o coração
em balança diante do juiz celeste era corrente na teologia egípcia e certamente não era
desconhecida em Babilônia. Pompa e orgulho não podiam compensar a falta de peso moral
no caráter de Belsazar.
"porção". O plural parsim pode também ser traduzido por "pedaços". Daniel interpretou as
palavras como significando: "dividido foi o teu reino, e dado aos medos e aos persas". Sob o
ataque dos medos e persas o Império Babilônico estava sendo destroçado. O comporta-
Daniel chegaram demasiado tarde. Naquela mesma noite Belsazar foi morto, mais
de Belsazar.
devia ser dado aos "medos e persas", tratado como uma unidade política. A teoria de que o
inventada para favorecer a opinião de que a Grécia e não Roma constitui o quarto império
babilônicas e persas pouco contribuíram até agora para esclarecer a identidade. Para
resolver a dificuldade diversas conjecturas têm sido propostas através dos anos. Uma é que
Dario o Medo foi Astíages, o último rei da Média antes de sua conquista por Ciro. Outra
sugestão é que Dario o Medo foi Cambises, filho de Ciro. O fato, porém, é que Cambises
não poderia ter 62 anos em 539 a.C., como o v.31 afirma. Uma terceira hipóteses que Dario
o Medo foi Gobryas, governador de Babilônia debaixo de Ciro. Gobrias das fontes gregas é
então identificado como gubaru da "Crônica de Nabonido", que instalou "sub governadores
em Babilônia". A objeção principal a esta declaração é que Gubaru ainda vivia muito tempo
depois da queda de Babilônia, e portanto, não é provável que tivesse 62 anos de idade ao
subir ao trono. A quarta posição, que é preferida pelo SDABC, é que Dario o Medo era
Ciáxares II, filho de Astíages e tio de Ciro em virtude de ser o irmão de Mandane, a mãe de
Ciro, bem como sogro de Ciro, segundo Xenofonte.2 Como já mencionamos na Introdução,
D. J. Wiseman e outros preferem ver em Dario o Medo outro nome de Ciro o Persa. Na
opinião de Wiseman, Dan. 6:28 devia rezar: "Assim este Daniel prosperou durante o reinado
de Dario, isto é, o reinado de Ciro o persa". Que um monarca pudesse ter dois nomes não é
sem precedente. Tiglatepileser III (745-727 a.C.) da Assíria assumiu o nome de Pul(u) como
NOTAS
irresponsável, o cap. 6 reza mais como um panegírico de Dario. No enredo deste capítulo
os cortesões e não o rei são os vilões. O rei aparece como protetor de Daniel contra as
favorável de um rei pagão não evocaria nenhuma simpatia no clima altamente polarizado da
época dos macabeus. A solução que muitos estudiosos propõem é de atribuir uma data
muito anterior para a composição desta e outras histórias da primeira parte do livro, embora
retendo uma data no segundo século para a seção profética. Mas esta solução contradiz a
unidade evidente do livro. É preferível manter a data tradicional do livro que é apoiada pelo
colorido local das histórias, e sua familiaridade surpreendente como pormenores históricos,
número de satrapias, 120, parece discordar do número que se sabe ter existido nos dias de
Dario I (522-486), de acordo com Herôdoto.1 É bem possível que uma satrápia designasse
tanto uma província como suas subdivisões. Alguns historiadores gregos usam o termo
"sátrapa" para oficiais inferiores do reino. Afim de garantir um controle melhor dos sátrapas
deste vasto império três presidentes foram designados, dos quais Daniel era um (v.2). Uma
grande preocupação era que o rei não sofresse dano, certamente na questão do
recolhimento de impostos.
o rei pensava confiar Daniel com responsabilidades ainda maiores. Infelizmente o rei não
levou em consideração a inveja que iria despertar pela promoção de um estrangeiro acima
de seus compatriotas. Como era de esperar, presidentes e sátrapas feridos em seu amor
administração. Seu despeito piorou ainda mais quando não lograram achar falta em Daniel
"porque ele era fiel". Ficaram perplexos diante da fidelidade do profeta.Vendo bloqueada
esta via de ataque, seus adversários procuraram a seguir achar falta com sua religião. Se
não houvesse um pretexto válido, eles criaram um (vv.4-5).
assinar um edito proibindo durante um mês que alguém fizesse petição a qualquer deus, ou
tempo colocaria a suposta lealdade dos funcionários numa luz favorável. Aparentemente
contavam com a incapacidade do rei em adivinhar sua verdadeira intenção. Para garantir
que o rei não mudasse da idéia quando percebesse o objetivo do interdito, chamaram sua
atenção para a natureza irrevocável da "lei dos medos e persas" (vv. 8,12 e 15).
No que respeita a Daniel, não iria quebrar seus hábitos de oração por causa do
edito real. Era-lhe mais importante obedecer a Deus do que aos homens. Em questões
puramente seculares era hábito de toda sua vida conformar-se com as leis do país. Mas
não permitiria que leis humanas interferissem com suas convicções religiosas. A despeito
do interdito real, continuaria a orar três vezes ao dia no seu quarto, "onde havia janelas
perderam tempo em correr ao palácio com sua acusação vil. Lembraram ao rei as palavras
do interdito, e o rei tomado de surpresa admitiu que de acordo com a lei dos medos e
persas o decreto era irrevocável. Montgomery cita um caso no reinado de Dario III (336-
arrependeu e culpou-se por ter grandemente errado; mas não era possível anular o que
sentença horrível que sobre ele pesava, mas em vão. Seus oficiais trataram de bloquear
qualquer solução legal, invocando com hipocrisia a irrevocabilidade da lei dos medos e
persas (vv.14-15). Mas o que o monarca não pode fazer por causa da força da lei, Deus
cova dos leões, mas não sem expressar a esperança de que o Deus a quem Daniel servia
tão fielmente o livrasse. Pode-se imaginar que foram os oficiais invejosos que fizeram pôr
uma pedra sobre a boca da cova, e que fizeram que a mesma fosse selada com o sinete do
rei e o seu, "para que nada se mudasse a respeito de Daniel" (v.17). Foi uma demonstração
tocante da alta estima em que o rei tinha seu servo, que ele passou a noite em jejum e
certamente em súplicas. Ao romper do dia o rei dirigiu-se apressado à cova dos leões cheio
de esperança de encontrar Daniel vivo. Com voz comovida o rei chamou a Daniel: "Daniel,
servo de Deus vivo, dar-se-ia o caso que o teu Deus, a quem tu continuamente serves,
tenha podido livrar-te dos leões?"(v.20). Para sua surpresa e alegria Daniel se achava vivo
e pode contar ao rei como Deus enviara seu anjo e fechara a boca aos leões"(v.22) Uma
livramento é atribuído ao poder da fé. Dan. 6:23 diz que Daniel "crera no seu Deus".
A letra da lei tinha sido obedecida. Esta só exigia que Daniel fosse lançado na
cova dos leões (v.7). Não especificava o limite de tempo. Em obediência à ordem do rei
Daniel foi tirado da cova. Furioso com a intriga de seus oficiais, o rei agora ordenou que eles
e suas famílias fossem lançados na cova, onde foram imediatamente esmigalhados pelas
feras. A crueldade do ato é chocante, mas não podemos julgar uma monarca pagão pelas
normas de uma época mais esclarecida. À vista dos massacres perpetrados em campos de
concentração por uma nação dita civilizada, o desfecho é menos absurdo do que
DEUS de Daniel por ser ele o único DEUS que vive e cujo domínio dura para sempre.
primeira parte do livro. O propósito desta e outras narrativas foi de promover fé no DEUS
que pode salvar aqueles que põem sua confiança Nele. A fé atingira o nadir entre os judeus
exilados agora que os setenta anos preditos por Jeremias deviam expirar. Intimidados pelo
poder e majestade de um império terrestre, os exilados punham em dúvida cada vez mais a
soberania universal de jeová. A tarefa de Daniel, como de seu contemporâneo Ezequiel, era
reconhecimento: "e sabereis que eu sou o Senhor Deus" (Ez. 23:48; 24:24,27; 25:7,11;
26:6, etc). Israel devia ser levado a reconhecer que Jeová era o único Deus verdadeiro e
que nenhum poder terrestre poderia frustrar Seus desígnios. Não haveria futuro para os
judeus como nação se esta verdade existencial não fosse gravada em sua consciência uma
Daniel, por sua parte, sentiu a necessidade de impressionar seu povo com a
verdade de que DEUS é o Senhor da história, que Ele "remove reis e estabelece reis"
(2:21), que um dia o reino visível de DEUS seria estabelecido, e que Sua soberania não
passaria a outro povo (2:44), e sobretudo que os viventes saibam "que o Altíssimo tem
domínio sobre o reino dos homens e o dá a quem quer" (4:17-25). Não somente estas
verdades tinham sido demonstradas nos dias de Daniel, mas eram igualmente válida para o
NOTAS
3. Ibid., p.278.
DANIEL 7
INTRODUÇÃO
passa a guiar seus leitores através dos vários episódios na história da salvação até à
inauguração do reino eterno de DEUS. A visão de Daniel agora volta-se para o futuro, e
particularmente aquela parte do futuro que futuro a Igreja mais diretamente. Da vasta tela
da história apenas alguns pontos são focalizados por causa de seu interesse religioso. A
soberania divina e a liberdade humana aparecem entretecidas num magnífico gobelino que
aeternitatis. Como alguém que tinha acesso ao conselho de DEUS (Jer. 23:18, 22), e
somente este acesso conferia autoridade ao profeta, ele delineia o futuro do ponto de vista
do céu, de tal modo que acontecimentos chaves na terra são vistos como a repercussão de
político. Todos eles têm sua conotação religiosa. Cada profecia indicará que DEUS é
soberano, que a história marcha rumo ao alvo de Sua própria escolha. O tema dominante é
perseguição em mãos de poderes demoníacos, é a eles que afinal será dado o reino eterno
centraliza toda obra da salvação, ao passo que o cap. 9 revela aquele aspecto do plano da
redenção pelo qual o termo final seria posto ao pecado, e a justiça eterna seria estabelecida
em definitivo (v. 24). Os cap. 10 e 12 constituem uma grande visão com um prólogo (cap.
10) e um epílogo (cap. 12) do qual o clímax é a ressurreição dos santos mortos para a vida
eterna (12:2).
A Perspectiva do Tempo
num grande "dia do Senhor". Num oráculo referente à Babilônia Isaías juntou a destruição
daquele império com o fim do mundo. Ver particularmente Isa. 13:6-13 com sua conotação
depois do exílio em Babilônia como introduzindo um novo céu e uma nova Terra. À maior
parte dos profetas não lhes foi dada a percepção de que longos intervalos de tempo
derramamento de Espírito precede sem outra "o grande e terrível Dia do Senhor". Ageu
Messiânica (2:6-9). Mal. 3:1-5 equaciona a primeira vinda de Cristo com o julgamento final.
pergunta que fizeram a Jesus antes de Sua ascensão: "Senhor, será este o tempo em que
restaures o reino a Israel ?" (AT. 1:6). No tempo em que escreveu a primeira epístola aos
tessalonincenses Paulo parecia esperar a vinda de Cristo em seus próprios dias (I Tes.
4:13-17). Somente em II Tes. 2:1-4 ele esclarece que a apostasia deve preceder o dia da
volta de Cristo.
ter sido o desígnio divino não fazer a Igreja imediatamente cônscia do longo tempo que
decorreria antes da vinda de Cristo. Fazê-la consciente teria sido muito doloroso para a
na história da redenção podiam ser percebidos como separados por intervalos mais ou
exílio por um intervalo de 483 anos. No livro do Apocalipse a perseguição da Igreja pelo
Anticristo é vista estender-se sobre um período de 1.260 dias proféticos, isto é, 1260 anos
a mão da Providência. Pois estes dois livros suprem um senso de perspectiva na visão
profética do futuro como nenhum outro livro no canon. Não fosse pelas profecias de Daniel
7,8 e 9 e Apocalipse 11,12 e 13, a Igreja não saberia onde se encontra no curso da história.
(vv.2-14), e sua interpretação (vv.15-27). A visão por sua vez pode ser dividida em duas
primeira pergunta de Daniel seguida pela breve explicação do anjo (vv.15-18), e a segunda
Verso 2 a Visão é altamente simbólica, mas a maior parte dos símbolos já tinha
sido usada por um ou outro dos profetas clássicos, e muitos deles são interpretados no cap.
