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A INDISCIPLINA NA ESCOLA

Priscila Costa Felis Tominaga


Pedagoga

De coadjuvante nas salas de aula, onde durante anos foi mantida sob controle
à base da palmatória, a indisciplina virou centro das atenções nas escolas brasileiras. De
um lado, em função das agressões contra professores. De outro, pelos reflexos no
desempenho dos alunos.

O PROBLEMA: A cada ano, os professores brasileiros perdem, em média, 35


dias inteiros de aula tentando controlar alunos bagunceiros. A estimativa, divulgada no
mês passado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico
(OCDE), é um retrato do avanço da indisciplina nas escolas das redes públicas e
privadas do país. A origem do descontrole está nas escolhas de uma sociedade baseada
no consumismo. – Antes, o professor estava em uma posição de autoridade, porque a
sociedade lhe conferia isso. Mas os valores mudaram. Hoje a autoridade está nas mãos
de quem tem maior poder aquisitivo, as coisas começaram a sair do controle nas salas
de aula brasileiras quando a educação tradicional, centrada na figura do professor, deu
espaço a uma proposta mais progressista. Nesse novo cenário, muitos educadores
simplesmente não conseguiram mais encontrar seu espaço, o que contribuiu para o
descontrole. Ao mesmo tempo, especialistas concordam que fatores externos à escola
também influenciaram nesse processo, entre eles a mídia, o avanço da violência e a
omissão das famílias. Entre os 23 países investigados na pesquisa da OCDE, o Brasil
aparece no topo da indisciplina, um problema que também vem sendo evidenciado a
partir de outros estudos.
No Rio Grande do Sul, por exemplo, uma pesquisa do Sindicato dos Professores
das Escolas revelou que, de 440 entrevistados, 83,2% já tiveram a autoridade
questionada por alunos e 12,8% relataram ter sido vítimas de agressões físicas. A
consequência – O avanço da indisciplina e do desrespeito em sala de aula não resulta
apenas em dores de cabeça, traumas e contusões em professores e alunos. Também se
reflete no desempenho escolar sofrível dos estudantes brasileiros. Segundo especialistas,
o mau comportamento é um agravante do cenário caótico da educação no país, que nas
últimas três provas do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), aplicados
a cada três anos pela OCDE, amargou as últimas posições. O problema é que a maioria
dos professores leva as más atitudes dos alunos para o lado pessoal e acaba
confrontando e brigando com eles na aula. Isso gera um clima de estresse muito grande
e, sem dúvida, contribui para piorar o desempenho de todos.
O descontrole de alguns alunos tem efeitos negativos para professores e
estudantes, além de resultar em notas ruins, a indisciplina causa traumas às vezes
definitivos nos educadores, muitos dos quais vítimas de agressões graves, físicas e
verbais. Como aconteceu com a professora Glaucia Teresinha Souza da Silva, 25 anos,
que sofreu um traumatismo craniano depois de ser empurrada por uma aluna, em Porto
Alegre, em março deste ano. A situação no Rio Grande do Sul se tornou tão
problemática que o Sindicato dos Professores das Escolas Particulares (Sinpro) chegou
a criar o Núcleo de Apoio ao Professor contra a Violência (Nap). – Notamos que, com o
passar do tempo, tem aumentado muito o nível de agressão dentro de sala de aula. O
problema se agrava quando se aproxima o final do ano, por causa da pressão por notas e
pelo cansaço. Os professores se sentem muito sozinhos para lidar com essa situação.
Eles adoecem por causa da estafa a que são submetidos – diz a diretora do Sinpro e
coordenadora do Nap, Cecília Farias.
AS SOLUÇÕES: Apesar do rastro de consequências negativas, o avanço da
desobediência diante do quadro negro tem solução. Especialistas apostam em uma
mudança de comportamento tanto na família quanto na escola.
O primeiro passo, para recuperar o respeito em sala de aula e garantir o bom
comportamento, segundo a professora da Faculdade de Educação da UFRGS Roséli
Maria Olabarriaga Cabistani, é a reaproximação dos pais. Nos últimos anos, a
pesquisadora lembra que eles relegaram à escola a tarefa de transmitir a civilidade –
imprescindível quando o assunto é disciplina. Essa passividade, porém, precisa ficar
para trás. – É difícil culpar os pais, porque eles também estão numa posição complicada,
já que precisam trabalhar para dar o melhor aos filhos. Mas é muito importante que
estejam presentes pelo menos nos momentos mais importantes. Às vezes, uma palavra
já faz a diferença – acredita Roséli.
Por outro lado, também é necessária uma nova postura por parte dos educadores
para reverter o problema da indisciplina. De nada adianta o professor dominar o
conteúdo de sua matéria, se não sabe transmiti-lo.
Na mesma linha, o pesquisador Fernando Becker ressalta ainda que a formação
docente precisa melhorar. – Um professor sem preparo adequado quase que
inevitavelmente vira alvo do aluno mal-intencionado. Além de saber tudo do assunto
que ensina, ele deve entender que não pode entrar no jogo e bater boca com os alunos –
afirma Becker.
É consenso entre os estudiosos que as aulas têm de ser mais atraentes e
conectadas à realidade, o grande desafio da escola, nesse sentido, é ser desafiadora. E,
mais do que isso: surpreender.

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