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Previdenciária.
FINAIS.
INTRODUÇÃO
O presente trabalho analisará a situação de recusa à transfusão sanguínea pelos seguidores das
vista médico profissional quando em eminente risco de vida o paciente - somente nestes casos
as decisões que demonstram que é preciso repensar a aplicação da teoria a respeito da colisão
de direitos fundamentais e a prevalência do bem jurídico maior. Além disso, com o advento
quando o procedimento recomendado gerar riscos para a vida ou a saúde. Expor a visão de
Na sustentação do que colocam como dogma religioso, defendem seu ponto de vista no
direito de privacidade e liberdade, inclusive de religião, consagrado pela CF (art. 5º, VI e X).
Desta forma, porque maiores e capazes entendem aptos a decidir sobre o melhor tratamento,
Do ponto de vista do médico profissional, não temos dúvida em afirmar que cabe a ele,
somente a ele, quando em eminente risco de vida o paciente - somente nestes casos -, efetuar
Ocorrendo ao paciente eminente risco de vida, deve ser ministrada transfusão de sangue, pois
OEstado defende o paciente, protegendo sua dignidade como ser humano. Reputando como
tratamento que poderiam evitar o uso de hemocomponentes, nossos Tribunais entendem que o
direito à vida não se exaure somente na mera existência biológica, sendo certo que a regra
fundamental para encontrar-se convivência que pacifique os interesses das partes. Resguardar
que se lhe agregam. É conveniente deixar claro que as Testemunhas de Jeová não se recusam
a submeter a todo e qualquer tratamento clínico, desde que não envolva a aludida transfusão.
MAIOR.
Essas decisões demonstram que é preciso repensar a aplicação da teoria a respeito da colisão
O direito de escolher tratamento médico isento de sangue, motivado por questões religiosas, é
uma projeção da dignidade da pessoa humana, qualquer que seja a instituição hospitalar onde
nossos Tribunais esclarecem que os pacientes Testemunhas de Jeová não buscam abdicar de
seu direito de viver. Procuram, sim, tratamento médico que estejam em harmonia com sua
consciência.
Além disso, com o advento do art. 15 do Código Civil, a autonomia do paciente deve ser
Destituir o paciente de sua autonomia, nos casos em comento, significa reduzi-los à condição
Direito. Diante de uma sociedade pluralista, o Poder Judiciário não pode ficar alheio à
mesmo que postar-se na camada mais elevada em que se encontra atualmente o Direito.
Fechar os olhos a isso equivaleria a reter o Direito sob diversas camadas do passado, o que é
inadmissível.
com repercussões sociais, religiosas, deontológicas, civis e penais, onde o Brasil ainda
Direito.
compulsória, em virtude da segurança jurídica oferecida pela norma permissiva (CP art. 146,
parágrafo 3º do Código Penal). Entretanto, permanece o problema do dano moral, que embora
provocado por ato lícito (não levando ao dever de indenizar) traz consigo desconforto ético ao
humana.
É, há momentos que um dos valores deve prevalecer sobre o outro, e, cada caso é diferente do
outro. Há Testemunhas de Jeová que aceitam as transfusões e outras que não aceitam, mas o
mais importante é que as mesmas possam expressar sua vontade livre, sem constrangimentos,
quer dos profissionais de saúde, quer da comunidade religiosa. Desta forma o sigilo médico é
fundamental. A sanção religiosa, através da exclusão do convívio social ocorreu muitas vezes
e é preciso que a comunidade de religiosos se conscientize que isso deve ser uma questão de
foro íntimo do único titular do direito competente para entender as conseqüências de sua
escolha e capaz e que a sanção moral ofende direito protegido pelo Estado (Honra).
regra é prevalecer o interesse do paciente, entretanto isto depende da espécie de vínculo entre
meios lícitos, disponíveis e autorizados para afastar o perigo iminente e nessa situação lhe
faculta (mas não se obriga) utilizar-se da transfusão se ela for útil, lembrando sempre que os
profissionais de saúde também podem ter objeção de consciência e não suportar a dor moral
Neste ponto, objetiva-se expor a visão de alguns Tribunais acerca da matéria. Desde logo,
questão e, então, trazemos à baila apenas duas visões, mas que melhor representam o
Em precioso acórdão proferido pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, o Des. Sérgio
Gischkow Pereira aborda a matéria de forma a resumir seus pontos de maior relevância e
profere, com propriedade, o seu posicionamento acerca do tema. Cumpre trazermos à colação
parte do seu voto, pois demonstra o que deve ser considerado por uma decisão justa:
Cláudio Balbino Maciel do Egrégio Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, a qual ratifica
No caso em apreço verifica-se que o paciente é maior e não há nada nos autos a indicar que
não esteja em pleno uso de suas faculdades mentais. Assim, detendo o paciente a capacidade
Isso porque a liberdade de crença abrange não apenas a liberdade de cultos, alcançando
Vale ressalvar, entretanto, que quando a situação envolve menores de idade ou outros
uma pessoa detentora de alguma perturbação mental, a questão ganha evidentemente outra
detentor de capacidade civil e está no perfeito uso de suas faculdades mentais, entendo que
sua recusa em submeter-se a tratamento que fere suas convicções religiosas deve ser
respeitada.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O respeito à autonomia do paciente deve estender-se aos seus valores religiosos. Tais valores
não podem ser desconsiderados ou minimizados por outrem, sobretudo pelos profissionais de
saúde, a despeito dos melhores e mais sinceros interesses destes profissionais. Certamente, os
profissionais de saúde estarão agindo dentro dos limites da ética médica ao respeitar as
crenças religiosas de seus pacientes, provendo-lhes tratamento médico compatível com tais
crenças. Os valores religiosos podem ser uma força positiva para o conforto e recuperação do
democracia. A autonomia individual deve ser respeitada e, com ela, o direito de consciência e
circunstâncias da vida.
Dessa forma, admite-se a recusa às transfusões sanguíneas por motivos de foro íntimo:
convicções pessoais, religiosas ou não. O próprio Código Civil coíbe a intervenção médica ou
Todavia, nosso ordenamento não tolera a liberdade religiosa como direito absoluto. Seria
inadmissível: teríamos que conviver com as maiores brutalidades, pois justificativas das mais
Por esse motivo, é razoável que se preserve a vida, acima de qualquer outro direito, quando
mais se aproximar da dignidade humana. Não há dúvidas que a transfusão de sangue deve ser
feita pelo médico caso o paciente encontre-se em iminente risco de vida ou inconsciente.
REFERÊNCIAS
KFOURI NETO, Miguel. Responsabilidade Civil Médico. 5.ed. rev. e atual. à luz do novo
Código Civil, com acréscimo doutrinário e jurisprudencial. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2003.
NERY, Rosa Maria de Andrade. Noções Preliminares de Direito Civil. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2002.
NUCCI, Guilherme de Souza. Código Penal Comentado. 2 ed. ver., ampl. e atual. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2002.