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a revista do engenheiro civil


téchne 136 julho 2008

www.revistatechne.com.br

apoio
IPT techne
Edição 136 ano 16 julho de 2008 R$ 23,00
COMO CONSTRUIR
Aquecedor
solar de água
Laudo do metrô ■ Sistemas construtivos ■ Avaliação técnica de desempenho ■ Esquadrias ■ Aquecedor solar ■ Retrofit

EXCLUSIVO
Detalhes do laudo
do IPT sobre a
cratera do Metrô
em São Paulo

ESQUADRIAS
60 anos de evolução
ARTIGO
Retrofit de fachadas

HABITAÇÃO ECONÔMICA

Sistemas
construtivos
00136

9 77 0 1 04 1 0 50 0 0

■ Boom do segmento econômico fomenta novas tecnologias


ISSN 0104-1053

■ Como homologar um sistema construtivo


■ Critérios da Caixa para a aprovação de métodos inovadores
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SUMÁRIO
CAPA
42 Industrialização econômica
Boom imobiliário acelera corrida por
novas tecnologias construtivas e
resgasta sistemas esquecidos
no passado

56 ARTIGO
Retrofit de fachadas: tecnologias
européias
Pesquisadora do IPT analisa o mercado
e os materiais disponíveis para
requalificação de fachadas

76 COMO CONSTRUIR
Dimensionamento e instalação
Divulgação Rodobens

de aquecedor solar
Veja como dimensionar e instalar
sistema solar de aquecimento
de água

30 DESABAMENTO DA
LINHA 4 SEÇÕES
Roteiro acidental Editorial 2
Confira um resumo do laudo do IPT Web 6
sobre o acidente nas obras do Cartas 8
metrô de São Paulo Área Construída 10
Índices 12
50 DESEMPENHO IPT Responde 14
Excelência atestada Carreira 16
Os ensaios e documentos necessários Melhores Práticas 18
Divulgação CEF

20 para homologar um sistema


construtivo inovador
Técnica e Ambiente
P&T
Obra Aberta
28
64
70
ENTREVISTA 54 ESQUADRIAS – PINI Agenda 72
Financiamento construtivo 60 ANOS
Gerente nacional de Gestão, Marco tecnológico
Padronização e Normas Técnicas da Ao longo de 60 anos, a evolução das Capa
CEF explica critérios para financiar tecnologias que possibilitaram o Layout: Lucia Lopes
obras inovadoras salto de qualidade das esquadrias Foto: Roberto Allen

1
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EDITORIAL
Laudo da cratera: compromisso técnico
VEJA EM AU
m fevereiro do ano passado, no Editorial da edição no 119,
E firmamos um compromisso com nossos leitores: apresentar as
causas técnicas que teriam levado ao desabamento do túnel da Linha
4 do Metrô de São Paulo, que vitimou sete pessoas no dia 12 de
janeiro de 2007. Compromisso que trazia uma ressalva importante:
"(...) Téchne não irá especular.Aguardaremos o laudo do IPT
(Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo), para
quem a missão foi sabiamente confiada. Será a partir desse  Arquitetura
latino-americana
documento (...) que vamos debater, do ponto de vista técnico, as
 Especial PINI
causas diretas do desabamento". E assim foi. Passado um ano e cinco 60 anos: vidros
meses do acidente, voltamos ao assunto para mostrar bem mais do  Entrevista: Roberto Segre

que foi noticiado e publicado pela imprensa desde a divulgação do VEJA EM CONSTRUÇÃO
laudo, no dia 9 de junho. Obtivemos junto ao Ministério Público do MERCADO
Estado de São Paulo um resumo em dois volumes do relatório do
IPT. O texto que publicamos nesta edição sintetiza em 11 páginas, na
mesma linguagem técnica do laudo, a versão do instituto sobre os
fatores que teriam determinado o curso do desabamento.
Importante ressaltar que nem o IPT nem o Ministério Público ou
qualquer outra fonte envolvida se pronunciou sobre o documento.
Téchne abre, desde já, suas páginas a todos os interessados, inclusive
ao Consórcio Via Amarela, para que apresentem outras versões para
 Boom industrial
os fatos. Quando se dispuserem a falar sobre o assunto, todas as  Recuperação ambiental
partes serão ouvidas pela revista.A despeito de o IPT ser parceiro da  Avaliação de imóveis
 Imóveis econômicos
PINI na publicação de Téchne desde a criação da revista, há 16 anos,
não obtivemos informação privilegiada do instituto. Restringimos-
nos ao conteúdo do laudo entregue ao Ministério Público. Há,
portanto, novos capítulos a serem escritos sobre essa história.

Paulo Kiss

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Vendas de assinaturas, manuais técnicos,
TCPO e atendimento ao assinante Fundadores: Roberto L. Pini (1927-1966), Fausto Pini (1894-1967) e Sérgio Pini (1928-2003)
Segunda a sexta das 9h às 18h
Diretor Geral
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principais cidades*

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demais municípios Diretor de Redação
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Confira no site da Téchne fotos extras das obras, plantas e informações que complementam conteúdos
publicados nesta edição ou estão relacionados aos temas acompanhados mensalmente pela revista

Sistemas construtivos industrializados


Veja no site da Téchne a execução passo a passo de uma casa com blocos de EPS,
Fórum Téchne
desde a etapa de fundações até o acabamento. Material funciona simultaneamente O site da revista Téchne tem um espaço
como fôrma para concreto e isolamento térmico para o ambiente. dedicado ao debate técnico e qualificado
dos principais temas da engenharia.
Confira o tema em andamento.

Quem deve coordenar projetos?


O coordenador de projetos não deve
estar encarregado de executar qualquer
um dos projetos (arquitetura, estrutura,
elétrica, hidráulica, outros), mas deve
saber exatamente do que o cliente
precisa, como deve ser feito e quem
pode fazê-lo. O fato de o profissional ser
engenheiro ou arquiteto, considero de
menor importância.
Divulgação Isocret

Paulo Roberto Gobbo [30/6/2008]

A coordenação dos projetos deve ser


executada por um profissional
especializado, multidisciplinar, que
esteja atento às necessidades do cliente,
Homologação de inclusive as que porventura o cliente não
entenda que as tenha, como, por
sistemas construtivos exemplo, o respeito às determinações
Leia as perguntas mais freqüentes sobre das normas técnicas. Com base nesse
homologação de sistemas construtivos conhecimento multidisciplinar, o mais
respondidas pelo engenheiro e apto é o engenheiro, não afirmo que
pesquisador do IPT (Instituto de Pesquisas arquitetos não o possam fazer, mas
Tecnológicas do Estado de São Paulo) e terão que se aprofundar mais em ramos
Marcelo Scandaroli

membro do Sinat (Sistema Nacional de não conhecidos.


Avaliações Técnicas), engenheiro Cláudio Alex Sandro Oliveira de Lira [27/6/2008]
Vicente Mitidieri Filho.
Entendo que a coordenação de
projetos deve ser realizada por
Desabamento do túnel engenheiro com formação acadêmica
robusta e multidisciplinar, contratado
do Metrô pela construtora. Todavia, a arquitetura
Confira trechos do laudo realizado pelo deve estar representada por
IPT com resumo das investigações dos profissional com poder de decisão nas
escombros e detalhes de como se deu o reuniões deliberativas. Só assim
desabamento. Veja também os maiores resolvem-se todas as interferências e
Evelson de Freitas/AE

acidentes nos últimos 15 anos envolvendo incongruências dos projetos,


obras subterrâneas, com estatísticas, resultando no produto final econômica
causas e os aprendizados da engenharia e tecnicamente idealizado.
com os desastres. José Maurício de Almeida [18/6/2008]

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CARTAS Envie sua crítica ou sugestão.


techne@pini.com.br

Fundações no Projeto de Arquitetura tras deve ser realizada durante a ope-


Integração de projetos Total: uma Abordagem Integrada. R. ração de descarga, após a retirada dos
Com relação à reportagem de capa de
W. R. Duarte. primeiros 15% e antes de completar
Téchne 135,é preciso distinguir coorde-
Ricardo Wagner Reis Duarte, engenheiro civil, a descarga de 85% do volume total
nador e integrador. Quanto ao atributo
mestre em Habitação pelo IPT da betonada". E ainda, em comple-
do processo: o coordenador coordena
mento à citação da NBR 7212, essa
as partes para interação ótima; o inte-
norma prescreve que a quantidade
grador integra as partes num sistema Corpos-de-prova mínima para ensaio é de dois exem-
orgânico total. Quanto à intenção orga- Gostaríamos de notificar que a seção
plares por idade.
nizacional: o coordenador subordina Melhores Práticas, Téchne 134, pág.
forma à função; o integrador integra 22, apresenta informação equivoca- Emerson Busnello, engenheiro, gerente de
forma e função. Atitude do coordena- da no item "Moldagem e identifica- Tecnologia e Qualidade da Cimpor Concreto
dor: síntese. Atitude do integrador: in- ção", a respeito da amostragem do
tegração ou simultaneidade. Para inte- concreto para moldagem dos cor- ERRATA
grar projetos deve-se dar ênfase máxi- pos-de-prova. O trecho cita que Na edição 135 de Téchne, na reporta-
ma em projeto total, análise e feedback. "após descarregar 0,5 m³ do concreto gem de capa "Projetos coordenados",
Bibliografia do caminhão-betoneira, coletar uma foi informado erroneamente que Cín-
Strutural Concepts and Systems for amostra de aproximadamente 30 l". tia da Silva Vedovello é engenheira. Na
Architects and Engineers. T.Y. Lin; S. No entanto, a NBR NM 33/98, item verdade, a coordenadora de projetos
D. Stotesbury. 3.3.1 prescreve: "a coleta das amos- da Método é arquiteta.
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ÁREA CONSTRUÍDA
Poli e Sabesp criam tubos de concreto reforçados com fibras
Fibras de aço começaram a ser utiliza-

Acervo pessoal Antonio Domingos de Figueiredo


das na confecção de tubos de concreto
para sistemas de saneamento básico.
Desenvolvido em parceria pela Escola
Politécnica da Universidade de São
Paulo e pela Sabesp (Companhia de
Saneamento Básico do Estado de São
Paulo), o produto é uma alternativa
aos tubos de concreto armados com
telas de aço.
Apesar de inovadores, esses tubos já
são contemplados pela versão final da
revisão da NBR 8890, norma de espe-
cificação para tubos de concreto para
águas pluviais e esgoto publicada no
final de 2007. A presença do produto
na norma é indispensável para a sua
utilização em obras públicas.
Por esse motivo, o produto ainda não
pôde ser avaliado em condições de
uso, segundo seus desenvolvedores, o fibras de aço reforçam uniforme- Grande do Sul começam a adaptar suas
professor Antonio Domingues de Fi- mente a peça em toda a sua espessura. instalações para a produção dessas
gueiredo, do Departamento de Enge- Para as indústrias, o uso de fibras repre- peças, adquirindo equipamentos para
nharia de Construção Civil da Poli- senta uma economia de tempo no pro- a alimentação e mistura das fibras ao
USP, e Pedro Chamma Neto, enge- cesso de produção, já que elimina a concreto. "As saídas das misturadoras
nheiro da Sabesp. No entanto, acredi- etapa de colocação da armadura de tela. de concreto, por exemplo, devem ser
tam que o produto apresenta resis- Os custos de produção são próximos adequadas, porque o concreto reforça-
tência e durabilidade melhores do aos do tubo armado convencional. Fá- do com fibras é mais coeso e pode entu-
que os tubos convencionais, pois as bricas de São Paulo,Rio de Janeiro e Rio pir essas conexões", afirma Figueiredo.

Seminário discutirá obras logísticas e industriais


O 1o Seminário "Obras Logísticas e In- nário, promovido pela LPE Engenha- renciamento de obra e garantia da
dustriais – Uma visão de Valor" reunirá ria, será realizado no dia 6 de agosto no qualidade
engenheiros de projetos, indústria, as- Club Transatlântico, em São Paulo.  Daniel Fernandez (Sika): Necessi-
sociações, construtoras e serviços liga- Palestras programadas: dades das obras industriais
dos à qualidade e à produtividade em  Wagner Gasparetto (LPE Enge-  J. R. Braguim (Abece) – Associação
obras logísticas e industriais no Brasil nharia): Mercado de pisos e marke- Brasileira de Engenharia e Consulto-
para debater a evolução da qualidade e ting de serviços ria Estrutural: Qualidade em Projetos
da produtividade no setor. O cresci-  Alessandro C. Cezar (Mecalux do  Cláudio Borges (Dumont Enge-
mento do mercado de obras logísticas e Brasil): Sistemas logísticos de alta nharia): Pavimentos de concreto ae-
industriais, a importância do piso nes- produtividade roportuários
sas operações, a demanda pela capaci-  Públio Penna Firme Rodrigues  Lucio Vitor Soares (WTorre Em-
tação técnica do segmento e a evolução (LPE Engenharia): Evolução das téc- preendimentos Imobiliários): Necessi-
do setor como um todo serão os temas nicas de projeto e execução de pisos dades e exigências dos clientes – Uso da
a serem debatidos no evento. O semi-  Luís Augusto Milano (Matec): Ge- engenharia para o sucesso em obras

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Argamassa ecológica será produzida em escala industrial


Uma nova argamassa que utiliza diretamente sem tratamento nos rios

Shutterstock Royalfive
como matéria-prima resíduos finos e riachos da região. Com a nova téc-
gerados por serrarias de rochas será nica, empresários locais do setor de
produzida em escala industrial no rochas ornamentais "fornecerão" à
Rio de Janeiro. A tecnologia foi de- fábrica a água poluída gerada em
senvolvida pelo Cetem (Centro de suas atividades. A mistura é encami-
Tecnologia Mineral) e pelo INT (Ins- nhada para um processo de secagem
tituto Nacional de Tecnologia) e li- a partir do qual se obtém um resíduo
cenciada para produção para a em- sólido, que é aproveitado na formu-
presa Argamil. A fábrica foi instalada lação da argamassa. Segundo o Ce-
na cidade de Santo Antônio de tem e o INT, cerca de 720 t de resí-
Pádua, no noroeste fluminense, e de um sistema de reúso da água em- duos finos são lançados mensalmen-
inaugurada em junho. Cerca de seis pregada no corte das pedras Mirace- te pelas serrarias de rochas ornamen-
mil pessoas trabalham no setor de ma e Madeira – utilizadas em revesti- tais de Santo Antônio de Pádua. As
rochas da região, que é o maior pólo mentos de pisos e paredes pela Cons- instalações da Argamil têm capaci-
mineral do Estado. Para a fabricação trução Civil. O "pó de rocha" gerado dade de produzir cerca de 1,24 t/mês
do novo produto, a empresa se valerá pelo processo de corte era lançado da nova argamassa.

Inscrições para o Prêmio de Inovação do Confea vão até o dia 1o/8


O Confea (Conselho Federal de Enge- doutorado ou pós-doutorado. A se- Brasil. A premiação acontecerá em
nharia, Arquitetura e Agronomia) gunda engloba pesquisas de criação, dezembro, durante a Soeaa (Semana
criou o Prêmio de Inovação e Criati- materializados em produtos paten- Oficial da Engenharia, da Arquitetura
vidade Tecnológica, de que poderão teados ou patenteáveis, apresentados e da Agronomia), em Brasília. Os in-
participar todos os seus associados. em forma de projeto. Os vencedores teressados devem enviar, até o dia 1o
Os melhores trabalhos produzidos no de cada uma das categorias ganharão de agosto, três exemplares impressos
País por profissionais das áreas abran- passagem, diárias e inscrição para de seus trabalhos para a sede do Con-
gidas pela entidade serão contempla- participar de evento internacional re- fea e uma cópia, por e-mail, para o
dos em duas categorias: trabalhos es- lacionado à sua área de atuação. Os endereço gri@confea.org.br. O Con-
critos e produtos. A primeira é volta- segundos melhores trabalhos serão fea pretende realizar a premiação
da à pesquisa e desenvolvimento em premiados da mesma forma, mas anualmente, sempre com o desfecho
dissertações de mestrado, teses de para participar de evento realizado no durante a Soeaa.

UFPA inaugura laboratório de pesquisa em eficiência energética e hidráulica


O segundo Lenhs (Laboratório de ciência energética e hidráulica para nológicas em metodologias e equi-
Eficiência Energética e Hidráulica atividades de ensino, pesquisa aplica- pamentos. O primeiro Lenhs foi im-
em Saneamento) brasileiro já está em da e extensão. Nos laboratórios, plantado na UFPB (Universidade Fe-
funcionamento no Laboratório de serão realizados treinamentos para deral da Paraíba), em abril; outras
Engenharia Mecânica do Instituto de profissionais do setor de saneamen- unidades estão sendo implementa-
Tecnologia da UFPA (Universidade to, cursos de extensão voltados para das em universidades de outras três
Federal do Pará), em Belém. A rede eficiência energética e redução das regiões geográficas brasileiras: UFMS
de laboratórios tem como objetivo se perdas de água, além de pesquisas (Centro-Oeste), UFMG (Sudeste),
tornar centro de referência em efi- para incorporação de inovações tec- UFPR e UFRGS (Sul).

Ponte pré-fabricada poderia ser construída em 15 dias


Estudo desenvolvido na Universidade tituído de segmentos leves montados cionaria à ponte, além da velocidade
Tecnológica de Chalmers, na Suécia, in loco. A estrutura seria formada de na execução, um aumento considerá-
afirma ser possível construir pontes vigas de fibra de vidro com seção em vel em sua vida útil. Mas o preço é
em apenas duas semanas com sis- "V", reforçadas com fibras de carbono, amargo: os desenvolvedores estimam
temas construtivos pré-fabricados. O e tabuleiro pré-fabricado com concre- que o custo de projeto e execução da i-
sistema proposto pelos pesquisadores to de alta resistência reforçado com fi- bridge seria duas vezes maior que o de
suecos, chamado i-bridge, seria cons- bras de aço. A tecnologia propor- uma ponte convencional.

11
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ÍNDICES
Inflação em junho
Pelo segundo mês consecutivo o aumento
do diesel teve influência no custo do
transporte de materiais

custo médio global de edificações


O encerrou o mês de junho com alta
de 0,50%, percentual inferior à inflação
de 1,98% apresentada pelo IGP-M (Ín-
dice Geral de Preços de Mercado) da
Fundação Getúlio Vargas.
A alta do IPCE foi impulsionada
pelo aumento do preço da barra de
aço CA-50 3/8"(Ø=10 mm/m=0,617
kg/m). Em maio seu reajuste foi de
11,23%. No mês de junho, o insumo
sofreu inflação de 2,52% e seu preço
subiu de R$ 3,52/kg para R$ 3,61/kg.
Esses aumentos são reflexo do segun-
Data-base: mar/86 dez/92=100
do reajuste do ano repassado pelas si-
MÊS E ANO IPCE – SÃO PAULO
derúrgicas no mês de maio.
global materiais mão-de-obra
Pelo segundo mês consecutivo o
Jun/07 113.900,14 53.671,02 60.229,13
aumento do diesel influenciou o custo
jul 114.065,53 53.547,83 60.517,71
dos transportes dos materiais. A pedra
ago 114.197,13 53.679,42 60.517,71
britada no 2, que no mês de maio já
set 114.636,80 54.119,10 60.517,71
havia sofrido o impacto da inflação
out 114.860,42 54.342,72 60.517,71
com aumento de 3,68%, sofreu novo
nov 115.225,62 54.707,92 60.517,71
reajuste de 3,60% em junho, passando
dez 115.335,12 54.817,42 60.517,71
de R$ 56,40/m³ para R$ 58,43/m³. A
jan 115.733,11 55.215,41 60.517,71
areia lavada média, que em maio cus-
fev 116.040,01 55.522,30 60.517,71
tava R$ 64,65/m³, teve seu preço rea-
mar 116.121,80 55.604,09 60.517,71
justado para R$ 66,44/m³ em junho, o
abr 116.185,57 55.667,86 60.517,71
equivalente ao aumento de 2,78%.
mai 123.736,89 58.257,90 65.478,99
Insumos como tubo soldável de
Jun/08 124.358,19 58.879,20 65.478,99
cobre classe E (Ø=22mm) e tinta látex
Variações % referente ao último mês
PVA (acabamento=fosco e aveluda-
mês 0,50 1,07 0,00
do) sofreram inflação de 7,21% e
acumulado no ano 7,82 7,41 8,20
1,53%, respectivamente.
acumulado em 12 meses 9,18 9,70 8,72
Devido à alta de preços em junho,
Metodologia: o Índice PINI de Custos de Edificações é composto a partir das
não houve significativas deflações que
variações dos preços de um lote básico de insumos. O índice é atualizado por
contribuíssem para a queda do índice.
pesquisa realizada em São Paulo. Período de coleta: a cada 30 dias com
Construir em São Paulo ficou, em
pesquisa na última semana do mês de referência.
média, 9,18% mais caro nos últimos
Fonte: PINI
12 meses. Contudo, o percentual é in-
ferior ao apresentado pelo IGP-M,
Suporte Técnico: para tirar dúvidas ou solicitar nossos Serviços de Engenharia ligue para (11) 2173-2373
que registrou alta de 13,44% no mes- ou escreva para Editora PINI, rua Anhaia, 964, 01130-900, São Paulo (SP). Se preferir, envie e-mail:
mo período. economia@pini.com.br. Assinantes poderão consultar indíces e outros serviços no portal www.piniweb.com

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IPT RESPONDE Envie sua pergunta para


o email iptresponde@pini.com.br

Aquecedor solar
sagem) e utilizar energia elétrica ou gás

Marcelo Scandaroli
Em São Paulo, uma lei impõe que 40% do
aquecimento de água seja feito por via combustível. Diversas configurações são
solar. Isso obrigará a casa a ter dois adotadas no mercado. Não há obrigato-
boilers de armazenamento? Edifícios riedade de instalação de um segundo
terão que ter boiler coletivo, para boiler, pois o sistema complementar
misturar com a água do aquecedor? pode estar integrado ao próprio reserva-
Rui Dante Costa tório térmico ou ser um aquecedor de
São Paulo passagem. O mais adotado para casas
possui uma resistência elétrica instalada
O sistema de aquecimento solar de água no interior do reservatório térmico.
residencial opera elevando gradualmen- Caso a temperatura da água não atinja a
te a temperatura da água no interior do temperatura desejada via aquecimento mento de água quente da edificação. A
reservatório térmico (boiler) ao longo do solar,o apoio elétrico entra em operação. segunda é distribuir a água pré-aquecida
dia. Mesmo que o sistema seja projetado De modo geral, existem duas alternati- pelo sistema solar central coletivo e o
para atender a 100% da demanda de vas em edifícios.A primeira (e mais ado- aquecimento complementar ser feito na
água quente,é recomendável a instalação tada) é distribuir a água quente na tem- unidade por um aquecedor individual
de um sistema complementar para atuar peratura de consumo.Nesse caso,o siste- (de acumulação ou instantâneo).
em dias com baixo nível de radiação ma solar e o complementar (elétrico ou Daniel Sowmy, engenheiro civil
solar. O sistema complementar pode ser gás) fazem parte de um sistema central Cetac-IPT (Centro de Tecnologia do Ambiente
de acumulação ou instantâneo (de pas- coletivo responsável por todo forneci- Construído/Laboratório de Instalações Prediais)

