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Resíduos de um Laboratório de Farmacognosia: uma

proposta de gerenciamento eficiente

Mairon César Coimbra

Resumo

Este trabalho preocupa-se em caracterizar e propor políticas de gerenciamento dos


principais resíduos gerados em laboratórios de ensino e pesquisa de Farmacognosia.
Faz-se uma breve reflexão quanto a atual situação do descarte de resíduos de laboratório
em Instituições de Ensino Superior e apresenta um quadro síntese que trata dos
procedimentos gerais de gestão dos resíduos gerados.

Introdução

A farmacognosia é o ramo mais antigo das ciências farmacêuticas e tem como


alvo de estudo os princípios ativos naturais, sejam animais ou vegetais. Apenas a partir
de 1815 foi introduzido o termo farmacognosia, que deriva do
grego pharmakon (fármaco) e gnosis (conhecimento). Este termo foi usado pela
primeira vez pelo médico austríaco Schmidt em 1811. A farmacognosia é disciplina
obrigatória nas Escolas de Farmácia do Brasil a partir de 1920, sendo uma das maiores
áreas do conhecimento farmacêutico. Ela é uma ciência multidisciplinar que contempla
o estudo das propriedades físicas, químicas, bioquímicas e biológicas dos fármacos ou
dos fármacos potenciais de origem natural assim como busca novos fármacos a partir de
fontes naturais. Ao mesmo tempo é considerada uma ciência é interdisciplinar, fazendo
interface com a botânica, etnobotânica, antropologia médica, biologia marinha,
microbiologia, fitoquímica, fitoterapia, farmacologia, farmácia clinica, agronomia, entre
outros (SBFgnosia, 2010).
Um laboratório de ensino e pesquisa em Farmacognosia, apesar de pequeno, é
um gerador considerável de resíduos contaminantes já que aulas e pesquisas aplicadas
acontecem com frequência nestes ambientes. Órgãos governamentais consideram estes
locais como pequenos geradores de poluição, e não é incomum órgãos de fiscalização
ignorarem a importância de um monitoramento da geração de resíduos produzidos em
laboratórios de Instituições de Ensino Superior (Maia, 2009).
Tendo em vista a grande sensibilização ambiental corrente no mundo, bem como
aspectos de responsabilidade social, este trabalho preocupou-se em caracterizar e propor
uma política de gestão eficiente para resíduos gerados em laboratórios de
Farmacognosia.

Fundamentação Teórica

Levando-se em conta o grande número de pequenos geradores de resíduos, como


Instituições de Ensino e Pesquisa, existentes na nossa sociedade, e que os resíduos por
eles gerados são de natureza variada, incluindo metais pesados, solventes halogenados,
radioisótopos e material infectante, variando de sólidos a líquidos, a premissa de que
estas atividades dispensam um programa eficiente de gerenciamento de resíduos não
procede.
Nas últimas décadas, a conscientização e a mobilização da sociedade civil tem
exigido que esta situação cômoda da qual desfruta pequenos geradores de resíduos seja
revertida, requerendo para estas atividades o mesmo grau de exigências que o Estado
dispensa para os grandes geradores. Isso se torna cada vez mais necessário levando-se
em conta que o número de Instituições de Ensino e Pesquisa aumenta cada vez mais,
bem como a preocupação com a degradação do Meio Ambiente.
Sabe-se que o volume de resíduos que são gerados durante uma aula prática é
pouco, mas isso somado a todas as aulas práticas ministradas em uma semana de um
curso de 36 horas/aula práticas divididos em três turmas, isso se torna preocupante.
Um bom curso de farmacognosia é caracterizado por contemplar todos os
grandes grupos de substâncias (classes químicas de metabólitos secundários) presentes
nos organismos. Para cada grupo existe uma metodologia particular de extração e
caracterização, exigindo solventes e materiais diferentes. Consequentemente estes
processos geram resíduos diferentes que estão descritos no Quadro 1, bem como uma
proposta de gerenciamento.
Quadro 1. Principais resíduos gerados em um laboratório de ensino e pesquisa em Farmacognosia.

Nome do Natureza Fórmula Número


Perigos Oferecidos Proposta de Gerenciamento do Resíduo
Produto Química Molecular CAS
Ácido Inflamável. Provoca
Ácido Acético CH3COOH 64 - 19 - 7
Orgânico queimaduras graves
Glacial

