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A trajetória do negro
na literatura brasileira
DOMÍCIO PROENÇA FILHO
A
PRESENÇA DO NEGRO
marginalizador que, desde as instâncias fundadoras, marca a etnia no
processo de construção da nossa sociedade.
Evidenciam-se, na sua trajetória no discurso literário nacional, dois posi-
cionamentos: a condição negra como objeto, numa visão distanciada, e o negro
como sujeito, numa atitude compromissada.
Tem-se, desse modo, literatura sobre o negro, de um lado, e literatura do
negro, de outro.
Notável desaventura
De um povo néscio e sandeu
Que não sabe que o perdeu
Negócio, ambição, usura.
Verdade que, no final, Raimundo reage, irritado, e toma posição, o que lhe
custará a própria vida.
À nobreza de caráter de Isaura e de Raimundo associa-se outra dimensão
estereotipada: a do negro vítima, sobretudo quando escravo. Nessa óptica, ele se
transfigura em objeto de idealização, pretexto para a exaltação da liberdade e
defesa da causa abolicionista, como nos empolgados versos de Castro Alves, poeta
romântico. “O navio negreiro”, por exemplo, um de seus textos antológicos,
destaca a desumanidade que marcava o tráfico dos escravos, então já abolido.
Outro poema, “A cruz da estrada”, situa a redenção pela morte, onde o escravo
encontraria a sua plena liberdade: não há lugar para ele nessa sociedade, mas em
compensação, a natureza cuida do seu túmulo e dele será o reino dos céus. O
poeta baiano não atribui, na quase totalidade dos seus poemas sobre a escravidão,
qualquer movimento de reação ou de revolta ao escravo, marcado pela atitude
resignada. A África personificada lamenta a sua sorte e termina por pedir perdão
para os seus crimes (!):
Mas eu, Senhor!... Eu triste abandonada
Em meio das areias esgarrada,
Perdida marcho em vão!
....................................................................
Essa paixão o levará ao crime. Num sonho, tira a vida da amante, ciumento
de sua prostituição e, na realidade, troca a sua morte efetiva pela do desconhecido
que riu debochado do seu ciúme no espaço real do bar do cais do porto, onde a
encontrara com o garotão louro do estrangeiro.
No teatro, um exemplo significativo é o Cristo de Ariano Suassuna, na
cena culminante do julgamento do Auto da Compadecida. O estranhamento da
popular figura folclórica do personagem João Grilo, diante de sua caracterização
como negro é sintomaticamente revelador:
Fala o “Encourado” (de costas, grande grito, com o braço ocultando os olhos):
– Quem é? É Manuel?
MANUEL: – Sim, é Manuel, o Leão de Judá, o Filho de Davi. Levantem-se
todos pois vão ser julgados.
JOÃO GRILO: – Apesar de ser um sertanejo pobre e amarelo, sinto que
estou diante de uma grande figura. Não quero faltar com o respeito a uma
pessoa tão importante, mas se não me engano, aquele sujeito acaba de
chamar o senhor de Manuel.
MANUEL: – Foi isso mesmo, João. Esse é um dos meus nomes, mas você
pode me chamar também de Jesus, de Senhor, de Deus... Ele gosta de me
chamar de Manuel ou Emanuel, porque assim quer se persuadir de que
sou somente homem. Mas você, se quiser, pode me chamar de Jesus.
JOÃO GRILO: – Jesus?
MANUEL: – Sim.
JOÃO GRILO: – Mas espere, o senhor é que é Jesus?
MANUEL: – Sou.
JOÃO GRILO: – Aquele a quem chamavam Cristo?
JESUS: – A quem chamavam, não, que era Cristo. Sou, por quê?
JOÃO GRILO: – Porque... não é lhe faltando com o respeito não, mas eu
pensava que o senhor era muito menos queimado12.
A passagem citada fala por si. Repare-se que nem Deus pode ser negro sem
despertar estranheza até do homem simples do sertão, e o próprio Cristo tem
necessidade de se explicar.