Rachaduras
Existe norma sobre limite de abertura de incidência considerável de fissuras ver-
Alexander Orlov/Shutterstock

rachaduras em alvenaria? Como avaliar ticais (causadas por fluxos isostáticos de


se há risco de colapso? tração, perpendiculares às isostáticas de
Marli Inez Gans compressão), acompanhadas de outras
Porto Alegre indicações do prejuízo à segurança:
desaprumos/desalinhamentos das pa-
Não existe nenhuma norma que esta- redes; destacamentos/seccionamentos
beleça os limites perigosos para as aber- nos encontros com pisos, tetos ou
turas de fissuras em alvenarias. Até mesmo outras paredes; esmagamentos
porque os limites variariam muito em ou destacamento de revestimentos;
cada caso, função do tipo de material vazamentos/ruptura de tubulações;
(concreto, cerâmica etc.), da natureza configuração dos septos e direção dos emperramento ou mau funcionamen-
da parede (vedação ou estrutural), in- furos dos blocos, presença de ar- to de caixilhos; ruptura de placas de
tensidade e tipo de tensões,esbeltez e es- maduras nas paredes, tubulações, vidro etc.
pessura das paredes, distribuição e revestimentos e outros. Em geral, os Ercio Thomaz, engenheiro civil
tamanho de vãos de portas ou janelas, limites perigosos são representados por Cetac-IPT (Centro de Tecnologia doAmbiente Construído)

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CARREIRA

Benjamin Ernani Diaz


Experiência na Alemanha e criação de grupo de desenvolvimento
tecnológico auxiliaram o engenheiro no desafio de projetar a ponte
Rio–Niterói e as estruturas da Central Nuclear de Angra 2

specializado em projetos liga- que estudou matérias técnicas e pre-


E
Acervo pessoal

dos ao concreto armado e pro- parou uma tese de doutorado sobre


tendido de obras pesadas, Diaz par- cascas. Para isso, não teve nenhuma
ticipou de projetos como a ponte orientação acadêmica, "como era
Rio–Niterói, a Central Nuclear de comum na Alemanha", conta. Anos
Angra 2 e duas pontes sobre o rio mais tarde, Kupfer, que foi "o mestre
Pinheiros, na cidade de São Paulo, com quem pude aprender engenharia
além de ter prestado consultoria de na prática", assumiria o cargo de pro-
estruturas para os viadutos da Fer- fessor titular de concreto armado e
rovia do Aço, dentre inúmeras ou- protendido na mesma Universidade.
tras obras de grande porte. O início Sua "teoria de cascas com auxílio
da carreira se deu com um estágio de funções hipercomplexas" também
que o responsabilizava pelo contro- figura dentre as principais realiza-
PERFIL
le e verificação de todos os dese- ções. No desenvolvimento desse es-
Nome: Benjamin Ernani Diaz nhos de execução do primeiro edifí- tudo aplicou uma álgebra diferencia-
Idade: 71 anos cio de porte de aço no País, a estru- da à análise de cascas. "A parte mate-
Nascimento: Rio de Janeiro tura do Edifício Avenida Central, mática é muito interessante. Foi feita
Graduação: Engenharia Civil pela Escola no Rio de Janeiro. Devido à com- uma discussão inteiramente nova
Politécnica da UFRJ (Universidade plexidade e responsabilidade da ta- sobre cascas formadas por superfí-
Federal do Rio de Janeiro), em 1959 refa, o engenheiro considera essa cies de segunda ordem", comenta.
Especializações: em concreto uma de suas principais realizações Outro importante projeto pessoal foi
protendido, em Munique, e doutorado profissionais. Na mesma época, tra- a criação de um grupo de informáti-
na Escola Técnica de Hannover, ambas balhou na montagem da ponte em ca aplicada à engenharia na firma
na Alemanha. É livre-docente na Escola arco de aço da Cachoeira dos Vea- Noronha Engenharia. Esse grupo,
Politécnica da UFRJ dos, localizada no Rio São Francis- nos idos de 1967, desenvolveu pela
Empresas em que trabalhou: escritório co a jusante da Barragem de Paulo primeira vez um projeto totalmente
de projeto de Paulo Fragoso, Dyckerhoff Afonso, entre Alagoas e Bahia. concebido em computador. Também
& Widmann, Aço Torsima, Noronha As experiências mais importantes desenvolveram os primeiros progra-
Engenharia, Promon Engenharia, Escola para o encaminhamento da carreira mas de pontes, de distribuição trans-
Politécnica da UFRJ, Prefeitura da UFRJ, de Diaz, no entanto, se passaram na versal de pontes, de verificação de
Serviços de Engenharia B. Ernani Diaz Alemanha, na década de 1960. Lá tensões em peças de concreto proten-
Cargos exercidos: chefe de atuou por quase quatro anos como dido. Utilizaram, de maneira inédita,
departamento da Escola Politécnica da engenheiro de estruturas da firma programas de análise de estruturas
UFRJ, professor titular e atualmente Dyckerhoff & Widmann, desenvol- reticuladas no Brasil. Todas essas ini-
professor emérito, decidido pelo vendo pontes em balanços sucessivos ciativas se basearam em estudos iso-
Conselho Universitário, prefeito do em parceria com o Dr. Herber Kupfer. lados de linguagem Fortran e de aná-
campus da UFRJ Na Universidade Técnica de Muni- lise de estruturas.

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estruturas, considerados revolucioná-


rios, são, segundo diz, coerentes e ade-
Dez questões para Benjamin Ernani Diaz quados, sem "elementos supérfluos".
1 Obras marcantes das quais 5 Por que escolheu a Igualmente complexo foi o proje-
participou: projeto da Ponte engenharia: devido à facilidade to da Central Nuclear de Angra 2, com
Rio–Niterói, como co-responsável em lidar com matemática, física inúmeros carregamentos, combina-
juntamente com o engenheiro Antonio e problemas novos ções de cargas e consideração de cen-
Alves de Noronha Filho; Central tenas de possibilidades de acidentes.
Nuclear de Angra 2, como chefe de 6 Que tipo de formação falta aos Exigiu o uso de programas próprios
projeto dos prédios principais; profissionais recém-saídos da automáticos de dimensionamento de
Ferrovia do Aço, como consultor em universidade: a capacidade do peças de concreto armado. "Talvez o
estruturas da Engefer no projeto e aluno em desenvolver um projeto projeto mais bem-feito no Brasil
construção; e projeto da Ponte de engenharia em que seus quanto à qualidade de execução e con-
Bernardo Goldfarb, em São Paulo conhecimentos sejam utilizados. trole impecável", afirma. De acordo
O trabalho acadêmico deve ter esse com Diaz, o trabalho de dimensiona-
2 Obras significativas da engenharia enfoque, pois o que se forma são mento das estruturas propiciou uma
brasileira: os edifícios A Noite, engenheiros, não pesquisadores economia substancial de aço. Os con-
Copacabana Palace e Hotel Glória, no ceitos exigidos para tantas análises
Rio de Janeiro, a barragem da Usina 7 Conselho ao jovem vieram da base adquirida ainda na
Hidrelétrica de Itaipu, a ponte profissional: estudar, ler graduação, junto ao professor Lindol-
Rio–Niterói, as rodovias Rio–Petrópolis artigos técnicos, ficar atento às fo Dias, que passou conceitos impor-
e São Paulo–Santos, o Metrô de São novidades, participar de palestras tantes para a resolução de problemas
Paulo, a Central Nuclear de Angra 2, os e congressos e se manter atualizado de engenharia.
túneis e viadutos da Ferrovia do Aço, as em técnicas computacionais Diaz também atuou no meio aca-
obras iniciais de Brasília dêmico, tendo sido professor-adjunto
8 Principal avanço tecnológico da Escola Politécnica da UFRJ, quan-
3 Realizações profissionais: minha tese recente: a tecnologia de novos do lecionou diversas disciplinas do
"Teoria de cascas com auxílio de funções materiais, a técnica de processos departamento de estruturas. Assumiu
hipercomplexas", a criação do primeiro construtivos e o uso cada vez mais o cargo de professor titular ao passar
grupo de informática em engenharia maciço de computadores em concurso público. Na mesma
civil do Brasil, a ponte Rio–Niterói e a época, foi convidado pelo então rei-
Central Nuclear de Angra 2 9 Indicação de livro: os escritos tor, professor Paulo Gomes, a assumir
por Stephen Timoshenko. Em a prefeitura da Cidade Universitária.
4 Mestres: professor Lindolfo Dias, que concreto armado e protendido, Exerceu o cargo por quatro anos, em
me passou conceitos importantes de os de Fritz Leonhardt período integral de tempo, tendo par-
análise matemática, Dr. Herbert ticipado de projetos de refloresta-
Kupfer, com quem aprendi engenharia 10 Um mal da arquitetura: pensar mento da Ilha do Fundão, projetos de
na prática na Dyckerhoff & Widmann, que um projeto possa ser feito sem urbanismo, iluminação, asfaltamen-
em Munique interação entre as especialidades to, de estudos de viadutos para cone-
xão ao continente, de construção de
obras civis, de subestações, de im-
O pioneirismo e o espírito de rias de tabuleiros com longarinas múl- plantação do sistema digital de telefo-
busca por inovação tecnológica, que tiplas nos acessos da ponte sobre o nia, dentre outros.
inclusive determinaram a escolha da mar", salienta. Uma realização não ligada à enge-
profissão, foram colocados à prova A admiração por essa obra vai nharia é a composição do livro "Fi-
com o projeto e construção da ponte além de sua complexidade técnica. Do gueiras no Brasil", em parceria com o
Rio–Niterói. Nela foram exploradas ponto de vista estético, considera que botânico Pedro Carauta. Organizado
novas tecnologias de colagem de a ponte foi bem inserida ao contexto e montado por Diaz, incluindo a pre-
aduelas e de montagem, além de uma da Baía de Guanabara, contando com paração fotográfica, a publicação traz
grande variedade de tipos de funda- continuidade arquitetônica entres os a descrição detalhada de 50 espécies
ções, incluindo estacas escavadas até a trechos em concreto e aço, mesmo de figueiras nativas e exóticas encon-
rocha, no trecho de mar. "Foram eli- tendo sido projetados por grupos dife- tradas no País.
minadas as transversinas intermediá- rentes. Os processos construtivos das Bruno Loturco

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MELHORES PRÁTICAS
Corte de lajes de concreto
Correto posicionamento das máquinas de corte e obediência a procedimentos
de segurança garantem qualidade na execução do serviço

Posição do corte
No processo de locação, deve-se
garantir que o corte não cause
qualquer dano à estrutura ou às
instalações da edificação. Para que
isso não ocorra, é importante
consultar os projetos do edifício.
Para o corte em lajes armadas, pode-
se lançar mão do ensaio de
pacometria, de modo a evitar cortes
de vergalhões importantes.
Fotos Marcelo Scandaroli

Furo nas extremidades


O processo de corte na laje começa pela
realização de um furo nas extremidades
da peça a ser cortada. Ele evita que a
serra, que será utilizada na etapa
seguinte, realize um corte mais extenso
que o necessário. A base da extratora
deve estar corretamente fixada: algumas
contam com sistema de vácuo que
confere maior rigidez ao posicionamento,
outras devem ser travadas por meio de
pinos cravados no piso.

Montagem do trilho
Após a realização dos furos nas
extremidades onde ocorrerá o corte da
laje, deve-se fixar o trilho por onde irá
correr o corpo de serra circular. Esse
posicionamento é fundamental para que o
corte seja feito na posição correta.

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Ajuste da serra
Antes de se proceder ao corte da peça, é não estiverem corretamente apertados,
sempre importante verificar o nível de poderá haver curvaturas e empenamentos
ajuste da serra de corte ao corpo do no plano de corte, além de riscos de
equipamento. Se os parafusos de fixação travamento e danos à serra.

Execução do corte
No momento do corte, seja com
a serra circular, seja com a serra-
copo, a presença de água em
abundância é importante para
minimizar o desgaste do
equipamento. A operação com
controle remoto também é um
fator promotor de segurança
Fixação da placa nesse tipo de serviço.
Antes de se realizar o corte da
laje com a serra circular, é
importante que se tomem os
cuidados necessários para
evitar a queda da laje. A fixação
do trecho cortado pode ser feita
de diversas maneiras: pode-se
lançar mão da realização de um
furo no centro da placa, como o
exibido na foto; da cravação de
pinos no teto e na parte
superior do trecho a ser
cortado; ou de tripés e
cavaletes para sustentação da
peça a ser cortada.

Colaboração: professor Antonio Domingues de Figueiredo, da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, e Engefuro.

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ENTREVISTA
Financiamento
construtivo
Gerente de padronização e normas técnicas da Caixa
explica os critérios do banco para financiar construções
com sistemas inovadores

Divulgação CEF
CLÓVIS MARCELO
DIAS BUENO
Formado em engenharia civil pela
UFMG (Universidade Federal de
Minas Gerais), em 1983, e pós-
graduado, em 2002, em Negócios
Imobiliários, trabalha há mais de 25
anos na CEF (Caixa Econômica
Federal). Já circulou entre as áreas
de avaliação de imóveis, crédito
imobiliário e perícias técnicas.
Atualmente, é gerente nacional de
Gestão, Padronização e Normas
Técnicas da CEF. Nesse cargo desde
2006, responde pelas normas e
padrões que regem as atividades
ara eliminar o déficit habitacional,o mento trará, portanto, extrapola o cará-
especializadas de mais de mil
engenheiros e arquitetos
P Brasil precisa construir 7,2 milhões
de novas unidades. A participação da
ter meramente técnico. Os mais de mil
engenheiros e arquitetos da CEF ava-
empregados da instituição.
CEF (Caixa Econômica Federal) é fun- liam o valor mercadológico das unida-
damental para essa política social.A ins- des, bem como a infra-estrutura urbana
tituição opera recursos de financiamen- das regiões onde serão inseridas. É im-
to e repasse para a produção de habita- prescindível, ainda, a análise da adequa-
ções,respondendo por mais de R$ 13 bi- ção da tecnologia à região,conforme de-
lhões de novas contratações em 2007. A fendeu Clóvis Marcelo Dias Bueno. "É
responsabilidade de lidar com tal mon- importante conscientizar o setor da
tante de recursos se manifesta na preo- construção de que deve considerar espe-
cupação com os padrões de desempe- cificidades locais e agregar a inteligência
nho mínimo exigidos dos sistemas e racionalidade do trabalho de arquite-
construtivos que adota. A Caixa cuida tos e engenheiros", afirmou. Para ele, é
para que os produtos, financiados por necessário estudar também a composi-
até 30 anos, durem por tempo suficiente ção do custo de produção de habitações
para amortizar os investimentos. A ava- nas cidades, onde o insumo mais caro
liação dos resultados que o empreendi- costuma ser o terreno.

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ENTREVISTA

O que a Caixa Econômica Federal nentes ou sistemas construtivos, me-


espera de um sistema construtivo? diante comprovação, no que couber ao
Um sistema construtivo, convencional
“É fundamental caso específico, de desempenho nos
ou inovador, deve compatibilizar de- evitar que as normas quesitos segurança estrutural, seguran-
sempenho técnico e viabilidade econô- ça ao fogo,estanqueidade,durabilidade,
mica. Quando avalia um sistema cons-
técnicas se tornem conforto térmico e conforto acústico.
trutivo, a Caixa, como banco público e apenas instrumentos Esse desempenho é comprovado pela
instituição responsável pela operação apresentação de resultados de ensaios
das políticas públicas do Governo Fede-
de reserva de mercado realizados por instituição independente
ral voltadas para habitação e cidades, a determinados e de reconhecidos saber e experiência
foca o desempenho do produto final e no tema em questão. Sendo assim, não
não o do processo de projeto e execu-
fabricantes” atestamos qualidade e desempenho de
ção. Assim, uma unidade habitacional, tecnologias, apenas decidimos, a partir
casa ou apartamento, qualquer que seja sas científicas, tais como o Habitare de elementos técnico-científicos, se de-
a forma como foi construída, deve ofe- (Programa de Tecnologia de Habita- terminada tecnologia pode ser empre-
recer condições de segurança estrutural, ção) e o Prosab (Programa de Pesquisas gada nas obras financiadas pela Caixa.
segurança ao fogo, estanqueidade, du- em Saneamento Básico), e ainda por
rabilidade, conforto térmico e acústico. patrocínios a eventos,pesquisas e publi- Por que uma instituição
cações relacionados à tecnologia cons- financiadora deve se preocupar com
E o que leva à adoção de sistemas trutiva. Vale esclarecer que, alinhada a qualidade e o desempenho dos
não convencionais? com as políticas nacionais, a Caixa en- sistemas construtivos?
Na aprovação de sistemas construtivos tende que a solução para a demanda ha- A preocupação da Caixa deve ser com-
não convencionais ou inovadores, ob- bitacional não se restringe à produção preendida a partir de dois enfoques dis-
servamos a oportunidade de aplicação rápida e industrializada de unidades. A tintos. Como banco público, que deve
desse sistema frente à solução conven- tecnologia, que constitui elemento fun- apresentar resultados financeiros para a
cional,identificando vantagens em rela- damental na construção das soluções, sociedade brasileira, os produtos finan-
ção aos custos ou ao desempenho. Um não responde por si completamente ao ciados pela empresa, inclusive habita-
sistema construtivo inovador deve ofe- problema. Há muito espaço para avan- ção, devem ser duráveis e corresponder
recer custo menor e prazo reduzido, ços nas questões tecnológicas, seja pela a garantias reais, aceitas e comercializá-
preservando desempenho mínimo no pesquisa de novos materiais e procedi- veis em mercado. Produtos de melhor
produto final.Ou ainda,em outra abor- mentos de aplicação e execução. qualidade e desempenho têm preço
dagem, resultar em desempenho muito melhor e são mais fáceis de vender. Sob
superior com o mesmo custo da solu- Qual a influência da mão-de-obra? outro enfoque, quando pensamos na
ção convencional. Há que se qualificar a mão-de-obra política pública para habitação e cida-
para alcançar maior produtividade, in- des,que é operacionalizada pela Caixa,é
Mais do que a redução de custos, a serir racionalidade nos processos de importante garantir a melhor aplicação
prioridade é elevar o desempenho? execução, minimizando desperdícios e para os recursos disponíveis, produzin-
Na habitação popular, em que escala e retrabalhos. Temos que romper com o do com qualidade e desempenho, de
industrialização da produção costu- ciclo da ilegalidade e atender às normas forma a alcançar resultados efetivos no
mam ser indicadas como soluções pelo e leis vigentes, sejam nacionais ou lo- atendimento da demanda habitacional
setor da construção, a Caixa busca pre- cais, ambientais, urbanísticas, traba- e na inclusão social.
servar a qualidade do produto final. lhistas ou do consumidor. Também é
Essa é a garantia do negócio de crédito fundamental evitar que as normas téc- Quantas empresas de construção
imobiliário e o objetivo da política pú- nicas se tornem apenas instrumentos civil mantêm relacionamento de
blica: prover acesso à moradia digna. de reserva de mercado a determinados crédito com a Caixa? Esse
fabricantes, em detrimento da concor- número é considerado suficiente
Qual é o papel da Caixa no rência, assim como fortalecer as entida- para a liberação do crédito
desenvolvimento de novas tecnologias des representativas do setor e valorizar destinado à redução do
construtivas? A instituição atua como o trabalho de arquitetos e engenheiros. déficit habitacional?
fomentadora para o desenvolvimento A Caixa opera recursos de financia-
de técnicas que reduzam custos e Quais os procedimentos da Caixa mento e repasse para produção habita-
aumentem a rapidez da para aceitação de novas tecnologias? cional. No crédito imobiliário, a Caixa
construção popular? Ou seja, como atesta a qualidade e o responde por 31% dos recursos do
A Caixa fomenta o desenvolvimento de desempenho das metodologias? SBPE (Sistema Brasileiro de Poupança
novas tecnologias construtivas por A Caixa acata a utilização de novas tec- e Empréstimo) e 51% dos recursos do
meio de programas de apoio às pesqui- nologias, sejam esses materiais, compo- FGTS (Fundo de Garantia do Tempo