Ezequiel descreve o ataque de muitas nações contra as montanhas de Israel nos termos
seguintes: "Então subirás, virás como tempestade, far-te-ás como nuvem que cobre a terra,
tu e todas as tuas tropas"(Ez.38:9). A luta perpétua entre as nações por um lugar debaixo
do sol é comparada por Isaías com o bramido do mar e o rugido de suas "impetuosas
águas" (Isa.17:12-13). Em Apo. 17:15 as "águas" são interpretadas como "povos, multidões,
nações e línguas". É claro, então, que os "4 ventos do céu" que "agitavam o grande mar"
(v.2) constituem um símbolo apropriado dos choques militares entre as nações em sua luta
como "4 reis que levantarão da terra". No v. 23 o quarto animal é interpretado como o
quarto reino da terra, o qual será diferente de todos os reinos. É evidente, então, que os 4
animais representam 4 reinos que exercerão domínio universal por um tempo, do mesmo
Verso 4 "O primeiro era como leão, e tinha asas de águia". O leão que errava
compara Babilônia a um leão (Jer. 4:7 e 50:17). Ezequiel a compara a uma águia (Ez.17:3 e
12).1 A combinação de leão e águia era um motivo comumente usado na arte de Babilônia.
Estátua de touros e leões alados costumavam guardar a entrada dos palácios na Assíria. A
estátua de um leão de basalto foi desenterrada perto das ruínas de Babilônia e pode ser
O arrancar das asas do leão e a perda do seu caráter bestial parecem apontar
sintomas de decadência militar eram visíveis muito tempo antes do colapso do poderio
Verso 5 O segundo animal era como um urso. Como o leão estava em casa nas
planícies da Mesopotâmia, assim o urso tinha seu habitat nas montanhas da Pérsia. Os
traços de crueldade e voracidade do urso são atribuídos aos medos em Isa. 13:17 e 18.
Mesmo se a aptidão do símbolo nos escapa, é claro nas páginas da história que a Medo-
Pérsia seguiu à Babilônia como a potência que dominou o mundo conhecido de então o fato
do urso se ter levantado sobre um dos seus lados parece apontar para o fato de que
fato que os medos foram os primeiros em se organizar num reino unido e a manter a Pérsia
em vassalagem. Mas com a vitória de Ciro II em 550 a.C. as mesas se inverteram, e desde
Babilônia em 539 a.C., e o Egito em 525 a.C. A estes outros territórios menores foram
leopardo é conhecido pela sua rapidez e agilidade. Sua rapidez é realçada pela presença
conquistas. Com a morte de seu pai Filipe da Macedônia, em 336 a.C., Alexandre, com
Grânico em 334. Toda a Ásia menor caiu em suas mãos em questão de meses. A segunda
grande batalha foi travada em Isso, em 333 a.C., e a despeito da superioridade numérica do
exército persa, sob o comando de Dario III, este sofreu uma derrota ignominiosa diante do
exército greco-macedônico muito mais aguerrido. Esta vitória foi seguida pela conquista de
Damasco, onde se achava parte do tesouro persa, e então pela conquista de Arvade,
Sidon e Tiro, privando assim os persas de seus portos na Fenícia. No Egito Alexandre foi
saudado como libertador do país da opressão persa. Sem perder tempo Alexandre voltou
para a Ásia, atravessou os rios Eufrates e Tigre, e enfrentou os exércitos de Dario III pela
última vez em Arbelas (Gaugamela), não longe da antiga Nínive, em 331 a.C. A derrota do
inimigo foi tão completa que Alexandre não teve dificuldade em conquistar as cidades de
Babilônia, Susã, Persépolis e Ecbatana em rápida sucessão. Nos anos seguintes seu
exército penetrou através d território inimigo até a fronteira da Índia. Nunca tanto território foi
cabeças do leopardo. Estas encontram seu paralelo nos 4 chifres do bode peludo de Dan.
8:8, 21 e 22, o qual é interpretado pelo anjo como sendo o reino ou rei da Grécia, e os
quatro chifres simbolizando os 4 reinos que o sucederam. A questão a ser decidida agora é
generais de Alexandre. A decisão foi feita pela batalha de Ipso em 301 a.C., na qual
Antígono perdeu a vida. Como resultado dessa batalha o Império de Alexandre foi
recebeu a Macedônia; Lisímaco ficou com a Trácia e uma parte da Ásia Menor, e Seleuco
herdou a parte oriental do Império, incluindo partes da Síria e da Ásia Menor. O poderio
destes reinos e suas fronteiras respectivas variaram durante os séculos, mas grosso modo
o símbolo das "quatro cabeças" é bem apropriado para descrever as várias partes do
Dan. 2. O avanço inexorável dos exércitos romanos encontra eco na frase, "devorava e
fazia em pedaços, e pisava aos pés o que sobejava". Esta descrição é muito parecida com
a do cap. 2, "como ferro quebra todas as cousas, assim ele fará em pedaços e esmiuçará"
(v.40).
Em vista do paralelismo que salta aos olhos nas profecias dos cap. 2, 7 e 8, a
interpretação dos sucessivos impérios deve ser coerente. Se no cap. 2 a cabeça de ouro é
seguinte, a saber a Medo-Pérsia (v.20), e este por sua vez é sucedido pelo império da
Grécia (v.21), segue-se que nestes 3 capítulos o quarto império deve ser Roma. O desejo
de escapar desta conclusão inspira-se não numa exegese objetiva do texto, mas no
conceito que um escritos do segundo século nada podia saber quanto ao futuro papel de
Roma. Em resposta a esta objeção, poder-se-ia dizer que ao passo que é apropriado falar
Alexandre em 4 partes, seria contrário aos fatos dizer o mesmo do Império Persa. Nunca se
dividiu em 4 reinos como a profecia de Dan. 8:22 prediz da Grécia. Além disso, se o
leopardo representa a Grécia, como comentaristas liberais mantêm, o quarto animal teria 10
chifres de acordo com Dan. 7:7 e 4 de acordo com 8:22. Seria uma maneira altamente
tado como a Grécia, e o quarto como Roma. Isto corresponderia à ordem história dos
grandes impérios, Babilônia, Medo-Persia, Grécia e Roma, na qual não há lugar para um
império medo fictício.
desmembrou sob o impacto das invasões bárbaras. Com o rolar dos séculos o foco de
atenção na profecia muda gradualmente do oriente para o ocidente, do mesmo modo que o
se torna cada vez mais clara. Este verso marca de fato uma transição de considerações
que é o assunto do resto do capítulo. Como já foi observado, o livro de Daniel é acima de
tudo um livro religioso. Sua mensagem é antes de tudo uma mensagem religiosa. O
teológicas.
nações surgiu "outro pequeno". A caracterização deste chifre como pequeno deve ser
explicada por seu caráter anti-religioso. Seu papel, porém, é muito importante, pois recebe
mais atenção do que qualquer outro aspecto da visão. Este chifre é dito possuir "olhos,
como os de homem, e uma boca que falava com insolência". Os olhos sem dúvida denotam
inteligência e sagacidade. A partir da informação suplementar que é dada nos vv.20 e 21, e
da interpretação nos vv.24 e 25, é manifesto que este chifre representa uma potência
cena de julgamento é descrita. Em harmonia com seu conteúdo sublime, estes versos
foram escritos em forma poética. O tribunal celeste é presidido pelo "Ancião de dias". Esta
descrição recorda textos como: "Antes que os montes nascessem e se formassem a terra e
é a tua habitação, e por baixo de ti estende os braços eternos". Uma visão do Deus inefável
sentado no Seu Trono é descrita em Ez.1:26-28. O profeta Micaías descreve a corte celeste
em termos semelhantes: "Vi o Senhor assentado no seu trono, e todo o exército do céu
estava junto a ele, à sua direita e à sua esquerda" (I Reis 22:19). À vista da riqueza de
como a fonte de onde simbolismo foi extraído. Afinal Daniel não estava compondo uma
peça literária, mas descrevendo o que viu em visão. Se paralelos devem ser procurados,
estes devem ser nos escritos dos profetas que enchiam a memória do escritor, e não na
mitologia pagã.
nos céus se encontra em textos como Exodo 32:23; Sal.56:8; Mal.3:16, etc. Esta visão da
corte celeste é um lembrete de que homens e nações deverão comparecer um dia diante
tempo de suas proezas escritas em sangue, mas o Juiz de toda a terra os chamará um dia
(Ecl.12:13,14).
animal, mas sua execução se realiza nesta terra. Embora o "chifre" persistisse em sua
atividade insultuosa enquanto o tribunal celeste estava em sessão, sua destruição final é
certa. O anúncio de que o "animal foi morto" é prolético. Antecipa-se aqui a sentença que no
na mente de muitos leitores: "Que aconteceu com os outros animais ?" A resposta é que
quanto aos outros animais seu domínio já tinha sido tirado, à medida que cada um foi
superado pela potência mundial seguinte. O aramaico perfeito é melhor traduzido aqui pelo
mais-que-perfeito, de acordo com o contexto, "quanto aos outros animais, seu domínio tinha
sido tirado". Mas embora cada animal tivesse sido suplantado pelo seguinte, "foi-lhes dada
prolongação de vida por um prazo e um tempo". Na transição de uma entidade política para
outra nunca se dá uma exterminação total da população em causa, nem há perda total das
seguinte.
confere um reino que jamais será destruído. Em vista do fato que Cristo assume para Si o
título "Filho do homem" em passagens escatológicas como Mat. 24:27, 30, 39, 44; 25:31;
26:64, não resta dúvida que a cena descrita em Dan. 7:13-14 refere-se ao fato de Cristo
receber o reino antes da Sua vinda a esta terra na consumação dos séculos. Que Cristo
deve receber o reino antes de voltar a esta terra é indicado na parábola de Luc. 19:11-27. Aí
Cristo fala de "certo homem nobre" - evidentemente uma referência a Si mesmo - que
"partiu para uma terra distante, com o fim de tomar posse de um reino, e voltar" (v.12). A
parábola continua no v. 15: "Quando ele voltou depois de haver tomado posse do reino..." É
claro,pois que quando Cristo voltar a esta terra, Ele terá recebido o reino. Pouco importa se
a parábola foi sugerida por um acontecimento histórico real, como por exemplo, o fato de
tanto Herodes I como seu filho Arquelaus terem ido à Roma para serem confirmados reis. O
em Dan. 7:9-10 e 13-14. Não há dúvida de que o elemento mais importante de um reino
são os súditos, e não o território sobre o qual o rei exercerá sua soberania. O Tribunal
Celeste não decide o direito de Cristo receber o reino. Este direito Cristo adquiriu por Sua
morte sobre a cruz (Ap.5:9). O que o tribunal celeste deve determinar é quem terá direito a
ser um súdito do reino eterno de Cristo (Ap.22:14). Esta questão de suma importância deve
ser decidida na base do que está escrito nos livros (Dan. 7:10 Ap. 20:12). Nomes
registrados no "Livro da Vida" podem ser apagados (Ap.3:5). Somente aqueles que
perseverarem até o fim serão salvos (Mat.24:13). Há muitos que começam bem a jornada
do cristão, mas que no final vêm "a naufragar na fé" (I T Segue-se do que acaba
de ser dito que, ao receber o reino, o Filho do homem recebe o rol dos santos que
constituem o reino. São Seus troféus e Sua glória; foram resgatados para DEUS pelo
"sangue de Cristo", homens "de toda tribo, língua, povo e nação" (I Ped. 1:18, 19 e Apoc.