Ainda no âmbito teatral, Vinícius de Moraes atualiza e carioquiza a tragédia
grega, ao transpô-la para a realidade urbana do Rio de Janeiro, em sua peça Orfeu
negro (1954) e a etniza simpaticamente, destacada a relação entre o negro e a
música popular brasileira. A peça, entretanto, não se centraliza em questões
especificamente ligadas à condição do negro; prende-se mais à dimensão trágica da
história grega, ponto de partida. Tanto que o autor esclarece, em nota ao texto,
que “todas as personagens da tragédia devem ser normalmente representadas por
atores da raça negra, não importando isso em que não possa ser, eventualmente,
encenada com atores brancos”.
Propositadamente selecionei exemplos em que atuam personagens represen-
tativos da classe média urbana, da realidade rural, da marginalidade e um sertanejo
carregado de folclore e de literatura popular. Todos criados por autores contempo-
râneos, cujos textos demonstram uma preocupação com retratar aspectos
marcantes da realidade sociocultural do nosso país.
Na ultrapassagem do estereótipo, surgem, na década de 1980, ainda que à
luz de visões distanciadas, obras preocupadas em resgatar a figura do negro. Está
entre elas o romance Os tambores de São Luís (1985), de Josué Montello, que não
é negro nem mestiço assumido de negro, nem na aparência física nem na confissão
biográfica, obra onde o autor pretende realizar, como informa a própria orelha
do livro, “a grande saga do negro brasileiro, nas suas lutas, nos seus dramas e na
sua tragédia [...] O resgate de uma velha dívida – a dívida contraída para com a
raça negra em nosso país e que merecia, de nossa literatura, o seu canto em
prosa, a sua verdade, a sua denúncia”14. Esse propósito se traduz numa história
em que se evidencia, e a professora brasileira Zilá Bernd o assinala, um exemplo
de consciência negra dilacerada, o que efetivamente se dá, na medida em que
nela se configura o personagem negro dividido entre o mundo branco de sua
circunstância e o mundo de sua ancestralidade e etnia. Outra tentativa de atitude
revalidadora da história do negro encontra-se em Viva o povo brasileiro (1984),
de João Ubaldo Ribeiro, no caso integrada à preocupação de buscar, na transfigu-
ração da arte literária, a caracterização da gente do Brasil, a partir da retomada
ficcional do processo de formação do país. Em destaque, a luta permanente pela
liberdade, com a consciência de que, como sabia o personagem Dandão, “a liber-
dade de um não era nada sem a liberdade de todos e a liberdade não era nada
sem a igualdade e a igualdade há que estar dentro do coração e da cabeça, não
pode ser comprada nem imposta”15. São narrativas amplas, cuja apreciação
pormenorizada escapa aos objetivos deste trabalho, dada a multiplicidade de
aspectos que envolvem. Merece também referência a posição revelada nos roman-
ces do ciclo do açúcar, escritos por José Lins do Rego, nos quais, entre outras
atitudes, se trata do percurso do negro em ambiente brasileiro contemporâneo e
se contam histórias de usinas onde o braço negro tem atuação relevante.
Nesse espaço literário marcado pelo distanciamento, situam-se também
obras de escritores negros e, em número maior, mestiços de negros reconhecidos
ou não como tal, nas quais a matéria negra é eventualmente tratada, num ou
noutro texto. É o caso, por exemplo, de Domingos Caldas Barbosa (1740?-
1800), filho de pai português e mãe africana, que assume, eventualmente, na sua
Viola de Lereno (1798, t. 1 e 1826, t. 2) essa condição. São bastante citados os
versos com que se dirige ao seu contemporâneo, o Pe. Antônio de Sousa Caldas:
Tu és Caldas, eu sou Caldas;
Tu és rico, e eu sou pobre;
Tu és o Caldas de Prata;
Eu sou o Caldas de cobre16.
