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RECONSTRUCAO DO DASSADO J6rn Riisen = a qi Teoria da Historia II: Oe os principios da pesquisa historica EDITORA ati | ee ns ee el al FUNDACAO UNIVERSIDADE DE BRASILIA Reitor ‘Timothy Martin Mulholland Vice-Reitor Edgar Nobuo Mariya L i] UnB Diretor Henryk Siewierski Diretor-Executivo Alexandre Lima Conselho Editorial Beatriz de Freitas Salles Dione Oliveira Moura Henryk Siewierski Jader Soares Marinho Filho Lia Zanotta Machado Maria José Moreira Serra da Silva Paulo César Coelho Abrantes Ricardo Silveira Bernardes Suzete Venturelli Jorn Risen Reconstrucao do passado Teoria da Hist6ria II: os principios da pesquisa histérica Tradugdo Asta-Rose Alcaide Revisdo técnica Estevao de Rezende Martins UnB Equipe editorial Rejane de Meneses - Supervistio editorial Sonja Cavalcanti - Acompanhamento editorial Teresa Cristina Brandio- Preparagio de originais e revisto Fernando M. das Neves - Ivanise Oliveira de Brito . Editoragdo eletrinica Iwanise Oliveira de Brito - Capa Tvanise Oliveira de Brito, Rejane de Meneses e Sonja Cavalcanti . indice Elmano Rodrigues Pinheiro . Acompanhamento grifico Copyright © 1986 by Vandenhoock & Ruprecht Copyright © 1007 by Editora Universidade de Brasilia, pela traducao Tela original: Rekonstruktion der Vergangenteit: Grundbatige einer Historik I: Die Prinzipien der historischen Forschung Impresso no Brasil Colegio Teoria da historia, de Jorn Rusen: Volume I - Razao histérica (publicado em 2001) Volume II - Recanstrugie do passado Volume Ik - Historia viva Direitos exclusivos para esta edicd Editora Universidade de Brasilia SCS Quadra 2, Bloco C, n* 78, Ed. OK, 1¢ andar 70302-907 - Brasilia-DF Tels (61) 3035 4211 Fax: (61) 3035 4223 wwweditora.unb.be direcaogeditora.unb.br wwwliveariauniversidade.unbbr Tados os dircitus reservados, Nenhuma parte desta publicagao poderd ser armazenada ou reproduzida por qualquer meio sem a autorizacao por escrito da Editora. Ficha catalografica elaborada pela Biblioteca Central da Universidade de Brasilia Riisen, Jorn R951 Reconstrugao do passado / Jorn Risen; tradugio de Asta-Rose Alcaide.— Brasilia : Editora Universidade de Brasilia, 2007. 188 p. (Teoria da Histéria, 2) ISBN: 978-85-230-0942-7 L, Historiografia. 2. Pesquisa hist6rica. 1. Alcaide, Asta-Rose. II. Titulo. IH]. Série. CDU 930.1 Para Jan-Eicke, Peer Achim, Tom-Arne Sumario Prericto, 9 IntRopucéo A CONSTRUCAO DA CIENCIA DA HISTORIA NA PESQUISA HIsTORICA, 11 Capituto 1 SISTEMATICA ~ ESTRUTURAS E FUNGOES DAS THOMAS HISTORICAS, 23 Explicagdes e o uso de teorias na ciéncia da historia, 26 A explicagdo nomolégica e o problema das leis histéricas, 28 A explicago intencional ¢ o problema das articulagdes hermenéuticas de sentido, 35 A explicacao narrativa e o problema dos construtos narrativos tedricos, 43 A passagem para o todo: da teoria “da” historia, 55 Fungées das teorias histéricas, 75 Conceitos histéricos, 91 CapiruLo 2 METODOLOGIA — AS REGRAS DA PESQUISA ausrOrica, 101 A unidade do método histérico, 104 As operagées processuais, 118 Heuristica, 118 Critica, 123 Interpretacao, 127 As operacdes substanciais, 133 8 Jorn Risen Hermenéutica, 136 Analitica, 145 Dialética, 154 HOoRIZONTES A PLENITUDE DA PESQUISA NA HISTORIOGRAFIA, 169 Bistrocrarta, 173 invice, 183 seven ea NR Prefacio A segunda parte de Teoria da Histéria vem a lume mais tarde do que originalmente previsto, e nfio esgota tudo o que pertence ao dmbito de uma teoria sistematica da historia. Para ndo incorrer no risco de um atraso ainda maior, preferi publicar a parte que se refere 4 pesquisa histérica em um volume separado. Os problemas especificos da historiografia ¢ a fungdo pratica do saber histérico cientifico seréo tratados em um terceiro