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ENTREVISTA

de Serviço), o que, em novas contrata- bilidade. Não é possível aceitar que uma
ções, totalizou em 2007, respectiva- residência financiada em 30 anos não re-
mente, R$ 5,8 e R$ 7,3 bilhões. Nos re-
“Um sistema sista a cinco anos de utilização. Esse risco
passes do Orçamento Geral da União, construtivo inovador é importante e diretamente relacionado
em que os principais clientes são mu- à adoção irresponsável de tecnologias
nicípios e Estados, mantemos relacio-
deve oferecer custo sem desempenho comprovado.
namento com mais de 2.200 municí- menor e prazo
pios brasileiros, sendo que as contrata- Há motivos tecnológicos para o
ções habitacionais totalizaram R$ 6,2
reduzido, preservando déficit habitacional do País?
bilhões em 2007. Esses recursos são desempenho mínimo A tecnologia deve ser encarada como
aplicados conforme orienta a política parte da solução do problema habita-
do Governo Federal para enfrenta-
no produto final” cional. O enfrentamento do déficit
mento do déficit habitacional. passa por medidas distintas, tais como
intervenção efetiva nos processos espe-
Quais os critérios para que um vados esses aspectos, que na maior culativos que ocorrem nas cidades bra-
empreendimento seja aprovado e parte dos casos são definidos exter- sileiras, oferta regular de recursos para
conte com financiamento da Caixa? namente, as propostas são livres. habitação e para infra-estrutura urba-
As análises para aprovação de um em- na, articulação entre instituições públi-
preendimento incluem aspectos ca- Mas como a Caixa estimula a busca cas e privadas, facilitação do crédito de
dastrais, jurídicos, de risco de crédito, por qualidade nas habitações? longo prazo para famílias de menor
sociais e de engenharia. Considerando Evidentemente, quando falamos de renda e pela tecnologia de construção.
apenas os aspectos de engenharia, um crédito imobiliário, a Caixa tem prer- Uma habitação é um bem caro. Preser-
empreendimento precisa atender às rogativa para escolha dos negócios vadas as condições de desempenho do
normas técnicas, à legislação ambien- que pretende apoiar, privilegiando os produto final, quanto mais rápida a
tal e urbanística, além de oferecer con- bons projetos, independente da faixa construção, menor o custo financeiro
dições adequadas de infra-estrutura de renda alcançada. Acreditamos que envolvido, quer para a empresa cons-
urbana para atendimento dos futuros a habitação social merece qualidade trutora, quer para a família beneficia-
moradores. As análises de engenharia em seus projetos e que é nesse seg- da. Daí a importância da racionaliza-
objetivam, ainda, verificar a viabilida- mento onde residem os maiores de- ção e da industrialização das obras.
de técnica do empreendimento, em es- safios para arquitetos e engenheiros.
pecial a inserção mercadológica das E qual a importância da escala?
unidades que serão produzidas. Como e para que esses manuais são Como o problema é grande e varia no
desenvolvidos? território – o produto demandado em
O que essas análises consideram? Os manuais têm abrangência nacional São Paulo é diferente do produto para o
Englobam vistoria da área de inter- e respondem pelos padrões de análise interior do Piauí,por exemplo –,não há
venção e entorno, além da verifica- e acompanhamento de empreendi- solução, sem alternativas tecnológicas,
ção de projetos, especificações, cus- mentos a serem observados em todo o que alcance a produção massiva e tam-
tos, incorporações e viabilidade País. São desenvolvidos internamente, bém a individual. O desafio é grande. A
econômico-financeira, sendo que, pelo grupo de arquitetos e engenheiros construção civil brasileira experimenta
nas propostas, são observados os as- da Caixa, e têm escopo restrito aos cri- grandes contrastes. Às vezes, no mesmo
pectos inerentes à concepção, fun- térios já comentados anteriormente.O bairro, temos obras com a melhor tec-
cionalidade, exeqüibilidade técnica, quadro de funcionários da Caixa, que nologia disponível de gestão, projeto e
custos, prazos e necessidade de in- é a maior contratante de arquitetos do execução, e temos obras péssimas, em
tervenções complementares. País, conta com mais de mil profissio- que qualquer leigo observa desorgani-
nais de engenharia e arquitetura. zação e desperdícios. Some-se a isso a
Esses projetos devem ser, autoconstrução sem assistência técnica,
obrigatoriamente, concebidos a Quais os riscos, para uma instituição responsável por parcela significativa da
partir dos manuais internos da Caixa? financiadora, da adoção de produção habitacional para a popula-
As propostas devem atender a crité- tecnologias ou sistemas construtivos ção de menor renda.
rios mínimos, definidos pela Caixa sem desempenho comprovado?
conforme o recurso e o programa, Como banco público que opera recur- A redução do déficit habitacional
relacionados às garantias das opera- sos públicos e deve oferecer retorno à depende, obrigatoriamente, do
ções de crédito, ao cumprimento da sociedade brasileira, a Caixa não pode estímulo à autoconstrução assistida?
legislação aplicável, especialmente ser leviana ao aceitar como garantia de O enfrentamento do déficit passa por
ambiental e urbanística, e ao atendi- crédito unidades habitacionais que não escala e velocidade, o que mantém forte
mento do consumidor final. Obser- oferecem segurança estrutural ou dura- correlação com a tecnologia. Isso não

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ENTREVISTA

significa que se tenha que desprezar a pela deficiência nas estruturas de ga- cos, seja o cimento, o aço ou a madeira,
autoconstrução assistida, que respon- rantias e seguros, que estão sendo re- no preço final da habitação, importa o
de hoje como opção preferencial de pensadas pelas instituições interessa- valor da terra. Daí a necessidade de am-
produção habitacional das classes C e das em atuar nesse segmento. pliar a discussão para o custo de produ-
D, via crédito para aquisição de mate- ção das cidades. Hoje, o desafio de dis-
rial de construção, e desempenhará, A busca por novas tecnologias, ponibilizar cidade digna, com serviços,
sem dúvida, importante papel na solu- que atendam a esse segmento, transporte e infra-estrutura,aliado à in-
ção do déficit. caminha no sentido da dustrialização e boa técnica, consti-
industrialização ou, ao contrário, da tuem as principais dificuldades para
Ainda assim, o senhor acredita que busca por materiais locais e técnicas moradias populares eficazes.
o nicho de moradias populares é simplificadas de construção?
atraente e pode ser explorado por A solução é mista. Os produtos habi- Onde estão os maiores custos
construtoras? tacionais demandados nos diversos de construção habitacional?
Não tenho dúvidas de que o segmento territórios do País, da metrópole à Como reduzi-los?
é atraente. Estamos falando de mais de pequena cidade do interior, são dife- Como disse, o maior custo é a terra, o
60% da demanda, em um período fa- renciados. Nem todos serão executa- lugar onde se constrói. Daí a importân-
vorável como nunca antes. Essa popu- dos em escala e com industrialização. cia do planejamento urbano como ca-
lação experimentou nos últimos anos Hoje vemos espaço também para as minho para minimizar a especulação
aumento relativo expressivo em renda, soluções simplificadas e tradicionais. imobiliária nas cidades. Desde 2001,
que ainda não foi capturada para aten- contamos com o marco regulatório, que
dimento das necessidades habitacio- De que maneira a alta dos preços é o Estatuto da Cidade.Ao lado da ques-
nais. Uma família com R$ 800,00 de dos insumos afeta o segmento de tão da terra urbanizada, temos o custo-
renda mensal é consumidora de crédi- moradias populares? tempo e custo-desperdício,que também
to para bens como televisores e gela- Hoje, o principal insumo em uma uni- são significativos. Daí a importância de
deiras, mas não consegue obter crédito dade habitacional é a terra urbanizada. aprimoramento da gestão das obras.
habitacional. Isso acontece um pouco No mesmo patamar dos insumos bási- Bruno Loturco
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TÉCNICA E AMBIENTE
Fina e eficiente
Desenvolvimento de argamassa de pequena espessura para revestimento
interno reduziu o consumo de material e a geração de resíduos, além de
diminuir os custos com mão-de-obra
Resolução Conama (Conselho
A

Divulgação FA Oliva
Nacional do Meio Ambiente) no
307, em vigor há seis anos, ao respon-
sabilizar o gerador pelo destino dado
ao entulho visa diminuir a quantida-
de de resíduos depositados em bota-
foras. De acordo com o texto, os resí-
duos de gesso não podem ser descar-
tados juntamente com os demais,
uma vez que esse material não conta
com tecnologia de reciclagem econo-
micamente viável. A partir desse fato,
a F A Oliva Empreendimentos Imobi-
liários passou a buscar uma alternati-
va de revestimento que gerasse menos
resíduos no canteiro de obras.
Foi assim que a Comunidade da
Construção de Campinas, em parce-
ria com a Abai (Associação Brasilei-
ra de Argamassa Industrializada), a Seqüência do desenvolvimento do revestimento de
ABCP (Associação Brasileira de Ci-
mento Portland) e empresas de ci-
baixa espessura
mento, desenvolveu um revestimen- 1. Disponibilidade da obra
to cimentício de pequena espessura 2. Caracterização do revestimento de gesso
para uso em interiores. Vicente 3. Experimentação com revestimento de argamassa – aplicação manual
Paulo de Souza, engenheiro da F A 4. Observações comparativas dos sistemas
Oliva e membro do Conselho da Co- 5. Expectativas e resultados
munidade da Construção, explica
que a empresa colocou uma de suas
obras à disposição para a realização vestimento de Paredes e Tetos – Re- vantagens observadas, Souza destaca a
de testes. Os trabalhos de desenvol- quisitos, em vigor desde 2005. qualidade do acabamento final, a ve-
vimento do produto demandaram Inicialmente, o produto foi aplica- locidade de execução, a limpeza com
também treinamento de mão-de- do nas paredes internas de quatro uni- menor geração de resíduos e o desem-
obra para obtenção da produtivida- dades do Residencial Torres da Ponte, penho. "O custo ficou próximo do que
de almejada. localizado na cidade de Jundiaí, no in- tínhamos com o gesso", conta. Um
A argamassa, obtida à base de ci- terior paulista. Os resultados positivos dos motivos para o custo competitivo
mento, cal, areia e aditivos não tóxi- motivaram a F A Oliva a adotar o re- foi a possibilidade de usar mão-de-
cos, tem tempo em aberto controlado. vestimento, em detrimento do gesso, obra própria, sem a necessidade de
Foi atestada conforme a NBR 13281 – nas 52 unidades de outro empreendi- terceirização. "Antes, contratávamos
Argamassa para Assentamento e Re- mento na mesma cidade. Dentre as gesseiros", explica Souza.

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Para a aplicação, manual, foi ado- massa por metro quadrado de parede. mento. Um deles é a própria forma de
tado método semelhante ao do gesso. Os revestimentos cimentícios conven- aplicação. Embora a construtora perce-
"O maior tempo em aberto ajudou no cionais consomem até 16 kg de arga- ba melhoras na performance da mão-
desempenho dos operários", observa massa para recobrir a mesma área. O de-obra, a Comunidade da Construção
Souza. Usou-se desempenadeira plás- volume de resíduos em comparação ao está avaliando os benefícios da mecani-
tica para a aplicação, corrugada para total consumido não chega a 4%. zação da aplicação. A intenção é elimi-
desempeno, e lisa para o acabamento A produtividade dos pedreiros nar a etapa de sarrafeamento com a
final. O desempenho da aplicação foi atendeu às expectativas da Comunida- projeção da argamassa já na espessura
atestado com medições de tempo de de da Construção campineira. Cada desejada. Outro ponto é a aplicação de
cada etapa, desde a preparação até o operário tem executado aproximada- massa corrida. "Acabamos utilizando
acabamento final. mente 5,5 m2 de revestimento por hora, um pouco a mais desse material do que
A forma de aplicação foi funda- no caso das paredes, e 4 m2 por hora, o utilizado para corrigir as imperfeições
mental para a economia de material. quando se trata de teto. "Houve tam- do gesso", conta Souza. É importante
Em vez do sistema convencional – cha- bém resultados positivos obtidos com ressaltar que revestimentos tão delga-
pado com colher de pedreiro – a desem- ensaios de cisalhamento e resistência à dos podem "fotografar" as juntas dos
penadeira com argamassa é comprimi- aderência", comemora Souza. blocos. Também pode ocorrer rápida
da contra o substrato. Isso possibilitou Por se tratar de um procedimento evaporação da água, o que prejudica a
que o revestimento tivesse 5 mm de es- em desenvolvimento, alguns pontos aderência da camada ao substrato.
pessura, com consumo de 9 kg de arga- estão sendo observados para aprimora- Bruno Loturco
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DESABAMENTO DA LINHA 4

Roteiro acidental
Laudo do IPT reconstrói suposta seqüência de fatores que teriam culminado no
desabamento do túnel da Linha 4 de São Paulo. Resumimos aqui os principais
pontos do relatório
epois de um ano e cinco meses de
D trabalho, foram entregues ao Mi-
nistério Público, no dia 6 de junho úl-
timo, os 29 volumes e dois CDs que
compõem o relatório elaborado pelo
IPT (Instituto de Pesquisas Tecnoló-
gicas do Estado de São Paulo) sobre o
colapso do túnel da linha 4 do Metrô
de São Paulo, ocorrido no dia 12 de ja-
neiro de 2007, na futura estação Pi-
nheiros. O acidente vitimou sete pes-
soas e deixou mais de 200 desalojadas.
A matéria que se segue baseia-se ex-
clusivamente nas informações contidas
na cópia do laudo fornecida pelo Mi-
nistério Público, uma vez que, por im-
pedimento legal,nem o IPT nem o pró-
prio MP ou fontes ligadas à investiga-
ção puderam se manifestar até a data de
fechamento desta edição. Também não
se encontrará aqui a defesa do Consór-
cio Via Amarela, que preferiu analisar a
totalidade do laudo antes de fazer qual-
quer manifestação. Trata-se, portanto,
de uma sinopse dos principais trechos
do laudo, sem quaisquer comentários,
opiniões ou pareceres que não estejam
contidos nos volumes.
Os trabalhos do IPT na cratera do
pátio de obras de Pinheiros tiveram
início em maio de 2007 e envolveram
30 pesquisadores. No total, 25 mil m³
de escombros (rochas, concreto e ar-
maduras de aço) foram objeto de ve-
Evelson de Freitas/AE

rificações, ensaios e análises. Com as


atividades de campo encerradas no
dia 4 de abril, os trabalhos custaram
R$ 6,55 milhões, pagos pelo Metrô de
Os trabalhos do IPT começaram em maio de 2007 e envolveram 30 profissionais em São Paulo, contratante do laudo, con-
campo. Além disso, 5.800 documentos foram analisados forme estabelecia o TAC (Termo de

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Fotos extraídas do relatório do IPT


Antes e depois: o desabamento do túnel sob a rua Capri estendeu-se até o poço de acesso à estação Pinheiros, que teve parte de
sua área soterrada. Ao todo, 25 mil m3 de escombros foram retirados

Ajustamento de Conduta) promovi- laudo. Recalques muito acentuados em mais alarmantes do colapso, pas-
do pelo Ministério Público e assinado relação aos previstos pelo projeto, com saram-se de dez a 15 minutos. Isso,
por todas as partes envolvidas. nítido aumento de velocidade a partir deduz o laudo, evidencia as deficiên-
O laudo foi realizado pari passu à do dia 15/12/2006, foram observados cias do plano de ações de emergência:
retirada das várias camadas de escom- em praticamente todas as seções ins- falha na evacuação de operários (no
bros, para que nada passasse desperce- trumentadas, independentemente da interior do túnel e da obra) e dos mo-
bido. À escavação, seguia-se a conten- posição da frente de escavação. Em 11 radores e transeuntes em superfície e
ção, para garantir a segurança dos téc- de janeiro de 2007,com a intensificação não interrupção do tráfego de veícu-
nicos no local do acidente. Do lado de dos deslocamentos e o agravamento da los, o que culminou em sete mortes
fora da cratera,uma outra frente traba- situação, decidiu-se tomar providên- (seis transeuntes e um operário).
lhava na reunião de informações e de- cias e reforçar o maciço para interrom- O laudo conclui que, embora os
poimentos de testemunhas e de em- per a ruína em curso.A execução dessas níveis numéricos de atenção e de aler-
pregados do consórcio, totalizando ações foi prejudicada pelo número in- ta não tenham sido especificados pelo
5.800 documentos. suficiente de tirantes em estoque,infor- projeto, os valores, a distribuição em
Em essência, segundo o relatório ma o relatório. Também não foram in- planta e a evolução temporal dos re-
do IPT, os fatores contributivos e de terrompidas as detonações, cujo ritmo calques e do restante dos dados moni-
risco que levaram ao acidente estão li- prosseguiu acelerado. Além disso, a torados eram típicos de um processo
gados a falhas nos processos de enge- não existência de uma definição clara de ruína lento, mas progressivo. Essa
nharia (projeto e construção), de ges- sobre a necessidade de paralisação da situação, conflitante com o compor-
tão da obra (controle da qualidade e obra, segundo o IPT, aponta para fa- tamento usual observado em escava-
gestão da comunicação) e de geren- lhas de gestão, planejamento e comu- ções subterrâneas, indicava uma ano-
ciamento de riscos (identificação de nicação. E por fim, falhas no plano de malia, que, se percebida a tempo, seria
perigos, plano de ações de contingên- ações de contingência. suficiente para cumprir os quesitos
cia e de emergência). Próximo ao horário do acidente, qualitativos estabelecidos no projeto
entre os indícios iniciais (trincas no para os níveis de atenção e de alerta.
Falhas de engenharia, gestão da interior do túnel) até as manifestações O relatório acrescenta que a proxi-
obra e gerenciamento de riscos
Para o IPT, a estrutura causal do
Esquema simplificado da estrutura causal do acidente
acidente se inicia num projeto executi-
vo frágil, sujeito a condições críticas de Acidente:
estabilidade durante a escavação do re- Colapso + consequências
baixo do túnel. Passa a seguir por um Presença de transeuntes
processo construtivo que incorpora por falha do plano de
desvios de projeto significativos, e que ações de emergência
Colapso estrutural
é considerado pelo laudo como com-
do túnel-estação
pletamente desconectado do projeto.
Os primeiros sinais do comporta-
mento anômalo do túnel-estação senti-
Projeto executivo Processo construtivo não
do Faria Lima poderiam ter sido nota-
não validado validado e gestão deficiente
dos desde dezembro de 2006, revela o

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DESABAMENTO DA LINHA 4

Esquema simplificado da linha causal do colapso túnel do terminal central do aeropor-


estrutural do túnel-estação sentido Faria Lima, com to de Heathrow, em Londres, levaram
a comunidade tuneleira internacional
origem no projeto executivo
a rever a questão e estabelecer diretri-
zes para promover a melhor prática
Projeto executivo frágil
na gerência de riscos e reduzir a pro-
(não validado) associado
babilidade de ocorrência de acidentes.
a índices alarmantes
O relatório do IPT afirma que tipos
de instrumentação
de contrato não são responsáveis por
sucessos ou insucessos de obras. O im-
portante, segundo a avaliação do IPT, é
Validação do projeto com entender a modalidade contratual, pre-
base na instrumentação parar o projeto base de licitação e es-
pecificá-lo corretamente, incluindo
meios e métodos de controle, consoli-
Alterações de projeto (ICE) dados num plano de gerenciamento de
sem fundamentação sólida projeto. Isso requer treinamento de
equipes para desempenhar as funções.
Ou a contratação de empresas inde-
Mapeamentos precários pendentes e especializadas. Uma junta
de consultores é sempre benéfica, res-
salta o laudo, para fazer verificações em
Projeto executivo frágil marcos relevantes nas diversas etapas
(não verificado) do empreendimento, além de blindar e
reforçar as relações entre as partes.
Na avaliação do IPT, o Metrô de
Modelo Concepção Cálculos e
São Paulo, devido à falta de experiên-
geomecânico estrutural do túnel dimensionamento
cia com contratos turnkey, não ava-
liou adequadamente a possibilidade
de participar mais no processo de
midade do acidente teria sido notada Em relação ao contrato tipo turn- projeto e construção da obra. Limi-
se os dados de instrumentação tives- key, utilizado em diversos países na tou-se a designar técnicos para acom-
sem sido rotineiramente interpretados contratação de obras subterrâneas, há panhar a obra, com a responsabilida-
e analisados por profissionais expe- vários exemplos de sucesso. Entretan- de de verificar se o que estava sendo
rientes, que motivariam o disparo de to, insucessos verificados em casos se- executado obedecia às características
um plano de ações de contingência. E, melhantes, em especial o colapso do físicas e funcionais do projeto. O
caso necessário, ações de emergência
para tentar impedir ou mitigar as con-
seqüências de um eventual colapso. Linha do tempo
NATM e contrato turnkey
Quanto ao método especificado, o
NATM (New Austrian Tunnelling
Method), amplamente utilizado e co-
nhecido da engenharia brasileira, a
opção, segundo o IPT, foi acertada,
Fonte: relatório do IPT

por suas características de flexibilida-


de geométrica e pelas condições de
maciço. Conforme o laudo, o aciden-
te não pode ser atribuído ao método
construtivo em si. Porém, o NATM
exige cuidadosa monitoração, funda-
mental para a segurança da obra.
Principalmente em maciços com con-
dições geológico-geotécnicas comple-
xas como as existentes nessa obra.

