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Paulo Bauler

FRAGMENTOS PÓS-MODERNOS

Uma Poética Da Pós-Modernidade

Rio de Janeiro
2003
Faça o que faça, a vida é ficção, / E formada de contradições...
[William Blake]

Não pode haver mundo, nem haveria distinções se tudo fosse igual. Parece que as
diversidades constituem a harmonia na espécie humana.
[Qorpo-Santo]

As the Aposttle was shown a mixed bundle of beasts in his vision,


So shall my book, dear friend, offer you clean and unclean.
[Johann Wolfgang Goethe]

Imaginação rigorosa é a mola mestra da atividade criadora. O mundo da


“realidade” não passa de uma criação da imaginação imperfeitamente rigorosa. A
imaginação que o estabeleceu endureceu e petrificou-se no curso de milênios, a
ponto de não sabermos mais da origem imaginária do mundo da “realidade”.
[Vilém Flusser]

Sem poesia não há nenhuma realidade.


[FriedrichSchlegel]

Evoé, Vênus!
[Manuel Bandeira]

O leitor atento, verdadeiramente ruminante, tem quatro estômagos no cérebro, e por


eles faz passar e repassar os atos e os fatos, até que deduz a verdade, que estava, ou
parecia estar escondida.
[Machado de Assis]

Make it new.
[Ezra Pound]

It’s a long, long, long, long way…


[Caetano Veloso]

A poesia deve ser a derrocada do intelecto.


[André Breton]

Leitor:
Está fundado o Desvairismo.
[Mario de Andrade]

A poesia deve ser uma festa do intelecto.


[Paul Valéry]

Aquele que escreve em sangue e fragmentos não quer ser lido,


Quer ser aprendido de cor...
[Friedrich Nietzsche]

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Um dos muitos modos de prefácio...

O leitor do qual espero alguma coisa deve ter três qualidades. Deve ser calmo e ler
sem pressa. Não deve intrometer-se, nem trazer para a leitura a sua “formação”. Por
fim, não pode esperar na conclusão, como um tipo de resultado, novas propostas de
escrita ou de leitura. Não prometo verdades teóricas, nem novo texto de estudo para
universitários, admiro muito mais a natureza cheia de força daqueles que estão prontos
para atravessar todo o caminho, desde as profundezas do empírico até as alturas dos
problemas culturais autênticos, e novamente, destas para as entranhas dos
regulamentos mais áridos, e dos programas didáticos arranjados. Mesmo satisfeito por
ter subido, ofegante, uma montanha bem alta e tendo recebido lá em cima a alegria da
vista mais livre, nunca poderei satisfazer os amigos de regulamentos neste trabalho.
Bem vejo chegar um tempo em que gente séria, a serviço de uma formação totalmente
renovada e purificada, trabalhando em conjunto, vão se tornar de novo os legisladores
da educação cotidiana – a que leva à referida formação. Provavelmente deverão
elaborar novos regulamentos e programas. Mas como está longe este tempo! E o que
não vai acontecer até lá! Talvez encontre-se entre ele e o presente a dissolução do
ensino universitário, ou pelo menos uma reformulação tão ampla das assim chamadas
universidades, que seus antigos regulamentos e programas parecerão, aos olhos da
posteridade, sobras do tempo das palafitas.
O trabalho se destina aos leitores calmos, a pessoas que ainda não estão
comprometidas com a pressa vertiginosa de nossa época rolante, e que ainda não
sentem um prazer idólatra quando se atiram sob suas rodas, portanto a gente que ainda
não se acostumou a estimar o valor de cada coisa segundo o ganho ou a perda de
tempo. Ou seja – a muito poucos. Esses, porém, “ainda tem tempo”, a eles é
permitido, sem que fiquem envergonhados, procurar a reunião dos momentos mais
frutíferos e mais fortes de seus dias, a fim de refletir sobre o futuro de nossa formação
acadêmica, eles podem até acreditar que chegam à noite de modo vantajoso e digno,
quer dizer: na meditatio generis futuri. Uma pessoa assim ainda não desaprendeu a
pensar enquanto lê, ainda compreende o segredo de ler nas entrelinhas, sim, ele
esbanja tanto, que ainda reflete sobre o que foi lido – talvez muito após ter largado o
livro. E, contudo, não para escrever uma resenha ou um novo livro, mas apenas assim,
para refletir! Esbanjador leviano! Você é o meu leitor, pois será calmo o suficiente para
seguir um longo caminho com o autor, cujas metas ele mesmo não pode ver, nas quais
deve acreditar honestamente, para que uma geração posterior, talvez distante, veja com
os olhos o que só tateamos às cegas e dirigidos apenas pelo instinto. Se o leitor, em
contrapartida, achar que só é necessário um pulo ligeiro, um ato bem-humorado, se
considerar que se alcança tudo o que é essencial com uma nova legislação decretada

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pelo Estado, então devemos temer que ele não tenha chegado a entender nem o autor,
nem o problema propriamente dito.
Por fim, dirige-se ao leitor a terceira e mais importante exigência: a de que ele não se
intrometa de modo algum, à maneira do homem moderno, e não traga para a leitura a
sua “formação”, algo como uma medida, como se com isso possuísse um critério para
todas as coisas. Desejamos que ele seja suficientemente formado para pensar em sua
formação de modo restrito e até desdenhoso. Então lhe seria permitido abandonar-se
com total confiança à condução do escritor que, justamente, só ousa falar do não-saber
e do saber do não-saber. Antes de tudo, o leitor não quer recorrer a nada além de um
sentimento forte e agitado do que é específico em nossa barbárie presente, daquilo que
nos distingue, como bárbaros do século vinte e um, diante de outros bárbaros. Assim,
com este livro na mão, ele procura os que são movidos por um sentimento semelhante.
Deixem-se encontrar, solidários, em cuja existência eu acredito! Perdidos de si
mesmos, que sofrem, em si mesmos, a dor da corrupção de uma alma brasileira...
Contemplativos, cujos olhos são incapazes de escorregar de uma superfície para a
outra com uma espiada cheia de pressa... Altivos, que Aristóteles celebra por
atravessarem a vida hesitando e sem ação, a não ser que uma grande missão e uma
grande obra os reclame... A vocês faço meu apelo. Não se escondam, só desta vez, na
caverna de sua reclusão e de sua desconfiança... Pensem que este livro é destinado a
ser arauto... Se vocês mesmos aparecerem no campo de batalha, em sua própria
armadura, quem ainda cobiçará olhar para o arauto que os convocou?...

Friedrich Nietzschei

Velas de Navegação Estética

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A pós-modernidade – o livro parte dessa concepção – é um fato. É um
fenômeno da cultura, não uma idéia, uma vanguarda, com a qual pretendem,
progressistas, liberais, ou revolucionários, modificar o mundo da arte ou da política.
Como fenômeno, a pós-modernidade compreende um espaço – e espaço ampliado –
em que se desenvolve, ou se retrai, uma multiplicidade incomensurável de
possibilidades artísticas, culturais, sociais, etc., que buscam fixar moradia, cada qual a
seu próprio modo, em um contexto de fragmentação de todas as utopias, ideologias,
escolas, absolutos de todo gênero.
De Platão a Marx, passando por Hegel, e a popularidade atual de Nietzsche bem
o comprova, o pensamento unívoco, a retórica da totalidade, a pregação do sistema
filosófico como justificador das ações e criações humanas desabaram por terra. A
cultura desmantelou-se, fragmentou-se, não como de ordinário vem se concebendo,
por uma ação desconstrutivista subjetiva, que se animasse ou se movimentasse pela
determinação consciente de pensadores, de artistas, de homens de cultura enfim. Isto é
apenas um dos seus efeitos. A Tecnologia, que retira do humano o domínio do Sistema
Ordenador da sociedade do século que ora se inicia – mas que ao mesmo tempo
concede amplas possibilidades de realização de desejos – é ela a força motriz desse
fenômeno.
Daí que se instauram, na nova sociedade desse início de milênio, novas divisões
e conflitos de classes não tanto econômicas, ao menos nas medidas até aqui
verificadas, mas em volta à produção e distribuição de poder, que antecede a produção
e distribuição de riqueza. Tanto no que concerne à dicotomia Velha Ordem/Velha
Economia versus Nova Ordem/Nova Economia, como aos múltiplos fragmentários
conflitos que se sucedem em progressão geométrica na base piramidal da sociedade:
tribo, “eu”, “outro”, são categorias que – e mesmo por conta de reformulação de
identidades, individuais e sociais – estão aí a exibir conflitos ao interior dos
microcosmos de poder como nunca dantes se conheceu. Trava-se, aos subterrâneos da
sociedade pós-moderna, batalhas cotidianas que, se nem a todos é dado ser sujeito, a
elas todos nós de um modo ou de outro nos sujeitamos.
Por outro lado, o desdobramento do Poder Cultural em Poder Social e
Econômico é novidade da pós-modernidade, que rompe definitivamente com a simples
equação Poder Econômico = Poder Social. Fragmentada a Cultura – fragmentado está
o Poder. Organizada a Cultura a partir de uma Lógica Informacional, duas são as
fontes de poder: informação e capacidade de gerenciamento informacional: ou seja, o
poder – e assim a cultura – vai se medindo por gigabites...
Das concepções humanistas, metafísicas – que justificavam a ciência por ela
mesma, e que centralizavam no Humano o seu desenvolvimento, no mais das vezes em
função de perspectivas éticas – à substituição do elemento científico nuclear, o saber,
pela informação, aprofunda e expande a divisão de trabalho iniciada com a revolução
industrial, no século XVIII, alterando substancialmente o conceito de ciência e, com
isso, os seus elementos orbitais: ciência, na pós-modernidade, é informação-
fragmento, com valor de uso e, conseqüentemente, com valor de troca. De um saber
filosófico, metafísico, que elevava o humano aos mais nobres ideais, eis que a ciência
se transforma em mercadoria. Ao centro, a mãe de todas as ciências, a Informática,
dado que é esta que lida com a informação, ainda em seus primeiros albores. Nesse

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processo, a informação passa a criar uma linguagem própria (com uma concepção
lingüística a que se tem dado pouca atenção nesses seus primeiros vagidos), uma
metodologia a ela apropriada, e uma objetivação do pensamento – e da arte – de modo
a configurar o mundo, o humano e todas as suas ações e relações, como um sistema
computacional, em que tudo se faz traduzir por bits, uma moeda de troca
informacional, que exprime valor e substância útil. Ou seja, tudo se reduz, ou é
redutível, à linguagem de um sistema que opera à revelia do humano, e que, em nome
do indivíduo, em tudo a este reduz em humanidade.
A antiga divisão de trabalho, articulada às mais modernas concepções de sua
especialização – é conclusão até bastante natural – força uma fragmentação não apenas
do pensamento e da atividade artística (imaginário), mas da própria relação social. A
atividade acadêmica – é claro – segue os passos da sociedade do seu tempo. Morre o
antigo catedrático, o clínico-geral do Saber; pululam os mestres do pequeno
conhecimento, aceita-se a ignorância das causas se resultam bem sabidos os efeitos
parciais de um pequeno fragmento-causa sobre um dado espaço-fragmento do saber
informacional. A desconexão cultural entre os partícipes da atividade intelectual é
então conseqüência que de ordinário se impõe. Saber mais do que o seu espaço-
fragmento exige é avançar fronteiras bem demarcadas pela boa gestão dessa nova
mercadoria, caracterizada como bit-informação, expressão pós-moderna para uma
nova moeda de troca, e que se localiza no centro nuclear de todo o conjunto de itens
econômicos (consumo) que pressupõem valor de uso.
As informações, elevadas ao patamar superior da ciência, coroadas ao centro da
criação, manejadas segundo a racionalidade de um sistema avesso às inutilidades (e
que acabam, afinal, por negá-la em sua essência), transitam pelo sistema operacional
de um ciberespaço absolutamente livre de compromissos umas com as outras senão na
temporalidade e no dado espaço em que se fazem necessárias, no momento mesmo em
que são convocadas a exibirem seu valor de uso. Corta-se aqui de um texto, cola-se
acolá, em um outro – que jamais seriam supose to de se unirem umas, desunirem
outras – fragmentos que se encontram e se desencontram na exata medida de sua
utilização no efeito desejado. Se há um saber do sistema, este não pertence ao campo
das concepções humanas: que cada um saiba apenas o que lhe cabe, segundo a sua
especialização, é condição necessária à paz social, ao progresso, e à harmonia
informática. Contribua cada qual com seus fragmentos, e se fará feliz o mundo...

Em contrapartida, fragmenta-se a personalidade individual nos tantos cotidianos


exercícios de fragmentação a que os indivíduos se obrigam no (s) mundo (s) em que se
inserem. E a tecnologia, nisso, não desaponta: oferece permanentemente a cada faceta
fragmentada da personalidade, os seus brinquedos. Da indústria de entretenimento aos
eletrodomésticos, do acesso aos fragmentos culturais – o que possibilita a todos um
nível básico democrático de cultura, no sentido mass-media de pulverização de uma
antiga, e decadente, erudição – até ao consumo inocente de pornografia (o sexo
utilitário, matéria-prima industrial, modo de produção que se articula à vontade de
poder, à vontade de prazer, que se articulam ao desejo de consumir seja lá o que for), a
individualidade se amplia em exercícios fragmentários de existências, partícipes de
histórias das humanidades, livres de compromissos com uma História-modelo, com
uma História da Espécie Humana, seja com o belo, seja com a idéia.

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O indivíduo humano, o “eu” pluralizado pelas múltiplas personas sociais que a
ampliação fragmentária de utilização tecnológica lhe põe ao alcance e disposição pela
Máquina/Sistema, acaba por desenvolver nesse “eu” antes unívoco, e singular em cada
qual, uma extraordinária capacidade de exercitar-se em tantas múltiplas personas, até
originariamente contraditórias, tornando o paradoxo um modo natural de estar no
mundo. Muito mais importante, a capacidade de ampliar em muitos modos o ver, o
crer e o saber, a realidade do mundo em que se insere. E daí, por conseguinte, a
capacidade de ampliar o imaginário, social e individual, em muitos modos de
imaginar.
Na pós-modernidade toda informação é útil – importa apenas utilizá-la a tempo
e espaço que não se lhe deixe perder a inalienável liberdade de associação e/ou de
desassociação, onde seu único requisito de existência a conduza: seu valor de uso.
Informação, bit computacional, fragmento, indivíduo são, na pós-modernidade,
parentes de uma mesma família: importa seu valor utilitário e sua liberdade de ir e vir,
de permanecer fragmento, indivíduo, informação, bit computacional: dependentes
apenas da necessidade, sempre passageira, em exprimir-se como valor de uso,
mercadoria, enfim.
Mas é evidente que esta é uma das faces da moeda: pois a ampliação do espaço
em que transitam, pela pluralização desses todos fragmentos, acabam por produzir –
por movimento motor posto em funcionamento – um afastamento progressivo dos seus
antigos centros, de tal modo que acaso e imaginário passam a ter um papel
extremamente relevante para a ampliação das possibilidades, de um lado, de satisfação
de desejos; de outro, de utilização de cada potencial informacional.
A vida social rompe – definitivamente, talvez – com a estática das relações
humanas, do “eu” com o “outro”, tanto quanto do “eu” com os “outros”, aos muitos
modos desse “eu”, como ainda do múltiplo “eu” com cada qual dos múltiplos “outros”.
A vida cultural, por conseguinte, não pode ser vista e vivida senão como processo,
como um fluir, como uma fruição. E a literatura, a arte em geral, se necessita manter-se
articulada à vida e à cultura, não o será senão como procedimento, como modo
processual/procedimental de ler, escrever e pensar o mundo.
Pois é justo através de procedimentos que a arte une e desune fragmentos no
desiderato de construção do in-construído, de criação do in-criado. Procedimento é
ação, não revelação do existente; procedimento é criação, construção do inexistente.
Ou seja, lá se foi o tempo de se revelar – fragmento a fragmento – o puzzle da
existência em qualquer nível: é a hora do mosaico tipo lego, em que a peça-fragmento
a que por necessidade se unirá outra peça-fragmento, via acaso, via imaginário, criam
a figura – em permanente devir – a que o antigo puzzle fazia estática, imutável, dotada
de generalidade e coerção social. É hora, pois, de a Literatura voltar-se à autêntica
liberdade de criar – e abandonar tanto a obrigação de criar (vanguarda) quanto o medo
de criar (tradição). A Poesia deve voltar ao comando das coisas.

A proposta de autor busca trabalhar, portanto, esses diversos plurais,


fragmentários/elementos da pós-modernidade, a partir da única estética possível de
fazê-lo – a que possui as mesmas características do objeto analisado: fragmento,
informação, individuação, imaginário, muitos modos de ver, a presença da máquina,
etc., a partir de identificação de elementos anteriores à eclosão desse fenômeno que, se

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não lhe deram causa direta, pontuam, com indubitável intensidade, cada qual em seu
aspecto próprio, todo um percorrer de trilhas que desembocaram, como uma vasta rede
pluvial, no oceano da pós-modernidade.
Alguns fragmentos são em si, metodológicos; são – eles mesmos – velas de
navegação necessárias a singrar os mares da estética fragmentarista, aos ventos – ora
calmos, ora nervosos – da pós-modernidade. Cabe ao leitor içá-las, ou recolhê-las, ao
sabor das próprias ítacas, ao prazer das próprias penélopes.
A linguagem imagética, a confundir signo e símbolo – e que, por linguagem,
autoriza arriscar dizer das possibilidades futuras da lingüística em recuperar o espaço
que se vai lentamente perdendo à semiologia – vai se tornando elemento comum de
diálogo e de compreensão de um mundo antes feito só à mão dos conceitos verbais. O
livro, na aceitação da imagem como uma especificidade, em seus discursos cotidianos,
da pós-modernidade, como um elemento que se desdobra para além da antiga
simbologia, busca – e ao entremear a textualidade fragmentária com imagens comuns
ao discurso que se desenvolve a partir de uma recepção também fragmentária –
estabelecer modos plurais de recepção, que possam como lego/fragmentos –
lego/palavras e lego/imagens, lego/conceitos – construir, em decorrência específica a
esse procedimento, muitos modos de ler, qual seja, afinal, a base que se acredita de
cristalina compreensão do que seja esse fenômeno denominado pós-modernismo.
Não há, na convicção do autor, outra maneira de coletar elementos/fragmentos
teóricos para a construção de discursos – e quanto mais polifônicos melhor – que
tratem da pós-modernidade para muito além das meras posições contra/a favor/mais
ou menos com que muitos autores, mercê de um discurso unívoco, que parte do
princípio de que se fala o que se sabe, obrigam-se a falar de um fenômeno do qual
ainda muito pouco se sabe, como se sabido fosse.
Não pode ser outro o caminho retórico, e estético, não podem ser outros os
elementos de análise, não pode ser outra a atitude do que pretende examinar a pós-
modernidade: trazer à baila tudo o que com ela se relaciona, e deixar – pois é assim
mesmo o seu modo próprio de animar a sua fragmentária composição – que cada
necessidade de utilização dê o valor de uso que cada fragmento merecer; que cada
acaso acontecido aos imaginários de quem avança nos textos, imagens e entre-textos,
possa resultar em qualquer interessante e bela união entre os fragmentos desses legos,
que será sempre individual, de cada leitor, singular, e que mesmo jamais se repetirá em
outras leituras.
Como resulta compreensível do que se anotou quanto à natureza processual da
existência fragmentária, das uniões e desuniões entre fragmentos, toda essa
movimentação se dá por idas e vindas, tanto por linhas como por espirais, retas e
curvas, dribles e chutes a gol, defesas, enfim, em tantas formulações geométricas
quantas as possibilidades de uso os convidarem.
A investigação, pois, não poderia adotar outro procedimento: como realizar
uma narrativa só linear, na construção de uma teoria pré-concebida, quando o que se
busca é conhecer o desconhecido, quando se busca criar novos espaços teóricos para
um fenômeno que não resulta diretamente de uma idealização de vanguarda, mas de
toda uma pluralidade de concepções de ver o mundo, que ao longo dos séculos vêm
despontando aqui e ali, se acumulando ao longo de gerações, até a sua eclosão
barulhenta nesses inícios de milênio? Realizar a retórica da univocidade é evadir-se – e

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não importa quantos elementos descritivos se colecione, nem quanto de contestação se
acumule contra a prática da pós-modernidade – é arredar-se, como num jogo de quente
e frio, é gelar as possibilidades de conhecer, e fazer conhecer, um pouco mais disso
que a cada dia parece tornar-se ainda muito maior que nós todos.
Por ser um mosaico em lego, que se constrói ainda com o imaginário, a
transmitir uma linguagem sub/supra jacente ao texto, a provocar uma amplitude de
pensamento que livre das amarras de uma só textualização, muitos fragmentos pegarão
de surpresa o leitor. Mas o efeito, inclusive estético, que se busca, quando obtido,
certamente o recompensará. Por outro lado, uma linguagem subjetiva própria às
textualizações escolhidas (procedimental/e do imaginário), obriga cada fragmento a
aguardar sua vez de entrar em cena, não sendo de aceitar-se a imposição desse fato
como decorrência de opção obrigatória por apenas um dos muitos possíveis
casamentos lógicos de causa e efeito, quando o que se pretende é justo obter-se o
efeito (inclusive, mas não só, estético) que possibilite ao leitor criar os seus próprios
liames, dar a cada fragmento escolhido o valor de uso que ele mesmo lhe atribuir: pois
é este um dos modos preferenciais do sistema próprio à pós-modernidade que se
assiste, segundo a utilização informacional esboçada acima, e que se reflete – a olhos
vistos – na vida cotidiana de cada um de nós.
Dadas as claras concepções esboçadas no texto, espera-se resulte pacífico que
não move o autor qualquer pretensão de vanguarda teórica da literatura, da arte, ou da
cultura, pois que mero coletor de elementos, um servente em seu carrinho de mão, a
reunir tantos materiais quanto úteis aos que, por competência e talento que lhes sejam
próprios, estejam aptos à construção dos respectivos prédios teóricos.
Se algum mérito este livro pretende atribuir-se é o de valorização do espaço
poético como elemento de solução, ou, ao menos, de alívio, para as mazelas e tensões,
inclusive teóricas, que estão a nos deixar inseguros no dia-a-dia dessa pós-
modernidade que, com aspecto de moda passageira, vai a cada espasmo ocupando
maior espaço nas práticas e nas histórias das artes e das literaturas, das ciências e das
culturas, das nossas próprias vidas cotidianas. E, no entanto, sendo o humano um
animal poético – confissão de fé no seu ofício – o autor faz-se parceiro e amigo da
pós-modernidade em busca dos mistérios da sua poesia.
Sobre as concepções poéticas que o livro anuncia, ainda fragmentariamente,
têm a única finalidade de ajudar o leitor, e nisso se faz epistemologia, e epistemologia
única e necessária aos fenômenos intelectivos e sensíveis que possibilita – embora aqui
e ali se avance por soluções de efeito estético, tanto quanto a convidar o leitor à
parceria do texto silencioso – o acesso àquela parte do texto em que, e aqui se trata de
profunda convicção do autor, em verdade se encontrará A Poesia; pois que seja esse
texto teórico tal qual o texto poético: não o reduto, forma ou essência, do que seja a
poesia; mas a ela o seu convite.

Os perigos da pós-modernidade, que nos vem assombrando a todos, ainda mais


nos angustiam porque ela trava seus combates mais acirrados no espaço poético da
sensibilidade e do imaginário, espaço próprio aos campos de Orfeu e das Nove Musas,
e aos modos de transformá-los em cyberespaços de indivíduos reduzidos a bits
informáticos ou, quem sabe, baterias de energia, tal qual em Matrix, o filme. Só a

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Poética, no que ela se identifica com a infinitude, poderá nos iluminar a vencer essas
novíssimas dificuldades.

De resto, como é próprio aos mosaicos feitos de peças de lego, o objeto de


contemplação se encontra sempre mais para lá... O que se oferece é a exploração
desses fragmentos da pós-modernidade, de modo a enfrentar as dificuldades criadas
pelas suas práticas de pluralidade fragmentária, com as grandiosidades todas,
possibilitadas justamente pelo exercício consciente dessas práticas de pluralidade
fragmentária.
Mas uma poiética da pluralidade fragmentária só se aprecia, e aproveita, os seus
eventuais méritos, no seu exercitamento, na fecunda parceria de fragmentos por vezes
tão díspares; ou, como já se disse acima, not supose to... dialogarem. Este, quando se
consiga o resultado desejado, será o maior mérito do livro. Mérito maior do leitor que
avançar daí.

Até pode ser que ao final de cada leitura, por cada leitor, os fragmentos se
deixem ordenar, classificar, que sempre o será aos modos fragmentários que os
motivou e que, sobretudo, lhes serviu de estrutura estético-literária. Afinal, a proposta
basilar do autor é – em essência e aparência, motivação e exercício – a apresentação de
uma estrutura textual, contextualizada e contextualizante, de natureza estético-literária.

E como as próprias Histórias da Humanidade, desconhecendo de onde viemos e


para onde vamos, corajosamente suspensos na assustadora corda cósmica sem
princípio ou fim, este livro trabalha com a perspectiva, ainda fragmentarista, de que o
texto próprio à pós-modernidade é sempre to be continued...

FRAGMENTOS PÓS-MODERNOS
(uma poética da pós-modernidade)

I celebrate myself,
And what I assume you shall assume,
For every atom belonging to me as good belongs to you.

[Walt Whitman, 1855]

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...pós-modernos, fragmentados e fragmentários...

...carnavalizados...

[René Magritte,1989]

...O Homem é Um Animal Poético...


No ofício de recolher, cada qual, nossos próprios fragmentos, e sabendo-nos estrelas
de uma escuridão ancestral, temos fé e imaginação... Se nos reunimos em constelações
humanas, se nos damos outros nomes, nômades, às nossas tantas tribos (ainda)
primitivas, em igual já sabemos que algumas estrelas do céu logo se apagarão... Em
igual, alguns dos nossos brilhos se apagam... Por que seguir recolhendo,
melancolicamente, fiapos de luz, enquanto, éons em nós, novas estrelas já anunciam a
vez de nascer?

Aos escuros dos entre luzes, há mais claridade. Aguardando que nossos modos de ver
se apercebam... Que toda luz é sempre um fragmento de luz...

...O Homem é Um Animal Poético...


.

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Há uma novíssima safra literária (romances, novelas, ensaios, hipertextos, poemas,
líricas & músicas, filmes, vídeo-clips, etc.) da Pós-Modernidade, ligada à Nova
Economia, vale dizer, à Nova Tecnologia, motor disso que chamam Globalização
(ainda em estado de globalizamento), que estão, por inclusão do elemento virtual, a
aproximar realidade e ficção, confundindo-as, desordenando as cartas desses dois
baralhos (e afinal parecem ainda tão idênticos os signos...)...

[The Wachovski Brothers, 2000]

... Que está a provocar que não mais se identifique qual a origem da informação
transmitida à zona central do cérebro, se real se imaginária, qual dos lados deverá
processá-la... Sim, isso é um perigo...

Uma transação acelerada entre os dois gomos do cérebro pode significar, a uma, que
assim estamos ampliando o uso da nossa capacidade cerebral para além dos usuais 5%;
a duas, que – e isso seja como for ocorrerá – o humano está a transcender o humano...

…going back to the monkey, going to destruction, ou back/going to the


future, to the superman, uma espécie de nietzsche movido a tecnologia
fragmentariamente dispersa?…

A sociedade humana desses inícios do século XXI nos aponta para realidades
fragmentárias – o humano disperso em tantos outros humanos desiguais...

Na pós-modernidade temos um quadro ampliado de realidades obscuras que só uma


apreensão a passos livres, e por particularidades, parece indicar-nos as possibilidades
de ampla apreensão cognitivaii. Tanto no campo das ciências quanto no das artes...

…backing to the pré-socratic times: backing to the postfuture?…


Impactos tais que os das imagens de aviões de passageiros sendo lançados, por
guerrilheiros do arcaico, contra as torres do World Trade Center, no imaginário
ocidental, obrigarão à plena aceitação de uma unicidade maniqueísta, que já se ia aos
seus estertores – em direção aos tempos postmatrix?

O mundo, a natureza, a cultura, nós mesmos, individualmente considerados, somos


entes ficcionais, somos o fruto privilegiado das nossas mais ousadas ficções: a

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construção do humano e de tudo o que humanamente nos cerca... O espaço infinito em
que transitamos, espaço em permanente devir, é o espaço do humano...

Sendo o humano que constrói A Totalidade um humano ficcional, qualquer totalidade


nascerá, manter-se-á e resultará sempre em ficção...

A construção de uma Totalidade é a vontade máxima de poder no humano...

iii

Sendo o espaço da ficção um espaço humano em permanente devir, portanto


necessariamente fragmentário quando flagrado em estática parcialidade, resulta daí
que somos sempre em estado de fragmento – particularidades múltiplas reunidas em
totalidades ficcionais e em permanente estado de movimentação...

A retórica da totalidade, ou integralidade, será sempre uma retórica de ordenação de


fragmentos... Mera ordenação ficcional de fragmentos fictícios – por um ser
ficcionalmente estabelecido – eis o que é a retórica da unicidade...

O século XXI, com a pós-modernidade, se inicia com o reconhecimento dessas


ficções, dessas fragmentariedades, ora em dispersão... Sim, tal os átomos em
dispersão...

...tudo o que é sólido desmancha no ar...iv

A compreensão de que os pensamentos, fruto da vida material, se agrupam como


Ideologia, engendrando sistemas de idéias dominantes, e daí ao fim do mito iluminista
da neutralidade científica, foi só um pequeno passo para o pensamento dos séculos
XIX e XX, mas um passo gigantesco para a cultura ocidental desde que um platonismo

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unívoco (embora Sócrates) enterrou o sonho pré-socrático das várias perspectivas
(fragmentárias) do mundo...

[Capa: Eunice Duarte, 1969]

Foi a compreensão da natureza ideológica das idéias que desvelou a farsa da reta razão
do mundo – razão humana, bem entendido – segundo a qual as civilizações e com elas
as organizações sociais possam refletir a Idéia, o Absoluto, em todo o seu esplendor,
como resultado das boas ações humanas, especialmente dos seus governantes: de que
nos bastaria traduzir materialmente os processos ideais de relações sociais para
chegarmos à sociedade perfeita...

Isto significou também o fim de todas as utopias...

Este fim da utopia, ou seja, a recusa das idéias e das teorias que ainda
se serviam de utopias para indicar determinadas possibilidades histórico-
sociais, podemos hoje concebê-lo, em termos bastante precisos, também como
fim da história; isto é, no sentido (e este é precisamente o tema sobre o qual os
convido a discutir) de que as novas possibilidades de uma sociedade humana e
de seu ambiente não podem mais ser imaginadas como prolongamento das
velhas, nem tampouco serem pensadas no mesmo continuum histórico (com o
qual, ao contrário, pressupõem uma ruptura)...v

Utopia é idéia absoluta e absolutista, e jamais construída por uma razão neutra: é um
elemento de limitação do pensamento e das ações humanas; de estagnação da
criatividade; de favorecimento daqueles que em seu nome determinam os rumos da
cultura, justificados por arbitrários “fundamentos” das organizações sociais...

A descoberta do funcionamento da ideologia, por Marx e Nietzsche, um tanto


incipiente no século XIX, em face das análises d’O Capital e d’A Vontade de Poder
(e das proposições políticas dos socialismos e seus contrapontos) é entre todas essas, e
mesmo contra estas, a de maior relevância filosófica, pois é justamente essa reflexão

14
que vai transformar o pensamento do mundo ocidental no sentido de liberação das
consciências para uma série de formulações ditas modernas, até às pós-modernas, que
só seriam possíveis com o desmantelamento do aparato ideológico, em todos os níveis,
que pesava sobre os indivíduos como sendo As Verdades Absolutas e Suas
Distorções... Em conseqüência, estavam soltas as peias dos Imaginários...

I don’t care
what they say
I won’t stay
In a world without love vi

Tanto Marx quanto Nietzsche estavam por demais convicto do atomismo de


Demócrito, segundo o qual, no mundo, todas as coisas são combinações de átomos
que se movem no vazio, em obediência à dura necessidade (elemento comum ao homo
economicus e à fatalidade, à vontade de poder)... E foi essa noção de necessidade
material que, de um lado, propiciou nossa percepção de que todo pensamento é
pensamento necessário à vida material, e, de outro, o de que seria a organização das
necessidades que levaria o humano à utópica sociedade sem classes...

O problema é que de qualquer organização das necessidades sempre resulta, por


conseqüência mesmo dessa organização – hoje bem o compreendemos – novas
necessidades, em novos pensamentos a serem organizados, em eterno devir de
organizações, em sempre reciclado absolutismo filosófico, ou: O Sorriso de Hegel...

[Gerome Ragni, Jim Rado&Galt MacDermont, Hair, 1979]

15
Toda utopia, por seu racionalismo exacerbado, por dogmático e não crítico, de que
resulta jamais se colocar em dúvida, produz intolerância...

A utopia, como modelo de construção de um futuro melhor, sacrifica uma geração de


humanos por outra, sucessiva e permanentemente, de modo que condena todas ao
infortúnio e à infelicidade... vii

Por que, porém, foi escolhida a história do poder, e não, por


exemplo, a da religião, a da poesia?...
É que os homens são inclinados a adorar o poder. Mas não pode
haver dúvida de que a adoração do poder é uma das piores espécies de
idolatrias humanas, uma relíquia dos tempos da jaula, da servidão humana...
A adoração do poder nasceu do medo...viii

A ação política não deve ser revolucionária, não deve visar à reconstrução total da
sociedade, de resto imprevisível; deve resultar de paulatinas transformações de suas
partes...ix

Curiosamente, se a interpretação marxista do mundo e suas propostas políticas


reduziram-se ao mesmo absolutismo filosófico, o próprio embate ideológico que se
sucedeu acabou por laborar no sentido da morte de todas as ideologias, como
instituidoras de verdades absolutas...

O modo moderno de pensar do século XX já compreendia, dir-se-ia talvez melhor,


ainda aceitava, que a organização social e, conseqüentemente, a formalização da
cultura que lhe é própria, estava intimamente vinculada ao exercício do poder
institucionalizado, poder apropriado, material e ideologicamente, ao conjunto dos
indivíduos que compõe a sociedade humana. E que a cultura de um povo, a
organização da cultura desse povo, seus cânones e suas relações culturais, suas
invenções e respectiva aceitação ou repúdio estivessem, é claro, em razão direta desse
poder socialmente organizado... O pós-modernismo é o fenômeno que decorre da
paulatina liberação de amarras tais que essas à afirmação de culturas tribais e mesmo
individuais...

16
[Capa: Equipe Hemus, 1976]

A compreensão dialética, desde Heráclito e Hegel, até Marx, ganha em Nietzsche sua
dimensão mais aperfeiçoada, verdadeiro coup de grâce nas idealizações utópicas: o
humano é um processo, um permanente caminhar para o além-do-humano...
À noção marxista de que vivemos a pré-história da humanidade Nietzsche contrapõe,
aperfeiçoando-a, a conclusão de que a cultura - como conseqüência dos que a fazem -
ainda é humana, demasiada humana... no mesmo sentido do que, talvez, dirá um
filósofo do futuro da cultura dos super-homens, que já estão a caminho: super-humana,
demasiado super-humana...

*
A ordem de desenvolvimento dos pensamentos, em que se funda a crítica de Popper,
desde os de Hegel aos de Marx, e que se inicia em Platão, o primeiro inimigo da
sociedade aberta popperiana, é justamente o sentido de uma ordenação dos modos de
ver e saber da comunidade humana, ordenação essa que se coloca a partir de uma
unidade lógica em direção a uma totalidade (ou integralidade)...

A formação fragmentária do pensamento pré-socrático, como parte do confederalismo


grego, e de sua democracia, em que o sentido do mundo se construía a partir das
individualidades, em contraposição ao pensamento romano de exaltação da
nacionalidade e da cidadania, ou seja, do indivíduo como um ser agregado ao Estado,
o modo clássico grego de ver o mundo possibilitava a percepção inequívoca de
variadas verdades, como fragmentos de uma verdade maior, de uma totalidade
sempre inatingível, de apreensão retórica, portanto, impossível...

Desde o atomismo de Demócrito, como na compreensão do movimento, de processo


em Heráclito, mas especialmente na idéia de αταραξια, a tranqüilidade da alma
atingível apenas por uma consciência profunda de ser, enquanto indivíduo

17
absolutamente livre e independente, na convicção de que os átomos também se movem
por contingência da vontade: linha de pensamento que Nietzsche retomará para
formular sua idéia primeira de fatalidade – a mesma necessidade de Demócrito
(superável pela pulsão – vontade de poder em Nietzsche/ princípio do prazer em
Freud) – que Marx absorveu...

Comparando a filosofia da natureza de Epicuro com a filosofia da


natureza de Demócrito, Marx reconhece que na base de ambas se encontram os
mesmos princípios: no mundo todas as coisas são combinações variadas de
átomos que se movem no vazio...x

...e que Lênin desdenhou...

Toda a sociedade será um único escritório e uma única fábrica, com


igualdade de trabalho e igualdade de salário... Pois quando todos tiverem
aprendido a administrar e administrarem de fato autonomamente a produção
social, realizarem autonomamente o registro e o controlo sobre os parasitas, os
fidalgotes, os vigaristas e os outros “depositários das tradições do
capitalismo”... A necessidade de observar as regras simples, fundamentais, de
toda a convivência humana se tornará muito depressa um hábito...xi

A liberdade não é conceito oposto, mas articulado à necessidade...


A liberdade é o motor da vida, é a inteligência que a engendra, condição essencial de
toda coisa viva...
Pois é com ela, a liberdade – agindo sobre e de acordo à necessidade, que os átomos se
reúnem em seres vivos e os aperfeiçoam...

*
No sentido de liberdade (relações necessidade/pulsão/vontade), e não apenas nesse,
o fragmentarismo da pós-modernidade vem a ser uma (ainda claudicante) retomada
dos modos pré-socráticos de saber e de viver o mundo: a possibilidade de apreensão,
diálogo e aceitação a partir dos muitos modos de ver, ler e saber a realidade do
mundo...

Se no princípio era O Verbo, linguagem divina, universal, linguagem de uma


cosmológica metainteligência, O Verbo fez-se carne humana, e do verbo-carne a carne
(matéria) fez-se linguagem humana, e da linguagem humana fez-se a cultura humana...

18
O Universo é, ao menos para nós humanos, a máxima expressão material pensável
d’O Verbo, ponto convergente do sagrado e do profano, fiéis, agnósticos, e ateus...

Não importa sob quais proposições pensemos ou expliquemos o Universo Infinito e


Misterioso: só com o verbo se o fará, numa cultura em que a tradição se impõe pela
palavra...

A natureza ficcional da cultura se realiza a partir da linguagem, do discurso verbal,


primária (oral, escrito, gestual) ou secundariamente, por transliteração (musical e

19
imagética), modo privilegiado de transmissão de experiências e conhecimentos,
tradição e tradução cultural...

A fala iletrada favorecera o discurso descritivo da ação; a pós-letrada


alterou o equilíbrio a favor da reflexão. A sintaxe do grego começou a adaptar-
se a uma possibilidade crescente de enunciar proposições, em lugar de
descrever eventos. Este foi o traço fundamental do legado do alfabeto à cultura
pós-alfabética.
Uma conclusão tão radical é de molde a enfrentar resistências em três
diferentes níveis. Ela propõe que tanto a lei como a ética, tais como hoje as
entendemos, querendo dizer estruturas verbalizadas que definem princípios e
descrevem suas aplicações, vieram à existência como resultado de uma
mudança na tecnologia da comunicação. Aquilo que as precedeu era da ordem
da praxe, mas que do âmbito dos princípios; incorporava-se em forma de
hábito social e se comemorava por meio da fala ritmada. As sociedades pré-
alfabéticas não eram imorais, mas, no sentido conceitual, eram amorais. Os
filósofos moralistas por certo não vão apreciar uma tal conclusão – nem a
subseqüente, de que a filosofia, como uma disciplina intelectual, é uma
invenção pós-alfabética: em suma, a conclusão de que muito da história da
chamada filosofia grega dos primórdios não é uma história de sistemas de
pensamento e sim a de uma busca de uma linguagem fundamental em que
algum sistema pudesse exprimir-se. Os idealistas tampouco acharão fácil
conciliar-se com uma interpretação histórica a qual, de fato, não apenas
afirma que “o meio é a mensagem”, isto é, o conteúdo do que se comunica é
regido pela tecnologia utilizada, mas também assevera que essa mesma
tecnologia pode ter uma função causal na determinação do modo como
pensamos...xii

20
xiii

Assim como o verbo humano não se esgotou nos sons e nas imagens primitivas,
também não se esgota na escrita conceitual: o verbo humano encontra-se em
permanente devir de linguagens...

*
Em Assim falou Zaratrusta – especialmente, pois que isso ocorre ao longo de toda a
obra de Nietzsche, a dicotomia arte-filosofia é neutralizada pelo projeto de fazer da
poesia o meio de apresentação de um pensamento filosófico não conceitual e não
demonstrativo... Um pensamento emancipado, portanto, da razão...
Assim falou Zaratrusta é um livro daquele e para aquele que, “onde
pode adivinhar, detesta inferir”, daquele e para aquele que pensa ter pouco
valor o que precisa ser provado, daquele e para aquele que admira a potência
do “grande estilo”: “a potência que não tem mais necessidade de prova, que
desdenha agradar, que dificilmente dá resposta, que não sente testemunhas por
perto, que vive sem se dar conta de que existe oposição a ela, que repousa em
si, fatalista, uma lei entre leis”...
Com sua forma poético-dramática, Zaratrusta é a realização do projeto
wagneriano, tal como Nietzsche o havia interpretado no primeiro período de
sua filosofia, ou, mais precisamente, aparece em continuidade com o que
Nietzsche dizia, em Richard Wagner em Bayreuth, sobre o modo como Wagner
lida com a música e o mito...
Tal como pensa Nietzsche nessa época, a missão singular de Wagner
teria sido reintroduzir o mito no mundo e libertar a música enfeitiçada, fazê-la
falar, através de sua força dramática...
O gênio poético de Wagner está no fato de ele pensar por
acontecimentos visíveis e sensíveis, e não por conceitos, isto é, em pensar por
mitos, que exprimem uma representação do mundo por uma série de fatos, de
atos...
Sentindo que o primeiro perigo, quando os heróis e deuses dos dramas
tivessem de se exprimir por palavras, era que essa linguagem verbal
despertasse o homem teórico, Wagner forçou a linguagem a voltar a seu estado
de origem, em que ela não pensa por conceitos, em que ela ainda é poesia,
imagem, sentimento...

21
Em Assim falou Zaratrusta, a forma poética de filosofar tem como ápice
o eterno retorno, pensamento trágico que só pode ser adequadamente
enunciado através do canto, da palavra poética...xiv

*
O Eterno Retorno, a mais alta fórmula de afirmação até hoje atingidaxv tem como
forma de expressão poética o ditirambo dionisíaco (greco-latino) em que a palavra,
apolínea, se deixa vencer, por embriaguez, pela música dionisíaca...

Mas por que o Zaratrusta , um livro, seria música?...


Porque realiza o projeto nietzschiano de fazer a escrita atingir a
perfeição da música...
Música da qual Nietzsche disse um dia, aproximando-se de Wagner e de
Schopenhauer, ser arte superior: “Comparada com a música, toda
comunicação por palavras é vergonhosa; as palavras diluem e brutalizam; as
palavras despersonalizam; as palavras tornam o incomum comum”. xvi

Em Assim falou Zaratrusta, Nietzsche – Ecce Homo! – busca ir ainda mais longe do
que permite o uso dos seus ditirambos dionisíacos: Nietzsche busca realizar em livro
tal qual Wagner o fazia em ópera... O ditirambo sinfônico!...

Em minha hipótese, considerar o Zaratrusta canto significa dizer que


nele a palavra canta pela própria musicalidade da palavra...
Não será isso o que indica Ecce homo quando, ao dizer que o
Zaratrusta é música, explicita essa idéia – em um sentido que evidencia o
quanto Nietzsche já está distante do privilégio que Schopenhauer dá à música
em sentido estrito...
E da fundamentação metafísica que apresenta para isso, que
determinou a concepção de O nascimento da tragédia, afirmando que ele
implica o renascimento da arte de ouvir; que é a eloqüência tornada música...
Pelo retorno da linguagem à natureza da imagem?
E não estará essa idéia em continuidade com as afirmações de
Nietzsche de que escrever é dançar com a pena... ...De que o maior desejo de
um filósofo é ser um bom dançarino?...xvii

Daí porque a expressão: eu não creio em um Deus que não dança, refletindo uma
estratificação, uma formalização demasiada de Deus, que nos chega praticamente
incólume até os 60, quando o movimento hippie aproxima a divindade dialogando
com a fé a partir da idéia de paz e amor, na apologia da alegria de viver, da vida
em natureza, da autenticidade nas relações humanas...xviii

*
Matéria que ideologiza, matéria que engendra a sua própria superação, o humano
constrói sua cultura a partir de ficções que realiza, para si e para as suas relações

22
materiais de poder: com a natureza (interna e externa) e com os seus semelhantes
(natural e socialmente considerados)...

O humano, social e, portanto, culturalmente considerado, é, tanto em sua


individualidade quanto em sua dimensão cultural, uma ficção... Ou seja, psicológica e
socialmente construído, constituído, e a partir da sua natureza primária, por elementos
de natureza ficcional...

... O Homem é Um Animal Poético ... xix

Porque o humano é ficcional, assim se formam, em inquestionável decorrência, todas


as suas categorias institucionais: pessoalidade, sociabilidade, culturalidade, desde o
ser individual, ao ser social, ao ser econômico e ao ser político, e aos muitos possíveis
modos do seu ser literário...

Porque o humano é ficcional assim se define, por construção literária, sua própria
identidade, tanto individual, quanto natural e cultural...

Porque o humano se define por construção literária, assim também se define, ainda
por construção ficcional, toda a cultura em que se insere, como sujeito e objeto dessa
mesma cultura...

*
Ainda por construção literária se formam os Estados: ficções que se institucionalizam
a partir de si mesmas. O Estado nada mais é, pois, e também, uma ficção, (como, aliás,
estabelecido pela Arte do Direito, a saber, uma ficção, no âmbito desta, jurídica)...
Assim, por via de conseqüência lógica, as suas normas, normas jurídicas, por
derivarem de um Estado Ficção, pouco importando sua legitimidade, ou mesmo
legalidade, possuem natureza ficcional...
Daí que, para a sua correta hermenêutica, há sempre que considerar este aspecto, que é
da sua essência mesma, tanto na formulação de uma teoria geral quanto para sua
hermenêutica: como um modo de interpretação que se junta aos modos: literal,
gramatical, sistemático, teleológico e crítico, em autêntica interpretação ficcional –
interpretação literária – dos muitos modos do Direito...

O que se dizer então das demais ciências humanas?...


O que dizer então da Teoria Literária?...

...Para Bachelard existem três instâncias que, em seqüência, concorrem


para formar um saber disciplinar, isto é, oficializar, normatizar, tornar
discursivo um conhecimento: a impressão primeira, a geometrização e a
abstração... A primeira instância é a percepção sensorial, o contato primeiro
com o fenômeno, o momento em que o fato se revela, e apresenta-se como
interessante, passível de mensuração e/ou estudo. Nesse instante só se possui a

23
impressão do acontecimento... A instância segunda, denominada geométrica,
pode ser definida como o procedimento de organização racional de uma
primitiva ordenação casuística, caótica, fenomenológica: tornar Geométrica a
representação, isto é, delinear os fenômenos e ordenar em série os
acontecimentos decisivos de uma experiência. É a classificação, a medida
necessária para que se possa repetir, ou representar, artificialmente o
fenômeno. Dão-se nomes, medem-se os fenômenos, define-se o sistema. É a
instância descritiva... Mas essa geometrização aparente, com o tempo, torna-
se insuficiente, sendo necessário, pois, procurar o porquê, no nível abstrato: o
pensamento científico é então levado para construções mais metafóricas
que reais... É a libertação do saber discursivo; o escape das fórmulas pela
necessidade de se ir além da linguagem para só então retornar a ela. O nível
abstrato – entre-lugar imaginário – é detectado naquilo que modifica a
geometrização, que já então se mostra insuficiente. A pergunta de Bachelard é
a sua própria tese:” por que não considerar a abstração como o objetivo do
espírito científico?”.
...Todo saber adquirido é saber prestes a ser superado. O único estado
plausível é o da transformação do conhecimento: ninguém pode arrogar-se o
espírito científico enquanto não estiver seguro, em qualquer momento da
vida do pensamento, de reconstruir todo o próprio saber... Para a
reconstrução desse saber – fotografia de uma geometrização momentânea –
importa estabelecer uma psicologia do aprendizado científico, que implica, em
última instância, analisar a base afetiva da necessidade do conhecimento:
devemos levar em conta interesses diferentes que, de certa forma,
constituem-lhe a base afetiva.
...O não querer desfazer-se do conhecimento conquistado, a resistência à
transformação e à abstração, é definido como “obstáculo epistemológico”,
instinto conservativo de base afetiva. A psicanálise dos motivos instintivos e
irracionais é o processo de purificação espiritual que permite atingir o real
objeto científico – a abstração:

“psicanalizar o interesse, derrubar qualquer utilitarismo, por


mais disfarçado que seja, por mais elevado que se julgue, voltar o
espírito do real para o artificial, do natural para o humano, da
representação para a abstração (...) tornar claramente consciente e
ativo o prazer de estimulação espiritual na descoberta da verdade
(...) modelar o cérebro com a verdade (...). No estado de pureza
alcançado por uma psicanálise do conhecimento, a ciência é a
estética da inteligência”.

...Não tem interesse para a ciência uma experiência que confirma a


realidade: mas sim a que a desconfirma. A experiência científica é, portanto,
uma experiência que contradiz a experiência comum. A experiência comum
não é de fato construída... O conhecimento, portanto, caracteriza-se
justamente pela construção. Ele é edificado sobre outro conhecimento que ou
ampara o novo ou por ele é transformado:

24
...“quando o espírito se apresenta à cultura científica, nunca é
jovem. Aliás, é bem velho, porque tem a idade de seus preconceitos.
Aceder à ciência é rejuvenescer espiritualmente, é buscar uma
brusca mutação que contradiz o passado”...xx

*
O Cinema, ao comunicar por imagens, tenta criar uma outra linguagem, não
propriamente uma metalinguagem (senão como estágio primário de formação de sua
própria semântica, quem sabe uma sintaxe, quiçá uma gramática)...
Uma linguagem que busca ampliar, articulando linguagens com/para o visual,
pensado e comunicado, os horizontes de interpretação do mundo...

Tudo eleva a crer que o Verbo não esgotou, ainda, os seus mistérios...

Talvez não seja tão ousado (ou profano) dizer que a fragmentação, com suas muitas
linguagens (polifonia) é uma estratégia do Verbo e sua civilização...

*
Dada a necessidade de uma interpretação ficcional de todos os elementos da cultura,
temos que os discursos verbais correspondentes, não apenas a essa mesma
interpretação, como ainda à própria constituição do fenômeno cultural, forçoso
admitir, possuem, em sua natureza essencial discursiva, a qualidade de discurso
literário, ou seja, discurso apto à transmissão material, poética do pensamento,
tanto quanto à transmissão espiritual, poética do imaginário...

...O Homem é um Animal Poético...

El Correo Gallego / O Correo Galego


... a súa capacidade para artellar historias, perfectamente compatible co fragmentarismo
elusivo, máis denotativo que connotativo, das súas primeiras entregas ...
www.elcorreogallego.es/periodico/20010531/Revistas_das_Letras/ N38980.asp - 22k

Los Andes On Line


... incluso de autoría. Todos los lenguajes que tienen que ver con el fragmentarismo,
el minimalismo, la deconstrucción… Y aunque yo provengo de otra generación ...
www.losandes.com.ar/2001/0418/suplementos/cultura/nota21856_1.htm - 32k -

25
Quando se aponta a natureza ficcional da antropologia cultural, especialmente no que
respeita aos insuspeitos trabalhos de descrição etnográfica de uma dada cultura, de que
todas as descrições do tipo são meras interpretaçõesxxi, mais ou menos superficiais,
mais ou menos densas, está a se considerar o fato de que o intérprete realiza um
trabalho necessariamente ficcional/literário, e que, não por acaso, encontra na
imaginação o seu mais eficiente instrumento de aproximação com o real...

Quanto às diferenças existentes entre o discurso literário strictu sensu, e o discurso de


interpretação antropológica, ambos oriundos da imaginação, decorrem essas
diferenças muito mais por conta tanto das condições de suas respectivas criações, e
conseqüentemente dos muitos modos de olhar, enfoques de prismas (e, naturalmente,
engenho e arte), do que naquilo que poderiam divergir quanto a serem ambos
construtores de ficto, de serem ambos “fabricações” do real...

Literatura (estrito senso) e Antropologia, e pouco importa que cada qual à sua maneira,
discursos de interpretação do mundo, revelação ficcional do mundo humano já antes,
e pelo próprio humano, ficcionalmente constituído...

*
Não apenas todos os discursos possuem a mesma natureza ficcional, como também a
própria constituição da cultura pelos humanos que a integram, desde a sua origem, é
fruto de uma fabricatio humana, (interpretações ficcionais do mundo pelos nativos de
qualquer cultura)... mais ou menos superficiais, mais ou menos densas, de acordo com
o estágio de complexidade dessa cultura...

...O Mundo é sempre um mundo aos muitos modos da


Interpretação Humana...

...Viver – o humano – é viver interpretando...


...Viver – o humano – é viver interpretado...
O humano tudo fabrica, o humano por tudo é fabricado...

O humano é um processo, um processo literário (poético) de


interpretação permanente...
Os humanos são processos cotidianos de transformação das interpretações que não
tiveram um início, processos de transformação das interpretações que possivelmente
não terão um fim, e cujo escopo só pode ser – independentemente de isto ser possível
ou não – as infinitas interpretações do Verbo da Vida em direção aos muitos modos das
eternidades...

26
*
Cada interpretação cultural é sempre uma das possíveis interpretações ficcionais de
muitas interpretações anteriores, ainda ficcionais, do mundo; ficcionalmente
vivenciada por alguma dada comunidade humana, e a partir de ritos e signos
ficcionalmente instituídos, que possibilitam a sua singularização (aldeia ficcional) em
relação às demais, a saber, uma identidade humana (nacionalidade) também
ficcionalmente estabelecida...

Mesmo quando a arte é uma imitação (enquanto interpretação) da vida, a vida, tal
como os humanos a vivem, só é possível como uma imitação vivida, vívida,
discursiva, (e ainda enquanto interpretação) da arte (pré-verbal) de constituir ficções
sobre esta mesma vida...

...Toda A Arte, toda A Filosofia e toda A Ciência são


potências da Poesia...

O meu olhar é nítido como um girassol.


Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...xxii

A Poesia é o verdadeiro real absoluto. Isto é a essência da minha


filosofia. Quanto mais poético, mais verdadeiro...xxiii

A roda, que não existe na natureza, é tão fantástica quanto o


lobisomem... A magia é a potência da imaginação. Cria formas e imagens
não existentes. Estes seres podem ser centauros, hidras, sereias ou esfinges.
Mas também podem ser artefatos e máquinas, cujo modelo não se encontra
na realidade...xxiv

27
*
Tudo é interpretação: tudo nasce como imaginação, tudo se realiza como
ficção; tudo é, pois, antes, Poesia, depois, Literaturas...