5:9). O elo lógico entre o julgamento de Dan. 7:9-10 e a entrega do reino ao filho do homem
é este: o julgamento decide quem são os súditos que constituem o reino que é dado a
Cristo. Ao receber os "filhos do reino", Cristo recebe o reino. Salientemos uma vez mais que
o tribunal divino não determina os méritos de Cristo para receber o reino, mas as
se o reino é dado a Ele, ou aos Santos do Altíssimo. Uma vez que se reconhece que os
santos são "co-herdeiros com Cristo", o dilema desaparece (Rom. 8:17). Com efeito Daniel
não faz distinção entre o Filho do homem receber o reino (v.14) e os santos receberem o
reino (vv.18, 22 e 27). Em conseqüência Cristo pode saudá-los no final dizendo: "Vinde,
benditos de meu Pai! Entrai na posse do reino que vos está preparado desde a fundação do
mundo" (Mat.25:34)
Alguns comentaristas pretendem que o ser designado por "um como o Filho do
reinos deste mundo. Não é nada provável que este contraste entre "animais" e "homem"
desempenhasse qualquer papel na escolha que Daniel fez dos símbolos. Afinal de contas, o
Filho do homem não é símbolo de um reino celeste, mas recebe do Altíssimo um reino
celeste.
desse uma interpretação sobrenatural dos momentos críticos na grande controvérsia entre
a luz e as trevas. Como outros comentários no livro mostram, o profeta sempre sofria
fisicamente e emocionalmente o efeito dessas visões (7:28; 8:27; 10:8, 16 e 18). Mas nada
impede que ele peça a um dos anjos presentes o significado das cousas que acabava de
ver. A réplica é extremamente breve, e aparentemente não continha mais do que o vidente
podia suportar naquele momento. O anjo explica que os 4 animais representam 4 reis
cuja aparência retorna à sua mente com pormenores adicionais. Os versos 2 a 8 continham
apenas um esboço muito breve da história universal. O profeta recorda agora pormenores
que escaparam à sua atenção da primeira vez. A ponta que tinha "olhos com os de homem,
e uma boca que falava com insolência" é vista fazer guerra aos santos e prevalecer sobre
eles (v.21). A cena do julgamento também se lhe torna mais clara. Os santos podem sofrer
perseguição da parte da ponta pequena, mas se lhes assegura que no tribunal divino
sentença será pronunciada a seu favor, e que afinal eles receberiam o reino, reino este que
jamais passará (v.22). É preferível ler com o aramaico, "o Ancião de dias tomou Seu lugar"
no tribunal celeste, em vez de simplesmente "veio". Trata-se neste verso de se fazer justiça
aos santos, e não de entregar o julgamento aos santos. de acordo com o Novo Testamento
somente depois de sua própria vindicação é que aos santos se dá o poder de julgar o
A guerra movida pelo chifre pequeno aos santos é antes de tudo uma guerra
seu caráter e de sua crença. Com efeito o,primeiro dever dos inquisidores era demonstrar a
natureza herética das crenças e práticas dos acusados. Seu caráter cristão era posto em
pequeno, mas ter verdadeiro caráter vindicado. A corte celeste preocupa-se com
estabelecer o caráter dos acusados, e assim manter o direito dos santos, em vista de sua
relação com Cristo, à sua herança eterna. Àqueles que são aprovados no tribunal celeste
"foi dada uma vestidura branca" (Ap. 6:11). A vestidura branca é definida em Ap. 19:8 como
"os atos de justiça dos santos", ou simplesmente como "a justiça dos santos". O que
designado como "o acusador de nossos irmãos, o mesmo que os acusa de dia e de noite,
diante de nosso DEUS". O direito do crente de herdar a vida eterna é contestado por
Satanás, e precisa ser defendido por Cristo. Esta contestação se efetua no tribunal celeste,
julgamento que precede o advento tem-se prolongado por tantos anos. Em vista das
desmerecimento de cada santo. Mas todo crente sincero pode descansar no fato que
intérprete angélico prossegue com uma explicação mais pormenorizada do quarto animal e
dos dez chifres: "O quarto animal será um quarto reino na terra". Este verso, como já visto,
fornece a chave para a interpretação dos outros animais: eles simbolizam reinos. O quarto
animal, o Império romano, foi "diferente de todos os reinos" sobre tudo por causa de seu
poder irresistível, "devorará toda a terra e a pisará aos pés, e a fará em pedaços, e por
causa de sua maior coesão interior, que lhe permitiu dominar o mundo durante mais de
meio milênio. Outro traço característico é que este animal possuiria dez chifres, que
A atenção converge a seguir sobre o décimo primeiro chifre, que seria diferente
dos primeiros e abateria a três reis. Os reformadores e os intérpretes, em geral, até o final
do séc. XVIII, não tinham dúvida de que este chifre simbolizava Roma Papal, a qual,
diferente de outras potências, exercia tanto autoridade política como religiosa. Os 3 reis que
seriam abatidos a fim de abrir caminho para o papado foram os reinos arianos dos hérulos,
vândalos e ostrogodos. Enquanto estas potências arianas eram influentes, o papado não
que arrogaria para si títulos e prerrogativas que pertencem a DEUS somente. Paulo deve
ter tido em mente o mesmo poder, quando descreveu a apostasia que ocorreria na Igreja
num futuro tão distante (II Tes.2:4-12). João no Apocalipse também se refere a uma "besta"
que proferia arrogâncias e blasfêmias (Ap. 13:5). A linguagem é quase idêntica a de Daniel
7.
A extensão das pretensões papais é ilustrada pela encíclica ditada pelo Papa
Leão XIII, em 10 de janeiro de 1890, na qual afirma que "o pedagogo supremo na Igreja é o
Pontífice
romano. A união das mentes, portanto, exige... completa submissão e obediência voluntária
rum...Collectio, 32:761).
santos do Altíssimo, e isto por "um tempo, dois tempos e metade de um tempo". O papado
admite ter perseguido os hereges, e defende o ato como um exercício legítimo de sua
hussitas, lolardos e aderentes da Reforma no Países Baixos, Espanha, Itália, França, etc.,
ver O conflito dos Séculos, cap. 4, 5 e 6. Quanto à legitimidade da Inquisição que resultou
Católica diz: "Na bula 'Ad extirpanda' (1252) Inocêncio IV declara: 'Quando aqueles julgados
culpados de heresia tiverem sido entregues ao poder civil pelo bispo ou seu representante,
dúvida sobre que regras civis se tem em mente, porque as passagens que ordenam
queimar os hereges impenitentes foram inseridas nos decretos papais das constituições
VIII (1294-1303), e outros. As autoridades civis, portanto, eram ordenadas pelos papas, sob
fogueira".3
período de supremacia papal, quando sua autoridade na Europa estava no auge. Ap. 12:14
parece referir-se aos mesmo eventos, pois aí é dito que o dragão, a saber Satanás, por
intermédio de potentados terrestres, perseguiria a Igreja também por "um tempo, tempos e
metade de um tempo". O mesmo período aparece em Ap. 12:6 como "mil duzentos e
sessenta dias", e em Ap. 13:5 como "42 meses". Como 42 meses de trinta dias fazem 1260
dias, é óbvio que todas estas profecias se referem ao mesmo período. Compreende-se de
igual modo, que um tempo significa um "ano" de 360 dias. Daí resulta que o período de um
ano, mais dois anos, mais meio ano de Dan. 7:25 corresponde a 1260 dias. Como a
profecia é escrita em linguagem simbólica, é razoável supor que o termo "dias" seja aqui
meio, seria irrisório considerando o vasto intervalo de tempo coberto por estas profecias.
Basta dizer que os vários impérios que aparecem neste capítulo exerceram seu poder
durante vários séculos. E se esta profecia, como seu paralelo no cap.2, deve atingir o final
da história, quando DEUS estabelece Seu eterno reino, então o período de 1260 dias deve
ser interpretado em termos de um dia por um ano, como vários textos bíblicos o sugerem
SDABC, vol IV, pp. 834, 835. Para a validade da equivalência dia-ano em matéria de
interpretação profética ver William H. Shea, Selected Studies of Prophetic Interpretation, pp.
56 a 85.
Muitos dos antigos intérpretes protestantes viam o começo do período dos 1260
anos em 538 a.D., quando os Ostrogodos foram forçados a levantar o cerco de Roma,
quais foram abatidos um após o outro, deixando o papado livre para estender sua influência
sobre áreas cada vez maiores na Europa. Esta influência foi grandemente cerceada pela
obedecendo ordens do Diretório em Paris, prendeu o Papa Pio VI, enviando-o para o exílio
em Valência na França, onde morreu dois anos depois.4 Embora outro papa fosse eleito em
1800, grande foi a perda de prestígio para o papado. Quanto aos pormenores da ascensão
detalhes desta profecia seja dificilmente atingível, é claro que o tribunal celeste terá a última
palavra, e que uma sentença de morte será pronunciada sobre a potência que oprimiu os
santos nesta terra. "O tribunal, o mesmo tribunal descrito nos vv. 9 e 10, "se assentará",
Altíssimo". Serão declarados dignos de serem súditos do reino de DEUS, e pela mesma
razão se tornarão co-herdeiros com Cristo do "domínio eterno" que lhe será concedido pelo
celeste dada nos vv. 9-14. Além disto, o v. 26 nos permite deduzir que o tribunal divino entra
em sessão algum tempo depois do período da supremacia papal. É interessante notar que
o meio deste longo período coincide com o zenite do poder papal durante o pontificado do
papa Inocêncio III (1198-1216), que foi o promotor da cruzada contra os albigenses no sul
NOTAS
1. Ver S. H. Langson, "Semitic Mithology", The Mithology of all Races, vol 13, pp. 118, 177-
282.
Sibilinos, X, 414, e por Josué ben Levi. Ver G. F. Moore, Judaísmo, Vol II, p.335.
3. Joseph Blotzer, art. "Inquisition", The Catholic Encyclopedia, Vol VIII, citado no SDABC,
4. L. Von Ranke, History of the Popes, Vol II, tr., pp. 458-9.
DANIEL 8
data corresponde a c.550/549a.C., que acontece ser o mesmo ano em que Ciro revoltou-se
contra seu sogro Astíages da Média, e uniu-se os dois reinos sob um só cetro.
Verso 2 Daniel é transportado em visão para Susã, outrora capital de Elão, mas
que tinha sido incorporada no território da Pérsia. Isto é significativo porque a visão omite os
últimos anos do decadente império babilônico, e focaliza a atenção nos acontecimentos que
Próximo. No final da visão Daniel se encontra de novo em Babilônia, tratando "dos negócios
do rei" (v.27). Não há razão, pois, para imaginar que Daniel se jubilara depois da morte de
Nabucodonozor.
monarquia unida da Média e Pérsia. "Reis" e "reinos" se equivalem tanto neste capítulo
como no cap. 7. Assim os 4 chifres que brotaram no lugar do "grande chifre" são
interpretados como 4 reinos (v.22 u.p.). A profecia não está lidando com reis individuais,
mas com entidades políticas maiores e mais duradouras. A única exceção a esta regra é o
"chifre grande" do "bode peludo", que é dito ser "o primeiro rei", isto é, Alexandre o Grande.
O mais alto dos dois chifres do carneiro deve simbolizar a Pérsia que de fato só atingiu
importância militar depois da Média. Embora a Média se constituísse como nação primeiro,
Verso 5 A rapidez com que Alexandre à testa das falanges macedônicas veio
notável" do carneiro é interpretado no v.21 como sendo o "primeiro rei", evidentemente uma
Versos 6 e 7 Assim como o carneiro não podia competir em força com o bode,
os exércitos persas não estavam à altura dos exércitos greco-macedônicos sob o comando
o Grande ou qualquer dos seus sucessores. A Alexandre não foi dado, porém, desfrutar por
muito tempo os frutos de seu esforço hérculeo. Sua morte inesperada quando ainda não
tinha completado 33 anos pôs termo a sua carreira brilhante. O desmembramento de seu
império em 4 reinos é bem descrita neste verso. Verificar a interpretação no v. 22. Para
controvérsia pela explicação detalhada dada pelo anjo nos vv. 20-22. A unanimidade dos
então o chifre dos vv. 9-12 que surge depois da visão do Império de Alexandre só pode
simbolizar Roma. Deve-se admitir que a maior parte dos comentadores do séc. XX vê neste
"pequeno chifre" um símbolo de Antíoco Epifânio (175-163 a.C.), em sua tentativa fútil de
acabar com os costumes e a religião dos judeus. Mas ao fazê-lo os comentadores ignoram
o paralelismo entre os cap. 2, 7 e 8, os quais sem exceção cobrem todo o tempo que vai de
Daniel até ao final da História. O sonho do cap. 2 atinge o clímax quando DEUS suscita "um
reino que jamais será destruído" (v.44). A visão do cap. 7 culmina com a vindicação pelo
tribunal celeste do "povo dos santos do Altíssimo", a quem afinal um reino eterno é dado
(v.27). O cap. 8 reconta as atividades sacrílegas de uma certa potência contra o povo de
DEUS, a verdade de DEUS e o santuário celeste, mas no desfecho da história este poder
"será quebrado sem esforço de mãos humanas" (v.25). A linguagem deste verso recorda a
pedra "que do monte foi cortada... sem auxílio de mãos", a qual provoca o fim catastrófico
Se Cristo viu "o abominável da desolação" de Dan. 8:13, 11:31 e 12:11 encontrar
cumprimento em seus dias (Mat. 24:15ss.), não há razão que nos obrigue a interpretar o
"chifre" de Dan. 8:9 ss., como símbolo de Antíoco Epifânio, como se ele fosse o objeto
principal desta profecia. É verdade que "muitos anticristos têm surgido" (I João 2:18), e
Antíoco IV bem pode ter sido um deles. Mas há razões poderosas para não limitar o
poderes, e não reis individuais (ver v.22). Antíoco IV era apenas um na longa lista de reis
selêucidas, e de modo algum o mais ilustre. General muito mais competente que Antíoco IV
foi seu pai Antíoco III, que conseguiu arrancar a Palestina das mão dos Ptolomeus depois
engrandeceu ou "se tornou muito forte para o sul, para o oriente e para a terra gloriosa"
(v.9), ou que prosperou em seus empreendimentos (v.12). Não conseguiu conquistar o sul -
o Egito - de modo permanente. Com efeito, em sua segunda campanha contra o Egito em
168 a.C. foi obrigado pelo embaixador romano Pupilius Laenus a abandonar o Egito, ou
empreender uma guerra em Elão, em 163 a.C., foi frustrado em seus planos e morreu logo
depois, deixando seu reino em desordem.1 Tão pouco teve êxito em sufocar a revolta dos
sul, anexou toda a Ásia Menor, Síria e Mesopotâmia no Oriente, e colocou "a terra gloriosa"
Digno de nota é o fato que do mesmo modo que em Dan. 7:9 ss. o foco de
atenção é transferido da terra para o céu, o mesmo ocorre em Dan. 8:14 e seguintes. Deste
(conferir com o v.24). Ao perseguir a igreja Cristã nascente, Roma estava, com efeito,
fazendo guerra ao "exército dos céus". Ao perseguir os membros da Igreja Cristã, Paulo
segundo G. Hasel2, a transição de Roma pagã para Roma papal. Para A. Lacocque, com a
pertenciam a Cristo e a nenhum outro. Ver o v.25 onde o "príncipe do exército" é chamado
"príncipe dos príncipes". Em Ap. 19:16 Cristo é chamado "Rei dos Reis e Senhor dos
importância capital nesta profecia. Hattmid refere-se primariamente aos holocaustos que
eram oferecidos, sem interrupção, cada manhã e cada tarde, no Santuário, e que
intercessão eram feitas a favor de Israel pelo sacerdote oficiante. Em tipo apontava para o
O ato de deitar abaixo "o lugar de seu santuário" aponta para o fato que a
própria existência de um santuário celeste, onde Cristo atua como Nosso Sumo-Sacerdote
e único Mediador, seria ignorada durante séculos a fio. Quanto ao significado vital desta
mediação e intercessão ver I Tom. 2:5; Heb. 7:25 e 8:1-2. Tão indispensável tornou-se a
missa e mediação sacerdotal na terra que não havia lugar na teologia católica para o
santuário celeste.
