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MEMORIAL
Porto Alegre
2007
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MEMORIAL
Porto Alegre
2007
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO 3
2 MEMORIAL 6
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS 11
FONTES CONSULTADAS 1
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1 INTRODUÇÃO
Memória é um conceito assaz complexo, que pode ser discutido sob o olhar
de diversas disciplinas e tratado sobre diferentes aspectos. Não é possível discutir
apenas a forma biológica de seu processamento, tampouco apresentar apenas os
fatores emocionais envolvidos no processo de formação da memória.
Assim como não pode-se discutir memória sem apresentar todos os fatores
envolvidos, não pode-se falar em memória sem relacioná-la com tempo. Borges,
(2001, p. 41), conta que “Uma das escolas de Tlön chega a negar o tempo:
argumenta que o presente é indefinido, que o futuro não tem realidade senão como
esperança presente, que o passado não tem realidade senão como lembrança
presente.”
Essa escola estaria correta se uma pessoa vivesse isolada, sem nenhuma
forma de registrar acontecimentos. Nós sabemos do passado não só por meio de
registros mentais próprios, mas também por confirmações dos que convivem
conosco, de anotações e jornais diários, através de imagens e objetos. Não há como
negar que houve um passado ao conviver com tudo isso. De fato, o passado só
existe porque nos recordamos dele, através de registros ou da oralidade. A memória
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Vernant apud Le Goff (1996, p. 19-20), traz uma afirmativa muito boa a
respeito: “A memória, distinguindo-se do hábito, representa uma difícil invenção, a
conquista progressiva pelo homem do seu passado individual, como a história
constitui para o grupo social a conquista de seu passado colectivo. “
A memória como um todo pode, de acordo com Tiraboschi (2005, on line) ser
classificada em de
2 MEMORIAL
Quantas páginas são necessárias para relatar uma vidinha insossa como a
minha? Espero que poucas, afinal, não conseguiria fazer esse relato em frente a um
computador e o bloquinho que carrego comigo está no fim. Seria impossível
escrever essas páginas em casa ou numa biblioteca. Só o silêncio que temos no
meio de muitos estranhos é capaz de trazer as lembranças e a concentração de que
preciso. Além disso, em casa eu teria lembranças demais, que poluiriam a minha
mente. Não que essa confeitaria esteja vazia de recordações; praticamente toda a
Rua da República está repleta delas. A primeira vez que estive aqui foi com minha
avó, após uma ida ao dentista. Achei a confeitaria aconchegante e a rua
maravilhosa. Desde então nutro o desejo de mudar-me para cá. De onde estou
consigo ver o Van Gogh, tradicional bar porto-alegrense. Tantas vezes freqüentei-o,
com os mais diversos amigos...
dias meu pai me ligava e me mandava ir pra casa. Eu aprendi a desligar o celular
quando convinha. À noite, não escapava de
reclamações homéricas. No outro dia, eu esquecia
todo o discurso e repetia meus atos. Não que eu
fizesse algo errado na escola. Eu só passava a
tarde lá sem fazer nada, lendo ou estudando,
conversando com os amigos que também tinham
esse costume. Os dias passavam lentamente, entre conversas e leituras. Num
desses dias intermináveis, conheci o pai da minha filha. Namoramos por quase um
ano quando, em uma das vezes que não usamos camisinha por preguiça de ir à
farmácia, aconteceu a Alice. Não tínhamos nada em comum além dos amigos. Eu
estava com ele apenas porque ele gostava de mim. Não me sentia só, era
confortável. É uma pessoa maravilhosa, mas não combinávamos. Não deveríamos
ser um casal com filhos juntos para sempre. E não fomos. Em 2005, após umas
duas semanas de silêncio absoluto, ele foi embora. Um mês depois, conheceu a
Vanessa, mulher fantástica que adora a Alice. Enquanto tomo café aqui e escrevo
essas linhas, sei que ela está bem cuidada por eles. se algo acontecesse a mim, sei
que ela cuidaria da minha filha como se fosse dela e isso me dá muita tranqüilidade.
Minha mãe não compreende essa relação que tenho com eles. Ela sempre
teve um namorado, mas nunca pode saber da existência das namoradas do meu
pai. Na única vez em que soube, teve múltiplos chiliques. Os relacionamentos dos
meus pais foram fundamentais na minha formação. O Vilmar me ensinou a andar de
bicicleta e morou conosco por um tempo, sempre nos tratando como filhos. A Márcia
ensinou-me todas as regrinhas de etiqueta (talheres assim, talheres assado, serve a
refeição assim, senta-te como uma mocinha) e a me maquiar. A Bema ensinou-me
que tudo é relativo e que precisamos de paciência. Com ela aprendi a me colocar no
lugar dos outros sem esquecer-me de que o meu lugar é dentro de mim. A Ana
mostrou-me a biblioteconomia. O Fernado ensinou-me, indiretamente, que o que
pode dar errado certamente dará errado. E a trocar lâmpadas e chuveiros.
Quando me vi só, em 2005, sem marido e sem empregada, esses
conhecimentos foram muito úteis. Eu estava no cursinho e já havia escolhido a
biblioteconomia. Seria bem mais difícil a adaptação se eu já estivesse na faculdade.
Esse ano foi muito importante em minha vidinha; escolhi minha profissão, aprendi
muito sobre cultura e literatura, aprendi a educar uma filha sozinha e a morar
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sozinha. Voltei a sair e fiz muitos amigos novos. Também pude rever os antigos. Os
meus amiguinhos dividem-se basicamente em quatro grupos; os que vieram do
colégio, os que conheci através da kei, os que surgiram a partir de fóruns de
discussão na internet e os que conheci na UFRGS.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
FONTES CONSULTADAS
AMADO, Janaína. O Cervantes de Goiás. Nossa História, S.l., p. 28-33, dez. 2003.
GONDAR, Jô. Quatro Preposições sobre Memória Social. In: GONDAR, Jô;
DODEBEI, Vera. O que é Memória Social. Rio de Janeiro: Contra Capa, 2005. p.
11-26.
TIRABOSCHI, Juliana. Faxina Mental. Galileu, São Paulo, n. 170, set. 2005.
Disponível em: <http://revistagalileu.globo.com/Galileu/0%2C%2CECT1023715-
1706%2C00.html>. Acesso em: 20 maio 2007.