Imaginação - é o que os tempos pós-modernos estão a exigir nesta virada de milênio


em que já se fabrica humanos e super-humanos ficcionais, tanto na possibilidade de
clonagem de seres humanos quanto, e principalmente, na construção de humanos
digitais, partícipes de uma humanidade virtual...

[Josef Rusnak e Ravel Centeno Rodriguez, 1999]

O cinema vem pouco a pouco se tornando o posto mais avançado de uma interpretação
literária da realidade humana – filmes que estão a desvelar, para um público cada vez
maior, as relações de poder a que se submetem os indivíduos em geral...

Filmes que apontam para novas reflexões a respeito da própria condição humana,
construindo novíssimas interpretações para conceitos tão ancestrais quanto, por
exemplo, o que seja alma, o que seja o corpo e seus sentidos, o que sejam o natural, o
real, o artificial, o imaginário, o que seja o humano, o que sejam o tempo e o que
seja o espaço...

Sob a alegoria fantástica de filmes como The Truman’s Show, Matrix, Being John
Malkovitch, The Thirteenth Floor, Artificial Inteligence, por exemplo, há toda uma
interpretação pós-moderna de mundo que, ao mesmo que contextualizá-los,
literaturizá-los segundo uma novíssima articulação de elementos tecnológicos e
existenciais da pós-modernidade, está a construir novos modos de ver, ler, crer e saber
o humano e seu mundo relacionados ao processo pós-moderno de fabricação de novos
fictos culturais, e que está a exprimir uma realidade pós-tecnológica divinizada, que
tenta responder às problematizações geradas pela inserção do humano em um mundo
de infinitas possibilidades tecnológicas, humanidade pouco a pouco submetida ao

28
deus Virtualis, senhor absoluto de um universo virtual, para muito além de todos os
big brothers que afligiam a modernidade...

Pois agora não se trata mais da simples inserção de máquinas primitivas num mundo
humano, até então apenas moderno... Mas da adaptação progressiva da mente
humana aos reclamos da perfeição virtual, num pós-racionalismo, num pós-
iluminismo, que faz o panoptikon de Benthamxxv, nos parecer jogo de amarelinha...

[Giorgio de Chirico, Família do pintor, 1926]

Filmes como Show de Truman, Clube da Luta, Quero Ser John Malkovich, 13o. Andar,
Magnólia e entre nós, Cronicamente Inviável, são filmes nitidamente pós-modernos,
no sentido de que apresentam a crítica, tanto temática quanto estética, de uma
sociedade humana organizada sob um olhar unívoco, e por isso totalizador, numa ótica
piramidal unitária do mundo, como ainda porque propõem, através de uma releitura da
condição humana, um modus de olhar que convida o humano a superar as misérias e os
conflitos que vem se acirrando nesses tempos pós-modernos...

Exercícios da imaginação tecnológica, o hipertexto, e sua principal reflexão – a ainda


incipiente web-literatura – são desdobramentos necessários de uma reconstrução
fragmentária do mundo que, no bojo da pós-modernidade, busca uma ampliação das
possibilidades humanas, tanto nas artes quanto nas ciências, na medida em que
pluraliza as possibilidades de manifestação, criação e comunicação, dos muitos modos
de ver existentes na cultura...

29
*

Não há mais como tentar recuperar um Humanismo fundando-se na idéia de


Humanidade, em seu sentido de categoria absoluta, como referencial mistificador de
uma unidade essencial de toda a espécie humana (como se possível um sistema de
essências universais redutor das contingências diversificadas)... Já vimos que essa e
qualquer outra unidade essencial absoluta, por sua natureza – sempre ficcional, já
suficientemente esclarecido – são próprias às ideologias que as animam...
...Talvez até se possa, ou se deva, aqui e ali, aceitar o humanismo – termo e conceito –,
aos apelos da boa fé, no sentido que lhe deram Marleau-Ponty e outros, um
humanismo que ainda ofereça espaço para a resistência à opressão e uma necessária
recomendação de tolerância, compreensão e generosidadexxvi, enquanto um dos
conceitos passíveis de contraposição à brutalidade escravocrata, dos que atentam
contra a liberdade e a dignidade de cada qual de todos os indivíduos, na aceitação dos
muitos modos de saber e viver, já se contrapondo à sua apropriação por eventuais
grupos de poder...

Quando, na pós-modernidade, se fala em Humanidade, fala-se das Humanidades,


fala-se dos humanos em construção, do humano plural, do humano liberto das amarras
do (s) outro (s), um humano que é ainda e sempre seu próprio outro...

A Poesia e a Literatura são as fontes primordiais da nossa


humanidade e da nossa civilização. Deverão regê-las
também...
Talvez mesmo se possa falar de um humano pós-histórico, um humano em processo de
superação para um além-do-humano a-histórico, ao qual deverá ceder seu antigo
lugar...

Talvez até mesmo, e assim como o próprio deus nietzschiano esteja nietzschianamente
morto, o humano, também nietzschianamente considerado, já o esteja; e o que vemos
seja apenas o reflexo de estrelas que já cederam seu brilho ao caos...

30
Talvez, na pós-modernidade, black super-men já estejam a caminho, como na cena
final de Matrix, o filme...

xxvii

A palavra “super-homem” para designar um tipo de suprema


perfeição em contraste com homens “modernos”, com homens “bons”,
com cristãos e demais nihilistas; uma palavra que, na boca de
Zaratrusta, aniquilador da moral, dá muito que pensar, foi quase só
entendida, por todos os lados, com suma ingenuidade, no sentido
daqueles valores cujo contrário foi justamente revelado na figura de
Zaratrusta: isto é, como tipo “idealístico” de uma espécie superior de
homens, meio santos, meio gênios...xxviii

Como se prestou, essa concepção de super-homem em Nietzsche, a tantos distintos


papéis! De ícone nazista a homem de aço, um superman mantenedor da ordem social,
a alegoria é apropriada agora, em Matrix, como desmistificador dessa mesma ordem
social, e mesmo seu algoz: herói da superação de um estágio de submissão, como um
ícone de liberdade e plenitude, para uma possível livre existência pós-tecnológica...

Matrix sugere que a ordem social até o advento da pós-modernidade, idade crítica da
idade anterior (e alguém já definiu a pós-modernidade como um conflito de gerações),
seja a mesma que a da sua ficção, criada como metáfora crítica aos sistemas sociais
unívocos, que mantêm os indivíduos escravizados aos seus interesses de auto-
alimentação... Nesse diapasão a queda da Matrix seria uma metáfora da festejada
desconstrução que muitos consideram a própria definição da pós-modernidade...

Talvez o reino da liberdade, o reino do super-homem nietzschiano seja exatamente


deixar-se ser, o humano – super-humano – ser só poético...

*
O escritor analítico observa o leitor, como ele é; a partir disso faz seu
cálculo e ajusta a máquina, para produzir nele o efeito correspondente. O
escritor sintético constrói e produz para si um leitor, como ele deveria ser, não
o pensa morto e inerte, mas vivo e reagente. Faz com que aquilo que inventou
lhe surja gradualmente ante os olhos, ou o seduz para que ele mesmo o invente.

31
Não quer produzir sobre o leitor nenhum efeito determinado, mas estabelece
com ele o sagrado relacionamento da mais íntima sinfilosofia ou simpoesia...xxix

*
Se com as palavras é que explicamos o mundo, e ainda com elas é que sabemos o que
se passa nesse mundo, jamais vencemos a distância que separa esse saber, por mais
completo e complexo que se faça, do simples ato de ver, ou seja, entre um
conhecimento científico, que se estabelece pelo conceito, e o conhecimento sensível,
desse mundo que se expõe, e se impõe, a todos nós, sem que dele possamos nem nos
alienar nem apreender em sua/nossa plenitude cognitiva...

xxx

O modo como vemos todas as coisas, e assim as pessoas, tanto no mundo da natureza
quanto no da sociedade, sempre guarda estreita relação seja com aquilo que pensamos
que sabemos, seja com aquilo que pensamos que acreditamos...

*
Se a Literatura busca revelar, desvelar, explicar, enfim, narrar e interpretar o mundo,
através das palavras, proporcionando-nos assim o progressivo conhecimento desse
mundo, o texto cinematográfico busca expandir essas narrativas e interpretações ao
lugar dos sentidos contidos nessas mesmas narrações e interpretações, demonstrando-
as sensivelmente. Assim fazendo o cinema busca, então, reduzir a distância entre
conhecimento conceitual e conhecimento factual...

O cinema não apenas transmite a realidade textual de que se origina, mas – e é o que
lhe proporciona estabelecer-se a si mesmo como um novo texto em igual original – o
cinema cria os seus próprios modos de narrar e interpretar o mundoxxxi.

32
Conseqüentemente, cria também seus próprios modos de ser visto, de ser lido,
correspondentes a esses modos próprios de narrativa e interpretação...

Os modos de ver tanto a vida quanto o filme, os modos de ler tanto o livro quanto o
filme, não escapam ao fato inarredável de que tudo o que vemos está ligado ao que
sabemos ou ao que acreditamos, ou seja, às nossas ciências ou às nossas crenças.
Portanto, esses modos de ler o filme possuem a sua especificidade decorrente de ser
uma narrativa correspondente a uma interpretação original do mundo, com sua pletora
de signos, seu modus faciendi específico, e a especificidade dos saberes e crenças de
cada um dos que o lêem, dos que o vêem...

Claro está que, se os modos de ver o mundo encontram-se em relação direta com os
saberes e os credos de cada qual, em igual medida encontram-se os seus diversos
modos de fazer o mundo, aos modos próprios de cada qual...

Os modos de fazer o livro/filme/quadro não escapam aos respectivos modos de ver o


mundo, em maior ou menor medida, de acordo com o poder de cada qual em impor à
obra seu modo próprio de ver, desde seus autores/roteiristas, editores/produtores,
diretores, atores, cinegrafistas, o público a que se dirigem, as instituições, e assim por
diante...

Se o modo como vemos as coisas, as pessoas e os fatos da vida decorre do sistema de


conhecimento e de crenças em cada indivíduo, assim como de uma dada cultura, há
ainda um terceiro elemento que constitui o nosso modo próprio de ver: a
imaginação...

Embora o imaginário, a fantasia, o sonho, qualidades da imaginação, ainda careçam


de muitas explicações, oscilando a sua compreensão em meio a uma diversidade de
outros fatores, dos quais dependeria, negando-lhes, portanto, condição autônoma
(percebidos como, por exemplo, um meio para a perfeição, ou de contrariedade à
ordem das coisas, ou ainda como invenção ou inspiração, ou mesmo como mera
expressão de desejos reprimidos), fato é que, ao menos no que concerne aos modos de
ver, a imaginação se constitui em elemento de formação desses muitos modos de ver o
mundo, desses muitos modos de fazer o mundo, desses muitos modos de ler o mundo
assim na literatura (arte literária strictu sensu), como no cinema, na pintura, etc.
Os modos como vemos as coisas, as pessoas, os fatos do mundo, decorrem do que
sabemos, do que cremos e do que imaginamos...

A imaginação sugere uma mediação entre o que sabemos que é e o que acreditamos
que seja, que possa ser ou vir a ser...

Embora eventualmente a imaginação possa identificar-se com o saber e o crer, ela


normalmente deve a sua existência a um estado intermediário, entre o que
chamamos de ficção e o que se impõe como realidade, que nos proporciona,
desigualmente, em função apenas de cada qual de nós, muitos determinados e pessoais
modos de ver: a saber, o fato de que possuímos, cada qual de nós, em maior ou menor

33
grau, aqui não importa, nossos próprios e pessoais modos de imaginar, de fantasiar, de
sonhar, que nos modifica inteiramente, de uns a outros, singularizando-nos (e aos
outros), em conseqüência das infinitas possibilidades de articulação desses
infinitos modos de ver o mundo...

[René Magritte, A chave dos Sonhos, 1997]

Os muitos modos de ver o mundo, toda leitura, toda interpretação do mundo, ciências
e crenças, decorrem dos caracteres ideológicos adquiridos no embate sócio-cultural; a
imaginação, sendo infensa às diversas realidades do mundo, talvez seja justamente
aquela condição do humano que mais diretamente venha a refletir aquilo que
chamamos de livre arbítrio, que mais intrinsecamente venha a constituir-se em
exercício de todas as liberdades humanas, como origem primeira de toda a condição
de liberdade...

[Pink Floyd, The Dark Side Of The Moon,1973]

A verdadeira aceitação, assim como as rupturas e rasuras das realidades naturais e


sociais de que o humano participa, só se tornam possíveis a partir do livre exercício da
imaginação...

34
Só no terreno do imaginário é que nos reconhecemos
livres, que nos sabemos livres, que nos cremos
livres... Só no imaginário é que podemos transitar
inteiramente livres...

[Capa: Rogério Méier, 1989]

O saber se inicia pela Poesia, visto ser o modo poético do humano o que lida com a
matéria do imaginário, da intuição vital, lida com o pré e o meta verbal, com os
infinitos silenciosos, lida com os espaços vazios do conhecer...

A Poesia possui dupla linguagem... A linguagem escrita, que nos proporciona as


chaves para o portal do conhecimento vital intuitivo; e a linguagem própria à
substância incogniscível, do imaginário, correspondente a esse vital intuitivo... A
linguagem secreta do humano cosmológico, do humano que se considera à imagem e
semelhança da energia criadora de todas as coisas...

Um novo saber, seja místico, científico ou estético, nasce, sempre e necessariamente,


das lidas do humano com os espaços vazios dos entretextos, das inter-letras, das
entrelinhas, dos entretantos, das pausas entre os discursos todos, tanto os discursos das
coisas, os discursos materiais, quanto os discursos dos humanos, os discursos verbais...

*
A aventura poética, a exploração dos espaços vazios da realidade tem muito da
compreensão da relevância dos espaços vazios entre os átomosxxxii na formação da
matéria...

35
Uma diferença profunda, porém, separa os atomistas de todos os
filósofos gregos anteriores e posteriores. Que diferença é esta? Entre um
átomo e outro, há o vazio ou o vácuo, que é o não-ser como algo real,
existente. Assim, pela primeira vez, um grego, admitindo o vácuo, afirma que
o espaço é real sem ser corporal. Dessa maneira, será mais correto dizer que
para os atomistas a phýsis são os átomos e o vácuo. O pleno (o
átomo) e o vazio são os princípios constitutivos de todas as
coisas...xxxiii

*
Necessidade ou casualidade , o que importa mesmo é (mesmo antes que as
xxxiv

motivações) o fato de que a união dos átomos não elimina a ausência de matéria nos
entre textos da organização material...
Mas não serão os entre textos os próprios mentores da organização dos átomos?... Ou
seja, não se encontrarão exatamente neles o que chamamos de energia espiritual
criadora?
Se Deus está em todas as coisas observáveis, com muito mais razão não nos parece
estar naquelas infinitas imensidões não observáveis? Esta é a razão porque a fé não se
explica... Pois fé é poesia, é ler em uma linguagem meta-imaginária, que só se permite
revelar aos olhos de ler nos espaços invisíveis, inaudíveis, de quem se permite aceitar
os alfas e os ômegas da infinitude poética...

A fé é a mais perfeita leitura da mais perfeita linguagem poética...

*
A intuição, chave primeira do portal da imaginação, nasce lá fora, nos espaços vazios,
vazios apenas porque não-observáveis, vazios apenas porque plenos de uma linguagem
imaterial, pré-verbal...

A intuição nasce do encontro da energia criadora, antes e para além de nós, com a
energia vital em nós... Aquela energia vital concentrada no âmago do que percebemos
como o mais profundo mistério da existência, o mistério da vida... E é nesses
encontros que residem tanto a matéria da poesia, quanto a poesia da matéria... Tanto
quanto o mistério de toda a poesia, que sempre está muito mais allá...

Enfim vamos percebendo que o humano além-do-humano é a prova


literária mais que perfeita de que o humano é um animal poético...

Não é senão pela capacidade, a saber, capacidade poética, de intuir, imaginar, fantasiar,
pela capacidade de lidar com os “espaços vazios” do imaterial, de exercer a liberdade
como potência criadora do universo, que se constrói, ou se reconstrói, o humano, a
natureza, as civilizações, a própria humanidade...

36
EXTREMO
Ultrapassei o teus limites, última
testemunha da noite, quintessência
dos nomes e das cores, desespero
dos espaços vazios incendiados
pelos longos janeiros que articulas
na penugem dos pêssegos.

Sou límpido
e táctil como um vaso destilado
da vida, nesta margem, neste extremo
que busca o manancial inesgotável
e derradeiro.xxxv

É da intuição, não da razão, que nasce toda a nossa noção, pública ou particular, do
que seja a autêntica liberdade...
Liberdade, liberdade: cuja essência está na natureza, em toda a vida, que age, como
Bergsonxxxvi apontou, como potência psíquica criadora, não apenas em nós, mas em
todo um universo que existe em permanente processo de ser, sendo... Tão livre quanto
imprevisível...

*
A máxima aristotélica segundo a qual o homem é um animal político não diferencia
ainda o humano das demais espécies animais: mesmo um símio e um golfinho são
animais políticos... Afinal, a seu modo, que espécie não age e não se organiza e não se
situa como “polis”, o bando (tal qual tribo), politicamente? A polis humana avança
pelo exercício do imaginário para além de si mesma... A polis humana se constrói e as
suas maiores conquistas materiais pelo exercício da poesia...

É a visão poética do mundo, uma visão aberta do fenômeno humano tanto quanto da
sua cultura e da sua sociedade (por conseguinte, de sua arte e da sua ciência), que nos
proporcionou avançar por terrenos inexplorados até o século XX...

É a compreensão de que todos os avanços humanos de até então ocorreram no


preenchimento dos espaços vazios do imaginário presentes na tessitura e/ou
textualidade das culturas humanas, e que resultaram em ampliação proporcional dessa
mesma tessitura e/ou textualidade...

*
O pós-modernismo, e seu método privilegiado de exploração de possibilidades – o
fragmentarismo, resulta justamente de um reconhecimento das infinitas ordens de

37
idéias presentes nos entretextos e nos entre-tecidos sociais/culturais, ainda
inexplorados, ainda desconhecidos de um mundo que se impôs construtivista só a
partir dos tecidos e textos já postos na cultura (fosse para negá-los, fosse para afirmá-
los) em função de ideologias dominantes ou em processo para a dominação...

A exploração dos espaços vazios intertexto/tessitura do silêncio, a abordagem poética,


que liga, pelo imaginárioxxxvii, os diversos fragmentos do textualmente/tessituramente
conhecidos, proporciona uma comunicação entre esses fragmentos de modo a não
apenas afirmá-los como unidades verdadeiras, mas, muito especialmente, compreender
a unidade totalizada como algo feito tanto de texto/tecido quanto de espaço
imaginário, sendo esta unidade percebida como uma realidade infinita, que em si
humanamente inesgotável, e de impossível apreensão/compreensão se não comunicada
por ótica e linguagem do imaginário em parceria com aquela de representação
conceitual...

...O pensamento é, por natureza, livre; e só


o grau de imaginário nele contido é capaz
de atestar a sua idoneidade...
...Tudo o mais são sombras de platônicas cavernas...

Talvez eu escreva, em parte, para preencher com outros sonhos aquele


espaço destinado a Deus, que se esvaziou (dentro de mim), porque esse espaço
é, afinal, um espaço para sonhar...xxxviii

38
*
O fragmentarismo, que nos pré-socráticos pressupunha uma apreensão da realidade
(material, ética e estética) do mundo, por passos e por partes, dado o reconhecimento
da impossível apreensão in totum, esta que própria ao pensamento teológico (crença), é
o modo que proporciona estranhamentos, ou noções de vazio, que obrigam o
observador/leitor ao exercício ativo da razão/imaginação à maior apreensão da
realidade material, científica e, particularmente, artística.

Compor por fragmentos é acentuar o conteúdo onírico do mundo material,


possibilitando o conhecimento ou a contemplação para além do que o só texto
anuncia... É insistir no fato de que toda realidade, científica ou artística, é passível
de textualização, não apenas pela descrição e pelo conceito, mas, sobretudo, pela
imaginação, através de um diálogo e uma linguagem que lhe são próprios...

*
É possível textualizar o não-textualizável... simplesmente convidando o
leitor/observador à leitura dos espaços vazios entre(inter)textos... É o que se obtém
quando se constrói uma disposição fragmentária de intertextos...

[Capa: Ulisses Wensell, 1975]

Numa etapa da civilização em que amiúde se flagra o fato de que tudo, mesmo em
nome de categorias platônicas ou aristotélicas, se reduz ao λογος sofista (ρετορικο
ς), o fragmentarismo retoma a noção de verdade na contra-face do discurso retilíneo,
no ponto de convergência entre o real e o ideal, entre discurso e materialidade, só
accessível pela via do imaginário, por suas possibilidades de apreender, a um só
tempo, a parte (o texto) e o todo (o inter-texto), a linha e a entrelinha, o múltiplo e o
unívoco possíveis...

39
*
No fragmentarismo idéia e realidade se conciliam no discurso, na constituição de uma
linguagem que as convida permanentemente ao diálogo, como um modo pós-
moderno de retomada do conceito de verdade...

xxxix

*
A julgar do que nos restou salvo da violência das univocidades ao longo dos primeiros
séculos da era cristã, talvez a primeira obra literária de natureza fragmentarista,
retomando a perspectiva da pluralidade, ironizando as verdades unívocas, mantendo-se
firme e fiel à visão pré-socrática do mundo, tenha sido os Diálogos dos Mortos, a
sátira menipéia de Lukiano de Samósata (séc. II d. C.; depois Luciano, pelos
romanos... xl)...

Fragmentarista heróico, em plena era de consolidação da univocidade romana,


Lukiano de Samósata, um grego sob o Império Romano, ironiza os próceres da
Unidade Grega, ao tempo em que os declara, satiricamente, mortos, talvez no sentido
da inutilidade dos seus galardões, talvez por conta da decadência do Estado Grego...

É pelo recolhimento dos seus despojos fragmentários que Lukiano de Samósata


monta a sua sátira; pela abolição das noções de tempo e de espaço, prática bem de
acordo à percepção e à textualização fragmentaristas; é pela sua despreocupação em
formatar seu discurso ao gosto das explicações retilíneas de racionalização simplória; é
pela convicção pessoal de que realmente fazia literatura independentemente dos
padrões canônicos de época; é pelo modo fragmentarista de colecionar experiências a

40
construir um texto em que a lógica do real ficcional (imaginação) se sobrepõe à lógica
do ficcional real (ideologia)...xli

xlii

Em forma e conteúdo os Diálogos dos Mortos, ultrapassando as eras, se contata à pós-


modernidade como um vaticínio (de vate) literário, como a mostrar que em toda a
literatura, em toda a obra de arte, é a poesia, o poeta (de profeta) que permanece no
etéreo eterno a aguardar tempos cada vez mais plenos de compreensão...

Em Lukiano de Samósata, o que menos importa para a análise da linhagem estética,


que nos ajuda a esclarecer as nebulosas perspectivas da pós-modernidade, é seu óbvio
parentesco com os temas da Divina Comédia, de Dante; ou como inaugurador de um
dialogismo, de um múltiplo dialogal, que só em Dostoievski, com seu romance
polifônico, irá se aprimorar e transformar em modelo estéticoxliii; ou mesmo seu
aprimoramento, ou sua referência para aquilo que, presente até hoje em textos dos
mais diversos gêneros literários, denominou-se de sátira menipéia, denominação que
se deve a Menipo de Gádara [séc. II a.C.]; ou mesmo os ensinamentos técnicos (na
linha dos modos socráticos) de construção dialogal presente em seus textos...

O importante em Lukiano de Samósata é sua natureza fragmentarista, presente no


discurso que só se apresenta visível em sua grandeza quando visto sob essa
perspectiva, sob uma perspectiva para além da “facilidade textual” com que renegam,
os próceres da linearidade, os textos só aparentemente “fáceis” da atualidade pós-
moderna...

O importante em Lukiano, como em toda textualização fragmentária, é a sua retórica


do silêncio, no caso, contraposta ao riso (o riso amargo da comédia), o silêncio que se
lê com as lentes do imaginário, leitura de linhas e entrelinhas...

41
...Não se pode deixar de conectar a sátira menopéia à cosmovisão carnavalesca na
literatura, nas propostas de Bakhtin quanto ao romance polifônico de Dostoievski xliv,
estendendo ambas, menipéia e carnavalização aos exercícios – arte e cultura – da pós-
modernidade...

A Menipéia e a carnavalização, atravessando a Idade Média, impõe-se no


Renascimento, e chega à era moderna com Dostoievski em sua máxima expressão,
atravessando toda a modernidade, desde Mário de Andrade, em Macunaíma, aos
realismos fantásticos como Incidente em Antares, de Érico Veríssimo, e bem presente
ao longo de toda obra de Jorge Amado...

[Capa: Vera Café, 1997]

A carnavalização permite a Dostoievski ver e mostrar momentos


do caráter e do comportamento das pessoas que não poderiam revelar-se no
curso normal da vida. É especialmente profunda a carnavalização do caráter
de Fomá Fomítch: este já não coincide consigo mesmo, já não é igual a si
mesmo, não lhe cabe uma definição unívoca e conclusiva, ele antecipa em
grande medida os futuros heróis de Dostoievski...xlv

Na pós-modernidade a carnavalização se torna parte integrante da vida social quanto


da arte e da cultura, como um forte elemento – e muito especialmente – das práticas
brasileiras, gerando inclusive o termo brasileiração para designar, entre povos do
primeiro mundo, um tipo carnavalizado de tratar os temas políticos, econômicos e
culturaisxlvi...

A carnavalização acirra-se na pós-modernidade... xlvii

...A carnavalização é um dos fundamentos da pós-modernidade...


...Muito especialmente da macunaímica vocação brasileira para tudo aquilo que
atualmente se junta e anima sob a rubrica satírica dos pós-modernismos...

42
A idéia de carnavalização, que Bakhtin apresentaria em seu livro Problemas da
Poética de Dostoiévski, já se exibia, também mercê da cultura brasileira, no poema
Bacanal, de Manuel Bandeira, que abre o seu livro Carnaval, exibindo o poder de
antecipação de conceitos teóricos da poesia brasileiraxlviii, o que levou Gilberto
Mendonça Teles a afirmar, peremptoriamente, ter sido Manuel Bandeira um
precursor dessa idéia de carnavalizaçãoxlix... De fato, em que pesem as considerações
de ordem puramente teórica de Bakhtin, os elementos do conceito já estavam bem
firmes na literatura brasileira da fase heróica do nosso modernismo, tal qual se
observa, por exemplo, nos losangos coloridos à arlequim da capa do livro Paulicea
Desvairada de Mario de Andrade... Note-se a correlação de idéias do desvairismo de
Mariol com o Bacanal de Bandeira...

li

Porque é mesmo que a idéia de carnaval/carnavalização, algo tão próprio às raízes, à


alma e aos modos de ser brasileiro, poderiam deixar de ser anunciado a priori pela
poesia brasileira?... Se o Brasil era o país do carnaval, era o país da carnavalização
dionisíaca...

BACANAL
Quero beber! cantar asneiras
No esto brutal das bebedeiras
Que tudo emborca e faz em caco...
Evoé Baco!

Lá se me parte a alma levada


No torvelim da mascarada,
A gargalhar em doudo assomo...
Evoé Momo!

43
Lacem-na toda, multicores,
As serpentinas dos amores,
Cobras de lívidos venenos...
Evoé Vênus!

Se perguntarem: Que mais queres,


Além de versos e mulheres?...
– Vinhos!... o vinho que é o meu fraco!...
Evoé Baco!

O alfanje rútilo da lua,


Por degolar a nuca nua
Que me alucina e que eu não domo!
Evoé Momo!

A Lira etérea, a grande Lira!...


Por que eu extático desfira
Em seu louvor versos obscenos.
Evoé Vênus! lii

[Terry Gilliam, Tom Stoppard, Charles McKown, Brazil,o filme,1985]

*
O inter (ou entre, prefira-se) texto, o espaço vazio entre as textualidades aponta para a
existência do nada, tal qual o pressupunham alguns dos pré-socráticos, e, muito
especialmente, que é no espaço vazio que se encontra, à plenitude poética, a verdade
textual...

Em realidade, porém, nada sabemos, pois no abismo está a verdade...liii

44
Um turbilhão de todos os tipos de formas separou-se do Todo...liv

[Sem indicação de capista]

O nada existe tanto quanto o “alguma coisa”... lv

A palavra é o meio do Espírito para multiplicar-se no Nada...lvi

45
46
lvii

A leitura de espaços vazios, a leitura poética, o intertexto, o entrelinhas, enfim, a


leitura do texto fragmentário corresponde ao conteúdo metafísico das palavras gregas
πιστις (boa-fé de quem tem olhos de ver e ouvidos de ouvir – o meta-texto) e αληθ
ης (as verdades ocultas – no texto), também presente no Novo Testamento
(repreensão de Jesus aos escribas e fariseus que exaltavam a literalidade – dos textos
sagrados).

A textualização fragmentária convida a uma compreensão poética, a par e para além,


da apreensão material e conceitual da obra, incentivando o leitor/observador a buscar
as verdades para além da só literalidade, a fim de compreendê-las como fruto de um
conjunto de discursos, como a resultante de uma pluralidade de afirmativas, as quais,
reduzidas a uma retórica unívoca, sempre restam submersas...

*
O texto fragmentariamente realizado tem como corolário a possibilidade de
contemplar várias vozes textuais, tanto quanto vários olhos de leitura, abordando o
objeto de um ponto de vista prismático, obrigando-se, tanto autor quanto leitor, à
compreensão do fato de que nenhum texto pressupõe verdade unívoca, mas uma

47
pluralidade de verdades, algumas inaccessíveis, bem como atentos para o fato de que
há muitos modos de ver e ler o mesmo fato, o mesmo objeto, o mesmo fenômeno...

[Capa: Claudia Zarvos. Foto: Márcia Ramalho, 2000]

De autores soberanos e leitores subservientes ao texto, numa relação monologal que


muitas vezes impede o prazer da leitura, um conjunto de fragmentos permite que se
formem múltiplas parcerias com leitores da mais variada perspectiva intelectual, que
no jogo lúdico de aceitar ou repelir esta ou aquela formação textual, de refletir ponto a
ponto em busca de uma inteireza que se encontra sempre mais para lá, propiciando
tornarem-se também autores, que se aliam a outros textos, como leitores que
participam de outros textos, fragmentários ou não, como co-autores, na medida em que
sabem navegar pelos espaços vazios dos entre-textos, dos entre-livros, das todas entre-
literaturas…

Se qualquer fragmento pode eventualmente conter fragmentos de


verdade, é no entre-texto que esses fragmentos, essas verdades
eventuais, se exibem, como fragmentos correspondentes aos
muitos modos de ver e ler e saber, como verdades fragmentárias, e
se aperfeiçoam no espírito do leitor, que apreende texto e contexto,
e que assim aprende a navegar os oceanos invisíveis da infinitude
imaginária...

*
O método fragmentarista também é um modo de conhecimento do mundo tanto quanto
de cada indivíduo... Nesse sentido, é também um método de ensino e de
autodidatismo... Com certeza, o modo mais leve e mais prazeroso de o aluno
manifestar seus conhecimentos, e buscar outros, com a mesma naturalidade que tem ao
brincar…

48
Tome cada qual de um caderno e vá-se registrando o dia a dia de seus pensamentos,
das suas leituras, cada qual das idéias que ex-surgem das reflexões ou falas de cada
qual, e se terá, seis meses a um ano após, uma radiografia intelectual/sensitiva, e
mesmo emocional da individualidade, ponto de partida para uma reflexão aprofundada
a partir de si mesmo, para sua própria revisão de conceitos, para o desenvolvimento de
suas capacidades, e para a ultrapassagem de idéias que não lhe aproveitam, de
preconceitos e reações pavlovianas que lhe obstaculizam o aprendizado de si e do
mundo...

Que se exercite o método fragmentarista durante o ano letivo dos alunos, e que se
questione às provas finais não o que o aluno sabe sobre tal e qual ponto do programa,
mas que se dê a ele a oportunidade de mostrar, fragmentariamente o que sabe… Pois é
mais que óbvio que o interesse despertado sobre tais e quais aspectos disciplinares, e a
gratificação do seus esforços – em nada importa a medida – se articulará diretamente à
gratificação da sua individualidade…

Só o interesse, que se articula à necessidade e à vontade, forma alunos livres para


o aprendizado teórico de si e do mundo que lhe cerca…

*
A só aparente facilidade do texto fragmentado, a que aludem seguidamente os críticos
da pós-modernidade, resulta apenas da dificuldade desses mesmos críticos em lidarem
com as autênticas relações de semelhança... O discurso fragmentado busca realizar,
literária, estética, retórica e textualmente, a semelhança entre verbo e vida... O grau de
aparente veracidade do discurso unívoco nada mais é que fruto de uma reprodução de
relações artificiais de similitude que, sob a capa de absoluta correspondência
igualitária, em verdade oculta o permanente deslocar-se, vida e mundo, entre os muitos
modos de saber, ver, viver, verbalizar...

*
Se, de um lado, é bastante comum em nome da pós-modernidade (e do texto
fragmentário) a utilização fácil de conceitos, que transitam superficialmente por tudo
sem nenhuma contribuição efetiva, na crítica de um Giddenslviii, por exemplo, por
outro lado é nítida a ampliação de fronteiras teóricas, a ampliação do diálogo e,
sobretudo na abordagem empírica, a ampliação do divertimento que – basta ver o seu
aproveitamento pela mídia – tudo isso a que chamam pós-modernidade vem
causando…
Para a Literatura, a pós-modernidade – e et pour cause – o fragmentarismo,
alarga sobremaneira as fronteiras da sua soberania…

49
O fragmentarismo possibilita – e mesmo exige – uma atividade dialogal, de expansão
polifônica, entre concepções até antagônicas, muitas vezes constituindo alianças
paradoxais entre uma pluralidade de modos de ver e saber o mundo, que acaba por
proporcionar aos leitores um encontro com verdades teóricas, às vezes até comezinhas,
que só fragmentariamente podem se constituir...

A contribuição do fragmentarismo para a democratização dos discursos (polifonia) e


para a aceitação do outro (relativização), é uma contribuição para o desenvolvimento
da boa-vontade existencial…

Não há porque distinguir, para os mochos fins a que se propõem os céticos, entre a
superficialidade de práticas ditas pós-modernas e as todas superficialidades de antigas
práticas ditas modernas... É a mesma fenomenologia, que dispensa em ambas maiores
esclarecimentos...

É difícil compreender como um homem (Herder, 1744) capaz de


escrever quarenta volumes de trabalhos diversos, todos faiscantes de talento e
ciência, não teria a capacidade precisa para compor uns oito ou dez
volumaços sobre uma só matéria, dentro de uma só ordem de idéias...

A pretendida virtude do que se poderia chamar integralismo literário,


não fala sempre em favor de quem a possue...

Diz muito bem Heinrich Landsmann: ...quanto maior é o gênio, tanto


mais sensível se lhe torna o que há de fragmentário na natureza humana,
que muitas vezes não chega à consciência de uma criatura vulgar: motivo
porque semelhantes entes não podem propriamente chamar-se naturezas
incompletas...

A inteligência comum sabe arranjar comodamente o mundo por todos


os lados, até onde sente o prazer ou a necessidade de ter uma compreensão do
mundo, mas sem dúvida só – até onde!... Quando pois esta inteligência
doméstica e cotidiana mete-se a fazer obras de arte, a mediocridade mostra-se
então expedita, e a mediocridade é sempre larga e inteira, nunca
fragmentária...lix

*
Quando João Gilberto Noll afirmou, por exemplo, que não consegue deter-se a ver
um filme com muita historinha, está a discorrer sobre uma necessidade típica da
leitura pós-moderna: a presença de uma fragmentação que abra a percepção para além
do texto unívoco... Sem, no entanto, é claro, cair no conto do vigário de um
dinamismo superficial que ele considera típico de thrillers, do mero congestionamento
da ação, preferindo, pois, certos esboços que não levam a nada...

50
João Gilberto Noll sugere que se desconstrua a narrativa de histórias mais ou
menos contínuas para a composição de seqüências dispersas de cenas estáticas,
destinadas a induzir nos leitores um “êxtase”, pelo qual, mesmo por um pequeno
instante, exponha o fundo escuro” lx (prefiro chamá-lo chiaroscuro)...

...”Para que mais e mais maneiras de externar a mesma merda se o


mundo carece não de uma linguagem mas de um fato tão ostensivo na sua
crueza que nos cegue nos silencie e nos liberte da tortura da expressão, é isso,
pronto!”... lxi

*
São fundamentos da escrita fragmentária:

A apresentação aberta de fenômenos para os quais ainda se tem pouca compreensão,


na medida em que os conhecimentos já postos são insuficientes ao convencimento do
espírito – medida de cada qual, naturalmente...

A apresentação linear dos fenômenos muitas vezes escamoteia, em sua univocidade,


algumas das verdades neles contidas, por isso que impedem a ampliação da
consciência na medida em que embaraça a atividade especulativalxii...

A provocação de estados imaginativos que levem à percepção ou compreensão dos


fenômenos para além da sua mera tessitura conceitual, desconstruindo uma pretensa
unidade histórica (de puzzle a lego) com o fim de alcançar-lhes as “kundalínicas”
energias constitutivas...

A ampliação da apreensão de uma realidade (científica ou artística) que jamais se


desnuda por completo no discurso textual, mas que se oculta, misteriosamente, nos
espaços vazios inter-textos, sempre só passível de relativa apreensão, via imaginário...

O estabelecimento, tanto quanto possível, de um discurso prismático, que contemple


os muitos modos de ver e ler a realidade humana e/ou natural (artística e/ou
cientificamente colocada)...

O desnudamento do fato poético sempre presente em qualquer realidade, mormente a


textual, independentemente da sua forma e de seu conteúdo...

A compreensão de que qualquer totalidade é uma totalidade possível, buscada através


do diálogo entre os diversos fragmentos que a compõe, em face da impossibilidade
humana de ser senão fração de qualquer totalidade a que se queira referir...

A busca incessante da totalidade, que se processa através de séries fragmentárias que


se vão conectando, não como um quadro pré-determinado, como num jogo de puzzle,
de uma totalidade retórica que delimita artificialmente as fronteiras do conhecimento,
mas como uma aventura para além dessas totalidades artificiais, para o desconhecido,

51
como num jogo de lego, em que o se dar às mãos das partes fragmentárias amplie as
correntes da percepção em direção ao desconhecido...

A apresentação paulatina dos fragmentos, porque exibindo as respectivas essências,


proporciona, em processos mentais de adição e supressão de característicos – que
ocorre silenciosamente na mente do leitor – que se chegue à essência de uma possível
totalidade que relacione todos os temas...
A textualização do que mais interessa dizer, a tematização do que mais interessa saber,
na busca literária dos fenômenos que se pretende observar...
A poesia dos objetos e dos discursos...

*
Os modos fragmentaristas de ler são também as únicas ferramentas do espírito a
compreender – ver, ler, saber, viver – a silenciosa narrativa mitológica, quando em
quase nada importa a exatidão lógica dos conceitos e formas, estes sempre meras
referências à generalização primeira dos mitos, para cuja adoração faz-se necessária a
compreensão individual singularizada (aproximação com o real e o imaginário
individual)...

Uma primeira questão se desdobra da ilusão de que a leitura seja


corolário da escrita e de que antes dos sumérios, com suas tabulas de barro, a
experiência da leitura não existia. Basta lembrar as cavernas de Lescaux ou
Altamira para poder admitir-se que há mais que imagens avulsas, há uma
narratividade naquelas representações e portanto, uma leitura que as precede.
Por trás das imagens dos bisões e cervos há uma narrativa mitográfica lxiii que
só imaginariamente podemos suplementar...lxiv

*
Em muitos casos, e a atualidade do texto de Heródoto – que já por fragmentarista é
também fundadora da noção pós-moderna de Histórias – bem o comprova, só
fragmentariamente se constrói um texto que corresponde à necessidade de fazê-lo
acompanhar a pluralidade fática ou fenomenológica...

Pode ser que, no final, os fragmentos se deixem ordenar, mas dentro


do espírito fragmentário que os motivou e, na verdade, lhes serviu de
estrutura estético- literárialxv...

*
As principais críticas ao texto herodótico (fantasista e sem ordenação rigorosa de
tempo e espaço) são fruto de uma visão superada da arte e ciência históricas, na
medida em que a inclusão de fenômenos mitológicos em sua História nos proporciona

52
ler a um só tempo fato e fantasia, real e imaginário, tal qual se processava nas mentes
do seu tempo – nada mais próprio ao texto histórico...

A falta de rigor linear-normativo, quanto às noções de espaço e tempo, do texto


fragmentário de Heródoto não é – como acusam seus críticos, e mesmo aceitam
alguns dos seus admiradores – devido ao fato de que as noções científicas de espaço e
tempo ainda não se tinham apresentado ao espírito humano na época de Heródoto... lxvi
, mas resultante do método fragmentarista de saber o mundo, adotado pelo pré-
platonismo... lxvii

Uma leitura mais literária dos diálogos socráticos, não apenas em Platão, mas em
Xenofonte, e muitos outros que adotaram o métodolxviii, nos leva à convicção de que
muito pouco tem o socratismo com o platonismo, aproximando-se muito mais
Sócrates do pré-socratismo do que do idealismo unívoco de Platão, que o platonismo
exaltou em detrimento da sua estéticalxix, ainda muito pouco conhecida... Ou seja, em
Platão o diálogo socrático é apenas método dialogal-polifônico (ética e estética) de
busca da verdade... Mas a verdade unívoca é que ele mesmo é apropriado de modo
absolutista (talvez animados com o absolutismo reacionário de A República) pelos
seguidores de Platão, orientados pelo conteúdo “educativo”lxx dos diálogos, e de tal
modo que acaba por negar a “revolução permanente” do espírito socrático... Bakhtin
segue ainda mais fundo na apreciação, liberta de oficialismos filosóficos, do
dialogismo socrático, especialmente mercê de sua percepção essencialmente literária
dos escritos de Platão, observando suas bases carnavalizantes em seus discursos sobre
a(s) verdade (s)...

O “diálogo socrático” não é um gênero retórico. Ele medra em base


carnavalesco-popular e é profundamente impregnado da cosmovisão
carnavalesca, sobretudo no estágio socrático oral de seu desenvolvimento...
A princípio, já na fase literária de seu desenvolvimento, o “diálogo
socrático” era quase um gênero memorialístico: eram recordações das

53
palestras reais proferidas por Sócrates, anotações das palestras memorizadas,
organizadas numa breve narração...
Mas muito breve, o tratamento artístico livre da matéria quase liberta
totalmente o gênero das suas limitações históricas e memorialísticas e conserva
nele apenas o método propriamente socrático de revelação da verdade e a
forma exterior do diálogo registrado e organizado em narrativa...
É esse caráter criativo livre que observamos nos diálogos socráticos de
Platão... lxxi

É preciso ler e reler a obra socrático-platônica, leitura e re-leitura às lentes só


literárias, a perceber a natureza libertária dos diálogos platônicos, sem deixar margem
a dúvidas quanto à oposição do discurso socrático, mesmo e muito claramente tal qual
se encontram em Platão, aos lineares, retilíneos e unívocos discursos dos oficialismos
todos...
O gênero se baseia na concepção socrática da natureza dialógica da
verdade e do pensamento humano sobre ela. O método dialógico de busca da
verdade se opõe ao monologismo oficial que se pretende dono de uma verdade
acabada, opondo-se igualmente à ingênua pretensão daqueles que pensam
saber alguma coisa...
A verdade não nasce nem se encontra na cabeça de um único homem;
ela nasce entre os homens, que juntos a procuram no processo de sua
comunicação dialógica...

Sócrates se denominava “alcoviteiro”: reunia as pessoas, colocando-as


frente a frente em discussão, de onde resultava o nascimento da verdade...lxxii

54
Todo texto é, engenharia e arquitetura, de origem fragmentária... Fragmentos que se
aprisionam uns aos outros, que se disfarçam as diversidades em meio a uma retórica
linear sempre arbitrária, à moda sofística, à maneira das artes advocatícias...

Na retórica linear a narrativa se faz unívoca pelo ocultamento da natureza polifônido-


fragmentária das verdades, textuais e contextuais, do Livro da Vida humana...

Um livro de fragmentos é como o Tao Te Kinglxxiii a convidar a todos ouvirem a Poesia


presente em todas as coisas...

A poesia é feita de pequeninos nadas... lxxiv

*
Teremos ganho muito a favor da ciência estética se chegarmos não
apenas à intelecção lógica mas à certeza imediata da introvisão de que o
contínuo desenvolvimento da arte está ligado à duplicidade do apolíneo e do
dionisíaco...lxxv
*
No exercício do fragmentarismo também é preciso não perder de vista uma busca
renovada da (inexprimível) Totalidade (o Tao), para que a fragmentação seja bem
apreendida... E para que sempre se evite a imposição ideológica de uma retórica que
possa nos impor qualquer parte por quaisquer desses muitos todos tolos que rastejam
por aí...

*
A arte da interpretação se aproxima de uma atividade fisiológica não-
humana: a lenta e salutar digestão bovina, que o “homem moderno” teria
completamente desaprendido...

Um crítico é um leitor que rumina. Ser-lhe-ia, portanto, necessário ter


vários estômagos...lxxvi

O fragmentarismo é também, aos seus muitos modos de ler, método de


saber/interpretar próprio à pós-modernidade: enquanto processo de mastigação de
verdades unívocas, por ruminação progressiva e implacável dos seus múltiplos
fragmentos postos em seus lugares, e a tanto está sempre convidando os leitores dos
seus textos de fragmentos, na medida em que permite a pausa intertextual necessária à
essa atividade crítica...

55
As concepções socráticas da natureza dialógica da verdade se
assentavam na base carnavalesco-popular do gênero do “diálogo socrático” e
determinavam-lhe a forma, mas nem de longe encontravam sempre expressão
no próprio conteúdo de alguns diálogos...lxxvii O conteúdo adquiria
freqüentemente caráter monológico, que contradizia a idéia formadora do
gênero... lxxviii

Nos diálogos do primeiro e do segundo período da obra de Platão, o


reconhecimento da natureza dialógica da verdade ainda se mantém na própria
cosmovisão filosófica, se bem que em forma atenuada. Por isso, os diálogos
desse período ainda não se convertem em método simples de exposição das
idéias acabadas (com fins pedagógicos) e Sócrates ainda não se torna o
“mestre”...

...Mas no último período da obra de Platão isso já se verifica: o


monologismo do conteúdo começa a destruir a forma do diálogo socrático...

...Mais tarde, quando o gênero do “diálogo socrático” passa a servir a


concepções dogmáticas do mundo já acabadas de diversas escolas filosóficas e
doutrinas religiosas, ele perde toda a relação com a cosmovisão carnavalesca e
se converte em simples forma de exposição da verdade já descoberta, acabada
e indiscutível, degenerando completamente numa forma de perguntas-respostas
de ensinamento de neófitos (catecismo)... lxxix

*
Curioso notar como tantos autores da atualidade venham, há tanta tinta e papel,
já agora a gigabits, combatendo a univocidade, o positivismo, a linearidade do
pensamento imperial, com discursos, retóricas e estéticas, próprios à Linguagem
Imperial...
Talvez porque a polis literária seja governada pela polis política...

*
Há, como em todas as épocas, novíssimos modo de fazer literatura no ar
polifônico da pós-modernidade: contar/cantar o mundo inside/outside of us...
Porque afinal estamos todos desconstruindo-nos em vez de simplesmente
contar/cantar o mundo inside/outside of us?...

*
Cabe observar que a cosmovisão carnavalesca também desconhece o
ponto conclusivo... É hostil a qualquer desfecho definitivo: aqui todo fim é
apenas um novo começo, as imagens carnavalescas renascem a cada instante...
lxxx

56
*
Se o pós-modernismo é filho do modernismo (que sofreu no passado as mesma espécie
de crítica temerária que hoje sofre o primeiro), herdeiro daquele individualismo
mundano exacerbado que então dividia a filosofia e a teologia alemãs dos finais do
século XIX, inícios do XX [o modernismo era cego para tudo o que não é o eu ou não
serve ao seu eulxxxi], como o novo que vai saindo de dentro do velho (ou o velho de
dentro do novo) como diz Gilberto de Mendonça Teles das experimentações de
Manuel Bandeira, feito por dentro da linguagem poéticalxxxii, isso não se faz aos
“pouquinhos, humildemente, quase a pedir licença, como Irene entrando no céu”lxxxiii,
mas a partir de uma nova ruptura, a desconstruçãolxxxiv, ao mesmo tempo em que se
espalha, numa autêntica explosão de vanguardas, pela cultura (saber) e pela sociedade
(viver), constituindo toda uma fenomenologia que lhe é própria e que, bem ao
contrário dos experimentalismos e vanguardas da modernidade, vem se processando
em um ritmo muito mais veloz do que tem podido absorver não só as teorias literárias,
mas as próprias obras de literatura... E que ocupa seus principais espaços, a
construção pós-moderna, nas artes imagéticas, cinema, televisão, clips
publicitários,etc., e nas ligadas à informática, os sites internet e a web-literatura...

São, talvez, por múltiplos, por polifônicos, como mil polvos de mil braços, algo assim
como muitos novos renascendo de uns poucos velhos heróicos...
As vanguardas modernistas buscavam a ruptura como instante (horizontalização
periódica da cultura), a retomar a caminhada a partir do novo elemento conquistado...
Na pós-modernidade, a ruptura, como desconstruçaão é o cotidiano, é o procedimento
polifônico de um processo que não se resolve jamais, na grande explosão da vida
unívoca que deixou tudo aos fragmentos da pluralidade... Na pós-modernidade,
primeiro como uma super-horizontalização permanente da cultura, nivelação (por
cima e/ou por baixo) de todas as possibilidades sociais, intelectuais e artísticas, aos
mesmos patamares, cada fragmento busca a ampliação e a sobrevivência, em que

57
qualquer totalidade é sempre aliança temporária, nunca um permanente estado
unitário... Por segundo, como conseqüência da primeira fase, a pluralidade como
tônica segue desconstruindo horizontalizações e verticalizações, para que cedam
espaço a direções estelares...
Na pós-modernidade a tribo/polis/estado da Grécia pré-alexandrina substitui-se ao
estado-império da Roma Imperial... A Cidade-Estado da Grécia clássica se justificava
a partir do indivíduo, da cidadania grega; bem ao contrário, no Império Romano a
cidadania só se justificava a partir do Estado... Daí que, numa era a plenitude, o
desenvolvimento do homem grego (a Paidéia), a essência da cidade grega; noutra,
Roma, era o Império, o Estado Romano, o que importava construir e desenvolver...

*
Meu partido, é um coração partido
E as ilusões estão todas perdidas...
Os meus sonhos foram todos vendidos
Tão barato que eu nem acredito, eu nem acredito
Que aquele garoto que ia mudar o mundo (Mudar o mundo)
Freqüenta agora as festas do grand monde

Meus heróis morreram de overdose


Meus inimigos estão no poder
Ideologia, eu quero uma pra viver

O meu prazer agora é risco de vida


Meu sex and drugs não tem nenhum rock’n’roll
Eu vou pagar a conta do analista
Pra nunca mais ter que saber quem eu sou
Pois aquele garoto que ia mudar o mundo (Mudar o mundo)
Agora assiste a tudo em cima do muro

Meus heróis morreram de overdose Meus inimigos estão no poder


Ideologia
Eu quero uma pra viverlxxxv

*
A pós-modernidade, a partir de uma consciência plural e fragmentária do mundo,
amplia desmesuradamente as possibilidades do Mercado, com uma ampliação do
Consumo como nunca antes vista, na medida em que as partes-fragmentos (tribos,
indivíduos) exigem itens de consumo próprio, e muito especialmente na medida em
que as possibilidades combinatórias inter-fragmentos (tribos/indivíduos) multiplicam o
“self” em tantos outros em um mesmo consumidor, e a “trieb” (pulsão, vontade de
poder) em vontade de consumir...

58
*
– Ao fim de todas as coisas! (Max levanta o copo e bebe). Sabem como sei que
é o fim do mundo? Porque tudo já foi feito. Todo tipo de música, todos os
governos... Todos os cortes de cabelo, todos os sabores de chiclete... Todo tipo
de cereal... Sabem como é?... Comno vamos sobreviver outros mil anos?
Estou dizendo... Acabou-se... Esgotamos tudo...lxxxvi

A necessidade de expressar-se, de exprimir-se, cada indivíduo e as suas muitas...


...múltiplas personas, cada tribo e todas as suas multiplicadas inter-relações,
necessidades essas tradicionalmente sufocadas até o advento da pós-modernidade,
ganha, nesta, instrumentos de realização (e não só tecnológicoslxxxvii ) que conduzem,
por exemplo, ao hipertexto, à web-literatura...

*
Trava-se nos céus da pós-modernidade um novo combate ideológico representado pelo
embate entre o que se usa chamar de Nova Economia e o ancién regime da economia
capitalista, esta desenvolvendo em direção à concentração, aquela – como um remédio
eficaz ao que Marx chamou de carregar em si as sementes da própria destruição – para
a pluralização econômica e, por conseguinte social e política... É claro que a arte
literária não pode permanecer imune aos reflexos desses embates pós-modernos... Por
isso que as concepções teóricas e estéticas acabam por se constituírem como expressão
da antiga ou da nova sociedade ocidental...

Et por cause, mas, é claro, não só por issolxxxviii, seja a pós-modernidade, seja o
fragmentarismo, são conceitos que, fenômenos do pensamento e da cultura, ainda
carecem de reconhecimento pela cultura institucional... lxxxix

59
Et por cause, ainda, os principais textos existentes a respeito da pós-modernidade,
ignorando seus aspectos Literários (lato senso), se apegam ao modernismo, ou ao
marxismo, em estranhíssimas alianças canônicas (se não fossem essas alianças parte
do fenômeno que ignoram), para combater o pós-modernismoxc, buscando negar-lhe o
sentido, a fenomenologia, de fase autônoma da cultura, quando não lhe adjetivam de
contrafação, dando-lhe, até mesmo, contornos de contravenção. Ou seja, a um tempo
confrontação e contrafação, esquecendo-se que o que confronta é sempre contrafação
para o confrontado... Aliás, tal qual se fez contra o modernismo em seus primórdios
(o que, para os fins do presente texto, é o mais significativo)...

Quanto ao sentido do termo (pós-modernismo), talvez só haja


concordância em afirmar que o “pós-modernismo” representa alguma espécie
de reação ao “modernismo” ou de afastamento dele. Como o sentido de
modernismo também é muito confuso, a reação ou afastamento conhecido
como “pós-modernismo” o é duplamente. O crítico literário Terry Eagleton
(1987) tenta definir o termo da seguinte maneira:

Talvez haja consenso quanto a dizer que o artefato típico é


travesso, auto-ironizador e até esquizóide; e que ele reage à
austera autonomia do alto modernismo ao abraçar
impudentemente a linguagem do comércio e da mercadoria. Sua
relação com a tradição cultural é de pastiche irreverente, e sua
falta de profundidade intencional solapa todas as solenidades
metafísicas, por vezes através de uma brutal estética da sordidez
e do choque.xci

Não se pode negar ao pós-modernismo seu status de fenômeno autônomoxcii:

Nas últimas duas décadas, “pós-modernismo tornou-se um conceito com


o qual lidar, e um tal campo de opiniões e forças políticas conflitantes que já
não pode ser ignorado.“A cultura da sociedade capitalista avançada”,
anunciam os editores de PRECIS 6 (1987), “Passou por uma profunda
mudança na estrutura do sentimento”. A maioria, acredito, concordaria com a
declaração mais cautelosa de Huyssens (1984):

O que aparece num nível como o último modismo, promoção publicitária


e espetáculo vazio, é parte de uma lenta transformação cultural emergente nas
sociedades ocidentais, uma mudança da sensibilidade para a qual o termo
“pós-moderno” é na verdade, ao menos por agora, totalmente adequado. A
natureza e a profundidade dessa transformação são discutíveis, mas
transformação ela é. Não quero ser entendido erroneamente como se afirmasse
haver uma mudança global de paradigma nas ordens cultural, social e
econômica; qualquer alegação dessa natureza seria um exagero. Mas, num
importante setor da nossa cultura, há uma notável mutação na sensibilidade,
nas práticas e nas formações discursivas que distingue um conjunto pós-

60
moderno de pressupostos, experiências e proposições de um período
precedente.xciii

Ao que o pós-modernismo, pós-modernamente carnavalizado, pós-modernamente


polifônico, dar-se-á, certamente, por satisfeito...

