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Ficha de Leitura

ALGUMAS ANOTAÇÕES SOBRE A


SOCIOLOGIA DA BUROCRACIA

WEBER, Max
In: MILLS, W. e GERTH, H. (orgs.) Ensaios de Sociologia
Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1963, seção VIII.

1) Características da Burocracia (p. 229-232)

• São fixas (e têm status de dever) as atividades necessárias à consumação dos objetivos da
estrutura burocrática.

• Autoridade é delimitada por meios de coerção.

• Há um regulamento que prescreve metodologias para realização dos deveres; o emprego de


pessoal obedece a qualificações previstas no regulamento.

• São estruturas feudais aquelas em que o governo executa suas medidas através de critérios
de confiança pessoal (“servos”, “cortesãos”, etc); não há, nesses casos, delimitação precisa e
permanente de encargos e poderes.

• Princípios da hierarquia: sistema de mando e subordinação, onde há supervisão dos postos


inferiores pelos superiores; possibilidade de recurso é regulada; existe hierarquia em toda
estrutura burocrática.

• Administração burocrática se baseia no documento escrito. Há um quadro de funcionários


que se ocupa exclusivamente deles.

• Em geral, há uma separação entre a atividade oficial à serviço da estrutura burocrática e a


esfera privada (separação de bens, de capital, de espaço físico etc).

• Idéia de que, em caráter, são muito diferentes a administração do público e do privado


prevalece na Europa; nos EUA, não se nota a mesma diferenciação.

• Administração burocrática pressupõe treinamento especializado de seu quadro.

• As tarefas do cargo estão fixadas de forma estável no regulamento.

2) A Posição do Funcionário (p. 232-238)

• A ocupação dum cargo burocrático é uma profissão. Dá-se por admissão através de exames
rígidos – o que demanda treinamento igualmente rígido.
• Tem natureza de Dever: não é simples fonte de renda; não é troca de serviços; é a aceitação
de uma obrigação específica de administração fiel em troca de uma existência segura.
Difere, portanto, do “contrato livre de trabalho”.

• A lealdade é dedicada a fins impessoais e funcionais. Não se é servo da autoridade. Está-se à


serviço do objetivo da estrutura burocrática.

• É inerente à posição do funcionário uma estima social específica (status).

• A estima social específica varia conforme: 1) exigências de especialização; 2) convenções


estamentais (corporativismo).

• Tipo puro de funcionário burocrático é aquele nomeado (devido ao mérito) por autoridade
burocrática superior (seguindo o regulamento); não é eleito pelos governados.

• Autoridade eleita não é exclusivamente burocrática. Eleição modifica o rigor da


subordinação hierárquica. Eleito tem posição autônoma em relação ao funcionário
superior; não tem autonomia somente em relação à seu chefe político (que é um não-
burocrata por excelência).

• Eleições populares podem colocar em risco a qualificação do quadro de funcionários, bem


como o funcionamento preciso do mecanismo burocrático.

• O salário do funcionário não é determinado em função do trabalho executado, mas sim em


função da posição hierárquica.

3) As causas da Burocracia (p. 238-243)

• Nesse item, Weber discute os processos históricos de formação de aparatos burocráticos.


Aponta que, na modernidade, o desenvolvimento da economia monetária é uma importante
causa da burocracia capitalista (apesar de não ser a única; salienta, p. ex., que na
Antiguidade houveram formações burocráticas nos estados egípcio e bizantino).

4) Desenvolvimento quantitativo das tarefas administrativas (p. 243-246)

• O terreno propício ao desenvolvimento quanti. da burocracia é aquele em que ocorrem


processos de diferenciação social acentuados – desenvolvimento quantitativo de tarefas
específicas.

• Ou seja, o desenvolvimento da burocracia é conseqüência da diversificação e


complexificação da quantidade de atribuições, interesses e atividades numa sociedade.

5) Modificações qualitativas das tarefas administrativas (p. 246-248)

• A burocratização é ocasionada mais pela ampliação qualitativa do que quantitativa.

