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Teoria da acção
Mas, por outro lado, o conceito de acção terá que permitir abranger os
actos de inimputáveis (por exemplo, actos de doentes mentais) que
podem perfeitamente ser típicos e ilícitos - dando lugar a medidas de
segurança - embora não sejam culposos e, portanto, não passíveis de
punição.
II
III
Estas críticas têm sido, ao longo dos tempos, muito contestadas pelos
finalistas, mas, ao fim e ao cabo, revelam-se exactas. Vejamos porquê.
6. Outra crítica que tem sido feita ao conceito final da acção é que ele
claudica como elemento delimitador, porque existem determinadas
formas de comportamento que são relevantes jurídico-penalmente e
que não se integram na categoria da finalidade entendida como
Welzel a definia, ou seja, como supra-determinação do processo
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IV
4. Outra crítica que se tem feito ao conceito social de acção é que ele
claudica como elemento de ligação das diversas categorias do sistema
do crime, na medida em que antecipa, em boa parte, o juízo sobre a
existência de tipicidade, isto porque não é sempre e só a relevância
social que determina a relevância jurídica, mas também pode
verificar-se o contrário. Por vezes, é por o legislador atribuir
relevância jurídica a determinados acontecimentos que eles passam a
ter relevância social. Pense-se, por exemplo, no caso de alguém que,
por esquecimento não apresenta dentro do prazo, estabelecido por lei,
uma declaração de impostos que estava obrigado a apresentar,
omissão essa que é punida com pena de multa. Este comportamento
só tem relevância social porque o legislador incrimina a conduta.
Quer dizer: é a própria regulamentação jurídica que determina, neste
caso e noutros idênticos, a relevância social dos acontecimentos.
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5. A Dra. Tereza Beleza no seu livro de Direito Penal (II vol., 1983, p.
18) define a acção como um "comportamento humano dominado ou
dominável pela vontade com reflexos no mundo exterior".
Tal como acontece com o conceito sustentado por Von Liszt e Beling,
este conceito de acção não preenche a função de elemento básico ou
fundamental do sistema da infracção, porque não consegue abranger
os
casos de omissão, sobretudo os de omissão inconsciente. Poderia
pretender-se o contrário argumentando que a expressão
"comportamento humano" é suficientemente ampla para abarcar a
acção e a omissão, quer nos casos de dolo, quer nos casos de
negligência, e que, de qualquer modo, a omissão inconsciente, para
ter relevância em Direito Penal, terá que ser dominável pela vontade
e, por isso, ainda estará abrangida pela definição de acção em apreço.
Mas não é assim.
IV
Posição adoptada
A difinição da acção terá que ser feita em termos de onde decorra que
também há acções não típicas. Mas isto não significa que não existam
algumas acções que só merecem essa qualidade em resultado das
valorações jurídicas expressas no tipo e que, portanto, são
necessariamente acções típicas. É o que se passa, nomeadamente,
com as omissões, nos casos de negligência inconsciente, quando o
dever de agir tenha o seu exclusivo fundamento num determinado
preceito de Direito positivo. Recordemos o exemplo, acima referido
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