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“Com base na doutrina de Orlando Gomes, bem jurídico é toda utilidade física ou ideal,
objeto de um direito subjetivo.”
A grande discussão começa não tanto no conceito, mas na diferença entre bem e coisa.
o Segundo Maria Helena Diniz, acompanhada por Silvio Venosa, a noção de coisa é
mais abrangente do que a de bem.
o Orlando Gomes afirma o contrário: bem é gênero e coisa é espécie.
o Washington de Barros Monteiro, por sua vez, refere que pode haver sinonímia.
Em prova, dizer que não há consenso na doutrina, mas é preciso se posicionar. A linha
que o professor segue e que reputa a mais lógica, é a de Orlando Gomes, que segue o direito
alemão.
“Na linha do direito alemão, conforme parágrafo 90, do Código Alemão, a noção de
coisa restringe-se a objetos corpóreos.”
Ou seja, na linha do direito alemão, a coisa é o objeto corpóreo. De forma que bem
jurídico é mais abrangente do que coisa. Isso porque o bem jurídico englobaria as utilidades
corpóreas (coisas) e também as ideais, imateriais. Por isso Orlando Gomes diz que bem é gênero,
já que se refere a utilidades físicas (coisas) e a utilidades ideais (imateriais). O professor
considera esse entendimento mais adequado, até para haver mais estímulo na resposta. Isso
porque no momento que vc afirma que coisa tem sentido mais estrito, referindo-se a objetos
corpóreos fica mais precisa a resposta. Imagine o seguinte: essa caneta é objeto do meu direito
subjetivo de propriedade, porque é objeto corpóreo. Mas fica estranho dizer que minha honra,
minha privacidade são coisas. Isso não casa bem. A coisa, daí Orlando Gomes dizer, é no sentido
corpóreo.
O próprio Código Civil quando disciplina o tema da aula de hoje fala em “bens
jurídicos”. Não fala em “coisas”. Exatamente porque a noção de bem é mais ampla do que de
coisa.
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Essa é a resposta que o professor daria. Só para ilustrar: Como se chama o patrimônio
depois que a pessoa morre? Herança. Tecnicamente falando, o patrimônio, quanto à sua natureza
jurídica, é uma universalidade de direitos e obrigações. Mas o professor faz um reparo na
doutrina clássica porque existem autores modernos que afirmam o seguinte: os clássicos não
estão errados em dizer que o patrimônio é representação econômica da pessoa. Mas está
incompleta. Alguém não tem apenas um patrimônio que se traduz economicamente, mas tem
também um patrimônio moral, que é o conjunto de direitos da personalidade (honra, vida,
privacidade) não é simples representação econômica da pessoa. Por isso, dizer-se que a doutrina
clássica está incompleta.
Os mais modernos não tem visão apenas economicista. Honra, vida, privacidade, por
exemplo, fazem parte do patrimônio da pessoa e não tem, na essência, essa expressão
econômica. O patrimônio, nesse caso, é moral.
“Forte doutrina no Brasil (Clóvis Beviláqua, Caio Mário), afirma que cada pessoa é
titular de um único patrimônio, ainda que os bens derivem de causas diversas.”
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Aqui, não queira visualizar a lógica. Todo direito real incidente sobre um imóvel, como
uma hipoteca tem, por força de lei natureza de direito imobiliário. Por isso tanto formalismo na
lavratura da hipoteca.
De igual forma, o direito à sucessão aberta. Direito à sucessão aberta, na forma do art. 80,
II, é de natureza imobiliária. Direito à sucessão aberta é direito à herança e esse direito tem
natureza imobiliária. Por que o direito à herança tem essa natureza? O que é mais simples,
vender o carro ou a casa ou o herdeiro ceder o seu direito à herança? O inventário está correndo.
O herdeiro de 1/3 da herança, precisando de dinheiro, quer vender a sua parte. E isso é
perfeitamente possível. A cessão de direitos hereditários é possível. Para fazer isso no inventário
há uma série de formalismos. Tem que ser por escritura pública e, segundo alguns, a outorga
uxória. Isso porque Código diz que o direito à herança é como se fosse imóvel.
