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A Causalidade da Duplicata Mercantil

Como os outros títulos de crédito, a duplicata também está sujeita ao


regime jurídico cambial, e assim sujeito aos principais princípios, como o da
literalidade, autonomia das obrigações e o da cartularidade.

A duplicata mercantil é um titulo de crédito causal, e sua causalidade


diz respeito ao fato desta nunca existir de maneira independente, uma vez que
só pode ser emitida nas causas em que a lei expressamente admite, onde não
existindo uma destas causas, sua emissão é proibida. Admitir a falta da
causalidade implica em dizer que a duplicata emitida não está de acordo com a
lei.
Hoje, a duplicata tem grande importância no mundo dos títulos de
credito, pela facilidade que tem em transformar-se em dinheiro, e poder de
negociação muito grande, sua admição é feita pela especificidade da relação,
não se considerando causa, o grau de vinculação à relação jurídica que deu
causa a sua emissão.

Sua finalidade primordial é assegurar a eficaz satisfação do direito de


crédito detido pelo emitente contra o devedor. Havendo perda ou extravio da
duplicata, poderá ser emitida uma triplicata, que na verdade representa a
segunda via da duplicata.

Antes da promulgação do Decreto-Lei nº. 265, só poderia ser emitida


em casos de compra e venda. Atualmente recepciona créditos originados por
contrato de prestação de serviço, que segundo o art. 22 da Lei de duplicatas,
engloba profissionais liberais e prestadores de serviços de natureza eventual,
tendo ambos o mesmo regime jurídico, qual seja, aceite, devolução, circulação,
protesto e execução previstas para a duplicata mercantil, tendo como
diferença:
a) a causa da emissão – ao invés de ser motivada por um contrato de
compra e venda mercantil, o faz por contrato de prestação de serviço;
b) protesto por indicações depende de documento comprobatório da
realização do serviço, ou vínculo contratual.
Toda duplicata é condicionada a uma relação comercial ou prestação
de serviço. Até 1968, a emissão da duplicata era obrigatória nas operações a
prazo, hoje vigora a facultatividade.
Assim, o crédito se originando de outra relação que não uma de
compra e venda e a prestação de serviços, a duplicata não poderá ser o título
de crédito escolhido, Dessa maneira, a emissão só é possível para representar
causa específica prevista em lei.
Quem recebe a duplicata por endosso tem que exigir o comprovante de
entrega da mercadoria ou da prestação de serviços. Se ele não o faz, perde a
presunção de boa-fé.

Por exigir o pressuposto de fato específico da compra e venda


mercantil ou prestação de serviços, a duplicata mercantil não pode ser sacada
em qualquer hipótese segundo a vontade das partes interessadas, pois a
emissão de duplicata sem causa é crime, chamada de duplicata fria, simulada
ou sem causa, onde aquele que fugir a exigência incorrerá no crime previsto no
art. 172 do Código Penal. Tal delito configura-se pela emissão de duplicata
não-representativa de crédito resultante de compra e venda prestação de
serviços, ou quando ocorrer adulteração na quantidade ou qualidade da
mercadoria vendida.

Exigibilidade da duplicata mercantil

Na letra de câmbio, a emissão do título não obriga o sacado, que


poderá deixar de lançar seu aceite e, conseqüentemente, não se vincular ao
pagamento do título.

Ensina-nos o brilhante professor Ricardo Negrão que na duplicata,


todavia, a obrigação pode estar comprovada pela assinatura do devedor ou de
seu preposto, lançada no canhoto de entrega de mercadorias ou de
recebimento do serviço. Neste caso, mesmo sem aceitar o título, o sacado
obriga-se pelo valor expresso na duplicata. É o chamado aceite presumido.

O aceite na duplicata é sempre obrigatório. A recusa em aceitar a


duplicata deixando de assiná-la ou de devolvê-la, não gera efeitos liberatórios,
como ocorre na letra de câmbio em razão da natureza causal do título.

Demonstrada a realização do negócio, pela assinatura no canhoto da


fatura, a recusa do sacado não altera a exigibilidade do título. A recusa formal
do sacado impede sua vinculação ao título apenas se legitimada nas hipóteses
previstas na lei. Neste caso, o protesto não pode se efetivar, respondendo por
danos tanto o emitente como também o endossatário que resistir à pretensão
do sacado.

Os três casos que legitimam a recusa estão previstos no art. 8º da Lei


5439/68:

Art. 8º O comprador só poderá deixar de aceitar a duplicata por motivo de:

I - avaria ou não recebimento das mercadorias, quando não expedidas ou não


entregues por sua conta e risco;

II - vícios, defeitos e diferenças na qualidade ou na quantidade das


mercadorias, devidamente comprovados;

III - divergência nos prazos ou nos preços ajustados.

Ainda sobre o aceite, escreve o Professor Frederico Moura de Paula


Lima:

“é a declaração pela qual o comprador (sacado) assume a obrigação de pagar


a quantia indicada no título, na data do vencimento”.
O aceite poderá ser expresso ou tácito, enquanto no expresso o
devedor apõe sua assinatura no título, o tácito é quando o devedor recebe a
duplicata para o aceite e deixa passar o prazo de 10 dias, contados da
apresentação, sem qualquer comunicação, por escrito, ao credor. A lei entende,
então, que o devedor aceitou a duplicata em silêncio.
É a assinatura do devedor que caracteriza o título de crédito. A
duplicata, ao receber o aceite, libera-se definitivamente de sua origem e não se
discute mais o que está expresso no título. Graças aos princípios da autonomia
e da literalidade, o título de crédito passa a ser negociável, podendo transitar
livremente. É o aceite, portanto, que transforma a duplicata num contrato
perfeito e acabado, valendo por si mesmo.

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