Diga-se de passagem que Antíoco Epifânio nunca deixou por terra o Templo em
Jerusalém, como a profecia específica. O que fez foi profaná-lo e isto durante o período de
cerca de três anos. Neste ponto, como em muitos outros, ele não satisfez a descrição
profética.
Verso 12. O "exército" é interpretado no v.24 como sendo "o povo dos santos".
Permissão divina para a entrega do "exército", isto é para a perseguição dos santos,
que constitui o coração do evangelho (Heb.7:25).4 É este ministério que torna efetivo na
experiência do crente individual o sacrifício oferecido por Cristo na Cruz. Ao passo que a
morte de Cristo na cruz efetuou expiação pelos pecados "do mundo inteiro"(I João 2:2), é
Sua obra mediatória que torna esta expiação significativa para o indivíduo quando ele
efetiva para o crente individual a expiação histórica obtida na cruz a preço infinito. É
compreensível porque esta verdade vital se tornaria o objeto dos mais acerbos ataques do
anticristo.
quando...?" O espetáculo deste conflito prolongado contra o povo dos santos e as verdades
Verso 14. A resposta dada por outro anjo marca o ponto culminante de toda a
visão: "Até duas mil trezentas tarde e manhãs, e o santuário será purificado."
(passiva) do verbo tsadag. O significado primário de tsadag é "ser justo ou reto", e como
para encontrar a melhor maneira de expressar seu significado aqui. A Septuaginta traduziu-
o por Katarizesthai, "será purificado", que é adotado na Versão de Almeida . Esta tradução
tem muito a seu favor. Outros tradutores influenciados pela afirmação no v.11 de que o
santuário seria "lançado abaixo" acharam melhor traduzir o verbo por "restaurar", "vindicar",
ou expressão equivalente. Se o v.14 tem ligação com o ritual do dia da expiação, Yôm
Kippur, como parece provável, então o verbo "purificar" seria uma tradução apropriada. Um
dos propósitos daquele ritual era de purificar o santuário da impureza ali acumulada durante
o ano decorrido toda vez que o povo confessava seus pecados e trazia o sacrifício
contaminava(Lev.4:6 e 17). Se o sangue do sacrifício não era aspergido sobre o véu, então
parte da carne do sacrifício era comida pelo sacerdote oficiante, e deste modo também o
todo israelita era determinada. Como a purificação do santuário terrestre significava garantia
de salvação para todo israelita sincero, de igual modo a purificação do santuário celeste
significa que a aptidão dos santos para o reino de Cristo está sendo determinada na base
está sob uma nuvem até que o problema do pecado seja finalmente liquidado, e que os
caminhos do Senhor sejam reconhecidos como justos e verdadeiros por todos os remidos.
Deus. Quando o pecado for finalmente removido do santuário celeste pelo processo
judiciário indicado em Dan.7:9-10 e 13-14, então o santuário brilhará de novo em sua glória
original. Com o rol dos remidos completado pelo tribunal celeste, Cristo recebe o reino, e
"aparecerá segunda vez, não para lidar com pecado, aos que o aguardam para a salvação"
(Heb.9:28, corrigido).
feita aos santos pelo quarto império, Roma imperial, ou seu herdeiro o papado. No cap. 7 a
potência hostil profere "palavras contra o Altíssimo" (v.25); no cap. 8 a mesma potência se
tempos e a lei", no cap. 8 a verdade é lançada por terra (v.12). No cap. 7 "um como o Filho
do homem", vem ao Ancião de dias e recebe o reino (versos 13 e 14). Um reino sem súditos
nada significa. Os súditos do reino eterno são determinados pelo tribunal celeste, quando
As "duas mil e trezentas tardes e manhãs" significariam antes de mais nada dois
mil e trezentos dias. Levados pela opinião preconcebida que o tema principal dos cap. 7 e 8
tem que ver com as atividades hostis de Antíoco Epifânio contra a religião judaica, muitos
comentadores se inclinam a introduzir tamid dos vv. 11,12 e 13. Em seguida assumem
tarde. Racionando, então, que havia dois tamid por dia, o período profético acima é
interpretado como 1150 dias, durante cujo tempo os sacrifícios no Templo teriam sido
suspensos nos dias de Antíoco Epifânio. Nos parágrafos seguintes chamamos atenção para
freqüentemente associado com olah, "holocausto", assim olat hattmid, geralmente traduzido
como "holocausto contínuo ou perpétuo"(Ex.29:42; Num.28:6,9,15, etc). Como resultado
desta associação constante das duas palavras, hattmid tornou-se parte do jargão sacerdotal
para designar o holocausto de dois cordeiros, dia após dia, um de manhã e outro à tarde
(Núm.28 versos 2-6). Deve-se notar, porém, que hattmid designava dois sacrifícios juntos, e
não cada u separadamente. São vistos como formando um só sacrifício composto de duas
um cordeiro, de manhã e à tarde, juntos designados pelo singular 'olat hattamid, nunca
imaginam que o tamid de Daniel 8 significava apenas um dos dois holocaustos oferecidos
regularmente cada dia. Dai era fácil saltar à conclusão que 2300 tamid significavam 1150
dias. Além disto deve-se notar que o termo tamid não se encontra no v.14, mas é nele
poderia ser derivada da linguagem do culto, pois nesta a ordem "manhãs e tardes" é
observada sem exceção.5 Neste caso não podia se referir aos holocaustos, e menos ainda
ao hattamid. Uma vez que não pode ser derivada da linguagem do culto, a expressão
Não há, pois, razão para ler "1150 dias" no v.14. A expressão de tempo só pode
significar 2300 dias. E como estamos lidando com linguagem simbólica, os 2300 dias
devem ser interpretados como 2300 anos, em harmonia com outros períodos proféticos no
livro de Daniel. Como estas profecias se estendem dos dias de Nabucodonosor até ao
estabelecimento do reino eterno de Deus, um período de 2300 dias literais parece incon-
com o imenso panorama que se abre nestas profecias. Assim compreendido os 2300 anos
constituem o mais longo período referido nas profecias de Daniel e do Apocalipse. Como
não é indicado neste capítulo o acontecimento que marca o início deste longo período
profético, é razoável supor que ele seria o objeto de outra revelação num capítulo
subseqüente.
Versos 15 e 16. O tempo hebraico para "visão" no v.13 é hazon, o mesmo termo
que aparece nos vv.2 e 2. É evidente que a "visão" que Daniel procura compreender
abarca o conteúdo dos vv.2-14, e não se limitava de forma nenhuma à porção relacionada
visão. Segue-se a pergunta feita no v.13: "Até quando durará a visão...?" abarca toda a
O anjo encarregado de dar a Daniel compreender a visão foi Gabriel. Aqui pela
primeira vez nas Escrituras é o nome de um anjo dado. Mas somente aqui e em 9:21 é o
nome de Gabriel pronunciado. Esta sobriedade no uso de nomes de anjos contrasta com a
pléotora de nomes dados aos anjos pelos apocaliptistas do segundo século A.C. em diante.
Verso 17. A aparição angélica enche a Daniel de pavor. Como Ezequiel seu
contemporâneo, Daniel é também adereçado pelo título "filho do homem", que sublinha
tanto a nulidade do homem como um ser mortal, como sua dignidade como agente moral
livre. Para começar Daniel é convidado a entender que a visão "se refere ao tempo do fim".
Bastava compreender este fato para que sua mente ficasse tranqüila.
Versos 18 e 19. O profundo sono que caiu sobre Daniel foi sem dúvida o efeito
quais Lucas diz que jesus "os achou dormindo de tristeza" (Luc.22:45). Abatido pela visão
que sugeria ainda muito sofrimento para o povo de Deus, Daniel podia encontrar no sono
um escape da dura realidade. Não era tempo para dormir, porém, mas de pôr-se de pé para
fim". De que "indignação" se fala aqui? Citando Isa. 61:1 e 2a em Seu sermão na sinagoga
de Capernaum, Jesus declarou que a humanidade vivia então no tempo "do ano aceitável
(Isa.61:2b). A indignação ou ira, então, deve ser a de Satanás, de que João no Apocalipse
afirma que "desceu até vós, cheio de grande cólera"(Apoc.12:12). Enquanto durar a
controvérsia entre a luz e as trevas, a humanidade vive no tempo da ira de Satanás, e não
de Deus. Esta ira, porém, é limitada por Deus "ao tempo determinado". O Altíssimo terá a
vv.2-8.
Verso 23. "Mas o fim do seu reinado". Isto evidentemente se refere ao tempo
quando os "quatro reinos", nos quais o império de Alexandre foi dividido, perderam
sucessivamente seu poderio, e foram absorvidos no império romano. Este fato exclui a
interpretação que faz do "rei de feroz catadura" Antíoco Epifânio. Antíoco veio ao poder no
literatura profética: em Isaías uma só vez no singual (48:8), e seis vezes no plural (1:28,
46:8: 53:12( duas vezes); Dan.8:23 e Oséias 14:9). Nunca é aplicado aos gentios. Somente
que os ligava a Deus, o texto de Isa. 53:12 é particularmente útil para esclarecer o termo. É
dito do Messias que "foi contado com os transgressores", e que Ele intercede "pelos
rejeitou a Cristo como seu rei. Ao rejeitar o Messias a quem todos os tipos e profecias
apontavam, a nação encheu a medida de sua transgressão, foi rejeitada como o povo
fatal ocorreu, abriu-se o caminho para Roma assumir seu papel de cúmplice na crucifixão
50: "O Senhor levantará contra ti uma nação cuja língua não entenderás; nação feroz de
rosto..." O sofrimento enorme que esta nação infligiria ao povo judeu lembra-nos as
linguagem muito parecida foi usada por nosso Senhor ao descrever a invasão da Judéia
pelos exércitos romanos em Mat.24:15-21. Foi em relação com esta calamidade iminente
que Ele se referiu "ao abominável da desolação de que falou o profeta Daniel". Muitos
feroz catadura" de nosso verso, símbolo do quarto império mundial. Compreende-se melhor
quão apropriada é esta descrição quando se contempla o quarto império em sua dupla fase:
secular e religiosa. Que Roma papal em muitos aspectos foi a herdeira de Roma imperial
tem sido reconhecido por muitos historiadores eclesiásticos. Assim Adolfo Harnack escreve:
décimo-primeiro chifre: "e eis que neste chifre havia olhos, como os de homem," descrição
esta interpretada como uma referência à acuidade política de Roma papal demonstrada em
suas relações com as nações da Europa. Na gíria moderna dir-se-ia que Roma entende a
Verso 24. este verso resume muito do que foi dito do quarto império mundial em
Dan.7:7-8. Roma usou seu incomparável poderio militar para esmagar as nações a seu
belprazer, bem como para destruir "o povo santo". Para este aspecto da história nada
Verso 25. "Por sua astúcia nos seu empreendimentos fará prosperar o engano".