“O direito à herança, nos termos do inciso II, do art. 80, tem natureza imobiliária, isso
explica a exigência legal de escritura pública para cessão de direito hereditário (art. 1.793),
bem como o fato de respeitável doutrina (Francisco Cahali) sustentar a exigência de outorga
uxória na seção, nos termos do art. 1.647, do Código Civil.”
OBS.: Ver no art. 81 (outra pegadinha de prova objetiva) situações em que os bens não
perdem a natureza de imóveis.
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2) Esse tipo de bem imóvel por acessão intelectual continua em vigor? A doutrina
está em pé de guerra quanto a isso: “Existe profunda polêmica a esse respeito.
O enunciado 11 sustenta que essa classificação não existe mais. Maria Helena
Diniz e Flávio Tartuce entendem que permanece.” Numa prova objetiva,
marcar o quê? É o tipo de pergunta que não cai em prova objetiva. O professor
também entende que persiste: a escada de incêndio imobilizou-se por decisão
do sujeito.
As energias têm valor econômico e são consideradas bens móveis. Tanto é assim, que
energia elétrica pode ser objeto de furto.
Fui na CEF e contraí empréstimo. Dei meu relógio em garantia. Dar em garantia não é
penhorar. É empenhando. Se vc fala em penhorar no concurso, acaba pra vc. O direito de penhor
que incide sobre o relógio é um direito mobiliário. Tem natureza mobiliária um direito real sobre
bem móvel.
O direito de crédito, por exemplo, também é mobiliário. Imóvel é que não será.
OBS.: “Os navios e as aeronaves são bens móveis especiais, uma vez que, por exceção,
admitem hipoteca e têm registro peculiar.”
Se vc tirou o tijolo para reempregar, ele não perde a natureza de imóvel. Mas se ele
chegou e não foi empregado, ainda é móvel. Se o prédio foi demolido, sobraram tijolos móveis,
obviamente.
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O prazo, no CDC, para exercer direito potestativo para reclamar por vício de qualidade,
do produto ou do serviço de bens duráveis? O prazo decadencial para reclamar é de 90 dias. E do
bem não durável, 30 dias.
“Bem principal é o que existe por si mesmo e acessório é aquele cuja existência
pressupõe a do principal, acompanhando-o, segundo o princípio da gravitação jurídica.”
A classificação dos frutos está na apostila, mas o professor só vai falar nisso quando der
efeitos da posse. Por enquanto, basta saber o que é fruto:
“FRUTO é uma utilidade renovável, cuja percepção não esgota a substância da coisa
principal.”
Banana, como só dá uma vez, o professor não sabe. Mas laranja e cacau, sim. O bezerro,
em relação à vaca. Uma fábrica gera manufaturados: frutos industriais. Aluguel é fruto civil.
“O PRODUTO, por sua vez, é uma utilidade que não se renova e cuja percepção
esgota a coisa principal.”
Petróleo é produto. Não se renova. Carvão mineral também, já que não é renovável.
“PERTENÇA (novidade de 2002) é a coisa que, sem integrar a coisa principal, acopla-
se ou justapõe-se a ela conservando a sua autonomia (art. 93, CC), servindo-a. Não integra a
coisa principal. Permanece guardando sua característica funcional.”
Existem rádios que vêm de fábrica e não há como tirá-los. Uma pertença jamais será
parte integrante. Ela se acopla ao todo.
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“A BENFEITORIA é toda obra realizada pelo homem, na estrutura de uma coisa com o
propósito de conserva-la (necessária), melhora-la (útil) ou embeleza-la (voluptuária) (arts. 96 e
97, do CC).”
OBS.: “Não posso, à luz das regras do Código Civil, confundir acessão com benfeitoria
(matéria a ser desenvolvida na aula de reais).”