Há alguns que desejam que retomemos ao classicismo e outros que


buscam que trilhemos o caminho dos modernos. Do ponto de vista destes
últimos, toda a época tem julgada a realização da “plenitude do seu tempo,
não pelo ser, mas pelo vir-a-ser.xciv

*
O que se percebe, de um modo geral, entre os autores favoráveis à pós-modernidade
que nos chegam da Europa e dos Estados Unidos, a pós-modernidade é vista o mais
das vezes como um fenômeno estético especialmente delimitado, próprio aos espaços
da arquitetura, das artes plásticas, da publicidade, ponta de lança da sociedade de
consumo, fenômeno de uma sociedade capitalista da fase pós-industrial...

Quanto aos parâmetros estéticos próprios a uma possível literatura da pós-


modernidade nada ou quase nada foi feito, a julgar pelo que consta dos poucos textos
até aqui editados no Brasil... xcv

Muito pouco ou nada se fez em teoria literária aplicável à pós-modernidade que não se
resuma ao conceito de desconstrução...

A teoria literária há que trazer a si os resultados, tanto empíricos quanto teóricos, das
práticas interdisciplinares: por exemplo, encontramo-nos numa época em que os
gêneros perdem ou confundem as suas fronteiras...xcvi, uma característica própria à pós-
modernidade, que segue a quebra do discurso unívoco para dar lugar à coexistência
teórica entre os muitos modos de saber...

Faz-se pós-modernismo, à espera de delineamento teórico, quando se abre espaços


textuais para autores das mais diversas tendências, diálogo plural de polifonias,
especialmente na prática atual – e, aliás, a prática fragmentarista deste texto bem o
exercita – de textualizar os autores por suas próprias palavras, em vez de fazer-se
porta-voz dos autores, seu interpretador ... xcvii

*
...A mim mesmo eu canto e celebro
E ao que eu celebro e canto
Venham também vocês celebrar cantar

Que há em mim o mesmo exato átomo


O mesmo exato átomo que em tudo e todos há...xcviii

61
*
...O diálogo de Platão representa, segundo Aristóteles, um novo gênero
artístico, uma manifestação intermédia entre a poesia e a prosa. É fora de
dúvida que isto se refere em primeiro lugar à forma, que é a de um drama
espiritual em linguagem livre. Mas, segundo a opinião de Aristóteles sobre as
liberdades que Platão se permite na maneira de tratar o Sócrates histórico,
devemos supor que era também no tocante ao conteúdo que Aristóteles
considerava o diálogo platônico uma mescla de poesia e prosa, de ficção e
realidade...xcix

*
A Globalização é o processo – jamais de desfragmentação – de harmonia
fragmentário-planetária, em que a extrema pluralidade humana não será apequenada
com as retóricas da similitude…

Se as diferenças entre as múltiplas folhas de inúmeras mangueiras são desprezadas


pelas suas semelhanças com “a folha de mangueira”, no humano não se abolirá
singularidades que nos encerrem a todos n’O Humano... Qual de nós será mais
humano?... Quem mais semelhante?...

Se buscarmos, humanos, nas palavras de Jesus, sermos perfeitos como nosso Pai...
Decerto haveremos de manter nossa presença, vivificando-a, em cada qual dos nossos
fragmentos...

O ‘globalizamento’ atual nada mais ainda é que a manipulação dos nossos todos
fragmentos sociais, nossos seres fragmentários, uma ‘desfragmentação’ segundo os
hard(and soft)wares dos donos, ou dos que se apoderaram dos computadores...

Eu desconfio de todos os sistematizadores e os


evito. A busca de um sistema é uma falta de
integridade... c

A racionalidade a qualquer custo, a vida brilhante, fria, circunspecta,


consciente, sem instinto, em oposição aos instintos, não tem sido mais do que
uma forma de doença, uma outra forma de doença – e de modo algum um
retorno à “virtude”, à “saúde”, à felicidade...Ter que combater seus instintos –
esta é a fórmula para a décadense: enquanto a vida é ascendente, a felicidade
e o instinto são uma só coisa...ci

62
A Literatura encontra, no Hipertexto, como Web-Literatura, uma possibilidade de
ampliação da arte literária tanto no sentido da apreensão das possibilidades de
imaginário (provocando uma comunicação mais larga entre imaginários), quanto na
utilização dialogal entre textos de linguagem transparente (comunicação objetiva) com
textos de linguagem densa ou opaca (comunicação subjetiva; ou literária), na
diferenciação clássicacii, entre arte e ciência, entre signos de distintas procedências
culturais, inclusive suas respectivas linguagens idiomáticas...

Ao articular links de diversas procedências e orientações, o hipertexto, a web-literatura


funda uma comunicação entre imaginários para além das possibilidades imaginativas
registradas nos conteúdos textuais, comunicação nem oral nem escrita, uma autêntica
linguagem do imaginário, cujo método de apreensão pressupõe textos-fragmentos, de
um lado, e percepção poética, de outro, como uma ponte entre autores/leitores e os
respectivos textos linkados...

www.pw.org/mag/wittig.htm

Sei como quero a minha lápide: uma simples, pequenina palavra


gravada em um pedaço de mármore leitoso – “Boo!”... ...neste epitáfio se
contém inteiramente a essência do que é a comédia do ato de escrever, dessa
nossa conspiração “instantânea”, nosso truque, nossa beleza, nosso sonho
impossível... fazer falar um objeto inanimado, através de letras gravadas em
pedra ou tinta, ou de traços numa tela, para uma pessoa que se encontra
ausente... ciii

*
Quanto mais se mostra o fragmento, mas a totalidade
ganha em apreensão...

*
As aspas, o ponto de exclamação, a palavra informal no ambiente
formal, a rapidez com que cada palavra pode ser lida, o tamanho da palavra e

63
os espaços adjacentes... ...não fosse pela literatura eletrônica, esses detalhes
poderiam me iludir...civ
A literatura eletrônica tem proporcionado a muitos de nós avançar na
abordagem da materialidade do ato de escrever...

A E-lit (literatura eletrônica) está revolucionando a aparência e o


funcionamento do texto, levando-nos a repensar coisas já estabelecidas,
reaproximando-nos de aspectos da história da literatura que têm estado
obscurecidos nesses dois últimos séculos pelo instrumental de todo o aparato
da literatura romântico-industrial...

Muito do que coloco sobre a E-lit é visto como um ataque da literatura


eletrônica contra a cultura da tinta-e-papel... olhos atentos, vejo a “e-lit”
como mais uma etapa normal da longa história literária... cv

*
A webliteratura, como havia de ser natural, acaba provocando uma revisão de
conceitos teóricos que não deixam de abranger toda a Literatura, e não apenas no que
diz respeito à criação desse novo gênero literário...

...A retomada de uma idéia de Marcel Duchamps quanto à ação do acaso no processo
de criação artística é um dos aspectos dessa contribuição, aliás bem ao sabor da pós-
modernidade...
A idéia de vanguarda também se modifica: não se busca mais novos sentidos, temas,
nem mesmo técnicas: são os procedimentos que se busca explorar na busca do novo...
Pois, compreendida a vida como um processo, qual procedimento artístico se fará
correspondente às novas e sucessivas etapas da cultura, se tanto as atuais, as que
aguardam serem vencidas?...

La herramienta de las vanguardias... es el procedimiento...

Para una visión negativa, el procedimiento es un simulacro tramposo


del proceso por el que una cultura establece el modus operandi del artista;
para los vanguardistas, es el único modo que queda de reconstruir la
radicalidad constitutiva del arte. En realidad, el juicio no importa...

La vanguardia, por su naturaleza misma, incorpora el escarnio, y lo


vuelve um dato más de su trabajo...

Entendidas como creadoras de procedimientos, las vanguardias siguen


vigentes, y han poblado el siglo de mapas del tesoro que esperan ser
explotados. Constructivismo, escritura automática, ready-made,
dodecafonismo, cut-up, azar, indeterminación. Los grandes artistas del

64
siglo XX no son los que hicieron obra, sino los que inventaron
procedimientos para que las obras se hicieran solas, o no se hicieran. ¿Para
qué necesitamos obras? ¿Quién quiere otra novela, otro cuadro, otra
sinfonía?... ¡...como si no hubiera bastantes ya!cvi

*
O controle da máquina, da tecnologia que possibilita e vai ampliando infinitamente as
possibilidades plurais da sociedade, especialmente sua mais recente expressão literária,
o hipertexto, ainda se encontra em mãos de uma Velha Economia, que controla os bens
primários de produção, o que resulta em um controle severo da intertextualização, a
saber, das possibilidades de que o hipertexto, e a literatura web , possam transitar
livres, dos produtores de texto aos seus tantos possíveis consumidores...

O controle dos meios de transmissão da informação individual, da produção intelectual


e artística, vai ao encontro da Velha Economia, a impedir a literatura web de alçar os
altos vôos a que está destinada...

Em verdade, a WebLiteratura, que deve ser compreendida em seus modos mais


amplos, para além da especificidade da linguagem escrita, a incluir toda transmissão
cultural, na pluralidade das suas manifestações, oral-escrita-imagética, diz respeito à
ambiência literária: o espaço do computador como um ambiente, uma sala de cultural,
um centro de cultura, onde se pode freqüentar todo tipo de manifestação artística...

A ambiência cultural da webliteratura ainda está em seus primórdios: só a distância


tecnológica nos impede ainda de ler um livro, assistir um filme, ver uma escultura ou
uma pintura, assistir uma conferência, etc., tal qual na realidade física. A ficção
literária e cinematográfica já aponta para essa futura realidade virtual em filmes como
Disclosure.cvii

*
A literatura imagética, o cinema, especialmente, em nada prejudica a literatura escrita
na medida em que, e até por ser dela consumidor, co-produtor e divulgador, realidade
ficcional (filme) e sua absorção e transmissão conceitual (escrita) são e sempre serão
interdependentes, como atividades mentais que se complementam...

A linguagem imagética, que a pós-modernidade vem cada vez mais ampliando e


desenvolvendo, desde a publicidade, o vídeo-clip, o gibí, o cartum, etc., uma
linguagem imagética de que os hieróglifos e os ideogramas são corolários, se produz
não apenas no nível primário de leitura, modo de linguagem transparente, meramente
comunicativo, como no nível artístico, de linguagem densa...cviii

Junte-se uma série de cartazes, sem qualquer texto, e as disponha à visão (leitura) do
outro, que certamente esse outro terá a oportunidade de saber (ler), seja no nível da

65
simples comunicação, seja no nível da experiência artística, o que se está a dizer
(texto)...

Cada qual de nós tem sua própria coleção de imagens...


As imagens de cada qual são classificadas ainda ao modo próprio de cada qual...

A coleção de imagens de cada qual traduz pensamentos de acordo com o repertório de


cada qual, assim quanto à expressão seja também quanto à recepção de novas imagens,
que lhe chega cotidianamente, como convite à reformulação permanente tanto da sua
disposição quanto da formulação de novos pensamentos...

*
A “leitura virtual” formatada pelo texto eletrônico é indiciada pelos
elementos de sua organização. No texto eletrônico, a abundância de
informação e a quantidade de conexões possíveis propicia uma atitude de
leitura fragmentária; o leitor faz “zappings”, ou seja, pula de um texto para
outro lendo aos pedaços. A leitura no monitor não é linear, pois o texto é
organizado para que a informação seja encontrada de maneira funcional, de
tal forma que só se leia aquilo que é buscado. Por isso, esta prática de leitura é
baseada na atenção flutuante ou no interesse potencial em relação à
informação; o leitor/navegador recolhe fragmentos de informação (daí o uso
do verbo inglês browse, para designar o processo de quem lê o hipertexto.
Prática de leitura semelhante é desempenhada pelo espectador de televisão,
que com o controle remoto “zapeia” de um canal a outro...cix

A leitura do texto literário constitui-se como atualização dos sentidos do texto,


promovida pela ação ativa e criadora do leitor, configurando um processo de
comunicação fundado em um texto potencial, e em pontos de indeterminação, ou
vazios, que o leitor atualiza e preenche. Tais vazios conduzem a atividade participativa
do leitor e direcionam suas projeções imaginativas, guiando-o na atividade de
constituição de sentidos do texto...

A produção midiática, ao contrário, oferece-se como um sitema “tagarela” que ocupa


todos os espaços da linguagem. No entanto, o excesso de informações velozmente
produzidas não pode impedir que, em silêncio, cada indivíduo inscreva sua percepção
das imagens que se oferecem ao olhar. Ao fechamento discursivo, contrapõe-se a
abertura do silêncio, espaço por excelência do exercício da leitura.
Embora os meios de comunicação de massa e a comunicação eletrônica alterem
completamente o jogo, observa-se que os mesmos princípios podem reger a educação
do leitor, do espectador de filmes e do “navegante” na internet...cx

66
Mas uma imagem só vale mais que mil palavras quando essas palavras nada
significam ou quando possui tessitura poética suficiente à produção do poema ainda
irrealizado... Pois é a palavra, consciente ou inconscientemente mentalizada, que
nos proporciona comunicar o vínculo poético entre nós e a realidade observada
ou imaginada...

cxi

Quero acrescentar algumas palavras sobre a minha


arte do estilo. O sentido de todo o estilo outro não é, por
certo, senão este: comunicar por meio de sinais um estado
de ânimo, uma última tensão do pathos, com o ritmo
próprio e consoante. E, considerando que a variedade dos
estados de ânimo é em mim extraordinária, tenho muitas
possibilidades de estilo, a maior diversidade de estilos de
que um homem jamais pôde dispor. É autêntico todo aquele
estilo que comunica realmente um íntimo estado de ânimo,
o que não engana sobre os sinais, sobre o ritmo dos sinais,
sobre os gestos; todas as leis do estilo são formas do gesto.

67
O estilo bom em si é pura loucura, puro “idealismo”, como o
“belo em si”, o “bom em si”, a “coisa em si...”cxii

*
Pré-socratismo, fragmentarismo, pós-modernismo, hipertexto, são elos da mesma
corrente estética que se vai constituindo em gigantesco renascimento artístico do
ocidente... Os muitos modos do humano contemplar e criar obras de arte... A
liberação das energias criativas do humano, aprisionadas em retóricas unívocas, talvez
resultantes das respectivas etapas da civilização, estas que vinham impedindo o livre
trânsito multiplicador do ser poético em nós...

A nova retórica da Grande Totalidade Planetária, a estratégia da Globalização,


pressupõe a fragmentação dos mercados tanto quanto das tessituras e textos (literários)
porquanto totalidades menores hão que ser fragmentadas para a sua posterior re-
inclusão nos mercados, tessituras e textos globais... Outra Globalização, a Grande
Multiplicidade Planetária, seria a articulação desses fragmentos todos, sem
hierarquização, respeitadas, por naturais, as sobreposições eventuais, sempre
transitórias, sempre enquanto processos e seus procedimentos...

*
Se o poeta não busca a Eternidade, a Totalidade Incompletável... Que poeta é ?... E se
não busca, fragmento a fragmento, expandir a sua poesia para além da Totalidade pré-
concebida, que poesia terá?...

*
I’ve nothing to say and I’m saying it… cxiii

*
O poeta é um canário preso às grades-versos de uma gaiola-
poema: só o verbo, som e imagem, do seu canto é livre-poesia...

*
A existência se passa em um rolo de imagens que se desdobra
continuamente, imagens capturadas pela visão e realçadas ou moderadas pelos
outros sentidos, imagens cujo significado (ou suposição de significado) varia
constantemente, constituindo uma linguagem feita de imagens traduzidas em

68
palavras e de palavras traduzidas em imagens, por meio das quais tentamos
abarcar e compreender nossa própria existência...

As imagens que formam nosso mundo são símbolos, sinais, mensagens e


alegorias. Ou talvez sejam apenas presenças vazias que completamos com o
nosso desejo, experiência, questionamento e remorso. Qualquer que seja o
caso, as imagens, assim como as palavras, são a matéria de que somos
feitos...cxiv

As sombras na parede da caverna de Platão, os letreiros de néon em um


país estrangeiro cuja língua não falamos...

A escrita que os antigos sumérios acreditavam poder ler nas pegadas


dos pássaros sobre a lama do rio Eufrates, as figuras mitológicas que os
astrômonos gregos identificavam na concatenação dos pontos assinalados por
estrelas distantes, o nome de Alá que o fiel vislumbrou num abacate aberto e no
logotipo dos artigos esportivos da Nike... o bilhete rasgado de um quadro de
avisos e realojado em uma pintura de Tàpies, o rio de Heráclito que é também
o fluxo do tempo, as folhas de chá no fundo de uma xícara na qual os sábios
chineses acreditam poder ler nossas vidas, o vaso estilhaçado do Sahib Lurgan
que quase se recompleta por inteiro diante dos olhos incrédulos de Kim... tudo
isso oferece ou sugere, ou simplesmente comporta, uma leitura limitada apenas
pelas nossas aptidões...cxv

*
O que agora está provado, foi outrora somente imaginado... cxvi

69
Como saber se cada pássaro que cruza os caminhos do ar não é um imenso mundo
de prazer, vedado por nossos cinco sentidos?... cxvii

Um Poder somente faz um Poeta – Imaginação A Divina Visão... cxviii

*
Se a natureza e os frutos do acaso são passíveis de interpretação, de
tradução em palavras comuns, no vocabulário absolutamente artificial que
construímos a partir de vários sons e rabiscos, então talvez esses sons e
rabiscos permitam, em troca, a construção de um acaso ecoado e de uma
natureza espelhada, um mundo paralelo de palavras e imagens mediante o qual
podemos reconhecer a experiência do mundo que chamamos real...cxix

A Voz de alguém clamando no Deserto

PRINCÍPIO 1º Que o Gênio Poético é o verdadeiro Homem, e que o


corpo ou forma visível do Homem é derivada do Gênio Poético. Da mesma
maneira que as formas de todas as coisas se originam do seu Gênio, que pelos
antigos era chamado um Anjo & Espírito & Demônio.
PRINCÍPIO 2º Como todos os homens são semelhantes na forma
visível, Então (e com a mesma infinita variedade) todos são semelhantes no
Gênio Poético...cxx

...O Homem é um Animal Poético...


“Em um enigma cujo tema é o xadrez, qual é a única palavra proibida?” Refleti por
um momento e respondi: “A palavra xadrez”cxxi

Se as portas da percepção estivessem limpas, tudo se mostraria ao homem tal como é,


infinito... Pois o homem encerrou-se em si mesmo, a ponto de ver tudo pelas estreitas
fendas da sua caverna...cxxii
*
A imagem limita e aprisiona a mente ao fragmento do real apreendido... Já as palavras,
essas nos convidam a acrescentar-lhes outras, em direção a novos sentidos... Outros
conceitos... Para um além-do-objeto...

A imagem é finitude, a palavra é infinita... Mas uma não vive sem a outra... No
fragmentarismo, a aproximação textual com cada objeto é também uma maior
aproximação com a sua imagem e com as palavras que lhe somam significações...

70
A estética fragmentarista é, portanto, a arte de retomar o mistério ainda contido no
objeto, que remonta às origens de sua criação, e que aponta para as suas infinitas
possibilidades ainda inexploradas...

Resgatar o silêncio é o papel dos objetos... cxxiii

Toda boa história é, está claro, uma imagem e uma idéia, e quanto
mais elas estiverem entremeadas melhor terá sido a solução do
problema... cxxiv

A poesia é um fragmento perfeitamente formado de um edifício


inexistente... cxxv

O fragmentarismo resgata o silêncio presente nas relações dos objetos entre si, como
espaço intertextual, ao tempo em que deixa-os “falarem” por si mesmos, sem que uma
articulação imposta por uma consciência imperial emudeça suas próprias vozes...

Não era necessariamente como uma tentativa de não comunicarcxxvi que Stéphane
Mallarmé apresenta “em desespero”, a página em branco, que Eugène Ionesco
decreta em suas peças que “o mundo impede que o silêncio fale”, que Beckett põe em
cena um ato sem palavras, que John Cage compõe uma música chamada “silêncio” e
que Pollock “pendura na parede de um museu uma tela coberta de espirros mudos...”
Eram tentativas de comunicar, mas exatamente no silêncio das coisas, a morada
poética do objeto de arte...

O fragmentarismo respeita os silêncios do mundo tanto quanto, por não traduzi-los, ou


melhor, não ordená-los, em discurso linear que preencha miseravelmente esses
silêncios com falas unívocas...

Não tenho certeza de nada, a não ser da santidade dos afetos do


coração e da verdade da imaginação – o que a imaginação capta como beleza
deve ser verdade – tenha ou não existido antes...cxxvii

*
En la época inmediatamente posterior a Bach se compuso
ocasionalmente usando el azar, con dados... lo hicieron Mozart, Haydn, Carl
Phillip, Emmanuel Bach, entre otros...
El ingreso de la personalidad del artista, de su sensibilidad y las
complicaciones políticas del yo...tarda un siglo en agotarse....
El gran mecánico Schöemberg le da una vuelta de tuerca a la
profesionalización del músico, preparando la entrada de un nuevo tipo de
artista: el músico que no es músico, el pintor que no es pintor, el escritor que
no es escritor...

71
Ya en 1913 Marcel Duchamp había hecho un experimento en el mismo
sentido, de determinar las notas por azar, pero sin ejecutarlo; consideraba la
realización "muy inútil"...

¿para qué hacer la obra, una vez que ya se sabe cómo hacerla?...

John Cage ... (um músico norte americano cuya obra es uma mina
inesgotable de procedimientos...) ...justifica el uso del azar diciendo que "así es
posible una composición musical cuya continuidad está libre del gusto y la
memoria individuales, y también de la bibliografía y las 'tradiciones' del
arte"....(...lo que llama "bibliografía" y "tradiciones del arte" no es sino el
modo canónico de hacer arte, que se actualiza con lo que llama "el gusto y la
memoria individuales"...)

El vanguardista crea un procedimiento propio, un canon propio, un


modo individual de recomenzar desde cero el trabajo del arte... ...Lo hace
porque en su época, que es la nuestra, los procedimientos tradicionales se
presentaron concluidos, ya hechos, y el trabajo del artista se desplazó de la
creación de arte a la producción de obras, perdiendo algo que era esencial...
...San Agustín dijo que sólo Dios conoce el mundo, porque él lo hizo...
...Nosotros no, porque no lo hicimos... ...El arte entonces sería el intento de
llegar al conocimiento a través de la construcción del objeto a conocer; ese
objeto no es otro que el mundo....

...El mundo entendido como un lenguaje...

No se trata entonces de conocer sino de actuar. Y creo que lo más sano


de las vanguardias, de las que Cage es epítome, es devolver al primer plano la
acción, no importa si parece frenética, lúdica, sin dirección, desinteresada de
los resultados... ...Tiene que desinteresarse de los resultados, para seguir
siendo acción...
El procedimiento de las tablas de elementos, que usa Cage, podría servir
para cualquier arte... En la pintura, habría que hacer tablas de formas básicas,
de colores, de tamaños, y usar algún método de azar para ir eligiendo cuáles
actualizar en el cuadro... Cualquier arte... ...La literatura también, por
supuesto... ...Al compartir todas las artes el procedimiento, se comunican entre
ellas: se comunican por su origen o su generación... Y, al remontarse a las
raíces, el juego empieza de nuevo... ...El procedimiento en general, sea cual
sea, consiste en remontarse a las raíces...cxxviii

A poesia é uma fabricação – no significado originário grego da palavra – importando


menos a obra que o ato de fabricá-la, por meio do qual o próprio espírito se eleva e se
aperfeiçoa...cxxix

72
El arte que no usa un procedimiento, hoy día, no es arte de verdad. Porque
lo que distingue al arte auténtico del mero uso de un lenguaje es esa
radicalidad...cxxx

cxxxi

O resgate intelectual do fragmentarismo pré-socrático, ora em plena expansão pós-


moderna, já vinha no bojo dos primórdios da modernidade, desde Novalis e Schlegel,
passando por Nietzsche, cuja influência dos pré-socráticos é notória, do mesmo modo
que na arte moderna, e pode-se captá-lo ainda, aqui e ali, ao longo das histórias

literárias, em muitos autores que sem abandonar a retórica da linearidade propuseram


uma literatura do gênero...

Existem fragmentos que se tornaram fragmentos, e fragmentos


natos...cxxxii

73
*
Os Cantos inferem a interpenetração de estruturas, a interpenetração de
temas e motivos. O básico: a dialética entre os métodos de montagem ou
princípios do ideograma com a idéia de metamorfose (Ovídio). Por isso, nos
mesmos Cantos, passa-se muitas vezes, como de flash a flash, de um tema,
assunto, mote ou alusão para outro, heterogêneo, rompendo-se assim com os
cânones tradicionais da linearidade. Na estrutura referencial dominante,
interpolam-se também a Odisséia e a Divina Comédia, além da mitologia
grega, Virgílio e trechos da história da China, dos Estados Unidos e da Itália.

cxxxiii

O documentário alia-se, no mesmo sentido de montagem, às narrativas,


pensamentos, invocações, descrições: a collage de fragmentos de textos
históricos com cartas, mensagens, documentos burocráticos, transcrição de
outros autores. Em paralelo, não apenas a reprodução dos ideogramas
chineses e das passagens em grego, como inúmeros trechos ou fragmentos e
expressões em diversas línguas estrangeiras. E mais o enjambement freqüente,
a separação das palavras, a alteração de nomes próprios, os desenhos, traços,
figuras geométricas. Continuando: a freqüente despontuação, os recursos de
sincopar, o uso da visualidade das palavras e dos sinais de pontuação. A
justaposição dos objetos torna-os mutuamente inteligíveis, sem a interposição
conceitual. Enfim, essa épica hors concours mescla versos e linhas, poemas
“poéticos” e poemas prosaicos. Na superfície, a impressão de um caos
intencional; no fundo, a versão sintético-ideográfica de como acionar o
pensamento...cxxxiv

74
cxxxv

A matéria-prima tanto do surrealismo quanto do cubismo é a mesma matéria-prima do


fragmentarismo: a tentativa de chegar a uma narrativa de provocação do imaginário,
que só pode ser reconhecida e lida através do diálogo razão=imaginação... Um
convite à parceria poética, a fazer do leitor artista da contemplação... Co-produtor do
poema...

Pode-se caracterizar outra coisa que indivíduos?... Não há indivíduos que contêm em
si sistemas inteiros de indivíduos?... cxxxvi

Toda autonomia é originária, é originalidade, e toda originalidade é moral,


originalidade do homem integral. Sem ela não há energia da razão, nem beleza da
alma...cxxxvii

A literatura é o fragmento dos fragmentos; escreve-se a mínima parte do que


acontece e do que se diz, e do que se escreve pouquíssimo perdura...cxxxviii

75
Linguagem
Falão-se os montes Falão-se os galos Falão-se as redes
Falão-se as fontes Falão-se os lagos Falão-se as...sedes
Falão-se as feras Falão-se as cassas Falão-se os bixos
Falão-se as pedras! Falão-se as massas! Falão-se os nixos!
- Todos se falão! - Todos se falão! - Todos se falão!

Falão-se os gatos Falão-se as pennas Falão-se os sernes


Falão-se os sapos Falão-se as scenas Falão-se os vermes
Falão-se as aves Falão-se as cazas Falão-se as flautas
Falão-se...as traves! Falão-se as brazas! Falão-se as pautas!
- Todos se falão! - Todos se falão! - Todos se falão!

Falão-se os broncos Falão-se as vinhas Falão-se os tigres


Falão-se os troncos Falão-se as pinhas Falão-se os livres
Falão-se os peixes Falão-se os livros Falão-se os tactos
Falão-se os feixes! Falão-se os bilros! Falão-se os fatos!
- Todos se falão! - Todos se falão! - Todos se falão!

Falão-se os rios Falão-se os barros Falão-se os matos


Falão-se... os frios Falão-se os jarros Falão-se os ratos
Falão-se os ares Falão-se as faxas Falão-se as fibras
Falão-se os mares! Falão-se as taxas! Falão-se as tigras!
- Todos se falão! - Todos se falão! - Todos se falão!cxxxix

Relação naturalcxl

Derribada c’o vento – de pedras cêrca,


De tantos humanos – similhantemente,
Como dellas, talvez fosse – igual perca!...
Saber tão grande, - não m’é dado á mente!

Relacionado tudo – como está,


Sempre saibamos – forma mysterioza,
A nós homens – só admirar compete;
Á Natureza – só variar – agrada!cxli

Relações naturais de acordo a natureza das coisas, e não relações sociais absurdas, que
as violentavam, eram essas as primeiras reflexões de Qorpo-Santo.... Mas isso não
quer dizer, absolutamente, que tudo se resumia a um retorno à natureza rousseauniana,
a apologia do bom selvagem... Ao contrário, Qorpo-Santo tinha exata noção da força
caótica da natureza em relação ao humano, como, aliás, o final do poema Relação

76
Natural bem o sugere e a peça As Relações Naturaiscxlii deixará muito mais claro
adiante...

Não era a arbitrária substituição das relações naturais por relações sociais, só
aparentemente racionais (teoria ficcional da cultura), pois que as percebia, estas,
igualmente caóticas, tão absurdas quanto, em sua constituição e exercício (conforme
ele mesmo sentia à própria pele, especialmente pela experiência kafkiana em tentar
provar, perante a justiça, a sua sanidade mental, peticionando e submetendo-se a
exames médicos, até mesmo em lugares tão distantes da antiga Porto Alegre, como o
Rio de Janeiro, publicando sua saga judiciária em sua Ensiqlopèdia...

Qorpo-Santo se colocava muito mais como um observador, primeiro, das relações


humanas – naturais e sociais – para, então, delinear-lhes, e delinear-lhes esteticamente,
os modos e as formas, o que só lhe parecia possível pela ascese espiritual, pela
superação de ambas, pela divinização literária do seu ser, pela elevação da sua
natureza humana para além da própria natureza, para além da própria sociedade, que
percebia ser absurda, demasiado absurda...

Para um além do humano-absurdo seguia o pensamento de Qorpo-Santo... Do outro


lado do mundo, um filósofo faria dessa idéia um dos mais firmes pilares da sua
novíssima filosofia... Não por acaso também considerado louco; não por acaso
também só melhor compreendido aos cem anos depois...

Tal qual Nietzsche, Qorpo-Santo tinha absoluta convicção intelectual e artística


do seu gênio, e, portanto, do seu fazer literário, por experimentá-lo corajosamente em
si, na solidão de si mesmo, ao realizar a terrível opção – literária – de tornar-se o que
se tornou: guerreiro e sacerdote de uma fé, a fé literária, decorrente de ter-se
literariamente elevado a matéria densa pensante (por isso “Qorpo-“) aos céus da
criação – alimentado pelos “Reis do Universo”cxliii e ao próprio Criador – (por isso que
“-Santo”)...

FÉcxliv

Por fé qe tenho – nada temo,


Quando falo, quando esqrevo!
A Deus pedi,
E esqrevi:
Jamais – por meus lábios – êrros,
Qonsenti, Senhôr – qe eu profira!
Ou qe minha língua pronuncie
Juizo, qe á qonviqção – fira!

Para Qorpo-Santo, se a natureza e as relações naturais que dela decorrem possuem


suas próprias razões de – variar, a realidade sócio-humana, impondo-se à realidade
natural, o faz sem nenhuma razão lógica, gerando, com isso, a absurdidade, o regresso
ao invés do progresso...

77
Para Qorpo-Santo, a realidade moral é pura ficção, circo, absurdo, pantomina,
irrealidade, imaginação, teatro de variedades... São ação e discurso desconexos, não
apenas “fora” das relações naturais, mas mesmo absurdamente “contra” as relações
naturais... Estas, no entanto, seguem fazendo o seu trabalho... As pessoas assim
colocadas são, pois, meras marionetes de “espíritos” (uma explicação literária do
absurdo) que agem nas mentes dos indivíduos, provocando-os o agir e o falar de
acordo com as suas – “espirituais” – vontades... Por isso, hoje são umas; amanhã,
outras... Ora um general fala como criança, ora uma criança fala como um general...

Tão lindas as aranhas


Tão belas, tão ternas
Pois caem do teto
E não quebram as pernas!cxlv

Para pintar a estética da absurdidade, e não por uma aceitação formal de um


moralismo realista próprio à segunda metade do século dezenove, o teatro de Qorpo-
Santo contrapõe dois discursos dramáticos: como se o primeiro, empostado,
moralizante, próprio do teatro realista então em voga, pareceria O Bem; e, o segundo,
representado pela movimentação cênica sugerida em seus textos, pertencente à farsa,
ao baixo cômico, ao circence, à comédia de costumes, que faria a glória de um
Martins Pena na década de 1840, por exemplo, seria tido como O Mal... Mas essa é
uma percepção ainda superficial e ligeira da sua estética teatral... Absolutamente:
Qorpo-Santo não deixa pedra sobre pedra... Ambos são O Mal, no sentido de que
ambos são caóticos, absurdos... Nenhum movimento há em Qorpo-Santo que não seja
o delineamento radical das absurdidades da própria existência humana, premida entre
suas condições naturais e morais, ambas igualmente desconexas da ação e do discurso
humanos, tal qual, e isso é o menos relevante à análise literária da sua obra, observa no
contexto social com o qual está literariamente envolvido...cxlvi

Minhas obras esqritadas


Não podem ser censuradas!
Pois estão relacionadas

Qom as qouzas enxergadas!


Delas são – fiel retrato,
Qual de fotografia – acto!cxlvii

A obra de arte literária se explica pela sua estética... O fato biográfico


apenas subsidia a compreensão textual, morfológica. E jamais decide a sua
gênese...

Se há uma aparente “facilidade” na escritura do teatro de Qorpo-Santo, como se a ação


dramática, se desenvolvendo a partir de quadros “desconexos”, resultasse de um
“espontaneísmo” do autor, fato é que isto decorre de uma necessidade estética, ao
modo de desenhar, literariamente, as mesmas relações humanas, caóticas, que em sua
existência, já literariamente radicalizada, estavam, ainda literariamente, a se exibir

78
perante seus olhos literários... A vergastar a sua carne (qorpo) e a sua consciência
(santo), “literaturizadas”... Por isso que, na só aparente simplicidade do seu poema
CENSURA, mantendo o clima de absurda comicidade, a personagem Qorpo-Santo
declara à praça dos apressados censores que a sua obra, absurda, é tal qual (fiel retrato)
a absurda realidade humana...

Para Qorpo-Santo o “desconexo” é o mote principal da ação humana. Absurdas são as


relações sociais, em que as pessoas (pessoas virtuais, em verdade) agitam-se em atos e
falas (vida e discurso), ora como se uns, ora como se outros... Vivendo uma série
inesgotável de situações fragmentadas, não apenas desconectadas de qualquer
realidade, mas, na maior parte das vezes, contraditórias, negando a si mesmas, em
relacionamentos sociais tão caóticos quanto absurdos... Os humanos como meras
marionetes de uma existência sem qualquer sentido lógico...
.

A obra de Qorpo-Santo aponta também o descompromisso moral das relações naturais,


caprichosas em sua essência... Daí a “simplória naturalidade” da sua escritura,
necessária às convicções estéticas que obteve no exercitamento do seu ofício literário,
em que fez da própria existência o palimpsesto sobre o qual redigiu seus primeiros
rascunhos...

Personagem de si mesmo, seu qorpo, submetido às absurdidades das relações naturais


na sociedade humana, torna-se santo, torna-se texto literário... Pois só de uma
perspectiva de um personagem-autor, de um qorpo-santo, é que poderia realizar uma
obra literária suficientemente pura a traduzir em arte as absurdidades que flagrava no
contexto natural (material) e moral (ideológico) da existência humana... Nele, como
em todo artista de gênio, é a obra que explica a vida...

O teatro de Qorpo-Santo é, sim, a contraposição de um discurso moralista do realismo


de época, ao discurso circence da ópera bufa... Ma não para exaltar um e negar o outro,

79
nem mera opção formalista maniqueísta de bem/mal... Porque ambos eram absurdos, o
teatro de Qorpo-Santo é a exibição absurda do absurdo da comédia humana, a
representação dramática dessa absurdidade, desnudando tanto a pretensão realista de
aproximação com o real, realismo de época, como a própria comédia de costumes, ao
lhe inserir (contrapor) o componente da ridícula (novamente absurda) aparente
cientificidade do discurso de moral positivista que, no final das contas, é o que acaba
prevalecendo no espírito dos espectadores dessas comédias...

Qorpo-Santo negava gregos e troianos, no teatro assim na vida, inclusive porque nisto
reside o fato (conseqüência, não causa, de sua literatura) de pilhar-se um
“desempatotado”, tal qual já se disse, alhures, de um Cruz e Souza, por exemplo...
O real humano, drama ou comédia, é, para Qorpo-Santo, falso, caótico, absurdo...
Mais dado ao regresso que ao progresso, como proclama o absurdo criado de Mateus e
Mateusa... O absurdo ganha, portanto, voz... Não como um elemento do sensato, mas
como um diálogo do absurdo com o absurdo... Pois se tudo se mostra absurdo, que
linguagem, que retórica, senão as do absurdo, farão com que o seu texto ganhe
consistência literária, na medida que parceiro da absurdidade em que se envolvem
todas as relações humanas?

Nada de acaso, nada de “espontaneísmo”... Qorpo-Santo criou uma sua própria


linguagem dramática, linguagem necessária e suficiente à representação das próprias
idéias literárias... Idéias essas que o levaram, com urgência e heroísmo, à condição de
pensador e inventor de estética literária... E que, houvesse sido contemplada em sua
época, talvez antecipasse a modernidade: o que nos aproxima da relevância da
Literatura para o progresso geral das cidades...

Tudo em Qorpo-Santo parece fugir à reta razão quando se trata de estabelecer um fio
condutor linear de seus pensamentos: quando já vamos acreditando haver decifrado
seus códigos de escritura e representação, quando aprisionamos uma linha de idéias na
esperança de haver desvendado o seu sistema estético, eis que outra ordem possível de
conclusões surge, como se do nada, fazendo desabar, como num passe de mágica, todo
o edifício arduamente construído... Isto é que é o seu fragmentarismo.

Que se observem as interessantes conclusões a que se poderá chegar, a partir de uma


análise semiológica das funções das personagens de Qorpo-Santo, especialmente
quanto à metafórica presença do criado Inesperto, de As Relações Naturais... Será
algo distinto do papel reservado ao que aparece à cena final de Mateus e Mateusa, o
Barrios? Ou se aproximaria mais do Ministro, de Hoje Sou Um; E Amanhã Outro, na
medida em que ambos “esquecem”, temporariamente, suas respectivas posições
hierárquicas? O provável é que, em ambas as peças Qorpo-Santo, aproximando-se da
sátira menipéia carnavalizante, desloca o eixo da narrativa, polifonicamente, em várias
personas: a do ministro conselheiro, do escritor Impertinente, do sábio Qorpo-Santo e
até mesmo do criado Inesperto, na cena macunaímica em que lança pedaços de carne
humana à sanha antropofágica da fêmea primeva: a comicidade esconde, aqui, a
tragédia humana...

80
cxlviii

O discurso moralista é, em toda a obra de Qorpo-Santo, absurdo: absurdo por


inoportuno, absurdo por inconveniente, absurdo por despropositado, absurdo por
inesperto. Fato é que o espetáculo torna risível ambos os discursos moralistas, tanto
o da ordem dita moral (Hobbes) quanto o da ordem natural (Rousseau). Qualquer
interpretação (e encenação) das peças de Qorpo-Santo não pode deixar de considerar
esses elementos de máxima força na construção do seu teatro... do absurdo.da
existência humana... Absurdidade esta que viria ser, muito mais tarde, o ponto de
partida filosófico para toda a literatura existencialista, de Sartre a Camus...

Fosse o observador da realidade, natural e social, que o rodeava, fosse o artista, Qorpo-
Santo adotava o método fragmentarista (mais uma absurdidade reveladora), daí a sua

81
Ensiqlopèdia, à melhor estirpe pré-socrática, e mesmo socrática, ultrapassando, por
todas absurdas em sua univocidade, as dialéticas propostas pelo ordenamento unitário
e absolutista do mundo das idéias, tanto quanto da natureza e da sociedade, que
fizeram das dogmáticas de Platão, Hegel e Marx os mais poderosos inimigos da
sociedade aberta...

Abri-me em qualquer parte;


E lerás coisa que farte!cxlix

O título sob o qual Qorpo-Santo reúne a sua obra, Ensiqlopèdia sugere uma leitura dos
enciclopedistas franceses, no que tinham de libertário, e de disposição da cultura
como enumeração de fragmentos, todos igualmente relevantes, cuja importância se
atribui de uma perspectiva da necessidade do conhecimento, para a qual deve
contribuir o leitor, idéias centrais de qualquer boa enciclopédia... O epíteto que se lhe
segue, Ou Seis Mezes De Huma Enfermidade!, mote a um só tempo irônico e
sarcástico, segue a insistente linha da absurdidade literária, pois, numa só aparente
concordância com sua fama de doente mental, está a demonstrar, pelo seu conteúdo,
qual era a sua doença: era o modo de Qorpo-Santo declarar, e o confessar, que, durante
seis meses (e fora muito modesto nisso) sofrera da aguda febre literária, a que acomete
os que se entregam tão radicalmente, corpo e alma, ao seu fazer literário, e de dizer:
Eis a doença!... A uma totalidade formal e materialmente disposta em Unidade, como
seria, por exemplo, o livro em formato tradicional, reunindo os temas em seu contexto
próprio, com destaque individualizado, Qorpo-Santo preferiu a miscelânea jornalística,
o almanaque, o magazine, a enciclopédia mundana, em que a totalidade de sua obra

82
literária se esparrama fragmentariamente em meio a toda uma série de preocupações
não propriamente estéticas...
Ao enumerar os seus volumes, se os denomina de livros (de 1 a 9), e anote-se que
possuem todos os mesmos frontispícios, é para fazer ver que o seu trabalho se
qualifica como literatura... Na forma própria ao livro que inventa: livro de conteúdo
fragmentário, e fragmentado, a tratar de uma realidade fragmentária, e fragmentada...

Por isso é que nem o moralismo (ou teatro realista) de suas personagens, nem as
relações naturais (comédia de costumes) podem representar, em termos absolutos, o
mal e/ou o bem: ambos os caminhos levam a humanidade aos sítios do absurdo
exatamente quando tomados aos modos absolutistas... Em ambas, o caos...

Daí sua estética impiedosamente fragmentarista: tanto as relações sociais


desconectadas das relações naturais eram absurdas, quanto as relações naturais
desconectadas das relações sociais igualmente o eram...

Para demonstrar essa absurdidade, esse caos, esse mundo aos pedaços, nada mais
apropriado que uma estética radical da absurdidade...

Quanto ao aparente simplismo da obra de Qorpo-Santo, há que se lhe seguir a


indicação de tratar-se de obra aberta, até aí um antecipador, e complementar-lhe a
aventura do seu texto conforme as respectivas velas de navegação estética...

A estética se define a partir do estilo/tema próprio do autor de obra literária, em que


sempre se há de seguir a concepção aristotélica de que forma é condição de conteúdo...
Para um conteúdo tão fragmentariamente, tão radicalmente absurdo, uma forma, um
discurso ao mesmo tempo tão fragmentariamente quanto radicalmente absurda, em
todos os seus elementos...

[Capa: Renata Barros, 1995]

83
Se a Ensiqlopèdia é construída como uma colcha de retalhos, algo assim como as
atuais agendas dos adolescentes pós-modernos (que são a um só tempo agendas,
diários, álbuns de figurinhas, enfim, registro de tudo o quanto lhes faça a cabeça), é
porque Qorpo-Santo percebe que o tudo que se passa no mundo compondo a vida
humana, possui igual relevo, igual força motriz, sendo descabida a hierarquização dos
elementos vitais, assim do humano quanto da natureza e da sociedade...
Para Qorpo-Santo, como para a pluralidade pós-moderna, um poema é tão importante
quanto uma receita culinária...
Uma petição judicial é tão significativo quanto um rol de cuidados com a saúde...

Uma peça teatral guarda as mesmas proporções que um código de conduta para os
jornalistas...

Assuntos que se dispõem, fragmentariamente, sem hierarquia gráfica, pelos seus vários
livros... Que, afinal, visto como Literatura (lato senso), como poética, todo fato é fato
literário, tudo é poesia...

*
Na pós-modernidade, tanto quanto já o fazia Qorpo-Santo, o mundo, a vida, a
natureza, o humano, a própria sociedade, são percebidos e compreendidos em sua
especificidade fragmentária, sem hierarquização...

...O Todo, Deus, mediado, em Qorpo-Santo, pelos Reis do Universo, aloca em tudo e
em todos, os espíritos, as energias vitais... Estes sopram como os ventos através dos
humanos, fazendo-os serem, hoje, uns, e amanhã, outros, à semelhança da teoria dos
átomos desordenados de Demócrito e Epicuro: Qorpo-Santo não explica se ao inteiro
acaso...

84
Todos somos fragmentos em movimento, movimentos ao acaso, constituindo-nos por
um processo permanente de união e desunião com os demais fragmentos... Por isso,
todos somos iguais... For every atom belonging to me as good belongs to you...cl

Átomos, conjuntos mutáveis de átomos, a nos esbarrar, fundir, desgarrar, num ir e vir
incessante de espíritos, mesmo que alguns tenham se feito carne...
O que se constitui em inexorável impossibilidade de agir conforme qualquer
ordenamento absolutista, sem que isso nos condene eternamente ao sofrimento, ao
desprazer, às relações absurdas e injustas...

Hoje Sou Um; E Amanhã Outro

MINISTRO - Primeiramente,saiba V.M. de uma grande descoberta


no Império do Brasil, e que se tem espalhado por todo o mundo
cristão, e mesmo não cristão! Direi mesmo – por todos os entes da
espécie humana!
O REI (muito admirado) – Oh! Dizei; falai! Que descobriram - é
erro!?
MINISTRO - É cousa tão simples, quanto verdadeira:
1a. – Que os nossos corpos não são mais que os invólucros de
espíritos, ora de uns, ora de outros; que o que hoje é Rei como V.M.
ontem não passava de um criado, ou vassalo meu, mesmo porque
senti em meu corpo o vosso espírito, e convenci-me, por esse fato,
ser então eu o verdadeiro Rei, e vós o meu Ministro! Pelo
procedimento do Povo, e desses a quem V.M. chama conspiradores
– persuadi-me do que acabo de ponderar a V.M.
2a. Que pelas observações filosóficas, este fato é tão verídico, que
milhares de vezes vemos uma criança falar como um general; e
este como uma criança.cli

Aos conjuntos mutáveis de átomos Qorpo-Santo acrescenta a idéia de conjuntos


voláteis de voluntariedade alheia, e dá-lhes o nome de espírito, que compõem, em
permanente transação, o espírito de cada indivíduo...

À noção de espírito como vontade plural, como voluntariedade, a explicar a variedade


comportamental do humano, e para além das concepções místicas (de alma como
unidade, como motor de reencarnações) que se encontra em Qorpo-Santo, vem se
juntar a idéia de mundo enquanto Sistema, e vida humana enquanto unidade energética
(que também em Matrix, o filme, se observa), presentes no filme 13º Andarclii, da
novíssima safra cinematográfica da pós-modernidade...

A correspondente exata do pensamento de Qorpo-Santo quanto aos espíritos que


habitam a mente humana encontra-se no filme indicado ao Oscar 2000, Quero Ser
John Malkovitch (Being John Malkovich)cliii, em que várias pessoas “freqüentam” o
corpo/espírito da personagem-título, fazendo-o agir ora como uns, ora como outros...

85
A história de Quero Ser John Malkovich (nome do conhecido ator que o interpreta,
alusão pós-moderna à idéia de representação, de interessantes significados), pode ser
vista como uma explicitação, uma demonstração fenomenológica das idéias de Qorpo-
Santo, em sua peça: Hoje Sou Um; Amanhã, Outro... Até a metáfora principal do
filme, o títere,corresponde exatamente ao objeto da fala da personagem de Qorpo-
Santo, o Ministro, que fala como conselheiro do Rei... Qorpo-Santo ataca dois
aspectos: as pessoas como títeres de espíritos, e o fato de que os pensamentos não são
propriamente pensamentos pessoais, como reflexo da mente individual (ideologia)...

Idéias que respeitam à formação da consciência individual, da disfunção entre a


personalidade e os seus atos, do fato de que um general às vezes fala como criança; de
que uma criança às vezes fala como general... Qorpo-Santo é muito claro quando usa
o verbo habitar para definir essa presença “alheia” na consciência individual,
exatamente como o faz Charlie Kaufman, no “Manual do Hospedeiro Humano, O
Ciclo da Vida do Hospedeiro Humano Conhecido como Lester”, livro utilizado pelas
personagens do filme, que buscam a imortalidade transferindo-se para a mente de John
Malkovich...

Habitar a mente de outrem, esta é precisamente a alegoria principal sobre a qual o


filme elabora sua ficção: algo totalmente absurdo, em meados do século XIX, Qorpo-
Santo brinca com a aparente absurdidade dos seus pensamentos, tanto quanto com a
absurdidade do pensamento de época... Ao centro, sempre, o fato ficcional... Não é
por acaso que, no filme, se consulta um tal Manual do Hospedeiro Humano:
tivéssemos nós acesso “ficcional” a este curioso livro, quem sabe constataríamos que,
dele, talvez mesmo em sua “bibliografia”, constasse alguma referência à obra de
Qorpo-Santo?

Será que Lester e Qorpo-Santo seriam consciências ocupadas por esses tais Reis do
Universo, de que nos fala a peça Hoje Sou Um; Amanhã. Outro...? Algo assim, como
uma forma democrática e pluralista de coabitação tanto espiritual quanto natural...

86
Quero Ser John Malkovich, e 13º Andar (habitação sucessiva de personagens, do real
ao virtual) são alegorias típicas de uma era pós-moderna: Qorpo-Santo anunciara-lhes
já em 1866... Que bem exemplificam o caráter profundo e extenso da obra de arte, que
há de sempre ser lida, assim a literatura (estrito senso) quanto o cinema, aos seus
muitos modos de ler e saber...

*
Bob Dylon previu algumas fragmentações de pensamento, de imagens e
da própria sociedade...

cliv

Bob Dylan não mistura apenas álbum a álbum ou canção a canção, com
ele é verso a verso; você passa para um mundo diferente em cada verso
seguinte... clv
Ele fazia um quadro do que acontecia à sua volta. Para mim ele é o
Picasso do Rock’n’Roll... clvi

*
Há um tempo para desconstruir... E há um tempo para selecionar, dentre os materiais
da desconstrução, o que servirá a novas construções... Na pós-modernidade, todos os
materiais (fragmentos) se aproveitam...
*

87
clvii

Ficção de um indivíduo (algum Monsieur Teste às avessas) que


abolisse nele as barreiras, as classes, as exclusões, não por sincretismo, mas
por simples remoção desse velho espectro: a contradição lógica; que
misturasse todas as linguagens, ainda que fossem consideradas
incompatíveis; que suportasse, mudo, todas as acusações de ilogismo, de
infidelidade; que permanecesse impassível diante da ironia socrática (levar o
outro ao supremo opróbrio: contradizer-se) e o terror legal (quantas provas
penais baseadas numa psicologia da unidade!). Este homem seria abjeção de
nossa sociedade: os tribunais, a escola, o asilo, a conversação, convertê-lo-
iam em um estrangeiro: quem suporta sem nenhuma vergonha a
contradição?

Ora este contra-herói existe: é o leitor de texto; no momento em que se


entrega a seu prazer. Então o velho mito bíblico se inverte, a confusão das
línguas não é mais uma punição, o sujeito chega à fruição pela coabitação
das linguagens, que trabalham lado a lado: o texto de prazer é Babel feliz

Se leio com prazer esta frase, esta história ou esta palavra, é porque
foram escritas no prazer (este prazer não está em contradição com as queixas
do escritor). Mas e o contrário? Escrever no prazer me assegura – a mim,
escritor – o prazer do meu leitor? De modo algum. Esse leitor, é mister que eu
o procure (que eu “drague”), sem saber onde ele está. Um espaço de fruição
fica então criado. Não é a “pessoa” do outro que me é necessária, é o espaço:

88
a possibilidade de uma dialética do desejo, de uma imprevisão do desfrute:
que os dados não estejam lançados, que haja um jogo...clviii

*
O fragmentarismo, formulação estética capaz de acolher os muitos modos de ver e
saber o mundo, sempre esteve presente no pensamento desde que, seguramente, foi o
modo inicial do humano compor o seu discurso da realidade e do seu pensamento, do
seu sentimento de perplexidade e de desejo de conhecimento... Agora, na pós-
modernidade, faze-se revival, eclode como necessário ao atual estágio da civilização...

A cultura contemporânea é, essencialmente uma cultura-mosaico.


Compreendê-la com maturidade implica em dominar os seus fragmentos. Isto
significa que ela não se dá como um todo. E não se dando como um todo, ela
decreta a morte da visão de conjunto. Não podemos pensá-la da mesma
maneira pela qual pensávamos a Idade Média ou o Renascimento. Sua
heterogeneidade arrasta consigo um experimentalismo incessante e um
relativismo permanente. Se a Idade Média ou O Renascimento eram, graças
aos seus pontos centrais de referência (o teocentrismo na primeira e o
humanismo no segundo), um macrocosmos analisável, a cultura
contemporânea enfeixa um volume móvel e contraditório de microcosmos. A
universalidade que buscávamos no todo das culturas anteriores, nós a
encontramos hoje em cada fragmento capaz de conter o sentido ou o selo do
nosso tempo.
O império do fragmento tem as suas conseqüências. Num plano geral de
metodologia, ele nos obriga a meditar as manifestações tópicas e particulares
da realidade. Ele nos leva a evitar os conceitos extensivos e absolutos e a
assumir um tipo de reflexão baseada nas condições peculiares dos
acontecimentos no seu curso presente e imediato. Esse império antepõe a idéia
de pesquisa à idéia de formulação sistemática. Viveríamos assim na idade do
ensaio, em que o pensamento age por dedução, a partir de experiências
parciais, conforme a natureza também parcial do seu objeto de análise. Não
temos, por isso, diante de nós a configuração global da cultura, mas
culturemas ou cápsulas que podem resumir a significação da época inteira.
E o fundamento maior dessas contradições, na cultura-mosaico, está em
que qualquer ideologia, concepção ou projeto só se efetivaria concretamente,
indo de etapa a etapa de experimentação, de teste a teste, de fragmento a
fragmento. Se desejássemos impor qualquer uma delas em bloco e de vez,
perderíamos a capacidade racional do ensaio e as converteríamos em místicas
irracionais, em verdadeiras profecias que esperamos se cumpra contra tudo e
contra todos...clix

Mas todo discurso material unívoco, que se resume em interpretação unilateral do


mundo, imposta – e aceita – conforme seu maior ou menor grau de convencimento,

89
seja ideológico, seja autoritário pura e simplesmente, peca ainda pelo simples fato de
que, dada limitação do humano em interpretar, mesmo em interpretar-se, toda
interpretação sempre será de veracidade duvidosa, seja ela unitária, seja múltipla. Ou
não haveria O Mistério...