Este é o retrato fiel da duplicidade de Roma em seu trato com seus adversários e mesmo
aliados, bem como do papado em prestar seu apoio a uma teologia que adulterou a
verdade do evangelho.
chamada "pequena"(v.9). Mas em sua fantasia se consideraria um deus na terra. Paulo sem
dúvida tinha esta passagem em mente quando descreveu a vinda do anticristo como "o
homem da iniqüidade, o filho da perdição, o qual se opõe e se levanta contra tudo que se
"Levantar-se-á contra o Príncipe dos príncipes". Esta frase bem como a anterior,
descrito nos vv.9-12 se refere á Roma em suas duas frases, imperial e papal, reconhece-se
facilmente como Roma imperial se levantou contra Jesus Cristo crucificando-O e mais tarde
perseguindo Seus discípulos, e como Roma Papal por sua teologia diminuiu o papel de
Cristo aos olhos dos crentes, exaltando a mediação de Maria e dos santos, e excomungou
"Mas será quebrado sem esforço de mão humana". Do mesmo modo que os
reinos deste mundo simbolizados pela estátua de Dan.2 foram esmiuçados por uma pedra
"cortada sem auxílio de mãos" (vv.34 e 35), assim aqui o anticristo, que em sua guerra
contra DEUS faz uso de toda potência terrestre disponível, é quebrado "sem esforço de
mãos humanas". DEUS intervém ao final para desbaratar as forças das trevas e inaugurar
Verso 26 A visão deste capítulo é referida na linguagem angélica como "a visão
da tarde e da manhã", porque o período de 2300 dias proféticos do v.14 constituem um dos
seus aspectos primordiais. A presença do artigo antes de ereb e boqer não modificam de
A ordem de selar a visão é justificada pela declaração que ela se "refere a doias
ainda muito distantes". Para os que tomam o livro de Daniel como um livro profético
autêntico, e não como uma ficção escrita no segundo século antes da nossa era, estas
palavras indicam que o pleno significado da profecia não se tornaria evidente antes do
cumprimento histórico de suas várias partes. Seu desfecho jazia ainda muitos séculos no
Verso 27 O efeito físico sobre Daniel desta visão de um longo conflito foi
deprimente. Ele "esteve enfermo durante alguns dias". O pleno significado da visão se lhe
escapava, mas a parte que ele entendeu deste conflito milenar que punha em risco a
Um olhar sobre a interpretação da visão pelo anjo deixa claro que um ponto que
não foi explicado foi o longo período do v.14. Parece provável, então, que Daniel confessa
sua falta de entendimento, ele tem em mente esta parte da visão mais que qualquer
DEUS ainda no futuro com o cumprimento iminente dos 70 anos preditos pelo profeta
Jeremias, estava além de seu alcance. O cap. 9 responderá às perguntas que agitavam sua
mente.
Observação sobre o Chifre Pequeno
símbolo de Roma alegando que o v.9 afirma que o chifre pequeno saiu "de um deles"
(assim no hebraico). O argumento gira então sobre se "deles" refere-se aos "4 chifres
notáveis", ou dos "4 ventos dos céus", do v.8. Razões gramaticais e estruturais favorecem a
opinião que o pronome "deles" refere-se aos "4 ventos".10 O significado então seria que
Roma surgiu de uma das direções do compasso. Como o verso diz que sua expansão
territorial foi na ordem, "para o sul, para o oriente, e para a terra gloriosa", segue-se que
Roma iniciou sua carreira de conquista do noroeste. Isto corresponde aos fatos geográficos,
Mas mesmo se se insiste que o "chifre pequeno" saiu de um dos "4 chifres" em
que o império de Alexandre se desmembrou, isto não constitui objeção séria à interpretação
adotada neste comentário. Roma deveu muito de sua cultura aos gregos que estavam
colonizando o sul da Itália desde o sétimo século a.C. Com efeito aquela parte da Itália foi
conhecida durante muito tempo como Magna Graecia. Interferência dos gregos com
colônias gregas, foi a causa da Primeira Guerra Macedônica. Este fato marcou o início de
uma série de guerras que levaram Roma a conquistar uma após outra as diferentes
Alguns acham difícil reconciliar a idéia de Roma como o maior dos impérios da
antiguidade com sua descrição como um chifre pequeno no v.9. Theodotion aparentemente
sentiu a dificuldade de traduzir o hebraico por um "chifre poderoso". Talvez tivesse diante
dos olhos um texto hebraico diferente. O hebraico reza literalmente, "um chifre de
eventual grandeza julgando seu começo humilde. De outro lado é possível que o adjetivo
"pequeno" tenha uma conotação moral e não física. A conduta arrogante em relação ao
Altíssimo e a Seu povo fê-la parecer "pequena" os olhos do céu. "Pequena", neste contexto,
significaria desprezível.
NOTAS
2. The Sanctuary and the Antonement, (Review and Herald, 1981), p. 188.
4. Segundo N. Porteous, Daniel, p. 186, "A verdade que é lançada por terra é a vontade de
DANIEL 9
A MISSÃO DO MESSIAS
Santuário registrada nos vv. 4-19. É digno de nota como nesta prece o pecado de Israel
restauração da comunidade judaica (conferir Ez.37:26-28). Em vista disto esta prece pode
ser descrita como uma prece de confissão de pecado tanto como uma prece de intercessão
confissão cobre todo o gama no aspecto do pecado. Israel sofreu no exílio por causa de sua
infidelidade contra DEUS (v.8), e rebelião contra Ele (v.9). Israel tinha transgredido a Lei de
DEUS e pecado contra Ele (v.11). No v.15 Daniel identifica-se com o povo pelo qual
intercede: "Temos pecado e procedido perversamente". A cólera divina foi derramada sobre
Jerusalém por causa dos pecados do povo e suas iniquidades (v.16). O profeta mesmo
resume sua prece quando a seguir escreve: "Falava eu ainda e orava, e confessava o meu
A mensagem trazida a Daniel pelo anjo Gabriel deve ser vista tanto como uma
resposta à sua prece de intercessão como uma resposta à sua preocupação como o
elemento de tempo na visão do cap. 8 que fora deixado sem explicação. Daniel encerrou o
cap. 8 com a admissão de que não havia entendido a visão (v.27), ou ao menos aquela
parte da mesma relacionada com o tempo. Por iniciativa própria procurou entendimento
Em comum com outros profetas, Daniel deve ter imaginado que a era
messiânica iria raiar ao término do cativeiro em Babilônia. Isaías e outros profetas tinham
descrito o retorno do exílio em termos tão exaltados que devia parecer a muitos que o fim
do cativeiro introduziria um novo Céu e uma nova Terra, uma ordem de cousas totalmente
novas (Isa.65:17). Seria quase impossível ler uma profecia como esta: "Nunca mais se
ouvirá de violência na tua terra, de desolação ou ruína nos teus termos; mas aos teus
muros chamarás salvação, e as tuas portas louvor. Nunca mais te servirá o sol para a luz do
dia nem com seu resplendor a lua te alumiará; mas o Senhor será a tua luz perpétua e os
dias do teu luto findarão" (Isa.60:19 e 20),e não supor que o fim do exílio inauguraria a era
messiânica.
corrigida. Numa visão profética os atos sucessivos no trama da redenção parecem ocorrer
aparentemente as visões. Permitam-me uma ilustração. Dirigir o seu carro sobre uma
planície rumo à cadeia de montanhas no horizonte distante, o motorista não tem idéia de
quantas serras se escondem uma atrás da outra. Tudo o que vê é uma montanha maciça à
distância. Somente quando ele começa de fato a atravessar a montanha é que se apercebe
de quantos vales e cadeias precisa atravessar antes de atingir a planície desobstruída além.
Daniel DEUS deliberou corrigir este mal entendido, e assim poupar aos crentes futuros
desapontamentos. É aqui que se faz ver o valor prático de profecias com o tempo marcado.
que de outro modo podia ser comprimido num grande evento final.
mesmo anjo Gabriel que é encarregado de fazer Daniel entender a visão (Dan. 8:16 e 9:21).
Como não há visão na primeira parte de Dan. 9 a visão à qual Gabriel se refere em 9:23
deve ser a do cap. 8, a qual Daniel confessa não ter compreendido (8:27). Podemos ser
mais específicos: a Parte da visão do cap. 8 não explicada por Gabriel foi a referente às
2.300 tardes e manhãs de Dan. 8:14. Em vista disto torna-se claro porque Gabriel começa
8:14.
referente aos 70 anos do exílio como alguns estudiosos. O v.2 declara expressamente que
os 70 anos estavam chegando ao seu término. O verbo binoti "compreendi" vem da mesma
raiz de bin que é usada no v.23. Por conseguinte quando o anjo lhe diz que compreenda a
visão, só pode ser a visão do capítulo anterior a qual Daniel afirma taxativamente que não
seu término. Mas outras "70 semanas" (de anos) deviam passar antes do ponto culminante
na estrada da redenção - o Calvário - ser atingido. Outro meio milênio de graça seria
o fim da História. Este meio milênio deveria ser "cortado" - este é o sentido primário do
verbo hatak - de um período mais longo, do mesmo modo que um pedaço de pano é corta
do de uma peça. Esta período mais longo só pode ser o tempo mencionado em Dan.8:14,
considerar a resposta de Gabriel à prece de Daniel, como relatada nos vv. 24-27. Sendo
esta uma profecia messiânica, seria natural esperar que refletiria em certa medida a
linguagem do canto do "Servo Sofredor" de Isa.52:13 a 53:12. Do mesmo modo que Daniel
estava familiarizado com a profecia de Jeremias referente à duração do exílio ele devia
estar a par do texto de Isaías que melhor descreve o sofrimento e morte do servo do
Senhor. Um homem que encarava o pecado tão a sério como é evidente de sua oração
intercessória, devia certamente conhecer a profecia que descreve de modo tão comovente
Daniel 9:24 contém seis declarações, das quais as primeiras quatro focalizam o
canto do "Servo sofredor". Assim a primeira frase "para fazer cessar a transgressão"
encontra seu paralelo em Isa.53:5, "foi transpassado pelas nossas transgressões". A frase
"para dar fim aos pecado", ecoa Isa. 53:10 e 12, "quando der Ele Sua alma como oferta
pelo pecado", e "levou sobre Si o pecado de muitos". A terceira expressão, "para expiar a
iniqüidade", tem seu paralelo em Isa.56:5-6: "o castigo que nos traz a paz estava sobre Ele,
e pelas Suas pisaduras fomos sarados... mas o Senhor fez cair sobre Ele a iniqüidade de
nós todos". A quarta frase de Dan. 9:24, "para trazer a justiça eterna", tem sua
correspondente em Isa. 53:11, "o Meu Servo, o Justo, com o seu conhecimento, justificará a
muitos". A importância desta última declaração é sublinhada por Paulo em Rom. 3:26:
"Tendo em vista a manifestação da Sua justiça no tempo presente para Ele mesmo ser
justo e o justificador daquele que tem fé em Jesus". A "justiça" de Dan. 9:24 refere-se,
então, tanto à justiça de DEUS demonstrada no Calvário diante de todo o universo, como à
Paralelos tão evidentes não parecem ser fortuitos, mas sugerem o pensamento
significa "para selar a visão e a profecia", não no sentido de dar-lhe fim, mas no sentido de
A última frase do v.24, "e para ungir o Santo dos Santos", é neutra no hebraico,
uma vez que poderia designar um lugar, ou cousa, ou uma pessoa. Mas neste contexto
deve designar o Messias. Com efeito o v.25 fala da vinda do Messias, do Príncipe. Uma vez
que o v.24 fala da obra redentora a ser realizada no fim das 70 semanas, ou 490 anos,
seria mais natural esperar que o verso terminasse por uma referência ao Messias, o
"ungido".
ipso facto, para o período das 2300 tardes e manhãs, do qual o período mais curto foi
cortado. Deve-se ter em mente que a última parte do cap. 9, vv.24-27, é uma visão
suplementar da visão do cap.8. O propósito da vinda de Gabriel foi de fazer Daniel entender
a visão, que não pode ser outra que a do cap.8. O ponto de partida das 70 semanas é o
decreto para a restauração de Jerusalém. Segundo Esdras 6:14 houve 3 decretos visando a
mesma finalidade, e que culminaram com o decreto de Artaxerxes I em 457 a.C. Sendo o
ser lido no cap. 7 de Esdras. Ele permitia que qualquer dos exilados que quisesse subir a
judaica segundo a lei do seu DEUS (vv.25 e 26). O cap. 8 descreve a viagem a Jerusalém
casa de DEUS (v.36). O escopo do decreto de Artaxerxes I é esclarecido por Esdras 9:9.