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laudo afirma que as equipes do Metrô tação da instrumentação, inclusive geotécnico aprofundado para o proje-
de São Paulo não interagiam com a com retroanálise da estabilidade dos to básico, utilizado para a licitação. As
projetista e, portanto, não se certifica- túneis da via e das plataformas das es- características geológicas da região, e a
vam se essa estava efetivamente ava- tações. Esses estudos, entretanto, não disponibilidade de tempo para inves-
liando o comportamento estrutural foram feitos, não tendo, tanto a con- tigações, em virtude do retardamento
dos túneis, com base na monitoração, tratada como o Metrô de São Paulo, do início das obras, inicialmente pre-
embora recebessem diariamente os entendido que o escopo fosse tão visto para 1994, justificaram o deta-
dados da instrumentação implantada abrangente. Os recursos alocados a lhado mapeamento da região. O nú-
na obra. A verificação do projeto, por esse contrato eram muito inferiores mero de investigações fornecidas, por
elas realizadas, não contemplava as- aos requeridos para o cumprimento ocasião da licitação (2001), ultrapas-
pectos relacionados com a estabilida- das atividades contratadas, analisa o sou as quantidades internacionalmen-
de das estruturas temporárias. IPT. E conclui que o entendimento, te admitidas como adequadas.
O contrato facultava ao Metrô de por parte do Metrô de São Paulo, do Após a contratação da obra, cabia
São Paulo a competência para parali- papel que lhe competia na condição ao Consórcio Via Amarela realizar os
sar os serviços se julgasse existir moti- de contratante de uma obra em regi- estudos complementares que julgasse
vo para isso. Nada o impedia de man- me de Preço Global, fez com que ele necessários. Sondagens adicionais
ter seu controle próprio sobre o anda- não se sentisse co-responsável pela foram feitas e as investigações realiza-
mento da obra, explica o laudo do obra e, por conseguinte, não atuasse das na fase de projeto executivo con-
IPT. O Metrô contratou uma empresa no sentido de detectar práticas capa- firmaram o modelo geológico-geotéc-
para fazer auditoria técnica da cons- zes de comprometê-la. nico elaborado na fase de projeto bási-
trução, com a responsabilidade de co. Foram confirmadas as alternâncias
fazer a verificação dos ensaios corren- Estudos geológico-geotécnicos de litotipos e seus respectivos graus de
tes de controle da qualidade, o que foi O local da escavação da Estação Pi- alteração, as famílias de descontinui-
feito, e também de apoiar a interpre- nheiros foi alvo de estudo geológico- dades presentes e reafirmada a hipóte-

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DESABAMENTO DA LINHA 4

se de presença de falha geológica nessa Pinheiros. A concepção estrutural do


região. De modo geral, as característi- túnel-estação – dimensionada nas me-
cas geológico-geotécnicas da região mórias de cálculo do Consórcio, consi-
eram bem conhecidas, no contexto do derando as hipóteses simplificadoras e
que é necessário para esse tipo de obra. parâmetros geomecânicos adotados –,
O relatório observa que a própria aprovada no projeto executivo, mos-
execução da obra, com a escavação do trou-se sujeita a condições críticas de
poço, que expõe in loco o material es- estabilidade durante a etapa de escava-
cavado, é uma investigação geológica ção do primeiro rebaixo, o que foi con-
tão importante quanto as sondagens firmado pelas análises de verificação
anteriormente feitas. Não se locali- efetuadas na investigação do IPT.
zou, na investigação, um mapeamen- O plano de instrumentação pro-
to geológico do poço Capri, embora posto para o túnel-estação sentido
se saiba que as observações efetuadas Faria Lima, essencial para o processo
durante sua escavação, indicando de validação do projeto e método
Uma investigação preliminar do
menor cobertura de rocha sobre a ca- construtivo NATM, pode ser conside-
Consórcio feita pelo especialista inglês
lota do túnel-estação sentido Faria rado como o mínimo aceitável para
Nick Barton atribuiu o colapso à
Lima, tenham motivado a revisão do esses fins, avalia o laudo. No entanto,
existência de uma rocha de 15 mil t,
projeto desse túnel, ressalta o laudo. os valores numéricos referentes aos ní-
não identificada nas sondagens
Os mapeamentos da escavação ao veis de atenção e alerta para instru-
longo do túnel-estação foram feitos so- mentos-chave de controle não foram
mente em dez seções na calota e em Nick Barton, contratado pelo Consór- definidos, o que dificulta decisões em
duas seções no primeiro rebaixo. Com cio Via Amarela para dar um parecer relação ao próprio processo de valida-
mais de 20 frentes de escavação em cada sobre o acidente. Caso o modelo geoló- ção e de disparo de eventuais ações de
etapa, a boa prática recomendaria que gico ainda não tivesse sido confirmado, contingência e emergência.
todas fossem mapeadas. Além disso, os antes do início da obra ocorreram pelo Além do mais, segundo o IPT, não
mapeamentos não seguiram as normas menos mais duas oportunidades de se justifica a adoção, ao se estabelecer
correntes de registro das características observação, uma durante as escavações o estado de tensões in situ, de um coe-
geológicas, afirma o IPT. Restringiram- do poço Capri e outra nas escavações ficiente de empuxo em repouso (Ko)
se somente às frentes de escavação, não da calota do túnel. igual a 0,33 para o saprolito e o maci-
incluindo tetos e paredes laterais. Essa ço rochoso, tendo em vista que en-
deficiência de dados pode ser atribuída Simplificação do projeto saios pressiométricos na região indi-
à reduzida equipe alocada para essa im- O memorial técnico do projeto do caram valores superiores e a experiên-
portante atividade. O relatório do IPT túnel-estação sentido Faria Lima se cia nacional sugeria, para maciços ro-
cita, por exemplo, que um geólogo da inicia pela apresentação das feições chosos, valores bem mais elevados.
equipe de Acompanhamento Técnico geológicas do local, mostrando as fa- A execução prévia do poço, com
de Obra era responsável pelo acompa- mílias de descontinuidades do maciço grande influência no estado de ten-
nhamento de oito frentes de escavação rochoso. Entretanto, de acordo com o sões iniciais do maciço a ser perfura-
simultâneas. Não há registro, também, laudo do IPT, o projeto apresentado do pelo túnel, conforme determinado
de que essa atividade tenha merecido pelo Consórcio no memorial não faz em análise apresentada no estudo do
atenção devida,avalia o laudo,pois nem mais referência a essas características IPT, resultando em valores de Ko su-
o fato dos croquis estarem sendo apre- do maciço e o considera como um periores a um, não foi considerada. O
sentados em escala equivocada foi per- meio contínuo equivalente, formado baixo valor de Ko tem grande influên-
cebido por quem deveria verificá-los e de camadas horizontalizadas de ma- cia no projeto, como mostram os re-
interpretá-los. teriais com características distintas: sultados das análises efetuadas. Ape-
O modelo geológico observado du- aterro, argilas, areias, solo residual, sa- sar de todas essas deficiências de cál-
rante a remoção dos escombros é o prolito e rocha, não levando em con- culos, assevera o laudo, o próprio me-
mesmo estabelecido nos documentos sideração as feições geológicas. morial do Consórcio aponta para
de licitação e no projeto executivo ela- Assim, segundo o laudo do IPT, o zonas críticas de estabilidade durante
borado antes do início da escavação modelo geomecânico adotado no pro- a escavação do primeiro rebaixo.
dos túneis da estação. O relatório do jeto executivo do túnel apresenta sim- Diversos outros detalhes do proje-
IPT conclui, portanto, que não cabe plificações excessivas em relação ao to do suporte primário da Estação Pi-
qualquer tipo de reivindicação com modelo geológico-geotécnico estabele- nheiros são questionáveis, como mos-
base em surpresas geológicas ou condi- cido, não contemplando feições estru- tra o relatório do IPT. O aspecto que
ções diferentes do maciço, como queria turais do maciço condicionantes para o mais chama a atenção é o de que, para
o relatório apresentado pelo inglês comportamento dos túneis da Estação uma região tão heterogênea, uma

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Como foi realizado o


trabalho do IPT
O IPT faz questão de informar que não faz
parte do escopo do Relatório Técnico
identificar os responsáveis pelo colapso do

Foto extraídas do relatório do IPT


túnel-estação sentido Faria Lima e nem
apontar nomes de técnicos ou de empresas
que eventualmente tenham cometido
falhas, erros ou negligência, em quaisquer
etapas do empreendimento. Nas análises
contidas nos anexos do relatório completo,
alguns técnicos são nominalmente citados Extração de testemunhos de concreto
como fonte de informações. O objetivo da
investigação ficou restrito aos aspectos A monitoração das atividades desenvolvidas aos técnicos do Consórcio Via Amarela e de
técnicos e gerenciais do colapso da foi realizada por meio do gráfico de Gantt, empresas subcontratadas, que realizavam
Estação Pinheiros e aos processos de elaborado com o software MS Project, e atividades na Estação Pinheiros.
engenharia empregados. contribuiu para o controle no tocante ao A dificuldade em entrevistar os demais
Para a realização dos trabalhos de escopo, prazos, custos, qualidade, recursos técnicos do Consórcio motivou os técnicos
investigação, a diretoria do IPT, por meio de humanos e comunicação. Essa estruturação do IPT a participarem das oitivas
uma Resolução, instituiu a equipe de foi validada pela Rina Brasil Serviços realizadas na 3a Delegacia Seccional de
investigação composta por um gestor, um Técnicos Ltda., empresa especializada em Polícia, quando os profissionais do
gerente técnico e mais nove coordenadores certificação da qualidade contratada pelo Consórcio e de seu Consórcio de
de equipes técnicas específicas. A equipe de Metrô de São Paulo, que acompanhou todo Projetistas prestaram informações por
investigação foi composta, ainda, por quatro o trabalho do IPT e considerou-o realizado meio de Termo de Declaração. Quanto aos
consultores nacionais, dois consultores de modo adequado. documentos técnicos do projeto e do
internacionais e pelas equipes da Gestão da Nas entrevistas realizadas com os acompanhamento da execução da obra, o
Qualidade e de Apoio Administrativo do IPT. observadores que presenciaram o colapso IPT recebeu todos os que foram
A equipe de investigação contou, também, do túnel, as quais auxiliaram no solicitados, totalizando mais de 5.800
com o apoio dos laboratórios do próprio estabelecimento da cronologia do acidente, unidades compostas por relatórios,
Instituto para ensaios em amostras de aço, adotou-se o princípio do método Bourdieu plantas, fichas de acompanhamento,
concreto, rocha e solo. de caráter qualitativo e sociológico, desenhos de projetos, entre outros.
O Instituto alocou duas salas para abrigar fundamentado no encadeamento de Foco dos trabalhos de investigação do IPT:
30 profissionais, com montagem de uma estímulos, com o intuito de recuperar a  Levantamento das informações básicas
rede interna para proteção contra a invasão memória referente a um período de tempo disponíveis no processo de licitação.
de hackers nos computadores utilizados nos ou conjunto de fatos de interesse.  Análise do contrato do Lote 2.
trabalhos. Além de toda a infra-estrutura Além dessa técnica de entrevistas, Avaliação do gerenciamento de risco, do
necessária para a execução dos trabalhos, realizaram-se reuniões técnicas com a sistema da qualidade e da gestão da obra,
como telefone, fax, rede internet, finalidade de obter informações não durante a construção.
computadores e mão-de-obra de apoio. disponibilizadas em documentos ou para Avaliação do projeto e da construção da
Por sugestão do IPT, o Metrô de São Paulo dirimir dúvidas em decorrência de Estação Pinheiros.
implantou um sistema para divergências existentes na documentação  Identificação do mecanismo de ruptura.
acompanhamento das atividades analisada. Nessas reuniões,  Avaliação técnica do método
desenvolvidas, cujo escopo foi avaliar a compareceram apenas os técnicos do construtivo adotado e da qualidade na
qualidade e os procedimentos adotados Metrô de São Paulo e um técnico da execução da obra.
pelo IPT. Dessa forma, o projeto foi empresa que realizava trabalho de Análise dos fatores técnicos e
estruturado com base em conceitos de auditoria da qualidade dos serviços, gerenciais relacionados com o colapso
gestão de projeto e gestão da qualidade. embora o convite tivesse sido estendido da Estação Pinheiros.

única seção transversal tenha sido ob- metros mecânicos, para as diferentes Além disso, o relatório enfatiza que
jeto de análise numérica, ainda assim geometrias existentes, para diferentes a experiência internacional mostra
não a menos favorável. Uma estação estados iniciais de tensão etc. Esse con- que, numa obra por NATM, o custo do
como essa requereria um projeto bem junto de estudos serviria de referência item tecnologia, compreendendo in-
mais elaborado, com estudos paramé- para o acompanhamento da obra, com vestigações,projeto e acompanhamen-
tricos com diferentes valores dos parâ- os dados da monitoração. to por instrumentação, é da ordem de

35
materia_IPTxx.qxd 4/7/2008 17:24 Page 36

DESABAMENTO DA LINHA 4

Esquema simplificado da linha causal do colapso dicadores do nível d'água foram insta-
estrutural do túnel-estação sentido Faria Lima, com lados, não permitindo a avaliação de
eventual carga hidráulica atuante no
origem no Processo Construtivo
sistema de suporte do túnel.
Em resumo,de acordo com o relató-
rio do IPT, a instrumentação do túnel-
estação sentido Faria Lima foi suficiente
para identificar comportamentos anor-
mais durante a escavação, mas insufi-
ciente em termos de informações mais
completas que permitissem a realização
de retroanálises mais elaboradas. Em
particular, a instrumentação associada
ao acompanhamento hidrogeológico
foi insuficiente, em termos de instalação
de piezômetros destinados a confirmar
a hipótese de que o maciço escavado en-
contrava-se efetivamente drenado.

Controle tecnológico
Em relação ao concreto projetado,
principal peça estrutural do sistema de
suporte primário do túnel, não existiu
um controle sistemático e com fre-
qüência adequada de sua resistência a
baixas idades e do seu teor de fibras,em
alguns trechos empregadas em menor
quantidade que o especificado. Tais
controles são fundamentais, destaca o
5% do valor do contrato de constru- ção, conforme as características do laudo do IPT, pois afetam o tempo a
ção, ultrapassado na Linha 2 do Metrô material escavado, os condicionantes partir do qual se pode contar com o
de São Paulo (Verde), por exemplo. Já geológico-geotécnicos encontrados e concreto projetado como parte do sis-
na Linha 4 (Amarela), esses serviços os dados da monitoração. Isso é co- tema de suporte. Ocorreram ainda
foram contratados por um valor que nhecido como processo de validação descuidos na concretagem do pé da
não chega a 2,5% do custo total da do projeto e do método construtivo. parede do rebaixo, o que resultou em
obra. Tal limitação de recursos, deduz Nesse contexto, os resultados da mo- trechos sem apoio e sem suporte (falta
o laudo, afetou tanto a qualidade do nitoração são vitais, pois dão suporte à de contato com o piso em rocha).
projeto, como a da instrumentação. comparação do desempenho versus Em relação aos materiais empre-
Diante das questões apontadas pelo previsão do projeto, retroanálise do gados, telas de aço, cambotas treliça-
relatório do IPT,em termos de compor- comportamento, análise do nível de das e tubulações de aço Schedule das
tamento estrutural, o projeto executivo segurança e eventuais adequações do enfilagens, embora não tenham sido
continha riscos associados, que foram projeto e/ou método construtivo. submetidos durante a obra a todos os
transferidos para a etapa de construção O plano de monitoração, portan- procedimentos de verificação e con-
da obra, e estava sujeito a condições crí- to, é de fundamental importância na trole, atenderam aos requisitos míni-
ticas de estabilidade durante a etapa de construção de túneis pelo método mos exigidos pelo projeto, com base
escavação do primeiro rebaixo. Tais ris- NATM. O IPT constatou que na Esta- em amostragens e ensaios realizados
cos poderiam ser identificados e, even- ção Pinheiros, o plano elaborado e im- durante a remoção dos escombros.
tualmente,mitigados no ciclo de valida- plantado era deficiente para um bom O controle da instalação das enfi-
ção de projeto e método construtivo, acompanhamento da obra, provavel- lagens foi precário, dadas as condições
preconizado pelo NATM. mente em conseqüência da pequena em que foram encontradas junto aos
alocação de recursos para o item tec- escombros. Inspeções visuais mostra-
Plano de monitoração do maciço nologia (investigações, projeto e mo- ram que a injeção de calda de cimento
O relatório do IPT observa que o nitoração). O número de tassômetros foi falha, pois foram encontrados
método NATM é observacional, um e de marcos superficiais era reduzido. tubos com preenchimento interno
processo no qual o projeto pré-elabo- Em número muito abaixo do previsto apenas parcial e vazios entre os tubos
rado é revisto com o avanço da escava- no projeto, poucos piezômetros e in- e o maciço.

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Processo construtivo e desvios de jeto (do poço Capri ao túnel de via). frentes de escavação, na interpretação
projeto Isso é agravado pela execução prévia do monitoramento de deslocamen-
O procedimento construtivo, do poço Capri, que gerou tensões me- tos do maciço, no controle da quali-
conforme estabelecido em projeto, nores no maciço no sentido do eixo dade conduzido por pessoal não de-
previa a escavação da seção parcializa- longitudinal do túnel (descompressão vidamente qualificado, e nas audito-
da (calota e dois rebaixos), por meio do maciço) e tensões mais elevadas no rias internas que deixaram de cum-
de escavação a fogo. De acordo com o sentido transversal (compressão). prir os procedimentos estabelecidos.
trabalho do IPT, na calota não houve Portanto, a inversão do sentido de es- Além disso, houve falha quanto ao
maiores discrepâncias entre o previs- cavação do rebaixo é consideravel- planejamento da qualidade, que não
to e o executado, mas na escavação do mente mais desfavorável do que o pre- estabeleceu limites precisos de aten-
primeiro rebaixo houve desvios de visto em projeto, analisa o laudo. ção e de alerta, o que dificultou a apli-
projeto com impactos importantes na Os trabalhos de investigação no cação de um critério de decisão con-
segurança da obra. campo mostraram que a altura escava- tingencial para garantia de segurança
Tais desvios nos procedimentos de da do primeiro rebaixo foi de 5,2 m, da obra e não possibilitou o aciona-
escavação do primeiro rebaixo in- em média. Maior do que os 4 m previs- mento de um plano de emergência,
cluem inversão do sentido de escava- tos no projeto executivo, correspon- quando essas condições de segurança
ção, aumento da altura da bancada es- dendo a um acréscimo de 30%. O au- deterioraram.
cavada e alterações na seqüência do mento da bancada do rebaixo também As leituras da instrumentação
plano de fogo, que não respeitou a es- é mais desfavorável às condições de es- (tassômetros, pinos de convergência
cavação do caixão central avante dos tabilidade do túnel, afirma o laudo. etc.) eram feitas com freqüência acei-
alargamentos laterais alternados pre- No levantamento da documentação tável ao andamento dos trabalhos.
vista em projeto. Esse conjunto de des- técnica sobre a escavação do primeiro Mas as detonações de explosivos para
vios, conclui o IPT, pode ser considera- rebaixo, o IPT constatou que inexistem desmonte das rochas ficaram muito
do uma violação do projeto e deveria Instruções Complementares de Execu- pouco documentadas, constatou o
implicar necessariamente um processo ção ou outro documento que forneça IPT, não havendo indicação detalhada
de verificações e ajustes e, conseqüen- suporte técnico, como análises, cálculos das cargas aplicadas em cada ocasião e
temente, novas previsões de projeto. e justificativas, para as alterações de in- da posição correta dos explosivos. O
Do contrário, afirma o laudo, pode-se versão do sentido da escavação,de altura IPT apurou que o trabalho do enge-
dizer que existe uma desconexão entre da bancada e da parcialização da escava- nheiro consultor de fogo do Consór-
o projeto executivo e o processo cons- ção (bancadas laterais avante do caixão cio, segundo seu depoimento, limita-
trutivo efetivamente executado. central), o que constitui em violações de va-se a verificar os registros das vibra-
A inversão do sentido de escavação projeto, afirma o relatório. ções provocadas na superfície do ter-
do primeiro rebaixo, executado a par- reno, e, estando elas abaixo do limite
tir do túnel de via em direção ao poço Acompanhamento técnico da obra previamente estabelecido, autorizar a
Capri, gerou uma redistribuição de Os trabalhos do IPT apuraram continuidade dos trabalhos. Sua par-
tensões mais desfavoráveis ao sistema que a gestão da qualidade da obra era ticipação se fazia no canteiro da obra,
maciço-suporte do túnel do que a si- precária. As principais falhas pude- sem que ele descesse ao fundo do
tuação prevista inicialmente em pro- ram ser vistas nos mapeamentos de poço e à plataforma da estação.

Os 11 fatores decisivos do acidente


1 2 3
Fonte: relatório do IPT

A complexidade geológica do maciço Foi constatada a presença de uma A rampa de ligação entre os túneis de
rochoso não foi incorporada ao projeto coluna de água acima do teto do túnel, via e de estação foi significativamente
da estação Pinheiros. indicando que o maciço estava sendo aumentada, contrariando o projeto.
escavado sob condição não drenada, ao
contrário do que considerava o projeto.

37
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DESABAMENTO DA LINHA 4

tanto,a magnitude de alguns desses des-


locamentos foi bastante elevada em re-
lação ao previsto no projeto,chegando a
ser sete vezes maior para os recalques
internos dos pinos laterais, e seis vezes
para as medidas dos tassômetros late-
rais, em relação ao previsto em projeto.
Durante a execução do primeiro
rebaixo, etapa para a qual não se pre-
viam grandes recalques na calota (in-
feriores a 1 mm), observaram-se re-
calques muito acentuados, com níti-
do aumento de velocidade a partir do
dia 15/12/2006, em praticamente
todas as seções instrumentadas, inde-
pendentemente da posição da frente
de escavação, relata o laudo do IPT.
Próximo ao Natal, quando esta-
vam escavados cerca de 55% do pri-
Tirantes já instalados na parede remanescente do poço Capri
meiro rebaixo, os recalques internos
no túnel-estação já chegavam a 12
O IPT afirma que não há registro III na faixa central da frente escavada e vezes, o deslocamento dos tassôme-
da sistemática de acompanhamento de rocha classe IV nas laterais, consti- tros a sete vezes e a convergência a 53
dos dados obtidos na monitoração. tuição completamente distinta da vezes os respectivos valores esperados
Apurou que havia reuniões quinzenais seção transversal típica adotada no no projeto para todo o período de es-
entre o Consórcio Via Amarela e o projeto, o IPT não encontrou registro cavação do rebaixo.
Consórcio Projetista. Segundo as atas de que essa diferença – entre o maciço Esses dados já indicavam que o
das reuniões a que o IPT teve acesso, observado e o adotado nos modela- comportamento da escavação se afas-
tratava-se de medidas administrativas, mentos numéricos – tivesse sido obje- tava das previsões de projeto, reque-
como a fixação de datas para entrega to de qualquer atenção. Isso, de acordo rendo retroanálises e ajustes no proje-
de plantas do projeto ou solicitação de com o relatório do IPT, deveria ter jus- to e/ou no método executivo, afirma o
instrumentos. Não há registro de que tificado pelo menos uma retroanálise laudo do IPT. Apesar desses indícios,
se tenha discutido nessas reuniões o da estabilidade da escavação. houve continuidade da escavação no
comportamento da obra e alterações A análise dos dados da instrumen- início de janeiro de 2007, levando a
no projeto em virtude dos dados de tação do túnel-estação sentido Faria obra a uma condição que exigia a to-
monitoração, informa o laudo. Lima, feita pelo IPT, indicou que ao mada imediata de ações de contin-
Embora o mapeamento das frentes final da escavação da calota,no início de gência e até mesmo de emergência,
de escavação (no túnel-estação sentido novembro de 2006, os deslocamentos pondera o relatório do IPT.
Faria Lima) tenha registrado, sistema- que eram monitorados no túnel esta- Por volta do dia 08/01/2007, pro-
ticamente, a existência de rocha classe vam praticamente estabilizados. Entre- curou-se convocar uma reunião para

4 5 6

Embora a instrumentação indicasse O primeiro rebaixo foi escavado em A profundidade do primeiro rebaixo foi
comportamento anômalo, não foram sentido contrário ao especificado significativamente aumentada em
efetuadas retroanálises para avaliar no projeto. relação à especificada no projeto.
a segurança.

