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Existe na crônica uma contaminação do texto pelo seu veículo (desejo mimético
Walter Benjamin tem a convicção de que o escritor é um intérprete privilegiado
de seu tempo
A crônica funciona como uma espécie de iceberg, onde um pequeno território
significa a existência de âmbito mais vasto.
Cronica seria “metafísica de quinquilharias”
Machado: “gosto de catar o mínimo e oescondido. Apertei meus olhos para ver
cousas miúdas, cousas que escapam a maior número, coisa de míopes”
Há uma relação específica entre normas e práticas que definem o gênero da
crônica: uma cultura das margens que se exprime com a lei dos letrados, contra a
lei dos letrados.
Machado: “Folhetinista é a fusão admirável do útil e do fútil, o parto curioso e
singular do sério, consorciado com o frívolo. Esses dois elementos, arredados
como polos, heterogêneos como água e fogo, casam-se perfeitamente na
organização do novo animal.” O folhetinista é um colibri, pela leveza, rapidez e
qualidade especial de dominar os assuntos sem esgotar sua seiva. Ou então, a
crônica é “confeito literário sem horizontes vastos”.
Cronicas como documentos, pois são imagens da transformação, são
‘monumentos’ desse tempo social, são narrativas cotidiano, e devem ser
consideradas como ‘construções’ e não como ‘dado’.
A decisão de lidar com um corpus documental tão abundante quanto polimorfo,
advém da riqueza do comentário imediato sobre a vida da cidade, aliada a
qualidade literária, o que dilui as fronteiras entre prazer e ofício.
Para Zumthor, o dêitico eu, no medievo, era móvel e vicário, encarnando não uma
intenção – o que o autor teria querido dizer – mas a presença de um atuante. O ator era o
autor.
Ginsburg a propósito do salto que separa as culturas oral e escrita, “uma é como um
prolongamento do corpo, a outra é ‘coisa da mente’. A vitória da cultura escrita sobre a
oral foi, acima de tudo, a vitória da abstração sobre o empirismo”.
Durval Muniz
Relação entre História e Literatura:
A questão da importância do estilo na própria construção do argumento;
Defesa do caráter artístico da história
Problematizar a distinção entre fato e ficcao, que durante quase dois séculos
assegurou a separacao entre o campo literário e o campo historiográfico
Deixar-se tocar pela força das palavras em sua dimensão poética em nosso
ofício.
Afirmar a metáfora como forma por excelência do trabalho historiográfico.
Como usar a literatura/ Não como fonte histórica no sentido de manancial de
informações. Pois como retirar de um texto de Lispector “informações” uteis se
não matando aquilo que o faz um texto de literatura?
Virada linguística: Anos 60, questiona-se a ideia de universalidade do homem e
da razão. A história passa a se questionar como discurso, sobre como se dá a
produção de sentido neste campo. As linguagens são alçadas ao centro das
reflexões. Objetos e sujeitos se desnaturalizam, deixam de ser metafísicos e
passam, pois, a ser pensados como fabricados, frutos de práticas discursivas.
As evidência, são fabricadas em seu próprio tempo. Nada do que ficou
arquivado do passado o foi inocentemente.
O fato, o evento, não pode ser reduzido nem somente à irrupção real de uma
ação, de um pratica sem sentido, nem somente à sua barroca e grandiloquente
narrativa.
A história nasce da relação. A ciência moderna enfatizou exageradamente o
resultado final do processo de produção do conhecimento, momento em que os
objetos e os sujeitos apareciam bem definidos e classificados; silenciando oou
escondendo etapas intermediarias, experiências falhadas, híbridos.
Quando ao final de nossa narrativa, se o evento aparece em seu corpo interiço e
bem amarrado, é porque escondemos as costuras, o nós. Narrar, como tecer, é
entrelaçar linhas de diferentes cores.
A história seri discurso que fala em nome da razão, da consciência, do poder, do
domínio. A literatura estaria mais identificada com as paixões, com a
sensibilidade, com a dimensão poética e subjetiva da existência, com a
prevalência do intuitivo.
Hoje temos que conviver não só com a relatividade dos discursos, como a
relatividade do saber histórico, mas com a relatividade da própria realidade.
O caráter relacional, contextual e plural de qualquer acontecimento histórico
elimina a possibilidade de uma argumentação que tome, como ponto de partida,
um ponto fixo, revelando a própria relatividade da realidade.
