Professional Documents
Culture Documents
Resumo: O positivismo é uma corrente de idéias do século XIX que muito influenciou, e
ainda influencia, pesquisas no campo educacional. Juntamente com o marxismo, esta
corrente de pensamento fundamenta epistemologicamente todas as outras correntes de
pensamento do século XIX. O positivismo foi também muito utilizado no momento de
formação de uma identidade nacional brasileira, tendo por principais representantes os
militares. Interessante é observar que nos últimos anos há uma retomada das questões
acerca da identidade nacional, ainda fortemente influenciada por esta corrente, apesar da
repulsa da academia em relação à mesma. O positivismo está presente também no
discurso das políticas públicas para a educação, quando afirmamos, por exemplo, que a
educação é a solução para os problemas nacionais, bem como quando se propõe
reformas, tanto na sociedade quanto na educação. O conceito de reforma tem ligação
com o pensamento comtiano, uma vez que reformar significa a manutenção da
sociedade. Este texto tem por finalidade analisar brevemente os principais conceitos
contidos no positivismo, além de trazer uma breve biografia de Augusto Comte, para
entender quanto o mesmo influenciou o pensamento educacional brasileiro. Pretendemos
ainda analisar brevemente o quanto do pensamento de Augusto Comte ainda há
atualmente, sobretudo, sua influência na educação brasileira.
INTRODUÇÃO
A mulher aparece aqui como a primeira educadora, responsável pela formação dos
cidadãos, que aqui coincide com a noção de obediência às regras impostas pela
sociedade.
Mas como e por que o positivismo exerceu sua influência no Brasil? Segundo
Bergo, tal influência é decorrente dos anseios da América Latina no final do século XIX
por organização. A expansão do positivismo se deu em vários setores da sociedade
brasileira, como imprensa, parlamento, escolas, literatura e vida científica. Foi a partir da
Primeira República que o pensamento positivista tomou corpo na educação brasileira.
“No Brasil a introdução do positivismo deu-se em fins do século XIX e esteve presente na
Primeira República, justificando a ânsia das elites nacionais pelo progresso do país”
(BERGO, 1983, p.80).
Conforme vimos, os militares foram representantes do positivismo no Brasil. Uma
vez que os mesmos assumiram o poder por meio de um golpe no ano de 1964, e
instalaram uma ditadura militar, podemos perceber claramente a influência do positivismo
na educação. Nesse período percebemos os esforços em construir uma memória, uma
identidade nacional. Seu reflexo na educação pode ser entendido se nos voltarmos ao
ensino de História. Os grandes heróis da história e seus feitos são aclamados, e o Brasil
teve seus heróis inventados. O mártir da independência, o grande general que combateu
na guerra do Paraguai, esses são o foco central do ensino de História do Brasil. Além do
ensino da história dos grandes homens, foram introduzidas duas novas disciplinas:
Educação Moral e Cívica e OSPB. A intenção era a de consolidar a submissão dos
indivíduos desde a infância e adolescência, para que o Estado não precisasse submetê-
los pela força. Bergo conclui que a educação era vista como necessária à manutenção
das desigualdades de classe, e, conseqüentemente, da manutenção da ordem para o
bom funcionamento da sociedade.
Ainda hoje está presente no discurso dos educadores a necessidade de inovar, de
utilizar novos métodos e de reformar a educação. O conceito de reforma pressupõe
manutenção da ordem vigente, conforme vimos, discurso este permeado pelo
pensamento positivista. O mesmo ocorre quando vemos forte propaganda do atual
governo brasileiro, dito de esquerda, em reafirmar a noção de povo brasileiro. Essa
mesma noção de povo apareceu no Manifesto dos Pioneiros da Escola Nova, de 1932,
manifesto este que defendia os princípios positivistas de educação.
Bergo traz uma interessante constatação de que, após ter desaparecido
oficialmente, o positivismo permanece e fundamenta práticas do presente, nesse caso, o
presente é o final da ditadura militar, contexto no qual o autor estava escrevendo. A
ênfase antes dada no binômio ordem e progresso, transformou-se em Segurança e
desenvolvimento. A educação, enquanto apêndice da sociedade, passou a representar
dentro dessa influência positivista a defesa da sociedade de classes.
Nesse mesmo contexto, Saviani escreveu Escola e Democracia. O autor se intitula
marxista, e lançou o livro no ano de 1983, também durante o final da ditadura militar. O
próprio Saviani argumenta no prefácio à 35a edição, que o livro não é contra o movimento
da escola nova. Pode-se, no entanto, dizer que seu trabalho critica o Manifesto dos
Pioneiros da Escola Nova, de 1932 e também a literatura francesa que via a escola como
um aparelho ideológico do Estado e, que, durante a segunda metade do século XX
chegava ao Brasil. Foi Saviani, inclusive, um dos críticos que impediram, através de seu
discurso, que obteve grande êxito, a propagação dessas idéias no seio da sociedade
brasileira. Vejamos suas palavras:
REFERÊNCIAS
BERGO, Antonio Carlos. O positivismo: caracteres e influência no Brasil. Reflexão,
Campinas, ano VIII, n. 25, p. 47-97, jan./abr. 1983.