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analisar o comportamento da obra,


mas essa só se realizou no dia
11/01/2007, o que mostra que a preo-
cupação com o assunto não era gene-
ralizada. Nesse dia, reuniram-se no
canteiro da obra engenheiros da cons-
trutora e responsáveis pelo projeto,
quando se decidiu que, para aumen-
tar a estabilidade dos túneis escava-
dos, seriam instalados 174 tirantes em

Fotos extraídas do relatório do IPT


cada um dos túneis (sentido Faria
Lima e sentido Butantã), dispostos
em três níveis nas paredes. A eventual
necessidade dessa medida já estava
prevista no projeto original. Por outro
lado, apurou o IPT, contrariando ao
especificado nas notas de projeto, não Configuração geral das estruturas de contenção envolvendo a área de estudo
havia tirantes suficientes disponíveis
no canteiro da obra, razão pela qual a temporária da escavação, enquanto o pouco controlado, provavelmente o
execução não teve início imediato. reforço era executado, poderia ter evi- danificou além do usual em trabalhos
Apesar da importância do assun- tado o acidente. do gênero, reduzindo sua resistência. O
to, pondera o relatório do IPT, não resultado é que o conjunto maciço-su-
ficou registrada na Instrução Com- Desestabilização e colapso porte, sem nenhum reforço estrutural
plementar de Execução, emanada Diferentes tipos de análises da esta- extra,não foi capaz de resistir à redistri-
nessa reunião, a necessidade da esca- bilidade da escavação (apresentadas no buição das tensões acarretadas pelas es-
vação ser paralisada até que esses ti- relatório do IPT) indicaram que a se- cavações. Em alguma zona dos apoios
rantes fossem feitos. Segundo o IPT, gurança do conjunto maciço-suporte, da calota ou das paredes do primeiro
participantes da reunião alegam que tal como foi construído, ficou abaixo rebaixo, iniciou-se um processo de
teria ficado subentendido que a obra da recomendável para túneis e estações ruptura, seguido de nova redistribui-
seria paralisada até a execução dos ti- subterrâneas de metropolitanos esca- ção de tensões para os segmentos con-
rantes, outros que o assunto não teria vados em áreas urbanas. Nas paredes tíguos que, à medida que a escavação se
sido abordado. Diante do desenvolvi- do primeiro rebaixo,o conjunto maciço- aproximava do poço, também não re-
mento dos recalques que estava ocor- suporte, tal como concebido, portanto, sistiram ao acréscimo de solicitações
rendo e da necessidade reconhecida sem a aplicação de nenhum tipo de re- decorrentes dessa redistribuição, deses-
de executar o reforço, era de se esperar forço estrutural suplementar, não su- tabilizando-se, quase que simultanea-
que as obras fossem paralisadas, pois portaria, com a segurança requerida, a mente, todos eles. A manifestação da
não havia razão que justificasse seu redistribuição do campo de tensões ruptura se dá pelas paredes do primei-
urgente prosseguimento, ressalta o re- decorrente das escavações. ro rebaixo, conclui o trabalho do IPT.
latório. De acordo com as conclusões Além disso, segundo o laudo, o des- As escavações realizadas após a rup-
do IPT, tudo indica que a suspensão monte a fogo do maciço, tendo sido tura mostraram as paredes do primeiro

7 8 9
Fonte: relatório do IPT

Na escavação do primeiro rebaixo, não Foram observadas não conformidades Apesar de terem sido realizados os
foi respeitada a escavação do caixão nos aspectos construtivos e o controle furos para o atirantamento de reforço
central avante dos alargamentos da qualidade era deficiente. das canbotas, não havia na obra
laterais, como prevista em projeto. tirantes suficientes.

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DESABAMENTO DA LINHA 4

rebaixo sempre sob os escombros do máticas descritas nos documentos. No seqüência de detonações que não obe-
suporte da calota, indicando que o iní- caso da obra em análise, esses planos e deceu à escavação do caixão central
cio da ruptura ocorreu no maciço ao programas apresentaram problemas avante de alargamentos laterais alterna-
lado do suporte do primeiro rebaixo, quanto à aderência ao previsto e à exe- dos, e escavação da bancada com altura
provocando o seu tombamento. Com qüibilidade. Exemplo disso, aponta o maior que os 4,0 m previstos.
isso, o arco estrutural da calota perdeu laudo, é que havia disparidade entre os Com exceção das falhas de decisão,
seu apoio e se projetou na escavação, planos da qualidade do Consórcio Via as demais falhas observadas são sistê-
junto com o maciço que suportava. Tal Amarela e do Consórcio Projetista tor- micas e derivam da ausência de um pla-
evidência exclui definitivamente a pos- nando a administração da qualidade, nejamento mais rigoroso do processo
sibilidade da ruptura ter se iniciado pela entre diferentes empresas, mais comple- gestor, descreve o IPT. Um sistema de
calota, atesta o relatório do IPT. xa. Outra falha descrita, foi que o mode- gestão adequado envolve a elaboração
A conclusão do IPT é que diante lo geológico-geotécnico estava bem es- de documentação otimizada e o envol-
desses fatos a decisão tomada na reu- tabelecido e conhecido por ocasião da vimento das equipes para o atendi-
nião do dia 11/01/2007, da qual resul- elaboração do projeto executivo, mas o mento das diretrizes estabelecidas.
tou uma ICE, determinando a execu- modelo geomecânico oriundo era extre-
ção de um reforço estrutural do maci- mamente simplificado, indicando um Gerenciamento de riscos
ço com três linhas paralelas de tiran- problema de gestão da comunicação. Uma obra como a construção de
tes, estava na direção correta e o co- Não houve ação rápida das equipes um túnel urbano requer um Progra-
lapso da Estação Pinheiros, possivel- envolvidas na obra da Estação Pinhei- ma de Gestão de Riscos que deve in-
mente, teria sido evitado. Para tanto, ros, quanto aos resultados da instru- cluir pelo menos os seguintes proces-
era essencial que as escavações tives- mentação, na época anterior ao recesso sos: identificação de perigos; dimen-
sem sido imediatamente interrompi- de final do ano de 2006 e nos primeiros sionamento qualitativo e quantitativo
das e retomadas somente após a con- dias de janeiro de 2007, antes do colap- de riscos, avaliação integrada de riscos
clusão das obras de reforço. so. Para o IPT, isso sugere que houve e planejamento de resposta aos riscos.
falha de gestão da comunicação e/ou Essa obra, segundo o IPT, não incor-
Gestão da obra outro problema de gestão. A gestão de porou esses processos. Não houve um
Na documentação disponibilizada risco era praticamente inexistente e, trabalho de identificação de riscos
para a investigação do IPT não foi en- portanto, não havia sistema de identi- capaz de constatar que colapsos são
contrado um plano consistente e coe- ficação de riscos, nem plano de contin- eventos que podem ocorrer e mere-
rente que envolvesse todas as etapas de gência capaz de evitar o colapso e nem cem cuidados específicos. Também
gestão do projeto. Havia documentos plano de emergência capaz de evitar as não havia planos de respostas aos ris-
de diversas espécies,tais como planos da graves conseqüências que se sucede- cos (contingência e emergência) ca-
qualidade ou os programas de gerencia- ram ao colapso. pazes de conduzir as tomadas de deci-
mento ambiental. Mas, segundo apu- O relatório aponta ainda falhas de são quando foram necessárias.
rou o trabalho do IPT, não havia um decisão relativas à execução da obra, que Um exemplo da precariedade do
documento central de gestão e, portan- não emitiu documento de alteração de plano de emergência é que, desde os
to, a condução do processo dependia projeto (ICE) conforme previsto no primeiros sinais do início do processo
muito da capacidade dos gestores para Plano da Qualidade da Coordenação de ruptura até o colapso, decorreram
encontrar soluções em cada caso. Geral das Projetistas em pelo menos três cerca de 10 a 15 minutos, tempo esse
Em um sistema de gestão deve exis- situações: escavação do rebaixo em sen- suficiente para que o tráfego e a circula-
tir a preocupação em implantar as siste- tido inverso ao estabelecido em projeto, ção de transeuntes fossem interrompi-
dos. Uma medida desse tipo, que teria
evitado as conseqüências trágicas do
acidente, não se toma de imediato, sem
10 11 que haja um treinamento antecipado; é
por isso que se fazem simulações de aci-
dente. Segundo o IPT, é compreensível
que as pessoas envolvidas, aos primei-
ros sinais da ruptura, não tivessem
Fonte: relatório do IPT

noção do vulto da catástrofe que se pre-


nunciava e das conseqüências que teria.
Entretanto, numa obra da importância
como a do túnel-estação, todas as me-
Apesar dos indícios de anomalias no O Consórcio não possuía um sistema de didas de segurança deveriam ter sido
comportamento do solo, as detonações gestão de riscos, tampouco planos de previamente adotadas.
não foram interrompidas. contingência e de emergência. Seleção e organização: Heloisa Medeiros

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CAPA

Fotos divulgação Rodobens Negócios Imobiliários


Industrialização econômica
Sistemas construtivos industrializados ganham força com expansão
do segmento residencial econômico

urante muitos anos os engenhei- Agora, o momento parece ter as instalações elétricas e hidráuli-
D ros civis se perguntaram se era
possível que a construção no Brasil
chegado. A oportunidade surge
com a expansão dos empreendi-
cas e as coberturas.
Confira a seguir algumas das
deixasse seu caráter artesanal para se- mentos voltados ao segmento eco- soluções disponíveis no País para
guir o caminho da industrialização nômico: como a margem de lucro empreendimentos do segmento,
nos canteiros de obra. Após o fim da sobre cada unidade é pequena, o sejam eles horizontais (casas e so-
Segunda Guerra Mundial, os países negócio só se viabiliza economica- brados) ou verticais (edifícios
desenvolvidos da América do Norte, mente com a produção de unida- multipavimentos). Vale lembrar
Europa e Ásia passaram a se valer des habitacionais em grandes volu- que está em vigor, desde maio de
com maior intensidade de sistemas mes. E produção em larga escala 2008, a Norma de Desempenho
construtivos prontos, pré-fabricados, implica industrialização, desde os que traz requisitos específicos
que proporcionassem maior produti- macrossistemas construtivos – es- para edifícios residenciais de até
vidade e economia de mão-de-obra – trutura e vedação – até os elemen- cinco pavimentos.
de custo muito alto nessas regiões. tos construtivos menores – como Renato Faria

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Condomínios horizontais
Os construtores têm encarado a
moldagem in loco de paredes de concreto
como a alternativa industrializada mais
viável para a produção de unidades
habitacionais em larga escala. Alta
produtividade, custos competitivos e
familiaridade com material e processo de
execução são fatores importantes na
escolha dessa solução tecnológica.
A Rodobens Negócios Imobiliários entrou
de cabeça na tecnologia. No ano passado
foram construídas 360 casas térreas com o equipamentos para movimentação das
sistema na cidade de São José do Rio peças. O custo do aço e do material de
Preto (SP). As primeiras fôrmas utilizadas preenchimento do steel frame era inviável
eram de plástico e alugadas no Brasil. para um produto destinado a camadas de
Prevendo a expansão do segmento e a menor poder aquisitivo", explica o
possível falta de equipamentos no engenheiro. A aceitação dos consumidores
mercado interno, a empresa importou dos é outro aspecto importante. Segundo
Estados Unidos jogos de fôrmas de Cesta, os compradores acreditam que a
alumínio. Quando necessário, a Rodobens solidez das paredes monolíticas transmite
se vale também do aluguel no Brasil de maior sensação de segurança. "O steel
fôrmas de alumínio e aço. Até o frame é uma solução técnica fantástica, Sobre a fundação tipo radier são erguidas
fechamento desta edição, a empresa mas acho que ele não atende cultural e as paredes de concreto com instalações
executava 4.566 unidades em todo o País. financeiramente a esse público." hidráulicas e elétricas embutidas
Segundo Geraldo Cesta, gerente técnico Executadas com concreto celular auto-
da Rodobens Negócios Imobiliários, na adensável, as unidades são produzidas pela
época dos estudos o sistema se mostrou Rodobens Negócios Imobiliários à razão de produtividade com a fôrma não é tudo,
mais competitivo em comparação com o uma a cada dois dias. As fôrmas de você precisa ter uma grande escala de
steel frame e com as paredes pré- alumínio, adquiridas pela empresa, podem produção que possibilite uma economia na
moldadas. "O pré-moldado demanda ser utilizadas 1.500 vezes. "Mas a compra dos outros insumos", lembra Cesta.

Steel frame
O steel frame desembarcou no Brasil Mariutti estima que, em escala de produção
como uma solução construtiva industrial, cada unidade de 48 m² possa ser

Divulgação Construtora Seqüência


industrializada para construções de alto construída em cerca de uma semana.
padrão. O arquiteto Alexandre Mariutti, No entanto, o preço dos componentes
diretor da construtora Seqüência, que ainda é um fator que pressiona a
trabalha há seis anos com a tecnologia, competitividade do custo do sistema.
conta que era preciso esperar a tecnologia A começar pelo aço, commodity cujo
se consolidar nesse segmento para depois preço é puxado para as alturas pelo
aplicá-lo a empreendimentos aumento da demanda mundial, sobretudo Até o momento a construtora executou
econômicos. "Acreditamos que já é hora da China. O arquiteto critica também a apenas um protótipo de casa popular em
de popularizá-lo", afirma. falta de competição entre fornecedores steel frame. Preço do aço e dos
A construtora já desenvolveu alguns de placas cimentícias e de drywall, o que componentes de vedação pressionam
modelos de casas para o ramo popular e o mantém, em sua opinião, os preços desses competitividade econômica do sistema
que se mostrou financeiramente mais viável produtos em patamares mais elevados.
empregava fechamentos em placas Se o sistema construtivo completo ainda
cimentícias. Até o momento, um protótipo tem um caminho para trilhar rumo à residencial industrializada. "Já há empresas
foi erguido e uma réplica está sendo viabilização econômica e técnica, pelo nos procurando para desenvolver as
avaliada pelo IPT (Instituto de Pesquisas menos parte dele pode ser empregada de coberturas metálicas para casas de PVC,
Tecnológicas do Estado de São Paulo). imediato em qualquer tipo de construção por exemplo", revela Mariutti.

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CAPA

PVC+Concreto
As primeiras casas construídas no
Brasil com a tecnologia PVC+Concreto
foram as 130 unidades de um
condomínio em Canoas (RS), entre
2001 e 2002. Os perfis de PVC, que
ainda não eram produzidos no País,
foram importados da Argentina. Entre
obras industriais, comerciais e
residenciais, já foram construídos
por aqui mais de 70 mil m² com
a tecnologia.

Divulgação Royal do Brasil Technologies


Os elementos que formam o conjunto
são os painéis vazados para paredes
em PVC – modelados com um duplo
encaixe macho-e-fêmea –, marcos de
portas e contramarcos de janelas.
Após a montagem dos perfis de
parede vazados, são inseridos os
reforços de aço e as instalações Primeiras casas construídas no Brasil com o sistema PVC+Concreto foram concluídas
elétricas e hidráulicas. Por fim, em 2002, com perfis importados da Argentina
executa-se a concretagem dos
perfis-fôrmas. uma equipe de quatro pessoas é capaz larga escala, entretanto, a produtividade
Segundo Carlos Eduardo Torres, gerente de erguer uma casa de 40 m² em dez pode aumentar e alcançar a marca de
geral da Royal do Brasil Technologies, dias, a um custo médio de R$ 475 o uma casa a cada três dias, de acordo
fornecedora do sistema construtivo, metro quadrado. Com a produção em com Torres.

elo

ões

TÉCHNE 136 | JULHO DE 2008


44
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Casa de madeira
Um dos materiais mais comuns
empregados na construção de casas norte-
americanas e canadenses, a madeira ainda
sofre, no Brasil, resistência cultural por
parte da população. "É uma síndrome dos
Três Porquinhos, as pessoas acham que as
casas de madeira são mais frágeis que as
de alvenaria", brinca Carlos Alberto Szücs,

Carlos Alberto Szücs


professor da UFSC (Universidade Federal
de Santa Catarina) e coordenador do Grupo
Interdisciplinar de Estudos da Madeira.
Os testes realizados nos laboratórios da
Universidade, porém, atestam o bom Sistemas construtivos industrializados em madeira são alternativas
desempenho do material em itens como para condomínios em regiões madeireiras
durabilidade, resistência, conforto
térmico e acústico. "Observadas as estruturais revestidos e estruturados em com a fabricante Batistella, os
questões de projeto, de tratamento madeira, o sistema suporta os esforços pesquisadores conseguiram erguer uma
adequado e de manutenção, são verticais e horizontais sem apoio de vigas e casa de 40 m² em 30 dias com uma equipe
moradias previstas para 50 anos", explica. colunas tradicionais. O "esqueleto" dos de três pessoas. "A casa foi produzida em
Soluções construtivas industrializadas painéis é feito de réguas de seção 4 cm x 8 um processo de baixo nível de
com o material têm potencial de uso em cm e fechado com chapas de OSB ou industrialização, com algum retrabalho e
construções em larga escala de madeira compensada. Como as paredes de em um período chuvoso", explica Szücs. Em
condomínios econômicos, sobretudo os steel frame ou drywall, é preenchido com um sistema mais industrializado de
próximos a regiões madeireiras. material isolante térmico e absorvente produção, o professor prevê que a
A universidade desenvolveu e avaliou, em acústico e tem as instalações elétricas e habitação possa ser produzida entre dez e
parceria com a iniciativa privada, um hidráulicas embutidas. 15 dias. O sistema pode ser utilizado, com
sistema construtivo leve chamado "Sistema O sistema ainda não foi utilizado em larga segurança estrutural, em edifícios de até
Plataforma". Composto por painéis escala, mas no protótipo construído junto quatro pavimentos.

Kits hidráulicos e elétricos


As construtoras que pretendem ser
competitivas no segmento residencial
econômico devem pensar também na
industrialização das instalações elétricas e
hidráulicas. Diferentemente das
construções de médio e alto padrão, os
projetos padronizados possibilitam essa
Fotos divulgação Sanhidrel

solução. "Com ambientes de dimensões


conhecidas, fabricantes de fios e cabos,
por exemplo, conseguem montar chicotes
elétricos para cada uma das unidades",
afirma Roberto Barboza, diretor técnico da
instaladora Sanhidrel. Kits hidráulicos são montados no próprio prédio da Sanhidrel e
Segundo o engenheiro, dependendo da entregues prontos no canteiro da construtora
familiaridade da construtora com
processos industrializados de produção, é são artesanais", afirma. "Quando a obra desenvolvimento de kits de elétrica e
possível reduzir em até 15% a mão-de-obra permite, as prumadas são pré-numeradas hidráulica para grandes empreendimentos
necessária para a execução das instalações e pré-montadas. Apenas barriletes e do segmento econômico. Detalhes
hidráulicas de um apartamento. instalações especiais são montados no técnicos, porém, estão sob sigilo. "Essas
"Atualmente, pré-montamos as instalações local, porque não há repetição." informações serão divulgadas com o
dos ramais dos edifícios de médio e alto A empresa já firmou parcerias com tempo, com a construção das primeiras
padrão, mas em geral as prumadas ainda algumas construtoras para o unidades", afirma Barboza.

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CAPA

Blocos de EPS
A construção em larga escala de
habitações do segmento econômico
pode viabilizar o uso de tecnologias

Fotos divulgação Isocret


baseadas em materiais alternativos para
alvenaria. É o caso, por exemplo, dos
blocos de EPS vazados que, armados e
preenchidos com concreto, irão compor
o fechamento da unidade residencial.
Blocos de EPS são montados e posteriormente concretados, funcionando ao mesmo
A tecnologia é de origem alemã e existe
tempo como fôrmas para o concreto e isolamento termoacústico. Casas podem ser
há 30 anos no exterior. Trazido ao Brasil
construídas em até uma semana
pela Isocret em 1999, somente agora o
sistema está sendo divulgado com maior
intensidade entre as construtoras. Paulo) para a execução de 152 unidades exemplo, custarão à CDHU cerca de
O motivo, segundo o engenheiro José de 51 m² cada em Bocaina, interior de R$ 450 o metro quadrado, segundo José
Acilino dos Reis Filho, da Isocret, foram São Paulo. Antes disso, algumas obras já Acilino. Coberta com uma camada de
anos de testes e avaliações para atender haviam sido executadas no País com a chapisco rolado, a superfície de EPS do
os requisitos técnicos da Caixa tecnologia, entre elas uma escola em bloco pode receber qualquer tipo de
Econômica Federal e do Governo do Bocaina (SP), o prédio de uma revestimento. Ainda de acordo com Reis,
Estado de São Paulo. universidade em Rio Claro (SP), os blocos podem ser utilizados em
O primeiro contrato para produção de instalações administrativas em São Paulo. edifícios de até 12 pavimentos. O
casas em larga escala foi firmado com a Com uma equipe de quatro pessoas, consumo médio de concreto, com
CDHU (Companhia de Desenvolvimento pode-se construir uma casa de 45 m² em o sistema, é de 1 m³ para cada 17 m2
Habitacional e Urbano do Estado de São até sete dias. As casas de Bocaina, por de parede.

Painéis cerâmicos pré-fabricados


A Jetcasa começou a desenvolver há dez e a construtora entra com o
anos seu sistema de painéis cerâmicos caminhão-guindaste.
pré-fabricados. Utilizados como paredes A produtividade média com o sistema é
internas e externas, os painéis são de três casas por dia, sendo necessária

Divulgação Jetcasa
produzidos com blocos cerâmicos uma equipe de cinco pessoas para a
estruturados com nervuras de concreto montagem das casas e de outras 48
armado e revestidos com argamassa. para a produção dos painéis. De acordo
Instalações hidráulicas e elétricas são com Marcelo Bergamaschi, para que o
embutidas. A ligação mecânica entre os uso da tecnologia seja
painéis é realizada com soldas de economicamente viável em
Divulgação Secretaria de Estado de Infra-estrutura do Mato Grosso

barras e chapas de aço especiais e as empreendimentos do segmento


juntas são protegidas da infiltração de econômico, a área construída mínima
água de chuvas ou de áreas molháveis deve ser de 10 mil m², equivalentes a
com selantes flexíveis. A tecnologia 250 casas de 40 m², em média.
pode ser utilizada na produção de O preço de venda do metro quadrado
casas térreas e sobrados. das casas varia entre R$ 450 e R$ 600,
Segundo Marcelo Bergamaschi, diretor dependendo da sofisticação do
comercial da Jetcasa, as peças podem acabamento interno das unidades.
ser produzidas no próprio canteiro ou Desde o ano 2000, aproximadamente
confeccionadas na fábrica e oito mil unidades já foram ou estão
transportadas até a obra. Caso a sendo executadas com a tecnologia –
primeira opção seja a mais viável para 75% dos contratos foram fechados
o empreendimento, é necessária uma desde o ano passado. Até o fim de 2008, Painéis cerâmicos estruturais podem ser
área de 100 m x 15 m para a instalação a empresa acredita que deva fechar produzidos na fábrica ou no canteiro.
da pista de produção. A empresa contrato para a produção de mais Sistema é composto por blocos cerâmicos
fornece a ponte rolante e as fôrmas dez mil unidades. e nervuras de concreto armado

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Escalada de produtividade
A Sergus Construtora desenvolveu o
sistema construtivo com fôrmas tipo
banche, que permite produzir edifícios
multipiso com paredes de concreto em
dois ciclos de concretagem por
pavimento. Ele é composto por fôrmas
metálicas (paredes) e chapas de
madeira (lajes).
O sistema dispensa escoramento, pois
as vigas de sustentação das chapas das
lajes são apoiadas nas paredes

Divulgação Sergus
estruturais anteriormente concretadas.
A espessura mínima das paredes é de
12 cm; a das lajes é de 8 cm. Ambas
são armadas com telas de aço
Fôrmas tipo banche permitem executar pavimentos com paredes de concreto em
soldadas CA 60, com reforços
dois ciclos. Sistema possibilita maior variedade de layout das unidades, pois fôrmas
localizados em barras e treliças de aço
para paredes e para lajes são independentes
CA 50 ou CA 60, de acordo com o
projeto estrutural.
Segundo Sérgio Cristiano, diretor para as paredes e para as lajes são de uma grua no canteiro. Para eventuais
técnico da Sergus, o sistema independentes. As fôrmas metálicas reparos e manutenções, Cristiano
possibilita grande variedade de layout suportam até 500 utilizações. Para sua recomenda reservar no canteiro uma área
às unidades, já que as fôrmas usadas movimentação, é necessária a instalação livre de cerca de 100 m².

