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Como

fotografar
sem repetir os
velhos erros
de todo
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Como fotografar sem repetir os velhos erros de todo mundo

O mote desta série de artigos, iniciada na MAC+ 28, é: hoje em


dia, todo mundo fotografa. E a maioria das pessoas anda para
todo lado com pequenas câmeras de bolso (as compactas ou
"saboneteiras"), tecnicamente limitadas, porém versáteis,
sempre prontas para capturar um flagrante. O resultado dessa
orgia fotográfica generalizada é um oceano de fotos caseiras na
internet: Blogger, orkut, Fotolog, Twitter, Facebook, Plaxo,
Flickr, Picasa, MSN Live (sim, até mesmo esse), além de locais
menos famosos.

Entre todas essas citadas, muitas estão mais interessadas na


persistência da memória, por isso acabam imprimindo as
melhores fotos em papel e montando álbuns ao estilo
tradicional (aguarde mais sobre esse assunto em um artigo
futuro). Tecnologia e tradição andam, nesse caso, juntas.

Porém, há uma coisa que a tecnologia ainda não conseguiu


solucionar: os erros de captura comuns que muitos usuários
comete. Você preenche diligentemente seu cartão de memória
de 4 GB a cada noitada, viagem e fim de semana. Mas essa
atividade toda está rendendo o que deveria em imagens
emocionantes? Como é que você fica sabendo se a sua técnica
evoluiu?

Ao analisar milhares de fotos caseiras, você começa a detectar


alguns erros recorrentes, que as pessoas eventualmente
cometem e que não estão necessariamente ligados a falhas
técnicas de fotometria ou foco. Esses erros podem até ser
reunidos em um conjunto de problemas fundamentais da
fotografia, apelidados aqui de "12 Pecados". Leia e reflita.

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1 Enquadramento centralizado no assunto, esquecendo a
composição da cena

É a "visão de túnel": na
excitação de capturar o
momento, a pessoa só
enxerga a área central do
campo de imagem e ignora
todo o resto, enquadrando
cenas bonitas de maneira
desleixada. Todo mundo, inclusive eu, você e sua mãe, já fez
alguma dessas fotos na qual o assunto da foto é uma pessoa,
mas ela está plantada como um poste exatamente centro da
foto, dividindo o quadro simetricamente em duas vastas massas
visuais. Soluções: aprenda a compor de maneira
descentralizada. Aprenda a fazer retratos na vertical.

2 Objetos estranhos interferindo com o assunto principal

Esse erro é uma extensão do


primeiro. Fundos que distraem,
fundos sem contraste, fundos
com luz melhor que a do
assunto da imagem, objetos que
poderiam perfeitamente ser
deixados fora da composição,
pedaços de dedos e cabeças de
pessoas de costas na frente do
assunto. Quase sempre é possível
caminhar um pouco e achar um
novo ângulo que resulte mais
limpo. Ou então, se a lente
permitir, forçar o desfoque do
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fundo com uma abertura generosa.

3 Horizonte desnivelado

É impressionante, mas
a maioria das pessoas
que fotografa sem
maiores ambições não
tem a mais rudimentar
noção de prumo. Não
é por não prestarem
atenção a essa questão
que devam ignorá-la,
pois serão os pobres olhos dos seus amigos a serem feridos por
tais imagens tortas. Está clara a necessidade de a indústria
fotográfica dar um passo além das perfumarias do momento,
como detecção de rosto e vídeo HD, e incluir nas câmeras
amadoras uma função verdadeiramente útil: autonivelamento
do sensor.

4 Captura precipitada

A pessoa vê uma cena


estática e tranqüila e
clica afobadamente a
partir de onde está, sem
se preocupar em
encontrar um ângulo
que faça mais sentido. A
foto resultante é um
registro de que se esteve
naquele lugar, mas não comunica absolutamente mais nada
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interessante. Em fotos tiradas de dentro de um ônibus turístico
a toda velocidade, ainda dá para compreender e perdoar. Em
um passeio de fotoclube a pé, não. Outra falha desse gênero,
típica de newsletters corporativas, são as fotos de gente de
costas, em que há um considerável número de pessoas de costas
para o fotógrafo. Nessas imagens, o verdadeiro assunto não são
essas pessoas, mas o local para onde elas estão olhando. Diante
disso, elas poderiam ficar fora da composição.

