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Comentadores de Platão:
o documentário ―A Vida na TV‖, as fichas que resultaram do trabalho Sobre DESCARTES. Cf. LEOPOLDO E SILVA, Franklin. Descartes: a
nos servem de orientação para o trabalho que aqui sugerimos a partir metafísica da Modernidade. São Paulo: Moderna, 1993. (Coleção
da leitura da história em quadrinhos de Maurício de Souza, em especial Logos) [Há uma ótima antologia de textos de Descartes, dos
a ficha desenvolvida pelo professor Eduardo Brandão, de Filosofia, argumentos a que nos referimos]
disponível neste link.
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História: Tempo para perguntar Se nos imaginarmos sem relógios, nenhum relógio, seja
da igreja, das ruas ou dos pulsos, não tomaríamos uma
A História se dá no tempo. Esse é um pressuposto outra percepção do tempo? Outra fruição do tempo? Ou,
fundamental do estudo histórico, pelo qual supomos ser não nos perderíamos no tempo sem os relógios?
o tempo algo em que ocorrem os fatos em uma Imaginemos então que advento foi este, a invenção do
sequencia, isto é, cronologicamente. Há uma ideia de relógio! Não o relógio de sol, que expressa o ciclo do sol
continuidade – o tempo seria então contínuo, que segue ao longo do dia, mas este instrumento que marca
invariavelmente seu curso, de ontem para hoje e de hoje matematicamente o tempo, em horas, minutos,
para amanhã. segundos, sempre iguais, contínuos… Imaginem mais, a
invenção do relógio de pulso o quanto significou para os
Silenciosamente, assumimos essa ideia sobre o tempo
homens na relação vivida com o tempo… este
como verdadeira, ―natural‖. Todavia, se atentarmos um
relogiozinho, grilhão das horas, das nossas horas, presos
tanto mais, poderemos começar a nos perguntar se o
que somos a elas, hora para ir trabalhar, hora para
tempo é isso mesmo. Afinal de contas: o que é o tempo?
almoçar, hora para voltar ao trabalho, trabalho, e depois,
O tempo caminha sempre para frente? Não volta para que hora que passa mais rápida a que chegamos em
trás? Mas — quando nos lembramos de algo, o primeiro casa, jantamos, dormimos e voltamos a acordar!
beijo, por exemplo, não voltamos àquele tempo? E uma
O tempo é também dinheiro e há outros exemplos a
palavra puxa outra e já estamos às voltas com um
explicar. Mas, sempre dá um tempinho de lembrar que,
conceito muito caro aos historiadores: a memória.
na sociedade industrial, tempo virou dinheiro, pois, ao
E falando de voltas que o mundo dá e o tempo também, controlar o tempo passou-se a se remunerar a quem só
podemos falar de tempo cíclico. Na natureza, de um tinha a própria força de trabalho para vender, isto é,
modo geral, reparem que as coisas ocorrem em ciclos. As estes que vendem o seu tempo-livre em troca de um
estações do ano, que ano-a-ano se repetem, salário, remunerando o tempo de uso da força de
ciclicamente. A semente, que gera uma árvore, que gera trabalho.
frutos, que geram novas sementes, que geram novas
Eis então mais de uma ideia sobre o que o tempo é. Qual
árvores… E, se o tempo é cíclico, serve para medir o quê?
delas adotamos para contar a história? Qual delas
E se tempo vai e volta, o tempo é então uma repetição?
poderemos adotar? Imaginem as diferentes abordagens
Mas o tempo, já não havíamos dito, ele não ia sempre
para aquilo que chamamos de ―fatos‖ quando mudamos
para frente?
a noção de tempo. Perguntar-se assim é colocar em
O tempo também dura, ou melhor, o tempo passa de questão o sentido da historiografia – disto que se estuda
maneira diferente. Responda, então, o que demora mais em História.
para passar: uma hora namorando na praça ou quinze
Outra pergunta que nos encaminha para as mesmas
minutos decorando texto para a prova de História? O
questões fundamentais do estudo de História é pensar
tempo não dura sempre a mesma coisa? Então, ele tem
em quem são os seus ―protagonistas‖, por assim dizer.
descontinuidade? Ele varia em seu curso?
Ou, antes, quem é o sujeito da História? São os grandes
Tais perguntas querem fazer com que não tomemos o personagens ou é cada um de nós? É a sociedade ou são
tempo como coisa tão natural – algo que de tão os grupos sociais? É o presidente da República ou são os
―natural‖, não chegamos a pensar nele. Com efeito, eleitores que votaram nele? É a Gisele Bündchen ou são
temos uma apreensão do tempo que foi construída ao as pessoas que compram o que ela anuncia? É o Bush
longo do tempo… do tempo histórico, do tempo que os ou são seguidores da Al Qaeda que querem matá-lo? São
homens criam para si mesmos. O tempo é então uma todos esses que foram citados ou a História já está
criação. — Dito assim, os alunos tomarão um susto, escrita e, simplesmente, nós seguimos o nosso destino?
ficarão espantados, admirados. O que é o tempo, afinal, Perceber que a História – ou mais precisamente, os
isto do qual dizemos que nele ocorrem fatos – a História? ―fatos‖ que são narrados e analisados no seu estudo –
mudam conforme a resposta que se dê a essa pergunta.