47
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CAPA

Paredes pré-moldadas
de concreto
O sistema PAC, criado pelo grupo InMax
em 1982, é composto por painéis
portantes pré-moldados de concreto e
pré-lajes. Apenas a capa das pré-lajes é
moldada in loco no atual sistema da
InMax. "No passado, erguemos alguns
edifícios com a caixa do elevador moldada
in loco, elemento que dava rigidez ao
conjunto. Porém, com a evolução do
sistema, conseguimos eliminar essa
estrutura e fazer quase todo o edifício em
pré-moldados", afirma André Aranha

Fotos divulgação InMax


Campos, diretor da InMax.
Nos últimos 26 anos, a tecnologia havia
sido aplicada somente na execução de
edifícios de quatro ou mais pavimentos. No
entanto, a empresa começa a desenvolver
projetos para a utilização em casas térreas
e sobrados. "Nós nunca tínhamos feito isso
porque nunca houve uma demanda que
justificasse", afirma Aranha. Cerca de
quatro mil apartamentos já foram
produzidos com o sistema; até 2010, a
empresa projeta a produção de mais de
oito mil unidades entre condomínios
horizontais e verticais.
A execução das torres com o sistema PAC
Sistema para produção de edifícios multipavimentos é composto por painéis de parede
exige gruas para a movimentação dos
estruturais, escadas e pré-lajes, todos pré-moldados no canteiro
elementos pré-moldados e uma área no
canteiro para a instalação dos jogos de
fôrmas usados na confecção das peças de de abertura de vãos. As fôrmas – posicionadas no pavimento, as juntas
concreto. Nesse sistema, as instalações metálicas ou de fibra de vidro – são entre os painéis são grauteadas. Por fim, a
elétricas e hidráulicas e o espaço para os projetadas pela própria InMax e conferem execução das lajes é feita em duas etapas
caixilhos também são posicionados e acabamento final liso às paredes de – a primeira, de montagem das pré-lajes,
montados antes da concretagem. concreto. Segundo Aranha, isso que incorporam as armaduras positivas e
O processo possibilita a produção de um proporciona redução no consumo de os pontos de iluminação; seguida pela
apartamento por dia, cada um com 50 m2 massa corrida durante a execução do segunda etapa, em que ocorrem a
ou 60 m² de área útil. A maioria dos acabamento. "Não há a necessidade de montagem da armadura negativa, das
painéis tem função estrutural, o que correção de rugosidade, apenas se passagens elétricas e a concretagem final,
limita a algumas paredes a flexibilidade fecham microporos." Depois de que solidariza as peças pré-moldadas.

Engate rápido
Sistema Techouse/Casa Dez, elétricas e hidráulicas e EPS. Os
fornecido pela gaúcha Lig e Lev, é painéis são unidos e fixados por
um conjunto de painéis-sanduíche, meio de encaixes autotravantes nas
cada um formado por duas placas de bordas das placas. Sua montagem
Divulgação Lig e Lev

concreto estruturadas com malhas e exige a presença de um caminhão-


vigas de aço eletrossoldadas e guindaste para o transporte das
preenchidas com instalações peças no canteiro

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DESEMPENHO

Excelência atestada
Para comprovar a qualidade das soluções inovadoras desenvolvidas
e abrir o caminho para obtenção de financiamentos, empresas buscam a
avaliação técnica de desempenho
para um em que é mais convencional",
resume Mitidieri. Na prática, significa
que o DATec é dispensado porque, teo-
ricamente, ao comprar chapas e perfis
que atendam à norma e instalar con-
forme o preconizado, o desempenho
está garantido.
O principal motivo que estimula
uma empresa a buscar o DATec para o
sistema construtivo que comercializa é
a possibilidade de garantir aos contra-
tantes que, mesmo inovador, esse é
confiável e compete, quanto ao desem-
Fotos Sofia Mattos

penho, de igual para igual com os con-


vencionais. No caso da Sergus Cons-
truções, a necessidade pela RT do IPT
A avaliação técnica de sistemas construtivos é feita por meio de uma bateria de veio das tentativas frustradas de viabi-
ensaios em laboratórios especializados. Os parâmetros são obtidos a partir de lização de seu sistema construtivo
normas técnicas nacionais ou estrangeiras junto a agentes de financiamento à
produção. "Em projetos públicos em
palavra homologação remete ao Na construção civil,o DATec,é apli- que era possível sugerir a metodolo-
A conceito de reconhecimento oficial
com posterior divulgação. Ou seja, a
cado nos sistemas considerados inova-
dores. Isso porque os sistemas conven-
gia, ficava difícil ofertar o sistema sem
embasamento", lembra o engenheiro
partir da comprovação, ratificação ou cionais já carregam um histórico de uso Adalberto Magina, coordenador da
confirmação,por instituição autorizada ou, também, são contemplados por qualidade da empresa. Conforme afir-
para tal, das características e proprieda- normas prescritivas. Um bom exemplo ma Magina, a RT para o sistema com
des de determinado objeto, dissemina- para entender a necessidade do DATec é fôrmas tipo banche veio como um di-
se o que se atesta. Tal objeto pode, por- o gesso acartonado. No começo de sua ferencial de mercado, uma garantia ao
tanto, ser um sistema construtivo. E aplicação no Brasil, a indústria do dry- comprador de que houve a avaliação
nesse caso, a palavra homologação é wall foi ao IPT obter Referências Técni- de um órgão com credibilidade. "Não
substituída pelo DATec (Documento de cas para os sistemas construtivos. No imaginávamos que o sistema seria
Avaliação Técnica) que se aplica para total,foram seis.Atualmente,no entan- submetido a tantos ensaios", comenta.
verificar o desempenho de sistemas to, nenhuma delas está ativa. O motivo: No caso da Sergus, a RT já foi renova-
construtivos. "Adotamos esse termo no aos poucos o sistema vai sendo norma- da e agora recebe o nome de RT-25A –
Brasil. No IPT (Instituto de Pesquisas lizado pela ABTN (Associação Brasilei- Sistema Construtivo Sergus com Fôr-
Tecnológicas do Estado de São Paulo) ra de Normas Técnicas), com regula- mas tipo Banche.
existe a RT (Referência Técnica)", expli- mentação para a chapa, os perfis, os O fato de um sistema contar com
ca o engenheiro Cláudio Vicente Miti- acessórios e a forma de instalação. "Co- o DATec não significa que pode ser
dieri Filho, pesquisador do Instituto. meça a sair de um ambiente inovador adotado aleatoriamente, mas sim que

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tem o uso balizado. Conforme salien-


ta Mitidieri e estampa a RT da Sergus,
os sistemas são aprovados pelo IPT –
ou, no caso de outros processos de
avaliação técnica, por outras institui-
ções – apenas para os usos avaliados.
"O DATec pode até ter restrições di-
zendo que é adequado para algumas
regiões climáticas e outras não",
exemplifica o pesquisador. A RT da
Sergus diz que o "desempenho acústi-
co do sistema é satisfatório", mas
"pode ser melhorado revestindo-se os
pisos com materiais apropriados".
Ao chegar ao País, indústria do drywall buscou atestar desempenho do sistema
Logo, como a empresa entrega o imó-
inovador junto ao IPT. Com o passar do tempo, o uso do sistema tornou-se mais
vel sem carpetes, o manual do pro-
consagrado e ganhou normas para materiais e instalação
prietário recomenda que o revesti-
mento seja aplicado para diminuir a
geração de ruídos entre salas super-
postas e, conseqüentemente, melho- Produto aperfeiçoado
rar o conforto acústico.
Ao procurar o IPT para obtenção do DATec retrocesso em termos de racionalização
para seu sistema construtivo, uma para um sistema que já contava até mesmo
Caixa de exigências
empresa que atua no segmento de com negativos nas fôrmas para as
Se os institutos que realizam a ava-
edifícios multipavimentos teve sua tubulações e shafts para as prumadas e
liação de desempenho não contam
solução questionada. De acordo com o instalações elétricas. Além disso, as
com critérios próprios para afirmar se
Instituto, a segurança ao fogo do sistema, tendências comerciais de mercado
determinado sistema atende ou não
que se valia de fôrmas tipo túnel, não era começaram a apontar inadequações
aos requisitos mínimos, a Caixa (Cai-
suficiente para obtenção do documento. daquela tecnologia.
xa Econômica Federal) também não.
Isso porque as fôrmas, nesse caso, são Sendo assim, a empresa desenvolveu
Ambos se baseiam nas normas nacio-
retiradas pela fachada, que tem que ser um sistema que lançava mão de fôrmas
nais – ou, na ausência dessas, em ou-
fechada com outro sistema. A empresa tipo banche, que são retiradas não pela
tras referências, incluindo normas es-
fazia o fechamento com caixilhos de fachada, mas por cima, possibilitando
trangeiras. Atualmente, a Norma de
alumínio, que, de acordo com os ensaios, uma gama maior de desenhos, com
Desempenho para edifícios habitacio-
não impediriam a chamada "língua de reentrâncias em planta. Uma vez que o
nais de até cinco pavimentos tem ser-
fogo", a propagação das chamas de um foco do DATec é sempre o desempenho
vido como referência geral para ava-
andar para o superior. do produto acabado, muitos tópicos
liar o desempenho estrutural, o con-
Para obter o DATec bastou, então, mudar a estavam praticamente pré-aprovados
forto térmico e acústico, a estanquei-
forma de fechamento da parte inferior da para a avaliação do novo sistema.
dade à água, a durabilidade e a segu-
fachada. A empresa passou a fazer com Muitos dos ensaios não precisaram ser
rança contra incêndios.
alvenaria ou, eventualmente, com concreto, repetidos e a migração foi
Mesmo assim, a Caixa tem crité-
e obteve o DATec. No entanto, parecia um relativamente simples.
rios diferentes a depender do tipo de

Ensaios do sistema construtivo antes de receber o DATec:


Ensaios de caracterização: para os transmitidas por portas, impactos de condutividade térmica, calor específico,
materiais e componentes que integram o corpo mole e de corpo duro densidade, medidas no local
sistema construtivo. Podem variar  Estanqueidade à água: de paredes  Desempenho acústico: isolação a sons
dependendo da constituição e natureza. externas e internas de áreas molháveis, de aéreos, isolação a ruídos de impacto,
Ensaios de desempenho: pisos, à água de chuva de telhados medições de campo
 Desempenho estrutural: compressão  Segurança ao fogo: resistência ao fogo,  Durabilidade: ensaios de
excêntrica, cargas laterais distribuídas e propagação de chamas, densidade de envelhecimento acelerado (névoa salina,
concentradas, cargas verticais distribuídas fumaça, gases tóxicos câmara de umidade, de SO2, ultravioleta) e
e concentradas, cargas de uso, como  Desempenho térmico: simulação do outros ensaios dependendo da natureza
peças suspensas e solicitações desempenho, resistência térmica, do material.

51
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DESEMPENHO

Desempenho padrão
Ao mesmo tempo em que pretende Mais importante ainda é a avaliações para sistemas semelhantes, é
estimular o desenvolvimento tecnológico, homogeneização dos critérios e obrigada a seguir as diretrizes já definidas.
a comunidade técnica nacional sabe que procedimentos, pois garante que o Esse comitê é formado por representantes
precisa minimizar o risco de insucesso no processo de avaliação considera todos os de toda a cadeia construtiva. "É um
processo de inovação. Para tanto, foi aspectos relevantes ao comportamento sistema descentralizado, mas que torna a
criado o Sinat (Sistema Nacional de em uso de um produto ou sistema. Além avaliação homogênea", explica Cláudio
Avaliações Técnicas), que dá suporte à disso, traz resultados padronizados Vicente Mitidieri Filho, pesquisador do IPT.
operacionalização de um conjunto de mesmo quando a avaliação parte de O Instituto, que é uma ITA, já contava
procedimentos de avaliação dos novos instituições diferentes. Na prática, com procedimentos padronizados para a
produtos para a construção civil. De quando uma ITA (Instituição Técnica de emissão de sua RT (Referência Técnica).
acordo com o site do PBQP-H (Programa Avaliação) recebe uma proposta para De acordo com Mitidieri, os
Brasileiro da Qualidade e Produtividade do avaliar um sistema construtivo inovador, procedimentos propostos pelo Sinat
Habitat), a proposta do Sinat é "suprir, tem que criar diretrizes para os ensaios e foram baseados na estruturação da RT.
provisoriamente, lacunas da normalização análises e as validar junto ao Comitê Confira na ilustração a estrutura do Sinat
técnica prescritiva". Isso significa que se Técnico do Sinat. e como se dá o encaminhamento das
volta a produtos que ainda não contam A partir da validação, sempre que uma propostas de avaliação técnica de
com normas técnicas prescritivas. instituição ligada ao Sistema for realizar desempenho em seu âmbito.

construção. É o que conta o engenhei- que as para unidades isoladas", afirma. Nesses casos, não há redução dos crité-
ro Luiz Guilherme de Matos Zigman- Ainda quanto às exigências, se o bene- rios, e propostas de tecnologias inova-
tas, da Gidur-SP (Gerência de Desen- fício social do empreendimento for doras passam por todo o procedimen-
volvimento Urbano de São Paulo), da muito elevado, atendendo a famílias to básico de aceitação, que envolve a
Caixa. "As exigências para conjuntos com renda de um salário mínimo, por viabilidade prévia e definitiva do siste-
habitacionais são muito maiores do exemplo, pode haver flexibilização ma construtivo.
quanto ao conforto. "Nunca para exi- Assim, para conseguir a viabilidade
gência estrutural ou segurança ao prévia, o proponente do sistema deve
fogo", salienta Zigmantas. comprovar o desempenho junto aos
O referencial para a adoção sem fle- institutos de tecnologia e universidades
xibilização das normas brasileiras são as capacitados para realizar os ensaios e
unidades com mais de 35 m2, dois dor- análises necessárias. Aprovado nesse
Marcelo Berzamasco

mitórios e valor acima de R$ 25 mil. nível, o projeto está liberado para a


construção de unidades isoladas e con-
juntos habitacionais com até 50 unida-
des. Durante a execução, há acompa-
No caso de produtos ou elementos
nhamento da obra e da padronização
fabricados fora do canteiro, mesmo que
do processo produtivo da construtora,
o processo seja idêntico, o documento
assim como há avaliação pós-ocu-
de avaliação técnica é válido para cada
pação para comprovar o desempenho.
planta de produção
"Se o sistema passa por essas etapas sem
patologias, recebe a viabilidade defini-
tiva", explica Zigmantas.
Como o processo não difere muito
daqueles adotados por institutos téc-
nicos como o IPT, não há nenhum
Marcelo Scandaroli

caso de sistema com DATec que tenha


tido problemas para ser aprovado na
Marcos Lima

Caixa. Uma das diferenças é que, para


A emissão do Documento de Avaliação obter a viabilidade definitiva da Caixa,
Ensaios para comprovação do desempenho Técnica leva em consideração também o sistema tem que ser aprovado na
independem dos materiais ou do método requisitos mínimos de desempenho avaliação pós-ocupação.
executivo empregados. O interesse está no acústico e térmico. No caso de habitação O advento da norma de desempe-
desempenho do sistema concluído de interesse social, itens de conforto nho trouxe, além de uma referência
e em operação podem ser flexibilizados nacional para a definição de critérios,

52 TÉCHNE 136 | JULHO DE 2008


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Como funciona o Sistema Nacional de Avaliações Técnicas

to
lot
Co
rg io
o Se
açã
str
Ilu

uma tendência por padronização da (Centro Federal de Educação Tecno- merece ser discutida, no Brasil, a tran-
linguagem adotada pelos laboratórios. lógica do Pará), que passou a usar os sição entre a casa de palafita e a unida-
Ainda há, mas em menor grau, con- parâmetros da norma e já apresenta de habitacional com critérios míni-
forme atesta Zigmantas, interpreta- relatórios com padrão semelhante ao mos de desempenho de conforto.
ções e níveis de análise destoantes do IPT paulista. "Um Estado com "Não há dinheiro suficiente para fazer
entre institutos em todo o País. "Isso pouca tradição de desenvolvimento a passagem principal", afirma. Por
tem criado constrangimentos", apon- tecnológico já apresenta ensaios relati- isso, acredita que pode haver benefí-
ta o engenheiro da Caixa em referên- vamente completos", comemora. cios ao flexibilizar as exigências para
cia à adoção de critérios considerados Ainda sobre a flexibilização de cri- que a grande demanda comece a ser
insuficientes pela instituição financei- térios para aprovação de financia- atendida com unidades mais baratas.
ra. Ele cita o exemplo do Cefet-PA mento, Zigmantas questiona se não Bruno Loturco

53
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ESQUADRIAS – PINI 60 ANOS

Marco tecnológico
Mercado exige esquadrias que propiciem maior eficiência energética às
construções. Indústria se adaptou e disponibiliza produtos que atendam a
essas novas necessidades

crescente preocupação de arqui-


A

Marcelo Scandaroli
tetos e construtores com a efi-
ciência energética das novas edifica-
ções mudou a maneira de se especifi-
car os caixilhos. De elementos isola-
dos, sem muita interação com outros
subsistemas da construção, as esqua-
drias passaram a ser vistas como um
sistema importante no desenvolvi-
mento de projetos com boa perfor-
mance térmica e energética. A ten-
dência é a procura por produtos que
maximizem a entrada de luz natural
no ambiente ao mesmo tempo em
que bloqueiem as trocas de calor com
o exterior. A indústria de esquadrias
nacional desenvolveu seus processos e
produtos para atender à demanda
mais sofisticada.
Até a década de 1950, apenas es-
quadrias em madeira ou aço eram fa-
bricadas no Brasil, dada a abundância
desses materiais. Eram, em geral, con-
Além dos caixilhos, também a tecnologia dos vidros evoluiu no País. Se há 20 anos
feccionadas artesanalmente por serra-
era preciso importar até vidros laminados, hoje o mercado já conta com grande
lharias e marcenarias, sob medida e
variedade de vidros duplos insulados e refletivos
com desenhos e estilos rebuscados.
No caso das metálicas, utilizavam-se
perfis em forma de T, L e I. A herança nesse momento que começam a ser de perfis começaram a atentar para o
do pioneirismo se reflete no domínio fabricadas as primeiras esquadrias pa- mercado da construção civil e a apri-
do mercado brasileiro por esse tipo de dronizadas – janelas venezianas, de morar sua tecnologia de extrusão,apre-
esquadrias: juntos, os produtos em correr, basculantes e em outros for- sentando perfis mais adequados à pro-
madeira e em aço ou ferro respondem matos. O alumínio começava a ser dução de caixilhos. O Brasil importava
por mais da metade das unidades fa- utilizado "timidamente" nas peças e alumínio primário até a década de
bricadas no País. Seu principal merca- componentes dos caixilhos. 1980, quando passou de um dos maio-
do consumidor é o segmento popular. A estréia desse material como pro- res importadores dessa matéria-prima
A produção industrializada dos tagonista no mercado de esquadrias a quinto maior exportador do mundo
caixilhos foi possibilitada pela intro- ocorreu em um momento marcante da – em 2008, o País deve alcançar a meta
dução de perfis tubulares e abertos, história da engenharia brasileira: a de produção de um milhão de tonela-
obtidos a partir de chapas de aço. É construção de Brasília.As fornecedoras das do produto.As esquadrias produzi-

54 TÉCHNE 136 | JULHO DE 2008

2008
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Marcelo Scandaroli
Marcos Lima
Durante décadas, vidros temperados
precisaram ser importados. Hoje,
Com uma fatia de 20% do mercado de esquadrias, caixilhos de alumínio têm forte mercado dispõe de variedade de vidros
presença no segmento residencial de médio e alto padrão insulados e refletivos

das com esse material ganharam parti- Os arquitetos passaram a vislum-

Marcelo Scandaroli
cipação no mercado e respondem hoje brar novas possibilidades, como o uso
por 20% do volume de caixilhos fabri- mais intensivo das fachadas-cortina
cados no País, de acordo com informa- em edifícios comerciais. E nesse seg-
ções da Afeal (Associação dos Fabri- mento, afirma Papaiz, "o alumínio se
cantes de Esquadrias de Alumínio). impôs e atualmente está presente na
Com menor participação no mer- maioria dos edifícios comerciais e cor-
cado estão as esquadrias de PVC, cerca porativos". "Da pele de vidro ao mais
de 2%, marca ainda distante das esqua- atual sistema de instalação das
drias de madeira, de aço e de alumínio. fachadas-cortinas, o unitizado, passan-
E parte da "culpa" pode ser atribuída ao do pelo structural glazing, esse seg-
Fórmula do PVC europeu foi alterada
baixo desempenho dos primeiros cai- mento evoluiu muito", conclui.
para adaptar resistência do material às
xilhos do tipo produzidos no Brasil. Uma tendência que vem se conso-
condições climáticas brasileiras. Essas
"Na década de 1980 houve esse proble- lidando na Europa e já foi até aplicada
esquadrias têm boa performance no
ma porque os perfis importados eram no Brasil é o uso de esquadrias mistas
isolamento térmico e acústico
desenvolvidos para resistir às condições em edifícios históricos. Desgastadas
climáticas européias", afirma Miguel pela ação do tempo, as janelas em ma-
Bahiense Neto, diretor-executivo do Além do caixilho, o vidro também deira vêm sendo substituídas por cai-
Instituto do PVC. A melhoria foi feita é responsável pelo conforto térmico xilhos que mesclam a madeira e outros
na década seguinte, quando alguns fa- do ambiente. E a tecnologia desse materiais. Do lado de fora, atende-se às
bricantes reformularam o composto componente evoluiu rápido, acompa- exigências de preservação da fachada
para adaptá-lo ao clima brasileiro. nhando a demanda dos consumido- original; dentro, os benefícios de uma
Para conquistar espaço no merca- res. A diversidade de produtos atual- estrutura mais resistente. Bahiense, do
do, os fabricantes apostam nas caracte- mente disponíveis no mercado nacio- Instituto do PVC, conta que a solução
rísticas do material para atender às nal é incomparável com o que havia há foi adotada recentemente na restaura-
novas exigências dos consumidores. 20 anos. "Durante décadas foi preciso ção e transformação do Convento do
Além da leveza, Bahiense aponta a alta importar até mesmo vidros lamina- Carmo, no bairro do Pelourinho, em
capacidade do PVC em impedir as tro- dos", lembra Papaiz, da Afeal. Hoje, os Salvador, em um hotel de luxo. "O PVC
cas de calor entre os ambientes inter- consumidores têm à disposição pro- proporcionava, além do conforto tér-
nos e externos. "Esses produtos têm dutos como os vidros duplos insula- mico, isolamento acústico aos ambien-
maior potencial de manutenção térmi- dos e o Low-e, por exemplo, que apre- tes internos", explica. "Com a banda
ca, o que possibilita economia de ener- sentam ótimo desempenho quanto à Olodum passando na rua, o isolamen-
gia com sistemas de ar-condicionado e emissividade, ao isolamento térmico, to precisa ser muito bom", brinca.
sistemas de calefação", argumenta. à transparência e à refletividade. Renato Faria

55
artigo.qxd 4/7/2008 17:27 Page 56

Envie artigo para: techne@pini.com.br.


