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ESCOLA SECUNDÁRIA FERREIRA DE CASTRO

A Escola Secundária Ferreira de Castro também


esta contra este Modelo de Avaliação de
Desempenho.

Moção com vista à suspensão da aplicação do novo


modelo de avaliação do desempenho docente e
para promoção de um modelo de sucesso e
dignificação da carreira docente

Considerando que o Modelo de Avaliação:

1. Não é justo nem rigoroso:

O Modelo de Avaliação do Desempenho estatuído no Decreto Regulamentar


nº 2/2008 não assegura a justiça e o rigor de que os professores e as escolas
são devedoras, nem protege, necessariamente, a valorização dos melhores
desempenhos.
PORQUE:
• A   possibilidade   efectiva   deste   Modelo   colidir   com   normativos   legais, 
nomeadamente,   o   Artigo   44º   da   Secção   VI   (Das   garantias   de 
imparcialidade)   do   Código   do   Procedimento   Administrativo,   o   qual 
estabelece,   no   ponto   1,   alíneas   a)   e   c),   a   existência   de   casos   de 
impedimento sempre que o órgão ou agente da Administração Pública 
intervenha em actos ou questões em que tenha interesses semelhantes aos 
implicados na decisão. Ora, os professores avaliadores concorrem com 
os professores por si avaliados no mesmo processo de progressão na 
carreira, disputando lugares nas quotas a serem definidas;

2. Imputação de responsabilidade individual ao


docente pela avaliação dos seus alunos:
(Progressão e níveis classificatórios entram, com um peso específico de 6,5% na sua 
avaliação de desempenho)
PORQUE:
• Há uma violação grosseira, quer do Despacho Normativo nº 1/2005, o 
qual   estipula,   na   alínea   b)   do   Artigo   31º,   que  a   decisão   quanto   à 
avaliação final do aluno é, nos 2º e 3º ciclos, da competência do 

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conselho   de   turma   sob   proposta   do(s)   professor(es)   de   cada 
disciplina/área   curricular   não   disciplinar,   quer   do   Despacho 
Normativo nº 10/2004, o qual regula a avaliação no ensino secundário e 
estabelece, no nº 3.5 do Capítulo II, que  “a decisão final quanto à 
classificação a atribuir é da competência do Conselho de Turma, 
que,   para   o   efeito,   aprecia   a   proposta   apresentada   por   cada 
professor,   as   informações   justificativas   da   mesma   e   a   situação 
global do aluno.";
• Não é legítimo que a avaliação de desempenho dos professores e a
sua progressão na carreira se subordine a parâmetros como o sucesso
dos alunos, o abandono escolar e avaliação atribuída aos seus
alunos. Desprezam-se variáveis inerentes à realidade social,
económica, cultural e familiar dos alunos que escapam ao controlo e
responsabilidade do professor e que são fortemente condicionadoras
do sucesso educativo...

3. Escolha dos professores titulares/Divisão dos


professores:
PORQUE:

• Os critérios que guiaram o primeiro Concurso de Acesso a Professor Titular, 
valorizando, acima de tudo, a mera ocupação automática de cargos nos últimos 
sete anos lectivos, independentemente de qualquer avaliação da competência e 
da   adequação   técnica,   pedagógica   ou   científica   com   que   os   mesmos   foram 
exercidos,  deixando   de   fora   muitos   professores   com   currículos   altamente 
qualificados,  com   uma   actividade   curricular   ou   extracurricular   excelente   e 
prestigiada, marcada por  décadas de investimento denodado na sua  formação 
pessoal,   na   escola   e   nos   seus   alunos.   Semeia­se   terreno   para,   no   nosso 
quotidiano escolar, se desencadearem situações paradoxais, como por exemplo 
professores avaliadores possuírem formação científico­pedagógica e académica 
inferior   aos   avaliados.   Injustiça   insanável   que   mina   a   credibilização   deste 
modelo.
• Os critérios que guiaram o primeiro Concurso de Acesso a Professor Titular, 
geram   uma  divisão   artificial   e   gratuita  entre   “professores   titulares”   e 
“professores”.

