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150 Avaliacgao da qualidade das sondagens geotécnicas a percussdo nos projetos ‘ondicionados pela geologia, (0s parimetros geotéenicos slo fatores. preponderantes na concepgio de projetos de cobras subterrdneas. Durante a fase de projeto de uma obra € necessé- rio a devido conhecimento do meio fisico que estard em interagdo com a obra. ‘Uma das principais ferramentas de Investigagio _geoligico-geotéenica no Brasil € a sondagem a percussio com a execugio do ensaio de penetragio padronizado (SPT, do inglés Standard Penetration Test). Neste método, a perfuragio € feita através de trado ou de lavagem, sendo utilizada para a ob- tengo de amostras de solo e medidas de indices de resistencia @ penetragao (cnsaio SPT) ¢ execugio de virios en- saios in situ (ABGE, 1999), ‘No ensaio SPT, a cada metro de per furagao, ¢ feita cravagio de um barri- lete (tubo oco de 45 cm), no fundo do furo, para medida da resistencia do solo €-coleta de amostra pouco deformada, O bartilete € cravado por meio do im- pacto de uma peca metalica de 65 kg liberada em queda livre de 75 em de altura, sobre um ressalto na parte su- perior do hasteamento a cle conecta- do (figuras 1 ¢ 2). 0 resultado do SPT corresponde a quantidade de golpes necessiria para penetrar, no fundo do furo, o barrilete nos seus iltimos 30 em (Gouza etal, 1998). Segundo’ Baillot & Ribeiro Jinior (1999), o indice SPT é resultado da in- teragdo entre pessoas, eauipamentos € condigSes ambientais. Em virtude da impossibilidade de manter constantes a8 diversas varldveis existentes, 08 re- sultados embutem uma variabilidade intrinseca, De forma geral, estas varia- [MARCELO DENSER MONTEIRO™ FABRICIAMASSONI"* HUGO CASSIO ROCHA®** FRANCISCO RIBEIRO NETO™** ‘bes podem ser agrupadas em dois tips: vatiagdes provocadas por equipamentos ¢ variagdes associadas & falha e/ou subjet vidade hua Em pesquisa desenvolvida por Caval- ccante et al, (2006) sobre desvios da not- ‘ma do SPT (NBR 6484 - 200!) praticados ‘por empresas de sondagem brasileiras, foi mostrado que os principais erros referem- ‘se a0s equipamentos utilizados ¢ aos pro- ccegimentos adotados, que tém influéncia direta na resistencia & penetracio medi- dda, Destaca-se 0 controle adequado da altura de queda do martelo, 0 ndo uso do ‘oxim de madeira, cabeca de bater fora {do padrio, hastes com comprimentos, di- metros € composi¢do variados, além de efeitos na sapata (bico) do amostrador. Outro aspecto observado foi a auséncia de gedlogo/engenheiro supervisionando (0s servigas em campo. LEVANTAMENTO DOS PROBLEMAS ENFRENTADOS AA equipe de geotecnia do Metrd de Sao Paulo, por meio de sua fiscalizagao de campo, detectou problemas e dificul- dades relacionados & execugio do servigo de sondagem 3 percussio com ensaio SPT, onde se destacam 0s pontos abaixo. a) Velocidades excessivas de execusdo das sondagens, comprometendo a quali- dade dos resultados. Com base na expe- rigncia acumulada pelo Mett, foi esta- belecida uma produtividade média de 7 (dia para a execucdo de sondagens de simples reconhecimento com boa quali- dade para sondagens de comprimentos médios de 35 m. b) Bombas com capacidades incompa ‘eis com a profundidade das sondagens (lavagem ineficiente); conduzindo a for- ‘magio de “bucha” (material solto da pa- rede(fundo da sondagem com agua da perfuragio). Em alguns casos, a quan tidade de “bucha” observada foi tao ‘grande que 0 amostrador estava_com- pletamente preenchido (figura 3). A boa lavagem permite a devida limpeza do furo, fator fundamental para a correta ‘execucio do ensaio (figura 4). €} Uso de bico do amostrador dani- ficado (com ranhuras ou amassado), que pode alterar o niimero de golpes no ensaio SPT, pois a presenga de de- formagBes nesta pega oferece maior resistencia & cravagdo do amostrador (figura 5). Para comparagio, o equipa- mento em boas condigées ¢ apresenta- do na figura 6 <6) Martelo sem coxim de madeira ou com coxim ineieiente, proporcionando a ocor- rencia de repique figuras 7 8). «)“Estimativa” do mimero de gop (valor {60 SPT), realizando-se a perfuragio con- Figura 1 -lustracao do ensaio SPT (fonte: Schnaid, 2000) sore brasilengenhetia. com br Figura 2- Queda do martelo durante ensalo SPT (fonte: Metrd-SP) tinua por lavagem € o ensaio SPT somen- te feito quanto havia mudanga litolégica, ‘buscando maior velocidade de execusso. f) Falta de controle da altura de queda do peso na realizagdo do ensaio SPT. 4) Falta de controle da cota exata de reali- zagio do ensaio. ATUACAO DO METRO-SP PARA GARANTIR A QUALIDADE DOS SERVICOS 0s problemas acima deseritos precisa ser