• Ampliação Qualitativa: desdobramentos sucessivos de uma primeira necessidade


quantitativa. Por ex.: complexificação técnica da comunicação ou do transporte.

6) Vantagens técnicas da organização burocrática (p. 249-251)

• Org. Burocrática progride graças à sua superioridade técnica.


• Superioridade técnica: previsão, velocidade, clareza, conhecimento, continuidade, unidade,
subordinação rigorosa, redução de custos.

• Nivelamento da “honra estamental”: ou seja, as pessoas são tratadas (os governados,


atendidos em suas necessidades de serviços) da mesma maneira, sem distinção.
• “Desumanização”: remove-se dos negócios oficiais o “amor” e o “ódio” em prol do cálculo
objetivo.

• Perito despersonalizado.

8) A concentração dos meios de administração (p. 257-260)

• Estrutura burocrática = centralização dos meios de administração.

• Weber o demonstra por analogias com o Exército e a empresa capitalista privada.

9) O nivelamento das diferenças sociais (p. 260-264)

• Modernas democracias de massa são acompanhadas do fenômeno burocrático.

• Regularidade abstrata da execução da autoridade: resulta da procura de igualdade perante a


lei; normas em contraposição aos privilégios; rejeição de tratamento individualizado.

• A capacidade de executar um trabalho profissional é colocada acima da origem social.

• Fim da administração por herança consangüínea.

• Burocracia consiste em obstáculo ao desenvolvimento de estruturas fechadas de


funcionários em função da meritocracia.

• Há nivelamento dos governados, enquanto dentre o quadro de funcionários permanece


rígida hierarquização.

10) Caráter permanente da máquina burocrática (p. 264-266)

• Uma vez estabelecida plenamente, a Burocracia está entre as estruturas sociais mais difíceis
de destruir.

• O funcionário não possui qualquer ingerência sobre o mecanismo burocrático. Ele só


executa tarefas especializadas.

• O governado não pode prescindir da Burocracia em virtude do nível de DST.

• O homem tem inclinação para regras e regulamentos; inclinação para o hábito.

11) Conseqüências econômicas e sociais da Burocracia (p. 266-268)

• Org. Burocrática resulta em conseqüências econômicas de longo alcance.

• Essas conseqüências dependem da direção dada ao processo de burocratização.

• Os interesses econômicos de classes e estamentos podem controlar o aparato (questão do


financiamento), pois o aparato não funciona sem dinheiro.
12) A posição de Poder da Burocracia (p. 268-272)

• A posição de poder do aparato não pode ser definida a priori, pois depende das relações no
conjunto da sociedade.

• Em condições “normais” (capitalismo estável), porém, o aparato tende a ser fonte de poder
predominante.

• Toda burocracia tende a aumentar seu poder via aumento da superioridade de seus
funcionários.

• Há relação intrínseca entre Poder e Segredo. Em alguns casos, inclusive, o êxito do objetivo
burocrático depende do Segredo (diplomacia, justiça, etc).

14) A “racionalização” da Educação e do Treinamento (p. 277-282)

• As instituições educacionais (especialmente universidades) são dominadas e influenciadas


pelas necessidades dos “tipos de educação” demandados pelo aparato.

• O “exame especial” é instrumento de seleção burocrática. Mas, ao mesmo tempo, há o risco


de resultar na formação de uma “casta” privilegiada.

• A “evolução” social do indivíduo é muito estimulada pelo prestígio dos títulos educacionais
adquiridos por meio de exames.

• Estes títulos (currículo) implicam em vantagem econômica. Forma-se uma camada


privilegiada economicamente em função desses títulos.

• Exames “avançam irresistivelmente” na modernidade (“ranqueamento” o demonstra).

• Apesar de tudo, o prestígio social baseado no treinamento não é específico da burocracia.

• Há permanente tensão entre a “democracia” e o inevitável caráter estamental da


Burocracia.

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