4. Burocracia absurda e desajustada/ contingências


disparatadas/horas a mais:
PORQUE:

• A apressada implementação tem desviado as funções dos professores para


tarefas burocráticas de elaboração e reformulação de documentos legais
necessários à implementação deste Modelo, em detrimento das funções

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pedagógicas. “A pressa é uma inimiga…” As escolas são, neste momento,
cenário de professores afogados em burocracia, instabilidade e
insegurança, situação inconciliável com o verdadeiro propósito da
docência.
• Contingências disparatadas, como os avaliadores de hoje serem avaliandos 
amanhã,  e vice­versa, avaliadores com  formação científico­pedagógica e 
académica de nível inferior ao dos avaliandos, ou ocorrerem avaliações da 
qualidade científico­pedagógica de práticas docentes empreendidas por 
avaliadores oriundos de grupos disciplinares muito díspares  (os quais, 
nem   sequer   foram   objecto   de   uma   formação   adequada   em   supervisão   e 
avaliação pedagógica, quanto mais científica)...
• Como pode haver ensino de qualidade e sucesso escolar se os professores
investem a maior parte do seu tempo (que no momento ultrapassa
largamente as 35 horas semanais) na elaboração e preenchimento de um
emaranhado de documentos burocráticos nos quais ancora este Modelo
de Avaliação?
• O horário de trabalho é demasiado escasso para responder às inúmeras
tarefas e funções que lhe são atribuídas ou solicitadas. Dez ou onze tempos
de trabalho individual não são suficientes para a planificação de aulas, a
análise das estratégias mais adequadas, a criação de recursos diversificados e
inovadores, a elaboração de recursos para os apoios educativos e para os
alunos que exigem um ensino diferenciado, a preparação de instrumentos de
avaliação diagnóstica, formativa e sumativa, a correcção dos mesmos, a
reflexão sobre os resultados, a reformulação de práticas, … tudo isto
multiplicado por uma média de cem alunos; cinco, seis ou sete turmas; três,
quatro ou cinco níveis. Para além do exposto, há ainda a participação nas
reuniões dos órgãos de gestão intermédia sem esquecer a
dinamização/participação em actividades extra-curriculares e de intervenção
na comunidade educativa...

5. Rigidez e inflexibilidade:
PORQUE?:

• É de  recusar  a rigidez e a inflexibilidade, meramente administrativas, nos 


critérios para a obtenção da classificação de Muito Bom ou de Excelente, 
penalizando o uso de direitos constitucionalmente protegidos, como ser 
pai/mãe,   estar   doente,   acompanhar   o   processo   educativo   dos   filhos, 
participar em eventos de reconhecida relevância social ou académica, 
acatar   obrigações   legais   ou   estar   presente   nos   funerais   de   entes 
queridos;

6. Regime de quotas:
PORQUE:
• O regime de quotas que impõe uma manipulação dos resultados da
avaliação, gerando nas escolas situações de profunda injustiça e

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parcialidade, devido aos “acertos” impostos pela existência de percentagens
máximas para a atribuição das menções qualitativas de Excelente e Muito
Bom, estipuladas pelo Despacho n.º 20131/2008, e que reflecte claramente o
objectivo economicista que subjaz a este Modelo de Avaliação que visa, tão
somente, fabricar um falso sucesso escolar com fins meramente
demagógicos e eleitoralistas.

7. Que futuro?
PORQUE:
• Este modelo produz um sistema, prevalentemente, penalizador e não 
performativo   de   futuros   desempenhos,   além   de   que  não   discrimina 
positivamente os docentes que leccionam ou desenvolvem projectos com 
as   turmas   mais   problemáticas   e   com   maiores   dificuldades   de 
aprendizagem.

E clarificando, ainda:
• Que não é objectivo dos subscritores uma
resistência contra a avaliação, bem pelo contrário,
mas pretendem uma melhor avaliação: isenta, justa e
simplificada (o tempo útil que a profissão tem deve
ser para o ensino e não para burocracias); um tempo
mais alargado de debate e experimentação, por
TODAS as partes envolvidas e interessadas; um
período alargado de experimentação, como
acontece, por exemplo, no Ministério da Justiça.

Pelo exposto, vêm os professores, abaixo assinados, solicitar a


suspensão de toda e qualquer iniciativa relacionada
com a avaliação, por este modelo preconizada, no presente
ano lectivo, para que o Ministério possa dar resposta e
corrigir todas as limitações, arbitrariedades e injustiças. Não

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reconhecem nele qualquer efeito positivo sobre a qualidade
do ensino/aprendizagem, não prestigiando, também, a escola
pública.

Escola Secundária Ferreira de Castro, 27 de Outubro de 2008

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