identificados,controlados e cortgidos, ‘pois ¢inaceitivel planejar e tomar decisbes de projeto baseadas em dados geoldgicos €€ geotécnicas nfo confidveis. Com a ci- Figura 3- Amostradorpreenchido por “bucha’,indicando procedimentoincorreto de execu (fonte: Metr6-SP) éncia da importincia da correta execugio dos servigos de sondagem, a equipe de ge- ‘otecnia do Metré de Sio Paulo tem atuado incisivamente na fiscalizagdo das ativida- ddes de campo para que as campanhas de inyestigag3o geoldgico-geotécnica sigam as normas procedimentes estabeleci- dos, obtendo-se assim um resultado que represente o mais fielmente possivel as caracteristicas do subsolo estudado. Esta atuagio é feita por meio de duas linhas de trabalho. 1) Verificacao das condigdes dos equipa- ‘mentos € seus componentes A fiscalizago de campo inspeclona (0s equipamentos com o intuito de asse- gurar que apenas os que estiverem em plenas condigdes de operagao estejam fem suas frentes de servigos. Iki também 4 verificagdo dos componentes do sis- tema de sondagem, como hastes, amos tradores, martelos, cordas, ferramentas, entre outros, orientando que estes este~ Jam de acordo com 0 preconizado pela 'NBR 6.484 e pelo Manual de Sondagens da ABGE, Uma vez que sejam identificados equi- ppamentos que nao atendam aos documen- tos requladores, as equipes de campo sto instruidas para a substituig3o ou reparo do item em desacordo e as empresas sho comunicadas para que prestem o apoio necessitio para a regularizagao ¢ libera- lo do servigo. Sio realizadas reunides entre a equi- pe de geotecnia do Metrd de S30 Paulo e representantes das dreas técnica € opera cional das empresas fornecedoras de son- dagens, onde a exigéncia de que os equi- ppamentos estejam em devidas condigdes de uso scja atendida. 2) Orientagio para correcdo de falha e/ fou subjetividade humana A fiscalizago de campo repassa com cada equipe de sondagem todos os pro- cedimentos necessérios para a correta Figura 4-Amostrador sem "bucha ‘garantindo condiéesfavordvels para ensaio SPT fonte: Metr0P) execugo em campo, Quando consta- tada alguma irregularidade, 0 servigo é interrompido ea equipe € orientada para 2 prevencdo do errojfalha. Em caso de reincidéncia, a area técnica da fornece~ dora € acionada para reforcar as orienta~ ‘bes do Metrd. [As empresas fornecedoras de sonda- gens so, em alguns casos, orientadas a promover a reciclagem do conhecimento de suas equipes, favorecendo o aperfei- ‘goamento das seus funciondrios e, con- sequentemente, a melhoria dos servigos prestados, SISTEMA DE AVALIACAO DA QUALIDADE DAS SONDAGENS Paralelamente as iniciativas supra- citadas, no contexto da busca pela qua lidade dos servigos de sondagens, Mas- soni et al. (2008) elaborou um sistema de avaliagdo que se baseia no acomp: nhamento dos servigos nas etapas de campo, de anilise € classificagdo em laboratério ¢ de apresentagio dos re~ sultados. Em cada uma destas etapas, a avaliagio € feita com o auxilio de check lists (listas de verificag3o), aos quais se associa um sistema de notas para cada item avaliado. Em campo 0 procedimento de andlise consiste da fiscalizagdo do cumprimento dos procedimentos ¢ do uso de equipa: rmentos previstos na norma brasileira e nna especificagdo técnica do Metré. No laboratério é avaliada o cumprimento da norma com relaclo a descrigdo e classifi= cago das amostras e & acurdcia na and- lise destas. 0 sistema tem por objetivo uniformi- zar 0 critério de avaliagdo © de quantifi- cago da qualidade das sondagens, com Vistas a aceitagio final destas, 0s critérios adotados para as avai ‘Bes das sondagens do Metr0 de Sd Pau- To foram estabelecidos com base na norma Figura 5 Bico do amostrador amassado, desrespeitandoa NBR 6484 2001 (fonte: Metr-SP) 12 Figura 6- Bico do amostradorem boas condicées (fone: Metr6-SP) brasileira para execugdo de sondagem de simples reconhecimento NBR-6.484/ 2001, no Manual de Sondagens da ABGE © também na especificagdo téenica do Metré, Foram selecionados pardmettos a se- rem analisidos na fase de execugdo da sondagem, na fase de anilise ¢ classifica (lo das amostras em laboratério e na fase de apresentagdo dos resultados no Perfil Individual Sondagem, cujos critérios de andlise de alguns destes pardmetros sfo descritos a seguir Fase de execugao Acondicionamento de amostras - As amostras devem ser acondicionadas em recipientes herméticos € de dimensdes apropriadas e que contenham fécil identi- Fleago das mesmas Leituras de niveis d’igua - Em obras subterrineas, muitas vezes torna-se es- sencial 0 conhecimento da existéncia de mais de um nivel diigua como também «a carga piezomeétrica de cada nivel. Além