B. J. Antonio - 1930
Mário de Andrade
(1893-1945)
Filho dessa África que ele chama ainda de “gemente, criação colorosa e
sanguinolenta de Satãs rebelados”, “grotesca e triste, melancólica gênese assom-
brosa de gemidos”, “África de Suplícios, sobre cuja cabeça nirvanizado pelo des-
prezo do mundo Deus arrojou toda a peste letal e tenebrosa das maldições eter-
nas”, que lhe resta? ele mesmo responde, com a saída pela evasão: deixar-se “para
sempre perdidamente alucinado e emparedado dentro do teu Sonho”23.
E na sua poesia, essa visão negativa se corrobora, sobretudo quando associa
à cor branca as qualidades do ideal e ao negro os mesmos aspectos dolorosos e
viciosos que vincula à África de origem. Autoconvertido em vítima da fatalidade
de sua cor, o poeta lamenta a sua condição de emparedado e procura, como
assinala Alfredo Bosi, a solução pela sublimação24. Vale acrescentar, ainda nas
palavras do mesmo crítico em percuciente ensaio, que
Compondo a prosa poética do “Emparedado”, que fehca o livro das
Evocações, foi possível a Cruz e Sousa lançar o seu protesto contra os argu-
mentos da ideologia dominante no discurso antropológico. Trata-se de
um fenômeno notável de resistência cultural pelo qual o drama de uma
existência, que é sobretudo subjetivo e público ao mesmo tempo, sobe ao
nível da consciência inconformada e se faz discurso, entrando, assim, de
pleno direito, na história objetiva da cultura25.
Reprodução
Cruz e Sousa
(1861-1898)
É só do teu proceder
que por certo há de nascer
a estrela do novo rumo!31
Entre os pioneiros da arte feita por negros, situa-se ainda o citado Abdias
Nascimento, autor de inúmeros livros de poemas, entre eles, Axés do sangue da
esperança (1983), em que se configura uma tentativa de resgate dos mitos e
rituais da cultura negra33.
Os outros autores assumidos embarcaram, na sua maioria, nas naves da
chamada poesia marginal ou independente. São, com raras exceções, produtores
dos próprios livros.
Os propósitos de afirmação étnica e de identidade cultural, o espírito de
grupo, aliados às dificuldades mercadológicas que enfrentaram e enfrentam,
levaram-nos a integrar grupos e movimentos, entre eles o grupo Quilombhoje,
de São Paulo, criado em 1980, responsável pela publicação dos Cadernos negros,
periódicos divulgadores com vários números em circulação34, o grupo Negrícia,
Poesia e Arte do Crioulo, lançado no Rio de Janeiro, em 1982, e o grupo Gens
(Grupo de Escritores Negros de Salvador), que data de 1985.
Como outros veículos de divulgação, além das obras de cada escritor, cabe
citar ainda três coletâneas: Axé – Antologia da poesia negra contemporânea (Global,
1982), organizada por Paulo Colina, A razão da chama. Antologia de poetas
negros brasileiros (GRD, 1986), com coordenação e seleção de Oswaldo de Camar-
go, e a globalizante Poesia negra brasileira (1992), organizada por Zilá Bernd.
