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* MD, MS, Médico Coordenador do Programa de Geriatria e Gerontologia do Hospital Israelita Albert Einstein – HIAE, São Paulo (SP), Brasil.
Autor correspondente: Fabio Nasri – Rua Tavares Cabral, 102 – conjunto 42 – Pinheiros – CEP 05423-030 – São Paulo (SP), Brasil – Tel.: 11 3031-7664 – e-mail: fnasri@einstein.br
Ao observamos o que ocorre hoje com a população do Entretanto, é interessante observar o envelhecimen-
grupo etário de cinco a nove anos, poderemos ter uma idéia to dentro da própria população idosa, pois vemos que,
melhor do futuro. Esse grupo declinou de 14 para 12% en- enquanto 17% dos idosos de ambos os sexos tinham 80
tre 1970 e 1990. Nesse período, a presença de crianças com anos ou mais de idade, em 2050 corresponderão, pro-
menos de cinco anos reduziu-se de 15 para 11%. No ano vavelmente, a aproximadamente 28%. Na população
2000, cada um desses grupos continuou a declinar e, hoje, feminina, o percentual das mais idosas passará de 18
representam, cada um, 9% da população total. para cerca de 30,8%, assim, presenciaremos o “envelhe-
Por outro lado, o grupo etário composto por pesso- cimento” da população idosa(3).
as acima de 65 anos cresceu de 3,5, em 1970, para 5,5% A população mais idosa será, de modo eminente,
em 2000. Em 2050, este grupo etário deverá responder feminina. No ano de 2000, para cada cem mulheres ido-
por cerca de 19% da população brasileira. Estes fatos sas, havia 81 homens idosos; em 2050 haverá provavel-
levarão a uma drástica mudança de padrão na pirâmide mente cerca de 76 idosos para cem idosas. No grupo
populacional brasileira (Figura 1). acima de 80 anos, estima-se que, em 2050, teremos duas
idosas para cada idoso(4) (Figura 2).
ao compararmos países desenvolvidos e países em de- Doenças cujo principal fator de risco é a idade ten-
senvolvimento. O que difere um país desenvolvido de dem a elevar a sua prevalência, um exemplo típico é a
um país em desenvolvimento como o Brasil é a quan- doença de Alzheimer. Estudos em diversas partes do
tidade de indivíduos que irá chegar aos 60 anos, pois, mundo demonstram que a prevalência de demência
após esse período, não observamos diferença entre os pode variar de 0,3 a 1% em pessoas entre 60 e 64 anos,
países, nos 20 anos de vida seguintes. aumentando de 42 a 68% em indivíduos com 95 anos
Como mencionamos acima, a queda na taxa de fe- ou mais. Pode-se dizer que a prevalência de demência
cundidade que seguiu ao aumento da expectativa de quase dobra a cada cinco anos, depois que o indivíduo
vida foi além do que se poderia esperar. A mortalidade ultrapassa os 65 anos(6).
no Brasil começou a diminuir nos anos 1940, quando a O aumento no número de doenças crônicas leva os
nossa revolução industrial iniciou-se. Entretanto, a taxa idosos a ingerirem maior número de medicamentos e a
de fecundidade somente iniciou a sua queda cerca de realizarem exames de controles com mais freqüência,
30 anos depois, e, após 30 anos de queda, no final do porém, essas condições não limitam a qualidade de vida.
século, chegou a seu nível mais baixo. Ao controlarem suas doenças, muitos idosos levam uma
Na Europa, a queda na taxa de fecundidade iniciou- vida independente e produtiva. A ausência de doença
se no final do século 19, cem anos após a queda na taxa é uma premissa verdadeira para poucos. Na verdade,
de mortalidade, assim, os países europeus tiveram mais envelhecer, para a maioria, é conviver com uma ou mais
tempo para se prepararem, o que tornou a transição foi doenças crônicas. O conceito de envelhecimento ativo
mais suave. pressupõe a independência como principal marcador de
No Estado de São Paulo, atualmente, a taxa de fe- Saúde. A capacidade funcional surge, portanto, como
cundidade já atinge níveis de reposição, com 2,2 filhos um novo paradigma de Saúde(7).
por mulher em idade fértil. O ciclo de envelhecimento, Por esses motivos, este suplemento de Reumato-
que na Europa teve a duração de quase dois séculos, logia Geriátrica ganha importância fundamental, pois,
aqui terminará em meados do próximo século, o que ao atentarmos para o diagnóstico e para o tratamento
representa metade do tempo. O resultado desse fenô- adequado das disfunções reumatológicas, estaremos
meno poderá ser observado na íntegra em 2025, quando promovendo a independência para os idosos.
o Brasil terá cerca de 32 milhões de pessoas com mais
de 60 anos; seremos a sexta maior população de idosos
no mundo(5). REFERÊNCIAS
A transição demográfica acarreta a transição epide-
1. Ramos LR, Veras R, Kalache A. A populational aging: a brazilian reality. Rev
miológica, o que significa que o perfil de doenças da
Saúde Publica. 1987;21(3):211-24.
população muda de modo radical, pois teremos que
2. Caralho JAM, Garcia RA. O Envelhecimento da população Brasileira: um
aprender a controlar as doenças do idoso. Em um país enfoque demográfico. Cad Saúde Publica. 2003;19:725-33.
essencialmente jovem, as doenças são caracterizadas 3. Carvalho JAM, Wong LIR. A transição da estrutura etária da população brasileira
por eventos causados por moléstias infecto-contagio- na primeira metade da século XXI. Cad Saúde Publica. 2008:24(3):597-605.
sas, cujo modelo de resolução é baseado no dualismo 4. Chaimowicz F. A saúde dos idosos brasileiros às vésperas do século XXI:
cura/morte. O perfil de doenças no idoso muda para problemas, projeções e alternativas. Rev Saúde Publica. 1997;31(2):184-
o padrão de doenças crônicas, portanto, o paradigma 200.
muda. Nesse caso, devemos considerar a possibilidade 5. Veras R, Ramos LR, Kalache A. Crescimento da população idosa no
de compensação/não compensação. O modelo de não Brasil: Transformação e conseqüências na sociedade. Rev Saúde Publica.
1987;21(3):225-33.
compensação da doença crônica inclui maior disfunção,
6. Jorm AF, Jolley D. The incidence of dementia: a meta-analysis. Neurology.
dependência e quedas. 1998;51(3):728-733.
Além disso, observaremos maior taxa de utilização 7. Veras R, Ramos L, Kalache A. Growth of the elderly population in Brazil:
de unidades de terapia intensiva, de hemodinâmica e transformations and consequences in society. Rev Saúde Publica.
métodos dialíticos. 1987;21(3):363-74.