O texto não deve ultrapassar o limite
de 15 mil caracteres (com espaço).

ARTIGO Fotos devem ser encaminhadas


separadamente em JPG.

Retrofit de fachadas:
tecnologias européias
primeira discussão sobre retrofit reabilitação, renovação, restauro e
A diz respeito à sua definição, sur-
gindo dessa forma alguns questiona-
Luciana A. Oliveira
Pesquisadora do IPT (Instituto de Pesquisas
conservação, é ainda pequeno com-
parado ao Europeu, mas apresenta
Tecnológicas do Estado de São Paulo)
mentos: os diferentes tipos de inter- um grande potencial de crescimento,
M.Sc. Doutoranda da Escola Politécnica da
venção num edifício acabado são especialmente nos grandes centros
USP (Universidade de São Paulo) –
todos considerados como retrofit? urbanos, como São Paulo, Rio de Ja-
Departamento de Engenharia de
Quando se fala em renovação, fala-se neiro, Porto Alegre e outros, em razão:
Construção Civil – Epusp/PCC
em retrofit? Qual a diferença entre re-
e-mail: luciana@ipt.br
 da necessidade de modernizar fa-
novação, retrofit e reabilitação? As chadas e instalações face às novas tec-
operações de restauro coincidem com nologias e exigências funcionais ou
Ercio Thomaz
alguma dessas? Buscando conceituar estéticas atuais;
Prof. Dr. Pesquisador do IPT (Instituto
esses termos para facilitar a explicação
de Pesquisas Tecnológicas do Estado
 do número crescente de edifícios
do objeto deste artigo, adotam-se, ba- com mais de 40 anos, quase sempre
de São Paulo)
seado em bibliografia francesa e suíça carentes por renovação;
e-mail: ethomaz@ipt.bt
(Choay, 1992 e Koelliker et al, 1999), as  do surgimento de leis fiscais que
seguintes definições: visam incentivar ações para revitaliza-
Silvio B. Melhado
 reabilitação: ação de restabelecer o Prof. Dr. da Escola Politécnica da USP –
ção ou renovação de fachadas, como
empreendimento ao seu estado de por exemplo as leis da cidade de São
Departamento de Engenharia de
origem, utilizando tecnologias dis- Paulo no 12.350 de 1997 e no 14.223 de
Construção Civil – Epusp/PCC
poníveis, restabelecendo seu valor 2006 (ambas prevêem descontos de
e-mail: silvio.melhado@poli.usp.br
venal e prolongando sua vida útil, IPTU para edifícios que recuperem ou
mas não necessariamente incorpo- renovem suas fachadas) etc.
rando novas tecnologias; A norma de desempenho brasilei- Na Europa, o mercado de renova-
 renovação: ação de restabelecer o ra (NBR 157575-1) define retrofit ção é reconhecidamente importante,
empreendimento ao "novo" por "pro- como remodelação ou atualização do tanto ou mais que o mercado de cons-
fundas" transformações que tornam o edifício ou de sistemas, pela incorpo- truções novas. Na França, por exem-
empreendimento em melhor estado e ração de novas tecnologias e concei- plo, o volume de negócios do setor de
com "novo" aspecto, incorporando tos, o qual, normalmente visa valori- construção, particularmente do seg-
modernas tecnologias. A renovação, zação do imóvel, mudança de uso, au- mento de edificações, é expressivo
diferente da restauração, é sinônimo mento da vida útil e melhoria da efi- para obras de conservação e renova-
de perda de características históricas; ciência operacional e energética. ção, conforme ilustra a figura 1.
 restauro: ação de restabelecer o edifí- Comparando a definição de bi- Observa-se que a participação das
cio ao estado original, buscando salva- bliografias européias e brasileira, con- atividades de manutenção e renovação
guardar tanto a obra de arte quanto o clui-se que na Europa está sendo de- é bastante expressiva no setor da cons-
testemunho histórico. As operações de nominado de "renovação" o que o trução francesa, em razão, entre outras,
restauro são geralmente feitas em edifí- setor da construção civil brasileira das várias operações de reurbanização
cios tombados como patrimônio histó- tem denominado de retrofit. das principais cidades da França (veja
rico e devem obedecer às regras especí- No Brasil, o mercado de conserva- www.grandsprojets.paris.fr) e da quanti-
ficas ditadas em documentos como a ção e renovação de edifícios, ou seja, dade de edifícios antigos que precisam
Carta de Veneza de maio de 1964. aquele que considera operações de ser conservados, renovados ou reabili-

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tados (grande quantidade de edifícios do em perfis metálicos, que têm a fun-


construídos no início do século 20). ção de apoiar os componentes de fe-
As operações de reabilitação, ou chamento, revestimentos e materiais
renovação, especialmente das facha- isolantes, suportar cargas laterais,
das dos edifícios europeus acontecem como a ação do vento,e absorver defor-
porque essas já não atendem a algu- mações provenientes da estrutura prin-
mas exigências de desempenho, sejam cipal e também da própria fachada;
estéticos, de durabilidade, de seguran-  dispositivos de fixação: são res-
ça ou outro. Especialmente na França, ponsáveis por fixar a estrutura se-
uma das razões para renovar ou reabi- cundária da fachada à estrutura
litar as fachadas é o incremento do de- Figura 1 – Participação percentual principal do edifício, e/ou fixar os
sempenho térmico dessas fachadas, das atividades no setor da construção, componentes de fechamento ou re-
visando melhorar a eficiência energé- segmento edificações (Ministére de vestimento à estrutura principal,
tica do edifício (o desempenho térmi- l'Ecologie, du Developpement et quando esses são autoportantes;
co de um edifício depende, entre ou- d'Amenegement Durable, 2007. Disponível  componentes de preenchimento
tros, do comportamento interativo da em: http://www.btp.equipement.gouv.fr) das juntas: selantes, gaxetas em perfis
fachada, cobertura e pisos). Cabe ob- termoplásticos extrudados e mem-
servar que a renovação na Europa não Face externa
branas flexíveis.
significa necessariamente alterar to- (componente
A NF P28-001 (Façade Légère –
talmente as características arquitetô- de vedação)
Définitions – Classifications – Termi-
nicas da fachada; pois caso as fachadas Estrutura secundária
nologie) também classifica as facha-
tenham alguma importância no con- metálica
das leves segundo seu posicionamen-
texto histórico da região, pode-se, por Camada isolante
to com relação à estrutura principal
exemplo, substituir os componentes Dispositivos
do edifício (face exterior das vigas de
antigos por outros tecnologicamente de fixação
borda) em:
mais apropriados, mantendo-se as ca- Face interna  fachada-cortina: fachada leve,
racterísticas arquitetônicas originais. (componente
constituída de uma ou mais cama-
Ainda, no processo de renovação de vedação)
das, posicionada totalmente externa
e/ou reabilitação deve-se analisar a Juntas
à estrutura do edifício formando
viabilidade técnico-econômica dessas uma pele sobre o mesmo. Em francês
Figura 2 – Esquema em corte
operações. Para tanto, quanto menos essa classificação é conhecida pela
longitudinal de fachada leve (adaptado
for necessário interferir nas fundações expressão façade rideaux e em inglês
da Dissertação de V.G. Silva, Escola
e na estrutura do edifício, maior a pro- curtain-wall;
Politécnica da USP, 1998)
babilidade de que essas operações  fachada semicortina: fachada leve,
sejam viáveis. Assim sendo, o emprego constituída de uma ou mais camadas,
de componentes leves nesse tipo de nentes pré-fabricados, com função de cuja camada exterior é posicionada ex-
operação é quase obrigatório. Por isso, vedação vertical externa, constituído de terna à estrutura do edifício e a camada
as tecnologias de fachadas leves são as várias camadas,sendo que pelo menos a interior interna e entre pavimentos.
tecnologias comumente empregadas camada mais externa tem massa infe- Essa norma considera que a camada
nas operações de renovação e reabili- rior a 100 kg/m2". As fachadas leves são interior não deve ser obrigatoriamente
tação dos edifícios europeus. geralmente constituídas pelos compo- leve, existindo casos em que a camada
Dessa forma o objetivo deste artigo nentes mostrados na figura 2. interior da fachada semicortina é uma
é descrever algumas tecnologias de fa-  componentes de fechamento e/ou parede em alvenaria, ou em concreto, e
chadas leves empregadas nas operações revestimento: placas de vidro, placas a camada exterior um revestimento
de renovação de edifícios europeus, isso cimentícias, placas metálicas, placas não-aderido constituído de compo-
baseado em visitas a obras e consultas a de rocha, placas cerâmicas, painéis de nentes pré-fabricados leves. Em fran-
catálogos técnicos e à bibliografia. materiais sintéticos etc. (componen- cês essa classificação é conhecida como
tes pré-fabricados cujo peso é menor façade semi-rideaux. Algumas biblio-
O que são fachadas leves? que 100 kgf/m2); grafias americanas e inglesas tratam
A norma francesa NF P28-001 (Fa-  isolantes térmicos: placas de polies- essa classificação como cladding wall.
çade Légère – Définitions – Classifica- tireno expandido ou extrudado, pla- As figuras 3 e 4 ilustram as facha-
tions – Terminologie),1990,e a UEATC cas em lã mineral etc.; das leves segundo seu posicionamen-
(Union Européenne pour l'Agrément  estrutura secundária: na Europa uti- to no edifício.
Technique dans la Construction) defi- liza-se estrutura secundária em madei- As tecnologias de fachadas leves,
nem fachada leve como "um elemento ra ou metálica. No Brasil, esse tipo de classificadas como fachada semicorti-
construtivo constituído por compo- estrutura é mais comumente encontra- na, tendem a ser as mais convenientes

57
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ARTIGO

Fachada leve europeus, antes de serem aplicados nas


obras, são obrigatoriamente objetos de
avaliação, especialmente das suas carac-
terísticas de desempenho, até porque
existe a necessidade de que tais compo-
nentes apresentem uma certificação
(marca CE). Essa certificação foi criada
em função das regras de comércio da
Comunidade Européia, ou seja, os pro-
dutos da construção a serem comerciali-
zados no mercado comum europeu
a) janela b) janela c) janela d) janela devem apresentar resultados de ensaios
posicionada posicionada dupla posicionada e controles conforme especificações de
na camada na camada na camada normas européias. Alguns dos compo-
interna externa interna e placas nentes relacionados com a tecnologia de
envidraçadas na fachadas leves e que têm a marca CE são:
camada externa  placas cimentícias reforçadas com
fibra de vidro, ou fibras sintéticas, com
Figura 3 – Esquema da secção longitudinal de fachadas-cortina constituídas por
acabamento incorporado;
várias camadas
 painel composto por placas metáli-
cas (alumínio) com miolo em poliesti-
reno expandido ou extrudado;
 placas de resinas acrílicas, cujo aca-
bamento superficial pode imitar pla-
cas de granito;
 painel com placas de vidro insulado,
os quais empregam venezianas ou pai-
néis fotovoltaicos internamente.O vidro
insulado é uma combinação de vidros
float simples, formando um conjunto
múltiplo de placas intercaladas com
gases inertes (como argônio ou criptô-
nio). Um aspecto que tem sido ampla-
mente explorado nos painéis de vidro
insulado é a inserção de algum compo-
nente na câmara de ar, como persianas,
brises e materiais transparentes que di-
minuam a entrada de radiação solar.
A figura 5 ilustra uma fachada re-
novada, cuja camada externa é forma-
Figura 4 – Esquema da secção longitudinal de fachadas semicortina constituídas
da por placas cimentícias com revesti-
por várias camadas, sendo a camada interior formada por paredes em alvenaria
mento incorporado.
ou em concreto

Empreendimentos de renovação e/ou


para aqueles casos de renovação de fa- quando se faz necessária a substituição reabilitação com fachadas leves
chadas nos quais se pretende aprovei- de todos os elementos da fachada, in- A tabela 1 mostra alguns exemplos
tar a parede (vedo) existente que, em clusive do vedo existente, utiliza-se co- de empreendimentos de renovação ou
função de diversos problemas, já não mumente a expressão recladding. reabilitação realizados na França, país
atende integralmente sua função que pode ser considerado pioneiro em
como vedação vertical externa. Dessa Tecnologias de fachadas leves obras de revitalização urbana em larga
forma, adicionam-se à parede existen- Uma das principais diferenças entre escala, com o emprego da tecnologia
te outras camadas, gerando uma parte as fachadas leves empregadas no Brasil e de fachadas leves.
adicional, cujo conjunto deve atender na Europa diz respeito à quantidade de
aos requisitos de desempenho de uma componentes de fechamento atual- Considerações relevantes
fachada. A expressão em inglês utiliza- mente existentes no mercado europeu. Na Europa, diferentemente do Bra-
da para esses casos é overcladding e Ressalte-se ainda que os componentes sil, o mercado de renovação de facha-

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Fotos acervo do autor

Figura 5 – Fachada leve após renovação, do tipo semicortina, cujos componentes de Figura 6 – Fachada renovada com
fechamento são em placas cimentícias com acabamento incorporado painéis cimentícios

Tabela 1 – EXEMPLOS DE APLICAÇÃO especial de avaliação – ATE (Aprova-


Item Aplicação Fachada após operação ção Técnica Européia).
de renovação/reabilitação Pode-se dizer também que exis-
1 Renovação das fachadas Fachada renovada constituída de placas de tem na Europa diversos consultores e
de uma escola pública revestimento em madeira, câmara de ar, escritórios de projetos especializados
estrutura secundária em madeira, isolante nesse nicho de mercado, sendo, por-
e parede de concreto (anteriormente existente). tanto, as práticas de construção bem
2 Reabilitação das fachadas Fachada reabilitada formada de painéis mais consolidadas que no Brasil.
de um edifício, com mudança pré-fabricados com estrutura em aço Além disso, observa-se que uma
de uso, mantendo as galvanizado divididos em duas partes: parte das grandes preocupações e objetivos
características arquitetônicas inferior, placas sintéticas (face externa), da renovação é, mais que a valorização
da época da construção isolante e placa de gesso acartonado (face do empreendimento, o incremento do
interna); parte superior: painel de vidro seu desempenho térmico e energético,
insulado, constituído de duas placas colocando-se em prática medidas que
de vidro laminado. contribuem com as políticas de preser-
3 Renovação das fachadas Fachada renovada composta de painéis de vação ambiental européias.
de um edifício educacional vidro insulado azul, fixos a uma estrutura
secundária em alumínio, a qual foi fixada
LEIA MAIS
na parede existente do edifício.
4 Renovação das fachadas Fachada renovada composta de painéis NBR 15575 – Desempenho de
(figura 6) cimentícios fixados a uma estrutura Edifícios Habitacionais de até
secundária em perfis de aço galvanizado Cinco Pavimentos – Partes 1 a 6.
conformados a frio, câmara de ar e parede ABNT (Associação Brasileira de
de concreto (existente). Normas Técnicas), 2008.
5 Reabilitação das fachadas Fachada renovada formada por um conjunto
incorporando elementos de painéis pré-fabricados constituídos de três NFP 28.001 – Façade Légère –
inovadores, porém mantendo partes: a) quadros em perfis tubulares de Définitions – Classification –
as características alumínio; b) parte inferior em placa cimentícia Terminologies. AFNOR (Association
arquitetônicas da época reforçada com fibra de vidro fixada diretamente Française de Normalisation), 1990.
de construção da obra sobre os perfis de alumínio, camada de ar,
placa de isolante em lã de rocha e placa de L'Allégorie du Patrimoine. F.
aço galvanizado; c) parte superior: placa de Choay, Paris, Seuil, 1992.
vidro insulado formada por vidros laminados.
Évider, Rénover, Restaurer et
Réhabiliter: Dix Interventions
das é expressivo e existem normas e le- bricante deve oferecer, além da marca de la Ville de Genève Sur
gislações pertinentes, além da grande CE, a qual garante que o componente son Patrimoine.
quantidade e diversidade de produtos atenda no mínimo à normalização eu- Publication:Conservation du
existentes, especialmente no que diz ropéia vigente. Entretanto, quando Patrimoine Architectural de la Ville de
respeito aos componentes de fecha- um produto de construção ainda não Genève. M. Koelliker; P. Marti; D.
mento. Os componentes de fecha- tem normas européias nem normas Ripoll. Département des Affaires
mento existentes atendem a requisitos nacionais reconhecidas (produto não Culturelles, 1999. Disponível em:
mínimos de qualidade, em função da tradicional), este, antes de ser comer- www.ville-ge.ch/geneve/
garantia decenal obrigatória que o fa- cializado, deve passar por um processo amenagement/patrimoine/biblio.htm.

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PRODUTOS & TÉCNICAS


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64
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65
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PRODUTOS & TÉCNICAS


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66
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p&t124.qxd 4/7/2008 17:31 Page 69
obra aberta-modelo.qxd 4/7/2008 17:32 Page 70

OBRA ABERTA
Livros

Engenharia Legal – Novos Geotecnia Ambiental * Resistência dos Materiais Tecnologia do Concreto
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Tito Lívio Ferreira Gomide Boscov Manoel Henrique Campos Péricles Brasiliense Fusco
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Leud (Livraria e Editora Oficina de Textos 248 páginas Editora PINI
Universitária de Direito) Fone: (11) 3085-7933 Editora Edgard Blücher Vendas pelo portal
Fone: (11) 3105-6374 www.ofitexto.com.br Fone: (11) 3078-5366 www.lojapini.com.br
www.editoraleud.com.br A geotecnia ambiental se www.blucher.com.br Os temas abordados são
A obra é composta por artigos dedica à proteção do meio O livro aborda a resistência imprescindíveis ao projeto,
anteriormente publicados no ambiente contra impactos dos materiais enquanto execução e utilização das
site do Ibape/SP (Instituto antrópicos, atentando à disciplina fundamental ao construções de concreto. Por
Brasileiro de Avaliações e operação e monitoramento de ensino da engenharia e da isso, o autor, que é projetista
Perícias de Engenharia de São locais de disposição de arquitetura. Do mesmo autor de estruturas e tem mais de
Paulo) e na revista Construção resíduos, avaliação do impacto de publicações como 25 anos de experiência,
Mercado, da Editora PINI ambiental, prevenção da "Concreto armado – Eu atacou os conceitos e idéias
entre 2005 e 2007. Os temas contaminação do solo te amo" e "Instalações que condicionam as decisões
abordados recorrem a superficial, do subsolo e das Hidráulicas Prediais", a diretamente relacionadas à
aspectos polêmicos e às águas superficiais e publicação traz exemplos durabilidade e segurança das
novidades da engenharia legal, subterrâneas, dentre outros. de resistência de elementos, estruturas. Com foco na
como as avaliações A publicação é voltada a como o comportamento resistência mecânica e na
imobiliárias, a engenharia alunos de graduação de de pilares e colunas de capacidade de resistir a
diagnóstica e perícias da engenharia civil, ambiental edificações frente a cargas de ataques do meio externo,
engenharia. O autor apresenta e de minas e geologia. O compressão. Ou, ainda, como considera o entendimento dos
de maneira lógica, simples e conteúdo, baseado na cabos de sustentação resistem fenômenos básicos do
clara a necessidade do disciplina de mesmo nome a esforços de estiramento. comportamento químico dos
conhecimento da engenharia lecionada na Escola Também aborda a ocorrência cimentos. Também analisa a
para a realização dos trabalhos Politécnica da USP de cortes (cisalhamento) e a proteção das armaduras
de avaliações e perícias. São (Universidade de São Paulo), resultante de flexões, dentre contra a corrosão e esclarece
18 capítulos que tratam de parte do pressuposto de que outros esforços estruturais. o controle da resistência por
inspeção imobiliária, os alunos tenham noções O autor, como ocorre em meio dos corpos-de-prova.
sustentabilidade na básicas de Mecânica dos outros de seus livros, procura Apresenta, em detalhes, a
engenharia legal, manutenção Solos e Obras de Terra. apresentar o conteúdo de teoria geral da flexão do
predial, qualidade predial total, forma simples e prática, sem concreto estrutural, contida em
fator humano na manutenção, prejuízo do rigor conceitual. tópicos referentes ao estado
perícia em fachadas e de limite último de compressão.
incêndio, entre outros tópicos.