Entre os autores, figuram Abelardo Rodrigues (Memória da noite, 1979),
Adão Ventura (Abrir-se um abutre ou mesmo depois de deduzir dele o azul, 1970;
As musculaturas do Arco do Triunfo, 1976, A cor da pele, 1980), Arnaldo Xavier
(Pablo, 1975, A rosa da recusa, 1980), Cuti (Luís Silva), (Poemas da carapinha,
1978; Sol na garganta, contos, 1979, Batuque de tocaia, 1982), Éle Semog (Luiz
Carlos Amaral Gomes) (Atabaques, 1983, em colaboração com J. C. Limeira),
Geni Mariano Guimarães (Terceiro filho, 1979), Paulo Colina (Plano de vôo, 1984,
Fogo cruzado, 1980), W. J. de Paula (Versos brancos, negra poesia, 1972), José
Alberto de Oliveira de Souza (Cinco poemas vivos, 1978), Maria da Paixão
(esparsos, nos Cadernos negros), Eduardo de Oliveira (Ancoradouro, 1960, Gestas
líricas da negritude, 1967, Túnica de ébano, 1980), Oswaldo de Camargo (Grito
de angústia, 1958, 15 poemas negros, 1963), Mirian Alves (Momentos de busca,
1983, Estrelas no dedo, 1985), Oliveira Silveira (Roteiro dos tantãs, 1981, Banzo,
saudade negra, 1970, Décima do negro peão, 1974, Pelo escuro, 1977), Antônio
Vieira (Areia, mar, poesia, 1972, Cantos, encantos e desencantos d’alma, 1975,
Cantares d’África, 1980), Jônatas Conceição da Silva (Miragem do engenho, 1984),
Ronald Tutuca (O paquiderme com asas de água, 1981), Mortoalegrense, 1982,
Homem ao rubro, 1983), Carlos Assumpção (Protesto, 1982).
A leitura dos textos antologiados possibilita algumas conclusões, por sua
representatividade, embora não definitivas, até porque a maioria desses escritores
se encontra com obra em processo.
A quase totalidade dos poemas centraliza-se na temática e na tomada de
posição. Raros os exemplos em que se observa preocupação com uma linguagem
diferenciada: os textos se fazem de versos livres, com uma ou outra manifestação
em verso tradicional; o discurso vincula-se às técnicas incorporadas pela linguagem
poética a partir do modernismo. Algumas ultrapassagens verificam-se no nível da
imagística.
Transparece um comprometimento ideológico deliberadamente assumido,
uma preocupação de “[...] atiçar na consciência de um povo usurpado/ usurpador
a brasa da dignidade humana/ histórica a ser fundamentalmente resgatada”, como
escreve Paulo Colina na apresentação da antologia Axé. Predomina uma posição
de resistência e luta pela afirmação e pelo reconhecimento social. Os versos de
“Protesto”, de Carlos Assumpção, demonstram uma faceta desse posicionamento:
Mas irmão, fica sabendo
Piedade não é o que eu quero
Piedade não me interessa
Os fracos pedem piedade
Eu quero coisa melhor
Eu não quero mais viver
No porão da sociedade
Não quero ser marginal
Quero entrar em toda a parte
Quero ser bem recebido
Basta de humilhações
Minha alma já está cansada
Eu quero o sol que é de todos
Ou alcanço tudo o que eu quero
Ou gritarei a noite inteira
Como gritam os vulcões
Como gritam os vendavais
Como grita o mar
E nem a morte terá força
Para me fazer calar!35
Em pastos brasileiros
ser negro e proprietário
é fardo na garupa.
O negro pensa:
por que o pensador de Rodin
Minha namorada?
é a violência vestida de esperança
é a legítima filha
da mãe-história amarga43.
Ser negra,
De negras mãos,
De negras mamas,
de negra alma.
Além das antologias e dos livros dos autores citados, outras obras têm asse-
gurado a resistência. Entre eles estão os poemas de Incursões sobre a pele (1996),
de Nei Lopes, em que ressalta, desde logo, a intimidade com a música e a assunção
da etnia. O poeta se assume como su-
Madalena Schwartz
jeito, na afirmação da identidade cul-
tural. Consciente da situação do negro,
seja no Brasil, seja na África, seja nas
demais comunidades da diáspora
africana, não carrega, entretanto, a pele
como um fardo. Mas, como está no
poema de abertura, “como um fato/na
cor do Homem/ da História/ da luta e
da vitória”. Assim posicionado, seus
poemas associam os espaços de valo-
rização étnica ao âmbito da preocupação
com a condição humana.