5 Luz do dia ruim

Câmeras digitais, especialmente compactas, têm sérias


dificuldades para registrar a gama de tons de uma cena muito
contrastada, como uma externa com luz direta do sol. Se
houver ao alcance um programa de edição de imagem, uma
curva de contraste pode ajudar a disfarçar as altas luzes
estouradas e ressuscitar o detalhe perdido nas sombras. Mas não
dá para fazer milagres. O correto é escolher um horário de luz
decente para bater a foto. Ou, então, carregar por aí um
rebatedor e uma unidade de flash externo. Opa, será que aí
continua sendo fotografia amadora?
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6 Objetos distantes demais
Não consegue
entender coisa
alguma da foto?
Chegue perto do
assunto. Se não der,
use o zoom. Hoje
em dia, todas as
câmeras compactas
têm um belíssimo
zoom. As mais
baratas ampliam até
3X, as caras chegam a 18X. Há dez anos, essa potência de zoom
exigia equipamentos profissionais enormes, que custavam vinte
vezes mais, e hoje o recurso cabe na sua compacta. Não há mais
desculpa para continuar fazendo aquelas fotos típicas das velhas
point & shoots de lente fixa de 35mm, que consistiam em
vastos campos salpicados de detalhezinhos minúsculos.

7 Pessoas com mãos, pés e cabeça cortados

Se é para ser retrato de corpo inteiro,


que seja – literalmente. Se é para ser um
plano parcial, isso tem de estar bem
definido. Se tem braço inteiro, precisa
ter mão. Ah, é que a pessoa está tão
lindinha nessa foto que você torce para
ninguém reparar na mancada? Refaça o
corte mais fechado. Não rolou? Resigne-
se, exclua a imagem do álbum e tenha
mais cuidado na próxima oportunidade.

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8 Clarão redundante de flash ou do sol

É p ro f u n d a m e n t e
irritante quando a luz
do flash atinge uma
superfície refletora no
fundo e carimba um
clarão totalmente
gratuito na contraluz.
Ou então, as pessoas
retratadas são
transformadas em
estátuas de mármore. Cálculos de cabeça indicam que uns 80%
das fotos amadoras feitas com flash ficariam muito melhores
com ele desligado. Fotos tiradas com o sol quase de frente,
ofuscando a lente, também entram nesta categoria.

9 Foto de cartão postal com ângulo manjadíssimo

Se a imagem do local turístico já existe em


forma de cartão postal, vá à lojinha de
souvenirs e compre-o. A seguir, utilize sua
câmera para criar uma imagem
personalizada e diferente do que todo
mundo já viu.

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10 Assinatura horrível num canto

Se algum
maluco quiser
roubar sua foto
pela internet, a
assinatura não o
impedirá: basta
cortar seu
nominho fora ou
encobri-lo. Além
disso, o texto
distrai o olho do
assunto da foto.
Por fim, a imensa maioria das pessoas simplesmente não tem
bom gosto tipográfico. Pronto, falei. (O exemplo aqui
mostrado, naturalmente, é uma simulação.) Ah, e antes que
alguém esqueça, marcar a data no canto, como se fazia
antigamente, além de desnecessário (toda a foto já vem com
essa informação marcada internamente), pode estragar uma
imagem perfeita. Evite.

11 Lusco-fusco e crepúsculo entulhados

Esse descuido comum


se deve a uma variante
da "visão de túnel": o
fotógrafo fascinado
pela luz colorida do
céu se esquece de
compor a cena,
deixando entrar um
monte de objetos
silhuetados na frente do
assunto: postes, fios elétricos, prédios e outros lixos que
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atrapalham o primeiro plano. Inclua esses elementos no
enquadramento de maneira coerente ou os deixe de fora.

12 Assunto de mau gosto

Aí não há dica que ajude.

Tem coragem de ouvir uma


crítica?
Nem pense em usar Flickr,
Fotolog e Picasa para obter uma
avaliação de suas fotos, pois
esses sites são, em essência, redes
sociais e não páginas
especializadas para análise de
portfolio. Assim, a
camaradagem e o clima de
“conversa de comadres” entre os
membros é a norma natural.
Nunca se vê alguém apontando falhas nas imagens dos outros.
Mesmo quando as pessoas pedem orientação honesta para
melhorar seu trabalho, uma crítica bem-intencionada ali parece
inadequada, rude, fora do lugar. Aspirantes a artistas da luz
perdem suas ambições e acabam viciados no elogio fácil e nas
medalhinhas imaginárias.

A solução, claro, é enviar sua foto para um site em que


fotógrafos profissionais estejam à disposição para criticá-la. Esse
site existe: é o FotoGlobo, blog dos fotógrafos do jornal _O
Globo_. Eles convidam os leitores a enviar suas imagens e,
quando acham falta nelas, baixam a lenha sem dó e sem receio
de ofender ou humilhar. Está bem assim, porque todas as
críticas deles são construtivas. Quem aspira a artista precisa, às
vezes, ouvir o que não quer, senão não cresce.
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Visite e participe do FotoGlobo: http://oglobo.globo.com/
blogs/fotoglobo.

Mario Amaya é fotógrafo. E este é o único lugar na imprensa


brasileira onde ele teve coragem de expor tantas fotos que
deram absolutamente errado.

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