volume. Razdo histérica, na maioria dos casos, foi comentado por cole- gas cuja opinidio me encorajou a continuar o trabalho e cuja critica me enriqueceu. Agradego, sobretudo, a Karl Acham, Ulrich Herr- mann, Gangolf Hubinger, Karl Ernst Jeismann e Thomas Kombich- ter, a Georg Iggers, F. A. van Jaarveld, Jiirgen Kocka, Wolfgang Kittler, Estevao de Rezende Martins, Maria Beatriz Nizza da Silva e Irmgard Wagner, cujas questées ¢ objegdes muito me instigaram. Minha gratidiio vai também a meus colaboradores de Bochum, Horst Walter Blanke ¢ Friedrich Jaeger, pelo interesse critico que mostraram, pelo desafio de suas expectativas quanto ao andamento do meu trabalho e por seus bons conselhos na reviséo do manus- crito. Devo um agradecimento muito especial a Ursula Jansen e Christel Schmidt pelo trabalho rapido, responsavel e incans4vel em transformar pensamentos desordenados em textos legiveis (pelo menos, assim 0 espero). Nio teria sido possivel produzir este pequeno volume sem a ‘boa vontade de minha esposa, que manteve disponivel para mim o espaco necessério, no cotidiano familiar, para o trabalho de 0 con- ceber e escrever. 10 Jorn Rasen Dedico este livro aos meus filhos, como legitimes represen- tantes do futuro, para quem o passado deve ser reconstruido histo- Ticamente; com sua autonomia, eles sio boas testemunhas de que o futuro vai trazer mais oportunidades do que se poderia esperar historicamente. Introducgaéo A construcao da ciéncia da historia na pesquisa histérica Certa res est, nerinem posse historian recte scribere, qui non sit bonus Logicus’ Bartholomaus Keckermann’ O primeiro volume da trilogia Zeoria da Histdéria tratou das pretensdes de racionalidade formmuladas pela historia como ciéncia. Nele, foi meu objetivo realgar o carater fundamental dessas preten- sdes, seu significado na vida humana pratica. Quis apresentar os fundamentos da ciéncia histérica na perspectiva das operagSes con- cretas da consciéncia histérica. Fundamentos s6 tém valor efetive quando se pode construir sobre eles algo de consistente. Esta cons- trugdo ser analisada, nos dois capitulos que seguem, como produto da pesquisa histérica. Conforme demonstrei no primeiro volume, Razde histérica,* © objeto de uma teoria da histéria é a matriz disciplinar da ciéncia da hist6ria. Essa matriz se constitui das caréncias de orientagao, das *N.do § referéncias a obta Razdo histérica (1° volume da trilogia Teoria da Historia so feitas 96 em algarismo romano, seguido do atimero arabico para pa- gina (ver, por exemplo, a nota 8 desta Introdugdo (1, 32 ss., que significa: Razdo histérica, pagina 32 ¢ seguintes)). 1 “Uma coisa é certa: ninguém pode escrever a histéria corretamente se no for um bom légico” (Nota do revisor técnico) ? B. Keckermann, Opera omnia, Genebra 1614, v. 2, p. 1314, citado por Menke- Glickert, Die Geschichtsschreibung der Reformation und Gegenreformation. Borodin and die Begrindung der Geschichtsmethodologie durch Bartholoméus Keckermann. Osterwick (Harz), 1912, p. 126. 12 Jorn Rusen perspectivas orientadoras da experiéncia do passado, dos procedi- Mentos metédicos da pesquisa empirica, das formas de apresenta- do e das fungdes de orientagdo existencial. Minhas reflexdes sobre a “razfio histérica” concentraram-se basicamente nas caréncias de otientagdo. Com isso, quis demonstrar em que consistem, quando constituem o pensamento histérico como fator importante para a vida pratica, e como elas so apresentadas e realizadas mediante um pensamento histérico cientifico. Os demais fatores ainda serio analisados em separado. Essa andlise seré feita, a seguir, com dois deles: as perspectivas orientadoras com relag&o ao passado e os procedimentos metédicos da pesquisa empirica. Antes de comegar, no entanto, quero