Judá e Jerusalém. A carta dada por Artaxerxes a Neemias no 20º ano de seu reinado, 444
a.C., não é de natureza de um decreto. Neemias não reconstruiu o muro de Jerusalém, mas
fato que foi completado em 52 dias (Nee.6:15). Não resta dúvida de que é o decreto de
Artaxerxes de 457 a.C. que deve ser tomado como ponto de partida das 70 semanas, que
qual indica o meio do verso, onde o leitor devia fazer uma pausa, foi inserida entre "sete
semanas" e "sessenta e duas semanas". Deve-se observar que o texto hebraico original
não tinha pontuação de espécie alguma. Embora os massoretas fizessem um bom trabalho
quando pontuaram o texto hebraico no começo da Idade Média, erros foram cometidos,
como qualquer estudioso do texto hebraico sabe. Na maior parte dos casos, os erros foram
acidentais, um deslize da pena, mas neste caso a hipótese de um erro deliberado devido a
preconceitos dogmáticos não deve ser excluída. Como Dan. 9:25 era um verso caro à
comunidade cristã, porque era o único que permitia mostrar aos de fora que Cristo veio no
tempo designado pela profecia, é fácil ver porque os massoretas tenham pintado o texto de
modo a torná-lo confuso. Corrigindo este verso, o verso reza: "Desde a saída da ordem
para restaurar e para edificar Jerusalém, até o Ungido, ao Príncipe, sete semanas e
sessenta e duas semanas". O texto assim corrigido mostra que Cristo deveria ser ungido no
em 457 a.C., isto leva ao batismo de Jesus em 27 a.C., quando foi ungido pelo Espírito
Santo (Mat.3: 16 e 17; Luc. 3:22), e tornou-se o Cristo, que significa exatamente "ungido". A
divisão do período em duas partes, uma de sete semanas seguida de outra de sessenta e
duas semanas pode indicar que a reconstrução de Jerusalém sob Esdras e Neemias
duraria 49 anos, embora se deva admitir que as fontes históricas não lançam luz sobre o
assunto.
A primeira parte do v.26 refere ao fato de que o Messias, "o Ungido", seria morto.
A ausência do artigo antes de "Ungido" no hebraico concorda com o fato de que Daniel os
tempos que referem á divindade são como regra anartros, isto é, sem artigo.(Ver Daniel
7:9,13; 8:16; 9:24,25 e 26; 10:5). Podia ser sua maneira de expressar transcendência
divina. Deve-se observar que a expressão, "foi morto", da Versão de Almeida, corresponde
ao hebraico, "foi cortado". Esta expressão encontra seu paralelo em Isa.53:8, "foi cortado da
terra dos viventes". Acima expressamos a opinião que a linguagem do cap. 9 deve muito ao
canto do "Servo Sofredor", que deve ter ocupado os pensamentos de Daniel nesta ocasião.
A expressão, "e já não estará", corresponde ao hebraico, "e não havia nada para
encontra seu paralelo em Isa.53:4, "era desprezado, e dele não fizemos caso". Seu sentido
mais profundo é sugerido em Sal.22:1a: "Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?"
destruição seria levada a efeito pelo "povo de um príncipe que há de vir". Trata-se do
mesmo poder pelo qual se refere Dan.8:25. Jerusalém e o Templo foram destruídos pelos
exércitos romanos em 70 A.C. comando por Tito que assumiu a chefia quando seu pai
Vespasiano foi eleito imperador. Diga-se de passagem que Antíoco Epifânio não destruiu o
Templo. A última parte do v.26 sugere que a Igreja passaria por tempos de tribulação até ao
fim. Cristo fez referência a esta tribulação prolongada em Mat.24:21. Mas aqueles dias
harmonia com a estrutura dos versos precedentes, onde em cada caso a primeira parte do
concernente à cidade e ao santuário. Cristo firmaria aliança com muitos durante Seu
ministério terrestre. Esta aliança foi ratificada, "feita firme" pelo sangue de Cristo(Mat.26:27,-
28). O sentido primário do verbo hebraico higbir é "fazer prevalecer". O sentido seria que
Cristo fez prevalecer, em face de todos os obstáculos, Seu concerto de graça com a
humanidade. Havia muita razão para desânimo e derrota. Mas Cristo prevaleceu sendo
obediente até a morte. A expressão "com muitos" devia ser compreendida à luz de
Isa.53:12, "levou sobre si o pecado de muitos", e encontra eco nas próprias palavras de
Cristo, "porque isto é o meu sangue, o sangue da aliança, derramado em favor de muitos".
Foi demonstrado por J. Doukhan que "quando o termo hetsi está em status
contructus com um período de tempo (aqui semanas), significa sempre "meio" e não
"metade" (Ex.12:29; Jos.10:13; Juízes 16:3; Jer.17:11; Sal.102 v.25; Rute 3:8)".1 O verso
27b devia então ser traduzido do seguinte modo, "é no meio da semana fará cessar o
quando Cristo oferecendo-SE como um sacrifício perfeito sobre a cruz "fez cessar o
sacrifício". Quando o véu do Templo rasgou-se de alto a baixo tornou-se patente que o
sacrifício de animais tinha encontrado seu antítipo e devia cessar. Sua repetição até à
destruição do Templo alguns anos mais tarde tornou-se uma cerimônia sem sentido, porque
de jure os sacrifícios deviam ter cessado por ocasião da morte de Cristo sobre a cruz.
potências do mal embora vencidas por Cristo continuariam sua obra nefanda de encher a
terra de abominações de desolações. Mas tão certo como a manhã segue à noite, à vitória
explicação dada no cap.8, então é razoável esperar que não somente os dois períodos de
tempo são relacionados, mas que as atividades do anticristo num tem seu paralelo no culto.
Neste caso a segunda parte dos versos 26 e 27 devia ser interpretada à luz de Dan.8:23-
25, onde as atividades nefárias de Roma imperial e papal são descritas. Assim
santo como um sinal para os crentes fugiram da Judéia para as montanhas para escapar
aos horrores da guerra. Lucas se refere ao mesmo sinal nas palavras, "Quando, porém,
virdes Jerusalém sitiada de exércitos,... então os que estiverem na Judéia fujam para os
montes".(Lucas 24:20,21). Em vista destes dois textos seria razoável interpretar "a asa das
abominações" de Daniel 9:27b como uma referência aos exércitos romanos vindo para
assolar a Judéia e Jerusalém. O fato das legiões romanas levaram em seus estandartes
uma águia de bronze como emblema de seu poder torna esta interpretação ainda mais
convincente.
exército que marcha sob estandartes pagãos vem um que causa tanto a desolação física
como espiritual; suas atividades se estenderão sobre os séculos, até que o assolador
Notas
propriamente dita começa com 11:2 e termina com 12:4, o resto do cap.12 sendo uma
espécie de espírito. Nestes capítulos nos é dada uma visão única do conflito que se
desenrola nos bastidores da história. Vêm-se ai o jogo e o contra jogo de influência que
operam nos centros de poder político para impedir ou promover a execução dos planos
divinos. Embora a liberdade do homem como agente moral seja resguardada, influências
diabólicas e celestes se fazem sentir sobre os líderes deste mundo, na esperança de levá-
los a se opôr ou a favorecer a missão do povo de Deus na Terra.
A visão é datada do terceiro ano de Ciro, rei da Pérsia, ou seja 536/535 A.C. Em
contraste com as visões precedentes, nesta o profeta não vê, mas ouve o conteúdo da
revelação que lhe é feita. A visão ou "palavra" envolvia um grande conflito, a matéria do
qual não é comunicada ao profeta até 11:2. Como esta visão não envolvia imagens
Versos 2 e 3 Esta visão foi dada a Daniel depois de três semana de penitência e
nenhuma associação é feita entre uma cousa e outra. Embora tivesse mais de oitenta anos
por esta época, Daniel buscava a comunhão com Deus com o mesmo fervor que em sua
juventude. Milhares de judeus, podemos imaginar, estavam voltando para sua terra como
resultado do decreto favorável de Ciro, mas o fruto do propósito de Deus para Seu povo
Verso 4 A borda do rio Tigre é designada como o local da visão. Por comparação
bem de perto à de Cristo quando apareceu a João na ilha de Patmos; "um semelhante a
filho de homem, com vestes talares, e cingido à altura do peito com uma cinta de ouro,
como chama de fogo; os pés semelhantes ao bronze polido, como que refinado numa
sua vida de devoção a Deus Daniel recebeu em sua velhice uma visão do Cristo exaltado.
companheiros de Daniel não viram, mas foram aterrorizados pela atmosfera misteriosa da
distinguir entre esta visão de um ser celeste que chocou Daniel até o mais profundo de sua
alma da visão também chamada "palavra", que é descrita nos versos 11:2 a 12:4. E de
novo a visão de Paulo no caminho a Damasco, esta também incluia não só a aparição
deslumbrante, mas uma voz "como o estrondo de muita gente". Ouvindo-a Daniel cai por
Isaías, no meio de uma visão, sentiu-se a forte mão de Deus sobre ele (Isa.8:11). Ezequiel
Verso 11 Como objeto do amor terno de Deus Daniel nada tinha a temer. Suas
ouvisse as palavras que lhe iam ser comunicadas. A expressão, "eis que te sou enviado",
parecem mais apropriadas nos lábios de um anjo do que nos de Cristo. Tudo indica que a
visão de Cristo termina com o v.9, e que o restantes do capítulo contém as palavras de um
anjo.
Verso 12 O anjo continua assegurando a Daniel que suas preces foram ouvidas.
Seu desejo de melhor compreender o propósito de Deus era motivado por um genuíno
amor para com seu povo, e a Deus aprazia responder-lhe. Não foi uma curiosidade vã que
Josué, mas raramente a um rei. O rei em hebraico jamais é designado por "príncipe do
reino". Daniel usa várias vezes esta palavra com referência a seres sobrenaturais (8:11,25;
10:21 e 12:1). É provável que o termo sar aqui denote ser sobrenatural que no momento
estava resistindo aos anjos de Deus na corte do rei da Pérsia. Joyce Baldwin num
comentário recente adota esta interpretação: "Visa-se aqui um representante da Pérsia nos
lugares celestes; a Grécia também teu seu anjo (v.20), e Miguel, 'um dos primeiros
conflito espiritual a liberdade humana não é violada. É feito uso da persuasão para obter a
identificam Miguel com Cristo (ver Judas 9; João 5:28, 29 e I tes. 4:16). O Comentário
Bíblico Adventista favorece esta opinião: "O nome Miguel aparece na Bíblia apenas em
passagens apocalíptica (Dan. 10:13 e 21; 12:1; Judas 9; Ap. 12:7). Além disto é em
ocasiões em que Cristo está em confronto direto com Satanás. O nome que em hebraico
significa, "Quem É como DEUS?" é ao mesmo tempo uma pergunta e um desafio. Em vista
DEUS e ser "como o Altíssimo" (Isa. 14:14), o nome Miguel é muito apropriado para Aquele
Somente quando Miguel veio para ajudar Gabriel é que este ficou livre para vir a
Daniel a fim de fazê-lo entender o que havia de suceder a seu povo nos últimos dias (v.14).
O cuidado de DEUS para com Seu povo em todas as épocas é o fio duradouro que deve
guiar o estudante através da massa de pormenores históricos dados com cap. 11.
significativa é a sorte do povo de DEUS em meio do tumulto político que agita o mundo.
como talvez em nenhum outro lugar na Escritura, o véu que separa o céu e terra é
removido, e a luta entre poderes da luz e das trevas (pelo controle das mentes humanas) é
revelada".3
Somente quando um anjo em forma humana tocou seus lábios é que ele recuperou a fala.
certeza do amor de DEUS, o qual devia banir todo temor de seu coração. Fortalecido,
Verso 20 O anjo fá-lo saber que o conflito na corte da Pérsia sobre a sorte do
povo de DEUS ainda perdurava. O inimigo não dorme e aproveita toda oportunidade para
neutralizar os planos do inimigo e a salvaguardar os desígnios divinos para com Seu povo.
Da intensidade desta luta o texto de Esd. 4:2-24 dá-nos um pequeno vislumbre. Israel
sofreu intensa oposição em seu esforço para restaurar sua nação, e teria sido esmagado
por seus adversários não fosse a intervenção divina na corte da Pérsia. Esta guerra de
natureza espiritual se estenderia além dos dias do domínio persa e seria não menos intensa
durante o Reino da Grécia. Na realidade, a controvérsia tanto em seu aspecto celeste como
terrestre continuaria até que "reino do mundo" se torne "de nosso Senhor e de Seu Cristo"
(Ap. 11:15).