A História é contada a partir de um ponto de vista que é
bem determinado, embora nem sempre isso fique muito
claro. Os alunos tendem a pensar em uma certa
―objetividade‖ – que as coisas aconteceram tal e qual
está sendo narrada – o que, na narrativa, há muito de
―subjetivo‖, isto é, das ―escolhas‖ que o historiador faz,
das respostas que dá, ainda que provisoriamente, a
perguntas como as que formulamos há pouco.
Sobre o Filme The Matrix. Cf. IRWIN, William et al. Matrix: Bem-Vindo
ao Deserto do Real. São Paulo: Madras, 2003; e também CHAUI,
Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 13ªed., 2003. [Em
especial no capítulo introdutório, quando a autora se refere diretamente
ao filme The Matrix.]
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Ainda neste mesmo caminho, poderiam contestar tal
subjetividade, afirmando que a história é objetiva, pois é
Matemática: Pergunta infinita
comprovada a partir de documentos. Mas, como
Na matemática não faltam exemplos de situações que
podemos confiar nos documentos?
trabalham com conceitos abstratos tais como o infinito
É por meio deles que conseguimos acessar o passado, ou o zero, e que muitas vezes são explorados de forma
reconstruí-lo; são os elementos que nos permitem entrar superficial. Vejamos algumas situações em que a ideia
em contato com o que já aconteceu, são como lentes. E, do infinito está presente na matemática, bem como os
como tais, são os instrumentos que nos fazem olhar para problemas suscitados por uma análise superficial sobre a
o passado. Partindo dessa comparação com o olhar e, natureza do infinito6.
por extensão, com todos os nossos sentidos, são eles
Situação 1
que nos conectam com aquilo que se passa fora de nós –
o mundo, a realidade. Mas tais lentes podem tanto deixar Seja na sétima série ou no primeiro ano do ensino médio,
mais nítidos quanto podem distorcer o que percebemos em algum momento o aluno aprenderá a determinar
por meio deles, como também nossos sentidos podem frações geratrizes a partir da representação decimal dos
nos enganar. números. A passagem de ―decimais finitos‖ para a fração
não trás maiores desafios porque fundamentalmente
E aí uma nova pergunta: os instrumentos que usamos
apóia-se na transposição quase que automática da
para conhecer são confiáveis? Como será que funcionam
―língua materna‖ para a linguagem das frações, como por
esses instrumentos? Aqueles que sabem disso, podem
exemplo:
manipular estes instrumentos e com isso podem também
nos enganar? Pode-se fazer ver o que não está? E calar o Cinco décimos:
que foi dito? E fazer falar algo que tampouco foi ouvido?
Duzentos e setenta e quatro centésimos:
E aqui a brincadeira, muito séria, deste perguntar pode
se abrir para a Biologia e o estudo dos sentidos, que,
aliás, dizem agora que são sete; para a Física e suas
geometrias óticas, tempos relativísticos e espaços No caso das dízimas periódicas, o procedimento que
curvos; para a Química e os sabores artificiais e a normalmente se adota é o de utilizar recursos algébricos
incerteza quântica; para as Artes e os desvios do olhar5. para eliminar o período (parte que se repete do número).
Vejamos como isso se dá através da dízima 0,333...
I.
Multiplicamos ambos os lados da igualdade por 10:
II.
Subtraímos (I) de (II) membro a membro:
III.
IV.
Situação 2
Na figura ao lado, ABC é um triângulo retângulo em A, e A’ e C’ são pontos médios, respectivamente, dos
segmentos e .
Sabemos que ambos segmentos têm infinitos pontos, contudo, um desafio interessante é o de propor uma estratégia para
verificar a possibilidade de se fazer uma correspondência ―um a um‖ entre os elementos de ambos os conjuntos (usando o
vocabulário da matemática: correspondência bijetiva, que significa dizer que a cada ponto P de faz-se corresponder
um único ponto M de , e isso ocorre para todos os pontos de ).
Observemos a figura abaixo e vejamos como isso é possível.
Os dois conjuntos são, portanto, equivalentes, apesar de Note que esse exemplo aponta com clareza para o fato
que , de onde podemos concluir que o todo de que o conceito de infinito exige o abandono de certas
pode ser equivalente à parte. verdades fundamentais cuja evidência a vida cotidiana
dos conjuntos finitos nos impõe.
Situação 3
Número primo é aquele que é divisível apenas por 1 e Para aqueles que acreditam na intuição como um
por ele mesmo, excetuando-se o número 1 que não é método para se chegar a verdades matemáticas, é
definido como primo. Portanto, o conjunto dos números provável que a resposta seja ―SIM, existem infinitos
primos é . Uma pergunta que números primos‖ já que existem infinitos números
naturalmente nos ocorre é: Será que existem infinitos naturais, e o conjunto dos números primos é um
números primos? subconjunto dos naturais.
Se sua resposta foi essa, o que você teria a dizer sobre o
seguinte fato ilustrado na tabela que se segue?
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Entre os números 1 e 1000 Existem 168 números primos Depois disto, Euclides imaginou um número composto
Entre os números 1000 e 2000 Existem 135 números primos muito grande formado pelo produto de todos os números
primos, do primeiro ao último, ou seja, um ―numerão‖ N,
Entre os números 2000 e 3000 Existem 127 números primos
assim:
Entre os números 3000 e 4000 Existem 120 números primos
Situação 4
No estudo das progressões geométricas, sabemos que as
série de infinitos elementos e razão entre –1 e 1 são
convergentes, o que quer dizer que é possível calcular a
soma dos seus infinitos elementos. O exemplo clássico
disso é a soma