A linearidade e a univocidade, no fragmentarismo, são discursos próprios aos silêncios


textuais...

O fragmentarismo permite que se ouça o discurso da Totalidade, o discurso do Tao, da


totalidade que é inapreensível pela univocidade só material, cuja linearidade, tais quais
as correntes magnéticas da Terra, os sons das esferas, o cosmos em que o humano se
insere, é uma linearidade de eterno devir de mundo, humano e cultura...

No fragmentarismo, A Totalidade existe no mar de silêncio em que navegam os


fragmentos, no silencioso fluir próprio de todas as coisas, como um fluxo poético da
cultura... Tal qual o fluir poético do Kosmos... O Tao da Terra... O constante devir
poético do próprio humano...

O poético devir do humano, o fluir poético do mundo, o fluxo permanente da cultura


em direção à Poesia... ...Quem, por maior que seja, autor ou leitor, se arrogará sua
absoluta apreensão, a sua total mimesis?...

O Mistério se revela, para nós humanos, em fragmentos de tempo tanto quanto em


fragmentos de matéria, em fragmentos de espaço...

Em matéria de arte, toda ela, que – et pour cause – podemos denominar, lato sensu, A
Poética, toda interpretação linear e unívoca será sua negação, a negação do Mistério
que necessariamente encerra, que necessariamente faz de uma obra de arte o que ela
é...A sua Poesia...

90
Se a Poesia é o que faz de uma obra uma obra de arte, já que é ela que se assemelha ao
Mistério, toda interpretação é fazer retornar, por negação do misterioso, do poético,
uma obra de arte, ao seu elemento puramente material...

O fato artístico, fato poético, todo ele, é jamais interpretável senão pelo que se contém
na obra... Pela sua capacidade – objeto de arte – de nos remeter diretamente ao terreno
do Mistério, sem que para isso tenhamos que ser intermediados seja pelo racional, seja
pelo irracional, seja pelo pensamento exato, seja pelo pensamento delirante ou
absurdo... ...Algo assim como estar diante de um simples cálice... Um santo graal

Toda obra de arte hierarquizada de acordo as diversas interpretações do mundo segue,


pouco a pouco, perdendo a seiva da sua concepção original, para tornar-se algo
estritamente material, sem o condão energético que a elevou, originariamente, ao
Mistério...

A estratificação hierárquica da obra é um estabelecimento artificial de uma concepção


de perfeição que, até por humana – raça que não possui título de propriedade sobre o
Mistério – é sempre simulacro da Perfeição, esta, a autêntica, só apreensível por
lampejos da Poesia... Mais grave: que se harmoniza com o humano, via inspiração,
independentemente de erudição, cultura, educação, bom senso, moralidade, etc...

As palavras, enquanto signos de representação, haverão de se aproximar, mas uma


aproximação por semelhança, e o mais que possa, ao significado (já por natureza tão
distantes entre si – missão de exatidão impossível) a revelar o seu objeto tal qual se
encontra no mundo, seja dos fatos, dos sentimentos ou das idéias...
Por isso que, (e daí a impossível semelhança/similitude nas traduções literárias),
significantes e significados (e não apenas os significantes) são vários e distintos entre
os diversos povos e línguas...

O acesso ao Mistério se dá segundo cada qual dos povos que os criaram (significantes)
e os percebem (significados)clx... Freedom não é o mesmo que Liberdade... Love
nunca será o mesmo que L’amour... Saudade é verso de uma estrofe só...

A similitude (correspondência quase exata) entre significantes e significados, em


linguagem transparente, impede o acesso ao Mistério, conectando apenas a parte
materialmente apreensível, sempre simplória, dos objetos comunicados...

A comunicação está para a linguagem da mesma forma que a


reprodução está para a sexualidade.
Na comunicação, as palavras e os conceitos interagem com o intuito de
reprodução e circulação, sem jamais copular. Inteligência artificial, assexuada,
in-sexuada, equivalente à inseminação artificial. Máximo de reprodução,
mínimo de sexo.
Ao inverso, o êxtase poético da linguagem corresponde à fase libertina
de uma sexualidade sem reprodução (a linguagem poética se exaure em si

91
mesma e não se reproduz, assim como o pensamento, cuja continuidade, por
esse motivo, jamais é assegurada).clxi

Parece-me que Magritte dissociou a semelhança da similitude, joga


esta contra aquela. A semelhança tem um “padrão”: elemento original que
coordena e hierarquiza a partir de si todas as cópias, cada vez mais fracas,
que podem ser tiradas. Assemelhar significa uma referência primeira que
descreve e classifica. O similar se desenvolve em séries que não têm começo
nem fim, que é possível percorrer num sentido ou em outro, que não
obedecem a nenhuma hierarquia, mas se propagam de pequenas diferenças
em pequenas diferenças. A semelhança serve à representação, que reina
sobre ela; a similitude serve à repetição, que corre através dela. A semelhança
se ordena segundo o modelo que está encarregada de acompanhar e de fazer
reconhecer; a similitude faz circular o simulacro como relação indefinida e
reversível do similar ao similar...clxii

Hierarquização de semelhanças, descrições e classificações não significam, em


hipótese alguma, hierarquização positiva dos objetos de arte, pois é sempre de Arte
que se está a considerar... Nesta, as semelhanças ocorrem em mais de um plano...
Objetos, fatos, pensamentos, sentimentos... Cujos “padrões” são, pelo Mistério,
inatingíveis...

A semelhança já nasce tanto da diferença, quanto dessa noção de inatingibilidade de


identidade absoluta (apropriação) com o Mistério... A similitude, simulacro que se
convida à repetição, estabelece artificial identidade ocultando, assim, as diferenças
intrínsecas, o que justifica os modelos, em especial, os positivismos...

92
A semelhança – tal como é usada na linguagem cotidiana – é
atribuída às coisas que possuem ou não natureza comum. Diz-se:
‘parecidos como duas gotas d’água’, e diz-se, com a mesma facilidade,
que o falso se parece com o autêntico. Esta pretensa semelhança
consiste em relações de similitude, distinguidas pelo pensamento que
examina, avalia e compara. Tais atos do pensamento se efetuam com
uma consciência que não vai além das similitudes possíveis: a essa
consciência, as coisas revelam apenas seu caráter de similitude.
A semelhança se identifica com o ato essencial do pensamento:
o de parecer. O pensamento parece tornar-se aquilo que o mundo lhe
oferece e restituir aquilo que lhe é oferecido, ao mistério no qual não
haveria nenhuma possibilidade de mundo nem de pensamento. A
inspiração é o acontecimento onde surge a semelhança.
A arte de pintar – não concebida como mistificação mais ou
menos inocente – não seria capaz de enunciar idéias nem exprimir
sentimentos: a imagem de um rosto que chora não exprime a tristeza,
do mesmo modo que não enuncia uma idéia de tristeza, pois idéias e
sentimentos não possuem nenhuma forma visível.
A arte de pintar – que merece verdadeiramente se chamar arte
da semelhança – permite descrever, pela pintura, um pensamento
suscetível de se tornar visível. Este pensamento compreende
exclusivamente as figuras que o mundo oferece aos nossos olhos:
pessoas, cortinas, armas, astros, sólidos, inscrições, etc. A semelhança
reúne espontaneamente essas figuras numa ordem que evoca
diretamente o mistério. A descrição de um tal pensamento não suporta
a originalidade. A originalidade ou a fantasia só trariam fraqueza e
miséria. A precisão e o encanto de uma imagem da semelhança
dependem da semelhança e não de um modo fantasioso de descrever.
‘O como pintar’ a descrição da semelhança deve se limitar
unicamente em dispor as tintas sobre uma superfície, de tal modo que
o aspecto efetivo delas se distancie e deixe aparecer uma imagem da
semelhança.
Uma imagem da semelhança mostra tudo o que ela é, quer dizer,
uma reunião de figuras onde nada é subentendido. Querer interpretar
– a fim de exercer não sei que falaciosa liberdade – é desconhecer uma
imagem inspirada substituindo-lhe uma interpretação gratuita que
pode, por sua vez, ser o objeto de uma série sem fim de interpretações
supérfluas.
Uma imagem não deve ser confundida com um aspecto do
mundo nem com alguma coisa de tangível. A imagem de um pão com
geléia não é alguma coisa de comestível e, inversamente, tomar um
pão com geléia e expô-lo num salão de pintura não muda em nada seu
aspecto efetivo, que seria tolo acreditar capaz de deixar aparecer a
descrição de um pensamento qualquer. A mesma coisa acontece, diga-

93
se de passagem, com as tintas dispostas, por vezes atiradas, sobre uma
tela por prazer ou por uma utilidade particular.
A inspiração oferece ao pintor aquilo que é preciso pintar: a
semelhança que é um pensamento suscetível de tornar-se visível pela
pintura – por exemplo, um pensamento cujos termos são um pão com
geléia e a inscrição ‘isto não é um pão com geléia’ ou ainda, um
pensamento constituído por uma paisagem noturna sob um céu
ensolarado. ‘De direito’ tais imagens evocam o mistério, enquanto, ‘de
fato’ somente, o mistério seria evocado pela imagem de um pão com
geléia solitária ou pela imagem de uma paisagem noturna sob um céu
estrelado.
Entretanto, todas as imagens que contradizem o ‘senso comum’
não evocam , necessariamente, ‘de direito’ o mistério. A contradição
pode derivar apenas de um modo de pensar cuja vitalidade depende de
uma possibilidade de contradizer. A inspiração não depende de uma
boa ou má vontade. A semelhança é um pensamento inspirado que não
se preocupa de se harmonizar com um modo de pensar ingênuo ou
erudito. Ela se opõe necessariamente tanto à razão quanto ao absurdo.
É com palavras que os títulos são dados às imagens. Mas essas
palavras deixam de permanecer familiares ou estranhas quando
nomeiam convenientemente as imagens da semelhança. É preciso
inspiração para dizê-las e ouvi-las...clxiii

clxiv

O que é a verdade, portanto? Um batalhão móvel de metáforas,


metonímias, antropomorfismos, enfim, uma soma de relações humanas, que
foram enfatizadas poética e retoricamente, transpostas, enfeitadas, e que, após
longo uso, parecem a um povo, sólidas, canônicas e obrigatórias: as verdades
são ilusões...

94
Das quais se esqueceu que o são, metáforas que se tornaram gastas e
sem força sensível, moedas que perderam sua efígie e agora só entram em
consideração como metal, não mais como moedas...clxv

Se por um lado, a invenção do conceito, surgindo a partir da palavra escrita, deu


partida ao poderoso motor da civilização ocidental, desde os gregosclxvi, multiplicando
em progressão cultural mais que geométrica as possibilidades de descobertas e
invenções de todo gênero, artísticas, filosóficas e científicas, de outro tornou plausível
o encobrimento das diferenças...
...da singularidade, vista então, enquanto ser anti-conceitual, como inimiga da
sociedade organizada...

A pós-modernidade é fruto de múltiplas tentativas de descerrar os véus da objetividade


conceitual, as ilusões das verdades unívocas...
...de provar, talvez pecaminosamente, os muitos frutos proibidos: as muitas verdades
das múltiplas ilusões...

No bojo dessa reavaliação conceitual, é claro, emerge o primitivismo – então


marginalizado como magia – que amordaçado e manietado pela atividade
conceitual...pelo estabelecimento da semelhança como elemento organizador da
cultura... Uma idéia geral, uma idéia invisível, superior e perfeita, no mais nobre estilo
Platão-Hegel, que, a bem da verdade, não se encontra nas proposições estéticas de
Magritte em sua busca pela semelhança, muito ao contrário, pois que este estava bem
atento (o suficiente para combatê-las) à transformação/substituição paulatina das
semelhanças em/pelas similitudes...

...Nietzsche já havia observado esses perigos da invenção do conceito de semelhança,


ela mesma, já o identificando com o estabelecimento desta como similitude
filosófica...

...Toda palavra torna-se logo conceito quando justamente não deve


servir, eventualmente como recordação, para a vivência primitiva,
completamente individualizada e única, à qual deve seu surgimento, mas ao
mesmo tempo tem de convir a um sem-número de casos, mais ou menos
semelhantes, isto é, tomados rigorosamente, nunca iguais, portanto, a casos
claramente desiguais. Todo conceito nasce por igualação do não igual. Assim
como é certo que nunca uma folha é inteiramente igual a uma outra, é certo
que o conceito de folha é formado por arbitrário abandono dessas diferenças
individuais, por um esquecer-se do que é distintivo, e desperta então a
representação, como se na natureza além das folhas houvesse algo, que fosse
“folha”, eventualmente uma folha primordial, segundo a qual todas as folhas
fossem tecidas, desenhadas, recortadas, coloridas, frisadas, pintadas, mas por
mãos inábeis, de tal modo que nenhum exemplar tivesse saído correto e
fidedigno como cópia fiel da forma primordial...

95
...e especialmente suas implicações no terreno de formação ideológica do discurso
unívoco...

...Denominamos um homem “honesto”; por que ele agiu hoje tão


honestamente? – perguntamos. Nossa resposta costuma ser: por causa de
sua honestidade. A honestidade! Isto quer dizer, mais uma vez: a folha é a
causa das folhas. O certo é que não sabemos nada de uma qualidade
essencial, que se chamasse “a honestidade”, mas sabemos, isso sim, de
numerosas ações individualizadas, portanto desiguais, que igualamos pelo
abandono do desigual e designamos, agora, como ações honestas; por fim,
formulamos a partir delas uma ‘qualitas occulta’ com o nome: “a
honestidade”. A desconsideração do individual e efetivo nos dá o conceito,
assim como nos dá também a forma, enquanto que a natureza não conhece
formas nem conceitos, portanto também não conhece espécies, mas somente
um X, para nós inaccessível e indefinível. Pois mesmo nossa oposição entre
indivíduo e espécie é antropomórfica e não provém da essência das coisas,
mesmo se não ousamos dizer que não lhe corresponde: isto seria, com efeito,
uma afirmação dogmática e como tal tão indemonstrável quanto seu
contrário...clxvii

A maior parte das coisas boas no cinema acontece por acidente... clxviii

Tanto na vida material quanto nas artes todas, o fragmentarismo larga sua função
apenas metodológica para constituir-se em prática social e artística...

O fragmentarismo é a única maneira, com todas as ressalvas que o paradoxo aponta,


“unitária” de se perceber a realidade e a alma de nossos tempos...

Hoje, mais que nunca, em todas as histórias das humanidades ocidentais, desde os pré-
socráticos, fervilham, ao mesmo nível das relevâncias, seja a que título for, os muitos
modos de ver e de ler o mundo, muito especialmente as escritas todas, as que o
humano inscreve de múltiplas formas em sua própria humanidade...

Pentimentar: pensar/sentir/saber/agir por fragmentos é dançar ao som dos


próprios múltiplos sons ubíquos do Espírito...

Os fragmentos que nos chegam através dos sonhos, das emoções, do imaginário, são,
em princípio, fragmentos natos... A razão muitas vezes nos convida à fragmentação no
sentido da análise, da ampliação do conhecimento das partes, da decomposição de uma
dada totalidade... São fragmentos que se tornam tais...

96
clxix

As fragmentações (classificações, desconstruções) são metodológicas... Pois o mundo,


natural ou humano, opera por intercambiação fragmentária...

clxx

A totalização é apenas um momento de união fragmentária... É pressuposto


ideológico, ou processo, caminhada progressiva em direção à infinitude...

Nos sistemas unívocos, tal como ocorre nos computadores, objetos e fatos e idéias são
arquivos que fragmentam o programa inicial na medida mesmo em que são
regularmente utilizados... As periódicas operações de desfragmentação, que tornam à

97
integralidade do sistema, são apenas momentos de inanição, de estática... Pois tão logo
se retorne à dinâmica da ação, assim se vão outra vez fragmentando, soltando-se do
sistema, objetos e fatos e idéias...

Pois se a vida, se considerarmos tempo e espaço humanos, é fragmentária e


fragmentada, viver, o humano, na plenitude das suas potencialidades, e enquanto
sujeito da própria existência, proprietário da própria vida, é fragmentar-se e
fragmentar...
A atividade humana de desfragmentação, assim da realidade quanto do discurso, é uma
atividade religiosa, um ato de oração... Só Deus, na sua integralidade originária, será
Unidade, Totalidade... Mas a ubiqüidade de Deus é dom presente em toda
fragmentação, em cada qual dos seus fragmentos...

clxxi

– No estudo Eliot e a poética do fragmento, Ivan Junqueira(2000) aponta


que ao assimilar suas multiformes influências, Eliot desenvolveu um sutilíssimo
processo de globalização literária. Filtrando, metabolizando e integrando
mediante complexas operações mimético-metamórficas o passado oriental
sânscrito, certas pulsações gregas e latinas, certas flores da França desde a
Provença até Mallarmé, Dante também e toda a multiforme floração da poesia
inglesa, Eliot promoveu uma revitalização e eliotização de todo esse passado
clássico. Neste processo de transformação e de síntese estilística (buscando e
desenvolvendo a sua marca de fábrica, Eliot nada mais fez, segundo Junqueira,
do que ratificar a sua crença de que a poesia é um continuum destinado a
preservar e reviver ( e transformar, eu diria) a herança legada pelos estratos
literários de épocas anteriores.
Na visão de Eliot, como conseqüências do exposto, mesmo no poeta mais
original poderemos amiúde descobrir que não apenas o melhor, mas também as
passagens mais individuais de sua obra, podem ser aquelas em que os poetas

98
mortos, seus ancestrais, revelam mais vigorosamente sua imortalidade. (Citado
por Junqueira, 2000, p. 111).
O passado está vivo, contido no presente e o envolvendo também. Os
antepassados, através de suas formas estéticas consagradas, escoram as ruínas
emocionais do poeta, e povoam o mundo da perpétua solidão e negritude.
Talvez possamos dizer que no processo de criação do poema, tochas se
acendem convocando à luz da linguagem os ancestrais do poeta com os quais
ele se identifica. Os mortos emergem das profundezas tumulares do
inconsciente do artista e iluminam a vida e dão forma e consistência ao poema.
As palavras se movem, a música se move (...). As palavras após a fala
alcançam o silêncio. Apenas pelo modelo, pela forma.
Podem as palavras ou a música alcançar
O repouso, como um vaso chinês que ainda se move
Perpetuamente em seu repouso.
Não o repouso do violino, enquanto a nota perdura.
Não apenas isto, mas a coexistência,
Ou seja, que o fim precede o princípio,
E que o fim e o princípio sempre estiveram lá
Antes do princípio e depois do fim.
E tudo é sempre agora.
A quase totalidade da poesia de Eliot caracteriza-se pela experiência da
fragmentação, da multiplicidade descontínua de matrizes composicionais, do
desenvolvimento assimétrico das partes isoladas (Junqueira, op.cit., p.111).
Essas partes podem se reunir numa espécie de todo, contidas e enfeixadas no
organismo poemático maior. Eliot escreve que essa é uma das maneiras pelas
quais a sua mente parece operar, do ponto de vista poético, ou seja, realizando
fragmentos poéticos em separado, e depois estudando a possibilidade de fundi-
los num conjunto, fazendo uma espécie de todo...clxxii

*
Todo texto filosófico é, por primeiro, prosa poética. Demócrito Heráclito, Platão,
Hegel, Rousseau, Thoreau, Marx, Sartre, Nietzsche, Freud, Jung, Reich, Marcuse,
enfim, o que primeiro assombra em seus textos é a poética presente em suas
entrelinhas... Portanto, e por primeiro, a filosofia é um fato poético; por segundo, a
poesia é também o modo de conhecimento do mundo... A poesia é o sopro divino no
barro de todas as epistemologias...

O fragmentarismo esconde, por detrás das suas aparentes “facilidades”, o fato de ser
pensamento, com as dificuldades inerentes ao pensar; e sentimento, com as
dificuldades inerentes ao sentir... Razão e Emoção aliadas no exercício poético de
galgar a infinitude...

99
O século vinte encontrou diante de si, herdado do século que o precedeu,
um problema fundamental – o da conciliação da Ordem, que é intelectual e
impessoal, com as aquisições emotivas e imaginativas dos tempos recentes.
É impossível resolver este problema, como querem os integralistas
franceses, pela supressão de um dos seus termos. É igualmente impossível
resolve-lo aceitando a predominância da emoção sobre a razão, porque, aceite
esta predominância, desaparece a ordem, e o problema está por resolver.
Evidentemente que há só uma solução: o levar a personalidade do artista ao
abstrato, para que contenha em si mesma a disciplina e a ordem. Assim a
ordem será subjetiva e não objetiva.
Tornar a imaginação abstrata, tornar a emoção abstrata, é o
caminho.clxxiii

clxxiv

No texto unívoco, o leitor escapa (e assim o autor) de ter que percorrer toda a linha de
raciocínio a chegar à conclusão, ao fim do texto... Tal qual nas novelas de horário
nobre, a perda de uma parte, por preguiça ou incompreensão, não acarreta a perda do
texto, ou da proposta, ou da conclusão, do fim, pois logo que se o retoma, o que
importa mesmo é o final feliz...

100
clxxv

No fragmentarismo, tal qual nos seriados e casos especiais, a perda de um episódio-


fragmento da série acarreta a perda daquela conclusão, daquele fim, daquela proposta,
seu final, que tanto pode ser feliz ou infeliz... O que se ganha, então, são
(in)conclusões... Mas...não será assim a vida humana?...

A Humanidade é feita de fragmentos que buscam completudes: as vidas humanas,


nossos corpos e almas, que nós tentamos, quase sempre em vão, e salvo por uns
poucos momentos de eterno, juntar como um modelo de armar...
A Poesia é a única inteligência desse puzzle: por isso que são muitos os modos lego-
poéticos de nos sabermos humanos...

101
clxxvi

Há uma nova pergunta no ar, nesses inícios do século XXI: somos tantas personas que,
afinal, quais mesmo somos nós? Desde já algo parece indubitável: somos estados
fragmentários de consciências...

*
Desmaterializado pelo movimento facetado, o espaço cubista não é em
verdade tanto um espaço espiritualizado como um espaço intelectualizado, na
tônica racional de áreas sistemática e logicamente superpostas. Naturalmente,
isso não lhe tira o caráter emocional. Embora na fase analítica as obras
cubistas já tenham perdido os traços mais violentos da influência africana,
permanecem no ritmo geral os abruptos contrastes e a fragmentação.
Conseqüentemente, o teor expressivo dessas obras é inquieto e conflitante...
Na obra de Jackson Pollock (1912-1956), pintor americano da chamada
‘arte informal’ (action painting), as características de inquietação e de conflito
são aprofundadas e acompanhadas ainda de uma maior desmaterialização.
Em lugar de qualificações intelectuais ressalta o caráter emocional da obra;
ela é intensamente carregada de emoção. Não há nela qualquer referência
nem a figuras humanas nem a objetos nem a paisagens. Tampouco se
identificam sequer superfícies ou volumes. Falta, portanto, qualquer dado
físico que possua extensão, peso ou densidade. Os elementos que constituem as
configurações de espaço de Pollock são unicamente linhas. Segmentos lineares.
Segmentos retorcidos. Às vezes esses segmentos se acompanham, às vezes se
superpõem, se retomam, se entrelaçam, inflam, afinam, e subitamente cessam.
Tudo isso acontece de modo veloz, descontínuo, explosivo, sem uma pausa e
sem crescimento rítmico. A agitação visual parece quase romper os limites do
quadro. Temos uma imagem que se assemelharia à trajetória de fragmentos

102
movidos e acelerados no espaço, quais incontáveis estrelas cadentes que
cruzassem um espaço a um só tempo...clxxvii

Erram quando afirmam que o pós-modernismo, com a máxima de que a cultura está
aos pedaços, é só uma bobagem... O pós-modernismo está vinculado ao ajuste
globalizante do mundo, com a horizontalização dos povos, com a correção política,
com a democratização terra-a-terra das diversas expressões regionais... O
desconstrutivismo pós-modernista tem, como toda exaltação de vanguarda artística,
afinal se adequado às propostas mais gerais da sociedade, balizada pelo mercado e, por
isso, fugindo às propostas teóricas originais, configurando apenas momento-
fragmento(s) fenomenológico(s) da(s) pós-modernidade(s)...

Mas que ninguém se iluda: trabalhamos todos para alimentar a Máquina que, aos
enquantos ainda chamamos Humanidade...
Desconstruimos, fragmentamos, singularizamos, particularizamos, individualizamos,
mas...
De tempos em tempos A Máquina se clicka a janela de desfragmentação...

Quem sabe para nós, brasileiros, uma boa marretada poética na cultura luso-colonial-
brasileira, e/ou demais luso-colonial-estrangeiras, ou talvez melhor dizendo, nos
arremedos de cultura brasileira e estrangeiras – todas estas muito bem postas, obrigado
– fazendo-as aos pedaços, aos pedaços pós-modernos, até que nos seria muito útil...

Pós-modernos ou não, é bom poder criar infantilmente e livremente usar os retalhos


guardados ao fundo dos baús do Sótão (sem que nos reprimam nossos pais... )
A pós-modernidade nos convida a enfrentar as zonas obscuras das univocidades, das
totalidades, para fazer crescer os infantilismos da nossa humanidade...

Por outro lado, esse negócio de que está tudo aos pedaços na arte e na cultura do
primeiro mundo nos põe todos de volta ao mesmo barco... Enfim, para nós,
brasileiros, qualquer perspectiva pós-moderna será, no âmbito da arte&cultura, sempre
atraente...

103
clxxviii

Coleciono fragmentos por saber que a minha mente é fragmentária, que só apreendo
uma realidade fragmentada... O pós-modernismo é um fragmentarismo... É a modesta
aceitação da nossa vocação artística e cultural, a plena aceitação da impossibilidade de
se construir um modelo único, integral, que apreenda, enfim, toda a gama de
experiências e percepções, fazendo justiça a todas... Por isso mesmo ando a colecionar
meus fragmentos, sem nenhuma organicidade, depositando-os, um a um, só conforme
vão sendo colhidos à medida que reflito sobre os objetos... Portanto, o primeiro não é
o primeiro, o segundo não é o segundo, nem o terceiro será o terceiro... Confesso que
nada sei dos inícios, que nada sei dos meios, que nada sei dos finais... Isso é da
essência do fragmentarismo, cuja origem remonta à visão de Demócrito quanto aos
átomos...clxxix

Fragmentarismo, porque o Absoluto (Platão, Hegel) não existe ou, no mínimo, é


inapreensível pelo humano. É uma ficção. Nós que lhe damos existência. A diferença
da filosofia fragmentarista (Demócrito, Heráclito), segundo a qual Razão, Emoção,
Sexualidade, apreendem-se de um mundo fragmentário e em constante devir, para a
filosofia do Absoluto, A Idéia, estão sempre à espera de seus proprietários, seus
donos... Os humanos têm guerreado e destruído a fim de se apropriarem da Idéia, do
Absoluto, e assim imporem suas vontades (de poder) aos demais. Quanto aos
fragmentos, bem, os fragmentos desdenham encoleiramentos... Os fragmentos não têm
donos porque é impossível reuni-los a todos e, especialmente, aprisioná-los no
Conceito Geral...

Sendo cada indivíduo um conjunto de fragmentos de si, a um só tempo sistema


peculiar de fragmentos, fragmentos de infinitas possibilidades de combinações, esse
sistema de fragmentos torna-se a identidade fragmentária de cada qual, de impossível
imitação, tais como as digitais...

...O fragmentarismo é incompatível com a hierarquização dos saberes... Só a Poesia,


que nos envolve como o éter envolve a Terra, alcança o não-sabido...
Se nós somos as peças de um puzzle, somos as peças do puzzle poético de Deus...

104
O Tempo segue o Espaço. Tempo é fragmento. O Ontem, o Hoje, o Amanhã, não são
absolutos nem relativos... São fragmentos que se medem à medida de cada ser
humano... Na diversidade do nosso ser fragmentário, cada qual dos nossos fragmentos
vive o tempo segundo sua própria contagem... Portanto, para alguns dos nossos
fragmentos ainda é ontem; para outros, só o hoje tem existência real; e há aqueles que
já vivem o amanhã... Exercer, cada ser humano, o seu próprio tempo particular
fragmentário é libertar-se das coleiras dos proprietários do Tempo Absoluto, é viver
sem violentar seu tempo particular, sem agredir seu corpo-espaço fragmentário...

*
– Mas nenhuma arte soube exprimir tudo o que temos de sexy quanto
nossa música. A música popular do Brasil é a voz instintiva do nosso desejo.
Nossos autores mais representativos – Roberto Silva, Assis Valente, Jorge
Benjor, Tim Maia – se distribuem por nossa história como vetores espalhados
pela coreografia de um corpo no cio. Nossos grandes estilistas – Cyro
Monteiro, Lulu Santos, Carmem Miranda, Nação Zumbi, Orlando Silva,
Racionais MC’s – são vozes da nossa carne. E nossos maiores inventores –
Villa-Lobos, Antonio Carlos Jobim, Dorival Caymmi, Ary Barroso e João
Gilberto – parecem ter inventado não só nossa música e nosso ritmo, mas
nossa sensibilidade e nosso corpo. A alma é um luxo posterior.
Pode ser que essa prioridade simbólica da música entre nós seja mesmo
resultado histórico da interação ritual entre a religião, o trabalho e a festa – ou
simplesmente a forma mais feliz de uma arte que soube como nenhuma outra
acompanhar os movimentos de nossos músculos ao caminhar. Nossa música
aderiu a nosso corpo como um bronzeador.

105
Sempre preocupado com as relações entre a cultura e o corpo, Nietzsche
escreveu, sem saber, boa parte de sua obra eleogiando o Brasil enquanto
pensava estar comentando Bizet: o Brasil foi o único país do mundo a
incorporar e irradiar com uma vitalidade sempre renovada todas as lições do
que Euclides da Cunha descreveu como “a linha fulgurante do trópico” – e
essa lição nos veio embalada pela música. Toda nossa antropologia, por isso,
deveria começar com um atabaque e terminar com um banquinho e um
violão.clxxx

clxxxi

O brasileiro, o brasileiro é o povo mais musical do mundo, embora não


saiba se dar valor... Eles não gostam de ser brasileiro... Disfarçam...
É preciso não trocar o sentido das coisas... Não confundir povo, o
povo... Não confundir nem com público, nem com massa... É importante... A
massa é a massa... O público se enfeita todo, vai para a sala de concertos com
cara de quem está entendendo tudo... É preciso notar a diferença... A massa é
horizontal, o público é vertical, o povo, pelo menos o povo brasileiro é di-a-go-
nal, é por isso que eu gosto do povo... É por isso que a minha música é
popular, popular... Porque eu cuido muito mais do aspecto diagonal do que do
horizontal ou do vertical... clxxxii

*
Copacabana. Milhares de corpos em toda parte. Na realidade, um único
corpo, imensa massa de carne ramificada, todos os sexos confundidos. Um
único pólipo humano expandido, impudico, um único organismo onde todos
têm a mesma cumplicidade dos espermatozóides no fluxo seminal...

106
De algum modo, a indiferenciação da cidade e da praia leva a cena
primitiva diretamente à praça pública. O ato sexual é permanente, mas não no
sentido do erotismo nórdico: ele está na promiscuidade epidérmica, na
confusão dos corpos, dos lábios, das bundas, das ancas – um único ser fractal
disseminado sob a membrana do sol...
Esse hiper-organismo humano faz pensar no outro imenso indivíduo
orgânico, o maior do mundo, no Canadá, feito de 45.000 álamos, na confusão
de suas raízes, todos participando do mesmo caminho telúrico – a floresta
constituindo um único ser vegetal. Os corpos brasileiros constituem do mesmo
modo uma espécie de ser único, vivos da mesma vida, penetrados pelos mesmos
fluidos, vibrando pelas mesmas paixões. Que estatuto social ou político pode
haver para um ser dessa ordem? clxxxiii

Comentário: Isso é o que se pode chamar de visão franco-primitivista (embora, que


não se negue, amorosa – l’homme naturellement bon...– do nosso povo (Brazil? C’est
bizarre!)...clxxxiv Do nosso Brasil...
Pluralidade, polifonia, singularidade fragmentada para o primeiro mundo, massa,
univocidade, conjunto vegetal, raiz, para nós brasileiros...

Em compensação...
O Brasil: será o melhor protótipo da cultura Lego que se anuncia como
universal... Amontoado de fragmentos de civilizações que poderão ser reunidos
ao bel-prazer de cada um...
Situado dessa forma na vanguarda das tendências mundiais da cultura,
vai-se tornar um dos faróis da criação artística planetária... Será de bom-tom
visitá-lo em busca de inspiração...

107
Vai-se falar do “Brasil-mundo” como uma corrente estética, um sistema
de valores, um modelo social feito de barbárie assumida, prazer e regozijo
ilimitados, mestiçagem sofisticada e violência crua...clxxxv

Lego: O grande Jogo que caracterizará todo o século XXI: montagem


sob medida, para si próprio, de civilizações, culturas, obras de arte, roupas,
cozinhas, substitutos amorosos, etc...clxxxvi

O Brasil tem tudo para vir a ser a futura Matriz do Mundo Pós-
Moderno... clxxxvii

O Brasil é o metrônomo da Humanidade... clxxxviii

A pós-modernidade brasileira – por isso mesmo talvez a mais claramente observável –


vive a um só tempo sua dupla face construção/desconstrução em direção a suas futuras
reconstruções – que já o primeiro mundo busca resolver – em todos os campos da
cultura. Não é irrelevante que o termo brasileirizaçãoclxxxix indique, para esses outros
povos, um estado de coisas carnavalizado...

108
cxc

As nossas vivências, prática social e cultural, aliadas às nossas próprias reflexões,


sejam talvez mais aptas ao estabelecimento das premissas e desdobramentos teóricos,
do que seja o fenômeno da pós-modernidade, do que o pensamento menos flexível dos
povos de cultura mais solidamente estruturada, ou só aqui e ali carnavalizadas...

cxci

A prática da carnavalização encontra, na pós-modernidade, seu ápice, desde as


práticas sociais polifônicas às personificações fantasistas e seus clowns que as práticas
sociais brasileiras exibem, ora alegremente, ora em suas mazelas, em nosso dia a dia...

Pluralismo... Multiplicidade... Raças, cores, credos, sexos, etc...são, por princípio, tão
bons quanto legítimos... O pós-modernismo abre as compotas das represas ideológicas
para que as águas puras das nossas possibilidades fragmentárias corram soltas... E
livremente se encontrem... Se desencontrem... Se reencontrem...

109
Toda utopia pressupõe o puzzle pré-concebido, em que os humanos se espremem nas
limitadas paredes das masmorras ideológicas... Juntarmos e desjuntarmos e
rejuntarmos os nossos fragmentos em legos... Eis o que é avançar a inteligência
humana para além das estrelas...

Capa: Gustavo Meyer, 1995

Construir em Lego os fragmentos pós-modernos é fazer, dos antigos jugos, jogos


lúdicos... Singulares jogos lúdicos... Toda vida é prazerosa... Ou será apenas
sobrevivência... Subserviências... Por isso o pós-modernismo caminha em todas as
possíveis direções, tanto de tempo quanto de espaço... Tanto matéria quanto idéia – O
Espírito e sua ubiquidade... No aqui-do-humano, e no além-do-humano...

Capa: Deco, 1997

110
O pós-modernismo coloca, pela primeira vez nas histórias das humanidades, para além
dos pré-socráticos, para mais além das concepções anarquistas, e para além das
concepções de vanguarda, as possibilidades sociais de realização dos imaginários
individuais sem que disso resulte nem a segregação, nem a dominação, nem o
conflito... É um antimodelo que incorpora modelos fragmentados... Por isso, por
essa libertação dos imaginários, o pós-modernismo vai ampliando as capacidades
humanas, tanto as advindas da natureza quanto as já desenvolvidas pela cultura... As
possibilidades científicas e artísticas decorrentes são ainda inimagináveis...

O pós-modernimo é ainda um reconhecimento da legitimidade dos desejos humanos...


É mesmo a libertação dos desejos humanos que estiveram, por séculos, aprisionados
em edifícios ideológicos... Pouco a pouco, sob os escombros dessas ideologias,
escapam fragmentos... Nossos próprios fragmentos... a necessitar de cuidados, a
maioria...

cxcii

A busca de correção política, outro princípio pós-moderno, é a aceitação consciente


das múltiplas possibilidades do humano ser...

O lego pós-moderno é a união progressiva de fragmentos em direção ao infinito e


desconhecido puzzle de Deus... A totalidade invisível e inconcebível pela natureza
humana... Tentar impor à sociedade humana um jogo de armar em que as peças são os
humanos (por natureza, fragmentários) é arrogar-se o papel de divindade... unir
paulatinamente os blocos-fragmentos que são os humanos, em suas múltiplas
possibilidades, por natureza variáveis, é reconhecer em nós as infinitas possibilidades
de caminharmos, mãos coligadas, em direção ao espaço e tempo infinitos...
A Totalidade Infinita se faz dos nossos todos finitos fragmentos... E talvez nem
mesmo esses nossos todos fragmentos sejamos assim tão finitos: pois que ainda se nos
apresentam infinitas, incomensuráveis as nossas todas possibilidades combinatórias,
nossos eternos retornos...

A pós-modernidade pode também ser compreendida, ainda historicamente, como uma


continuidade de algo que se inicia nos primeiros sorrisos da modernidade – Schlegel,
Novalis, Poe, Baudelaire, Whitman – e das vanguardas modernistas todas, inclusive

111
nossa Semana de 22 – até o existencialismo de pós-guerra (Sartre e Camus), acirrando-
se na geração beat americana, e no movimento hippie, para afinal eclodir pelos idos da
década de 1980, em todas as artes... Indisciplinado, fragmentado, múltiplo, veloz e
incendiado como um ninho de vespas em erupção...

Capa: José Roberto Aguilar e Gabriela Favre, 2001

No romance, seguindo a tradição pela linearidade na Literatura, embora o assombroso


Ulisses de James Joycecxciii, o pós-modernismo se apresenta como mais um
experimentalismo: livros como Zero, de Ignácio de Loyola Brandão (com méritos
singulares), PanAmérica, de José Agrippino de Paula, e Balada da Infância, de
Antonio Torres, por exemplo, são livros que pressupõem o fragmentarismo como
técnica narrativa, sem que – e a julgar pelas obras posteriores – os autores tenham
realizado uma opção estética em direção à ampliação dessas então novas
possibilidades...

Capa: Rafael Siqueira, 1982

112
Falando sobre o fragmentarismo, enquanto método de criação literária, Affonso
Romano de Sant’Anna narra que Machado de Assis mereceu severa crítica de
Guimarães Rosa, segundo o qual o autor de Dom Casmurro utilizava o método como
“facilidade”, pensamento ainda hoje muito comum entre autores que se aferram à
univocidade de discurso em que, afinal, foram formados –
Adquiri certeza quase absoluta, de que ele, antes mesmo de
compor seus livros, ia anotando: pensamentos, frases, etc. em livro ou
em cadernos especiais, espécie de surrão ou alforje, de onde sacava,
aos punhados, ou pinçava, um a um, os elementos de reserva que
houvessem resistido ao tempo conservando-se bem.
Ao que Affonso Romano de Sant’Anna, como bom poeta, aduziu, entre parênteses:
Processo aliás muito louvável. Tanto quanto o hábito de compulsar dicionários (outra
técnica fragmentarista, adotada por Mallarmé, aduzo eu) visível em Machado de
Assis... Diz Affonso em sua defesa da técnica fragmentarista machadiana:
Quanto à observação de que Machado tinha um “surrão ou alforje”, onde ia
jogando frases e anotações que usava posteriormente, é relevante mostrar que este foi
também o método usado por Rosa, conforme as fichas que deixou, onde anotações já
feitas sobre flora e fauna eram posteriormente encaixadas na narrativa em
construção. Este é um recurso comum nos escritores. Vão jogando em pastas
anotações aleatórias ou sistemáticas que, de repente, recobram vida...

Ignácio de Loyola, por exemplo, confessou que este foi o processo que usou
para a narrativa fragmentada de seu conhecido “Zero”... cxciv

Mas há algumas particularidades que merecem atenção: em primeiro, não se pode


dizer propriamente de Rosa que tenha adotado o método fragmentarista, a julgar pelo
texto...
Guimarães Rosa usou sim, uma técnica (muito comum entre os escritores), de ir
coletando material na medida em que a obra vai germinando em sua intenção literária;
uma coisa é ir coletando material a preparar o texto em formação, encaixe que
qualquer estudante realiza em seu dia a dia de trabalhos escolares... Outra, bem
distinta, é reunir, aleatoriamente, um material disperso, mais ou menos, em termos
formais, desconectados entre si, autênticos fragmentos de realidade ficcional (não há
aqui contradição entre os dois termos, pelo que já se disse, mas podemos também usar
realidade (re)ficcionável) para que, da sua reunião posterior se componha um texto
imprevisível, impensado enquanto se os reunia...
A primeira, de natureza estritamente técnica, parte de um discurso unívoco já
estabelecido de antemão, traduzindo-se em mera ilustração desse discurso pré-
determinado (era o que Guimarães Rosa fazia)...
Já a segunda, bem ao contrário, provoca no autor a elaboração de um texto que
fornecido pelo processo de coleta de material, num deixar-se levar por processos
inconscientes de elaboração intuitiva, de seguir os passos de uma realidade em
princípio inapreensível pela razão pré-ordenada...(sim, este é um método
fragmentarista de criação)...

113
Já o mérito maior de Inácio Loyola Brandão – por isso mesmo, e até onde se sabe, o
autor brasileiro, dentre nossos escritores mais consagrados pelo público e pela crítica,
que inaugura a pós-modernidade brasileira no romance – adotou o fragmentarismo
como método e como estética, mantendo a estrutura fragmentária do material
coletado, independentemente de ter lançado mão ou não daquela técnica tradicional
entre os autores de todos os tempos... Por isso Zero, seu belo romance, também um
livro que consagrado por crítica e público como uma das jóias da literatura brasileira,
especialmente pela sua estrutura épica, há obrigatoriamente de ser reconhecido como o
primeiro (estranhamente ainda o único a vir à luz, pela imprensa especializada em
canonizações) grande romance da pós-modernidade literária no Brasil...

Registre-se – entretanto – que Zero é, afora o mérito de ser o primeiro livro brasileiro
inteiramente, radicalmente concebido numa estética pós-modernista, em que o
fragmentarismo se impôs desde a sua concepção, um livro que ainda ensaia os
primeiros passos à criação de uma reconhecida literatura brasileira pós-moderna...
Afinal, percebe-se claramente em Zero uma forte retórica unívoca, guiada por um
autor experimentado em unificar (como em seus melhores escritos) todo o material
disponível em uma só direção, tanto ética quanto em estética...
Deliciosa, note-se, a expressão de Affonso em seu texto: Inácio Loyola confessou...
O pós-modernismo e seus métodos, infelizmente, têm sido vistos como um balbuciar
literário, nas raias da facilidade literária, em que os territórios demarcados da
Literatura restam miscigenados, de traços fronteiriços despistados... Pouco a pouco a
crítica especializada começa a investigar sua fenomenologia, e a adivinhar-lhe as
possibilidades...

Os americanos, dizem, vão a Disneylândia para sentir que fora dali sua
vida é real. O pós-modernismo está ancorado aqui: na insustentável leveza de
não crer nem na realidade nem na ficção. Nesse desvão descrente passeiam os
simulacros ofertados pelos mass media, os modelos computacionais, a
tecnociência – nova ordem na qual a simulação do romance pela sua
destruição ainda é subversiva porque invoca clownescamente, se não verdades,
ao menos possibilidades atravessadas pelo absurdo, o que é sempre
inquietante. Não é outro o motivo da generosa acolhida que essa literatura teve
entre os jovens...cxcv

O pós-modernismo não é, ele mesmo, um movimento de vanguarda de uma juventude


mimada, tresloucada... O pós-modernismo é um fato cultural, um fenômeno que
resulta de um determinado estágio da cultura e seus efeitos se sentem em todos os
níveis sociais e, muito especialmente, nas camadas menos favorecidas, em que há
tantos centros irradiadores de atividade cultural quanto possibilidades “tribais”
de “fazer moda”, o que já é em si uma novidade nas histórias das civilizações...
Daí a dificuldade não apenas de fixar-lhe os contornos, seus parâmetros teóricos,
quanto de estabelecer sobre ele qualquer crítica que não lhe condene especialmente os
efeitos, mas os seus princípios... O pós-modernismo é feito de fragmentos que
escorregam como os sabonetes...

114
Mas de um modo geral, o pós-modernismo ainda é considerado mero
experimentalismo (se realizado por escritores canonizados), quando não como um
convite ao absurdo, como dizem seus críticos mais conservadores (quando exercido
por autores que não freqüentam a boa e velha ordem literária, naturalmente), ávidos
por defender a boa e velha literatura, aos mesmos tons de superficialidade e
arrogância reacionárias, à esquerda e à direita, infelizmente tão comuns numa cultura
ainda por se libertar de um modo ainda binário, maniqueísta, colonizado, estratificado,
de ver o mundo, com as lentes unívocas das esferas de poder das ideologias “literárias”
dominantes...

...Criação permanente, pesquisa permanente, pensamento permanente, ou literatura


permanente – eis o que é o fragmentarismo...

O fragmentarismo literário não é desconstrução textual, mas metodologia integrante do


processo de re-construção do discurso, necessário e correspondente à etapa da pós-
modernidade...
Tanto os Diálogos de Platão quanto o Novo Testamento, dois dos principais verbos
fundadores da civilização ocidental possuem, em verdade, natureza de texto
fragmentário... Tanto no que respeita à sua realização textual, quanto nas respectivas
proposições filosóficas e religiosas... Em que se faz necessário algo mais que a mera
leitura de palavras ordenadas em frases... Só uma perspectiva estético-literária é
capaz de elucidar essa fragmentação e articulá-la aos seus “edifícios inexistentes”cxcvi,
para uma leitura renovada de suas palavras... Especialmente no que se refere às
articulações entre o pré-socratismo, socratismo e o platonismo... Na pós-modernidade,
nenhuma das contradições até aqui laboradas pelos filósofos possui, excludente das
demais, natureza fundadora das relações humanas...

Um Novo Conceito de Livro:

A poesia de Oswald de Andrade põe um novo conceito de livro. Seus


poemas dificilmente se prestam a uma seleção sob o critério da peça
antológica. Funcionam como poemas em série. Como partes menores de um
bloco maior: o livro. O livro de ideogramas. Daí que, desde o Pau-Brasil,

115
passando pelo Primeiro caderno do aluno de poesia Oswald de Andrade, até as
Poesias reunidas O. Andrade (título que parodia certa sigla de Indústrias
Reunidas...), o layout tipográfico das coletâneas oswaldianas sempre tivesse
tido grande importância. Para isso contribuíram os desenhos de Tarsila e do
próprio autor e os “achados” que são as capas: a do Pau-brasil uma bandeira
brasileira com a divisa mudada para Pau-Brasil; a do Primeiro caderno, uma
capa de caderno de curso primário, com florões inscritos dos nomes dos
Estados brasileiros e outras garatujas infantis. As ilustrações de Oswald para
este segundo livro ligam-se intimamente a seu contexto, e é uma pena que,
numa edição de tiragem comercial como a presente, não se possa reproduzir
integralmente o plano original dessa obra.
O livro de poemas de Oswald participa da natureza do livro de imagens,
do álbum de figuras, dos quadrinhos dos comics. Sua atualidade neste
particular é espantosa. Ainda há pouco, o crítico inglês John Willett, do corpo
redatorial de The Tmes Literary Supplement, fazendo um balanço das relações
entre artes visuais(pintura gráfica) e literatura, salientava:
...parece que estamos no limiar de uma revolução no que respeita à maneira
pela qual exprimimos nossos pensamentos; estamos nos libertando das
“limitações da prosa linear” e começando a aprender “como manipular a
informação e a própria linguagem através de técnicas absolutamente novas”;
estamos fadados a “desenvolver um modo menos restrito de escrever livros e
transmitir informações e nele o uso de símbolos e o layout bidimensional na
página deverão desempenhar um papel importante”; “a nova acuidade pública
para a imagética visual, que a televisão estimulou, significa que uma
combinação de palavras e ilustrações é hoje congenial para o leitor”; “que
aspecto irá ter o livro parcialmente diagramático do futuro, com sua linguagem
condensada e sua exata colocação de palavras e proposições na página?”
Para chegar a estas considerações, Willett passara em revista as tendências da
atual literatura de vanguarda, incluindo, ademais, um retrospecto das fontes
históricas do fenômeno, tais como, de um lado, os exemplos de poetas-pintores
(Maiakovski) e pintores-poetas (Klee), e, de outro, a tradição vitoriana de
livros ilustrados (as estórias de Alice de Lewis Carroll), onde “o livro tornou-
se impensável sem suas figuras”, isto sem esquecer as remotas origens da
escrita pictográfica....
Ao invés de embalar o leitor na cadeia de soluções previstas e de
inebria-lo nos estereótipos de uma sensibilidade de reações já codificadas, esta
poesia, em tomadas e cortes rápidos, quebra a morosa expectativa desse leitor,
força-o a participar do processo criativo...
A técnica de montagem -, este recurso que Oswald hauriu nos seus
contatos com as artes plásticas e o cinema...
De apelo ao nível de compreensão crítica do leitor, que está implícito no
procedimento básico da sintaxe oswaldiana...
É o efeito que se encontra também nos poemas lacônicos da fase madura
de Bertolt Brecht, a fase que começa em 1939 com os poemas escritos no exílio
(em basic German, segundo o próprio Brecht):

116
Hollywood

Toda manhã, para ganhar meu pão


Vou ao mercado, onde se compram mentiras.
Cheio de esperança
Alinho-me entre os vendedores.

Walter Jens observa que, em composições dessa natureza, o poeta


“trabalha preferentemente com reduções, com rarefações e abreviaturas
estilísticas, de uma tal audácia, que o contexto omitido compensa a dimensão
escrita do texto”; seu método consistiria em “enfileirar frases justapostas,
entre as quais o leitor, para compreender o texto, deve inserir articulações”.
E Anatol Rosenfeld, descrevendo essa poesia à luz do
Verfremdungseffrekt (“efeito de alienação”), característico do teatro
brechtiano, diz: “O choque alienador é suscitado pela omissão sarcástica de
toda de toda uma série de elos lógicos, fato que leva à confrontação de
situações aparentemente desconexas e mesmo absurdas. Ao leitor assim
provocado cabe a tarefa de restabelecer o nexo”...
Pois os poemas-comprimidos de Oswald, na década de 20, dão um
exemplo extremamente vivo e eficaz dessa poesia elítica de visada crítica, cuja
sintaxe nasce não do ordenamento lógico do discurso, mas da montagem de
peças que parecem soltas...cxcvii

*
É sempre necessário compreender que o pós-modernismo não se esgota na exploração
do imaginário, no manuseio do absurdo e do delírio, pois que apenas o torna possível
na medida em que liberta o artista do discurso estético unívoco e linear, e sempre
positivista (no que este tem de restrição às demais possibilidades discursivas), para
inseri-lo de volta ao mundo das percepções fragmentárias...

Todas as críticas ao pós-modernismo desconsideram suas possibilidades estéticas


porque partem de uma retórica que pressupõe uma unidade do mundo (relações
sonho/realidade), de uma organização sócio-cultural que reflete essa unidade, e que
hierarquiza a criação menos pelas obras (pois a maioria delas renegada quando
produzidas) e muito mais pela estratificação da cultura em hierarquias piramidais...

A livre articulação das várias vozes da cultura tem por escopo principal respeitar a
polifonia a partir do seu articulador textual, em que cada qual das vozes dialógicas se
apresenta em igual nível de importância – dado que são muitos os modos de ver os
temas, os que são objeto de apresentação teórica fragmentária – apenas destacados em
função das articulações estético-textuais e da relevância que possam ter, aqui e ali,
para as proposições teóricas do texto...

117
Capa: Federico Spitale, 1968

A polifonia, para ser bem absorvida, deve escapar às marcas hierárquicas e canônicas
que levem o leitor a antecipar o eventual valor do texto em função do autor citado –
em prejuízo de uma livre leitura e, portanto, valoração particular, personalíssima –
fazendo cair por terra a aceitação de uma estética polifônica (daí a remessa das notas
de citação para o final do trabalho)...

Observar moldes textuais que colidam com as proposições estético-literárias do autor é


atender a uma estética da univocidade que, ao menos para os fragmentaristas, já
perdeu o seu vigor... Ora, em Literatura jamais se pode perder de vista o prazer do
texto, que parte antes de tudo da perspectiva do seu autor...

Se há, pela sua especificidade, um gênero tese, e/ou dissertação, e a pós-modernidade


convida também a essa investigação teórica, retórica e estilística, estética e temática,
buscar novas formas de apresentação textual é obrigação de ordem literária... Normas
técnicas que imponham a univocidade não devem nem podem – mormente na
Literatura (arte e ciência necessariamente combinadas) – impedir as experimentações
ou, melhor, as adequações que a vida cultural da contemporaneidade convida todos a
buscar... A realização dos textos não pode ser medida à luz de regras e ordenamentos
textuais, mas pela funcionalidade das técnicas justificadamente empregadascxcviii...
Aliás, essa tendência já vem, pouco a pouco, se tornando prática aceita se
considerarmos, por exemplo, as teses de doutoramento de Luiz Antonio Assis Brasil à
PUC-RS (romance) [Luiz Antonio Assis Brasil, 1999] e a de Érico Braga Barbosa
Lima [Lima, 26.03.02], à PUC-Rio (texto de teatro)...

*
Para a retórica unívoca, o imaginário do “outro”, o imaginário da pluralidade, é sempre
e apenas delírio... Absurdidades... De nenhum valor de troca, seja científica, seja, por
conseguinte desse pensamento hierarquizante, estética...

118
O pós-modernismo não é uma idéia de vanguarda, não é um modo pré-estabelecido
como ideal estético, ao contrário, o pós-modernismo é a naturalidade de todas as
vanguardas, é a eliminação mesma da própria idéia de vanguarda e também de
experimentação artística: o pós-modernismo é apenas um fato – e fato sempre, desde
sempre, pulsante no interior da cultura – cujas origens remonta à uma visão
fragmentária do mundo e ao estar no mundo munido desses fragmentos...
...Aceitando-se ser fragmentário, o humano aceita-se, enfim, viver
fragmentariamente...

Na impossibilidade de eliminar os espaços vazios de compreensão do mundo e de si, o


humano passa a aceitá-los como condição inarredável (e por isso naturalmente
dispostos à imaginação) de toda a (humana) existência...

O exercício do imaginário liberta, ainda, o humano, por levar-nos reconhecer a


impossibilidade de impô-lo aos outros como modelo... Nem a nós mesmos, muito
menos aos outros...

Ou seja, o reconhecimento de que há muitos modos de viver, ver e ler o mundo... Seja
em si, seja no outro...