70 TÉCHNE 136 | JULHO DE 2008


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agenda.qxd 4/7/2008 17:16 Page 72

AGENDA
Seminários e conferências metálica. O evento é organizado pela ABCM principais temas a serem abordados
(Associação Brasileira da Construção pelos palestrantes.
Obras Logísticas e Industriais – Uma Metálica) com o apoio da AARS (Associação Fone: 4001-6400 (regiões metropolitanas)
Visão de Valor do Aço do Rio Grande do Sul), do CBCA ou 0800-596-6400 (demais regiões)
6/8/2008 (Centro Brasileiro da Construção do Aço), www.piniweb.com/Construtech/
São Paulo do Ilafa (Instituto Latinoamericano del
O seminário organizado pela LPE Fierro y el Acero) e do AISC (American 80o Enic
Engenharia tem como objetivo debater a Institute of Steel Construction). 22 a 24/10/2008
evolução da qualidade e da produtividade Fone: (11) 3816-6597 São Luís
do setor de obras logísticas industriais no www.construmetal.com.br O Enic (Encontro Nacional da Indústria da
Brasil. Entre os temas que serão Construção) debaterá as perspectivas e os
discutidos, está a evolução das técnicas de Tecnologia de Edificações para desafios do crescimento do setor nos
projeto e execução de pisos, pavimentos Obras Rentáveis próximos anos. O evento atrairá diversos
de concreto aeroportuário, o aumento da 21/10/2008 profissionais da construção e as inscrições
demanda por capacitação técnica, São Paulo já podem ser feitas no site do evento.
necessidade das obras industriais e Discutir e auxiliar os profissionais de Fone: (62) 3214-1005
sistemas logísticos de alta produtividade. engenharia civil, construção e arquitetura a www.qeeventos.com.br
Fone: (11) 5093-4209 desenvolver soluções técnicas inovadoras
www.lpe.eng.br/seminario2008 de projeto e execução para agilizar e Arquitetura e Soluções Estruturais –
rentabilizar empreendimentos. Esse é o Desafios de Forma e Técnica para
Empreendimentos Imobiliários objetivo desse seminário, promovido pela Arquitetos e Engenheiros de Estruturas
Sustentáveis – Viabilidade, Projeto PINI, que será realizado no âmbito do 23/10/2008
e Execução Construtech 2008. Cases de projetistas, São Paulo
19/8/2008 construtoras e incorporadoras e soluções O objetivo do evento, promovido pela PINI
São Paulo industrializadas para eliminação de no âmbito do Construtech 2008, é discutir a
O fórum organizado pela Editora PINI gargalos de materiais e mão-de-obra relação indissociável entre arquitetura e
mostrará como investir em constam entre os principais temas a serem estrutura, entre forma e material, arte e
empreendimentos sustentáveis utilizando abordados pelos palestrantes. ciência. Pretende desmistificar o aparente
os melhores projetos e materiais de Fone: 4001-6400 (regiões metropolitanas) desinteresse de alguns arquitetos pela
construção, de forma a evitar a perda de ou 0800-596-6400 (demais regiões) engenharia e a questionável descrença dos
dinheiro e o desrespeito às legislações do www.piniweb.com/Construtech/ arquitetos na engenharia. Vai apresentar
setor. Serão ministradas cinco palestras projetos e obras nas quais o bem-sucedido
no dia, entre elas: Oportunidades de Engenharia de Custos no Boom encontro foi capaz de tornar imperceptíveis as
Negócios com Empreendimentos Imobiliário barreiras que costumam separar tais campos
Imobiliários Sustentáveis e Projetos de 22/10/2008 do conhecimento. Abordará temas como a
Ecoeficiência em Edificações: São Paulo nova plataforma BIM (Building Information
Desempenho Ambiental e Energético. Como desenvolver diferenciais competitivos Modeling) e a relação da arquitetura e da
Fone: (11) 2173-2465 para construtoras e incorporadoras em um engenharia estrutural na obra de Oscar
sustentabilidade@pini.com.br momento de crescimento do setor. Esse é o Niemeyer. O fórum contará com a presença
www.piniweb.com/sustentabilidade objetivo principal do seminário, promovido do arquiteto chileno Sebastian Irarrazaval.
pela PINI, que será realizado no âmbito do Fone: 4001-6400 (regiões metropolitanas)
Construmetal 2008 Construtech 2008. Análise da qualidade do ou 0800-596-6400 (demais regiões)
9 a 11/9/2008 investimento em empreendimentos www.piniweb.com/Construtech/
São Paulo imobiliários, perspectivas de evolução dos
A 3a edição do Construmetal terá custos de materiais e mão-de-obra, Fórum Nacional de Compras e
conferencistas brasileiros e internacionais metodologias e técnicas para estimativas Suprimentos na Construção Civil
que discutirão os principais avanços orçamentárias, orçamentos de obras e 23/10/2008
tecnológicos e inovações da construção estudos de casos constam entre os São Paulo

72 TÉCHNE 136 | JULHO DE 2008


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Em tempos de altas de preços e eventual O encontro internacional dos profissionais da


desabastecimento de alguns insumos e indústria da construção alia um ciclo de
equipamentos, o desafio de comprar e palestras e uma área de exposição com os
contratar equilibrando custo, prazo e mais avançados sistemas e tecnologias
qualidade torna-se ainda maior. desenvolvidas para o setor. Nesse momento
Ferramentas eletrônicas para especificação de crescimento, as empresas e profissionais
e compras na construção civil, qualificação devem buscar cada vez mais produtividade e
e relacionamento com fornecedores de expertise para se diferenciarem em um
materiais e serviços e cases de grandes mercado de grande competitividade. Tudo
empresas, como Cyrela e Método, farão isso levando em conta novas e importantes
parte do evento promovido pela PINI no preocupações, tais como a sustentabilidade,
âmbito do Construtech 2008. o respeito ao meio ambiente e a
Fone: 4001-6400 (regiões metropolitanas) responsabilidade social. Os temas escolhidos
ou 0800-596-6400 (demais regiões) para as palestras e as empresas expositoras
www.piniweb.com/Construtech/ do Construtech 2008 refletem tal realidade e
os desafios atuais do construbusiness.
Fone: 4001-6400 (regiões metropolitanas)
Feiras e Exposições ou 0800-596-6400 (demais regiões)
Fenasan 2008 www.piniweb.com/Construtech/
19 a 21/8/2008
São Paulo Bauma China 2008
A Feira Nacional de Materiais e 25 a 28/11/2008
Equipamentos para Saneamento chega à Shangai
sua 19a edição e reunirá mais uma vez A maior e mais importante plataforma da
profissionais, técnicos, empresários, indústria do mundo vai ser aberta pela
gestores, pesquisadores, fabricantes e quarta vez para a visitação de especialistas
fornecedores de materiais e serviços para em materiais, equipamentos, veículos e
saneamento. O encontro proporcionará a máquinas de construção. A idéia é que os
troca de informações, a demonstração de fabricantes possam mostrar seus produtos,
novos produtos e tecnologias para o setor. adquirir novos lançamentos e
O evento é realizado pela Aesabesp principalmente aproveitar a oportunidade
(Associação dos Engenheiros da Sabesp). de novos negócios.
Fone: (11) 3871-3626 www.bauma-china.com
fenasan@acquacon.com.br
www.fenasan.com.br
Cursos e Treinamentos
Concrete Show South América 2008 MBA Economia da Construção e
27 a 28/8/2008 Financiamento Imobiliário
São Paulo A partir de 8/2008
O evento é dirigido para a indústria de São Paulo
concreto tanto nacional quanto O número de financiamentos imobiliários
internacional e reunirá exposições, aumentou cerca de sete vezes entre 2002 e
demonstrações, seminários, workshops e 2008. A principal proposta do MBA oferecido
palestras para apresentar novas pela Abecip (Associação Brasileira das
tecnologias, aplicações e forma de uso do Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança)
material na América do Sul. O objetivo é em parceria com a Fipe (Fundação Instituto
estimular negócios e parcerias entre de Pesquisas Econômicas) e a OEB (Ordem
diversos construtores e distribuidores. dos Economistas do Brasil), é apresentar para
Fone: (11) 4689-1935 os profissionais do setor as diversas
www.concreteshow.com.br alternativas de crédito imobiliário disponíveis
no mercado atualmente, além dos próprios
Construtech 2008 – Fórum PINI de aspectos sociais, jurídicos e ambientais da
Tecnologias & Negócios da construção civil brasileira. As inscrições
Construção podem ser realizadas até o dia 30 de julho.
21 a 23/10/2008 Fone: (11) 3286-4859
São Paulo mba@abecip.org.br

73
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Leonardo Chamone Cardoso


Engenheiro de Aplicação/Gerente
COMO CONSTRUIR técnico
Transsen Aquecedor Solar

Dimensionamento
e instalação de
aquecedor solar
O dimensionamento é uma das
etapas mais importantes no
projeto de implantação de um
aquecedor solar em uma residência,
pois é a partir dele que se chega ao
volume de água quente e à área co-
letora ideal para atender às necessi-
dades diárias de água quente dos
usuários e com isso atingir a sua sa-
tisfação plena.
Apesar disso, é comum encon-
trar no mercado diferenças signifi-
cativas entre dimensionamentos e
especificação de produtos de dife-
rentes fabricantes, o que faz com
que o consumidor sinta-se perdido
e com grandes dificuldades de iden-
tificar qual dos dimensionamentos e
configuração de produto que de fato
atenderão as suas necessidades diá-
Divulgação Transen

rias. Normalmente, essa situação


acontece por falta de capacitação
técnica do profissional de vendas ou
por não haver consenso quanto à
necessidade do cliente.
De qualquer forma, para evitar Materiais cados de materiais nobres como alu-
que situações como essas aconte- Antes de entrarmos no dimen- mínio e cobre.
çam, segue uma síntese das princi- sionamento propriamente dito, é Reservatório térmico: reservató-
pais informações quanto a produto, importante entender que um siste- rio isolado termicamente responsável
projeto, instalação e manutenção do ma de aquecimento solar é compos- pela armazenagem de toda a água
sistema de aquecimento solar. Essas to principalmente de: quente para que seja utilizada de acor-
informações permitirão entender o Coletor solar: elemento ativo do do com o perfil de consumo dos usuá-
processo de inserção do aquecedor sistema e responsável pela conversão rios. O reservatório térmico normal-
solar e com isso ter condições de da energia solar em energia térmica mente é fabricado de aço inoxidável e
avaliar se de fato o sistema atenderá por aquecimento da água. A maior possui uma cobertura de alumínio.
às suas necessidades. parte dos coletores solares são fabri- É fundamental sempre optar por

76 TÉCHNE 136 | JULHO DE 2008


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um fabricante que possui a sua linha


de produtos etiquetados pelo Inmetro
Vidro dividido Aleta de alumínio
(Instituto Nacional de Metrologia,
em três partes enegrecido
Normalização e Qualidade Industrial).
Dessa forma o consumidor tem a se-
Isolamento térmico
gurança de que o produto é de quali-
Serpentina de em PU e/ou kraft
dade e tem a sua eficiência térmica co-
tubo de cobre sanfonado
nhecida, fato esse essencial para o di-
mensionamento. Para isso, exija do fa-
bricante o selo do Inmetro ou pesqui-
Fundo e perfis
se na internet. No site do Inmetro é
em alumínio
possível encontrar uma relação com
todos os fabricantes de aquecedores
solares que possuem produtos certifi- Vista expandida indicando componentes
cados.Além disso, é possível comparar
o rendimento térmico e produção de
A
energia de cada um deles.
B
Projeto C
Para dimensionar um sistema de
aquecimento solar, é necessário primei-
ramente que se faça uma visita técnica,
cujo objetivo é levantar o perfil de con-
sumo de água quente do cliente,ou seja, Termostato
conhecer as suas necessidades.Para isso, D
podem ser feitas as seguintes perguntas: Ligação elétrica
 Quais os pontos de consumo de
água quente?
 Qual a vazão prevista ou em uso?
 Qual o tempo médio de uso? Apoio Resistência
 Qual o número de usuários?
 Qual a freqüência de uso? Isolamento térmico Saída consumo/
 Qual a temperatura de consumo? progressivo respiro (S)

Além disso, a visita técnica tam-


Retorno de água
bém tem o objetivo de levantar as
quente para
condições de instalação do aquece-
os coletores (R)
dor solar disponíveis na residência.
Entrada de água
Para isso, é necessário estar seguro de
fria e saída para
que:
os coletores (S)
 Há espaço disponível para instala-
ção do sistema de aquecimento solar?
 O local de instalação possui resis- Vista expandida indicando componentes boiler
tência estrutural compatível?
 A orientação e inclinação dos cole-
tores solares são adequadas? fazer o dimensionamento do aquece- Vconsumo é volume de consumo diário
 O tipo de telhado permite a fixa- dor solar. Para isso, primeiramente é em m³;
ção dos coletores? dimensionado o volume de água Vazão dos pontos de consumo em
 Não haverá sombreamento nos quente. Esse cálculo é feito seguindo m³/s;
coletores solares? a equação abaixo. Tempo de utilização da peça de con-
 A qualidade da água é compatível? sumo em segundos;
Há circuito hidráulico de água quen- Vconsumo = Σ Freqüência de uso da peça de consumo.
te na residência? n=i A partir dessa equação é possível
vazão do ponto de utilização x tempo quantificar o volume de água quente
Com base nas informações le- de utilização x frequência de uso consumido diariamente, não esque-
vantadas na visita técnica, é possível Onde: cendo que esse volume total corres-

77
como construir.qxd 4/7/2008 17:19 Page 78

COMO CONSTRUIR

ponde à quantidade de água quente na


temperatura de banho, que varia entre
36ºC e 40ºC. Isso significa dizer que
parte dessa água consumida vem do
aquecedor solar e parte vem da caixa
de água fria. A relação entre água
quente e água fria varia de acordo com
a característica climática da região. Na
prática, trabalha-se com as seguintes
relações na maior parte dos casos:
Duchas: 40 l a 60 l/banho;
Cozinha: 10 l a 15 l/pessoa;
Lavatório e ducha higiênica: 3 l a 5
l/pessoa
Lavanderia: 10 l a 15 l/kg de roupa seca
Depois de dimensionado o volume
Fotos: divulgação Transen

de água quente, chega-se ao volume


final do reservatório térmico. Em se-
guida, é dimensionada a área coletora
necessária. Para isso é feito um balanço
de energia que consiste em levantar a
Cecomtur Executive Hotel em Criciuma (SC ) – 4 mil l – 36 coletores de 2 m
demanda energética necessária para
aquecer o volume dimensionado e a
produção específica de energia do cole-
tor solar dentro da condição de instala- Válvula ventosa
ção levantada na visita técnica. A equa- Válvula de retenção
ção abaixo esclarece melhor o conceito. Registro

Mínimo
30 cm
Consumo de
Válvula de segurança
Área coletora = (kWh/mês)* água quente
(kWh/m2/mês)**
Retorno dos coletores
*Demanda energética mensal inclinação mínima 3%
**Produção específica de energia
Mínimo
10 cm

A demanda energética mensal Alimentação


Mínimo
50 cm

Coletor solar
pode ser calculada usando a equação: exclusiva de
água fria
DE = V . ρ . cp . (TF - TI) x 30 dias
N Dreno
3.600 Máximo
7m
Onde,
DE: Demanda energética mensal, em Alimentação dos coletores
kWh; inclinação mínima 3%
V: Volume de água quente em m³;
Instalação vista expandida termo
ρ: Peso específico da água, conside-
rando 1.000 kg/m³;
cp : Calor específico da água, 4,18 mática, desde que se tenha acesso às di- Além disso, as condições de instala-
kJ/kgºC; mensões do coletor solar e à curva de ção também têm influência grande na
TF: Temperatura de armazenagem da eficiência térmica do mesmo, de onde produção de energia do coletor solar,
água quente, em ºC; são retirados os parâmetros adimensio- principalmente a orientação do mesmo
Ti: Temperatura de água fria, em ºC. nais FRUL e FRτα. Para isso é fundamen- em relação ao norte geográfico, confor-
tal que o coletor solar seja testado e eti- me é demonstrado no gráfico.
Quanto à produção específica de quetado pelo Inmetro. O gráfico acima Naturalmente o balanço de ener-
energia do coletor solar, essa pode ser demonstra a influência do clima no de- gia determinará uma área coletora que
calculada para qualquer condição cli- sempenho térmico do coletor solar. irá variar ao longo do ano em função

78 TÉCHNE 136 | JULHO DE 2008


como construir.qxd 4/7/2008 17:19 Page 79

das características climáticas de cada


mês, conforme o gráfico.
Com isso é definida uma linha de
corte que determinará a área coletora
final, além de prever quais os meses
em que o sistema solar será auto-sufi-
ciente e os meses em que será necessá-
rio fazer uso do sistema de aqueci-
mento auxiliar. Em linhas gerais, esse é
o procedimento usado para dimensio-
nar um sistema de aquecimento solar.
Para melhor ilustrar a metodo-
logia, veja na página seguinte um
exemplo de dimensionamento pas-
so-a-passo de um sistema de aque-
cimento solar residencial.

Execução
O custo de execução torna-se
menor, à medida que a construção da
residência passa a ser planejada para re-
ceber o aquecedor solar. Isso implica a
adequação do projeto arquitetônico de
forma a permitir que haja entre caixa
d’água, coletores solares e reservatório
Residência em Cotia (SP) – 1.600 l – 16 placas coletoras
térmico os desníveis mínimos para que
a circulação de água em termossifão
Produção de Energia x Clima Produção de Energia x Orientação
possa acontecer. Nesse caso, a radiação
2
Coletor Vertical KPU.5 (1,72 m ) Coletor Vertical KPU.5 2(1,72 m )
solar incide sobre o coletor solar que
aquece a água. Essa por sua vez torna-se
180 180
menos densa, mais leve e tem a tendên-
cia de migrar para a parte superior do
(kWh/mês)

(kWh/mês)

120 120
sistema em direção ao reservatório tér-
mico,a água mais fria,mais densa,tende
60 60
a descer e ocupar o lugar da água mais
quente. Dessa forma, a circulação natu-
0 0
Jan Dez Jan Dez ral ou circulação em termossifão acon-
Salvador Belo Horizonte Norte geográfico Desvio 45° tece, ou seja, a diferença de temperatura
São Paulo Curitiba Desvio 90° entre água quente e água fria gera uma
diferença de densidade que,por sua vez,
provoca a circulação da água.
Caso a arquitetura da residência
não permita a instalação em termos-
sifão, é possível fazer a instalação
Área Coletora Necessária bombeada, onde a circulação acon-
tece com o uso de uma bomba hi-
6,7 6,4
6,0 dráulica de baixa potência.
Linha de Corte 5,8 5,5
5,2 5,4
5,1 4,9
4,6 Controle da qualidade
4,1 4,0 Assim como é fundamental que os
produtos utilizados possuam o selo
do Inmetro, também é diferencial que
Área (m²)

a instalação seja executada por uma


empresa que possua o selo Qualisol.
Esse selo foi criado recentemente, tem
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez o apoio do Inmetro e o objetivo de

79
como construir.qxd 4/7/2008 17:19 Page 80

COMO CONSTRUIR

atestar a qualidade do serviço de insta- Manutenção tal que o usuário siga à risca o pro-
lação dos sistemas de aquecimento Para garantir uma longa vida útil grama de manutenção preventiva
solar. Esse programa ainda está em ao aquecedor solar e que o sistema indicado pelo fabricante. O ideal é
fase inicial, contudo terá grande força estará sempre trabalhando com o que a manutenção preventiva seja
no mercado a curto prazo. máximo de eficiência, é fundamen- feita, pelo menos, a cada 12 meses.
As principais ações são:

Exemplo de dimensionamento  Inspeção e lavagem de vidros dos


coletores solares (excepcionalmente
1. Dimensionamento de reservatório térmico – Boiler todo mês);
Considerações:  Inspeção e teste na alimentação
No de pessoas na residência: 5 elétrica;
Frequência de banhos diários: 2  Teste de funcionamento da(s) re-
Pontos de utilização de água quente: sistência(s) elétrica(s);

x Banheiro: 50 l/pessoa  Cozinha  Lavanderia  Banheira  Teste de funcionamento do(s) ter-
mostato(s) de acionamento do(s)
DIMENSIONAMENTO – RESERVATÓRIO TÉRMICO aquecimento(s) auxiliar(es);
Etapas Memória de cálculo Volume  Inspeção de toda a tubulação hi-
Volume máximo de VMC = no de pessoas x consumo/ 500 l dráulica;
água quente (VMC) pessoa + volume da banheira =  Inspeção e teste de todos os regis-
Volume médio de VMCD = VMC 500 l tros, válvulas, respiro(s) e acessórios
água quente (VMCD) de segurança;
Volume do reservatório VRT = VMCD 500 l  Drenagem de todo sistema de
térmico (VRT) aquecimento solar;
Reservatório térmico Volume de água 500 l  Inspeção, teste de funcionamento
dimensionado (RTD) quente recomendado e verificação da corrente elétrica
Referência: Normas NBR 7198, NBR 15569 e procedimentos de dimensionamento Transsen da(s) bomba(s) hidráulica(s);
 Inspeção e teste de funcionamento
2. Dimensionamento da área coletora do quadro de comando elétrico;
Considerações:  Inspeção, limpeza e teste de fun-
Coletor solar Transsen etiquetado pelo Inmetro, modelo: Itapuã V2.0 cionamento do(s) aquecedor(es) de
Orientação do local da instalação: Norte geográfico passagem a gás;
Inclinação do local da instalação: Latitude + 10º  Inspeção do(s) anodo(s) de sacri-
Temperatura de consumo: 40°C fício;
Temperatura de armazenagem: 45°C  Inspeção do suporte metálico dos
Característica climática: Quente coletores solares;
Temperatua ambiente: 23°C  Inspeção da base de sustentação
do(s) reservatório(s) térmico(s);
DIMENSIONAMENTO – ÁREA COLETORA
 Inspeção visual do(s) reservató-
Etapas Memória de cálculo Resultado
rio(s) térmico(s) quanto à deforma-
Demanda energética DE = [(VMCD x *Cp x **ΔT x 435,91
ção ou deterioração.
mensal (DE) 30 dias) + Perdas térmicas] / kWh/mês
3.600 KJ / kWh
Produção de energia PE = ***Produção estimada de energia 140,00
por coletor (PE) em média mensal por coletor kWh/mês LEIA MAIS
No de coletores NCD = DE / PE 3,11
NBR 15569 – Sistema de
dimensionados (NCD) coletores
Aquecimento Solar de Água
No de coletores Número de melhor balanceamento 3
em Circuito Direto – Projeto
recomendados (NCR) hidráulico e desempenho = coletores
e Instalação
Área coletora (AC) Área coletora equivalente 6,06 m2
* 4,18 KJ/KGOC, calor específico da água a pressão constante.
Manual Técnico – Transsen
** Ganho de temperatura: temperatura de ajusta de termostato – temperatura
Aquecimento Solar
ambiente da água.
*** Produção de energia mensal do coletor solar em condições de trabalho
Procedimento de
considerando o posicionamento dos coletores (inclinação e orientação) e
Dimensionamento – Transsen
características climatológicas do local de instalação.
Aquecimento Solar

80 TÉCHNE 136 | JULHO DE 2008

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