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Autonomia .

É consensual dizer-se que o ser humano é um ser (ou deveria ser) autónomo e livre .
Eu direi que é apenas autónomo, considerando, no entanto, este termo muito vago
com um significado muito pouco específico .
Autonomia significa a capacidade de um artefacto desempenhar determinadas tarefas num
determinado espaço/tempo, capacidade essa decorrente de uma programação prévia em que
são tomadas em conta as condições a que esse artefacto vai estar sujeito e dentro das quais as
ditas tarefas serão realizadas .
Este termo aplica-se portanto não só a qualquer máquina como a qualquer ser vivo .
Deste facto, podemos concluir que o conceito quando aplicado ao homem deve ter, ou é
utilizado com um significado diferente e muito mais específico e útil .
Pois bem, o que é suposto passar-se, no caso do homem, é a sua definição como um ser não
programado, pelo menos em relação a tarefas consideradas principais ou críticas, isto é, em
certas situações consideradas importantes ou decisivas (poderemos discutir estes termos),
o homem mover-se-ia de acordo com a sua vontade, suposto módulo mítico do seu ser
desencadeante da acção e não sujeito a qualquer programação prévia .
É este o significado de autonomia quando aparece frequentemente sugerido que o homem é
um ser autónomo e livre . Ele apresenta sempre uma resposta para cada situação, estando por
trás deste processo não uma programação prévia mas, supostamente, a tal vontade que se
liga ou associa automaticamente ao termo livre . Compreende-se pois, porque a esta suposta
nova e diferente concepção de autonomia aplicada ao homem se acrescenta, quase sempre e
como que um complemento obrigatório, o termo livre .
Trata-se de uma autonomia especial, trata-se de dar um nome ou melhor de estabelecer um
necessário programador por detrás de tarefas produzidas por este artefacto especial que é o
homem , a alegada vontade que por definição tem de ser livre, isto é, não ligada a qualquer
programa prévio .
Autonomia como conceito aplicado a qualquer máquina ou a qualquer outro ser vivo que não
o homem, torna-se facilmente perceptível e entendível pois todo o seu funcionamento
assenta em programações prévias que determinam a cada momento como se irá “mover” a
máquina ou o ser vivo .
São seres carregados de condições específicas para se moverem de forma específica de acordo
com situações específicas .
Digamos metaforicamente que são seres a quem foi dada corda e que a partir daí vão
funcionar ininterruptamente de acordo com os seus programas e as vicissitudes sempre
variáveis a que irão sendo sujeitos . Neste sentido ser autónomo será um ser preparado para
face a todos os inputs possíveis produzir os respectivos outputs para que foi desenhado sem
interferência do desenhador .
No caso do homem, ignoram-se todas as programações a que foi sujeito ao longo de toda a
sua existência e, a autonomia decorrente delas e a elas ligadas, e em seu lugar é construída
uma autonomia especial em que por artes mágicas o ser humano dá os seus passos por
intermédio daquilo que se convencionou chamar de vontade livre .
Dito isto, deixo uma pergunta .
Porque é quase consensual reconhecer vontade nos animais, (passando por cima do que
verdadeiramente se entende por isso) mas não é reconhecido universalmente(ou quase) uma
vontade livre ?

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