Acontece muito no Brasil: Um terreno foi adquirido por Pedro, que já morreu. Foi
adquirido por João, que já morreu. Foi vendido a Florisvaldo que tinha um recibo que vendeu a
José. José, com base nesse recibo, construiu uma casa, permitiu que o genro dele, em cima,
batesse uma laje. Um imóvel, que não tem escritura pública registrada, chega, nessas condições,
nas mãos do professor. Uma casa, que jamais foi averbada no cartório de imóveis com o
problema da laje: “eu sei que o terreno é do meu sogro, mas a benfeitoria quem fez fui eu.” A
laje que vc bate no segundo andar da casa, jamais será benfeitoria. Será acessão. Construção
significa aumento de volume da coisa principal. Construção é acessão e não benfeitoria. Um
curral é uma acessão. A benfeitoria não aumenta em volume a coisa principal. Mas o professor
voltará a esse assunto.
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necessária para a finalidade dela. Piscina elevada com bar molhado deixa de ser benfeitoria,
passa a ser uma acessão.
Ler a classificação de bens jurídicos na apostila da aula 05. (Eu ia transcrever, mas preferi
deixar apenas as classificações trazidas para a aula e tidas por mais importantes pelo professor).
“Fato jurídico em sentido amplo é todo acontecimento, natural ou humano apto a criar,
modificar ou extinguir relações jurídicas.”
Essa matéria é essencialmente epistemológica, variando de autor para autor. Mas com
relação ao conceito de fato jurídico em sentido amplo, não costuma haver divergência.
Agostinho Alvim dizia que fato jurídico é todo fato relevante para o direiot. Nem todo
fato material é fato jurídico, porque fato jurídico é todo aquele relevante para o direito, que
declare efeitos na órbita jurídica. Fato material sem consequência jurídica: caneta que cai no
chão. Já a caneta arremessada contra alguém, adquire roupagem jurídica.
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Isso pode variar de autor para autor. O professor se baseou em Orlando Gomes.
O fato jurídico em sentido amplo subdivide-se em fato jurídico em sentido estrito que,
por sua vez, se bifurca em ordinário e extraordinário. O fato jurídico em sentido amplo
subdivide-se ainda em ato-fato e subdivide-se em ações humanas. Essas por sua vez, bifurcam-se
em ato jurídico em sentido amplo e ato ilícito.
ATO-FATO
EM SENTIDO AMPLO ATO JURÍDICO EM SENTIDO AMPLO
AÇÕES HUMANAS
FATO JURÍDICO ATO ILÍCITO
ORDINÁRIO
EM SENTIDO ESTRITO
EXTRAORDINÁRIO
“O fato jurídico em sentido estrito (a doutrina aqui não diverge muito) é todo
acontecimento natural relevante para o direito.”
• Os fatos jurídicos em sentido estrito podem ser ordinários, quando são comuns:
nascimento, morte natural, decurso do tempo.
b) Ações humanas
• Ato ilícito – estudaremos nas aulas de responsabilidade civil, junto com abuso de
direito.
Ato jurídico em sentido amplo é toda ação humana voluntária, lícita. Segundo a doutrina,
ato jurídico é toda ação humana lícita, que deflagra efeitos na órbita do direito. Não se pode
confundir o ato jurídico (ação lícita) com o ato ilícito, que é outra categoria.
Estamos seguindo uma linha filosófica. Na que seguimos, ato jurídico é toda ação
humana lícita que deflagra efeitos na órbita do direito. E nessa linha não pode ser confundida
com ato ilícito que é categoria em separado.
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Embora não desconheçamos que alguns autores, a exemplo de Silvio Venosa, Antônio
Machado Neto, digam que ato ilícito é espécie de ato jurídico, não seguimos essa linha.