O seguinte comentário lança luz adicional sobre este verso: "A verdade
declarada pelo anjo neste verso ilumina a revelação que segue. A profecia seguinte, um
relato de guerra e mais guerra, assume maior significado quando compreendida à luz do
que o anjo tinha observado. Enquanto os homens lutam pelo poder terrestre, nos
bastidores, e longe dos olhos humanos, uma luta ainda maior se processa, da qual os altos
Verso 21 O povo dos santos não tem razão para temer, pois tem a seu lado
Miguel, que sendo como DEUS e Seu campeão lhe assegura a vitória final. Para Aquele
que é o Senhor da História o fluxo e refluxo dos acontecimentos no mundo não encerram
cenas sucessivas da visão a ser narrada são como páginas tiradas do livro e mostradas ao
profeta.
11:1 Este verso é claramente parte do prólogo, pois contém uma palavra final
das atividades de Gabriel na esfera terrestre. A visão propriamente dita foi dada a Daniel no
terceiro ano de Ciro, rei da Pérsia (10:1). Mas já nos dias de Dario o Medo (5:31; 6:28; 9:1)
NOTAS
3. Ibid.
4. Ibid., p. 861.
DANIEL 11:2 a 12:4
entre Ptolomeus do Egito e os Selêucidas da Síria, da opressão dos santos pelos poderes
seculares sucessivos, até a intervenção de Miguel a seu favor. Poucos símbolos são
usados nesta visão, mas a massa de pormenores torna qualquer tentativa de interpretação
difícil.
Como a visão é datada do terceiro ano de Ciro (10:1), segue-se que os três reis
que ainda se levantariam na Pérsia seriam Cambises II, o Falso Smerdis (conhecido nas
fontes gregas como Bardiya), e Dario I (522-486 a.C.). O quarto seria Xerxes (486-464),
geralmente identificado com o Assuero do livro de Ester (1:1), onde se destaca sua imensa
"Suscitará a todos contra o reino da Grécia" (texto corrigido). Xerxes fez grandes
preparativos para vingar a derrota sofrida pelos exércitos persas face aos gregos em
Maratona (490 a.C.). Heródoto (VII, 61-80) conta mais de 40 nações que forneceram tropas
vencidas tanto na batalha naval de Salamina (480 a.C.), como na batalha terrestre de
Platéia (479 a.C.). Como resultado destas vitórias a Grécia não mais seria invadida pelo
exército Persa.
Porque mencionar quatro reis da Pérsia que sucederam a Ciro II, quando na
realidade houve 9 ? Parece ser um princípio observado nas profecias de Daniel que logo
que a potência dominante é vencida por outra, a atenção converge imediatamente para a
vasto território do império persa. A descrição nos lembra Dan. 8:7, onde é dito que o
Macedônica. Mas no auge do seu poder o reino de Alexandre foi quebrado, e dividido entre
particular, o Reino do Sul e o Reino do Norte, e pela simples razão que primeiro um e
acontecimentos políticos adquirem significado no momento em que têm relação com o povo
de DEUS. Em vista do v.8 não há dúvida de que "o reino do Sul" é o Egito governado pelos
A história complicada da relação entre os dois reinos começa com o rei do sul,
Ptolomeu I Soter (306-283 a.C.), firme no trono. Foi adversário principal foi Seleuco I Nicator
(305-280), aqui chamado de "um de seus príncipes". Esta maneira de designar Seleuco é
apropriada, porque quando foi vencido por seu rival Antígono em 316 a.C., ele se colocou
Gaza (312 a.C.), na qual Demétrio, filho de Antígono, foi vencido. No mesmo ano Seleuco
à fronteira da Índia. O ano de 312 a.C. marca o começo da era Selêucida usada para datar
maior dos reis que sucederam a Alexandre, a mentalidade mais real, e dominador do mais
divorciou sua mulher e irmã, Laodice. Esta tentativa de cimentar as relações entre o Egito e
a Síria não teve êxito. Laodice conseguiu fazer envenenar Berenice e seu filho, garantindo
deste modo que seu próprio filho Seleuco II, subisse ao trono da Síria.
Verso 7 "Um renovo da linhagem dela" parece referir a Ptolomeu III, irmão de
Berenice, que quando sucedeu a seu pai em 246 a.C.invadiu a Síria para vingar o
assassinato de sua irmã. É claro que o país que está sendo invadido é o do rei do norte.
Ptolomeu III chefiou uma campanha vitoriosa através do território dos Selêucidas, levando
Verso 8 "Levará como despojo para o Egito". esta frase torna claro que o reino
do Sul é o Egito. Como resultado de suas vitórias Ptolomeu III pode levar para casa um
botim imenso. O Decreto de Canopo (239-238 a.C.) elogia Ptolomeu nos seguintes termos:
"As imagens sagradas levadas do país pelos persas, o rei tendo feito uma campanha no
estrangeiro, recuperou para o Egito".2 Embora liderando forças superiores Ptolomeu III
Egito, mas foi derrotado e obrigado a voltar para a Síria de mãos vazias (c.240 a.C.).
Verso 10 "Os seus filhos farão guerra". A referência aqui deve ser aos filhos de
Seleuco II, Seleuco III (226-223), que foi assassinado depois de um breve reinado, e
Antíoco III o Grande (223-187). A grande ambição dos seleucidas era de anexar a Coele
Síria e a Palestina que tinha estado sob o domínio dos Ptolomeus desde a divisão do
Império de Alexandre. Com este objetivo em vista Antíoco III iniciou a guerra contra os
determinação de seu adversário, Antíoco foi derrotado na batalha de Ráfia (217 a.C.), na
fronteira do Egito.
caiu em sua mão, Ptolomeu IV não tirou partido de sua superioridade militar. Entrementes
Antíoco reparou suas perdas e durante vários anos combateu vitoriosamente até a fronteira
da Índia. Ptolomeu IV morreu em 203 a.C. e foi sucedido por seu filho, Ptolomeu V (203-
Verso 13 Antíoco III incansável preparou-se para uma segunda campanha para
A segunda parte deste verso lê no texto hebraico: "e ao cabo de tempos anos
virá à pressa, com grande exército..." Na sequência "tempos anos", o segundo termo
parece ser uma glosa que explica o enigmático "tempos". Se a glosa for parte do texto
profética. Neste verso a indicação de tempo parece referir aos dezesseis anos transcorridos
alcança uma importante vitória sobre as forças egípcias na batalha de Gaza (201 a.C.).
Três anos depois o exército de Ptolomeu V comandado pelo general grego Scopas sofre
fragorosa derrota às mãos de Antíoco em Paneon (198 a.C.), junto das cabeceiras da
Jordão. Como resultado toda a Palestina passou para a mão dos selêucidas.
Verso 16 O exército de Ptolomeu V totalmente desbaratado não está em
condições de impedir que Antíoco ocupe a Coele Síria e a Palestina, aqui chamada "terra
gloriosa"(ver Dan.8:9).
termos de paz ao Egito. Esta deve ser selada por um casamento político entre Cleópatra,
partes da Grécia, irritando assim Roma que tinha ambições semelhantes. Derrotado pelas
legiões romanas na Europa, Antíoco procurou deter o avanço de Roma na Ásia menor.
Sofreu uma segunda derrota na batalha de Magnésia (190 a.C.), quando foi obrigado a
evacuar toda a Ásia Menor e pagar uma idenização esmagadora. O comandante romano
(Heb. gatsin) foi L. Cornelius Scipius, que fez Antíoco pagar caro por sua invasão da
Europa.
Verso 19 Para encher seu tesouro vazio Antíoco III empreende uma campanha
de pilhagem nas províncias orientais de seu império, mas encontra uma morte ignominiosa
ao sitiar uma cidade no Elão. Assim pereceu o mais aguerrido dos reis Selêucidas.
Verso 20 Antíoco foi sucedido por seu filho Seleuco IV. Sobrecarregado com a
dívida pesada herdada de seu pai, enviou um "exator de tributo", Heliodoro, à Judéia com o
plano de pilhar o Templo. Um pouco mais tarde Heliodoro encabeçou uma conspiração na
no resto deste capítulo um retrato velado das atividades Antíoco IV Epifânio (175-163), na
sua determinação de desarraigar a cultura e a religião dos judeus, as quais na sua opinião
enfraqueciam a unidade do reino. Não há dúvida que esta confrontação foi a mais séria que
soberania universal de Jeová. Como o povo eleito tinha sido advertido por profetas como
judaica. É nossa crença que uma tal palavra se encontra neste capítulo que tanto tem a
De outro lado é nossa opinião que esta crise provocada por Antíoco Epifânio foi
típica de outras crises enfrentadas pelo povo de DEUS em outras épocas, e que esta
profecia foi deliberadamente expressa em termos tais que podia ser uma fonte de conforto
aos fiéis em situações semelhantes. Os atores do drama são diferentes, mas os tramas
feitos contra a Igreja têm muito em comum. A história não se repete em termos idênticos,
traços comuns.
De modo que não é surpreendente que se uma geração pudesse ler na profecia
do cap.11 uma descrição plausível da crise macabeana, outra podia ser impressionada com
reconhecer neste esboço traços da crise final, que precede o estabelecimento do reino de
DEUS. Não enfocando nenhuma destas crises com muita nitidez, esta profecia permite a
cada geração achar aquilo que melhor serve a suas necessidades espirituais. Outrossim
Selêucidas durante um século e meio não tivesse nada a dizer da crise que mais
diretamente afetou a nação judaica. De outro lado, se a intenção divina foi esboçar as crises
principais na história da redenção, não se faz justiça à intenção do texto querer reduzí-lo à
Visto que a partir do v.21 tratando com uma descrição polivalente das potências
sucessivas que puseram em risco a sobrevivência do povo eleito, qualquer tentativa de uma
Vinda de Cristo. Ao passo que alguns traços da profecia se aplicam a ambos os eventos,
deve proceder com humildade e discernimento. Afirmações dogmáticas estão fora de lugar.
Afirmar como alguns intérpretes liberais que o autor presumível do livro de Daniel
conhecimento elementar da política mundial poderia saber em 165 a.C., a data atribuída ao
livro de Daniel, que a potência que projetava sua sombra cada vez mais ameaçadora sobre
toda a bacia do Mediterrâneo era Roma. Já em 190 a.C. Antíoco III tinha sentido o impacto
selêucidas já se tinham colocado sob a proteção romana em 273 a.C. Rodes e Pérgamo
estavam fazendo o mesmo. A batalha de Pidna em 168 a.C. soou o dobre de finado para o
Alexandre. Naquele mesmo ano Antíoco Epifânio foi obrigado a retirar seu exército do Egito
sob ameaça de represália militar romana. Mesmo Judas Macabeu firmou um tratado de
amizade com Roma em 161, a fim de melhor poder enfrentar o inimigo Sírio. No prefácio a
este tratado (I Macabeus 8:1-13) há uma longa descrição das proezas das armas romanas
tanto no oeste como no oriente. Qualquer autor do segundo século antes da nossa era
podia adivinhar que Roma retinha em suas mãos os azes do futuro. Somente o preconceito
pode afirmar que Daniel nada podia saber de roma, quer escrevesse no sexto século a.C.
sob inspiração divina, ou como simples observador da arena política na época dos
Macabeus.
do v.21, o qual não estivesse na linha direta de sucessão obteve o trono por astúcia. Na
Jerusalém, Onias III, perdeu o posto para Menelao e foi assassinado algum tempo depois.
Menelao por sua vez teve seu lanço coberto pelo de Jasão e foi expulso do sumo-
sacerdócio (verso 22). A política tortuosa de Antíoco IV é descrita nos vv.23-27. Em sua luta
com Ptolomeu VI do Egito, Antíoco não hesitou em usar força militar e diplomacia ambígua.
