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Abr./Jun. 2002
Fontes
FONTES
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Cadernos de Educação de Infância
Abr./Jun. 2002
Fontes
E é o galo que, em outras lendas, com o seu canto derrota as forças do mal.
Nas armas de Celorico da Beira figura uma truta porque, durante um cerco
apertado, o alcaide enviou ao chefe inimigo uma bela truta que uma águia
providencial deixara cair do alto para dentro do castelo. Convencido de que os
sitiados tinham provisões abundantes que lhes permitiam o luxo de uma oferta
daquelas, os atacantes abandonaram as suas posições de assalto.
Em Benfeitas (Beira Alta), certas pegadas misteriosas insertas numa extensa
zona rochosa são interpretadas pelo povo como as marcas de todos os animais
que entraram na Arca de Noé! Nada menos...
Animais totémicos seriam os berrões, porcos ou javalis em pedra tosca, de que
a porca de Murça é o mais significativo exemplo. Conta-se que nos últimos
anos da Monarquia, o rotativismo parlamentar entre Regeneradores e
Progressistas dava ocasião a que se pintassem o animal ora de verde ora de
encarnado consoante o partido que ficava no governo; à implantação da
República o bicho apareceu pintado com ambas as cores! Se a tradição antiga
reviver actualmente, pode ser que a porca de Murça nos apareça ora pintada
de cor-de-rosa ora de cor-de-laranja...
Nem todos os animais, porém, são abençoados ou têm intervenção positiva.
Em Gandra (Minho), receia-se que, quem não festejar S. Pedro de Rates, a 26
de Abril, venha a ter a sua casa e os seus haveres devorados pelos ratos.
E a romaria da Senhora dos Altos Céus, em Lousa (Beira Baixa), deve-se à
gratidão do povo que, por sua intercessão, se viu liberto de uma praga de
gafanhotos.
O animal pode também assumir formas fabulosas: a coca (Dragão) ou a
serpente (Figuração do Mal) são vencidos respectivamente por S. Jorge e por
S. Macário, ocasiões de combates simulados em que o mal era vencido, como
se deseja.
A concluir, recordo o enlevo das crianças posto nos grilinhos a trinarem dentro
das suas gaiolinhas de arame; e também a expectativa ansiosa de verem, no
dia seguinte, transformados em moedas de oiro os pirilampos guardados sob a
campânula de um copo emborcado. Já o seu brilho no escuro fora um tesoiro
de beleza.
Ao chegar Abril, o cuco era interrogado pelas moças casadoiras:
Ó cuco da ramalheira,
Diz-me quantos anos ficarei solteira?
E o cuco “respondia” cantando uma, duas, três vezes; o pior era quando ele
desatava a cantar sem parança...
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Cadernos de Educação de Infância
Abr./Jun. 2002
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TRADIÇÃO ORAL
Quadras Populares
I
Os pombos quando namoram,
Põem as asas no chão,
Para que as pombas não vejam,
O bater do coração.
II
Bem pudera o senhor cuco,
Casar com a cotovia,
Mas não quer o senhor cuco,
Mulher que tanto assobia.
III
Quatro flores em o meu peito,
Todas quatro desmaiadas,
Cravo roxo, amor-perfeito,
Rosa branca e encarnada.
IV
O ladrão do melro negro,
Toda a noite repiu-piu...,
Na maré de madrugada,
Bateu asas e fugiu.
V
A lua veste de branco,
Esta noite vai casar,
Madrinha é Nossa Senhora,
O padrinho é o luar.