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ENSINO A CÊNTIMO

1.º SUBSCRITOR: SIMÃO MENDES DE SOUSA (ALMADA)

OUTROS SUBSCRITORES: JOSÉ PEDRO BARROS (ALMADA), JOÃO SILVA ANTUNES (ALMADA),
PEDRO CORREIA AZEVEDO (ALMADA), NUNO GONÇALO POÇAS (SEIXAL), TIAGO MIGUEL ALVES
(BARREIRO)

O distrito de Setúbal reveste-se de um tecido educativo básico e secundário integrado,


complexo e dinâmico. Muitos são os jovens que iniciam a sua vida académica nesta região,
sendo potenciais estudantes do Ensino Superior. Em acréscimo, no nosso distrito, temos um
conjunto de instituições de Ensino Superior Público, a saber, a Faculdade de Ciências e
Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa e vários polos do Instituto Politécnico de Setúbal.
Para além disso, o distrito de Setúbal, em particular nos concelhos de Almada e Seixal, é local
de residência para muitos estudantes de instituições de Ensino Superior a norte do rio Tejo.

Neste momento, é sabido o contexto de crise económico-financeira ainda em curso no nosso


país, acrescido de uma crise política que nos levará a eleições legislativas no próximo dia 5 de
Junho. O distrito de Setúbal, pelas suas características populacionais, situacionais e
económicas é uma região problemática, onde muitos jovens, fruto de carências económicas,
têm dificuldade em completar, ou mesmo ingressar, no Ensino Superior. A desqualificação
académica dos jovens é um factor de chaga social, que promove a desigualdade e o aumento
das assimetrias sociais. O fórum desta temática centra-se não apenas na atribuição de graus
académicos de licenciatura, mestrado, doutoramento ou pós-doutoramento, mas também na
atribuição de cursos técnicos e profissionais. Esta é já uma preocupação da nossa estrutura
nacional com o lançamento de uma campanha intitulada “Fiquei Sem Bolsa”.

Os custos crescentes associados ao Ensino Superior implicam um modelo de financiamento


que passa pelo pagamento de propinas, para grande parte das famílias, avultadas. Para além
disso, muitos são os alunos deslocados, implicando a necessidade de pagamento de
alojamento, transporte e alimentação.

Entendemos, porquanto, que a necessidade de estabilização das contas públicas não pode
ser realizada hipotecando sucessivas gerações que pretendem uma maior qualificação, com
vista ao desenvolvimento como quadros técnicos do futuro.

A política educativa, à semelhança de todas as outras temáticas políticas, deve ser pautada
por exigência, rigor e transparência. Existe a urgente necessidade de atacar a despesa do
Estado mas não de uma forma arbitrária; é preciso fazê-lo resolvendo as questões de fundo,
sem atacar ferozmente os que mais precisam e menos têm, sendo o apoio social escolar o
balão de oxigénio para alcançar os seus objectivos.

A introdução de um novo regime de atribuição de apoios sociais com um objectivo implícito


de cortar cegamente esses apoios não se coaduna com a seriedade da matéria em causa. Este
regime foi introduzido pelo Decreto-lei n.º 70/2010, de 16 de Junho. Contudo, o âmbito
alargado do diploma uniformizador dos regimes de atribuição de apoios sociais do Estado trata
de igual forma questões que são materialmente diferentes (art. 1º).

Ademais introduz normas que agravam seriamente o regime de atribuição desses apoios,
nomeadamente:

- modificação do valor de referência do Salário Mínimo Nacional para o Indexante de Apoios


Sociais (art. 2º);

- alargamento dos rendimentos a considerar (art. 2º), por exemplo, com uma ficção de
rendimentos prediais na habitação própria;

- alargamento do conceito de agregado familiar (art. 4º);

- capitação do agregado familiar, considerando que existem pessoas que valem somente por
meia, caso dos menores, e pessoas que valem 0.7 de pessoa, caso dos maiores de idade, sendo
que somente o requerente é considerado como uma pessoa (art. 5º).

Este documento teve como resultado objectivo o ataque aos bolsos das famílias, com claro
agravamento para famílias mais numerosas, reduzindo consideravelmente o valor final
atribuído. Houve também várias famílias que acabaram por ser excluídas de uma série de
apoios.

Assim, as bolsas de estudo do Ensino Superior Público são também alvo objectivo desta lei,
não favorecendo e dificultando o financiamento dos jovens neste contexto. As várias forças
partidárias foram unânimes nas críticas efectuadas à lei, à excepção do Partido Socialista; o
próprio Secretário de Estado do Ensino Superior considerou que a lei tinha que ser revista.

Na Assembleia da República, por proposta do Centro Democrático Social / Partido Popular


(CDS/PP), aprovou-se um Projecto-lei que revoga a regulamentação das bolsas de estudo do
Ensino Superior Público através do Decreto-lei n.º 70/2010 (aprovado a 4 de Março),
aguardando neste momento promulgação pelo Presidente da República.

Ora, aquando da entrada em vigor da lei revogatória, expressa e parcial do Decreto-lei


referido, vai dar-se o fenómeno de caducidade dos regulamentos e despachos de densificação
do regime de atribuição de bolsas. Em suma, dá-se uma revogação global do regime integral
de atribuição de bolsas de estudo em prol do princípio da não repristinação, se tal não for
expresso na lei revogatória. Temos, deste modo, que a partir da sua entrada em vigor, não
mais existirá qualquer regime de atribuição de bolsas de estudo do Ensino Superior Público
para o ano lectivo 2011/2012 – aquilo que juridicamente é interpretado como sendo um
verdadeiro hiato legal.

O processo eleitoral legislativo que se avizinha será mais um impasse nesta matéria, com
todo o manancial de processos associados, por exemplo, a tomada de posse, imediatamente
seguido das férias legislativas. Existe um sério risco de, no próximo ano lectivo, não serem
atribuídas bolsas de estudo!
Entendemos que é nosso dever e direito, pugnar para que os responsáveis políticos tenham
uma especial atenção a esta matéria e atendam o mais atempadamente possível à resolução
desta situação.

É obrigatório que o façam, caso contrário, poderemos ter para o próximo ano lectivo uma
ruptura total do sistema de acção social escolar do Ensino Superior Público, com grave dano
para os estudantes mais carenciados.

A 17 de Abril de 2011, o Congresso Regional de Setúbal da Juventude Social Democrata


aprova que a Comissão Política Regional (CPR/JSD Setúbal) eleita deverá exercer todos os
esforços junto das instâncias competentes para a resolução premente desta situação,
nomeadamente com a criação de uma iniciativa legislativa no início da próxima legislatura, que
acautele esta situação antes do início do ano lectivo 2011/2012, contemplando um regime
transitório de forma a mitigar os efeitos perversos deste hiato legal.

Este documento deverá ser enviado para a Comissão Política Regional do Partido Social
Democrata, Comissões Políticas Nacionais do Partido Social Democrata e Juventude Social
Democrata, Ministério da Ciência, Tecnologia e do Ensino Superior, Presidência do Conselho de
Ministros e Presidência da República.

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