Muitos modos de ver, de crer, de saber, de imaginar... Eis o que são as novas
tentativas pós-modernas de libertação do humano dos modelos utópicos imaginados os
quais, por definição, não se transferem aos demais imaginários, e só se exercitam
como irrealidade...cxcix

Os perigos da anestesia dos imaginários nesses tempos pós-modernos, encontra-se,


paradoxalmente, no exercício permanente da fragmentação do Discurso pelos canais
de mídia, e mesmo pela atividade de “zapping” no controle remoto das televisões
domésticas...cc

119
A essência de um doce prazer nunca pode ser aviltada... cci

Na Grécia Clássica, o prazer, o desejo, eram atributos naturais do indivíduo, para cujo
gozo deviam se adestrar, educarem-se, como parte da paidéia (a educação do homem
grego), como parte indissociável da arete (excelência física e moral)ccii e em nome dos
princípios universais que amparam o direito do indivíduo de gozar a vida,
independentemente das razões da polis, como em Arquíloco: Se nos afligirmos com a
maledicência do povo, não desfrutamos o prazer da vida...cciii Ou em Mimnermo:
Sem a loira Afrodite não há vida nem przer! Preferia estar morto – se tivesse de não
gozar dela mais...cciv

No Império Romano, sociedade que privilegiava o Estado sobre os indivíduos, o


Estado Romano, como condição e medida dos seus cidadãos, o prazer é visto como
inimigo perigoso, que afasta o homem do reto caminho da adoração do princípio
coletivo, como em Sênecaccv:
O prazer habitualmente se esconde e procura as trevas, fica nas
vizinhanças das casas de banho, das saunas e dos lugares que temem a polícia;
é mole, não tem força, é úmido de vinhos e perfumes, pálido ou pintado,
embalsamado com ungüentos como um cadáver...

Na pós-modernidade se recupera o princípio da separação entre prazer individual e


obrigação social, anterior à era platônica e ao fortalecimento jurídico do Estado
Grego...

A palavra triebccvi, do alemão: vontade, com a qual Nietzsche construiu a sua tese do
humano como vontade de poder funcionava, especialmente em meio à juventude,
como similar para tesão... Em verdade, a expressão vontade de poder foi criada com
essa conotação de tesão pelo poder... É muito provável que Nietzsche a escolheu ainda
com essa conotação erótica...

120
Freud, do círculo pessoal de Nietzsche, desenvolveu toda a sua teoria da sexualidade,
sua concepção de libido e da sexualidade como fator determinante do comportamento
humano, a partir de uma feliz compreensão da trieb nietzscheana...

O tipo e o grau da sexualidade de um homem atingem os cumes mais


altos do seu espírito... ccvii

Il commence bien à mourir qui abandonne son désir... ccviii

O que se faz por amor sempre acontece além do bem e do mal... ccix

A satisfação nos protege até mesmo de resfriados. Uma mulher que se sabe bem
vestida se resfria alguma vez?... ccx

O entendimento humano muito deve às paixões... É pela sua atividade que nossa
razão se aperfeiçoa; só procuramos conhecer porque desejamos usufruir... E é
impossível conceber porque aquele que não tem desejos ou temores dar-se-ia ao
trabalho de raciocinar... ccxi

Segundo o evangelista João, lembra Paulo Coelhoccxii, o primeiro dos milagres de Jesus
foi a transformação da água em vinho para a alegria – e a dança de Eros – dos
convivas de uma festa de casamento... Portanto, eu também não creio, com/sem
Nietzsche, em um Deus que não dança...ccxiii

A princípio só se falou pela poesia, só muito tempo depois é que se


tratou de raciocinar... ccxiv

121
O pós-modernismo é um fato, um fenômeno de uma civilização em forte expansão
pluridimensional: adotá-lo, ou criticá-lo, como modelo teórico unívoco é alhear-se do
seu estudo, que só pode seguir-lhe as múltiplas direções...

No pós-modernismo, como em todo fato cultural, sua interpretação comporta uma


diversidade de interpretações... A novidade é que a pós-modernidade manuseia essas
diversas interpretações culturais sem hierarquizações e sem abandonar a ótica do
prisma...
A visão prismática, na aceitação dos diversos modos de ver, permite a coexistência de
diversos saberes, mesmo opostos, mesmo paradoxais...

Eis dois outros elementos fundamentais aos estudos da literatura, da arte pós-moderna:
prisma e paradoxo... Que se juntam ao fragmentarismo e à libertação do desejo... Ao
imaginário e à conscientização do inconsciente...

A pós-modernidade não elimina o discurso unívoco, a retórica da linearidade...


Apenas que não lhe concede o galardão de racionalidade necessária... Nem o
hierarquiza sobre o discurso fragmentário, este muito mais eficiente a conhecer a
poesia dos fatos e dos objetos... A, por isso, mais eficiente a conhecer os fatos e os
objetos...

A linearidade da retórica e a univocidade de pensamento são conquistas da inteligência


que prosseguem em seu curso necessário, mas como uma exploração de um dos
caminhos possíveis, uma das muitas possíveis aventuras do pensamento na ambição de
ampliar-se em direção à totalidade infinita... Um caminho que só se faz útil quando
incorpora a presença desafiadora dos espaços vazios da realidade poética... Quando se
permitem fragmentações sem perda de substância discursiva...

O que se pode fazer enquanto filosofia e poesia estão separadas, está


feito, perfeito e acabado. Portanto é tempo de unificar as duas...ccxv
O homem utiliza a palavra escrita ou falada para expressar o que
deseja transmitir. Sua linguagem é cheia de símbolos, mas ele também,
muitas vezes, faz uso de sinais ou imagens não estritamente descritivos...ccxvi

ccxvii

122
O que chamamos símbolo é um termo, um nome ou mesmo uma
imagem que nos pode ser familiar na vida diária, embora possua conotações
especiais além do seu significado evidente e convencional. Implica alguma
coisa vaga, desconhecida ou oculta para nós...ccxviii
Uma palavra ou uma imagem é simbólica quando implica alguma
coisa além do seu significado manifesto e imediato. Esta palavra ou esta
imagem têm um aspecto “inconsciente” mais amplo, que nunca é
precisamente definido ou de todo explicado. E nem podemos ter esperanças
de defini-la ou explicá-la. Quando a mente explora um símbolo, é conduzida
a idéias que estão fora do alcance da nossa razão...
A imagem de uma roda pode levar nossos pensamentos ao conceito de um sol
“divino” mas, nesse ponto, nossa razão vai confessar a sua incompetência: o
homem é incapaz de descrever um ser “divino”... Quando, com toda a nossa
limitação intelectual, chamamos alguma coisa de “divina”, estamos dando-lhe
apenas um nome, que poderá estar baseado em uma crença, mas nunca em
uma evidência concreta...
...O humano nunca percebe plenamente uma coisa ou a entende por
completo...ccxix Não importa que instrumentos ele empregue; em um determinado
momento há de chegar a um limite de evidências e de convicções que o
conhecimento consciente não pode transpor...
Além disso, há aspectos inconscientes na nossa percepção da realidade.
O primeiro deles é o fato de que, mesmo quando os nossos sentidos reagem a
fenômenos reais, a sensações visuais e auditivas, tudo isto, de certo modo, é
transposto da esfera da realidade para a da mente... Dentro da mente estes
fenômenos tornam-se acontecimentos psíquicos cuja natureza extrema nos é
desconhecida (pois a psique não pode conhecer sua própria substância)...ccxx
Há, ainda, certos acontecimentos de que não tomamos consciência...
permanecem, por assim dizer, abaixo do limiar da consciência... aconteceram,
mas foram absorvidos subliminarmente, sem nosso conhecimento consciente.
ccxxi

ccxxii

123
A unidade da consciência é algo precário e que pode ser facilmente
rompido... ccxxiii
Não resta dúvida de que, mesmo no que chamamos “um alto nível de
civilização”, a consciência humana ainda não alcançou um grau razoável de
continuidade. Ela ainda é vulnerável e suscetível à fragmentação...ccxxiv

*
Olhamos para o céu quando a Terra envolta em trevas, e o que vemos? Fragmentos...
Fragmentos e mais fragmentos da Luz...
Aos céus claros dos dias, vemos a unicidade solar... Mas já sabemos que este é só o sol
mais próximo dos muitos modos solares... Que este é ainda um dos muitos fragmentos
da Luz...
Já podemos olhar ao interior do nosso sol em atividade, e o que vemos? Fragmentos,
átomos solares em múltipla atividade...
.Já podemos olhar na escuridão cósmica, e o que vemos? Intensa atividade de
fragmentação...
O Kosmos fala por fragmentos... Só a energia que o sustenta é unívoca, infinita,
ubíqua... Pois o texto Cosmogâmico é em torno e ao interior do texto que se vê... Só os
silêncios do poema nos permitem a Sua aproximação...

*
O Globo: Na nova edição de “Convite à filosofia”, há uma sugestão para que os
alunos comparem o Mito da Caverna, de Platão, com o filme “Matrix”. Como
elementos da cultura popular podem ser usados no ensino da filosofia?
Marilena Chauí: Eles devem servir para fazer paralelos e reflexões da produção
contemporânea. No primeiro “Convite à filosofia” eu usei a literatura brasileira para
fazer esses paralelos. Professores amigos meus sugeriram que eu usasse algo mais
próximo do cotidiano dos estudantes na nova edição do livro. Por conta disso estou
ouvindo toda a produção atual de rap. Quero usar as letras das músicas para tratar
de ética e política...ccxxv

*
Se o fragmentarismo é a técnica estética de buscar-se a totalidade possível, o
fragmentarista é o que fornece as pistas para esse possível... O leitor deve, nessa
leitura, usar os trajes próprios à essa aventura: A Poética...

A simples leitura de fragmentos já é um exercício artístico formidável: buscar a


Totalidade “sentida” pelo autor... Ou insinuada... Até mesmo para que o
leitor/observador, em parceria, ao texto una seus próprios fragmentos... Seus múltiplos
sentidos, ritmos e sentimentos...

124
De um passado que se faz distante ecoa um verso que fiz adolescente, parodiando uma
canção dos Beatles (Eleanor Rigby, de Lennon e McCartney): Under my thumb/you
will find a lot of things... then you’ll find... you’ll find me... Fragmentos de mim...
Não será assim com todo o humano que se vai?... Não são fragmentos de vida, o que
nos ocorre na hora definitiva?

Átomos de pantimento em jogo lúdico – aproveitando/adaptando uma expressão


original de Lillian Hellman –
À medida que o tempo passa, a tinta velha em uma tela muitas vezes se
torna transparente. Quando isso acontece, é possível ver em alguns quadros, as
linhas originais: através de um vestido de mulher surge uma árvore, uma
criança dá lugar a um cachorro e um grande barco não está mais em mar
aberto. Isso se chama PENTIMENTO, porque o pintor se arrependeu, mudou
de idéia. Talvez se pudesse dizer que a antiga concepção, substituída por uma
imagem ulterior, é uma forma de ver, e ver de novo, mais tarde... ccxxvi

Cujo sentido aproveito para representar a dialética do pensamento e sentimento a


múltiplos tempos, e ainda lhe acrescentar o significado de explosão, derivada de uma
multiplicidade de modos de ver, que resulta dessa união dialogal: átomos que circulam
aos ventos sociais, polifonias que se encontram anonimamente, indivíduo e sociedade,
e se tornam cultura. Pantimento é pan-poesia...

Tropicália ou Panis Et Circenses, não é por acaso que assim se titula o disco-
manifesto do Tropicalismo, reunindo os artistas da música popular brasileira, Caetano
Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Nara Leão e Os Mutantes, um trabalho musical que
inclui desde o tango/bolero de Vicente Celestino, ao frevo de João Antonio Wanderley,
composições de Capinam, Tom Zé e Torquato Neto, tudo sob o arranjo e a regência do
gênio de Rogério Duprat, um trabalho que, curiosamente, navega por caravelas outras
que as de Pedro Álvares Cabral: Las Três Carabelas, em versão de João de Barros,
referência direta àquelas outras, as de Cristóvão Colombo (Santa Maria, Pinta e Niña),
que o conduziram à descoberta da América...

125
Imagine-se o triplo golpe com que o Tropicalismo atinge as univocidades todas... A
uma, o nacionalismo ufanista da ditadura militar... Em seguida, os diversos
seguimentos de ação ideológica e política de cunho radical, então submetidos à divisão
ideológica do mundo, num tempo em que qualquer referência positiva a América e aos
americanos era tida como traição às esquerdas brasileiras organizadas... Enfim, ao
espírito luso-colonizador dos diversos estamentos de poder da cultura brasileira...ccxxvii
A Tropicália, como autêntica overture da pós-modernidade brasileira, forma-se
a partir das propostas estéticas lançadas pelo Movimento Modernista, por um
lado, mais especificamente como um desdobramento do Manifesto Pau-Brasil,
na medida em que absorve, mas de um modo mais explícito,
antropofagicamente, elementos de cultura européia, e norte-americana, sem
deixar de exaltar o nativo nacional como sua pièce de rèsistence – o índio
brasileiro – aproximando-se, embora de um outro modo, da exaltação dos mitos
indígenas, realizada pelo Movimento Antropofágico, de Oswald e Mário de
Andrade e de Raul Bopp (Cobra Norato)...
De outra vertente, o Movimento da Bossa Nova, que já miscigenava o jazz americano
à cultura musical brasileira, João Gilberto à frente, embora, no dizer do próprio
Caetano Veloso a Tropicália tenha sido o movimento que nos anos 60 virou
(desconstrução pós-moderna, pode-se acrescentar) a tradição musical popular
brasileira, e a bossa nova, segundo ele sua mais perfeita tradução, pelo avesso... ccxxviii
A Tropicália, no melhor sentido semanista, e no ainda mais eficiente antropofagismo
cultural, exaltando radicalmente o elemento humano mais primitivo nativo das terras
brasileiras, incorporando os elementos literários e musicais de todas as vertentes da
cultura brasileira, do luso ao negro, do europeu ao norte-americano, especialmente as
miscigenações já realizadas no interior da cultura brasileira, consegue, a um só tempo,
incorporar essas todas vertentes, inclusive as interpretações relativas às conquistas da
modernidade, como, por exemplo, os ideais libertários, contra todas os preconceitos
limitadores do humano... Sem, no entanto, reduzir essa força unificadora a qualquer
estereótipo (univocidade) apropriável por eventuais setores da sociedade que o tentem
fazer...
A Tropicália, pós-modernismo à vista, tornou-se o principal fator de desarticulação
(desconstrução) de uma identidade baseada, seja na noção de nacionalidade, com as
agruras de época tão conhecidas, seja com o olhar redutor de uma elite sócio-política
mistificadora, e redutora, das reais virtudes do humano brasileiro...
Um brasileiro musical, um brasileiro inteligente, um brasileiro plural, fundado na
noção do elemento terra brasileira, na harmonia entre humano e natureza, o índio
hiper-civilizado, um brasileiro pau-brasil, enfim, liga as vanguardas presentes na
Semana de Arte Moderna às da Tropicália, da modernidade à pós-modernidade...
A identidade cultural do que é o ser brasileiro ensaiava seus novos passos (ainda
modernistas), quando talvez essa identidade já estava se tornando um elemento de
redução do humano a dimensões por demais despiciendas (pós-modernistas), num
mundo que então, hoje bem o sabemos, caminhava aos passos sorrateiros de uma
globalização, mais que econômica, cultural...
Não será mérito maior da cultura brasileira essa pluralidade e antropofagia a partir da
vida do humano sobre a sua terra? Não será ainda muito mais civilizado (e

126
civilizatório) o processo cultural que se conduz especialmente pela música enquanto
seu discurso literário (Theory) mais cultural?

Ilustração de Arnaldo Baptista, 1999.

Música jamais excludente dos sons do humano sobre a terra, ao contrário, aglutinadora
e miscigenadora dos vários elementos das mais diversas culturas?...
Enquanto os demais discursos, pretendendo-se reais, ignorando serem tanto quanto
fictos de interpretação, ainda estavam a gaguejar linguagens prontas de outras culturas,
e como discursos prontos, prontos a aplicá-los, sem mediação antropofágica, como
interruptor das luzes de um próprio modo brasileiro de pensar, interpretar e reinventar
o mundo?...
Ignorando que a cultura brasileira possui a mesma invejável virtude que tem feito a
glória da cultura norte-americana, e ainda muito mais rica de possibilidades, fruto de
nossa capacidade de miscigenação, a capacidade de absorver e incorporar as todas as
conquistas culturais das diversas aldeias, desde as mais primitivas às mais ricas?...

Foto: Mara Fernandes, 1997.

Se a música popular vem se tornando a ponta de lança nesse processo de re-construção


do discurso cultural brasileiro, o que se tem a fazer é ampliar essas interpretações
através dos diversos outros discursos da cultura, muito mais importando realizá-la
enquanto cultura de um novo mundo, mais justo, mais harmonioso, mais pacífico e,

127
por que não dizer, mais prazeroso, mais musical, do que, propriamente, identificá-la,
aos polegares luso-brasileiros, nos institutos félixpachecos dos globalizamentos...

Caminhando contra o vento, sem lenço, sem documento...


Alegria, Alegria, de Caetano Veloso, composição vencedora do Festival da Record de
1967, título que não participa da sua letra, e com a qual o compositor pretendeu
expressar a consciência de alegria imediata na fruição das coisas...
Porque a alegria imediata de fruição das coisas é dos mais autênticos dos elementos da
cultura brasileira... Que nós todos, nos dias difíceis de um hoje que se anuncia pós-
tecnológico, de racionalismo galopante, devemos – e não há nenhum motivo, mesmo
aqui e sempre, para deixar de dizê-lo – procurar cultivar...

Se sermos um nos deixa tristes, por que não sermos uns?...


Talvez seja essa vivenciação das multiplicidades, individual e coletiva, vocação pós-moderna,
a melhor tradução do que é esse ser brasileiro... Especialmente num mundo em que o sol se
reparte em “crimes” pós-modernos...

ccxxix

MANGUEBEAT, MANGUETOWN, AFROCIBERDELIA: ou,


A PÓS-MODERNIDADE NA BOCA DO POVO...
Dado empírico: de uma mistura de estilos e sons surge em Recife uma movimentação
cultural pós-moderna que se instala (violentando a perversa tradição luso-colonial-
brasileira de imposição unidirecional, de cima para baixo, alheio às ricas
possibilidades de troca multidirecional e oxigenação cultural), como um movimento
popular fundado numa polifonia de raízes locais, mesclada à polifonia popular de
mídia especialmente norte-americana... Dado empírico do que seja a pós-modernidade,
vocação brasileira...

128
Ilustração: Helder, 1993.

A impressionante (e necessária) invasão dos homens-caranguejos (aspectos


ficcionais e políticos do manguebit)

No texto Arqueologia do Mangue,o jornalista Renato Lins relata que


certa vez encontrava-se com alguns amigos em um bar bastante freqüentado na
época no Recife, não sabe ao certo se o ano era 1991 ou 92, quando chegou o
até então conhecido como Chico França numa mesa repleta de cervejas e deu o
seguinte depoimento:”mixei uma batida de hi-hop com o groove do maracatu
e ficou bem legal. Vou chamar essa mistura de Mangue”.
No entanto, num outro artigo, Renato L. explica que o percurso musical
de Chico Science iniciou mais cedo. Nos inícios dos anos 80, “o garoto
Francisco França ganhava uns trocados durante o dia fazendo ‘biscates’ na
vizinhança, para garantir a entrada nos bailes funkies dos finais de semana.
Seus ídolos eram James Brown, Sugar Hill Gang, Kurtis Blown. Grand Máster
Flash e outros grandes nomes da Black Music”.
Em 1984, Chico passou a integrar a Legião Hip Hop, uma das
principais gangues de dança das ruas do Grande Recife. Sua primeira aventura
como músico ocorreu três anos mais tarde numa banda chamada Orla Orbe
que teve uma curta existência. No final da década, passou a integrar o grupo
Loustal, cujo o nome era uma homenagem ao quadrinista francês Jacques de
Loustal. Nesse grupo, Chico já começava a dar mostras das suas
potencialidades para a criação de novos sons, propondo mesclar um rock ao
estilo dos anos 60 com elementos do soul, do funk e do hip-hop. Segundo
Renato L., neste momento: “Francisco França já começava a se transformar
em Chico Science, o cientista dos ritmos, o rei das alquimias sonoras”.

“Cascos, cascos, cascos

129
Multicoloridos, cérebros, multicoloridos
Sintonizam, emitem, longe
Cascos, cascos, cascos
Multicoloridos, homens, multicoloridos
Andam, sentem, amam
Acima, embaixo do mundo
Cascos, cascos, cascos
Imprevisibilidade de comportamento
O leito não-linear segue
Pra dentro do universo
Música quântica?”ccxxx

A resposta para essa pergunta revela a face mais curiosa e menos


conhecida do Manguebit. Para inventar uma cena, os ideólogos do Mangue já
tinham à disposição exemplos históricos, como o próprio movimento punk. Há
de se convir, no entanto, que seria muito fácil tocar um projeto cultural numa
metópole pós-moderna como Londres do que numa cidade pós(?)-coronelista
como Recife. Mas a coisa aconteceu. E aconteceu da forma mais fantástica que
poderia ter acontecido. A cena Mangue não foi criada apenas como uma
crítica objetiva ao sistema e as estruturas de poder (o que ocorre sem dúvida, e
num momento posterior até de forma mais explícita). Ela partiu de um delírio
ficcional feito para história em quadrinhos, de uma criação gráfica elaborada
pelos artistas Helder Aragão (hoje conhecido como DJ Dolores) e Hilton
Lacerda que na época formavam a dupla Dolores & Morales. Tal como Kafka
em A Metasmorfose ou como Arrigo Barnabé em Clara Crocodilo, a trama dos
quadrinhos contava uma história absurda, na qual os indivíduos de uma
localidade estavam se transformando em homens-caranguejos. Como? Os
próprios quadrinhos narram a causa da metamorfose: “O relatório da OMS
apontou o verdadeiro motivo dessas transformações. Segundo a respeitada
instituição, tudo começou quando uma grande fábrica de cerveja resolveu se
instalar sobre o aterro de um manguezal. A água utilizada no fabrico da bebida
estava contaminada com resíduos tóxicos, provenientes da baba do caranguejo.
8O referido crustáceo decápode produziu tal substância por ficar exposto aos
raios ultra-violeta do sol, sem protetor. Além disso, a afrociberdelia levou a
população a movimentar-se de maneira tal, que findou por condensar e
dimensionar esses ingredientes”.
Mais absurdo parece impossível. No entanto, as idéias para alimentar
tal delírio partiram de uma outra ficção que tinha como base uma dura
realidade dos manguezais: o ciclo do caranguejo. Tal ciclo foi narrado de uma
forma impressionante pelo geógrafo Josué de Castro – muito mais conhecido
por sua obra de cunho humanista e político (Geografia da Fome tornou-se um
clássico para os estudos sociais) – no romance Homens e Caranguejos: “os
mangues do Recife são o paraíso do caranguejo. Se a terra foi feita para o
homem com tudo para bem servi-lo, o mangue foi feito essencialmente para o
caranguejo. Tudo aí é, ou está para ser caranguejo, inclusive a lama e o
homem que vive nela. A lama misturada com urina, excremento e outros

130
resíduos que a maré traz, quando ainda não é caranguejo vai ser. O caranguejo
nasce nela, vive dela, cresce comendo lama, engordando com as porcarias
dela, fabricando com a lama a carninha branca de suas patas e a geléia
esverdeada de suas vísceras pegajosas. Por outro lado, o povo daí vive de
pegar caranguejo, chupar-lhe as patas, comer e lamber seus cascos até que
fiquem limpos como um copo e com sua carne feita de lama fazer a carne do
seu corpo e a do corpo de seus filhos. São duzentos mil indivíduos, duzentos mil
cidadãos feitos de carne de caranguejos.O que o organismo rejeita volta como
um detrito para a lama do mangue para virar caranguejo outra vez”.ccxxxi

*
Está claro que o fragmentarismo é uma estética (que já pressupõe uma ética), uma
epistemologia, que já supõe uma lógica...

O fragmentarismo é ainda uma παιδευµα, no sentido de que é uma ciência, um saber,


uma articulação singular e polifônica do conhecimento, aos muitos modos de ler o
mundo, de maneira que o próximo homem (ou geração) possa encontrar, o mais
rapidamente possível, a parte viva dele e gastar um mínimo de tempo com itens
obsoletos...ccxxxii

Capa: Eugênio Hirsch, 1977

O Ulisses de Joyce é o grande exemplo de articulação entre o Todo e o Múltiplo: como


deve ser o discurso fragmentarista, em que a totalidade apresenta-se, como fato
poético, oculto aos olhos que presos somente no texto-tema. Os muitos discursos de
Joyce aparecem em Ulisses fragmentados, desencontrados, como fluxos de narrativa
do inconsciente e da memória viva, alternando informações do cotidiano e de erudição,
em que a pluralidade dos elementos da vida humana se encontra e se desencontra sem
qualquer hierarquização... Acolhendo os muitos modos de ler o mundo, o escritor

131
irlandês carnavaliza o tema épico de Ulisses e fragmenta os discursos (ao interior
mesmo dos monólogos de suas personagens, tal qual a fragmentada polifonia da vida
interior de qualquer um) à maneira polifônica de apresentar as suas muitas estórias,
tematizadas a partir de uma leitura (e transliteração) nem linear nem unívoca do
clássico de Homero...ccxxxiii

A cidade, heroína maldita de toda a sua obra, lhe parece um labirinto,


de onde sua personagem Stphen Dedalus precisa escapar, assim como o
mitológico Dédalo escapara do labirinto de Creta.
Era a idéia central de “Ulisses”, concluído em Paris, em 1921, editado
pela jovem americana Sylvia Beach, especialista em obras de vanguarda. Mas
a censura está vigilante: as autoridades americanas queimam quinhentos
exemplares, as inglesas inutilizam outro tanto. Só em 1933 o livro será
liberado... A ação de “Ulisses” transcorre em Dublin num único dia, 16 de
junho de 1904...A linguagem utilizada por Joyce, que vai do poema à ópera, do
sermão à farsa, contém não apenas termos usuais – da prosa clássica à mais
grosseira gíria - , mas também elementos criados pelo escritor com base em
seus conhecimentos de latim, grego, sânscrito e uma vintena de idiomas
modernos...Na organização dos vários estilos e das múltiplas formas literárias,
Joyce segue a técnica do monólogo interior: o fluxo da memória e do
inconsciente de personagens que pensam em voz alta, revelando assim toda a
complexa trama da existência, Em verdade, estabelecendo um paralelismo com
a “Odisséia” de Homero (Século VIII a.C.), Joyce cria uma grande viagem
experimental ao mundo de hoje, obtendo vigorosa síntese de suas descobertas
científicas, seus problemas raciais, religiosos, estéticos, sexuais... ccxxxiv

*
O fragmentarismo contempla a possibilidade de cada pensamento, com seus
sentimentos subjacentes, torne-se mais consciente, mais saber, na medida em que
também promove uma aproximação com o real fragmentário por um humano
fragmentário... Pois é lógico que não se obterá senão parcela ínfima de conhecimento
(sempre fragmento) se não se considera as diversas partes que transitam em torno o
fragmento de realidade, sobre o qual se tenta discernir...

O fragmentarismo contempla a possibilidade de cada pensamento ser expresso por seu


correspondente humano pensante, que a retórica da linearidade inviabiliza por sua
necessidade de costurar fragmentos arbitrariamente selecionados, linearizando o
ilinearizável, a partir de uma retórica pré-estabelecida pelo autor em função do seu
relacionamento com as demais vozes (em geral cânones sociais, artísticos,
culturais...)... Que se obriga assim podá-los, resumi-los, interpretá-los, transliterá-los
(os fragmentos), com evidente perda (por vezes até à emasculação) da manifestação
intelectual original... A boa e velha “citação”, in casu, prossegue cumprindo melhor
esse papel, proporcionando aos leitores separar joios de trigos conforme suas próprias
experiências intelectivas. Mas que não se iludam os apressados: tudo há de convidar à
atividade dialogal, multidialogal, pluridialogal... O autor será, então, e ainda, um

132
articulador dessas plurivocidades todas, juntando-se a elas em suas próprias vozes, em
direção, que até pode ser unívoca e linear na intenção, se o que se busca é um melhor
caminho para o conhecimento (sempre pleno de pluralidades fragmentárias), desde que
daí não resulte desfragmentação, nem do discurso nem, muito menos, do tema (seja no
real, seja no ideal).

Afinal, se o autor (pensador) que se resume já o disse, como melhor se exprimia a sua
percepção conceitual, qual motivo suficientemente forte para substituí-lo em dizer?...
Ao preservar-se a originalidade de pensamento de cada tese no discurso, apenas
juntando-se a elas novos fragmentos em igual originários, fazemo-nos todos, autores e
leitores, parceiros na grande aventura do conhecimento... Jamais servos, ou papagaios,
de palavras alheias... Obras tais que essas últimas, podem ter lá o seu valor; mas que
não se substituam jamais às perplexidades – e nos basta o convite às múltiplas
respostas – obtidas na lógica fragmentarista... Em se tratando de teoria da arte, é
mesmo uma pretensão inominável...

*
O mundo é um e múltiplo. O mundo é a vontade de poder. Pode-se
suspeitar, de acordo com isso, que também a vontade de poder é um e
múltiplo... O um, como teológica e metafisicamente fundante, é recusado por
Zaratrusta. Ele denomina “malvadas todas essas doutrinas do um” Também o
um não é, para Nietzsche, de modo algum, “o simples”. “Tudo o que é simples
é meramente imaginário, não é ‘verdadeiro’, nem é um, nem é redutível a um...
A multiplicidade acede ao primeiro plano. Só uma multiplicidade pode
ser organizada em unidade. Trata-se, no múltiplo organizado, de “quanta de
poder”, se, pois, o único mundo não é nada mais que vontade de poder...
A vontade de poder é a multiplicidade das forças em combate umas com
as outras... O mundo de que fala Nietzsche revela-se como jogo e contrajogo
de forças ou de vontades de poder. Se ponderamos, de início, que essas
aglomerações de “quanta” de poder ininterruptamente aumentam e diminuem,
então só se pode falar de “unidades” continuamente mutáveis, não, porém, da
unidade. Unidade é sempre apenas organização, sob a ascendência, a curto
prazo, de vontades de poder dominantes... ccxxxv

*
As teses pós-modernas, as teses fragmentaristas, como é próprio da Teoria Literária
da Cultura, se provam no processo mesmo em que são colocadas, em que existem
como processo e procedimento, nas ficções que formam a vida humana...

1001 usos para um barômetro


Engenhosidade de um aluno supera expectativa do mestre

133
Ilustração: Cruz, 2002

Algum tempo atrás, recebi um chamado de um colega que me pediu


para arbitrar uma questão referente à avaliação de uma pergunta de prova.
Ao que parecia, ele estava a ponto de dar zero a um aluno numa questão de
Física, mas o estudante alegava que merecia nota máxima e que queria
ganhar um dez mesmo, mas que não ganharia porque o sistema de ensino era
uma armação contra os alunos.
Dirigi-me ao escritório desse meu colega e li a questão, que dizia
simplesmente: “Mostre como é possível determinar a altura de um arranha-
céu com a ajuda de um barômetro.” (que, como se sabe, é um instrumento
que mede a pressão atmosférica.)
A resposta do aluno: “Leve o barômetro até o topo do prédio, amarre
nele uma longa corda e vá baixando-o até a rua. Depois puxe-o de volta e
meça o comprimento da corda, que será igual à altura do edifício”.
Bem, é uma resposta interessante, mas será que o rapaz deveria
receber pontos por ela? Argumentei que ele até merecia, já que respondeu à
questão completa e corretamente. Por outro lado, se recebesse a nota
máxima, isso contribuiria para aumentar seus pontos gerais no curso de
Física. Um alto número de pontos certificaria que o estudante é bom em
Física, mas a resposta dada pelo aluno não confirma isto. Com estas
considerações em mente, sugeri que se desse a ele uma outra chance. Achei
natural que meu colega concordasse – mas me surpreendi quando o aluno
topou a parada.
Agindo nos termos do acordo, dei ao estudante seis minutos para
responder à questão, com a advertência de que a resposta deveria comprovar
algum conhecimento de Física. Ao final de cinco minutos, o sujeito ainda
não tinha escrito nada. Perguntei-lhe então se queria desistir, já que eu tinha
uma aula para dar em seguida, mas ele disse que não desistiria. Contou-me
que tinha tantas respostas para o problema que estava apenas pensando em
qual seria a melhor. Desculpei-me por tê-lo interrompido e pedi que
prosseguisse. No minuto seguinte, ele rapidamente escreveu sua resposta:
“Leve o barômetro até o topo do edifício e incline-se no telhado, deixando
cair o aparelho até o chão, e meça o tempo de queda com um cronômetro.
Então, calcule a altura do prédio usando a fórmula S = metade de ‘g’
(aceleração da gravidade) vezes o tempo ao quadrado”.

134
Diante disso, perguntei ao meu colega professor se ele se dava por
satisfeito. Ele cedeu e dei ao rapaz quase a nota máxima. No entanto, ao
deixar o escritório, lembrei-me de que o estudante havia mencionado ter
outras respostas para o problema e fui lhe perguntar quais eram. Ele
respondeu que existem muitas maneiras de determinar a altura de um prédio
usando um barômetro. Num dia ensolarado, por exemplo, poder-se-ia medir
a altura do barômetro, o comprimento da sua sombra, o comprimento da
sombra do prédio e – valendo-se de uma simples regra de três – calcular a
altura da construção.
Pedi mais outra solução e ele veio com um método extremamente
básico, mas funcional. Pegaria o barômetro e subiria as escadas do prédio,
marcando verticalmente na parede a altura do instrumento, subindo a cada
marca. Quando chegasse ao telhado do edifício, bastaria contar as marcas e
multiplicar pela altura do barômetro. Um método bem direto.
Depois disso, ele apresentou uma solução mais sofisticada, em que
penduraria o barômetro num fio e o faria oscilar como um pêndulo. Com
isso, determinaria o valor de ‘g’ no térreo e depois em cima do prédio. Pela
diferença entre os dois valores de ‘g’, a altura do arranha-céu poderia, a
princípio, ser calculada. O estudante concluiu, sempre brilhante, que se não
estivesse limitado a soluções para o problema que usassem conhecimentos de
Física, poderia levar o barômetro até o escritório do zelador do prédio e dizer
para ele: “Sr. Zelador, tenho aqui um lindo barômetro de alta qualidade. Se o
senhor me disser a altura deste edifício, eu lhe darei o barômetro de
presente”.
Neste ponto não agüentei e perguntei ao estudante se ele realmente
não sabia a resposta correta do problema. Ele admitiu que sim, mas que já
estava de saco cheio com os professores tentando ensiná-lo como deveria
raciocinar e usar seu pensamento crítico, em vez de lhe mostrarem a
estrutura fundamental do tema e deixá-lo livre para encontrar soluções
originais e criativas. Assim, ele decidiu dar esta sacaneada no mestre.ccxxxvi

*
A pós-modernidade abre a caixa de pandora da sexualidade humana ao
reconhecimento das múltiplas possibilidades de relacionamento e prazer sexual, sem
que disso resulte qualquer transtorno às relações sociais...
Só o reconhecimento do humano como um ser fragmentário, jamais unívoco, permite o
livre fluir das sexualidades humanas...
No conjunto de tantos fragmentos que formam o indivíduo, dão-se as mãos aqueles
tais que encontram ressonância nos de outrem, este como uma individualidade em
igual fragmentária... Assim os relacionamentos se formam, se conformam, se
deformam e se abandonam, ou mesmo se estabilizam, na medida mesma dessas
relações fragmentárias... A conseqüência é que a sexualidade, considerada apenas em
si, desprende-se do núcleo para a periferia das relações sociais...

135
ccxxxvii

A fuga do mundo moderno assume uma forma diferente na obra de


Francesco Clemente. Em vez de escapar para um passado idealizado (tornado
mais simples para os neo-expressionistas italianos pela existência de uma
herança artística praticamente irresistível), Clemente voltou-se para o seu
interior. Ele mistura as tradições ocidentais com as orientais – especialmente
da arte e filosofia hindus – para criar obras que sugerem a experiência do
mundo como uma extensão do ego. Clemente emprega motivos de fontes tão
diversas quanto o cristianismo, o tarô, a alquimia e astrologia, mas seu tema
recorrente é a sua própria face e corpo, muitas vezes com ênfase nos orifícios
físicos. Grande parte da obra expressa uma sexualidade andrógina, auto-
erótica e polimorfa, que evidencia ao seu interesse por ioga tântrica.
Sol da meia-noite (fig. acima), por exemplo, é cheio de símbolos, com
múltiplas camadas, que representam uma espécie de transcendência espiritual
pelo sexo. Três figuras entrelaçadas, uma delas com os olhos vendados, são
circundadas por um mar de olhos que também sugerem vaginas. Talvez seja
uma referência a uma lenda hindu do deus Indra, que foi punido por uma
indiscrição sexual e teve o corpo coberto com marcas do yoni, ou vagina, que
depois se transformariam em olhos. Porém aí, cada uma apresenta uma
pequena vela. Quando as pequenas embarcações partem para lugares
desconhecidos, parecem assumir a forma de um conhecimento inspirado
sexualmente e que emana das figuras centrais...ccxxxviii

Erotismo e pornografia, enquanto ética maniqueista, vêm apagando as suas mútuas


fronteiras, no pós-modernismo, na medida em que o exercício das preferências sexuais
em nada mais determina a ética sócio – ora fragmentários – individual...
Na pós-modernidade o livre curso de fragmentos sexuais em cada um, salvo os perigos
da violência (que faz do sexo mero instrumento, como uma arma, descaracterizando-o
como atividade sexual), e dos estados patológicos obsessivos (violência ideológica que
também descaracteriza a atividade), inclui-se tão somente na esfera individual de cada
qual...
Na pós-modernidade, a exploração dos limites da sexualidade individual, fragmentos
do Eros Absoluto, abre caminho para a separação entre sexo e Estado, entre sexo e
Religião, entre sexo e Moral... Estabelecendo que vingue, afinal, a inata autenticidade
das múltiplas fronteiras estéticas (o que pressupõe múltiplas éticas)... Tanto quanto as
múltiplas fórmulas de comércio sexual, se considerarmos as possibilidades que o

136
cinema vem apontando, via desenvolvimento de uma realidade virtual, para além ainda
mais das pornowebs...

– Diga, alguma vez se ligou? Fez uma viagem eletrônica?


– Não... não...
– Um cérebro virgem. Ótimo. Vamos começar bem. Diga o que sabe sobre
isso.
– Só o que eu li. O FBI aperfeiçoou isto para substituir o microfone no corpo.
Agora vendem no mercado negro.
– Exatamente. Esta conversa não está acontecendo.
– Pode crer.
– Ótimo.
– Então, me dá o gravador?
– Dou um a preço de custo. Ganho com “software”.
– Clips, hein?
– Certo, certo.
– Olha, quero que saiba exatamente do que estamos falando... Não é “como na
TV, mas melhor”... Isto é a vida real... É uma parte da vida de alguém. Pura,
sem cortes... direto do córtex cerebral. Você está fazendo... Está vendo,
ouvindo, sentindo.
– Que tipo de coisas?
– O que quiser. Quem você quiser ser. Se quer esquiar da sua sala, pode. Mas
alguém como você se quer esquiar vai a Aspen. Não está interessado nisso.
Quer o que não pode fazer. O fruto proibido.
– Entrar numa loja com um magnum .357 com a adrenalina bombeando. Ou...
Vê aquele cara com uma bela garota? Não gostaria de ser ele durante vinte
minutos?
– Sim...
– Você pode, sem manchar a sua aliança.
– Parece bom (coçando a aliança)
– Consigo o que você quiser. Só tem que falar comigo e confiar, está bem?
Porque sou seu confessor. Seu psiquiatra.Sou sua ligação com o comutador
de almas. Sou o Mágico. O Papai Noel do subconsciente. Diga, pense e pode
ter. Quer uma garota? Duas garotas? Não sei qual é sua curiosidade. Quer
um cara? Quer ser uma garota? Pense nisso. Ser uma garota. Ver como é.
Talvez queira que uma mulher o amarre. Tudo é possível...(...)
– Vai ser uma grande noite, não sente? Pode-se ganhar grana, vender sonhos
(referindo-se a “clips”, fitas de um gravador que se liga diretamente ao
cérebro, através de uma “rede” de cabeça, proporcionando ao “ligado”
viver, como se realidade seja, com todas as ações e reações físicas e mentais
da pessoa “gravada” em atividade real)
– É pornografia... ( Macey, seriamente contrariada)
– Isso é ignorância. Vendo experiências. Faço um serviço humanitário. Talvez
salve vidas.
– Queria ver isto... (irônica)

137
– Todos devem fazer algo proibido. Somos assim. Mas agora o risco é muito
grande. A rua é um campo de batalha. Sexo mata. Você põe a “rede” e
consegue o que precisa. Quase como a realidade e mais seguro.
– É pornografia. Você vende a “rede-viciados”.
– Você está muito severa...e isso é falso. Meus clientes são profissionais.
Alguns são até celebridades... ccxxxix

A pornografia institucionalizada, a pornografia de violência, a pornografia de estados


obsessivos, que se incrementa no bojo da pós-modernidade, é em verdade uma reação
ao livre curso das sexualidades...

ccxl

É uma velha sexualidade tentando ainda fixar os limites de uma univocidade que não
aceita perder o império das velhas dicotomias... É uma velha economia sexual versus
uma nova economia sexual...

ccxli

A pornografia institucionalizada mantém, através de mixagens de imagens bizarras


com simples manifestações fragmentárias de sexualidade natural, com nomenclaturas
tais que “sick sex”, “sin sex”, “insane sex”, etc., que o sexo siga envolto pelos véus da
culpa e da marginalidade, mesmo da para-ilegalidade (e aqui não se fala, é óbvio, das
violências sexuais, que têm muito de violência e raro ou nada de sexual (sexo como
instrumento do abuso de poder...)... Como um modo de sustentação de uma moralidade
que, na pós-modernidade, se vai fazendo cansada...

De outro lado, matérias de revista, tanto femininas quanto masculinas, dão uma aura
de normalidade a exercícios sexuais que, em última análise, leva o sexo para a fria
ração das motivações que não correspondem necessariamente aos anseios individuais,
como receitas de bolo de aniversário...

138
Enfim, são fragmentos de sexualidade que se vão afastando do eixo de uma antiga
sexualidade exemplar, que pressupunha uma identidade sexual única entre todos os
múltiplos indivíduos, identificados apenas pela razão carnal...

De toda maneira, pouco a pouco o erotismo vai incorporando a si elementos que eram
de domínio exclusivo da pornografia...

*
No lugar de tratar a sexualidade como um aspecto altamente
especializado da experiência humana, uma força em ação na vida das pessoas
em certos momentos, Freud mostra sua infiltração, fazendo de uma teoria da
sexualidade uma precondição para entender o que poderia ser eminentemente
não-sexual...
O não-sexual torna-se uma versão particular do que Freud chama de
“sexualidade alargada”ccxlii. Essas reversões desconstrutivas, que dão um lugar
privilegiado ao que fora considerado marginal, são responsáveis por muito do
impacto revolucionário da teoria freudiana. Tornar aquele singular monstro,
Édipo, no modelo do amadurecimento normal, ou estudar a sexualidade
normal como perversão – uma perversão instintiva – é um procedimento que
até hoje não perdeu sua força de escândalo.
O exemplo mais geral da desconstrução de Freud é certamente o
deslocamento das oposições hierárquicas entre o consciente e o
inconsciente...ccxliii
“É essencial abandonar a supervalorização da propriedade de
ser consciente, antes que seja possível formar qualquer visão correta da
origem do que é mental... o inconsciente é a esfera maior, que inclui
dentro de si a esfera menor do consciente. Tudo o que é consciente tem
um estágio inconsciente preliminar, enquanto o que é inconsciente pode

139
permanecer naquele estágio e, ainda assim, exigir ser visto como tendo
valor pleno de um processo psíquico. O inconsciente é a verdadeira
realidade psíquica... ccxliv

*
Sou poeta Apenas poeta Nada mais que poeta
Quando jogo meus dados
Quando lanço meus dardos
Quando me faço de galo
Quando me fazem de pato
Quando falo, quando talho
Sou poeta Apenas poeta Nada mais que poeta

Quando me firo nos cios


Quando me ardo de amor
Quando dos altos me grito
Quando me faço menor
Quando sou caminho
Quando sou dor
Sou poeta Apenas poeta Nada mais que um poeta
Tudo mais é contradança Tudo mais é peripécia...ccxlv

*
DISCIPLINA SEM DISCIPLINA

Uma das constatações recentes de Jonathan Culler segundo a qual “one


of the most dismaying features of theory today is that it is endless” (Culler,
1997, 15), em princípio expressão de desalento diante do cenário expansivo e
indomável das práticas teóricas complexas e difíceis no terreno dos estudos da
literatura, no último esforço de atualização ensaiado pelo autor, transforma-se
paradoxalmente em animado convite ao divertimento e ao prazer: enjoy! Como
se explica esse inesperado otimismo, contrariando não só a costumeira sisudez
e certo pessimismo cultural na área, mas também a reação usual de
desconforto face a uma disciplina (des) caracterizada pela imensa diversidade
de seus interesses e sem muita certeza quanto aos conteúdos e formas de seus
objetos de investigação e , muito menos, quanto à própria relação que deveria
ter com estes?
A publicação de Literary Theory, em 1997, na série “A Very Short
Introduction”, da Oxford University Press, apresenta-se declaradamente como
introdução acessível a uma ampla variedade de temas e termos da reflexão
contemporânea sobre questões centrais acerca do fenômeno literário.

140
Nos estudos literários e culturais circula hoje menos o termo teoria da
literatura. Usamos com muito mais freqüência apenas teoria, ou “just plain
theory”, como diria Culler (Culler, 1997,1). Neste sentido, não se privilegia
uma teoria singular, mas acentuamos a condição da teoria como prática ao
mesmo tempo específica e geral, “something you do or don’t do” (1997,1).
Para Culler, theory nos estudos literários não corresponde à
investigação da natureza da literatura ou a métodos analíticos produzidos
especialmente para uma análise de textos literários individuais, ainda que estes
façam parte dela. O seu projeto não se limita a textos literários e suas possíveis
marcas de distinção, mas, entre outros, procura até argumentos para tentar
explicar as inexplicáveis razões da alegria que motiva as nossas preocupações
com literatura. A sua pergunta “what is involved in treating things as literature
in our culture?” remete ainda à convicção de que o termo literatura
corresponde a um rótulo institucional que nos permite esperar que os
resultados dos esforços investidos na leitura tenham pelo menos alguma forma
de valor (Culler, 1997,22). É nesta perspectiva ampla que precisamos entender
esse seu programa teórico: “It’s a body of thinking and writing whose limits are
exceedingly hard to define” (1993,3).
Este novo gênero em desenvolvimento – que, citando Richard Rorty, “is
neither the evaluation of the relative merits of literary productions, nor
intellectual history, nor moral philosophy, nor epistemology, nor social
prophecy, but all of these mingled together in a new genre” – é endossado por
Culler, então, pelo acento sobre a palavra sem adjetivação específica. Teoria,
nesta perspectiva, é vista como gênero a partir da forma de seu estudo: for a da
própria matriz disciplinar (1987, 8).
Transformações na esfera epistemológica, estética e política facilitaram
também a emergência efetiva do estudo das literaturas das mais diversas
minoridades. As discussões sobre essas formas de expressão literária – por
exemplo, black, hispânico, afro-americano, nativo, gay, - colocam hoje
problemas complexos para os vínculos entre identidades culturais de grupos
particulares, seja com a tradição, seja com o programa liberal da celebração
da diversidade cultural e do “multiculturalismo” (1997, 131)
Theory – “as we call it” – representa, por um lado, uma atividade
especificamente acadêmica, mas dentro da universidade se comporta de forma
transdiciplinar, porque desafia fronteiras em função das quais se legitima
normalmente a estrutura universitária. De modo geral, as disciplinas
reinvindicam o direito de julgar trabalhos que se situam no interior de seus
limites específicos, mas Culler enfatiza, ao contrário, que “in practice, theory
contests the right of psychology departments to control Freud’s texts, of
philosophy departments to control Kant, Hegel, and Heidegger” (1997, 96).

No final dos anos 1990 o nome theory, que duas décadas batizava
timidamente esse novo gênero mestiço por falta de outras opções mais
convincentes, institucionalizou-se em sua mais recente publicação, ainda que
Culler mantivesse, curiosamente, um título tradicional: Literary Theory (1997)

141
No pequeno compêndio de imensa circulação, o autor radicaliza as suas
convicções hipotéticas anteriores ao reforçar a idéia de um gênero particular –
uma disciplina sem disciplina – referido a obras que desafiam e reorientam o
pensamento em esferas distintas dos campos de saber de sua aparente
pertença. Esse tipo de explicação, que circunscreve a teoria como atividade
cujos efeitos práticos se manifestam além do seu território de origem, parece
captar a situação geral de grande parte dos discursos teóricos a partir dos
anos 1960, mas de modo específico, e com mais pertinência, os discursos
teóricos nos estudos da literatura quando estes passaram a ser elaborados
explicitamente fora do seu berço disciplinar, mas apropriados por este à
medida que as suas análises da linguagem, da mente, da história ou da cultura
ofereceram perspectivas persuasivas para solucionar problemas textuais e
culturais percebidos dentro do seu próprio espaço (1997, 3). ¨Theory in this
sense is not a set of methods for literary study but na unbounded group of
writings about everything under the sun, from the most technical problems of
academic philosophy to the changing ways in which people have talked about
and thought about the body” (1997,4).
Uma das marcas deste tipo de pensamento transformado em theory
emerge, deste modo, nas formas revisionistas da reflexão sobre tópicos
alienados do seu berço disciplinar. Em outras palavras, trata-se de um modo de
entender a atividade teórica como elaboração de molduras novas e adequadas
para um pensamento sobre discursos em geral.
A teorização equivale, nesta visão, à elaboração de um conjunto de
discursos indomáveis, ou nas palavras de Culler, à escrita de um livro de textos
não encadernáveis, que crescem sem parar em função das próprias críticas a
concepções vigentes, por causa das contribuições de novos pensadores à teoria
e por causa da redescoberta de obras antigas invisíveis ou negligenciadas em
seu tempo...ccxlvi

*
É no cinema que a pós-modernidade mais exibe as múltiplas facetas da realidade,
tempo e espaço fragmentados, em contraposição aquela visão unitária em vias de
superação... E o faz com tamanha contundência que torna claro o formidável confronto
de forças que ocorre ao interior da civilização ocidental: pluralidade ou univocidade,
eis a pós-moderna questão...

Em Show de Truman, assistimos a uma brilhante metáfora para o caráter ficcional de


qualquer realidade que se mostra unívoca, linear: esta só é possível enquanto vida
despida de livre-arbítrio, enquanto vida artificial, vida que não é vivida de acordo com
a natureza de cada qual, mas como um pastiche do que seja o acidentado caminhar da
vida individual, tal qual a social...
Show de Trumam (The Truman Show) também exibe a vontade de poder dos
absolutistas em criar o tipo de vida perfeita, iluminista, em que as mazelas da vida são
evitadas através de uma organização que, se subtrai essas mazelas, leva com elas a
própria existência humana...

142
Viver a vida real é sempre atravessar os escuros portais do futuro a cada instante, em
que a absoluta ausência de riscos acaba por eliminar a seiva vital do humano...

ccxlvii

Em Show de Truman, mais que a clonagem do humano é a própria vida que é clonada,
vida criada artificialmente, vida virtual, em que o humano – real – passa a transitar
por uma virtualidade, temporal e espacial, como um modelo de vida perfeita...

ccxlviii

Show de Truman mostra um modelo de vida perfeita em que o humano, a começar


pelo sucesso – valor absoluto para os mundanos telespectadores – vive um conto de
fadas pós-moderno: alcançando a vida perfeita, protegido e admirado pela sociedade,
na medida em que se faz personagem, personagem que se substitui ao humano...

143
Sujeito que se faz objeto... Acaba por escolher correr os riscos da fragmentária e
polifônica vida humana...
Show de Truman é um golpe radical nos absolutismos, na regulação só racional da
vida, quando se mostra que qualquer vida estabelecida na perfeição dos absolutos será
sempre menos vida que a vivência fragmentária, imperfeita – no filme, representada
pelos telespectadores do show – que, afinal, tem as vidas livres para, ao menos, trocar
de canal...
Não há mesmo qualquer vantagem em se substituir a uma vida cotidiana, pessoal, a
uma vida em que o sucesso, sempre ligado a uma visão linear e unívoca das
experiências, torna impessoal, artificial, a existência... Em que o humano se faz objeto
social, em que o indivíduo perde a sua condição de sujeito das suas próprias histórias...
Essa é outra das lições da pós-modernidade, em que a marginalidade se torna a opção
natural dos que, conscientes das ilusões da Razão Unívoca, desejam viver suas
existências pluralizadas...

*
Em Matrix, embora a retórica unívoca, e uma estética de fundo que desatenta, alheia
ao fragmentarismo como uma condição (própria à pós-modernidade) da abertura dos
sistemas organizaçionais que, em essência, prega (de resto esplendidamente), pode-se
dizer que se coloca no limiar da passagem da modernidade para a pós-modernidade: de
um lado, o combate acirrado do Sistema Unívoco, Absoluto, Estatal; de outro a busca
de libertação individual e do social como um conjunto fragmentário de
individualidades...

Matrix, o filme, acerta em preparar o caminho para o início da condição pós-moderna,


retrato das grandes batalhas que vão se travando no mundo pós-moderno, a destruição
do Sistema Absoluto... mas ainda repousa nas fronteiras do que a realidade pós-
moderna vem apresentando de passagem dessa dissolução dos poderes unívocos para a
construção de uma realidade fragmentária... Embora, naturalmente, as respectivas
mazelas, univocidade versus fragmentariedade, ainda dêem o tom dessa vida em
devir... Afinal, o fragmentarismo é um dos muitos modos de ler, assim a univocidade,
e a inteligência humana acaba por exercer tal qual as necessidades... E não será isso
mesmo o pós-modernismo?
Que importa a retórica da univocidade, ou se bem posta aos fragmentos, se, afinal,
recebemos todas as inteirezas como partes de uma verdade sempre maior, sempre mais
para allá?...

*
A seguinte imagem da posição do homem na sociedade (ou da
sociedade enquanto conjunto de homens) é possível: tecido que vibra com
informações que pulsam. Tal tecido pode ser imaginado como sendo
composto de fios que transportam mensagens (“canais” ou mídia). Em
seguida é preciso imaginar que tais fios se cruzam de diversas maneiras, e
que informações se represam e misturam em tais pontos de cruzamento. Tais

144
nós podem ser chamados “emissores e receptores”, ou “espíritos”, ou
“intelectos”, ou com denominação que dependerá da preferência de quem
aplica tais etiquetas. Quem conseguir tal feito de imaginação (o qual é fácil
somente à primeira vista) terá elaborado modelo útil para a orientação na
crise que nos engloba...ccxlix

*
MATRIX, o filme
Para muitos Matrix é só um filme de ficção científica, nos estritos moldes dos filmes
do gênero, nada mais. Com efeito, essa é a primeira leitura que se usa fazer. Pois se
trata de uma história que mistura noções de tempo, a ação se passa entre um tempo
presente (virtual) e um tempo futuro (real); noções de espaço, espaço real e espaço
virtual; domínio, controle e utilização das máquinas pelos humanos; e domínio,
controle e utilização dos humanos pelas máquinas; transferência de humanos entre
duas realidades distintas: da realidade da vida material à realidade da vida virtual e
vice-versa; e, como se não bastasse, a possibilidade do apocalipse, a extinção da
espécie humana e da sua cultura. Nesse teor, o filme repete elementos já explorados
em toda uma série de filmes de ficção científica, elementos dentre os quais se pode
destacar os mais óbvios...

ccl

Primeiro, no que respeita ao superdesenvolvimento das máquinasccli, que resulta na


criação e aperfeiçoamento de uma inteligência artificial, de toda uma geração de
robots e cérebros eletrônicos que acabam se sublevando contra os humanos... Ou seja,
a arquetípica equação criatura versus criador, de Adão e Eva, os desobedientes, a
Lúcifer, o anjo rebelde, de Frankstein ao supercomputador de 2001-Uma Odisséia no
Espaço, essa sublevação mitológica encontra-se presente em todas as culturas, desde a

145
tradição greco-romana aos mitos orientais, e a filmografia a respeito, como não
poderia deixar de ser, é pródiga em exemplos...