Acompanhamos a linha de pensamento de autores como Zeno Veloso que, em sua obra sobre a
invalidade do ato jurídico diz assim: ato jurídico no direito civil brasileiro é ação humana lícita
que não se confunde com a categoria separada do ato ilícito. Diz ele: “Gera confusão chamar o
ato ilícito de ato jurídico, só por causa dos efeitos jurídicos que proporciona. Virtude e crime
têm efeitos jurídicos e nem por isso recebem a mesma denominação. Não se pode, só porque
ambas têm asas e voam, chamar pelo mesmo nome a andorinha e a borboleta.”
O Código Civil traz a categoria do ato ilícito separada do ato lícito. O critério
metodológico usado pelo legislador brasileiro coloca em títulos separados exatamente por isso.
Na linha que perfilhamos, ato jurídico é ação humana lícita, não se confundindo com ato
ilícito, categoria própria tratada em separado.
O ato jurídico em sentido amplo sofre uma outra subdivisão: ato jurídico em sentido
estrito e, a categoria mais importante de todas: negócio jurídico.
Muitos autores se debruçaram sobre o estudo desse tema: Vicente Rao, José Abreu,
Marcos Bernardo de Melo, por exemplo. Mas o que é ato jurídico em sentido estrito? Até aqui
aprendi que é espécie de ato jurídico em sentido amplo.
“Também denominado de ato não negocial, o ato jurídico em sentido estrito traduz um
simples comportamento humano voluntário e consciente, cujos efeitos estão previamente
determinados em lei.”
“Este tipo de ato pode ser exemplificado nos meros atos materiais e nos de
comunicação.”
Meros atos materiais, comportamentos humanos, atos reais, atos da vida. São atos
jurídicos em sentido estrito e a gente nem percebe. Exemplo clássico: percepção de um fruto,
apropriando-se dele. Se vc se assenhora de um bem que não pertence a ninguém, o efeito jurídico
da lei é automático: vc passa a ser dono. Não é vc que escolhe. É a lei que escolhe. A percepção
de um fruto lhe faz dono por força de lei. Esse efeito é predeterminado na lei.
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Mesmo no contrato de adesão, sabendo que a autonomia privada é quase que totalmente
desoxigenada, alguma autonomia privada existe, ainda que seja aderir ou não ao que foi
proposto. Desaparecendo a autonomia privada, desapareceria por completo o próprio contrato
(mesmo de adesão). A teoria da autonomia privada passa por uma crise, mas mesmo nos
sistemas soviéticos mais exacerbados, a liberdade negocial jamais desapareceu no contrato. Se
isso desaparece, o próprio negócio jurídico desaparece. O que vai caracterizar o negócio jurídico
em maior ou menor escala é que sempre haverá autonomia privada e liberdade negocial na
escolha dos efeitos que se perseguem. Quando eu percebo o fruto, o efeito é dado pela lei, mas
quando faço um testamento, mesmo com condicionamento de ordem pública, eu tenho que ter
alguma liberdade. Testamento é negócio jurídico, assim como o contrato. Além do contrato, há
outros negócios jurídicos. E o que se tem que saber é que no negócio jurídico existe a liberdade
negocial que no ato jurídico não existe.
“O negócio jurídico, por sua vez, pedra-de-toque das relações econômicas mundiais, é,
na sua essência, de estrutura mais complexa do que o ato em sentido estrito. Isso porque, no
negócio temos uma declaração de vontade, emitida segundo o princípio da autonomia privada,
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pela qual o agente disciplina efeitos jurídicos possíveis escolhidos segundo a sua própria
liberdade negocial.”
Existe portanto, uma álea, uma margem muito maior de atuação porque no negócio o
agente percebe efeitos jurídicos possíveis segundo sua própria liberdade de escolha. Em maior
ou menor grau, sempre haverá alguma liberdade de escolha. Aqui há liberdade negocial típica
que no ato jurídico não há. Essa autonomia é hoje limitada por valores constitucionais. Ela foi
reconstruída a partir da constitucionalização do direito civil. Se vc tira a liberdade negocial, a
figura do negócio jurídico desaparece. O crime está para o penalista assim como o negócio
jurídico está para o civilista.