O poeta e crítico Sebastião Uchoa
Leite, precocemente falecido em 2003,
lembra, em artigo de 1997, “poetas que
se dedicam, mais recentemente, à recu-
peração de linguagens afro e o seu uni-
verso simbólico, ou a experiências
lingüístico-formais, inclusive no plano Retrato de Solano Trindade (1908-1974)
visual. Este segundo caso está represen-
tado por Arnaldo Xavier, cujas características experimentais podem incluí-lo no
grupo dos poetas da linguagem, embora, por outros aspectos, pudesse figurar
também como militante”. No plano da recuperação da linguagem afro, destaca
o trabalho de poetas e pesquisadores, como Antonio Risério, que incorporou ao
português “o mundo fascinante dos okiris da cultura nagô-iorubá”, trabalho que
marca também, em outra elaboração, a poesia de Ricardo Aleixo. Destaca ainda a
presença do universo cultural banto, nos textos de Edimilson de Almeida Pereira48.
Quanto a Dionísio esfacelado (Quilombo dos Palmares) (1984), livro de
poemas de minha autoria, centrado na condição negra, entendo que não me
Notas
1 Gregório de Matos, Poemas escolhidos, sel., introd. e notas de José Miguel Wisnik, São
Paulo, Cultrix, 1976, p. 37.
2 Bernardo Guimarães, A escrava Isaura, 6ª ed., São Paulo, Ática, 1976, p.13.
3 Idem.
4 Aluísio Azevedo, O mulato, São Paulo, Martins, 1964, p. 67.
5 Idem, p. 272.
6 Idem, p. 307.
7 Antônio de Castro Alves, “Os escravos”, em ____. Obra completa, Rio de Janeiro, J.
Aguilar, 1960, pp. 291 e 293.
8 José Guilherme Merquior, De Anchieta a Euclides. Breve história da literatura brasileira,
Rio de Janeiro, J. Olympio, 1977, pp. 92-93.
9 Antonio Candido, Formação da literatura brasileira: momentos decisivos, 7ª ed. rev.,
São Paulo, Martins, vol. 1, 1964, p. 270.
10 Aluísio Azevedo. O cortiço, 6.ed., São Paulo, Ática, 1974, p. 104.
11 Edilberto Coutinho, “Um negro vai a forra”, em Os jogos, São Paulo/Brasília, Ática/
INL/Fundação Nacional Pró-Memória, 1984, p. 126.
12 Ariano Suassuna, Auto da compadecida, Rio de Janeiro, Agir, 1970, pp. 146-148.
13 Idem, pp. 148-149.
14 Josué Montello, Os tambores de São Luís, 5ª ed., Rio de Janeiro, Nova Fronteira,
1985, 1ª orelha.
15 João Ubaldo Ribeiro, Viva o povo brasileiro, 15ª impr., Rio de Janeiro, Nova Fronteira,
1984, pp. 312-313.
16 Domingos Caldas Barbosa, Viola de Lereno, em _____ L. da Câmara Cascudo (org.),
Poesia, Rio de Janeiro, Agir, 1958, p. 23.
17 Mário de Andrade, Poesias completas, ed. crítica de Diléia Zanotto Manfio, Belo
Horizonte/São Paulo, Itatiaia/Edusp, 1987, p. 394.
18 Idem, p. 248.
19 Idem, pp. 266-267.
20 Cf. Gilberto Freire, “Nota preliminar”, publicada como prefácio a Jorge de Lima,
Poemas negros e transcrita posteriormente em O Jornal, Rio de Janeiro, 22 nov.
1953, com o título “Jorge de Lima e seus poemas negros”, apud Jorge de Lima,
Obra completa, Rio de Janeiro, J. Aguilar, 1958, vol. 1, p. 385.
21 Machado de Assis, Obra completa, Rio de Janeiro, J. Aguilar, 1959, vol. III, p. 520.
22 João da Cruz e Sousa, Evocações, em _____. Obra completa, Rio de Janeiro, J. Aguilar,
1960, pp. 651 e 662-663.