É uma nova cosmovisão, de Kant e Vico, nova teoria de conhecimentos, em que
este não é uma imagem do mundo, mas chave para possíveis mundos. Eles
enunciam o fim do realismo metafísico, que afirmou a capacidade do homem de
conhecer o mundo tal como ele é, que pensou a realidade como dado objetivo.
Os objetos e as experiências são produtos de nosso modo de experimentar,
determinado no tempo e no espaço. O ato de conhecer não é fruto de uma
recepção passiva de um mundo transparente, feita pelo sujeito do conhecimento,
mas conhecer é uma atividade.
A interpretação da história é a imaginação de uma intriga
Valorizar o acontecimento. É a emergência de uma acontecimento que instaura a
ruptura com a rotina. São processos que se abrem para o infinito.
As inovações no campo da historiografia devem nascer não apenas das novas
pergutnas, mas das novas conexões que consigamos estabelecer entre as series
de eventos e documentos que conhecemos.
Só através da diferença estabelecemos a semelhança. É o descontínuo que
ilumina a continuidade, é a desordem que nos remete a ordem,
A história não é motivada apenas por questões lógicas, racionais, materialista. A
história é feita de outras materialidades, como a do desejo e do poder.
Questões que nos interpelam ainda hoje: o caráter fragmentário de nossas
experiências, a multiplicidade de temporalidades que se articulam num instante,
o caráter de fabricação do que chamamos de objeto e de sujeito, a espessura
própria da linguagem, inventora de nossas coisas e de nossos mundos; a
necessidade de mudar a visada, de redirecionar o olhar do grandioso, do heroico,
para o ínfimo, o abandonado.
A poesia areja a linguagem, não deixa as palavras se petrificarem, evita que os
idiomas não morram por fórmulas, enverba as insânias., enfiando o idiomas nos
mosquitos.
A história deve tratar das descontinuidade que nos constituíram, da
multiplicidade de experiências disparatadas e sem roteiro prévio que tornou
possível ser como somos
A história precisa escapar deste discurso racional, deve reintroduzir a arte em
seu discurso, tornar a sensibilidade, a imaginação e a intuição partes de seus
instrumentos de trabalho, deve reinstalar o corpo na escrita, como diz Michel de
Certeau.
O saber se fará por misturas, por combinações, um saber que não será moral, que
não buscará julgar, mas jogar com os dados de que se dispõe.
Para fazer história não é necessário se afastar do mundo, das coisas, das pessoas,
mas estar tão próximo delas que já não saibamos quando começa o eu e o outro,
o eu e o eles. È preciso não estar alheio a nada, envolvido pela vida, misturado
com as coisas e as pessoas, existir nelas.
O caráter demiurgico da linguagem, de como esta possui uma espessura própria,
é uma coisa entre coisas, de como ela participa da construção de sujeitos e
objetos, do que chamamos coisa e do que chamamos Eu. Embora vejas o mundo
ao rés-do-chão, procurando dizer a realidade o mais próximo dela, descobres que
isto só é possível, criando uma linguagem própria, errando a língua, tornando-a
errante, fluxo e refluxo.
Tarefa do historiador é abrir as palavras que nos chegam do passado para novos
sentidos, para novas convivências com o presente, é se dedicar a achar novos
achadouros de outros possíveis passados,
O historiador, como o poeta, antes de ser um doutor, é um fraseador, homem que
brinca com as palavras, que não gosta de palavras engavetadas, de sentido único,
porque só é possível mudar o mundo mudando a forma de pensa-lo.
É preciso desformar o mundo, é preciso desnaturaliza-lo, isto é, perder a
inteligências das coisas para velas de outra forma.
Lembremos que as coisas e as pessoas nunca estão onde as palavras as acham,
do lugar onde estamos sempre já fomos embora, as palavras mais escondem que
desvelam.
Ao contrário da micro historia de Levi e Ginzburg, onde o micro mal esconde a
sombra da totalide, em Manuel de barros, a micro não promete reenconro com a
unidade. Teu micro é partícula extraviada, figura abandonada
Meu texto de historiador pode remoinhar, pode ser discurso-ventania, disposto a
levantar o pó depositado sobre as palavras, sobre os documentos, sobre os
monumentos, para fazer com que estes sejam vistos e ditos de novas maneiras.
A historia precisa de novas linguagens, de inventar novas palavras, de produzir
novos conceitos, que sejam capazes de conceder a glória á gosma da lesma, aos
que chafurdam nos lixos com porcos.