Em Matrix, o filme, a identificação da desobediência como um mal que acaba levando


o humano à inversão psicológica de retorno ao estado da natureza, e, assim, ao fim da
cultura, e conseqüentemente, do que constitui o ser humano, é transferida para a
máquina, agora inteligente, ou seja, humanizada, no mesmo rol de preocupação de
preservação e sobrevivência do humano e sua cultura. Nesse sentido, Matrix se insere
nessa linhagem de tramas sobre a desobediência. No caso, desobediência da máquina,
um dos elementos mais explorados pela filmografia de ficção científica...

A desobediência da máquina em Matrix não é o mesmo que a desobediência humana,


fato também já muito explorado pelos filmes do gênero, maravilhosamente explorado
em 2001 – Uma Odisséia no Espaço, desde que o Iluminismo apontou a razão como o
centro gerador dos valores humanos em direção a realização dos seus ideais de cultura
e civilização: reunindo todo o conhecimento já conquistado pelo humano, detentora de
um raciocínio lógico-racional limpo das impurezas da mente humana – sujeita a
variações psicológico-emocionais – a máquina sobrepõe-se aos humanos como a única
inteligência munida de instrumentais necessários a realizar, à plenitude, os ideais
humanos de ordem e progresso e, portanto, de felicidade social, que os próprios
humanos aspiram...

Na filmografia de ficção científica em geral a criatura rebela-se contra o criador mas é


em seu nome, e para ele, criador, que essa rebelião, essa “desobediência” se realiza.
Não importa aqui a questão ideológica de quem programa na máquina esses ideais. A
máquina é imune a ideologias, por constituir-se em razão pura, ela mesma corrige os
eventuais desvios ideológicos dos seus programadores. Toda a inteligência da ética de
Platão a Santo Agostinho, de Thomas Morus a Kierkegaard, de Kant a Marx, reduzida
a apenas alguns micro-segundos de atividade cerebral da inteligência artificial...

Em Matrix, curiosamente, a máquina não se rebela em nome da razão humana, mas em


seu próprio nome, máquina desligada do humano, em nome da razão mecânica, a
instalar um programa de mundo que lhe seja próprio e suficiente à sua sobrevivência e
desenvolvimento. Ou seja, A Máquina, essa filha que o humano fez sem mãe, como
definiu Apollinaire, se substitui ao pai humano como ser vivo, substituindo, inclusive,
blasfêmia das blasfêmias, a Natureza, na edificação de uma Natureza Artificial, em
que ela, A Máquina, em diabólica inversão, gera sua própria mãe-natureza artificial e
transita como sumo pontífice da criação...

Matrix, o filme, trata de um determinismo mecanicista para muito além dos


determinismos propostos pelos filósofos mais delirantes, pelos mais ferrenhos
adversários daquilo que Popper chamou de sociedade aberta... A sobrevivência
material do humano e da sua mater natura, então, e embora em estado letárgico,
estabelece-se apenas, e provavelmente enquanto não se encontra outra, como fonte de
energia, como baterias necessárias ao funcionamento do maquinário... A forma

146
humana dos machine-men sugere, metaforicamente, a manifestação, na estrutura
social, de um estado de coisas que, se ainda humano e natural, vai-se encaminhando
em sua mesma direção, na substituição de humano e natureza por máquina e mundo
artificial...

cclii

Há um aspecto apolíneo relevante – presente tanto em Matrix como em 2001 – Uma


Odisséia no Espaço – a partir da transferência, e aperfeiçoamento, da razão humana à
máquina: o surgimento espontâneo e progressivo dos “defeitos” humanos, ou seja, que
resultam do desejo, do princípio de prazer, no caso, dos desejos da só razão, dos
desejos gerados na razão artificial, no incomensurável prazer de realizar ao máximo os
ideais de perfeição para os quais foi programada – e bem dotada...

Dois defeitos inesperados da razão, em Matrix: a ambição de poder e a crueldade pela


insensibilidade, pela desconsideração do sofrimento alheio, tornam-se os motivos
principais de atuação da máquina no mundo. Se na mesma trilha da razão sádica, a
máquina é a exacerbação do princípio de prazer só apolíneo ccliii, de outro lado também é
o máximo corolário do leit motiv nietzschiano: num mundo em que os humanos são
demasiado humanos, a máquina, em sendo, também ela, uma fatalidade, é a mais pura,
isenta ou imune àquilo que lhe obstaculiza – especialmente a rebeldia dos instintos – a
mais autêntica vontade de poder...

Seria aos modos estabelecidos em Matrix que o super-homem, o além do humano,


resultaria da passagem do estado da natureza ao estado da humanidade e, daí, ao
estado da maquinaria? Veremos, ao seu tempo, que o humano mantém suas
esperanças, e luta...

147
Se o estado de maquinaria em Matrix, a exemplo dos mais recentes filmes de ficção
científica, com base no progresso e na vulgarização da informática, é um estado
digital, a vida humana, sendo vivida no interior da máquina, a mente humana
transformada em chip de computador, um modo virtual de ser, isto não é, ao contrário
do que aponta a maioria dos filmes do naipe, um estado de plenitude em que todos os
desejos humanos se realizam independentemente dos valores que encerram... Ao
contrário, Matrix não vê no estado maquinário, na realidade virtual, nada mais que o
acorrentamento do humano à máquina, em que os desejos realizáveis são apenas os
que a própria máquina constrói, ou permite, à sua própria razão lógica...

ccliv

O que é mais assustador em Matrix é o que, com um mínimo de reflexão, nos obriga à
aceitação da paródia do filme com a informatização da vida humana: os humanos
digitais vivem à imagem e semelhança dos humanos materiais, numa sociedade que
em nada difere da sociedade humana atual... Com sua organização social fundada no
poder, no econômico, na redução do humano a peça de engrenagem sistêmica, na
repressão das individualidades, na mediocridade, com as fantasias digitalizadas pelas
drogas, com suas esquerdas e direitas estabelecidas em padrões incomunicáveis, com
cada qual em seus exatos, intransitivos, especializados, ortodoxos, uniformes,
maniqueístas, nossos artificiais modos de ser, de viver as respectivas metades, sem
nunca as preencher...

O humano é, e leia-se aí também o humano tal e qual a natura mão lhe desenhou, em
sua singularidade, para o Estado-Máquina, um vírus à semelhança daqueles que
interferem no perfeito funcionamento dos computadores, devendo, por isso, ser
esvaziado do seu sentido destrutivo do sistema perfeito, de uma ordem cosmológica

148
fundada na fria razão ordenadora... No caso específico de Matrix, o filme, através de
uma mimese de objetivação metafórica, forçando-o a uma vida virtual, e só não
aniquilado por completo na medida em que seu corpo material abastece, por
metabolismo energético, a própria máquina, que o pretende substituir, numa referência
explícita ao que serve a humanidade em nós, num mundo em que se vai cada vez mais
transformando humanos em números de série, senão a só energia ainda necessária a
manter ligado o machine-man...

Em Matrix a máquina atinge o seu ápice de poder: a robotização do humano


pela transformação deste em um ser meramente digital, em um humano apenas virtual,
um brinquedo de computador, um desejo de realização vital que só lhe é franqueada
numa realidade fora do mundo, uma espécie de sexo seguro, em que o artificial, pela
provocação sensorial ainda que incompleta, (trans) veste-se de material a iludir que é
vida...

Existência virtual em nada se confunde com o exercício do imaginário, com a


liberação da imaginação humana... Aqui, o imaginário é substituído pelo programa,
pelas exatas etapas pré-estabelecidas, pela aceitação das regras dos fabricantes, que se
caracterizam justamente pela imutabilidade, pela proibição taxativa de adulterá-las...
Imaginar para além do que é licenciado constitui sempre infração que sujeita os
responsáveis às penas da machine-law...

Uma parábola friamente aterrorizante, aos mais atentos, na linhagem dos filmes que
vêem na inteligência artificial aquilo que Arthur Koestler chamou de O Fantasma da
Máquina, que só aliviada pela persistência do humano em sobreviver...

Em Matrix, o filme, há toda uma fascinante parafernália de equipamentos, de


supercomputadores a programas de aptidão, física e intelectual, obtida em minutos
pela mera exposição da mente humana; insetos de metal, inseridos no corpo humano,
para vigilância de seus movimentos; monstros de metal, à semelhança de polvos
juliovérnicos, a envolver e perfurar a nave dos heróis humanos; armas e equipamentos
de combate, das mais variadas, obtidos num estalar de dedos; uma superchocadeira em
que são cultivados e utilizados como baterias todos os humanos; enfim, tudo ao melhor
estilo das ficções científicas...

A técnica de triller, em que a movimentação feérica desses elementos se faz


impressionante, levando à identificação dos leitores/espectadores com os heróis, ou, ao
contrário, ao seu desinteresse em imaginar-se em tais e quais situações, se, de um lado
prende a atenção, de outro dificulta a apreensão imediata, pelos respectivos
imaginários, dos vários discursos que se desenvolvem na tela, e assim à leitura aos
muitos modos de ler o filme...

É justamente na necessidade impreterível de aplicar-se o espectador aos muitos modos


de ver o filme que reside o desafio maior do leitor de cinema: sendo especialmente
uma arte de representação do movimento, há o leitor/espectador que movimentar,
dinamizar, acelerar os motores do seu imaginário de modo a apreender pari passo o

149
discurso imagético que se lhe propõe ao entendimento (e ao diálogo), desde o texto da
narrativa cinematográfica ao contexto em que essa narrativa, melhor dir-se-ia, pós-
modernamente, essas narrativas, ocorrem...

O cerne ficcional dessa bela obra cinematográfica, e que lhe dá título, a Matrix, é um
superprograma de computador produzido pelo Estado-Máquina, em que cabe toda a
humanidade, em sua intensa humana atividade... Para muitos seria só mais um
interessante filme de ficção científica, que aponta para os perigos da máquina, somente
vencida pela superioridade final do humano, através da sua superioridade mental, a
saber, a vitória da inteligência natural do humano sobre as forças da inteligência
artificial da máquina, que em nada se relacionaria com a vida real, a vida mesma, o
cotidiano e os sonhos pessoais de cada um...

Muito ao contrário do que possam supor os que arredam o imaginário, os que levam
consigo ao cinema apenas saberes e crenças já estereotipados, os que se postam
passivamente frente às telas, à espera apenas de que o filme confirme (ou obtenha
informar, objetivamente, novos) estereótipos, toda a retórica cinematográfica de
Matrix, em meio aos múltiplos instrumentos ficcionais de pontuar, de expor, mesmo de
vaticinar, fala de um cotidiano progressivamente desumanizado, não propriamente
pelos defeitos humanos, mas pelas qualificações outorgadas ao fora do humano a
resolver os problemas gerados pelos defeitos humanos...

Matrix fala da transferência de poder do humano para o desumano... ...Como fonte


absoluta de soluções para os problemas gerados pela desumanidade....
Fala do dia a dia das pessoas comuns, desatentas de que as aparentes facilidades
geradas pela aplicação do princípio da máquina às suas vidas, e à vida das sociedades,
coloca em cena a desumanidade crescente das suas vidas, vidas que se vão fazendo
vidas virtuais, tanto quanto das vidas reais ao seu redor, vidas que se vão fazendo cada
vez menos humanas, em suas todas desumanidades....

*
A criação dos super-heróis é contemporânea do crescimento das
grandes cidades... Revelando que os maiores problemas do mundo atual são
oriundos das megalópoles... O interessante é notar que os super-heróis
possuem características similares, bem ao gosto da cultura de massas para a
qual foram criados... As revistas em quadrinhos criaram o Super-Homem e
centenas de outros, enquanto o cinema, com recursos tecnológicos cada vez
mais impressionantes, vem os difundindo... Escondidos por trás de máscaras,
eles são ora humanos disfarçados em super-heróis (Batman), ora superseres
disfarçados de humanos (Super-Homem)cclv O enorme sucesso do Super-Homem
é explicado pela identificação do público com esse herói, diante do qual “o
anônimo indivíduo massificado projeta seus anseios inconscientes e projeta sua
impotência”..cclvi

150
Mas os super-heróis, na pós-modernidade, vão se transferindo para a alma dos
indivíduos... Já não basta o processo de identificação psicológica com o seu super-
herói: na pós-modernidade o indivíduo vive seu super-herói, virtualmente, através dos
jogos eletrônicos... Não comungam com os outros as aventuras super-heróicas, mas
são eles mesmos os super-heróis, num isolamento da fantasia, numa entropia do
heróico que vem em muitos casos gerando estados obsessivos de isolamento super-
heróico...

Já os heróis eletrônicos, os heróis dos videogames, crescem tanto porque já não se


trata de se identificar com o herói. Agora qualquer um pode ser o herói. Basta apertar
um botão para voar, bater, tomar decisões etc. E, se morrer, basta começar de
novo...cclvii
.

*
A leitura de Matrix como um filme do gênero ficção científica é apenas um modo
parcial de ver, um modo limitado de ler os seus termos... Há outras necessárias
leituras... Há muitos outros modos de ler...
Entre os muitos modos de ler Matrix, um deles é colher do filme um discurso de
valorização espiritual da civilização oriental, em confronto com o discurso de
valorização material da civilização ocidental, dos quais decorreria, na primeira, uma
ênfase no ser e, na segunda, no ter...
O indivíduo humano, no ocidente, a par do alto grau de sofisticação na produção e
consumo de bens, se mostra progressivamente frágil em conseqüência da mecanização
da vida humana, em função de uma busca desenfreada de realização material,
representada pelo consumo de bens e pela conseqüente exaltação da libido... Essa
fragilidade resultaria do esvaziamento do humano em si, da sua identificação com a
máquina pela aceitação plena de uma existência por ela, ou através dela, preenchida,
em todos os seus aspectos, com as suas ilusórias virtudes, suas virtudes de máquina,
resultando no perigo sempre presente de uma sublevação que acabasse por transformar
a vontade de poder do humano em vontade de poder da máquina, reduzido o humano a
um humano virtual, preso a um sistema de tal modo racionalizado (maquinado), que o
esvaziaria completamente das qualidades que lhe garantem a condição de
humanidade...

De um mundo virtual colocado à disposição do humano, para satisfação imediata dos


seus instintos, dos mais primários aos mais sofisticados, à transformação da vida
humana em vida digital, pode ser um passo subseqüente dos mais plausíveis...

A substituição de uma vida espiritual por uma vida só material, da plena submissão ao
poder impessoal, da busca por uma economia total de esforços, e daí ao crescimento
desequilibrado dos aspectos só materiais da vida, à submissão total do humano à
máquina, e/ou ao sistema mecanicista que em seus princípios repousa, calando no
humano material a sua essência humana, é ainda uma hipótese das mais plausíveis, de
que as utopias totalitárias do século XX iam se servindo, sem que ali esgotassem, os
tontos totalitários, as estratégias de redução do humano a mera aparência, já agora

151
muito provavelmente animados com a progressiva informatização da sociedade, o
controle social que ela possibilita, a impessoalidade do exercício de poder que dela
resulta... Tal e qual o mundo da matrix...

Matrix, também num outro sentido, a um outro modo de ler, realiza a sua crítica ao só
materialismo de um modo de viver ocidental, exatamente no que poderia ser entendido
como sua exaltação... A exaltação do armamento, os efeitos especiais que arregalam
os olhos da alma adolescente quando se coloca à disposição dos heróis uma estante
surgida repentinamente do nada, com todo tipo de armas, as cenas de combate, tudo
parece indicar uma exaltação do objeto arma...

E no entanto em Matrix, bem à necessidade de observar o leitor/espectador um outro


modo de ver, as armas de fogo pertencem ao mundo das máquinas, ao mundo virtual, e
se os heróis delas se utilizam isso se deve ao fato de que é no mundo virtual que se
travam as batalhas pela libertação... É o humano real, o humano da natureza, este é o
humano que invade a matrix a derrotar os machinemen e mostrar aos quase-humanos
digitais que há vida humana fora da máquina...

O culto às armas de fogo, à eficiência dos aparatos bélicos ocidentais é um culto a


objetos, um culto ao fora de si, humano, ele se torna parte de uma filosofia da
máquina... O culto oriental à alma humana, ao universo interior do humano, fonte
humana do divino, aponta para uma superioridade do modo de ser oriental inclusive no
enfrentamento desses objetos fora de si, no caso, o aparato bélico e informacional da
matrix, tal como de todas as matrizes, sejam informáticas, sejam políticas, sejam
culturais...

cclviii

152
Em Matrix, a superioridade do ser sobre o ter é bem manifesta no quadro de lutas
marciais orientais que se desenrola durante toda a ação, representação explícita da
superioridade dessas artes – que têm como pedra filosofal o eu interior do guerreiro –
não apenas sobre as suas correspondentes ocidentais, mesmo ainda sobre a só aparente
superioridade das tecnologias presentes nos armamentos ocidentais...

Entre a força guerreira do humano, originando-se do divino, fundando-se no divino


coração humano, e a força bélica da máquina – nascida do humano que se separa do
divino, por isso menos humano, por isso alienado das energias que movem o seu
dasein, por isso um humano que se separa do humano, um quase humano, aparência
de humano, aquele que se desliga da essência humana – a vitória será, em meio a toda
sorte de provações, será sem dúvida a vitória do humano que mantém em si a chama
espiritual que o liga eternamente às fontes primordiais da Criação... Matrix, o filme,
expressa isso admiravelmente bem, quando das suas cenas finais... Apesar de todo
armamento pesado utilizado nas cenas de combate, é com a força espiritual ensinada
na arte marcial oriental, o encontro com o próprio eu interior, primeiro mandamento
samurai, que a vitória final dos heróis é conquistada...

A arte kung-fu, que tem sido comercialmente muito explorada em produções de mero
entretenimento juvenil, ganha em Matrix o seu galardão... Pois embora, e ainda pela
exuberância dos efeitos especiais, as lutas se desenvolvam ao longo de toda a extensão
do filme – o que pode levar ao modo de ver Matrix como os demais filmes do gênero,
de exibição impressionista da violência – o filme também a estes deplora na medida
em que aponta para o fato de que não é a maestria na prática da arte guerreira que
conduz à vitória, pois essa maestria só é obtida, sendo a prática mero meio para
alcançá-la, por algo que lhe é anterior, que lhe é superior: a força do espírito
humano...

Neo, o principal herói de Matrix, segue perdendo todos os combates que trava com
seus algozes até que reúne toda a força do espírito humano em si, e não apenas os
vence, e não apenas a matrix é destruída, como obtém a transcendência, justamente a
transcendência presente nas filosofias orientais de libertação...

Matrix é sim, um filme de ficção científica, mas não apenas um filme de ficção
científica; Matrix é sim, um filme de arte kung-fu, mas não só um filme de arte kung-
fu...

Os modos de ver a realidade, vítimas da disparidade entre modos de ser diversos, e


contraditórios, usualmente resolvidos, na vida humana, pelo confronto e pela
submissão de um pelo outro, indivíduo versus sistema, natureza versus maquinaria,
inteligência humana versus inteligência artificial, razão versus emoção, poder versus
submissão, ser versus ter, enfim, tudo o que resulta dos conflitos de interesses ao
interior da sociedade humana, para os quais os sistemas políticos tradicionais têm sido
apenas paliativos: é, em relação a essa questão fundamental do que é o humano, de
como devem ser os modos humanos de estarmos no mundo, de o que seja

153
verdadeiramente a realidade humana, que Matrix se impõe não só como arte
cinematográfica de primeira grandeza, mas como o filme que abre o milênio, que
anuncia o milênio, que aponta para a vastidão de possibilidades tecnológicas já ao
alcance do poder do humano sobre o planeta...

Senão o maior, um dos maiores manifestos de vanguarda política que se tem notícia na
história da filmografia universal, Matrix é uma original metáfora pós-moderna dos
males derivados dos excessos da ordem organizacional, sistêmica, pós-positivista/pós-
racionalista, na mais pura linhagem anarquista, à Thoreau, sem que desse combate ao
Leviatã, no entanto, resulte qualquer saudosismo ou regresso ao bom selvagem
rousseauniano...

Fruto dos anos 90, década de afirmação do princípio da mediocridade obediente,


enquanto se procedia a uma revisão das conquistas filosóficas, e respectivos conceitos,
advindos da década de 60, exercidas à plenitude na década de 70, quando se os
depurou, Matrix se integra a esse processo de revisão, mas aos modos de um pós-
modernismo amadurecendo, em que se afloram os muitos modos de ver e ler o mundo,
a sociedade, a natureza, o humano, na pororoca dos principais afluentes presente à
boca das águas mais grossas que se encontram frente ao oceano das idéias libertárias...

O núcleo filosófico de Matrix é a questão da essência da natureza humana, da


realidade do ser, que vem contrapondo filosofias desde a mais remota antiguidade, e
que se desdobra em inúmeras outras questões: da liberdade versus segurança,
determinismo versus livre-arbítrio, aceitação do acaso versus afirmação da
necessidade, e assim por diante... Nesse seu sentido maior, Matrix se afirma como um
dos mais belos discursos sobre a liberdade humana...

cclix

154
O humano subjugado pelo sistema mecanicista é o humano esgotado de ideologias,
num mundo em que as antes disponíveis em nada resultaram senão em mais decepção,
em mais dominação, seja pela riqueza, seja pelo poder, seja pelo processo de recusá-
las ou de obtê-las...
O humano esgotado de ideologias, sem se fazer sujeito desse esgotamento, é o humano
à mercê de uma vida digitalizada pelos dedos ágeis da lógica mecanicista, segundo a
qual organiza o seu viver, segundo a qual aceita ser controlado e limitado em suas
múltiplas possibilidades de ser humano...
O humano subjugado pelo sistema mecanicista é um humano virtual, no sentido
próprio do termo, qual seja, aquele que tem as qualidades do ser, mas não o seu
exercício...

cclx

O humano submetido ao humano virtual violenta a humanidade em si, as


possibilidades do seu ser plural, do seu ser contraditório, mesmo paradoxal, do seu
ser/fazer poético, de ser conforme a complexidade do aparato físico e espiritual de que
é possuidor... E para que? Para tornar-se um arremedo de humano, rebaixado ainda
menos que à condição animal, porque o animal ainda o continua sendo, enquanto na
hipótese o humano nada é, apenas virtualmente mantendo as suas potencialidades
vitais de pluralidade, pois que limitado, organizado o seu exercício, ao serviço de algo
tão intangível quanto eram inatingíveis as utopias que o moviam no passado, algo de
que se esquece a motivação, se é que algum dia se soube, conscientemente humana...

Por tudo isso Matrix é ainda um filme político, um manifesto de vanguarda, com a
discrição própria dos tempos pós-modernos, em que as questões geradas a partir das
revoluções da década de 60 ainda calam ao fundo da alma sem respostas definitivas...

Na pós-modernidade, a exaltação dos discursos tanto quanto as retóricas filosóficas,


incomodam mais do que indagam ou afirmam, incomodam a alma humana como um
sonho que se perdeu, como uma história de amor que não deu certo, como algo que dói
ao menor sopro, e que se resolve pela aceitação de uma ordem vigente que, afinal,

155
aparentemente os incorpora... A aceitação do mundo tal qual ele é, pois que nunca se
acredita que será tal qual ele deve, ou tal qual ele pode ser...

Atente-se, pois, que é no contexto do humano que Matrix clama pela permanência das
forças espirituais como condição da própria humanidade...
O combate à nova utopia, a utopia da máquina; pelo enfrentamento ao injusto...
A necessidade de ser, tanto quanto do existir; pela transcendência humana das
condições inumanas de uma existência de rala humanidade...
A persistência na luta histórica do humano por uma libertação das amarras materiais,
origem das nossas mazelas, mas sem descuidar da energia divina na natureza, ou a
natureza divina do humano... Na identificação persistente daquilo que sub-
repticiamente periga nos separar da natureza e, especialmente, da natureza humana...
Nossa própria Razão!
Na necessidade em manter em si, mesmo a partir dos cotidianos, os valores que, afinal,
são a própria razão de ser do progresso dos sistemas e das máquinas... Pois é óbvio
que o computador que digita o humano não é o mesmo que o humano que digita o
computador... ...Por mais que o sistema de computadores se valha da energia dos
dedos humanos, como humanos desprovidos de humanidade, em sua própria
digitação...

O super-herói pós-moderno, humanizado, destruidor do super-vilão, o superprograma


Matrix, liberta o humano para viver de conformidade com a pluralidade infinita das
possibilidades humanas, que é a libertação, pela riqueza do seu imaginário, pela força
do seu espírito, pela energia do seu corpo material, pela inteligência divina de que é
dotado, a viver tudo o que sua mente sonha viver... Nunca preso a uma realidade
virtual, transformado em chip humano, mas no mundo real, no mundo da natureza que
herdamos e nos cumpre preservar e desenvolver...

Todo o aparato mecânico das máquinas nada mais é que um prolongamento do corpo
material, feito para libertar o humano da ignorância, e das limitações perante a ordem
física... Servi-la, valorizá-la acima do humano, é inverter o caminho natural das coisas,
no pior sentido que o retorno do civilizado ao primevo das cavernas, agora elevada
(ela, a caverna, não ele, o humano) em caverna tecnológica, aos incomensuráveis
modos daquela outra caverna famosa...

Se em Matrix, o filme, de um lado, o que se destrói é a Matriz Organizacional, a


organização digital imposta pela máquina, sem que se resolva o impasse de uma
humanidade ainda virtual (no sentido de que ainda não se faz exercício das qualidades
de que é dotada, numa denúncia alegórica de como se deve interpretar a sociedade
organizada em moldes sistêmicos), de outro, presente na última cena do filme, em que
o herói voa à maneira do antológico superman, a esperança de que, pouco a pouco, os
humanos passem ao outro lado, ao mundo do real, libertem-se do comando lógico dos
sistemas, e passem a viver na integridade do seu ser, aquele mesmo dos guerreiros
orientais, da arte cavalheiresca do arqueiro zen, ao mesmo dos super-homens de
Nietzsche: pois, se virtual, demasiado virtual, o ainda humano é, Matrix, o filme, se
faz mais outra das belas pontes para o além desse humano virtual...

156
Matrix, o filme, deve ser visto, deve ser lido como um filme político, em seus dotes
panfletários... Como um filme de filosófica linhagem anarquista, um filme de
contestação de um sistema organizado à só razão lógica das máquinas e matemáticas,
de alijamento dos dotes espirituais da humanidade, de cerceamento do pleno exercício
das várias potencialidades de que o humano é generosamente provido...
Matrix é também um filme sobre a sociedade humana que se aliena do conhecimento
de si e das coisas, vendo e vivendo a partir das suas sombras projetadas de uma
realidade que lhe é não só negada pela escravidão à máquina, como distorcida pelas
parcas condições de visibilidade que todo um sistema de maquinaria (e sua mídia),
logra obter sobre as consciências...

Avançando os tradicionais textos do gênero, a obra não apenas combate todos leviatãs,
mas ainda a violência sem direção espiritual, tão comum no mundo de hoje, ambos,
aparência de humano e aparência de guerreiro, duas faces da mesma moeda
leviatânica, que não só emitida pelo Estado... Ainda nesse sentido, Matrix, para muito
além dos olhos do Big Brother, do romance de George Orwell, vai ao encontro de
alguns autores muito presentes na década de 60, seja repensando Rousseau, seja
revendo Aldous Huxley, seja aceitando Hermann Hesse, sempre no exercício de
preservação de uma herança cultural que ainda não obteve seus definitivos cânones...

Para além de Thoreau, outro autor de presença marcante na década de 60, o


neoanarquismo proposto pelos jovens The Wachowski Brothers não se resolve com o
abandono da sociedade organizada, ou com vistas à formação de uma sociedade
alternativa, tão veemente pleiteada por diversos seguimentos de contestação dos anos
70... Afinados com esses inícios de terceiro milênio, os jovens autores de Matrix
propõem uma luta sem trégua no interior do próprio sistema... Cientes de um processo
de globalização tecnológica inevitável, conscientes de que mister se faz libertar o
humano em cada um de nós... Um humano cada vez mais cerceado, em sua natureza,
por uma lógica numérica que nos resume todos a meros trabalhadores/consumidores...
Estabulados em cartões de ponto e de crédito... Contas bancárias... Estatísticas e perfis
de consumidor... Cada vez mais à mercê de toda uma parafernália eletrônica que nos
transforma a todos, desindividualizando-nos, em humanos digitais... Em seres
virtuais... Em gado de corte à alimentação da antropofágica e insaciável máquina
organizacional e sua lógica insensível às peculiaridades, às singularidades de cada ser
humano... Seu sistema implacável de redução das nossas várias potencialidades
individuais a um denominador comum que, de tão comum, comum acaba deixando de
ser... Pois que comum arbitrário, comum abstrato, comum apenas ideologizado, sem
que essa ideologia das aparências, autêntica ideologia do nada, seja resultado de
qualquer reflexo da nossa vida material autêntica, desgrudada que se faz das
necessidades vitais próprias do estado de humanidade...

Matrix, o filme, propõe que nos tornemos super-humanos, supermen, que nos
libertemos e que libertemos o próximo, pois que só assim a assustadora perspectiva do
new apocalipse, a destruição da humanidade de dentro para fora, do interior para o
exterior, pelo esgotamento do humano na espécie, poderá vir a ser afastada... Amor,
amizade, lealdade, livre arbítrio, coragem, fraternidade, determinação, enfim,

157
Humanidade Plena, são os ingredientes básicos desse grave discurso de alerta quanto
aos perigos da desumanização crescente de nossa organização social, resultante do que
se anuncia, no subsistema globalização, como a Idade Tecnológica da história da
humanidade, talvez, o fim da história, ou o fim de todas as histórias, das quais
viveríamos hoje seu último e definitivo capítulo...

cclxi

São muitos os pós-modernos modos de ver e ler, modos de ver o filme Matrix, modos
de ler o filme Matrix, modos de viver o filme Matrix. Em que a pós-modernidade vai
substituindo retóricas do Absoluto por muitos modos de responder... Aos muitos
polifônicos modos de perguntar...

*
No verdadeiro cinema, meu companheiro, uma coisa não
se soma à outra para formar uma terceira. Não há todo; só
partes... cclxii

A verdadeira poesia está em relação muito mais estreita


com o que de melhor há na música, na pintura e na escultura,
do que com qualquer parte da literatura que não seja
verdadeira poesia... cclxiii

Dos cérebros inteligentes brota a tolerância; emissões medíocres,


ressentidas, emitem intolerância. Intolerância=raios beta. Ser dadivoso e
criativo=raios tetra. cclxiv

Não somos filhos de um pedaço de estrela que esfriou?cclxv

158
Beautiful Maíra

cclxvi

159
Dis-cursus é, originalmente, a ação de correr para todo lado, são idas e
vindas, “démarches”, “intrigas”. Com efeito, o enamorado não pára de correr
na sua cabeça, de empreender novas diligências e de intrigar contra si mesmo.
Seu discurso só existe através de lufadas de linguagem, que lhe vêm no
decorrer de circunstâncias ínfimas, aleatórias.
Podemos chamar essas frações de discurso de figuras. Palavra
que não deve ser entendida no sentido retórico, mas no sentido ginástico ou
coreográfico; enfim, no sentido grego: οχηµα, não é o “esquema”; é, de uma
maneira muito mais viva, o gesto do corpo captado na ação, e não
contemplado no repouso: o corpo dos atletas, dos oradores, das estátuas:
aquilo que é possível imobilizar do corpo tensionado. Assim é o enamorado
apressado por suas figuras: ele se debate num esporte meio louco, se desgasta
como o atleta; fraseia como o orador; é captado, siderado num desempenho,
como uma estátua. Afigura é o enamorado em ação...cclxvii

*
Na pós-modernidade há filmes que buscam, estrategicamente, não apenas reafirmar
uma retórica da linearidade unívoca, positivista, mas muito especialmente a
compreensão da Máquina como algo humano, para além da humanidade, máquina
humanizada, que, em última análise apenas reage humanamente ao ambiente
“desumano” a que serve, numa inversão de papéis que afinal acaba por tornar a
máquina mais humana que o humano, em dupla denúncia das matrizes organicistas...
O super vilão, por mais que disfarce, torna ao lugar comum da restrita reta razão que
habita...

cclxviii

Nas máquinas que exigem o direito de existir, independentemente de seu uso exclusivo
de ampliação dos nossos sentidos, para a qual foram construídas: a humanização da
máquina convida, por um processo psicológico de infantilização do humano, à
aceitação da lógica pós-mecanicista (e ainda pós-positivista) pela exploração de uma

160
fragilidade piegas que afinal a justifique e aceite – essa lógica do sistema mecanicista,
bem evidente... Em Blade Runnercclxix, um robô feminino (o que ainda imprime outras
significações...) é salvo pelo herói (após a eliminação do robô masculino que lhe
“ama”...); em Inteligência Artificialcclxx, um menino programado para exercer o papel de
“filho”, ganha sentimentos humanos que o fazem carente de afeto e atenção
maternais...

cclxxi

Há os filmes que atenuam os riscos da filosofia da máquina, da matriz organizacional,


pressupondo o fato de que os mais espertos – contando com a sorte é claro, e com o
apoio de humanos pelo fato de que a Máquina, humanizada por conta do humano que
a controla, sempre tem lá as suas falhas – acabam por sustentar o seu progresso pessoal
com base na ilimitada fraternidade (limitada à fraternidade tribal, e ao caso
excepcional, bem entendido) humana... Mesmo que seja para só uma única
oportunidade de contemplação da grandeza, como em Gattaca...

*
Na contemporaneidade muitos filmes vêm sendo concebidos numa estética
inteiramente pós-moderna, rompendo definitivamente com a narrativa linear e unívoca
tradicional: esses filmes adotam uma narrativa fragmentarista aliada a uma percepção
fragmentária das suas categorias, tais como as de tempo e espaço, essência e aparência,
o ser e nada, a fala e o silêncio, etc...

Em Cronicamente Inviável, faz-se um retrato doloroso do Brasil: personagens e


histórias se entrecruzam fazendo-se acompanhar de seus respectivos, díspares, modos
de ver o mundo, num quadro fragmentário do que seja A Ética e as respectivas relações
sociais... Uma pluralidade de modos de ver, viver, saber o mundo, transitam ao
interior da sociedade brasileira sem que nenhuma Ordem Social intrínseca comande as
suas ações... Relações puramente individuais são a tônica do viver em sociedade...

161
Vive-se aos pedaços... Novamente Gonçalves Dias: viver é lutar... Os mais fracos
tombam a cada relação com o mais forte... Deixando claro que ao interior da
sociedade brasileira existem subsistemas, de natureza tribal, que não se subordinam
senão às regras que lhes são próprias...

cclxxii

Um retrato pós-moderno – nu e cru – da pós-moderna realidade brasileira, em que por


baixo da aparente organicidade ainda sustentada pelos canais de mídia, toda uma
polifônica pluralidade de ações e intenções se impõe como o mundo real que em nada
se deixa comandar pelas suas equivalentes institucionais... Para uma retórica do real
fragmentado, uma retórica textual e estética fragmentada... O resultado faz desse filme
o original de um veio estético que nele obtém, quanto à denunciação da violência a que
estamos submetidos todos, a um grau de realismo nunca antes exibido em telas
brasileiras, decorrente muito especialmente a estética fragmentarista e pós-moderna
escolhida...
Cronicamente Inviável enterra de vez o mito do homem cordial, de Sérgio Buarque de
Holanda, expressão tomada a Ribeiro Couto, já descordializada por Cassiano Ricardo,
embora nem tanto quanto o deviacclxxiii... A expressão do título, alcançando dois
sentidos, anuncia a impossibilidade de textualizar a realidade segundo a retórica da
univocidade, da linearidade, senão possível em sua textualização fragmentária...

*
Há quatro filmes importantes saindo agora, sobre a mesma tragédia
social das periferias: “O invasor”, de Beto Brant, “Estação Carandiru”, de
Hector Babenco”, “Cidade de Deus”, de Fernando Meireles e Kátia Lund, e
“O Homem do ano”, de José Henrique Fonseca”.

162
Caricatura: André Mello, 16.04.02.

Os quatro filmes mostram esse novo mundo que cresce como um


câncer à nossa volta e do qual só queremos distância e segurança. Mas os
cineastas estão esfregando em nossa cara estas “cisjordânias do lixo”, estas
Faixas de Gaza mortas, estes “talibãs que surgem de suas frestas”.
No filme “O invasor” já dá para sentir seu impacto raiando como
um sol negro sobre nós. “O invasor” é excepcional pela maneira de ver esse
mundo “sujo” que subitamente invade a tranqüila sordidez de uns burgueses
criminosos.
Neste filme não se retratam mais os pobres como uma espécie de
“decadência” dos ricos, como se os excluídos fossem seres “aquém” de nosso
conforto. Não há mais a idéia de “proletários” ou de “infelizes” ou de
“explorados”. Eles nos mostram o “Insolúvel”, perplexos com o mistério da
miséria. Eles não sabem o que fazer com isso, eles não se comprazem mais na
denúncia de uma injustiça. Eles estão diante de uma espécie de Pós-Miséria.
Isso. A “pós-miséria” está gerando uma nova cultura, se é que esta palavra se
aplica à vida esmagada tentando existir.cclxxiv

Em Amores Perros (Amores Brutos), outro filme na mesma esteira estética, pós-
moderna, desses inícios de século XXI, a utilização mais cautelosa da estética
fragmentarista acaba por diluir um pouco a caracterização de uma sociedade urbana
tão violenta quanto a nossa, fotografada em Cronicamente Inviável... Mas não tanto,
mercê de uma técnica em que também se entrecruzam histórias e personagens, que
rompa a tradicional narrativa linear e unívoca... Não tanto que faça da sua leitura de
um mundo cão [metáfora para pessoas interagindo como perros (Amores Perros) nessa
referência pós-moderníssima ao documentário Mondo Cane]cclxxv qualquer coisa de
menos expressivo nesse contexto de uma estética (e de uma ética) da pós-
modernidade...

É típico do discurso imagético a fragmentarização estética da realidade e seu discurso,


na composição da narrativa por seleção de fragmentos que sinalizem o sentido
desejado com a só apresentação das imagens...

163
A linguagem imagética é a linguagem discursiva do imaginário, desde a coleta de
material oriundo dos sonhos às demais narrativas do inconsciente, tendo em vista que é
sempre fragmentariamente que se expressam...

cclxxvi

Linguagem imagética, expressão do inconsciente, a formação de uma linguagem do


imaginário... Tudo parece conduzir ao fato de que a retórica da fragmentação é o modo
próprio de se expressar por imagens... O que, afinal, corresponde à nossa percepção
fragmentária do mundo, dada a seleção natural, física, que a nossa mente realiza na
apropriação das imagens sobre as quais desenvolve seu pensamentocclxxvii...

cclxxviii

A natureza fragmentária da narrativa por imagens já se observava desde os tempos do


cinema mudo, em que se insere, por exemplo, a maestria de um Sergei Eisenstein, de
O Encouraçado Potemkincclxxix, em manusear fragmentos da realidade revolucionária
soviética, aos filmes de natureza essencialmente documentária, nos quais se desejava

164
produzir um efeito estético, artístico, para além da mera exposição fática, de filmes
como Berlim, Sinfonia da Metrópolecclxxx, de Walther Ruttmann, a Baraka – um mundo
através das palavrascclxxxi, de Ron Fricke...

Baraka exibe o fato de que é no silêncio, nos espaços vazios do texto, no caso,
imagético, que a força poética da imagem se apresenta com maior energia... A poesia
se exprime, em Baraka, não propriamente porque contida, em estado bruto, na
imagem, mas porque a sua seleção e montagem, ao qual se acresce, aqui e ali, efeitos
derivados de técnicas cinematográficas, fazem com que as imagens recolhidas falem,
cantem...

Baraka é um cântico em que a pluralidade do mundo da natureza, em que o humano


por destinação se encontra inserido, e não a univocidade de uma retórica
exclusivamente humana, externa ao fragmentário mundo biológico, é que realiza o
discurso poético...
As palavras de Baraka são, enfim, as palavras tão silenciosas quanto ocultas no
cenário grandioso do planeta Terra... A natureza, em Baraka, fala... E tem seus
próprios modos (imagéticos) de expressar Beleza e Grandiosidade... Basta que o
leitor, ao ler as suas imagens, lhe acompanhe os discursos, levante as escamas que lhe
cobrem o imaginário...

*
Outro filme que, bem à maneira de Matrix, constrói a metáfora de uma desconstrução
da Univocidade, embora sem a explicitude deste, sem a sua riqueza metafórica, e
mantendo ainda, paradoxalmente, a própria unidade como salvaguardada, é Clube da
Luta: com efeito, se ao final do filme o herói vê desabarem os prédios que simbolizam
o Sistema, em nua metáfora pós-anarquista, é com a solução de uma das
personalidades que habitam seu caráter e sua mente que isso acontece, já como uma

165
censura à pluralidade típica de uma manifestação pós-moderna, em que a
personalidade fragmentada é a lei...

cclxxxii

Clube da Luta (Fight Glub) é, além da metáfora desconstrutivista, uma metáfora da


violência que assombra a sociedade pós-moderna... O filme apresenta dois aspectos da
violência urbana: a divisão da personalidade, pela necessidade do ser múltiplo, com a
vulgarização, e institucionalização, da briga, da luta, da violência como cotidiano
aceitável pelo ser humano, por ser parte indissociável da sua existência... Assim,
aceitar a violência como um modo próprio de o humano estar no mundo...

A metáfora da desconstrução pós-moderna – não sem uma boa dose de ironia –


está presente em Desconstruindo Harry (Deconstructing Harry), filme em que Woody
Allen ironiza o mote pós-moderno da desconstrução/fragmentação, tornando a
principal personagem, Harry Block, fora de foco no plano de visão própria e dos que o
encontram... Sugerirá, talvez, o fato de que cada determinado “eu” exercido em um
certo momento só é percebido por seu correspondente “o outro” parceiro de
singularidade?...

cclxxxiii

166
O nome do protagonista já é uma brincadeira, pois harry em inglês pode
significar atormentar, afligir, e block é o verbo bloquear. Harry Block é um
indivíduo atormentado por um bloqueio. O último termo também pode
significar o substantivo bloco. Daí a idéia de que o protagonista é um ser
dividido em segmentos, apresentando os episódios da sua vida como peças de
um quebra-cabeça – que todavia não se encaixam...
O protagonista transforma episódios da sua vida em livros, que ao longo
do filme são apresentados como blocos paralelos. Essas janelas narrativas, nas
quais o real se alterna com o fictício – há momentos em que um se funde com o
outro – podem ser vistas como o meio com que o protagonista lê a própria
vida, nas suas relações com os outros, e as exterioriza através da ficção. O
escritor faz, portanto, uma leitura de si mesmo, em diversas etapas da sua vida,
partindo em uma jornada em busca de uma redenção, ou melhor, resignação.
Para uma apresentação analítica do filme, ele também será
desconstruído: as janelas narrativas serão delineadas e observadas enquanto
projeções de uma leitura pessoal. A idéia de desconstrução é aplicada em
vários níveis, tanto no modo de apresentação das seqüências quanto em
questões temáticas, como sexo, religião e psicanálise. E se em Desconstruindo
Harry a fragmentação está presente não só na forma como também no
conteúdo, uma tentativa de interpretação também deveria ser desconstrutora,
porque o filme se nos apresenta como um todo coerente e passível de ser
desmontado.
Como afirma uma personagem ao final do filme, as obras de Harry (e,
por extensão, as de Allen), quando desconstruídas, revelam uma felicidade
geral, maior, que paira sobre as pequenas melancolias...cclxxxiv

A mesma questão da pluralidade de “eus” numa só pessoa, consciência que chega na


pós-modernidade em função das diversas facetas de personalidade exercidas em
distintas situações, individuais e sociais, que a vida pós-moderna acirra (e que no
passado era entendida como uma anomalia psicológica pura e simplesmente, nos
passos da afirmação de uma visão só unitária do mundo) essa mesma questão Woody
Allen já havia ironizado em Zeligcclxxxv, em que a personagem principal, tal qual
camaleão, segue alterando sua forma física e sua conseqüente personalidade conforme
muda de ambiência, como se fosse utilizando suas plúrimas personas à medida das
necessidades de seu plúrimo estar no mundo... Metáfora típica de uma plena
vivenciação pós-moderna, a transformação camaleônica deriva do exercício de várias
personas conforme as atividades da vida cotidiana: para cada atividade, uma dada
personalidade...

A fragmentação, mercê da tecnologia cinematográfica, é mesmo a matéria-prima do


cinema, que trabalha sobre uma realidade fragmentária, com técnicas fragmentárias,
para uma narrativa também fragmentária... Mas o fragmentarismo na arte
cinematográfica da pós-modernidade ganha foros de tecnologia estética, sendo
assumida como o modo natural de se fazer cinema... Se levarmos em consideração o
filme Stardust Memories (Memórias), veremos que desde 1980 tínhamos um Woody
Allen preocupado em trabalhar com uma estética e uma narrativa de cunho

167
nitidamente fragmentaristas, como um antecipador desse processo típico da pós-
modernidade no cinema...
No cinema da pós-modernidade o fragmentarismo casual da respectiva tecnologia é
transformado em fragmentarismo necessário à respectiva arte... No primeiro estágio o
cinema tentaria suprir a fragmentariedade com técnicas lineares de narração; o cinema
pós-moderno acentua e explora artisticamente essas todas fragmentações...

Clones

cclxxxvi

168
A disseminação da violência por todos os quadrantes da sociedade (e, mais do que
parece, da cultura), em todos os níveis, sem distinção de gentes e sem fronteiras
delimitadas, é a pior das conseqüências que se seguem à fragmentação do modo de
viver unívoco desses tempos pós-modernos... Clube da Luta é a metáfora da
aceitação da violência como cotidiano, da incorporação da violência ao modo natural
de estar no mundo dito civilizado...

A uma horizontalização da sociedade segue-se a horizontalização da cultura: na pós-


modernidade as marginalidades ganham voz... Daí que o cinema cada vez mais vai
exibindo o modus vivendi típico de tribos inteiras de indivíduos alheios aos
ordenamentos morais, políticos e jurídicos próprios de uma civilização calcada na
verticalidade de sua estrutura social... Em conseqüência, tanto a violência específica
do interior dessas tribos, como a violência geral que decorre da ainda muito precária
articulação desses múltiplos modos de viver no plano genérico da sociedade, é exibida
nas telas como sendo o cotidiano urbano e o imaginário contemporâneo desse humano
notadamente precário e inseguro... Nesse sentido, as liberdades conquistadas no
advento do pós-modernismo se voltam contra os libertos, num círculo vicioso de
violência e insegurança...

Pulp Fiction, de Quentin Tarantino, é fundamentalmente uma ficção pós-moderna:


uma alegoria da violência e da amoralidade... Um filme que trabalha admiravelmente
bem a narrativa fragmentária, sem que lhe falte os ingredientes de aventura e de
heroísmo típicos dos tradicionais filmes de ação...

cclxxxvii

Como depois se fez em Amores Perros, a fragmentação de Pulp Fiction é apenas


técnica, sem que se reflita na concepção do tema, sem que interfira no sentido linear da
história, mantendo-se assim, muito embora a pluralidade de personagens e situações, a
univocidade de conteúdo como nas novelas tradicionais...
O que faz de Pulp Fiction um filme da pós-modernidade, além do formato gibi, de
narrativa fragmentária, desprezando tanto a univocidade quanto a linearidade retóricas,

169
é a impressionante exibição de violência já nas fronteiras da violência surda,
silenciosa, de películas que começam a aparecer mais recentemente... Ainda a
violência plastificada de Hollywood, mas em tal quantidade – só exibida antes talvez,
e a menos tinta, em Taxi Driver, de Martin Scorsese (1976) – que realiza uma
aproximação, do leitor de cinema, com a materialidade de uma violência cotidiana que
não costumava (na só modernidade) freqüentar a mente das pessoas na abordagem
cinematográfica até então mais superficial dos fatos... Por outro lado, o tratamento do
tema transita por aquilo que se chamou de pop art, uma das principais semeeiras da
arte pós-moderna, aproximando o espectador das personagens e suas histórias,
relacionando-o diretamente com as situações, ao mesmo que chocando, emocionando-
o com as suas aventuras e desventuras, bem ao modo das antigas novelas seriadas...

Os diálogos, em Pulp Fiction, feitos de textos especialmente longos, em que


despontam temas do cotidiano das pessoas comuns – outra das características da pós-
modernidade – não cansam, ao contrário, aproximam ainda mais o espectador,
introduzindo-o em um mundo de violência a que normalmente se furtaria... Essa sutil
aproximação espectador/violência, mediada por situações, por extremamente
verossímeis, do cotidiano, propicia levantar o véu de uma violência – e violência
acachapante - que sempre está mais próxima do que normalmente se acredita...

cclxxxviii

A violência da pós-modernidade ainda teria muito mais a exibir-se através da


exploração de situações do cotidiano e da aproximação da violência de um modo que,
se ultrapassa a simples verossimelhança para atingir em cheio o espectador, apaga as
fronteiras com que se costuma separar a violência do “outro” com a segurança do
“eu”... Esse é exato o caso do filme austríaco Funny Games (no Brasil, Violência
Gratuita), de Michael Haneke (1997), em que essa aproximação da violência com
situações do cotidiano, criam no espectador, mais do que uma sensação tradicional de
verossimelhança, uma sensação de verdade factual, algo típico da pós-modernidade,
que pode ser traduzida com uma frase simples: isto realmente está acontecendo... Ou,
posto de outra maneira: a arte da pós-modernidade não mais imita a vida; a arte da

170
pós-modernidade cria a vida... E a vida pós-moderna é ainda mais violenta do que as
mentes ainda adormecidas acreditam seja a violência da vida pós-moderna...

Pois na vida pós-moderna as imagens se objetivizam, tornam-se coisas reais...


Na pós-modernidade vão assim se dissolvendo as antigas fronteiras entre ficção e
realidade...

Capa: Jacob Levitineas, 1982

Chega-se, enfim, à era de libertação dos imaginários...


O despregar dos imaginários do seu eixo tradicional de referência intelectual – e, por
conseqüência ético – torna a todos estrangeiros não apenas do meio-ambiente social no
qual se integram (poder-se-á sugerir: se desintregam), e muito especialmente,
estrangeiros de si...

Capa: Infante do Carmo, s/d.

171
O pessimismo é, então, o princípio filosófico que assombra a pós-modernidade, um
pessimismo tão terrível e assustador que a única reação possível é ignorá-lo...
Sobreviver é a palavra de ordem da pós-modernidade... Sobreviver, quando “o outro”
– um desconhecido – e o “eu” – qual? – são categorias que pertencem a uma selva
humana onde coisa e carne se equivalem, onde o humano se faz insignificante, não
mais perante uma divindade onipotente, como no desespero barroco, mas perante um
“outro” qualquer, tão ou mais insignificante, que lhe pode interromper seu processo
particular de sobrevivência... Essência e existência, realidade e ficção, ação e
imaginação, e assim por diante, tudo se faz coisa, e coisa despregada umas das outras,
em que a absurdidade não é mais que outra palavra-coisa...

*
...– Só que está tudo invertido. Claro que as previsões são erradas para evitar o
pânico. Agora Kelvin sabe e quer avisar a esposa e filha a tempo. O problema não é
fugir do mundo da antimatéria...
...mas recuperar a comunicação.
(......................................................................................................................)
...– Onde parei?
– Problema de comunicação entre a matéria e a antimatéria...
– Exato. Como se estivesse num buraco negro. Muito forte, a força da
gravidade. Silêncio total...
– Horas?
– Quê?
– Que horas são?
– Oito e pouco.
– Já?
(beija a vítima no rosto...)
– Adeus, bela!
(...e joga a vítima “al mare”...)
– Por quê? O horário era às nove... Ela ainda tinha quase uma hora...
– Primeiro, estava incômodo navegar assim... (com a vítima posta, por ele
mesmo, entre os dois, junto ao leme que manejava...)...
– ...e segundo, estou com fome...
– Isso é verdade (e adernam o barco em busca de outra residência costeira)...
......................................................................................................................
– ...Quando Kelvin supera a força da gravidade acontece que um universo é real,
mas o outro é ficção.
– Como pode?
– Era uma espécie de modelo de projeção no ciberespaço.
– E cadê seu herói? Realidade, ou só na ficção?
– Mas a ficção é real, não é?
– Como assim?
– Bem, a gente vê nos filmes.

172
– Claro.
– Ela é tão real quanto a realidade que vemos.
– Besteira.
– Por quê?cclxxxix

ccxc

A declaração de Michael Moore ganhador do Oscar 2003, na categoria melhor


documentário, de que preferia o seu gênero à ficção, pontuando que de ficção se
tratava a guerra dos EUA contra o Iraque, guerra fictícia, feita por um presidente
fictício, por motivos fictícios, tem referências muito mais profundas do que notaram os
comentaristas na imprensa mundial, que a receberam apenas como uma manifestação
contra a guerra. A ficcionalização da realidade é talvez o maior mal desse início de
milênio pós-moderno.

A mesma desatenção ocorreu na interpretação crítica de um filme que foi visto


apenas como uma surpresa de bilheteria decorrente de um tipo novo de publicidade, a
super divulgação boca a boca, hoje computador a computador pela malha sem peias da
web. Trata-se de A Bruxa de Blair, muito especialmente A Bruxa de Blair 2. A
primeira bruxa, um filme feito a custo de curta-documentário de estudantes, com
técnica de documentário, com um tema de realização de documentário, e um discurso
narrativo de telejornal de programa sensacionalista. A segunda bruxa, não por acaso
com direção de um reconhecido diretor de documentários, Joe Berlinger, que jamais

173
dirigira um filme de ficção, ficcionaliza o tema do filme precedente (sendo por sua vez
um documentário fictício de outro documentário fictício, então traduzido à inteira
ficção), mas de um modo a mostrar - e aí está toda a relevância do filme - a confusão
que vai se processando na mente das personagens, que passam a não mais distinguir
entre ficção e realidade. Confusão essa a que são convidados a participar os
espectadores, a escolher as cenas do que é o real vista sob dois ângulos: o da mente das
personagens (que seria, em princípio, a ficção - tanto das personagens como do próprio
filme em si, dado que os espectadores vêem exatamente o que as personagens vêem) e
as gravadas em câmeras de vigilância (que seriam, em princípio, o real - para as
personagens tanto quanto para os espectadores). Mas como tudo se passa num
ambiente ficcional - um filme de horror - a próprias câmeras de vigilância, parte
integrante desse contexto, passam a sofrer da mesma síndrome da dúvida, aquela
questão da verossimilhança inerente a toda obra de ficção. Ou seja, a qualidade do
real própria às câmeras de vigilância, utilizadas como prova em processo judicial,
menina dos olhos dos telejornais, a exibir imagens daquilo que aconteceu, daquilo que
está acontecendo, nas imagens ao vivo, diretamente do palco dos acontecimentos, essa
qualidade do real é posta em cheque. Afinal, qual o mais real? O que a mente vê? Ou o
que a máquina vê? O que o olho humano vê, ou o que o olho da máquina vê?

ccxci

O noticiário policial da nossa sociedade pós-moderna nos tem dado conta de


uma avalanche de crimes que eram exceção da exceção na cultura do século XX:
filhos que assassinam os pais, avós, e parentes que os criam e vice-versa. É que na
pós-modernidade o lar é o primeiro ambiente, não mais do real, mas o lar é o primeiro
ambiente do ficcional. A televisão, do noticiário às telenovelas, passando pela
publicidade, finalmente conseguiu impor-se à mente humana como algo mais real que
a realidade, porque uma realidade buscada, desejada por todos, aceita pela sociedade
como o referencial máximo do ser social. Quem não está, por si ou seus protótipos, ou
pelos bens que se agregam à personalidade (e esses merecem todo um capítulo à

174
parte), na televisão primeiro (esta apenas porque o primeiro canal de veiculação
social), em toda a mídia, em seguida, simplesmente não existe para a sociedade, e tudo
o que a ele se refere é desimportante no jogo social. Ou seja, quem não está na mídia
não está no mundo.