disso, a experiencia do Metrd tem mos- trado que 0 tempo estabelecido pela NBR 6.484/2001, muitas vezes, & insuficiente para a estabilizagio do nivel digua em tum furo de sondagem assim que este & ddetectado. Desta forma, a especificagdo técnica do Metro estabelece procedimen- Figura 7- Martelo comcoxim Inefidente, onde hd fovorecimento@ ocorréncia de repique fonte: Metrd-5) tos de leituras de nivels agua distintos ‘da NBR 6.484/2001, 0s quais sho aprese tados a seguir 1) Quando uma sondagem atingir um nivel ‘agua, deverd ser aguardada a sua esta lizagdo durante 120 minutos, no minimo, realizando-se ts leituras a cada 10 n nutos, duas leituras a cada 15 minutos € ‘duas leituras a cada 30 minutos. A esta lizagdo seri caracterizada por trés leituras consecutivas iguais com intervalo de 30 minutos entre elas 2) Para todas as leituras de nivel d'dgua deverdo sempre ser registrados a data, a hora, a profundidade do furo, a posiglo do revestimento ¢ eventuals dados com- plementates, Todos os dados deverdo ser mnotados na tabela-padrao. 3) Antes do encerramento da jomada di via de trabalho, o furo deverd ser esgotado, ‘anotando-se o nivel diigua atingido © as, respectivas profundidades da sondagem « ‘do revestimento, Se o furo estiver em mate- rial muito permedivel,em que o esgotamento for dificil ou impossivel, este ser feito, pelo menos, até dois metros abaixo do primeiro nivel d'igua registrado. No dia seguinte, an- tes do inicio dos trabalhos deverd ser reali- zada nova letura do nivel d'igua. 4) Quando for necessitio determinar os niveis d'igua de todos os aquiferosencon- trados (confinados, artesianos, empoleira- dos), deverdo ser isolados dos niveis su- periores pela cravacio do revestimento ma camada impermeavel. Estes niveis d'Sgua ‘devem, também, ser estabiizados confor- me critério acima, 5) Para confirmar o nivel d'igua a0 tér- mino da sondagem, deveré ser efetuado novo esgotamento do furo aguardando-se 2 estabilizag3o do mesmo, conforme pro- cedimento acima, apés 0 qual o reves mento poders ser retirado. 6) Nao io aceitas sondagens sem medidas de nivel d’gua ou incompletas. Velocidade de execugio - A experitneia do Metrd com sondagens de simples re- conhecimento com SPT para os solos pa~ Tedgenos (0 termo terciirio estd em de- suso) da Bacia Sedimentar de S30 Paulo revela que as sondagens bem executadas realizadas nestes solos apresentam uma produtividade média de 7 metros por dia. Esta média foi obtida analisando-se um grande nimero de sondagens que foram bem executadas em varias campanhas de sondagens para o Metr Desta forma, as sondagens que apre- sentam produtividade muito acima da média podem ser penalizadas, eventual- nte descartadas. Obviamente, € possi- vel executar sondagens rasas em malores velocidades. Nas. sondagens profundas, entretanto, velocidades altas (de maneira geral) indicam baixa qualidade executiva, cexceto quando slo utilizados equipamen= tos mecanizados Preenchimento de folha de campo - 0s booletins de campo devem ser encaminha- dos a0 cliente sem que sofram qualquer alterago ou corrego ao término da son- ddagem, seja por parte do sondador, ou por parte do laboratorista, garantindo a a permanéncia da informago.primari Também no s4o aceitos os boletins pas- sados a limpo. Nos boletins devem constar todas as informagdes colhidas durante a ‘execugdo da sondagem ou provedimentos eespeciais empregados. A avaliagdo € reali- zada observando se os campos do boleti foram devidamente preenchidos pelo sor dador ou equipe de fiscalizagdo do Met. Fase deandlisee classificagao das amostras “Amostras a serem analisadas - As amos- tras do bico do amostrador padio deve set, primordialmente, os objetos de andli- ses. Nos casos em que haja mudanca de camada junto 4 cota de execugio do SPT ‘ou quando quantidade de solo prove- niente do bico do amostrador padrio for insuficiente para a sua clasificagdo, eco- rmenda-se também 0 armazenamento de amostras colhidas do corpo do amostrador padrio. Nestas condig&es, todas as carac- teristicas distintas das caractersticas da mostra coletada junto ao bico do amos- trador padro devem fazer parte do Perfil Individual de Sondage Chassificagao téetil-visual ~ Neste item € avaliada a classificagdo tictil-visual da amostra. A clasificag3o_gramulométrica a partir da avaliagio téctil-visual deve ser realizada, identificando as fragdes de Fins (argila€ site} solos grosseiros (ateias € pedregulhos). A consisténcia ¢ a Figura 8- Martelocomcoxim inefciente, ‘onde ha favarecimento@ocorréncia de repique fonte: Metro-SP) ‘rw brsedengenheria com be

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