23 Idem, p. 664.
24 Alfredo Bosi, História concisa da literatura brasileira, 2ª ed., São Paulo, Cultrix,
1979, p. 303.
25 Alfredo Bosi, “Poesia versus racismo”, em _____. Literatura e resistência, São Paulo,
Cia. Das Letras, 2002, p. 168.
26 Luís Gama, apud Oswaldo de Camargo (org.), A razão da chama, São Paulo, GRD,
1986, p. 14.
27 Para um visão ampla e profunda do posicionamento, ver Alfredo Bosi, “Figuras do
eu nas Recordações de Isaías Caminha”, In: ºc., pp.186-208.
28 Ver, para uma idéia da situação atual, o artigo de Flávio Carrança, “Breve história da
literatura negra – publicar ainda é difícil para autores negros brasileiros”, publicado
na revista Problemas brasileiros, em 2003.
29 Para uma visão desses posicionamentos, pode-se ler, como ponto de partida, Zilá
Bernd,Negritude e literatura na América Latina, Porto Alegre, Mercado Aberto,
1987, pp. 83 e ss.
30 Lino Guedes, em Oswaldo de Camargo, op. cit., p. 35.
31Idem, p. 33.
32 Solano Trindade, em Oswaldo de Camargo, op. cit., p. 39.
33 Abdias Nascimento é também autor de uma antologia do teatro negro brasileiro
intitulada Drama para negros e prólogo para brancos, Rio de Janeiro, Teatro Experi-
mental do Negro, 1961.
34 Esclarece, a propósito, Flávio Carrança: “Durante o ano de 1978, existiu em São
Paulo, no bairro do Bexiga, o Centro de Cultura e Arte Negra (Cecan), onde se
reuniam pessoas ligadas às letras, entre as quais o poeta Cuti e o advogado Hugo
Ferreira. Juntos, eles decidiram lançar os Cadernos Negros, pequenas coletâneas de
nº 14, 1987, p. 119, onde escreve: “Focalizando a literatura negra que surgiu desde
a década de 70 como uma possibilidade de releitura cultural, então se percebe que
nela não importa sua qualidade, mas sim sua oportunidade”.
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RESUMO – ESTE ARTIGO busca traçar o percurso do negro na literatura brasileira, como
objeto, numa visão distanciada, e como sujeito, numa atitude compromissada. Destaca,
de um lado, textos literários sobre o negro e, de outro, literatura do negro. Identifica,
na produção literária ao longo do processo literário brasileiro, estereótipos reduplicadores
da visão preconceituosa, explícita ou velada. Procura marcar a ultrapassagem do
estereótipo e a assunção do negro como sujeito do seu discurso e de sua ação em defesa
da identidade cultural. Nessa direção, seleciona autores e textos representativos
produzidos notadamente a partir dos anos de 1970, momento de efervescência dos
movimentos de auto-afirmação da etnia. Discute a designação literatura negra, entendida
como aparentemente valorizadora, mas passível de converter-se em risco de fazer o jogo
do preconceito velado.
ABSTRACT – THIS ARTICLE outlines the trajectory of blacks in Brazilian literature, both as
an object, with a distant perspective, and as a subject, with a more assertive attitude. As
result it addresses the literary text on blacks, on the one hand; and by Blacks, on the
other. It identifies a long history of stereotypes, associated with a prejudice vision of
Blacks, both explicitly and implicitly. It seeks to describe the moment of passage in wich
the stereotype was overtaken by the affirmation of blacks as subjects of their discourse,
acting in defense of own cultural worth and identity. It selects a number of representative
authors and texts starting in the 1970s, a particularly vital moment of Black conciousness
affirmation in Brazil. It then argues the propriety of styling ablack literature, superficially
presented as a positive affirmation, but pregnant of being turned into a form of implicit
prejudice.