Em sua campanha de 169 a.C. contra o Egito ele obtém algum êxito, mas os judeus
Em sua segunda campanha contra o Egito (168 a.C.), o resultado não foi o que
esperava. "Virão contra ele navios de Quitim" (v.30). Quitim era um termo geralmente
Assur e Heber designam respectivamente a Síria (Assíria) e a nação hebraica. Heber foi um
dos antepassados de Abraão (Gen.11:16). I Macabeus 1:1 e 8:5 aplicam o termo Quitim à
usam o termo Quitim, e F.F. Bruce vê nele uma referência à Roma. 4 Com efeito foi o legado
romano que obrigou Antíoco a retirar-se do Egito em 168 A.C. Frustrado em suas ambições
Antíoco dirigiu sua fúria contra "a santa aliança", claramente uma referência à religião
judaica. A Antíoco lhe parecia que a única maneira de resistir ao avanço romano no futuro
era unificando seu reino mais rigorosamente impondo a seus súditos uma só cultura e uma
só religião.
religioso, e mesmo profanar o altar de sacrifícios colocando sobre ele "a abominação
de renunciar a sua religião, mas outros preferiram resistir e sofrer por sua fé (vv.32-33). Os
fieis são chamados "entendidos", mas o preço que pagaram por sua lealdade a Deus foi
e duplicidade de outro. O sofrimento é declarado não ser em vão porque contribuiria para
purificar e embranquecer.
em seus dias, é também uma descrição apta dos ultrajes perpetrados por Roma pagã
contra o povo judeu e sua religião na guerra que levou à destruição de Jerusalém e do
Templo em 66-70 A.D. Em Mat.24:15 temos nada menos do que uma aplicação desta
profecia dos lábios de Cristo à crise que breve desabaria sobre a nação judaica.
O sentido pleno do v.31 não é esgotado pela explicação acima. Percebe-se nele
pequena foi vista significar o aquecimento em que o santuário celeste e a obra mediatória
ministério de intercessão de Cristo não seria alcançada até 1844. Como cada crise na
história da igreja assume um caráter mais espiritual, e as questões em jogo são cada vez
deificação própria de Antíoco, que então se torna o tipo de toda tentativa subseqüente de
paralelos entre 11:36 e 7:25 são evidentes. De igual modo vem-nos à mente a descrição do
deus, Antíoco Epifânio atingiu o auge da arrogância. O historiador Políbio assim comenta a
Não somente feriu a sensibilidade religiosa dos judeus mas também a dos pagãos, por sua
falta de respeito aos deuses da devoção popular, como, por exemplo, Tamuz-Adonis, aqui
chamado "o que é amado pelas mulheres", bem como aos deuses olímpicos honrados por
seus pais. Se honrava a qualquer deus este era o da guerra, aqui designado "o deus das
esboço profético são apropriados para Antíoco. Mas se este esboço é visto como uma
aparentes desvanecem. O v.39, por exemplo seria muito mais apto como descrição de
Roma com sua política de estabelecer reis vassalos ao longo das fronteiras como estados-
tampãos contra os bárbaros de além. Seria também uma descrição apropriada do papado
da Idade Média, o qual coroava reis e depunha reis, vendia cargos eclesiásticos, e até
liberais, com efeito, declaram que estes versos contém a única profecia genuína do livro, e
que ela falhou completamente. Alguns imaginam poder precisar a data exata desta profecia,
que em sua opinião teria sido depois de 165, mas antes de 163 A.C., o ano em que Antíoco
morreu no Elão.
Mas aqueles que como o presente autor vêm neste capítulo a descrição de
grande controvérsia entre Cristo e o anticristo , não tem dificuldade de ver neste versos uma
profecia ainda não cumprida, mas que terá seu cumprimento "no tempo do fim" (v.40). Os
vários atores neste drama, embora chamados pelos mesmos nomes, tais como "rei do Sul"
história mundial. Estas potências têm suas ambições políticas, mas nenhuma delas é
favorável ao povo de Deus. De fato para os santos "haverá tempo de angústia, qual nunca
houve" (121). Mas tentar definir estas potências com maior precisão seria uma forma de
presunção, pois se trata de profecia não cumprida. O propósito principal de uma profecia
momento que a profecia encontra cumprimento. Esta opinião concorda com o dizer de
Jesus a Seus discípulos: "Disse-vos agora, antes que aconteça, para que, quando
O esboço profético que nos dá Daniel é bastante claro no que toca à tendência
geral do conflito político-religioso dos séculos, mas insuficiente para a identificação de cada
pormenor histórico. Basta saber que quando a última personificação do anticristo sair "com
grande furor para destruir e exterminar a muitos", Deus intervirá para dar-lhe "fim e não
continuação da profecia precedente, e que logicamente estes versos deviam ter sido ligados
ao cap.11. A frase, "nesse tempo", é sem dúvida uma referência à crise descrita em 11:40-
45, a qual o v.40 associa com o "tempo do fim". Embora esta expressão seja associada com
O "tempo de angústia" que precede o fim constituirá uma ameaça tão grande à
Dan.10:11 argumentou-se que Miguel é outro nome de Cristo.6 Cristo parece referir-se
mesma crise quando disse: "porque nesse tempo haverá grande tribulação, como desde o
Justo antes do fim muitos professarão ser discípulos de Cristo, mas somente
aqueles cujo nome "for achado inscrito no livro" da vida serão salvos. Esta afirmação nos
julgamento que precede a segunda vinda é enfocado aqui, julgamento que determina que
nomes permanecem no "livro da vida", e que nomes serão apagados (Apoc.3:5). Assegura-
se neste verso livramento para todos os santos que estiverem vivos por ocasião do
com sua doutrina do "rapto secreto", mas serão livrados das tribulações quando Deus
Verso 2 Alguns comentadores tomam este verso como uma referência a uma
morreram com mártires na causa da verdade (11:33). Mas o fato é que o termo hebraico
não há no vocabulário hebraico um termo para "todos", rabbim supre em muitos casos a
falta, e pode ser traduzido por "todos", "multidão". Assim uma versão moderna da Bíblia
traduz este verso do seguinte modo: "Multidões que dormem no pó da terra..." 7 É bem
provável que Daniel não tivesse idéia alguma de uma dupla ressurreição, como se afirma
em João 5:28,29, e em Apoc. 20, onde se distingue entre a "primeira ressurreição", a dos
"bem-aventurados" (versos 5,6) e outra que ocorre no final do milênio (v.13). A verdade da
ressurreição não foi revelada em sua plenitude aos profetas do V.T. Mas raiou sobre eles
gradualmente como "a luz da aurora que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito"
(Prov.4:18). Com efeito este texto de Daniel é o mais claro de todo o Velho Testamento no
tema da ressurreição, mas fica muito a dever à revelação ainda mais completa do N.T.
Verso 3 Este verso que fala da recompensa dos santos é escrito em linguagem
hebraica. Assim, "os que forem sábios" da primeira parte corresponde a "os que a muitos
conduzirem à justiça" da segunda. Pode-se dizer que a segunda expressão define e explica
a primeira. O acento, então, não é sobre sabedoria intelectual, mas sobre serviço inspirado
pelo amor para a salvação de nossos semelhantes. Falando da recompensa dos santos
Cristo usou uma linguagem muito semelhante:"Então os justos resplandecerão como o sol,
Verso 4 Uma compreensão plena do livro não poderia ser alcançada "até ao
Nem todos as compreenderiam, diz o v.10. A promessa, porém, fica de pé: "Mas
os sábios entenderão". O termo "sábio" não deve ser interpretado como se referisse a uma
sabedoria esotérica reservada para uma elite como no gnosticismo. Os "sábios" são todos
aqueles cujas mentes estão sintonizadas com o Espírito de Deus, receptivos à luz divina.
NOTAS
2. J.P. Mahaffy, A History of Egypt under yhe Ptolemaic Dynasty (New York, 1899), p.113.
6. Assim C.F. Keil, Book of Daniel, p. 475, que também crê que os acontecimentos
aos quais se refere neste verso "se completarão mais plenamente na segunda vinda do
Senhor".
DANIEL 12:5-13
O TEMPO DO FIM
Neste epílogo Daniel se apresenta como quem procura um entendimento melhor
das cousas que lhe foram mostradas. Nem sempre o profeta é cônscio do sentido mais
profundo da revelação que lhe é confiada. Eles também só conheciam "em parte" (I Cor.
Versos 5 e 6 Estes versos mostram que seres celestes estão interessados nos
assuntos desta terra, e que mesmo para eles o futuro não é um livro aberto. A questão
Verso 7 O ser majestosos que pairava sobre as águas do rio é sem dúvida a
borda de uma corrente. A solenidade do juramento que pronuncia é realçada pelo fato de
levantar "a mão direita e a esquerda ao céu". S.R. Driver interpreta o gesto como "a mais
completa garantia da verdade que será declarada".1 O que vai ser afirmado é de
importância capital. Segue-se que o período profético de "um tempo, dois tempos e metade
no conflito dos séculos. Lá se fala, entre outras cousas, da opressão "dos santos do
Altíssimo", pelo décimo primeiro chifre que se levantaria das ruínas do Império Romano
(7:7,8). Aqui se fala da "destruição do poder do povo santo". Aos santos se promete escape
da tribulação sofrida por amor de Cristo, mas se lhes assegura livramento no tempo
escolhido por Deus. Implícita na declaração solene deste ser celeste é a promessa de que a
história deste mundo com todo seu horror não se arrastaria para sempre, mas seria
consumada afinal pela intervenção divina. O começo do período do fim seria marcado pelo
fato que o papado sofreria um grande revez no final dos 1260 dias proféticos.
Verso 8 As palavras enigmáticas que ele acabava de ouvir não foram suficientes
para dissipar a ansiedade de Daniel. O fim deste conflito prolongado ainda se lhe escapava.
precisava aguardar "o tempo do fim". Pouco adiantaria revelar a Daniel o nome das super-
potências que desempenharão o papel final nos negócios deste mundo. Estes nomes não
se lhes significariam mais do que se o anjo lhe dissesse que no século XX haveria
fornalha da tribulação seu caráter seria purificado e refinado do mesmo modo que a escória
nesta terra até o fim, e constituiria um impedimento à compreensão das cousas de DEUS.
Como o apóstolo declarou: "A palavra da cruz é loucura para os que se perdem, mas para
nós, que somos salvos, poder de DEUS" (I Cor. 1:18). A promessa de que os
verdadeiramente sábios entenderão deveria encorajar a todo crente a devotar toda sua
Versos 11, 12 Intérpretes liberais obcecados com a idéia que o livro de Daniel
foi composto no segundo século antes da nossa era, e que tem como tema principal a crise
precipitada por Antíoco Epifânio quando profanou o templo em Jerusalém e proibiu a prática
da religião judaica, propõem que os 1290 e os 1335 dias aqui mencionados são correções
preditos não se materializaram. A sugestão original foi feita por Gunkel e foi adotada por
Montgomery, Bentzen, Delcor e Lacoque.2 Intérpretes conservadores contestam a
possibilidade prática de introduzir correções num livrete que já estava em circulação. O que
é pior as correções não são melhores do que as predições originais, pois também não se
Dan.8:14 que as 2.300 tardes e manhãs não podem de modo algum ser interpretadas como
profanação do Santuário, mas ao tempo todo coberto pela visão descrita em 8:2-14, que
incluia a crise que ameaçou a comunidade judaica sob Antíoco Epifânio, mas abrangia
muito mais. A julgar pelo paralelismo dos capítulos 2, 7 e 8, abrangia os dois e meio
é provável que tanto uma como a outra se referem ao mesmo acontecimento, a saber, a
envolta em obscuridade até "ao tempo do fim", quando de novo luz seria lançada sobre o
Teologia, quando suas implicações são plenamente avaliadas à luz da epístola aos
centrada como era sobre o homem nesta terra e sua necessidade de salvação, devia ser
corrigida por uma compreensão melhor do ministério de Cristo nos céus em favor da
humanidade.
Se este epílogo enfoca "o tempo do fim", como evidentemente o faz (vv.4, 9 e
13), parece-nos apropriado considerar os 1290 e os 1335 dias como tempos literais
abrangendo este número de dias. A favor desta hipótese milita o fato que estes sãos os
únicos períodos proféticos no livro de Daniel que são expressos em "dias". Em todos os
outros casos tempo profético é expresso sob vários símbolos: "tempo" (7:25), ou "tardes e
manhãs" (8:14), ou "semanas" (9:24). Tudo se passa como se na crise final todo o drama
dos séculos é recapitulado numa escala abreviada. Pode-se, então, imaginar um tempo de
angústia "qual nunca houve" durante 1.290 dias literais, ou sejam, pouco mais de 3 anos e
meio, seguido por um tempo de angústia ainda pior durante 45 dias literais.
Uma bênção é pronunciada sobre os que perseveram até o final dos 1335 dias,
porque então Cristo depõe Suas vestes sacerdotais, e aparece nas nuvens do céu como
"Rei dos reis, e Senhor dos senhores", para livrar os santos que estão vivos (v.1). Como o
ponto de partida destas duas profecias não é dado, não podem ser usadas para calcular o
dia e a hora da Segunda vinda de Cristo, o conhecimento dos quais DEUS tem reservado
Verso 13 Quanto a Daniel, ele também precisa perseverar até o fim, ele
também deve descansar na sepultura porque o tempo do livramento estava ainda no futuro.
Mas no "fim dos dias", ele também seria levantado dentre os mortos com o "povo dos
NOTAS
1. Cambridge Bible, Daniel, p. 204.