expor como se apresenta o vinculo prdprio desses dois fatores com os demais. © pensamento histérico torna-se especificamente cientifico quando segue os principios da metodizag4o, quando submete a re- gras todas as operagbes da consciéncia hist6rica, cujas pretensdes de validade se baseiam nos argumentos das narrativas, nas quais tais fundamentos so ampliados sistematicamente. A razdo, tal como reivindicada pela historia como ciéncia, fundamenta-se nesse principio da metodizacao. H com base nos principios que tomam o pensamento hist6rico racional, isto é, que definem seu carater argu- mentativo-fundante, que a histéria se constréi como especialidade. Como conceber essa construc4o? Se é o principio da metodizagao que transforma o pensamento histérico em ciéncia, cabe perguntar apenas como se faz valer esse principio nos diversos fatores da ma- triz disciplinar. Obtém-se, assim, uma idéia da construgo da hist6- ria como ciéncia espocializada. E precisamente isso que tenciono mostrar a seguir. Nao é nada simples reconstituir, em pormenor, como o principio da metodiza- go se insere na matriz disciplinar, porque os fatores que compdem a matriz nfio aparecem apenas na ciéncia da histéria, mas sdo deter- minantes de tedo o pensamento histérico. De resto, ha quem con- clua, a partir disso, ser desnecessdrio falar em paradigma ou matriz disciplinar da ciéncia da histéria, j4 que nao se conseguiria alcangar qualquer conhecimento inequivoco acerca da construg3o da ciéncia Reconstrugdo do passado 13 da historia ¢ de seu desenvolvimento histérico.’ Prefiro argumentar em sentido exatamente oposto, perguntando: como se da a formagao desses fatores determinantes do pensamento histérico, se s4o eles mesmos que determinam uma forma precisa do pensamento histd- Tico — a cientifica? Como se constituem, de forma especificamente cientifica, esses fatores da matriz disciplinar? Com tal pergunta é possivel lancar um olhar mais agucado sobre a especificidade da ciéncia da histéria do que quando se parte de qualquer padrio fixo de cientificidade (como, por exemplo, do prine{pio metédico da cri- tica das fontes), deixando com isso de levar em consideragio a rela- ¢ao complexa que a ciéncia da histéria, como construto intelectual peculiar (mais precisamente: como um processo intelectual especifi- co), mantém com a vida humana pratica. Minha questio esta, portanto, na investigacdo do modo pelo qual se constituem os fatores da matriz disciplinar, quando a histéria é tratada como ciéncia, Essa constituicdo se dé quando os varios fatores se orientam pelo principio da metodizacao do pensamento hist6rico e da ampliacao sistematica do cardter argumentativo de sua fundamentagao. Em outras palavras: a construgdo da ciéncia da his- téria compreende-se como a impregnagao de sua matriz pelo prin- cipio da metodizagao. Nao é no porqué da definigaio do pensamento histérico por interesses, iddias, métodos ¢ formas que est4 o ponto de partida de sua interpretacdo especificamente cientifica, mas sim no como isso acontece. Metodizacao significa sistematizacio e ampliagdo dos fundamentos que garantem a verdade. Somente quando esse ponto de vista 6 adotado para os diversos fatores da matriz disciplinar é que estes se transfor- mam em estrutura de uma matriz disciplinar. Pode-se recorrer também 3 Recentemente, K. Repgen, Kann man von einem Paradigmawechsel in der Geschichtswissenschaft sprechen? In: Leidinger (Ed.}, Theoriedebatte und Geschichtsunterricht (8), p. 29-77.* *N. do E.: A exemple desta nota, os titulos que aparecem neste ou no primeiro volume so citados com o nome do editor, titulo abreviado ¢ o numero, entre parénteses, da parte numerada da bibliografia.

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