Então, todo o processo de ficcionalização do humano e do seu espaço de


vivenciação, que advêm dos processos de ideologização dos séculos anteriores até
desembocar em uma sociedade pós-moderna pluri-ideologizada, com os
afrouxamentos morais antes plantados na personalidade, ainda ideologicamente
decorrentes dessa pluralidade de “morais”, de “ideologias”, propicia uma pulverização
de um sistema moral, em seus princípios básicos, comum a todas as sociedades
anteriores. Se tudo é ideologia, se tudo é modo de pensar, se tudo é mídia, afinal onde
pode encontrar-se o princípio de realidade senão no cadinho de ficções transmitidas
pela mídia aos pontos centrais do cérebro? E se na mídia tudo aponta para o princípio
do prazer inerente ao ficcional-ideologizado, dos filmes, telenovelas e chamamentos
ao consumo, sempre em oposição ao princípio da dor inerente ao real-ideologizado,
dos tele-jornais (pois todos sabemos que a notícia é sempre um prisma do fato) às
misérias ainda presentes nos mesmos filmes, nas mesmas telenovelas, nos mesmos
chamamentos ao consumo quando vistos pelo ângulo dos que vivem uma vida
mesquinha, de impossível comparação com os seres sorridentes da mídia e que afinal
são mesmo tão reais. O resultado é que tudo o que lá está posto, de um modo ou de
outro, seja ao formato-ficção, seja ao formato-realidade, visto sob a perspectiva de
uma mente desideologizada, justamente pelo excesso de ideologização, acaba por
tornar-se a única realidade, o referencial de todos, de todas as demais mentes com as
quais interagem todos e cada qual dos indivíduos. Se o que não está na mídia não está
no mundo, em tudo o que está, ficcionalmente posto, na mídia, se resume a única
realidade tão palpável quanto possível.

E a ficcionalização da vida social acaba por ocasionar a ficcionalização da vida


individual. E a ficcionalização da própria vida é o maior crime que o humano comete
contra a sua humanidade, contra a sua, tanto quanto legítima, vontade-de-poder.

São as sombras de uma vida ficcional, lançadas sobre a claridade de uma


vida natural, que escurecem os corações e mentes dos humanos, sejam os de vontade
de poder a realizar, sejam os de vontade de poder em realização.

E são essas mesmas sombras que confundem arte e vida ficcionalizada. Que
fazem de todos artistas fictícios. Pois o humano, descomprometido com o fazer
artístico, fazendo da arte meio de existir no real-ficcional, inverte o processo inerente a
toda arte que é o de livrar-se, em seu fazer-se, das ficções ideologizadas das mídias de
todo gênero, e a tal medida que cria - e sem criação não há nenhuma arte - de átomos a
cosmos, uma abordagem da realidade para mais adiante, um conhecimento do humano
e seu ambiente natural mais profundo e mais sofisticado.

E nessa ficcionalização da realidade artística, em que todos refletem uma arte já


posta e re-posta à exaustão, e a confundem com o simples ato de criação artística, a tal

175
ponto de acreditarem-se artistas, a única chancela do que seja arte ou não desenfoca-se
do ambiente artístico para o ambiente de mídia. E o próprio ambiente artístico,
contaminado pelas necessidades da mídia, invadido pela barbárie do tudo-é-arte, acaba
por resolver-se em nada é arte. Exaltada a forma conhecida, contra a essência
desconhecida; privilegiada a copiação contra a criação; a novidade contra o novo; a
fórmula (formato) contra a forma; enfim, todo o processo de criação artística contém-
se em “chips” e “softwares”, que pouco a pouco se transferem do modo de pensar da
máquina ao modo de pensar humano pela mídia de uma cultura “formatizada” e
formatizada pluri-ideológicamente segundo suas plúrimas ficções.

Se as corredeiras desse processo de ficcionalização foram aceleradas numa


cultura que mixou ideologias com realidades, a viagem psicodélica produzida pelas
drogas com a viagem psicológica produzida pela publicidade, sua Iguaçu é a
dificuldade que uma civilização construída sobre os alicerces de uma vontade de poder
(inerente à psique humana e ideologizada a partir de uma nobreza da dor) tem em
promover a realização do princípio do prazer através de um mesmo processo de
ideologização: a vontade de poder, que na sociedade pós-moderna tudo ideologiza,que
tudo ficcionaliza, acaba sendo ela mesma vítima das suas artimanhas, ideologizando-
se e ficcionalizando-se, contaminando o leito subterrâneo de seus nutrientes mais
caros, o instinto da violência primeva antes de tudo.

A mente humana, confundindo realidade ficcional (mental, psicológica) com


realidade material (da physis), a partir da cotidiana confusão entre real e ficcional por
mentes infantilizadas pela egotrip das drogas ou pela egotrip das publicidades (do
mero consumo de bens multicoloridos ao perigoso consumo de ideologias
multifacetadas), acaba por praticar atos de violência real como se estivesse praticando
atos de violência ficcional, um instantâneo da vida mental materializando-se no real-
ficcionalizado. No instante seguinte, porém, o real toma as rédeas do ficcional, sem
que a vida tenha making off e muito menos arquivo de cenas deletadas, como nos
dvds...

Esse processo de ficcionalização do real é talvez o maior desafio da pós-


modernidade à mente humana, disparando um processo de desintegração física e
psicológica sem precedentes nas histórias das barbáries de todo gênero. E se o núcleo
dessas mazelas é mesmo a ficcionalização da realidade, talvez o único antídoto eficaz
de superá-las seja o pensamento poético: pois a poesia, sendo fenômeno que a mente
busca no além de si, a integrar-se com as verdades do universo infinito em que se
inclui, jamais ficcionaliza. A poesia, descortinando sem normatizar, esclarecendo sem
informar, supera a vontade dicotômica de poder e nos integra a todos no - tão infinito
quanto natural - processo de caminhar para o além-do- ideológico e do ideologizável,
para o além-do-fictício, para o além-do-ficcionalizado, para o além-do-ficionalizável.

Se, de um lado, a pós-modernidade traz à tona a pluralidade das vontades-de-


poder, impostas pelas violências todas, tanto físicas (no material) quanto ideológicas
(no mental), de outro - e pelos mesmos vieses de pluralização mental - convida-nos a

176
todos buscar, no entendimento poético das realidades, material e mental, o animal
poético que o humano é, que o além-do-humano ainda será.

O homem é o lobo do homem ccxcii

Foto da capa: Pedro Lobo, 2001

Nietzsche havia retirado de Shopenhauer – e explorado filosoficamente – a idéia do


mundo como vontade... Mas deixara o pessimismo shopenhaueriano, em suas
profundezas, de lado... Afinal, a concepção de um super-homem não se coaduna com
uma idéia de limitação da plenitude...

Mas Shopenhauer, quando anota a expressão homo homini lupus, não vê no “outro” o
lobo, mas no próprio “eu” atormentado pelo desejo, pela vontade material... Bem ao
contrário da noção anti-rousseauniana de Hobbes, para quem os Estados se criavam
com a finalidade de prover o homem de segurança contra os avanços do “outro”,
ambos naturalmente maus...

A felicidade então, para Schopenhauer, aproxima-se da pregação oriental de superação


do “eu”, o segundo caminho do Tao, a sublimação, o elevar-se acima dos desejos
humanos...(e há bastante disso em Nietzsche, na concepção do super-homem...)...

177
O pessimismo de Schopenhauer decorre da impossibilidade, como decorrência da
civilização, do humano sobrepujar o estado de materialidade que o fizesse alcançar a
plenitude...

A pós-modernidade recoloca o problema schopenhaueriano na medida em que


corresponde a uma ampliação dos espaços de atuação do “outro”...A um mesmo tempo
em que as fronteiras de exercício individual são ampliadas, gerando, com isso, a
necessidade de um esforço ainda maior de cuidados nas relações sociais...

O “eu” torna-se objeto de opressão do “outro” de um modo nunca antes imaginado...


Não tanto pelas ameaças de violência física, cuja ampliação ainda decorrem do mesmo
estado, mas muito especialmente pelas possibilidades concretas e cotidianas de
violência psicológica, pela ampliação das fronteiras do “outro”, ainda mercê das
desconstruções éticas e ideológicas, decorrentes da pós-modernidade...

O “outro”, na pós-modernidade, torna-se imprevisível... Não há parâmetro de


comportamento – e, portanto, de segurança relacional – que possa assegurar – que
embora ainda precária – a antiga via de diálogo entre mais ou menos iguais... A
fragmentação comportamental que se segue à fragmentação moral (ideológica) ainda
mais torna precário o equilíbrio das relações individuais na medida em que também
essa fragmentação proporciona uma pluralização dos desejos na exata medida em que
se amplia, por seu turno, o imaginário de cada um, o rol de possibilidades dos
imaginários culturais e sociais em face da singularidade...
O “eu” separou-se – parece que definitivamente – do “outro”... E a única precária via
dialogal sustenta-se no relacionamento tribal...

Se considerarmos que a pós-modernidade ainda proporcionou uma ampliação, uma


pluralização do “eu” – o “eu” se reconhece como “eus”; e ao “outro” sempre como
“outros” – temos então que as preocupações de Schopenhauer – e ainda a síntese
nietzscheana da vontade de poder e do super-homem – tornam-se ainda de muito maior
complexidade...
De um “outro”, lobo de um “eu”, de Hobbes, a justificar a perda de liberdade em prol
dos ganhos da segurança, a um “eu”, lobo do “eu”, de Schopenhauer; a exigir a
sublimação desse “eu” em direção a um “outro eu”, com que Nietzsche constrói seu
super-homem, chega-se, na pós-modernidade, à constatação de que há muitos mais
“eus” a superarem-se, e ainda tantos mais “outros” a temer...

Na pós-modernidade o homem lobo do homem transforma-se em o homem alcatéia do


homem... Tanto no sentido hobbesiano da expressão, quanto – para ainda maior
pessimismo – na concepção que lhe atribui Schopenhauer...

Talvez mesmo a pós-modernidade acabe por apontar que a expressão mais adequada
aos tempos das neo-tribos seja...

...homo homini hyaena...


178
*

A declaração de Michael Moore ganhador do Oscar 2003, na categoria


melhor documentário, de que preferia o seu gênero à ficção, pontuando que de
ficção se tratava a guerra dos EUA contra o Iraque, guerra fictícia, feita por um
presidente fictício, por motivos fictícios, tem referências muito mais profundas
do que notaram os comentaristas na imprensa mundial, que a receberam apenas
como uma manifestação contra a guerra. A ficcionalização da realidade é talvez
o maior mal desse início de milênio pós-moderno.

A mesma desatenção ocorreu na interpretação crítica de um filme que foi


visto apenas como uma surpresa de bilheteria decorrente de um tipo novo de
publicidade, a super divulgação boca a boca, hoje computador a computador
pela malha sem peias da web. Trata-se de A Bruxa de Blair, muito
especialmente A Bruxa de Blair 2. A primeira bruxa, um filme feito a custo de
curta-documentário de estudantes, com técnica de documentário, com um tema
de realização de documentário, e um discurso narrativo de telejornal de
programa sensacionalista. A segunda bruxa, não por acaso com direção de um
diretor de documentários que jamais dirigira um filme de ficção, ficcionaliza o
tema do filme precedente (sendo por sua vez um documentário fictício de outro
documentário fictício, então traduzido à inteira ficção), mas de um modo a
mostrar - e aí está toda a relevância do filme - a confusão que vai se processando
na mente das personagens, que passam a não mais distinguir entre ficção e
realidade. Confusão essa a que são convidados a participar os espectadores, a
escolher as cenas do que é o real vista sob dois ângulos: o da mente das
personagens (que seria, em princípio, a ficção - tanto das personagens como do
próprio filme em si, dado que os espectadores vêem exatamente o que as
personagens vêem) e as gravadas em câmeras de vigilância (que seriam, em
princípio, o real - para as personagens tanto quanto para os espectadores). Mas
como tudo se passa num ambiente ficcional - um filme de horror - a próprias
câmeras de vigilância, parte integrante desse contexto, passam a sofrer da
mesma síndrome da dúvida, aquela questão da verossimilhança inerente a toda
obra de ficção. Ou seja, a qualidade do real própria às câmeras de vigilância,
utilizadas como prova em processo judicial, menina dos olhos dos telejornais, a
exibir imagens daquilo que aconteceu, daquilo que está acontecendo, nas
imagens ao vivo, diretamente do palco dos acontecimentos, essa qualidade do
real é posta em cheque. Afinal, qual o mais real? O que a mente vê? Ou o que a
máquina vê? O que o olho humano vê, ou o que o olho da máquina vê?

179
O noticiário policial da nossa sociedade pós-moderna nos tem dado conta
de uma avalanche de crimes que eram exceção da exceção na cultura do século
XX: filhos que assassinam os pais, avós, e parentes que os criam e vice-versa. É
que na pós-modernidade o lar é o primeiro ambiente, não mais do real, mas o lar
é o primeiro ambiente do ficcional. A televisão, do noticiário às telenovelas,
passando pela publicidade, finalmente conseguiu impor-se à mente humana
como algo mais real que a realidade, porque uma realidade buscada, desejada
por todos, aceita pela sociedade como o referencial máximo do ser social. Quem
não está, por si ou seus protótipos, ou pelos bens que se agregam à
personalidade (e esses merecem todo um capítulo à parte), na televisão primeiro
(esta apenas porque o primeiro canal de veiculação social), em toda a mídia, em
seguida, simplesmente não existe para a sociedade, e tudo o que a ele se refere é
desimportante no jogo social. Ou seja, quem não está na mídia não está no
mundo.

Então, todo o processo de ficcionalização do humano e do seu espaço de


vivenciação, que advêm dos processos de ideologização dos séculos anteriores
até desembocar em uma sociedade pós-moderna pluri-ideologizada, com os
afrouxamentos morais antes plantados na personalidade, ainda ideologicamente
decorrentes dessa pluralidade de “morais”, de “ideologias”, propicia uma
pulverização de um sistema moral, em seus princípios básicos, comum a todas
as sociedades anteriores. Se tudo é ideologia, se tudo é modo de pensar, se tudo
é mídia, afinal onde pode encontrar-se o princípio de realidade senão no cadinho
de ficções transmitidas pela mídia aos pontos centrais do cérebro? E se na mídia
tudo aponta para o princípio do prazer inerente ao ficcional-ideologizado, dos
filmes, telenovelas e chamamentos ao consumo, sempre em oposição ao
princípio da dor inerente ao real-ideologizado, dos tele-jornais (pois todos
sabemos que a notícia é sempre um prisma do fato) às misérias ainda presentes
nos mesmos filmes, nas mesmas telenovelas, nos mesmos chamamentos ao
consumo quando vistos pelo ângulo dos que vivem uma vida mesquinha, de
impossível comparação com os seres sorridentes da mídia e que afinal são
mesmo tão reais. O resultado é que tudo o que lá está posto, de um modo ou de
outro, seja ao formato-ficção, seja ao formato-realidade, visto sob a perspectiva
de uma mente desideologizada, justamente pelo excesso de ideologização, acaba
por tornar-se a única realidade, o referencial de todos, de todas as demais mentes
com as quais interagem todos e cada qual dos indivíduos. Se o que não está na
mídia não está no mundo, em tudo o que está, ficcionalmente posto, na mídia, se
resume a única realidade tão palpável quanto possível.

E a ficcionalização da vida social acaba por ocasionar a ficcionalização da


vida individual. E a ficcionalização da própria vida é o maior crime que o
humano comete contra a sua humanidade, contra a sua, tanto quanto legítima,
vontade-de-poder.

180
São as sombras de uma vida ficcional, lançadas sobre a claridade de
uma vida natural, que escurecem os corações e mentes dos humanos, sejam os
de vontade de poder a realizar, sejam os de vontade de poder em realização.

E são essas mesmas sombras que confundem arte e vida ficcionalizada.


Que fazem de todos artistas fictícios. Pois o humano, descomprometido com o
fazer artístico, fazendo da arte meio de existir no real-ficcional, inverte o
processo inerente a toda arte que é o de livrar-se, em seu fazer-se, das ficções
ideologizadas das mídias de todo gênero, e a tal medida que cria - e sem criação
não há nenhuma arte - de átomos a cosmos, uma abordagem da realidade para
mais adiante, um conhecimento do humano e seu ambiente natural mais
profundo e mais sofisticado.

E nessa ficcionalização da realidade artística, em que todos refletem uma


arte já posta e re-posta à exaustão, e a confundem com o simples ato de criação
artística, a tal ponto de acreditarem-se artistas, a única chancela do que seja arte
ou não desenfoca-se do ambiente artístico para o ambiente de mídia. E o próprio
ambiente artístico, contaminado pelas necessidades da mídia, invadido pela
barbárie do tudo-é-arte, acaba por resolver-se em nada é arte. Exaltada a forma
conhecida, contra a essência desconhecida; privilegiada a copiação contra a
criação; a novidade contra o novo; a fórmula (formato) contra a forma; enfim,
todo o processo de criação artística contém-se em “chips” e “softwares”, que
pouco a pouco se transferem do modo de pensar da máquina ao modo de pensar
humano pela mídia de uma cultura “formatizada” e formatizada pluri-
ideológicamente segundo suas plúrimas ficções.

Se as corredeiras desse processo de ficcionalização foram aceleradas


numa cultura que mixou ideologias com realidades, a viagem psicodélica
produzida pelas drogas com a viagem psicológica produzida pela publicidade,
sua Iguaçu é a dificuldade que uma civilização construída sobre os alicerces de
uma vontade de poder (inerente à psique humana e ideologizada a partir de uma
nobreza da dor) tem em promover a realização do princípio do prazer através de
um mesmo processo de ideologização: a vontade de poder, que na sociedade
pós-moderna tudo ideologiza,que tudo ficcionaliza, acaba sendo ela mesma
vítima das suas artimanhas, ideologizando-se e ficcionalizando-se
contaminando o leito subterrâneo de seus nutrientes mais caros, o instinto da
violência primeva antes de tudo.

A mente humana, confundindo realidade ficcional (mental, psicológica)


com realidade material (da physis), a partir da cotidiana confusão entre real e
ficcional por mentes infantilizadas pela egotrip das drogas ou pela egotrip das
publicidades (do mero consumo de bens multicoloridos ao perigoso consumo de

181
ideologias multifacetadas), acaba por praticar atos de violência real como se
estivesse praticando atos de violência ficcional, um instantâneo da vida mental
materializando-se no real-ficcionalizado. No instante seguinte, porém, o real
toma as rédeas do ficcional, sem que a vida tenha making off e muito menos
arquivo de cenas deletadas...

Esse processo de ficcionalização do real é talvez o maior desafio da pós-


modernidade à mente humana, disparando um processo de desintegração física e
psicológica sem precedentes nas histórias das barbáries de todo gênero. E se o
núcleo dessas mazelas é mesmo a ficcionalização da realidade, talvez o único
antídoto eficaz de superá-las seja o pensamento poético: pois a poesia, sendo
fenômeno que a mente busca no além de si, a integrar-se com as verdades do
universo infinito em que se inclui, jamais ficcionaliza. A poesia, descortinando
sem normatizar, esclarecendo sem informar, supera a vontade dicotômica de
poder e nos integra a todos no - tão infinito quanto natural - processo de
caminhar para o além-do- ideológico e do ideologizável, para o além-do-fictício,
para o além-do-ficcionalizado, para o além-do-ficionalizável.

Se, de um lado, a pós-modernidade traz à tona a pluralidade das


vontades-de-poder, impostas pelas violências todas, tanto físicas (no material)
quanto ideológicas (no mental), de outro - e pelos mesmos vieses de
pluralização mental - convida-nos a todos buscar, no entendimento poético das
realidades, material e mental, o animal poético que o humano é, que o além-do-
humano ainda será.

O filósofo não tem idéias, o filósofo não produz ou vende idéias: o


filósofo descortina a poesia do mundo. O cientista traduz a filosofia em ciência,
o político traduz a filosofia em ideologia. Mas só o poeta é apto a compreender a
filosofia, a descortinar a poesia na ciência e na política. Tanto quanto a sua
ausência, as mazelas e misérias das idéias filosóficas. Se desde os pré-socráticos
sempre coube aos poetas essa compreensão da filosofia, a pós-modernidade -
que desacredita sistemas filosóficos - obriga sermos todos poetas.

182
*

O Universo é feito de átomos. De cada conjunto de átomos. Cada átomo é


núcleo do Universo. Cada grupo de átomos é núcleo de núcleos do Universo. O
Universo é feito de infinitos núcleos. Por isso que o Universo é infinito em
eterna contração, em eterna expansão. O Universo se contrai quando seus
núcleos se anulam ou são anulados pelos demais. O Universo se expande
quando seus núcleos se expandem ou são expandidos pelos demais. Portanto, a
cada núcleo absorvido por cada núcleo conjunto de núcleos, o universo se
contrai até à explosão, até à extinção de todo o conjunto de núcleos. E a cada
núcleo aliado, sem se extinguir, à formação de conjunto nuclear de núcleos, o
Universo se expande: assim as idéias, as matérias, o pensamento e a ação.
Assim cada qual de nós, e nossos conjunto de núcleos, partícipes do mundo,
somos Universo em expansão. A contração do Universo, assim tanto quanto do
mundo, é voraz: a cada indivíduo perdido, a cada indivíduo que se cede ao
conjunto de indivíduos desprezada a sua individualidade, mais se acelera a
contração - até sua extinção total - de todo o mundo, tanto quanto de todo o
Universo. Eros versus Thanatos, eis o que é o Juízo Final.

Dante Alighieri é sem dúvida, um grande poeta. Ser um grande poeta


perante a arte humana não é necessariamente um grande poeta perante a Poesia.
Dante tinha o pecado do orgulho, de resto um pecado comum cultivado pelos
florentinos. Mandar Sócrates para o inferno é o maior dos seus atos de orgulho.
A inteligência é um dom de Deus. A busca da verdade é a busca de Deus. É a
busca da Poesia. É verdade que Dante buscou a Poesia em sua Divina Comédia.
Mas buscou-a a partir de catecismos que lhe eram anteriores. Sócrates buscou-a
a partir de suas dúvidas. Dante parte de um conhecimento de Deus; Sócrates
parte de uma dúvida de Deus. Se o conhecimento é limitado, por humano,
qualquer conhecimento é orgulhoso; a dúvida é a busca humilde, de quem se
sabe precário, de quem reconhece a verdade como algo que lhe é superior, como
algo que está para além de suas humanas forças, como algo que necessita da
participação de todos para encontra-la.

183
*

Primeiro, eu odiei o papel de vilão. E tudo fiz para fazer o papel de herói.
E quanto mais eu fazia o papel de herói, mais eu era o vilão, e todos me
apontavam os gestos: lá vai o vilão. A certa altura, desisti de fazer o herói, quis
ser o vilão. Ainda ouço os ecos das vozes lá fora: lá vai o herói. Depois que
enjoei de ser herói ou vilão, me esqueceram: bom-dia, homem comum.

A oposição conceitual entre Segurança e Liberdade, oposição acirrada


pelas linhagens filosóficas herdadas de Hobbes e Rousseau, é falsa na medida
em que sempre funciona a partir de oposições políticas e, portanto, ideológica.
Na pós-modernidade, quando a pluralidade cultural, comportamental por
conseqüência, aponta no sentido da mais ampla liberdade individual, ao mesmo
que multiplica conflitos de interesses geradores de estados individuais de
insegurança, essa oposição conceitual perde inteiramente sua razão de ser.

Segurança é condição de Liberdade. Sem estar, ou sentir-se seguro, a


ninguém é dado o pleno exercício das suas faculdades e potencialidades que
caracterizam o estado de liberdade individual. Um novo conceito de Segurança
implica necessariamente em pluralização de ambos os conceitos para além da
perversa dicotomia que, afinal, maniqueíza situações do mundo real
submetendo-as aos ideologismos de plantão.

Os conceitos ideológicos são “chips” nos cérebros informatizados de


humanos-autômatos. Automatizados por uma cultura que veda o livre-pensar e
o livre-existir a partir mesmo das mais comezinhas relações individuais.

184
*
Michel Foucault vislumbrou a importância dos conflitos de interesses nas
relações pessoais, desde os núcleos mais primários da nossa existência, tentando
elaborar uma microfísica do poder. Não progrediu muito: é que as relações de
poder na base cultural, por cotidianas, costumam ser mais fortes e
intransponíveis que as de ordem macro-cultural.

Uma vez instalados os chips conceituais, sejam de que natureza forem –


arte e cultura – de um lado abre-se caminho para o preconceito e os falsos
conflitos de interesses (conflitos ideológicos de interesses); de outro, submetem-
se as individualidades aos centros emissores de ideologias – mídia e hierarquia –
cuja resistência pelo “sistema” mental do indivíduo é punida desde a cotidiana
microfísica do poder – grupos familiares e comunitários – na medida em que os
demais sistemas individuais automatizados pelos respectivos “chips” reagem a
todo estranhamento isolando, ou mesmo agredindo, física ou moralmente,
qualquer que tente escapar aos modos comportamentais ou mentais
determinados pela equalização programada nos demais “chips”.

As ideologias são passadas aos chips cerebrais pelos respectivos centros


emissores tal qual ondas de rádio são emitidas aos respectivos aparelhos
receptores.

Isso obriga os indivíduos a estarem sempre em dia com os centros


emissores de ideologias, seja acompanhando as expressões de mídia, seja
cumprindo as emissões hierárquicas. Sem contar as periódicas
desfragmentações e scandisks, e mesmo os downloads necessários aos corretos
setups e procedimentos – arte e cultura.

185
O Diretor de Cinema é, no mundo pós-moderno que ora se inicia, o
genuíno intelectual dessa era. Acabou-se o tempo dos bacharéis e literatos, dos
romancistas e filósofos. Senhores absolutos do Espírito Ficcional, mediador das
relações psicológicas entre realidade e ficção, os diretores de cinema são os
mentores, mestres e menestréis das coisas que são. São os que traduzem Arte e
Cultura – das plásticas às falas, das engenharias às fotografias – em fatos. São os
que filtram e distribuem ideologias – e as re-elaboram – tanto no sentido da
manutenção como no da transformação dos pensamentos dominantes. Nenhum
autor de ficções, em todos os séculos passados, teve à sua disposição tamanho
aparato artístico, cultural e tecnológico nem tantas mentalidades ao seu
manuseio intelectual.
Por tudo isso, os diretores de cinema vão se tornando, oráculos e profetas,
os anunciadores e modeladores de futuros.

Aceitação da antropofagia, realização pós-antropofágica, eis o que são os


antropófagos eróticos.

...A palavra trieb, do alemão: vontade, com a qual Nietzsche construiu a sua tese
do humano como vontade de poder funciona, especialmente em meio à
juventude, como similar para tesão... Em verdade, a expressão vontade de
poder foi criada com essa conotação de tesão pelo poder... Nietzsche a escolheu
ainda com essa conotação erótica...

*
...Freud, do círculo de Nietzsche, desenvolveu toda a sua teoria da sexualidade,
sua concepção de libido e da sexualidade como fator determinante do
comportamento humano, a partir de uma feliz compreensão da trieb
nietzscheana...

186
*
...Aquele que deseja mas não age, cultiva a peste...
[William Blake]

Não me surpreende que nosso Senhor Jesus Cristo


apreciasse a companhia de pecadores
e de prostitutas;
depois de tudo, é justo o que me agrada também...

[Goethe]

*
...Só a poesia contém a chave libertadora das retrancas tanto da razão quanto da
alma enquanto emanação da carne. E dos grilhões da matéria, principalmente.
Na linguagem poética, todo o código erótico...

...A estrada do sofrimento leva à escravidão. A estrada do prazer leva à


libertação. Fazer Belo todo o prazer, eis nossa mais nobre missão...

...Um tropel de idéias desordenadas agitou-se-lhe, confundiu-se-lhe no


cérebro excitado; o raciocínio ausentou-se, venceu o desejo, triunfou a
sugestão da CARNE.
Sentou-se rápido à beira da cama, sem largar a môça, puxou-a para
si, cingiu-a ao peito, segurou-lhe a cabeça com a mão esquerda, e, nervoso,
brutal, colou-lhe a bôca, na bôca, achatou os seus bigodes ásperos de
encontro aos lábios macios dela, bebeu-lhe a respiração. Lenita tomou-se de
um sentimento inexplicável de terror, quis fugir, fêz um esfôrço violento para
desenlaçar-se, para soltar-se.
Era o mêdo do macho, êsse terrível mêdo fisiológico que, nos
pródromos do primeiro coito, assalta tôda a mulher, a tôda fêmea.

187
Baldado intento!
Retinha-na os braços robustos de Barbosa: em suas faces, em seus
olhos, em sua nuca os beijos dêle multiplicavam-se: êsses beijos ardentes,
famintos, queimavam-lhe a epiderme, punham-lhe lava candente no sangue,
flagelavam-lhe os nervos, torturavam-lhe a carne.
Cada vez mais fora de si, mais atrevido, êle desceu à garganta, chegou
aos seios túmidos, duros, arfantes. Osculou-os, beijou-os, a princípio
respeitoso, amedrontado, como quem comete um sacrilégio; depois insolente,
lascivo, brutal como um sátiro. Crescendo em exaltação, chupou-os,
mordicou-lhe os bicos arreitados.
- Deixe-me! Deixe-me! Assim não quero! Implorava, resistia Lenita,
com voz quebrada, ofegando, esforçando-se por escapar, e prêsa, todavia, de
uma necessidade invencível de se dar, de se abandonar.
De repente fraquearam-lhe as pernas, os braços descaíram-lhe ao
longo do corpo, a cabeça pendeu-lhe, e ela deixou de resistir, entregou-se
frouxa, mole, passiva. Barbosa ergueu-a nos braços possantes, pô-la na
cama, deitou-se junto dela, apertou-a, cobriu-lhe os seios macios com o
peito vasto, colou-lhe os lábios nos lábios.
Ela deixava-o fazer, inconsciente, quase em delíquio, mal respondendo
aos beijos frementes que a devoravam.
E corria o tempo.
Barbosa não podia prestar fé ao que se estava dando.
Descrente de mulheres, divorciado da sua, gasto, misantropo, êle
abandonara o mundo, retirara-se com seus livros, com seus instrumentos
científicos, para um recanto selvagem, para uma fazenda do sertão.
Abandonara a sociedade, mudara de hábitos, só conservara, como relíquias
do passado, o asseio, o culto do corpo, o apuro despretensioso do vestir.
Levava a vida a estudar, a meditar: ia chegando ao quietismo, à paz de
espírito de que fala Plauto, e que só se encontra no convívio sincero, sempre
o mesmo, dos livros, no convívio dos ausentes e dos mortos. E eis que a
fatalidade das cousas lhe atira no meio do caminho u’a mulher virgem,
môça, bela, inteligente, ilustrada, nobre, rica. E essa mulher apaixona-se por
êle, força-o também a amá-la, cativa-o, aniquila-o. Faz mais: contra a
expectativa, tornando realidade o improvável, o absurdo, vem ao seu quarto,
interrompe-lhe o sono, entrega-se-lhe... Êle a tem entre os seus braços,
lânguida, mole, reída de desejos; aperta-a, beija-a..
E...nada mais pode fazer!
Não que o detenham preconceitos, receio de conseqüências; não tem
preconceitos, já não receia conseqüências.
O que o detém é um esgotamento nervoso de momento, uma
impossibilidade física inesperada.
Debalde procura na concentração da vontade o tom da fibra nervosa, o
robustecimento do organismo...
Sente o ridículo da posição, desespera, tem as mãos frias, banha-se
em suor, chega a chorar. Afastou-se de Lenita, dementado, louco,
escalavrando o peito com as unhas.
- Não posso! não posso! exclamou, ululou desatinado.
Deu-se uma inversão de papéis: em vista dessa frieza súbita, dêsse

esmorecimento de carícias, cuja causa não podia compreender, nem sequer suspeitar;

188
no furor do erotismo que a desnaturava, que a convertia em bacante impúdica, em

fêmea corrida, Lenita agarrou-se a Barbosa, cingiu-o, enlaçou-o com os braços, com as

pernas, como um polvo que aferra a preia; com a bôca aberta, arquejante, úmida,

procurou-lhe a bôca; refinada instintivamente em sensualidade, mordeu-lhe os lábios,

beijou-lhe a superfície polida dos dentes, sugou-lhe a língua...

E o prazer que ela sentia revelava-o na respiração açodada; no hálito curto,

quente; era um prazer intenso; frenético, mas... sempre incompleto, falho.

Barbosa, arquejante, tinha ímpetos de levantar-se, de tomar uma


pistola, de arrebentar o crânio.
Pouco a pouco operou-se uma reação.
Sentiu Barbosa que menos agitado lhe circulava o sangue, que um
calor doce se lhe expandia pelos membros, que o desejo físico se despertava,
dominante, imperativo.
Recobrou-se de vez da passageira fraqueza, achou-se forte, potente,
varão.
Com ímpeto irresistível do macho em cio, mais ainda, do homem que
se quer desforrar de uma debilidade humilhosa, retomou o papel de
atacante, estreitou a môça nos braços, afundou a cabeça na onda sedosa e
perfumada de seus cabelos que se tinham soltado...
- Lenita!
- Barbosa!
E um beijo vitorioso recalcou para a garganta o grito dorido da virgem que

deixara de o ser...

Depois foi um tempestuar infrene, temulento, de carícias ferozes, em


que os corpos se conchegavam, se fundiam, se unificavam; em que a carne
entrava pela carne; em que frêmito respondia a frêmito, beijo a beijo,
dentada a dentada.
Dêsse marulhar orgânico escapavam-se pequenos gritos sufocados,
ganidos de gôzo, por entre os estos curtos das respirações cansadas,
ofegantes.
Depois de um longo suspiro seguido de um longo silêncio.
Depois a renovação, a recrudescência da luta, ardente, fogosa, bestial,
insaciável.
Pela frincha da janela esboçou-se um rastilho de luz tênue...

[Júlio Ribeiro]

*
Quem vê, Senhora, claro e manifesto
O lindo ser de vossos olhos belos,

189
Se não perder a vista só com vê-los,
Já não paga o que deve a vosso gesto.

Este me parecia preço honesto;


Mas eu, por de vantagem merecê-los,
Dei mais a vida e alma por querê-los,
Donde já me não fica mais de resto.

Assi que alma, que vida, que esperança,


E que quanto for meu, é tudo vosso;
Mas de tudo o interesse eu só o levo;

Porque é tamanha bem-aventurança


O dar-vos quanto tenho e quanto posso,
Que quanto mais vos pago, mais vos devo....

[Luis de Camões]
*
...Na Grécia Antiga, o prazer, o desejo, eram atributos naturais do indivíduo,
para cujo gôzo deviam todos adestrarem-se, educarem-se, como parte da paidéia
(a educação do homem grego)...

...Na Roma Clássica, sociedade que privilegiava o Estado sobre os indivíduos, o


Império Romano como condição e medida dos seus cidadãos, o prazer é visto
como inimigo perigoso, que afasta o homem do reto caminho...

...O prazer habitualmente se


esconde e procura as trevas, fica
nas vizinhanças das casas de
banho, das saunas e dos lugares
que temem a polícia; é mole, não
tem força, é úmido de vinhos e
perfumes, pálido ou pintado,
190
embalsamado com ungüentos
como um cadáver.
(Sêneca)
...pois o prazer erótico é o inimigo nº 1 de toda sociedade organizada com base
na obediência dos indivíduos aos poderes constituídos desde o Estado às micro-
organismos sociais... Quem ama desobedece, infringe, desconsidera qualquer
regra que o afasta do objeto do seu desejo...

*
...para chegar ao fundo do êxtase em cujo gozo nos
perdemos devemos sempre identificar seu limite imediato: o
horror. Não só a dor dos outros ou a minha própria dor, se
aproximando do momento em que o horror me inundará, podem
permitir-me alcançar um estado de felicidade beirando o delírio,
como também não existe nenhuma forma de repugnância em que
eu não consiga discernir uma afinidade com o desejo. Isso não
significa que o horror se confunda sempre com a atração, mas, se
não consegue inibi-lo, destruí-lo, o horror fortalece o desejo. O
perigo paralisa, mas, se não for excessivamente forte, pode excitar
o desejo. Só alcançamos o êxtase na perspectiva – mesmo que
longínqua – da morte, daquilo que nos destrói...

[georges bataille]
*

...Ninguém chega ao fim da vida sem ter visto indeferida mais da


metade dos seus desejos. [do Talmude]...

*
...Tudo que foi um desejo torna-se um fato – mas quando não
mais o desejamos. [Proust]...

191
*
...é imoral pretender que uma coisa desejada se realize
magicamente, simplesmente porque a desejamos. Só é moral o
desejo acompanhado da severa vontade de prover os meios de sua
execução. [Ortega y Gasset]

*
...Todas as coisas que mais desejo,
que mais se agitam dentro de mim,
todas as coisas que eu mais desejo
são tão esquivas que quando as vejo
estão no fim.

[Gilberto Mendonça Teles]


*
...E assim, baqueio do desejo ao gozo,
E no gozo arfo, a ansiar pelo desejo. [Goethe]

*
...Il commence bien à mourir qui abandonne son désir [1611)

*
...Não deixes de colher os frutos
Que a vida te oferece. Corre
A todos os festins e escolhe
As copas que forem maiores.

Não creias que Deus leve em conta


Os nossos vícios e virtudes.
Nunca desprezes qualquer coisa
Que te possa fazer feliz...

192
[Omar Khayyam]

*
...Todo aprendizado parte do desejo, do interesse específico de cada um...
...É a partir do interesse lúdico numa certa atividade que se pode
desenvolver todo aprendizado, toda educação. O atual sistema educacional parte
do aprendizado do rebanho, como um todo, sem se importar com a evolução dos
desejos e interesses dos educandos...
...De uma prancha de surf, dos interesses de um surfista, de sua
atividade lúdica em surfar, se pode desenvolver um aprendizado tão largo que se
pode alcançar o conhecimento de anatomia e medicina, por exemplo, a partir de
um interesse progressivo no funcionamento do corpo que surfa...

Na pós-modernidade vai-se compreendendo que sem amor e desejo


não há prazer, e sem prazer não há interesse. Interesse é o material básico com
que se faz a ponte para o conhecimento. É no genuíno interesse que se manifesta
o dom em cada um de nós. As organizações sociais promovem constantemente
falsos interesses, assassinando os dons individuais. Na pós-modernidade que
ainda dá seus primeiros passos vai-se compreendendo que parceria sexual, poder
político, dinheiro, sucesso, ainda não resultam do fiel exercício dos dons
individuais...

*
Quando a sociedade humana puder organizar-se, na pluralidade que a
pós-modernidade promete, a partir dos sons (dons) de cada um dos seus
indivíduos, seus respectivos ritmos e melodias, promovendo apenas que fluam
em harmonia, aí sim, a Terra será Música das Esferas...

*
...O desejo é a mola da razão...

*
...O tipo e o grau da sexualidade de um homem atingem os cumes
mais altos do seu espírito...

193
...O que se faz por amor sempre acontece além do bem e do mal...
...A satisfação nos protege até mesmo de resfriados. Uma mulher
que se sabe bem vestida se resfria alguma vez?...
...Eu não creio em um Deus que não dança...
[Nietzsche]

...Quando um homem não pode mais amar


e não pode mais sentir
e o desejo definhou
e o coração está dormente

então tudo o que ele pode fazer


é dizer: Assim é

Tenho que agüentar isso


e esperar

Isso é uma pausa, quão longa não sei,


no meu próprio ser...
[D.H.Lawrence]

*
...o entendimento humano muito deve às paixões... é pela sua
atividade que nossa razão se aperfeiçoa; só procuramos conhecer
porque desejamos usufruir... e é impossível conceber porque
aquele que não tem desejos ou temores dar-se-ia ao trabalho de
raciocinar...[Rousseau]

*
O mistério da sexualidade é um grão de poeira cósmica perante o
mistério do Amor. Assim está inscrito nO Sorriso de Eros...

194
*
...E, no entanto, o pós-modernismo gera a possibilidade de um encontro plural de
culturas, de modo que seja o planeta integrado na pluralidade de raças, credos, éticas,
estéticas, economias, e assim por diante... Que por sua vez gera uma globalização pós-
moderna, e não essa, ainda só moderna, que anda pelos congressos, tanto à esquerda
quanto à direita... Causando todo tipo de desintegração, justamente porque é ainda
difícil livrar-se a cultura dessas perspectivas unitárias, maniqueístas, ideologizadas,
enquanto o mundo real, já fragmentado, em que nos reconhecemos, nos flagrando ao
mesmo tempo enquanto pessoas pluralizadas, em situações de variedade muitas vezes
de natureza (vistas "unitariamente"), contraditórias, mesmo paradoxais...

ccxciii
Capa: Marta Strauch c/ ilustração de Gustave Doré, 1997

Para um projeto saudável, pós-moderno, de globalização não pode permanecer intacto


o processo maniqueísta do contra ou a favor em blocos... Em blocos unitários,
dialeticamente organizados, ideologizados, aos velhos absolutos hegelianos... Essa
dialética não existe como realidade do mundo, senão como apreensão fetichizada desse
mesmo mundo... Deus e o Diabo na Terra do Sol não se nos apresentam senão em
fragmentos espalhados... Nas culturas periféricas, em acelerado processo de
pulverização...

O dito popular de que o diabo mora nos detalhesccxciv, repete uma noção ancestral
ligada à organização do poder, que identifica a fragmentação com O Mal... O mundo
da natureza, plural e isento de ética, é, nesse conceito, O Mal... Por isso, a teoria
unitária do mundo ainda caminha por aí, desde quando se impunha a necessidade de
uma ação "celestial", O Um, O Bem, na cultura, a fim de que o estado de natureza
fosse superado...

195
As relações entre o pluralismo fragmentário e o Absoluto se resolvem mais ou menos
como a parábola dos Evangelhos: trata-se de dar a césar o que é de césar, e a Deus o
que é de Deus...

No pensamento oriental esse confronto não ocorre... Há a idéia de Unidade, o Taoccxcv,


mas essa unidade é tão distante quanto inaccessível delineá-la senão como ação
cosmogâmica, tão invisível e tão fundamental como o ar que respiramos... E tão Ética
quanto a Crítica da Razão Prática de Kant...ccxcvi

*
Anda ocorrendo um combate terrível, feroz entre uma Nova Ordem Cultural e
especialmente Econômica (fragmentária, pós-moderna, desideologizada, plural, de
natureza grega) e uma Velha Ordem (ideologizada, unitária, ainda "moderna",
hierarquizada, de natureza romana)...

As guerras, na pós-modernidade, estão sendo transferidas para o interior da sociedade


civil, para o cotidiano das pessoas, em que, independentemente das razões,
motivações, ideologias, individuais ou coletivas, cada indivíduo (sem distinção de
qualquer natureza) encontra-se no front... Bem ao contrário das antigas guerras feitas
entre Estados-Nações, com seus generais e soldados... Onde cada soldado do lado
contrário encontra-se placidamente sentado na poltrona ao lado... Onde já não importa
tanto se luta por uma causa ou pelo automóvel...
Gonçalves Dias nunca foi tão atual, nesse tempo das tribos: Não chores, meu
filho/Não chores que a vida/É luta renhida/Viver é lutar...
Aliás, esse é um dos fortes indicadores de que a pós-modernidade não é projeto ou
modelo, mas um fato que vem se processando na sociedade e na cultura
independentemente de chef-d’écoles...

Há símbolo mais dramático aos escuros da pós-modernidade – do seu processo de


desconstrução – que a tragédia do World Trade Center?... Os monolitos da
Univocidade desabando pela ação fragmentária de um punhado de suicidas, mesmo em
nome de uma outra univocidade, de uma das fragmentadas tribos em que se divide sua
fragmentada religião?... E que ironia a retaliação ser feita com bombas de
fragmentação...

Nosso atraso em perceber esse fenômeno, em todas as áreas da arte, do pensamento e


do conhecimento, certamente nos tem levado ao atraso em resolver os conflitos dele
decorrentes...

Corremos cotidianamente o risco de estarmos produzindo (salvo a produção isolada de


indivíduos alheios aos Sistemas de Saber Institucionalizado), arte e conhecimento

196
tidos como verdades estabelecidas, de rápido e inevitável desaparecimento... De nossas
soluções teóricas todas estarem sendo superadas na medida mesmo da sua produção...
Na pós-modernidade não se trata mais de substituir ideologias por outras, mas de criar
esteticamente com as estéticas todas que aí estão, postas ao longo de todas as
histórias... Garantindo-nos a sobrevivência de todas, inclusive as de natureza
"unitária", autoritária, esvaziando-se dela, por simples contraposições fragmentaristas,
o seu autoritarismo ainda presunçoso e pretensioso...

ccxcvii

Autoritarismo esse que, poder pretensioso em globalizar-se, vai apagando da mente


humana, em escala global – esse o perigo de todos os perigos da pós-modernidade e
suas fragmentações – pelo abuso imagético das mídias de todo gênero, pela
informatização social tendo como únicos parâmetros lucro & poder, filhos bastardos
da vontade de poder, vai apagando da mente humana, por um processo de clonagem
mental, a capacidade de raciocínio e de articulação lógica do mundo e, por
induzimento e estabulamento, a capacidade de livre imaginação. É falso, pois, afirmar
que a contrapartida para o aniquilamento da capacidade de pensar em bilhões de seres
humanos seja a ampliação da capacidade de imaginar: se é verdade, como afirmou
Vico em Scienza Nuova, que a imaginação é tanto mais forte quanto mais fraco for o
uso da razão, a ausência absoluta de pensamento lógico só pode conduzir à ausência
absoluta de poder imaginativo na medida em que ambos partem de uma fonte comum:
a inteligência humana em sua movimentação dialética.

197
E se, ainda com Vico, a arte poética trabalha com sentimentos e paixões, distante
das reflexões, raciocínios e pensamentos construídos logicamenteccxcviii, impedidos
paulatinamente, pela soberba da máquina, de pensar, só nos resta a nós humanos que
não deserdamos da humanidade, dois caminhos: aceitar sem medo os muitos modos da
pós-modernidade, lendo e montando esses legos, na articulação lógica do que se tem a
articular...
...e ampliar o mais que possamos os espaços poéticos oferecidos pela livre imaginação.
Pois a Poesia sempre será a condição primeira de toda humanidade, fonte primeira de
toda a nossa liberdade.

Supondo que há ouvidos para ouvir, que há homens


capazes e dignos de um pathos igual ao nosso, e que não
faltam seres a quem tudo isto se possa comunicar. O meu
Zaratustra, por exemplo, está hoje ainda buscando tais
homens; ah!, terá ainda que buscá-los muito tempo! Requer-
se valor bastante para saber ouvir. Até então ninguém
haverá capaz de compreender a arte que nesse livro
abundantemente empreguei: ninguém pôde jamais ser tão
pródigo em recursos artísticos novos, inéditos, criados
expressamente...
Ignorava-se antes de mim do que era capaz a língua
(...), do que era capaz, de maneira geral, a linguagem. A
arte do grande ritmo, o grande estilo do discurso para
exprimir os intentos altos e baixos das paixões sublimes e
sobre-humanas, fui eu quem os descobriu; com um
ditirambo, como aquele do terceiro Zaratustra, Os Sete
Selos, voei mil vezes mais alto que tudo quanto até hoje se
chamou poesia...ccxcix

198
ccc

Tentei escrever o PARAÍSO


Não se mova
Deixe falar o vento
esse é o paraíso ccci

199
Uma pena que os poetas hajam usado o símbolo
e a metáfora
e ninguém aprendesse nada com eles
por seu falar em figuras. cccii

[In] Conclusão:

Como os leitores hão de ter reparado, inúmeros textos e imagens haviam de ter
presença obrigatória no contexto dessa Dissertação; no entanto, dados os prazos
acadêmicos, será sempre impossível proceder a um completo diálogo, necessariamente
tão honesto quanto sereno e profícuo, com todos os textos que tanta afinidade
encerram com as perspectivas teóricas aqui colocadas...

A par de uma necessária articulação estética, pesou também, na decisão de deixar para
outra oportunidade um sem número desses diálogos, coletados em pesquisas e
reflexões ao longo do curso de Mestrado, o fato de ainda não estarem, alguns deles,
inteiramente amadurecidos para o autor destes Fragmentos – talvez apareçam em meio
aos esboços teóricos de uma futura tese de doutoramento, talvez em fascículos
específicos – bem como o fato de que as propostas dessa Dissertação, de natureza
estético-literária, não pretendem esgotar a coleta de elementos para uma poética da
pós-modernidade – aliás, por si só inesgotável – pois, sobretudo, tinham por escopo
maior a apresentação de uma estética textual compatível com o material coletado,
adequada ao fenômeno da pós-modernidade. Ou seja: para um fenômeno polifônico
uma estética da polifonia – isso foi o que mais se pretendeu apresentar...

De outro lado, como já ficou claro, com o apoio de Aira, a dissertação alinha-se com a
perspectiva de que o texto, ainda mais quando contextual, é texto em construção...

200
A identidade dessas contextualizações com a interdisciplinaridade dá-lhe o caráter
teórico do que vem se chamando Teoria (Theory) – que para a Dissertação é nada mais
nada menos que Teoria Literária como, e para dizer o mínimo, articuladora das demais
ciências humanas – Disciplina Sem Disciplina, nos moldes estabelecidos em texto de
Culler, apresentado pela Professora Heidrun Krieger Olinto... E, tal qual ali em boa
hora apresentado, necessariamente endless...

Deve-se também alertar que o autor buscou privilegiar os diálogos havidos no


transcorrer do seu curso de Mestrado, desde os ensinamentos e pesquisas havidos: com
o Professor Gilberto Mendonça Teles sobre Gêneros Literários, Dialogismo, Poética
Grega, Modernismo e Vanguardas Literárias; com a Professora Eliana Yunes, sobre
Teoria da Leitura, Cinema, e Imaginário, aos seus métodos socráticos de lecionar;
sobre Antropologia Cultural e Modernismo, com os Professores Júlio Diniz e Santuza
Naves; com a Professora Pina Coco, sobre a vida e a obra de Qorpo-Santo; bem como
sobre Interdisciplinaridade, WebLiteratura e Pós-Modernidade com o Professor
Reinaldo Laddaga... Também foram privilegiadas algumas questões objeto de trocas
teóricas havidas com os meus colegas de Pós-Graduação, especialmente quanto às
minhas propostas fragmentaristas: Érico Braga Barbosa Lima, Henrique Rodrigues,
Roberto Azoubel e José Francisco da Gama e Silva...

Pois se nenhuma pretensão de fazer-se vanguarda, se nenhuma aleivosia de fazer-se


arauto ou intérprete da pós-modernidade, o texto dissertativo buscou manter-se fiel à
convicção de uma linha teórica que admite os muitos modos de saber, na mais pura
tentativa de aproximação poética de um fenômeno que, e disto inteiramente consciente
este autor, por tudo o que restou comprovado em texto/contexto, só admite a estética, o
dis-cursus [no sentido que lhe deu Barthes em seus Fragmentos De Um Discurso
Amoroso] poético que adotou...

Quanto à estética poética, na busca de serem também estes todos fragmentos,


fragmentos de um polifônico discurso amoroso (por isso mesmo sempre exposto ao
risco das críticas hieráticas), é que este autor espera ter reservado para si, ainda que
menor, algum mérito eventual...

A rigor a rigor, a Dissertação não trabalha propriamente com a noção tradicional de


autoria, outra das concepções desconstruídas pela pós-modernidade, aproximando-se
levemente, mantidas todas as distâncias e cautelas, do que apontam tanto Vilém
Flusser quanto os adeptos do Dogma, a escola escandinava de cinema que não credita
os seus diretores...
Sem sentir-se habilitado, nem animado, a proposições tais que essas, o autor da
Dissertação considera-se, e a todos os que trabalham com textualizações do gênero,
um poiético, compreendido o conceito na pluralidade polifônica do teórico e do
poético, em engenho e arte, em ética e estética, como arranjador, ou articulador, das
múltiplas vozes poiéticas que lhe foi dado perceber...

201
…to be continued
secula seculorem…

Eis a Poiética!

