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A presença da mitologia pagã nos períodos: Árcade e Clássico.

O Arcadismo tem início no século XVIII, após a decadência do período


Barroco. Conhecido também como Neoclassicismo, este período tem como
característica o Iluminismo burguês que reforçou a importância das leis da
Natureza, passando a deixar em segundo plano a religiosidade do período
anterior. Como o nome identifica “Neoclassicismo”, este período resgata
algumas características do período Clássico, entre estas ocorre a retomada
das divindades da mitologia pagã como elemento estético, os modelos
seguidos eram os clássicos greco-latinos e os renascentistas, prevalecendo a
objetividade.

A principal característica do Arcadismo é a procura da pureza e da


simplicidade das formas clássicas, fazendo com que os poemas tenham tom
bucólico, com aversão à cidade e em busca de um ambiente idealizado, mas
estas características configuravam apenas um estado de espírito, uma posição
política e ideológica que era transcritos nos poemas. Este período tinha por
lema a frase latina Inutilia truncat (suprimir as inutilidades) que visava retirar os
exageros, o rebuscamento e a extravagância característica do Barroco.

Esse presente artigo tem por objetivo demonstrar a presença da


mitologia pagã no soneto “Sentindo-se tomada a bela esposa”, de Luis Vaz de
Camões, do período Clássico; e no texto “O Cauí – Metamorfose IV”, de
Antônio Dinis da Cruz e Silva, do período Árcade.

O soneto “Sentindo-se tomada a bela esposa” mostra a forte presença


da mitologia grega nos poemas do período Clássico, pois o sujeito lírico conta
uma história em forma de soneto, de um mortal chamado Céfalo que
pertenceu, na realidade, à mitologia grega. Ao longo deste soneto, o eu lírico
mostra que por engano Céfalo mata sua amada e arrependido ele pede
perdão. O eu lírico, também, refere-se à mulher como Ninfa, que na mitologia é
uma divindade da selva. Portanto, esta é uma história já contada, que o eu
lírico transforma em soneto, na intenção de aproximar-se dos clássicos greco-
latinos, característica deste período.

No entanto, no texto de Cruz e Silva, “O Cauí”, o eu lírico apresenta uma


narrativa, diferente do anterior que apresenta um soneto, porém a essência da
história é a mesma, sendo que a diferença é marcada justamente pela principal
característica do período Árcade, que é a divinização da natureza; pois a ninfa,
tal qual na mitologia e no soneto, morre, mas nesta narrativa ao morrer os
deuses a transformam em um “claro arroio” e o Cauí suplica aos deuses a
ausência da amada, estes o transformam em uma “árvore frondosa”, enquanto
na versão original ele sobrevive.

O sujeito lírico deste texto objetiva divinizar a natureza, por isso cria uma
explicação divina para a existência de um tipo de árvore que nasce somente à
beira de um rio, para isso ele, o eu lírico, utiliza um ambiente simples com
pessoas simples que invocam deuses da mitologia pagã para atender suas
súplicas. E ao final é deixada clara a intenção de sua imitação da clássica
história de origem grega, tendo um objetivo moral para tal escolha.

Embora os dois literários: o Clássico e o Árcade apresentem a mitologia


pagã e até a mimese como característica comum, o primeiro período tinha a
arte de escrever como imitação dos clássicos greco-latinos, sem moral,
somente a arte pela arte. Enquanto o período Árcade utiliza a imitação do
clássico para, muitas vezes, justificar a existência da natureza, como é o caso
do texto apresentado neste artigo, para isso utiliza os deuses mitológicos, suas
histórias e lendas para explicar a beleza da natureza e divinizá-la.
REFERÊNCIAS

BRASIL ESCOLA. Disponível em: http://www.brasilescola.com/mitologia/cefalo-


procris.htm. Acesso em: 20 nov. 2010.

Mathesis, Viseu, n. 13, p. 125-145, 2004. Disponível em


www4.crb.ucp.pt/biblioteca/Mathesis/Mat13/Mathesis13_125.pdf. Acesso em 20
nov. 2010.

PORTAL SÃO FRANCISCO. Disponível em:


http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/luis-de-camoes/sentindo-se-tomada-
a-bela-esposa-1616.php. Acesso em: 20 nov. 2010.

SILVA, Antonio Diniz da Cruz e. Poesias de Antonio Diniz da Cruz e Silva.


Lisboa: Typ. Lacerdina, Imp. Regia, 1807-1817. 6 v. p. 105-111. Disponível em:
http://purl.pt/12111/4/l-3318-p/l-3318-p_item2/P111.html. Acesso em 20 jun.
2009.

TOIPA, Helena Costa. A presença de Metamorfoses de Ovídio nas


Metamorfoses de Cruz e Silva. In Mathesis, Viseu, n. 13, p. 125-145, 2004.
Disponível em www4.crb.ucp.pt/biblioteca/Mathesis/Mat13/Mathesis13_125.pdf.
Acesso em 20 nov. 2010.

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