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AMRIK

O ttulo Amrik uma corruptela de Amrica, na forma como pronunciavam os imigrantes libaneses que se radicaram na capital paulista. A narradora, a danarina Amina, que luta para sobreviver numa So Paulo adversa enquanto rememora sua infncia numa aldeia do Lbano, pode ser tomada como alter-ego de sua criadora. Amina deixa um mundo seguro para trs e vem ao Brasil para tentar ser apenas aquilo que . Tambm a escritora abandona o terreno mais prudente das narrativas lineares que marcaram seus primeiros livros e se entrega doce orgia das palavras. Ana Miranda nunca esteve no Lbano, embora seja casada com um descendente de libaneses, o socilogo Emir Sader. Trabalha, portanto, com uma memria falsa, em parte calcada na do marido. E nem mesmo o fato de ter feito uma pesquisa formal sufoca sua liberdade. Os fatos histricos ainda aparecem como tela de fundo, mas agora Ana quem manda. Tudo contado em pequenos captulos de no mais de 25 linhas, que ocupam uma pgina cada um. A linguagem se assemelha esttica fragmentada e inconstante dos sonhos. Ler Amrik levar o esprito para danar. Mesmo nos trechos em que assume uma postura didtica como na pgina 53, quando enumera, paciente, 65 palavras da lngua portuguesa derivadas do rabe e iniciadas por "al", de alfinete a almofariz, "s para dizer as mais conhecidas" , Ana no permite que lhe fujam a batida sensual, o trao ondulante, a magia. A histria de Amina , no fim, muito parecida com a das outras mulheres. Amina recebe uma proposta de casamento do mascate Abrao. O amor, com suas vantagens e desvantagens, a deixa indecisa. No quer perder a liberdade que conquistou ao fugir para o Brasil. Sabe que ela seu maior bem. Pe-se, ento, a narrar sua histria com a compulso de uma Sherazade. O romance vem escoltado por um minucioso glossrio de quase 100 termos, a maioria de origem rabe. So absolutamente dispensveis, pois a escrita de Ana Miranda prende o leitor mais pela sensualidade que pela razo. Mas servem como excelente fonte de apoio para os leitores mais desconfiados. A linguagem de Amrik est muito mais prxima das parbolas rabes e das narrativas fantsticas de As mil e uma noites que das pesquisas factuais. sinuosa, tem um ritmo sfrego e arrasta o leitor at o fim dentro de uma histria que parece vazar do corao.

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