202
NOTAS:

203
i
Friedrich Nietzsche, 1872/2000: Cinco prefácios para cinco livros não escritos, em livre (pouca) adaptação.
ii
Essa previsão científica vai ao encontro da ficção, tanto nos disquetes de aprendizagem de Matrix, o filme, quanto no
super-homem de Nietzsche: Implantes neurais oferecerão aumento de memória e pacotes de informações completos,
como um idioma inteiro ou o conteúdo deste livro apreendido em minutos. Tais seres humanos se parecerão pouco
conosco.[Stephen Hawking, O Universo Numa Casca de Noz, 2001: 167.].
iii
Personagem Darth Vader, de Guerra nas Estrelas, filme de George Lucas, 1977. Interessante notar que essa
personagem, comandante de robôs, representa o Império, traduzindo o aspecto escuro da força unívoca, sistêica e
organizadora dos totalitarismos mecanicistas.
iv
Karl Marx/Friedrich Engels, Manifesto Comunista,1848/1977:24.
v
Herbert Marcuse, O Fim da Utopia, 1969: 13.
vi
Da canção World Without Love, de Johm Lennon&Paul MacCartney (v. Signografia), interpretada originalmente por
Peter & Gordon, nos anos 60 com grande sucesso.
vii
V. Popper, K.R., Conjecturas e Refutações (O Progresso do Conhecimento Científico), 1963/ 1972: 394.
viii
Karl Raimund Popper, A Sociedade Aberta E Seus Inimigos. 1945/1974: 279.
ix
Karl Raimund Popper, A Miséria do Historicismo, 1957/1980: 35/43.
x
Nikolai Lápine, O Jovem Marx, 1983: 49.
xi
Vladimir Ilitch Ulianov, dito Lênin, O Estado e A Revolução, 1918/1979: 291.
xii
Eric A. Havelock, A Revolução da Escrita na Grécia, 1982/1996: 16/17.
xiii
Paulo Bauler (lírica)&Reinaldo Vargas (música), 1999. Partitura elaborada por Rodolpho da Silva.
xiv
Roberto Machado, Zaratrusta, tragédia nietzschiana, 1997: 23/4.
xv
Friedrich Nietzsche, Ecce-homo, 1888/1ªed.1908/1979:121.
xvi
Roberto Machado, Zaratrusta, tragédia nietzschiana, 1997: 25.
xvii
Roberto Machado, Zaratrusta, tragédia nietzschiana, 1997:25/6.
xviii
Ver as óperas-rock: Godspell, filme de David Greene (direção) com roteiro dele com John-Michael Tebelak, música
e letras de Stephen Schwartz, 1973; Jesus Cristo Superstar, filme com direção Norman Jewison e Robert Stigwood,
com roteiro de Melvyn Bragg e Norman Jewison, a partir do livro homônimo de Tim Rice, com música de Andrew
Lloyd Webber e lírica de Tim Rice, 1973; e Hair, filme de Milos Forman (direção), com roteiro de Michael Weller,
numa adaptação da peça homônima de Gerome Ragni e James Rado, com música de Galt MacDermont, 1979.
xix
O homem por primeiro constrói o ficcional que se faz sua realidade primeira; só depois é que constrói o real, que se
faz sua ficção última: Como os primeiros motivos que fizeram o homem falar foram paixões, suas primeiras expressões
foram tropos. A primeira a nascer foi a linguagem figurada e o sentido próprio foi encontrado por último. Só se
chamaram as cousas pelos seus verdadeiros nomes quando foram vistas sob sua forma verdadeira. A princípio só se
falou pela poesia, só muito tempo depois é que se tratou de raciocinar. [Jean-Jacques Rousseau, Ensaio sobre a
origem das línguas, 1781/1962: 434. (grifei)
xx
Érico Braga Barbosa Lima, Em Busca do Abstrato (Bachelard), 15.08.97.
xxi
Clifford Geertz, A Interpretação das Culturas, 1989: 25.
xxii
Fernando Pessoa, O Guardador de Rebanhos, 1912 /1977: 204.
xxiii
Friedrich von Hardenberg, dito Novalis, Fragmentos de Novalis,1992:69
xxiv
Paulo Leminski, Metamorfose, uma viagem pelo imaginário grego, 1998:59.
xxv
Katia Muricy, Os Olhos do Poder, in O Olhar, 1988/2000: 482/5.
xxvi
James Clifford, A Experiência Etnográfica – Antropologia e Literatura no século XX, 1998:166.
xxvii
Cena de Superman, o filme,de Richard Donner (direção) & Mario Puzo (argumento e roteiro) e David Newman,
Leslie Newman e Robert Benton (roteiro), 1978.
xxviii
Friedrich Nietzsche, Ecce-homo, 1888/1ªed.1908/1979:76.
xxix
Friedrich Schlegel, Conversa Sobre A Poesia e Outros Fragmentos, 1800 /1994:91.
xxx
Sem indicação de capista
xxxi
O que levou alguns a acreditar numa linguagem só imagética como capaz de superar a Babel: Multiplicidade das
línguas, unicidade da linguagem cinematográfica – O fato da língua é múltiplo por definição: existe um grande número
de línguas diferentes. Se os filmes podem variar consideravelmente de um país para outro, em função das diferenças
socioculturais de representação, não existe, todavia, linguagem cinematográfica própria a uma comunidade cultural. É
o motivo pelo qual o tema de “esperanto visual” se desenvolveu, principalmente na época do cinema mudo... [ Michel
Marie, Cinema e Linguagem, in A Estética do Filme, Jacques Aumont e outros, 1995: 177.]. Mas, é claro, assim como o
cinema mudo precisou da palavra, tal esperanto não seria uma linguagem de surdos...
xxxii
Tal como nesse diálogo do filme Mulholland Falls (O preço da traição), de Lee Tamahori (direção), Pete Dexter
(roteiro e história) e Floyd Mutrux (história), de 1996:
- Sabia que o átomo é , acima de tudo, espaço vazio?
- Nunca pensei nisso.
- ...Quase totalmente vazio, com minúsculos fragmentos de matéria. ...Já que o Universo é feito de átomos, tudo o
que vemos e tocamos, o chão sob os nossos pés... é feito quase totalmente de espaço vazio. Só não afundamos nele
porque as partículas de matéria giram a tal velocidade...que dão a impressão de solidez. Na verdade, o chão está
girando...bem embaixo dos nossos pés. Está sentindo?
- Então não passamos de espaço vazio.
- Exato! E essas minúsculas partículas de matéria...tão pequenas que ninguém jamais as viu...jamais...contêm
energia bastante...para destruir esta casa, uma cidade inteira...todos os habitantes da Terra... (Fiel reprodução
das legendas cuja autoria, aliás, não costuma ser creditada pelas empresas responsáveis. O que vem a ser
inexcusável, especialmente se levarmos em consideração a generosidade com que os filmes creditam todos os que
concorreram para a realização da obra de arte cinematográfica).
xxxiii
Marilena Chauí, Introdução À História da Filosofia 1 – Dos Pré-Socráticos A Aristóteles, 2002: 121.
xxxiv
V. Jacques Monod, O acaso e a necessidade, 1976.
xxxv
Gilberto Mendonça Teles, 1978, 38.
xxxvi
Ver Henry Bergson, La Evolución Creadora [1907], apud Teofilo Urdanoz, OP, Historia de la Filosofia, 1978.
xxxvii
Para o aprofundamento dessa identidade entre pensamento poético e imaginação ver João Ricardo Moderno,
Estética da Contradição, 1997, págs. 132 e segs.
xxxviii
Salman Rushdie, Os Versos Satânicos, 1998: contra-capa.
xxxix
Sem indicação de capista.
xl
Ver a inscrição grega do seu nome na capa. O alfabeto grego arcaico não possuia o “c”, com duplo som; tinha o “k”
(kapa) e o “s” (sigma). A “tradução” muito provavelmente vem da mesma fonte Imperial que se faz em Portugal; o que
faz pensar que o português talvez seja a mais romana das línguas... Língua e Império da Univocidade... Daí porque o
brasileiro vem, com seus muitos modos de soar os múltiplos sons da nossa terra tropical, “helenizando” (Diz-se assim
dada a intensa musicalidade do grego antigo, em comparação às línguas românicas) a língua portuguesa em direção a
uma futura alforria gramatical.
xli
Os estudiosos vêm retomando a questão da distinção entre a ciência e a ideologia, ultrapassado o mito da neutralidade
científica, aceito o fato ficcional inerente a ambas, a partir do conceito de cultura obtido através de uma antropologia
cultural: quaisquer que sejam os rumos que tomem os acontecimentos, as forças determinantes não serão inteiramente
sociológicas ou psicológicas, mas parcialmente culturais – isto é, conceptuais. Forjar um arcabouço teórico adequado
para a análise de tais processos tridimensionais é a tarefa do estudo científico da ideologia – uma tarefa que foi
apenas iniciada. (grifei). Propõe-se, então, uma noção de “estratégia” para lidar com as sobreposições que ocorrem
entre uma e outra: As obras críticas e imaginativas são respostas a questões apresentadas pela situação nas quais elas
surgem. Não são apenas respostas, mas respostas “estratégicas”, “estilizadas”. Existe uma diferença no estilo ou na
estratégia, se alguém responde “sim” num tom que significa “Graças a Deus” ou num tom que implica um “Coitado
de mim!”. Assim, eu proporia uma distinção inicial entre “estratégias” e “situações”, através da qual nós
pensássemos sobre...qualquer obra crítica ou imaginativa...como a adoção de várias estratégias para englobar
situações...(Kenneth Burke, The Philosophy of Literary Form)(nota no original).
Ou seja, identificando “estratégia” com “estilo”, a antropologia cultural torna ao seu berço literário, como ramo puro e
simples da Teoria Literária, o que parece ser inexorável a partir da noção de “ficto” como razão primeira de todo fato
cultural. A noção de ficção, o conceito de estilo, categorias próprias à teoria literária, faz retornar antigas fronteiras aos
domínios da Literatura, tal qual no período pré-socrático... Como tanto a ciência quanto a ideologia são “obras”
críticas e imaginativas (isto é, estruturas simbólicas), parece mais fácil alcançar uma formulação objetiva tanto das
diferenças marcantes entre elas como da natureza da sua relação de uma para com a outra partindo de um tal conceito
de estratégias estilísticas do que de uma preocupação nervosa com a posição comparativa epistemológica ou
axiológica das duas formas de pensamento.( Clifford Geertz, A Inbterpretação das culturas, 1989: 202). Restrição faço
apenas à assertiva que busca “uma formulação objetiva” que a meu ver sempre resultarão infrutíferas como, de resto,
em todo fato literário – sempre de natureza subjetiva, ou de dupla (senão mais) nacionalidade...
xlii
Sem indicação de arte de capista.
xliii
Mikhail Bakhtin, Problemas da Poética de Dostoievski, 1929/1997: 113.
xliv
Bakhtin: 163
xlv
Bakhtin: 165.
xlvi
Laddaga, 2001.1.
xlvii
Nesse sentido, o pós-modernismo é também um pós-carnavalismo: revistas dependuradas em jornaleiros expõem
nudez de corpos e relações sexuais; sexualidade carnavalizada, preferências sexuais de famosos ou quase-famosos,
expostas como se anunciassem receitas culinárias; moralismo às avessas, a moral da carnavalização, em que uma
recentíssima obra de arte cinematográfica, sobre a vida de um matemático destacado com o Prêmio Nobel, teve sua
indicação ao Oscar 2002 contestada pela imprensa em geral porque não teria mencionado um traço eventual da sua
sexualidade [do filme Mente Brilhante]; sátira menipéia, carnavalização macunaímica em expressões de uso corrente
como me engana que eu gosto, lei de Gerson, etc; carnavalização macunaímica em que, e de todos os quadrantes,
macunaímas, de um povo macunaímico, nem sempre pacíficos, reclamam sua parte nesse carnavalizado latifúndio pós-
moderno. Alegoria típica de tempos pós-modernos, o clown tem sido adotado pelo povo para protestar contra o
descumprimento das promessas político-administrativas dos eleitos (o conhecido nariz redondo e vermelho dos
palhaços de circo sobreposto aos narizes dos manifestantes). Um povo clown que pouco ou nenhum valor dá às
descobertas e invenções, arte e ciência, realizadas por sua gente, logo apropriadas pelas cortes do primeiro mundo.
Clowns macunaínicos e suas troupes, esta parece ser a auto-imagem dos povos do terceiro mundo, inclusive o nosso.
Em que o lazer se desloca entre a infantilização dos adultos e a carnavalização da infância, mesmo quando se trata de
futebol, do próprio carnaval, tudo circo, dos reality shows aos circos das fórmulas um. Mesmo o terrível vilão, de
George Orwell, o Big Brother, carnavalizado em voyeurismo despudoradamente coletivizado. Mas, é claro, esses são
apenas alguns modos de ver da verve macunaínica brasileira, e há toda uma pletora de elementos positivos da nossa
carnavalização que acentuam os oximoros da cultura brasileira. Ver Roberto DaMatta, Carnavais, Malandros e Heróis:
Para Uma Sociologia do Dilema Brasileiro, 1997. Para uma interpretação do conceito em Bakhitin, Robert Stam,
Bakhtin – Da teoria literária à cultura de massa, 1992:89.
xlviii
O Carnaval de Bandeira é de 1924; o livro de Bakhtin é de 1929.
xlix
Gilberto Mendonça Teles, 26.03.02.
l
Mário de Andrade, Paulicéia Desvairada, 1921/1987: 59.
li
Sem indicação de capista.
lii
Manuel Bandeira, Carnaval, 1924/1993: 156.
liii
Demócrito, de Abdera, 370 a.C. in Gerd Bornheim (org.), Os Filófosofos Pré-Socráticos, s/d: 112.
liv
idem:114
lv
idem:113
lvi
Paul Valéry, in Hugo Friedrich, Estrutura da Lírica Moderna, 1978:184.
lvii
Paulo Bauler (lírica e música)&Ricardo Barroso (música), 1999. Partitura elaborada por Rodolpho da Silva.
lviii
Luis Carlos Fridman, Vertigens Pós-Modernas, 2000: 14.
lix
Tobias Barreto, 1925
lx
Reinaldo Laddaga, Introducción A Un Lenguage Invertebrado, 2000: 158
lxi
idem: 160.
lxii
A crise da univocidade no pós-modernismo não é apenas fruto dos novos modos políticos, com o fim das utopias, a
compreensão das ideologias, etc.: Da segunda lei da termodinâmica à teoria da catástrofe, de René Thom; do
simbolismo químico às lógicas não-denotativas; da teoria dos quanta à física pós-quântica; do uso do paradigma
cibernético-informático no estudo do código genético ao ressurgimento da cosmologia de observação; da crise
Weltanschuung newtoniana à recuperação da noção de “acontecimento”, “acaso” na física, na biologia, na história, o
que temos é a crise de uma noção central nos dispositivos de legitimação e no imaginário modernos: a noção de
ordem. E com ela assistimos à rediscussão da noção de “desordem”, o que por sua vez torna impossível submeter
todos os discursos (ou jogos de linguagens) à autoridade de um meta-discurso que se pretende a síntese do
significante, do significado e da própria significação, isto é, universal e consistente. [Jean-François Lyotard, A
Condição Pós-Moderna, 1979/2000: X/XI.
lxiii
Braga, J.L. et alli. (1995). A encenação dos sentidos: Mídia, cultura e política. Rio de Janeiro: Diadorim./ Ong, W.J.
(1987). Oralidad y escritura: Tecnologias de la palabra. México: Fondo de Cultura Económica. [Referências
bibliográficas da autora]
lxiv
Eliana Yunes (Puc-Rio), Leitura, A Complexidade do Simples: Do Mundo à Letra e de Volta ao Mundo, 2000:76.
lxv
Gilberto Mendonça Teles, A Escrituração da Escrita, 1996: 186
lxvi
Vítor de Azevedo, Estudo Crítico in História, de Heródoto, 2001:41.
lxvii
Prefiro o termo, numa perspectiva só literária, privilegiando aspectos estéticos, dado que são perceptíveis, tanto no
método socrático quanto no texto de Platão, mais pré-socratismo do que sonha a vã filosofia dos filósofos...
lxviii
Bakhtin:109
lxix
Werner Jaeger, Paidéia, 1979:466
lxx
Edgar Wind, por exemplo, procura demonstrar que a sujeição das artes, especialmente da poesia, às razões do Estado
em As Leis e A República, não devem ser entendidas com as perspectivas do mundo moderno, pois visavam a educação
dos gregos. Seria apenas uma “advertência de Platão”... Mas é claro que, estando o mundo moderno muito mais
próximo do mundo Romano, que ainda mais radical que o Grego nessas questões, não há como defender Platão de
sujeitar a Poesia ao Estado, confrontando, no sentido de substitui-la, a Paidéia grega... (Wind, A Eloqüência dos
símbolos, 1983/1997)
lxxi
Bakhtin: 109 (grifei em negrito).
lxxii
Bakhtin:109/10 (grifo do original.
lxxiii
Há que se admitir que esse livro, traduzido e retraduzido, é propriamente intraduzível. As máximas curtas que o
compõem destinavam-se, aparentemente, a servir de tema para meditação. Seria inútil procurar atribuir-lhes um
sentido único, ou até um sentido relativamente definido. Essas fórmulas tinham valor pelas múltiplas sugestões que se
podiam encontrar nelas. Tinham uma ou várias significações esotéricas – atualmente indiscerníveis... [Marcel Granet,
O Pensamento Chinês, 1934/1997: 304.].
lxxiv
Expressão de Manuel Bandeira referindo-se ao fazer poético, exaltado por Gilberto Mendonça Teles em estudo
crítico para Manuel Bandeira: Libertinagem – Estrela da Manhã, 1998:132. Também publicado em Teles, A
Escrituração da Escrita, 1996:248.
lxxv
Friedrich Nietzsche, in Duda Machado, Friedrich Nietzsche – Breviário de Citações ou para conhecer Nietzsche,
2001:9.
lxxvi
Nietzsche (no prólogo à Genealogia da Moral), e Schlegel (em seus Fragmentos Críticos): in Maria Cristina
Franco Ferraz, ”Das Três Metamorfoses”: Ensaio de Ruminação, 2000: 43.
lxxvii
Bakhtin:110 (grifo do original).
lxxviii
[grifei]
lxxix
Bakhtin: 110 (grifei)
lxxx
Bakhtin: 167 (grifo original)
lxxxi
Safranski, Heidegger – um mestre da Alemanha entre o bem e o mal, 2000: 44
lxxxii
Teles,1996: 191, 192, 240.
lxxxiii
idem, 240.
lxxxiv
É curiosa a posição de Affonso Romano de Sant’Anna a respeito da desconstrução; usando o exemplo de
Duchamp, sugere que, reação modernista ao pós-modernismo, se desconstrua a desconstrução:
A chamada pós-modernidade falou muito em “desconstrutivismo" e tachou Duchamp de “desconstrutivista”.
Então, usando o mesmo veneno como remédio (similia similibus curantur) lhes digo: é necessário desconstruir
Duchamp. Affonso Romano de Santa’Anna, O xeque-mate de Duchamp, 2002. Ora, Affonso, não seria melhor aceitar a
pós-modernidade e ocuparmo-nos todos, mais até do que com a reconstrução, mas com as muitas reconstruções? Que,
aliás, na maioria dos casos seriam construções? Não seria mais interessante, e mesmo mais rico, para nós brasileiros, a
aceitação dos muitos modos? Especialmente se considerarmos que a univocidade brasileira, como num funil invertido,
pinga gotas no oceano e esse oceano arrisca esguichar? Não seria melhor tirar o funil? E permitir que os mares se
juntem aos céus nos horizontes do amanhecer?
lxxxv
Agenor de Miranda Araújo Neto, o Cazuza, Ideologia, 1987.(adaptei formato p/ o texto). Esse rock típico dos anos
80 mostra bem o vazio ideológico típico da pós-modernidade.
lxxxvi
Do filme Strange Days (Estranhos Prazeres), Kathryn Bigelow (Direção) e James Cameron&Jay Cocks (Roteiro),
1995.
lxxxvii
Costume antiqüíssimo, a tatuagem, que vinha resistindo ao tempo como uma marca de marinheiros, sugere várias
ordens de idéia: a de liberdade das regras da urbis; a expressão de verve aventuresca (força e coragem) de quem se
lança aos mares da vida; e, mais diretamente, a dupla manifestação de propriedade corporal e de expressão pessoal.
Ganha, na pós-modernidade, uma multidão de adeptos como uma necessidade, face à despersonalização,
desindividualização promovida pela massificação da sociedade pós-industrial, levando os indivíduos a usarem seu
corpo como espaço.
lxxxviii
Pois o pós-modernismo ganha terreno nos Estados Unidos e suas manifestações são, equivocadamente,
consideradas estratégias de colonização – pós-colonização?
lxxxix
Basta compulsar os principais dicionários de filosofia publicados entre nós: André Lalande, Vocabulário Técnico e
Crítico da Filosofia, 1990/99; José Ferrater Mora, Dicionário de Filosofia, 1994/2001 e Nicola Abbagnano, Dicionário
de Filosofia, 1971/2000.
xc
Sobre essas concepções ver: David Harvey, Condição Pós-Moderna, 2000: 324/6; Terry Eagleton, As ilusões do pós-
modernismo,1998: 127/8;
xci
Harvey: 19
xcii
Reinaldo Laddaga, 2001.2
xciii
David Harvey: 45.
xciv
David Harvey: 326
xcv
Ver, como exemplo, Signografia; o que foi possível adquirir nas boas livrarias, no período de preparação do Curso de
Mestrado.
xcvi
Eliana Yunes, 26.03.2002.
xcvii
Marília Rothier Cardoso, 26.03.02.
xcviii
Walt Whitman, 1855/1985, em livre tradução.
xcix
Werner Jaeger, 1936.
c
Nietzsche, in Duda Machado, 2001: 128.
ci
Nietzsche, in Duda Machado: 130
cii
Gilberto Mendonça Teles, 1989.
ciii
Rob Wittig, 2001.2.
civ
Wittig, 2001.2.
cv
Rob Wittig, 2001.2.
cvi
Aira, 1998.
cvii
Filme da Warner Bros, de 1994, dirigido por Barry Levinson, baseado na obra de Michael Crichton. Neste filme a
personagem de Michael Douglas percorre ambientes virtuais tal qual estivesse em ambientes reais.
cviii
Gilberto Mendonça Teles, 1989: 17/20
cix
Márcia Lisboa Costa de Oliveira, A Leitura E As Miragens do Virtual, 1999: 42.
cx
Oliveira: 44.
cxi
Luís de Camões, 1595.
cxii
Nietzsche, 1908/1979:80/1.
cxiii
John Cage, apud Boudewijn Buckinx, O Pequeno Pomo, 1998: 136.
cxiv
Alberto Manguel, Lendo Imagens, 2001: 21.
cxv
Manguel, 2001: 22.
cxvi
William Blake, in Blake &Lawrence, 2001: 33
cxvii
In Manguel:22.
cxviii
William Blake, 2001: 63.
cxix
Alberto Manguel, 2001, 22.
cxx
Blake, 2001: 17
cxxi
Jorge Luis Borges, apud Manguel: 58.
cxxii
William Blake, O Casamento do Céu e do Inferno [1793], 2000: 37.
cxxiii
Samuel Beckett, in Manguel, 2001: 36.
cxxiv
Henry James, in Manguel: 16.
cxxv
Paul Valéry, in Hugo Friedrich, 1978: 185.
cxxvi
Como afirma Manguel ( 2001, 43).
cxxvii
John Keats, 1817, in Manguel, 2001: 288.
cxxviii
César Aira, 1998 (grifei e destaquei)
cxxix
Da poiética (aqui colocada como teoria do fazer literário) de Paul Valéry in Friedrich, 1978: 164.
cxxx
Aira, 1998.
cxxxi
Ver site www.poesia.com
cxxxii
Cf. Schlegel O Dialeto dos Fragmentos [1874/1823], 1997: 233.
cxxxiii
Capa de Victor Burton, sobre retrato de Ezra Pound (detalhe) de Philip Caroll.
cxxxiv
José Lino Grünewald, Ezra Pound: Uma Dialética de Formas, 1986:16/7.
cxxxv
Pablo Picasso: Mulher em uma Poltrona (1913 – Óleo sobre tela, 150 x 100 cm. Assinado e datado. Coleção da Sra.
Ingeborg Pudelko, Florença. In Mestres da Pintura – Picasso, 1977: 47.
cxxxvi
Schlegel et alii, Athenäum1997: 90.
cxxxvii
Schlegel, Conversa sobre a poesia e outros fragmentos, 1794/1823, 1994: 117.
cxxxviii
Johann Wolfgang von Goethe, Maximas Y Reflexiones [1829], 1974: 387
cxxxix
Jozè Joaqim de Qampos Leão Qorpo-Santo. A Ensiqlopèdia, ou Seis Mezes de Huma Enfermidade – Livro I
(Poezia e Proza), 1877: 71/2.
cxl
Os fragmentos que se seguem são excertos de Qorpo-Santo e a Pós-Modernidade, [Paulo Bauler, in Revista Escrita,
no prelo].
cxli
Qorpo-Santo, 1877: 15.
cxlii
In Qorpo-Santo: Teatro Completo, fixação do texto, estudo crítico e notas por Guilhermino Cesar, 1980: 65/86.
cxliii
A referência aos Reis do Universo em Hoje Sou Um; E Amanhã Outro, quando o Ministro descreve as qualidades do
próprio Qorpo-Santo ao seu Rei, é uma pérola de ironia e sátira. / Ao contrário do que muitos afirmam, Qorpo-Santo
não é aí megalômano, mas apenas ri de si mesmo, estatuindo para si qualidades obviamente exageradas como núcleo de
comicidade e absurdo dessa sua peça. É gozação de si mesmo, ironizando-se e satirizando-se, pura utilização do
exagero como elemento ficcional do absurdo, que já estaria claro quando na fala: “que esse homem viveu em um retiro
por espaço de um ano ou mais, onde produziu numerosos trabalhos sobre todas as ciências, compondo uma obra de
400 páginas...”(o mesmo número de páginas da Ensiqlopedia). No entanto, quando o Ministro acrescenta que “Ainda
não é tudo, Senhor! Esse homem era durante esse tempo de jejum, estudo e oração – alimentado pelos Reis do
Universo, com exceção dos de palha!”, é verdadeiramente comprar o absurdo por realidade continuar acreditando na
megalomania do autor. E Qorpo-Santo certamente daria boas risadas de alegre satisfação em ver essa miscigenação de
elementos provocar o resultado que, afinal, buscava. Tal confusão justifica sua obra da vida absurda. Essa, inclusive,
parece ser a sua maior diversão. Alguns de seus poemetos, inclusive, tocam o tema das confusões que provoca.
cxliv
Esse poema consta da última página, do último Livro, o de n.9 da Ensiqlopèdia, fechando, pois, a sua obra escrita.
Curiosamente, mas não por acaso, esta última página encerra-se com quatro poemas dispostos em forma de cruz. Este,
ao braço esquerdo da cruz.
cxlv
Poemeto muito popular em Porto Alegre.
cxlvi
Basta anotar que, em Mateus e Mateusa, o confronto absurdo, circense, que transcorre durante toda a peça, encontra
seu desfecho num discurso – igualmente absurdo – moralizante, feito por um...criado, e que só aparece no final! Cujo
nome, Barriôs, muito provavelmente tenha sido inspirado ou num homônimo ditador bufão de El Salvador, escorraçado
do poder e fuzilado em sua época, ou num advogado com quem Qorpo-Santo andava às turras... Isso deixa claro,
portanto – e aqui se mostra a exata proporção de aplicação do método biográfico – a intenção estética de registrar, ainda
esteticamente, a absurdidade do discurso moralizante.
cxlvii
A referência à identidade entre a sua escritura e a arte da fotografia nesse poema, igualmente reforça, mais do que
aparentemente nega, a concepção propositadamente absurda de toda a sua obra. Sua afirmação aqui corresponde a um
alerta aos seus censores no sentido de que – achem absurda quanto quiserem a sua literatura – não pode ser censurada,
porque ela é tão absurda quanto a realidade o é... qual de fotografia – ato! Portanto, se querem reclamar da feiúra da
foto, a culpa não é do fotógrafo... Ou, em outras palavras, se querem reclamar do absurdo das suas comédias, a culpa
não é do “comediante”. / Outro poema inscrito ao crucifixo do final da obra (nota IX acima). / Observe-se que o poema
em tela é justo colocado à parte superior do crucifixo, onde se situa, simbolicamente, a cabeça do crucificado. Sob o
sugestivo título de Censura.
cxlviii
Capa do filme(vídeo) Macunaíma, de Joaquim Pedro de Andrade (direção), 1969.
cxlix
Essas observações, cristalizadas na sentença destacada, dizem respeito não apenas às técnicas de teatro, mas,
especialmente pela liberdade explicitamente concedida por Qorpo-Santo aos produtores e diretores teatrais, para alterar
seus textos de acordo com as suas eventuais necessidades. Antecipando, de certa forma, aquele desprendimento do texto
pregado, por exemplo, por um Antonin Artaud. Homem de teatro, Antonio Carlos de Sena anotou (v. Assis Brasil, Luiz
Antonio de. Qorpo-Santo:entrevista...) que essa liberdade, acompanhada das demais informações dos textos, não
constituía uma precariedade do autor como criador, mas uma invenção inovadora ao estreito relacionamento entre texto
e montagem, cujo exemplo mais notório são as palavras finais do livro em que reuniu as suas comédias: “As pessoas
que comprarem e quiserem levar à cena qualquer das minhas comédias podem; bem como fazer quaisquer ligeiras
alterações, corrigir alguns erros e algumas faltas, quer de composição, quer de impressão, que a mim, por inúmeros
estorvos, foi impossível”. Ler essa mensagem com olhos de vulgo é desconsiderar que um texto de poeta sempre há
que ser lido com poesia... É exercer, o leitor, sua prerrogativa de fazer-se aquilo que Nelson Rodrigues apelidou de
idiota da objetividade...
cl
Walt Withman, Leaves of Grass, 1855.
cli
Qorpo-Santo, Hoje Sou Um; E Amanhã Outro, in Teatro Completo,1980:108.
clii
Filme de Josef Rusnak (direção e roteiro) Ravel Centeno-Rodriguez (roteiro), 1999.
cliii
Filme de Spike Jonze (direção) e Charlie Kaufman (roteiro), 2000.
cliv
Capa do vídeo Bob Dylan, Bob Dylan – The 30th Anniversary Concert Celebration, Radio Vision International/ Sony
Music, 1993.
clv
Depoimento de Bruce Springsteen para a História do Rock’n’Roll, 2002, vol.4.
clvi
Depoimento de Bona Vox (idem).
clvii
Última página do último livro da Ensiqlopedia, ou Seis Mezes de huma enfermidade, de Qorpo-Santo, em forma de
cruz, alusão à sua febre literária e ao processo de crucificação social que sofreu.
clviii
Roland Barthes, O Prazer do Texto, 1973/1999: 7/9..
clix
Mário Chamie, A Linguagem Virtual, 1976: 116/7.
clx
No verbo de Jorge Luis Borges: Alfred North Whitehead escreveu que, entre as muitas falácias, há a falácia do
dicionário perfeito – a falácia de pensar que, para cada percepção dos sentidos, para cada asserção, para cada idéia
abstrata, pode-se encontrar um equivalente, um símbolo exato, no dicionário. E o próprio fato de as línguas serem
diferentes nos faz suspeitar que isso não exista. [Esse Ofício do Verso, 2000: 86].
clxi
Jean Baudrillard, Cool Memories II – crônicas 1987-1990, 1996: 83.
clxii
Michel Foucault, Isto Não É Um Cachimbo,1989: 60/1.
clxiii
René Magritte, in “orelha” de Foucault, Michel: 1989.
clxiv
Desenho de René Magritte in Isto não é um cachimbo, de Michel Foucault, 1973/1988: 87.
clxv
Friedrich Nietzsche, Sobre Verdade e Mentira no Sentido Extra-Moral [1873]. In Os Pensadores, vol. XXXII, 1974:
56.
clxvi
V. Eric A. Havelock, A Revolução da Escrita na Grécia. 1982/1996.
clxvii
Nietzsche, 1873/1974
clxviii
John Ford, apud Peter Bogdanovich, Afinal, Quem Faz Os Filmes, 2000: 10.
clxix
Do livro infantil de Fernanda Lopes de Almeida (texto e roteiro das ilustrações) e Fernando de Castro Lopes
(ilustrações), O Equilibrista, 1987: 2
clxx
Idem, O Equilibrista: 3.
clxxi
Idem,O Equilibrista: 27..
clxxii
José Francisco da Gama e Silva, 2001.1.
clxxiii
Fernando Pessoa, Sobre o Romantismo, in Obras Em Prosa, 1986: 292.
clxxiv
Almeida & Lopes, O Equilibrista: 30.
clxxv
Idem, idem: 31.
clxxvi
Idem, idem: 32.
clxxvii
Fayga Ostrower, Criatividade e Preocesso de Criação, 1987: 122.
clxxviii
Capa do filme (vídeo) de Peter Weir (direção) &Tom Schulman, Sociedade dos Poetas Mortos, 1989.
clxxix
Paulo Bauler, Delírio Antropofágico, in Ghesas de Eros, 2000: 324.
clxxx
Sérgio Augusto de Andrade, A Cultura Sexy do Brasil, 2002: 23.
clxxxi
Capa do filme (Vídeo) Villa-Lobos-Uma Vida de Paixão , de Zelito Vana (produção e direção) e Joaquim Assis
(roteiro), 2001.
clxxxii
Fala de Heitor Villa-Lobos, no filme de Zelito Viana & Joaquim Assis, 2001.
clxxxiii
Jean Braudrillard, Cool Memories III – fragmentos 1991-1995, 2000:84/5.
clxxxiv
Paulo Bauler, Delírio Antropofágico, in Ghesas de Eros, 2000: 606.
clxxxv
Jacques Attali, Dicionário do Século XXI, 2001: 85.
clxxxvi
Jacques Attali: 249.
clxxxvii
Paulo Bauler, Delírio Antropofágico, 2000: 651.
clxxxviii
Fala de Heitor Villa-Lobos, no filme de Zelito Viana & Joaquim Assis.
clxxxix
Reinaldo Laddaga, 2001.2.
cxc
Foto Richard Romero; produção Cácia Scudino.
cxci
Foto Imago, produzida no projeto Lambe-Lambe, Carnaval de Olinda, 96.
cxcii
Bárbara Kruger. Sem título (Não seremos mais vistas nem ouvidas). 1985. Nove litografias coloridas com
fotolinografia e silkscreen: 52x52 cada. Apud Eleanor Heartney, Pós-Modernismo, 2002. Este é um bom exemplo de
diálogo imagético nas artes plásticas.
cxciii
Uma obra como o Ulisses de Joyce é extremamente escandalosa e subversiva em sua crítica do mito burguês do
significado imanente. Como protótipo de todos os textos antiauráticos – reciclagem mecânica de um documento
sagrado -, Ulisses pulveriza essa mitologia arrasando as distinções entre elevado e baixo, sagrado e profano, passado
e presente, autenticidade e derivação, e o faz com toda a demótica vulgaridade da mercadoria. Franco Moretti mostrou
como Ulisses torna mercadoria a própria forma do discurso, reduzindo a ideologia burguesa do “estilo singular” a
uma circulação contínua e despropositada de códigos empacotados sem privilégio metalingüístico, uma polifonia de
fórmulas verbais escrupulosamente “imitadas”, completamente hostil à “voz pessoal”. [Terry Eagleton, A Ideologia da
Estética, 1990/1993: 271.].
cxciv
Affonso Romano de Sant’Anna, Rosa versus Machado, 22.12.2001 (grifei).
cxcv
Jair Ferreira dos Santos, Barth, Pynchon e outras absurdetes (o pós-modernismo na ficção americana), 1995: 70/1.
cxcvi
Paul Valéry, apud Hugo Friedrich: 185.
cxcvii
Haroldo de Campos, Uma Poética da Radicalidade, 1981: 17, 18, 34, 35.
cxcviii
Cf. Todorov, em ensaio sobre a poiética em Lessing: A presença ou a ausência de um elemento no texto é
determinada pelas leis da arte que se pratica. Portanto, uma tese literária jamais poderá seguir ordenamento que não
lhe atenda suas todas possíveis singularidades. Não apenas de natureza científica (estrito senso), mas ainda em suas
peculariedades poiéticas e estéticas. [Tzvetan Todorov, Os gêneros do discurso, 1980: 29/30.
cxcix
Jean Paul Sartre, O Imaginário, 1940/1996: 246.
cc
Para as mazelas da “explosão vídeo” na pós-modernidade, ver Gilbert Durand, O Imaginário-Ensaio acerca das
ciências e da filosofia da imagem, 1999: 117/20.
cci
William Blake, in Tudo que vive é sagrado, 2001: 37.
ccii
Werner Jaeger, Paideia, 1936: 153/5 e 223.
cciii
Jaeger: 143.
cciv
Jaeger: 153
ccv
Embora a manifestação anti-erótica, Sêneca, que amava Epicuro, devia estar cumprindo obrigação política... O que
bem demonstra a dicotomia Estado/Indivíduo em Roma: Mas o que Sêneca teve a liberdade de escrever, não teve de
viver... A filosofia libertou-o, mas como era um famoso senador do povo romano, ele venerava o que rejeitava, fazia o
que condenava, adorava o que desprezava... [Benjamin Farrington,A Doutrina de Epicuro, 1968: 147.
ccvi
V. Paulo César de Souza, Notas do Tradutor, in Além do Bem e do Mal-Prelúdio-Prelúdio a uma filosofia do futuro,
de Netzsche,1992: 216.
ccvii
Nietzsche, Além do Bem e do Mal-Prelúdio a uma filosofia do futuro, 1992: 69.
ccviii
Anônimo,1611
ccix
Nietzsche, Além do Bem e do Mal, 1992: 80.
ccx
[Nietzsche, idem.
ccxi
Rousseau, Ensaios Sobre A Origem Das Línguas: 434
ccxii
In Maktub, coluna diária do escritor no jornal Folha de São Paulo.
ccxiii
O discurso de Nietzsche em seu Anticristo é, no entender do autor, reflexo dos mesmos sentimentos anti-religiosos
de um Joyce, por exemplo. Já a obra de Wilhelm Reich, considerado em sua época uma espécie de anticristo, com as
mesmas críticas a uma certa cristianização, não vê oposição alguma entre o pensamento cristão e a natural alegria de
viver.
ccxiv
Jean-Jacques Rousseau, Ensaio Sobre A Origem Das Línguas, in Obras, 1962: 434.
ccxv
Friedrich Schlegal, 1997: 158.
ccxvi
Carl Jung, Chegando ao Inconsciente, 1961: 20.
ccxvii
Pintura Navajo em areia representando o mito do Coiote, que rouba o fogo dos deuses para dá-lo ao homem. Na
mitologia grega, Prometeu também rouba o fogo dos deuses para o homem, tendo sido, por isso, acorrentado a uma
rocha e torturado por uma águia [Nota da ilustração do ensaio de Joseph L. Henderson, Os mitos antigos e o homem
moderno, em Carl G. Jung, 1964:114].
ccxviii
Carl Jung, 1961: 20.
ccxix
Senão pela sua poesia, como conhecimento inconsciente de sua inteligência emocional - acrescento.
ccxx
Carl Jung, 1964/1997: 21.
ccxxi
Carl Jung: 23.
ccxxii
Muitos precursores da psicanálise moderna, fotografados em 1911, no Congresso de Psicanálise de Weimar,
Alemanha. A indicação numérica identifica algumas das personalidades mais conhecidas. Apud Carl Jung: 26. A mim a
foto inspira reflexões sobre os uns e os múltiplos, sobre a multiplicidade de pensamento, a pluralidade do
conhecimento, sob uma aparente univocidade... A univocidade é uma fotografia (estática) se comparada à percepção
fragmentária que, como um filme (dinâmica).
ccxxiii
Carl Jung: 25
ccxxiv
Carl Jung: 25.
ccxxv
Marilena Chauí, Entrevista a O Globo de 09.04.2002.
ccxxvi
Lílian Hellman, Pentimento – Um Livro de Retratos, 1980: Intróito.
ccxxvii
Raimundo Faoro, Os Donos do Poder, 1977.
ccxxviii
Caetano Veloso, Verdade Tropical, 1997: 17.
ccxxix
CD Caetano Veloso, sem indicação de foto ou arte.
ccxxx
CD Da Lama ao Caos, Chico Science & Nação Zumbi (Chaos, 1993).
ccxxxi
Roberto Azoubel, A impressionante (e necessária) invasão dos homens-caranguejos (aspectos ficcionais e
políticos do manguebit), 2000.2.
ccxxxii
Ezra Pound, ABC da Literatura, 1990: 161.
ccxxxiii
Qual é o estilo de James Joyce? Essa aflitiva reificação da linguagem, com todo o seu esculpir flaubertiano sobre
materiais verbais inertes, é exatamente o que permite o radicalismo bakhitiniano de Joyce, seu impactar dialógico,
carnavalesco, de uma língua com outra – tanto quanto em Finnegans Wake uma sabotagem política profunda da
significação fixa acontece através dos movimentos de um significante promíscuo, que, como a forma mercadoria,
continuamente nivela e iguala identidades para poder permuta-las de modos fantasticamente novos. O mecanismo da
troca, ou o espaço do valor de troca, é aqui o trocadilho ou o significante múltiplo, em cujo espaço, como no caso da
mercadoria, os significados mais chocantemente disparatados podem se combinar. É nesse sentido que Joyce, para
usar uma expressão de Marx, permite à história progredir “pelo seu lado ruim”, partindo, à moda de Brecht, das más
novidades e não das boas velharias. [ Terry Eagleton, 1990/1993: 271.].
ccxxxiv
Nota do Editor brasileiro de James Joyce, Ulisses, 1977: 852.
ccxxxv
Wolfgang Müller-Lauter, A Doutrina da Vontade de Poder em Nietzsche, 1997: 74/5.
ccxxxvi
Calandra, 1964/Teixeira, 2002. (V.Signografia).
ccxxxvii
Francesco Clemente, Sol da meia-noite, 1982.
ccxxxviii
Eleanor Heartney, Pós-modernismo, 2002: 20/1.
ccxxxix
Diálogos do filme Strange Days (Estranhos Prazeres), de Bigelow e Cameron&Cocks, 1995. Ver tb. nota 75.
ccxl
Site Internet
ccxli
Idem
ccxlii
Three Essays on Theory of Sexuality, vol. 7, p.134 [Nota de Jonathan Culler].
ccxliii
Jonathan Culler, Sobre a Desconstrução – teoria e crítica do pós-estruturalismo, 1982/1997: 185.
ccxliv
The Interpretation of Dreams, vol. 5, pp 612-13 [Nota de Jonathan Culler (Ver nota 215 acima) , no ponto
assinalado no texto].
ccxlv
Nada mais que poeta. In Kama Antropofágyka, Paulo Bauler, 2002.
ccxlvi
Heidrun Krieger Olinto, Discursos Transculturais, 1999: 50/3.
ccxlvii
Sem indicação de arte da capa; o que merece severa crítica por apropriação de autoria pela Editora.
ccxlviii
Filme (DVD) de Peter Weir (direção) e Andrew Nicol (roteiro), 1998.
ccxlix
Vilém Flusser, Ficções Filosóficas, 1998: 129.
ccl
Filme da dupla de irmãos, com o nome artístico de The Wachowski Brothers (direção e roteiro), 1999.
ccli
No momento, os computadores têm a vantagem da velocidade, mas não mostram sinal de inteligência. Isso não
surpreende, já que nossos computadores atuais são menos complexos do que o ‘cérebro’ de uma minhoca – uma
espécie que não se destaca por seus dotes intelectuais... Mas os computadores obedecem àquela que é conhecida como
Lei de Moore: suas velocidade e complexidade dobram a cada 18 meses... Trata-se de um desses crescimentos
exponenciais que, sem dúvida, não podem continuar para sempre. Entretanto, ele provavelmente continuará até que os
computadores atinjam uma complexidade semelhante à do cérebro humano. Há quem afirme que os computadores
nunca poderão exibir uma inteligência verdadeira – seja isso o que for. Mas parece-me que, se moléculas químicas
muito complexas podem agir em seres humanos para torna-los inteligentes, circuitos eletrônicos igualmente complexos
podem também fazer os computadores atuar de forma inteligente. E se forem inteligentes, eles poderão supostamente
projetar computadores com complexidade e intelig~encia ainda maiores... [Stephen Hawking, 2001: 165/7.].
cclii
Cena do filme 2001 – Uma Odisséia no Espaço, de Stanley Kubrick (direção e roteiro) e Arthur C. Clark (livro e
roteiro), 1968.
ccliii
Para uma análise da razão sádica apolínea ver PAGLIA, Camille. Personas Sexuais (Arte e Decadência de
Nefertite a Emily Dickinson), 1990: 222/33.
ccliv
Queenboro Bridge, NY: Fotografia de Spenser Tunick, artista presente na 25ª Bienal de São Paulo, como parte de
sua programação, na atividade de fotografar o humano, agora brasileiro, em estado de natureza, em contraste com o
espaço urbano. Tunick já viajou quatro continentes fotografando populares nus no espaço urbano. Matéria
jornalística no Segundo Caderno do jornal O Globo de 21.03.02.
cclv
Quando criado, o Super-Homem possuía como uma de suas características a força de levantar dez vezes o seu peso (a
formiga foi a referência, disseram os criadores Joe Shuter e Jerry Siegel). Algumas décadas depois já aparecia
realizando proezas incríveis, como o transporte de asteróides... (Do texto original. V. nota final a esse texto.).
cclvi
Martin Cezar Feijó. O Que É Herói. São Paulo: Brasiliense,1995 (nota do autor do texto).
cclvii
In A Figura do super-herói, de Henrique Rodrigues Pinto (Trabalho apresentado à prof.ª Denise Moreira na
disciplina Prática de Ensino II do Instituto de Letras da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 22 de
junho de 1999).
cclviii
Eugen Herrigel: 1975/1991. Sem indicação de capista.
cclix
George Woodcock: 1977/1985. Sem indicação de capista.
cclx
Charles Chaplin (Carlitos) (direção, roteiro e música), Tempos Modernos, 1936/2001. Último filme mudo de
Chaplin (ele não fala mas utiliza efeitos sonoros e até participa de um número musical), in Rubens Ewald Filho, Guia
de Filmes DVDnews, 2001.
cclxi
Filme de Nicholas Meyer (direção) e Edward Hume (roteiro), 1983.
cclxii
Arnaldo Jabor, A Invasão das Salsichas Gigantes e Outros Escritos, 2001: 166.
cclxiii
Ezra Pound, A Arte da Poesia ,1991: 149.
cclxiv
Jorge Mautner, Fragmentos de Sabonete e Outros Fragmentos, 1995: 47.
cclxv
Mautner, 1995: 45.
cclxvi
Bauler (lírica) & Vargas (música), Beautiful Maíra, 1999. Partitura elaborada por Rodolpho da Silva.
cclxvii
Roland Barthes, Fragmentos de um Discurso Amoroso, 1977/2000: 13/4.
cclxviii
Gattaca – A Experiência Genética (Gattaca), 1997, filme escrito e dirigido por Andrew Niccol.
cclxix
Blade Runner, O Caçador de Andróides: filme de Ridley Scott (direção) e Hampton Fancher & David Peoples
(roteiro), 1982/2001 (DVD)
cclxx
A.I.Inteligência Artificial (A.I Artificia Intelligence) filme de Steven Spielberg (roteiro e direção), Ian Watson
(história) e Brian Aldiss (conto), 2001.
cclxxi
A. I.- Inteligência Artificial ( A.I. – Artificial Intelligence), filme de Steven Spielberg (roteiro e direção), baseado
em história de Ian Watson e no conto de Brian Aldiss, segundo produção original de Stanley Kubrick.
cclxxii
Cronicamente Inviável, 2001, filme de Sérgio Bianchi (direção e roteiro) e Gustavo Steinberg (roteiro).
cclxxiii
A expressão é do escritor Ribeiro Couto, em carta dirigida a Alfonso Reyes e por este inserta em sua publicação
Monterey. Não pareceria necessário reiterar o que já está implícito no texto, isto é, que a palavra “cordial” há de ser
tomada, neste caso, em seu sentido exato e estritamente etimológico, senão tivesse sido contrariamente interpretada em
obra recente de autoria do Sr. Cassiano Ricardo onde se fala no homem cordial dos aperitivos e das “cordiais
saudações”, “que são fechos de cartas tanto amáveis como agressivas”, e se antepõe à cordialidade assim entendida o
“capital sentimento” dos brasileiros, que será a bondade e até mesmo certa “técnica da bondade”, “uma bondade
mais envolvente, mais política, mais assimiladora”. [Sérgio Buarque de Holanda, Raízes do Brasil, 1936/1995: 204/5].
A expressão “técnica da bondade” de Cassiano sugere uma certa política da malandragem brasileira que, nesses tempos
pós-modernos, vem sendo substituída pela violência moral ou explícita.
cclxxiv
Nas periferias, a pós-miséria cria um outro país. Crônica de Arnaldo Jabor, no jornal O Globo de 16.04.02.
cclxxv
Perro (de Amores Perros, v. nota seg.), em português cão. Mondo Cane (Mundo Cão), um documentário que fez
época ali pelos idos finais dos anos 60, inícios dos 1970, em que se exibia a natureza em sua brutalidade animal (cito de
memória).
cclxxvi
Amores Perros (Amores Brutos), 2000, filme de Alejandro Gonzales Iñárritu (direção) e Guillermo Arriaga Jordan
(roteiro).
cclxxvii
Essa atividade imagética fragmentária da mente humana foi estudada (e desenvolvida artisticamente como método
terapêutico e científico) pela psiquiatra Nise da Silveira para o estudo da patologia esquizofrênica: O ATELIER DE
PINTURA era inicialmente apenas um setor de atividade entre vários outros setores da Terapêutica Ocupacional,
seção que estava sob minha responsabilidade no Centro Psiquiátrico Pedro II. Mas aconteceu que desenho e pintura
espontâneos revelaram-se de tão grande interesse científico e artístico que esse atelier cedo adquiriu posição especial.
Era surpreendente verificar a existência de uma pulsão configuradora de imagens sobrevivendo mesmo quando a
personalidade estava desagregada. Apesar de nunca haverem pintado antes da doença, muitos dos freqüentadores do
atelier, todos esquizofrênicos, manifestavam intensa exaltação da criatividade imaginária, que resultava na produção
de pinturas em número incrivelmente abundante, num contraste com a atividade reduzida de seus autores fora do
atelier, quando não tinham mais nas mãos os pincéis.Que acontecia? Nas palavras de Fernando estaria possivelmente
a resposta:“Mudei para o mundo das imagens. Mudou a alma para outra coisa. As imagens tomam a alma da pessoa”.
Nise da Silveira, Imagens do Inconsciente, 1981: 13.
cclxxviii
Maria Célia Teixeira Eles dizem, eles fazem. Rio de Janeiro: In BIS, Caderno de Cultura do jornal Tribuna da
Imprensa, ed. 13.03.02.
cclxxix
O Encouraçado Potemkin (Bronenosets Potiomkin) [1925], filme de Sergei M. Eisenstein. Em 1948 e também em
1958 uma seleção de críticos internacionais de cinema escolheram O Encouraçado Potemkin como o maior filme de
todos os tempos. É o tipo de filme que é exibido no início de qualquer curso de cinema. A cena em que as tropas do
czar descem a Escada de Odessa matando homens, mulheres e crianças em seu caminho é a mais famosa cena da
história do cinema. Mas, O Encouraçado Potemkin é muito mais do que um documento histórico, e, mesmo atualmente,
com o avanço das técnicas de filmagem muito além daquelas disponíveis na época de Eisenstein, o filme permanece
uma experiência fantástica e irresistível. Este é o trabalho mais influente do homem que é considerado o mais
importante diretor da História do Cinema.
cclxxx
Berlim – Sinfonia da Metrópole (Berlin – Die Sinfonie der Grosstadt), 1927, filme de Walther Ruttmann (direção) e
Karl Mayer (argumento).
cclxxxi
Baraka – Um mundo através das palavras (Baraka), 1992, filme de Ron Fricke (direção, roteiro, edição e
fotografia) e Genevieve Nicholas & Constantinte Nicholas (roteiro). O curioso no título do DVD brasileiro Um mundo
através das palavras é que o filme nos trás uma sucessão de imagens sem qualquer palavra escrita ou oral. Terá o
tradutor brasileiro errado na titulação da obra ou terá sido uma alusão ao poder narrativo da imagem?
cclxxxii
Clube da Luta (Fight Glub), 1999, filme de David Fincher (direção) e Jim Uhls (roteiro), baseado no livro
[1996/2000] homônimo de Chuck Palahniuk. (DVD)
cclxxxiii
Desconstruindo Harry (Deconstructing Harry) [1997], filme de Woody Allen (direção, roteiro e atuação).
cclxxxiv
Henrique Rodrigues Pinto, Desconstruindo Allen, 2000.
cclxxxv
Zelig [1983], filme de Woody Allen (direção, roteiro e atuação).
cclxxxvi
Bauler & Vargas, 1999. Partitura elaborada por Rodolpho da Silva
cclxxxvii
Pulp Fiction (Pulp Fiction – Tempo de Violência), 1994, de Quentin Tarantino (direção, histórias e roteiro) e
Roger Avary (histórias).
cclxxxviii
Funny Games (Violência Gratuita), 1997, de Michael Haneke (direção e roteiro).
cclxxxix
Diálogo de Violência Gratuita, Haneke: 1997.
ccxc
A Bruxa de Blair (The Blair Witch Project), 1999, de Daniel Myrick & Eduardo Sanchez (Roteiro, direção e
montagem).
ccxci
A Bruxa de Blair 2, O Livro das Sombras (Book of Shadows: Blair Witch 2), 2000, de Joe Berlinger (roteiro e
direção) e Dick Beebe (roteiro).
ccxcii
Arthur Schopenhauer (Bryan Magee, História da Filosofia, 1999: 139), é o autor dessa frase famosa e muito
atribuída a Hobbes devido ao princípio filosófico deste para a formação do Estado.
ccxciii
Ilustração de Gustave Doré em The Rime of the Ancient Mariner (informação da edição)
ccxciv
Antigo provérbio alemão, cf. Paulo Coelho, em Brida, 1990: 180.
ccxcv
Tao é um estado de consciência. Ele começa onde a mente acaba. Não possuímos conceito algum para traduzi-lo,
simplesmente porque o ocidental desconhece esse estado. A palavra Tao é constituída de duas imagens: “cabeça” e
“caminhar”. Como cabeça, podemos entender algo relativo à consciência; como caminhar, ir deixando o caminho
para trás. O Tao é este estado de “consciência dinâmica”. Nele você está em relação consciente com a vida. E
participa dela sem perguntas ou respostas preconcebidas. A própria vida se faz presente... King em chinês significa
“livro” e Te, “ponte”. Em última análise, Tao Te King significa “O livro que leva ao contacto com o infinito, com o
indivizível, com o absurdo, à finalidade última”. Pedro Tornaghi, in Lao Tse, Tao Te King, 1989: 9/10. [Muito
particularmente, neste trabalho utilizo – o que me parece apropriado – o termo Tao como A Totalidade Infinita, o eterno
caminhar assim do humano como das estrelas, tudo o que há e o que não há, no sentido de O Cheio e O Vazio em eterno
processo...]
ccxcvi
Por se mover num mundo de emblemas e atribuir uma realidade plena aos símbolos e às hierarquias de símbolos o
pensamento chinês orienta-se para uma espécie de racionalismo convencional ou escolástico. Mas, por outro lado é
movido por uma paixão empiricista que o predispôs a uma observação minuciosa do concreto, e que sem dúvida o
levou a observações frutíferas. Seu maior mérito é nunca haver separado o humano e o natural e ter sempre concebido
o humano pensando no social. A idéia de lei não se desenvolveu e, por conseguinte, a observação da natureza ficou
entregue ao empirismo, e a organização da sociedade ao regime dos compromissos. Mas a idéia de Regra, ou melhor, a
noção de Modelos, permitindo aos chineses conservarem uma concepção flexível e plástica da Ordem, não os expôs a
imaginar, acima do mundo humano, um mundo de realidades transcendentais. Inteiramente impregnada de um
sentimento concreto da natureza, sua Sabedoria é decididamente humanista... [Marcel Granet, O Pensamento Chinês,
1968/1997: 210]. Marcel Granet aderiu ao postulado de Voltaire sobre uma China “racional”; nenhum preconceito
teológico impelia os chineses a “imaginar que o Homem compunha sozinho, na natureza, um reino misterioso”; por
isso, “nada os (havia impedido) de edificar toda a sua sabedoria sobre uma psicologia de espírito positivo”. [Vadime
Elisseeff, in Marcel Granet: 10].
ccxcvii
Foto, sem indicação de autoria, in Gerald Thomas, A Primeira Guerra do Século XXI (Relato de uma Testemunha),
setembro de 2001.
ccxcviii
João Ricardo Moderno, Estética da Contradição, 1997, pág. 132.
ccxcix
Nietzsche, Ecce Homo, 1908: 81/2
ccc
Omar Káyyám, Rubáyát de Omar Kháyyám, versão de Octavio Tarquinio de Sousa, 1951: 37.
ccci
Ezra Pound, Os Cantos, 1934/1986: 837.
cccii
Ezra Pound, Os Cantos, 1934/1986: 833.

SIGNOGRAFIA:
…to be continued...

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