• Ato-fato jurídico
Pontes de Miranda percebeu que estava faltando alguma peça, uma categoria para
fecharmos o esquema. Percebeu que entre a categoria do fato e do ato, haveria a categoria do ato-
fato jurídico. A teoria do ato-fato é de grande complexidade.
Embora o Código Civil não haja contemplado em norma específica o ato-fato, a doutrina
trata da matéria (Marcos Bernardes de Mello).
O fato de ser uma categoria intermediária, já significa alguma coisa. Significa que tem
algo do fato da natureza e tem algo da ação do homem. É verdade isso. Há situações que, embora
derivem do homem, não podem ser consideradas ações humanas voluntárias. Isso é fácil de ver
em penal. Bettiol nos dá um exemplo ótimo para entender, ainda que aplicado no campo penal:
cidadão entra no museu contemplando a obra-prima, num dado momento, tem uma micro-
hemorragia no nariz e espirra sangue no quadro. É ação típica? Realizou um comportamento
humano voluntário? É ato ou fato jurídico? Ato reflexo (como o martelo no joelho) é voluntário
ou não? Isso é um ato (provém do homem) ou é um fato (provém da natureza). Pontes de
Miranda percebeu: há comportamentos que estão entre o fato e o ato, que são o ato-fato.
Exemplo do enfermo mental (não escrever louco na prova) que foge do manicômio, entra
na loja de artesanato e manuseou a argila para comer. Ela seca, um crítico de arte passa e
classifica aquilo que o enfermo mental fez como obra de arte de alto gabarito. Neste caso, o
comportamento do louco, desprovido de vontade, realizou um ato-fato jurídico.
A criança de 3 anos entrega a nota de 1 real ao dono da lanchonete pedindo bala e obtém
as balas. Como classificar esse ato? Uma doutrina poderia dizer: É um contrato de compra e
venda nulo por incapacidade absoluta do agente, mas cujos efeitos são socialmente aceitos. Se o
exemplo for dado com um jovem de 15 anos, absolutamente incapaz, mas ele já tem consciência
econômica do ato que realiza. Tem noção jurídica. Neste caso, o jovem de 15 anos realiza um
contrato de compra e venda porque tem consciência do ato econômico que realiza, o contrato é
nulo, mas os efeitos são aceitos. Mas uma criança de 3 anos que entrega uma cédula é muito
diferente. Realiza, indiscutivelmente, um ato-fato jurídico: ato humano desprovido de
consciência, mas que ainda gera efeitos. Comportamento humano, que embora humano é
desprovido de voluntariedade e consciência, mas ainda assim, gera efeitos.
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Não existe forma mais recomendável de entender o negócio jurídico do que dividi-lo em
uma tríplice perspectiva. São três os planos de análise: plano de existência, plano de validade e o
plano de eficácia.
“1ª Corrente: esta primeira corrente sustenta que o núcleo do negócio jurídico é a
vontade interna, a intenção do declarante, havendo influenciado fortemente o Código de 2002
(art. 112).”
Muitos autores lêem esse artigo como resultado da influência da corrente voluntarista que
dizia que o núcleo do negócio é a intenção, a vontade interna.
Essa corrente diz que o negócio vale, não pelo querer, mas pelo que se declarou. Quando
falamos em negócio jurídico, as duas coisas têm que ser consideradas, a vontade interna e a
externa que se declara. Na sua essência, o negócio é o que vc pensou e o que vc declarou.
Nenhuma das duas é melhor do que a outra. Elas se conjugam.
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Código Civil não contemplou um título ou uma seção para o plano de existência. Ele
adota uma solução dicotômica. Quando vc abre o Código Civil, ele tem lá um plano de validade
e de eficácia. Mas não trata especificamente do plano de existência. O codificador foi
dicotômico.
Então o plano de existência não existe? Alguns autores resistem a ele, mas a doutrina é
forte quanto à existência do plano existencial. Há situações que requererem o enquadramento
nessa categoria.