Neutralização com substâncias básicas para posterior descarte


Ácido HCl Irritante de mucosas 7647 - 01 - 0
Acido
Clorídrico
Inorgânico
H2SO4 Provoca queimaduras graves 7664 - 93 - 9
Ácido Sulfúrico
Provoca queimaduras. Muito
Hidróxido de Base NH4OH tóxico para os organismos 1336 - 21 - 6 O resíduo pode ser usado para neutralizar substâncias ácidas
Amônio aquáticos.
Facilmente inflamável. Irritante
Acetato de CH3COOC2H5 para os olhos. Pode provocar 141 - 78 - 6
Etila secura da pele ou fissuras, por
O resíduo da pesquisa pode ser utilizado nas aulas práticas, após
exposição repetida. Pode
destilação em evaporador rotativo, o restante do material deve ser
provocar sonolência e
Acetona Solvente CH3COCH3 67 - 64 – 1 acondicionado em reservatórios adequados e encaminhados a
vertigens, por inalação dos
Orgânico empresas especializadas no descarte deste tipo de produto. O resíduo
vapores.
das aulas práticas deve receber o mesmo tratamento dos resíduos da
Inflamável. Nocivo por pesquisa.
Butanol CH3(CH2)3OH ingestão. Irritante para as vias 71-36-3
respiratórias e pele.

Continuação do Quadro 1. Principais resíduos gerados em um laboratório de ensino e pesquisa em Farmacognosia.


Nocivo por ingestão. Irritante
para a pele. Possibilidade de
efeitos cancerígenos. Nocivo:
Clorofórmio CHCl3 risco de efeitos graves para a 67 - 66 - 3
saúde em caso de exposição
prolongada por inalação e
ingestão

Possibilidade de efeitos
Diclorometano CH2Cl2 75 - 09 - 2
cancerígenos em animais
O resíduo da pesquisa pode ser utilizado nas aulas práticas, após
destilação em evaporador rotativo, o restante do material deve ser
Nocivo por ingestão. Irritante
Solvente acondicionado em reservatórios adequados e encaminhados a
para a pele. Risco de graves
Orgânico empresas especializadas no descarte deste tipo de produto. O resíduo
lesões oculares graves. Nocivo:
Dietanolamina NH(CH2CH2OH)2 111 - 42 - 2 das aulas práticas deve receber o mesmo tratamento dos resíduos da
risco de efeitos graves para a
pesquisa.
saúde em caso de exposição
prolongada por ingestão

Extremamente inflamável. Pode


formar peróxidos explosivos.
Nocivo por ingestão. Pode
provocar secura da pele ou
Éter Etílico (C2H5)2O 60 - 29 - 7
fissuras, por exposição
repetida. Pode provocar
sonolência e vertigens, por
inalação dos vapores

Continuação do Quadro 1. Principais resíduos gerados em um laboratório de ensino e pesquisa em Farmacognosia.


Extremamente inflamável.
Tóxico para os organismos
aquáticos, podendo causar
efeitos nefastos a longo prazo
no ambiente aquático. Nocivo
pode causar danos nos
Éter Petróleo --- 8032 - 32 - 4
pulmões se ingerido. Pode
provocar secura da pele ou
fissuras, por exposição
repetida. Pode provocar O resíduo da pesquisa pode ser utilizado nas aulas práticas, após
Solvente
sonolência e vertigens, por destilação em evaporador rotativo, o restante do material deve ser
Orgânico
inalação dos vapores. acondicionado em reservatórios adequados e encaminhados a
empresas especializadas no descarte deste tipo de produto. O resíduo
Idem aos perigos do éter de das aulas práticas deve receber o mesmo tratamento dos resíduos da
Hexano CH3(CH2)4CH3 petróleo, além de comprometer 110 - 54 – 3 pesquisa.
a fertilidade.
Facilmente inflamável. Tóxico
Metanol CH3OH por inalação, em contato com a 67 - 56 - 1
pele e por ingestão.
Facilmente inflamável. Irritante
para a pele. Nocivo para a
Tolueno C6H5CH3 108 - 88 - 3
saúde em caso de exposição
prolongada por inalação.
Inflamável. Nocivo por inalação
Xilol C6H4(CH3)2 e em contato com a pele. 1330 - 20 - 7
Irritante para a pele.
Considerações Finais

Tendo em vista o exposto acredita-se que a questão chave para um


gerenciamento eficiente de resíduos gerados em laboratórios de Farmacognosia onde
são desenvolvidas atividades relacionadas à pesquisa e aulas práticas é o bom senso.
Agredindo o meio ambiente estamos ferindo nosso sustento e permanência harmônica
neste planeta.

Referências Bibliográficas

SBFgnosia – Sociedade Brasileira de Farmacognosia. Disponível em:


http://www.sbfgnosia.org.br/farmacognosia.html. Acesso em 13 de dezembro de 2010.

MAIA, G.A.S. Gerenciamento de resíduos de laboratório de química de instituições


de ensino e pesquisa. Monografia de Especialização. Faculdades Integradas de
Jacarepaguá. 2009. 48p.

FERRAZ, F.C.; FEITOZA, A.C. Técnicas de segurança em laboratórios: regras e


práticas. Hemus S/A: Curitiba. 2004. 112p.

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