Professional Documents
Culture Documents
RESENHAS
outras ciências como a Psicologia, a Sociologia ticas educativas, antes, convivem com elas em
têm galgado espaços educacionais amplos que múltiplas articulações.
deveriam estar ocupados pela Pedagogia. Con- O livro apresenta-se, assim, como valio-
tudo, nenhuma delas alcançou o posto de ciên- so instrumento de compreensão da Pedagogia
cia da educação que define a especificidade do como ciência da educação e também como
estudo do fenômeno educativo, sem relegar a orientação para a formulação do currículo de
importância das ciências auxiliares na educação, formação de pedagogos especialistas e professo-
entre outras, a Psicologia e a Sociologia. Neste res e para os fundamentos teóricos da pesquisa
capítulo nuclear de seu livro, Franco afirma que pedagógica. São contribuições oportunas, signi-
a Pedagogia como ciência deve ter por finalida- ficativas e legítimas; nenhuma delas oportunista,
de “o esclarecimento reflexivo e transformador mesquinha ou corporativista, como mostram as
da práxis educativa, discutindo as mediações perguntas da autora: “Se não é a Pedagogia como
possíveis entre teoria e práxis”. Cabe-lhe o pa- ciência da educação a condutora e operaciona-
pel de ser uma “explícita mediadora da práxis dora desse movimento de formação de profes-
educacional”, que conduz o sujeito à humaniza- sores reflexivos, qual outra ciência pode assumir
ção, à emancipação, a apreender e reconstruir esse papel? Qual outra alternativa, em relação à
a cultura, conditio sine qua non da cidadania. formação de professores se não a racionalidade
Como ciência da educação a Pedagogia crítico-reflexiva? É possível transformar essas
precisa passar da racionalidade técnica à racio- propostas em projeto educacional? Se não os
nalidade prática, reflexiva, formativa e emanci- pedagogos, quem deve assumir a condução des-
patória. A formação de pedagogo deve enfati- te projeto?” (p.124).
zar o aspecto crítico-reflexivo, que compreen- Para além do interesse teórico e investi-
da a complexa pluralidade do âmbito educacio- gativo, o livro de Maria Amélia Santoro Franco
nal, a necessidade de mediar um processo de contribui para esclarecer aspectos do debate que
aprendizagem voltado para a formação integral se tem travado na área educacional a respeito da
de um sujeito de pensamento fragmentado, formação de educadores, reafirmando a tradição
acrítico, alienado das questões políticas e so- teórica em que a Pedagogia, como ciência da
cioculturais. Está claro que essa tarefa extrapola educação, formula a partir da práxis educativa os
os muros escolares. elementos científicos e técnicos da formação
Finalmente, no capítulo 3, a autora formula humana, constituindo referência para todas as
sua proposta de formação de um pedagogo cien- práticas educativas, entre elas o trabalho docen-
tista educacional, e argumenta que, para possibi- te. Ou seja, a docência fundamenta-se na Peda-
litar a sobrevivência profissional e valorização da gogia e não o inverso.
prática do magistério, urgem “re-interpretações
de conceitos basilares, ampliando o espaço cien- José Carlos Libâneo
tífico da Pedagogia”. Conclui, definindo o peda- Programa de Pós-Graduação em Educação
gogo como o investigador educacional por exce- da Universidade Católica de Goiás
lência, com características de profissional crítico libaneojc@uol.com.br
e reflexivo, uma vez que a Pedagogia é uma ciên-
cia que visa o estudo e a compreensão da práxis Lelis Dias Parreira
educativa em suas intencionalidades. Para isso, a Mestrando do Programa de Pós-Graduação
investigação parte da práxis, como ação coletiva, em Educação da Universidade Católica de Goiás
pois as teorias educacionais não determinam prá- lelisdp@universiabrasil.net