A teoria, quase toda, se encaixa neste esquema. Todo negócio para existir pressupõe que
haja vontade (a interna e a que se declara). Ausente a manifestação de vontade o negócio é
inexistente. Coação física: neutraliza por completo a vontade e o negócio é inexistente. Exemplo:
Grandalhão chega para uma senhora de 90 anos e diz que ela vai assinar um contrato. Mas ela
não quer. Ele pega a digital dela e coloca no documento. O que houve aí? Houve coação física
que neutralizou completamente a manifestação de vontade. Este negócio não é nulo. É
inexistente. Ausente a manifestação de vontade, o negócio é inexistente. Se vc é qualificado
como parte no contrato, mas não assinou, o negócio é inexistente porque todo negócio para
existir deve haver manifestação de vontade.
Além da vontade, é preciso que haja agente emissor da vontade, ou pessoa física ou
jurídica. Todo negócio jurídico para existir precisa de um agente.
E para existir, todo negócio tem que ter um objeto. Um bem jurídico ou uma prestação.
Contrato de empréstimo de dinheiro sem dinheiro é inexistente. O mútuo não existe.
Para existir, além de manifestação de vontade, agente e objeto, todo negócio tem que ter
uma forma. Aí vem o problema. Faltando a forma o negócio não seria nulo, inválido? Por que
inexistente? Muitos pensam assim porque ao estudar essa matéria, aprenderam que para a
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existência de um negócio era preciso agente capaz, objeto lícito e forma prescrita ou não defesa
em lei.
Isso não se confundiria com a vontade externa? Mas a doutrina prefere colocar a forma
como elemento autônomo. Todo negocio pressupõe que haja uma forma. Vc firmou um contrato,
forma escrita. Vc pede emprestada uma caneta de seu colega. Forma oral. Fazer sinal para o
ônibus é celebrar negócio jurídico de transporte.
OBS.: 9º Concurso para Delegado de Polícia/RJ: “Quem cala consente”. “Este ditado
popular tem respaldo no direito civil?” Em outras palavras, em caráter excepcional, admite-se
que o silêncio seja considerado forma de celebração do negócio? Viu-se que todo negócio para
existir depende de uma forma. Mas será que por exceção, o silêncio poderia repercutir no campo
do direito civil? O professor não vai responder isso hoje (só na próxima aula). E vai fechar a
aula, mostrando que a forma é requisito de existência do negócio. O negócio para existir precisa
de manifestação de vontade, agente, objeto e forma. A forma, pressuposto de existência não pode
ser confundida com o que se chama de forma prescrita em lei. Se vc vender seu imóvel de valor
superior a 30 salários mínimos, a forma, como pressuposto de validade, é a prescrita em lei
(escritura pública). Não se pode confundir a forma, requisito de existência, COM a prescrita em
lei, requisito de validade.
Um senhor (Pedro) entrou no gabinete do professor com a melhor roupa que tinha: um
terno puído. Trouxe o problema: comprou uma gleba de terra de um vizinho. O valor foi superior
a 30 salários mínimos. O vizinho faleceu e deixou herdeiros que passaram a dizer que o terreno
não era dele. Ele (Pedro) disse que tinha a escritura pública registrada. Pegou um saco plástico e
com orgulho verdadeiro da dignidade do homem de bem, tirou de lá uma folha de caderno
rasgada e suja e disse: “aqui está minha escritura pública”. O professor, vendo no gesto a boa-
fé objetiva estampada, disse que o documento poderia servir para a adjudicação ou usucapião.
Mas esse negócio jurídico que celebrou com o vizinho era existente? Houve manifestação de
vontade? Sim. Houve agente? Sim. Houve objeto? Sim. E também houve forma, apenas não foi
respeitada a forma exigida em lei para aquela espécie de negócio jurídico. O negócio existe, mas
uma vez que o imóvel era mais que 30 salários, a conclusão é: o negócio existe, mas é inválido.
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