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A definição de Felicidade (ou o conceito da Eudaimonia), Harry Edmar Schulz 1

A DEFINIÇÃO

DE FELICIDADE

(ou o conceito da Eudaimonia)

Harry Edmar Schulz

Esboço inicial de Dezembro de 2011


Texto final de Março de 2012

São Carlos, 2012.


Projeto: Humanização como ferramenta de aumento de interesse nas exatas.
A definição de Felicidade (ou o conceito da Eudaimonia), Harry Edmar Schulz 2

Prefácio
Estudar os textos atribuídos a autores antigos como
Platão e Aristóteles é um exercício que exige inclinação
para esta leitura e uma dose de paciência. Isto porque a
forma desses textos traz muitas repetições, muitas idéias
tratadas seguidas vezes, mas de pontos de vista algo
diferentes, ou muitos pensamentos semelhantes antes de
apresentar a conclusão. Evidentemente as personalidades
com inclinação para esta forma de exposição considerarão
a leitura prezerosa, encontrando seu ambiente natural na
exploração dos sentidos de cada variação do mesmo tema.
Na atual sociedade, onde a infomação objetiva e
rápida é almejada, com premissas e conclusões claras e
bem direcionadas, o rebuscar dos conceitos pode tornar-se
uma atividade penosa, na qual a própria função prática
deste rebuscar pode ser questionada. Assim, pode-se
perguntar: em que sentido a discussão em torno da
definição de felicidade segundo a Ética a Nicômaco pode
ajudar no desenvolvimento sustentável das sociedades
atuais? Por exemplo, considerando a necessidade de um
jovem de se estabelecer seguramente em uma sociedade
que vê saturar seus modelos de sustentabilidade, pode-se
perguntar se há condições de sobrevivência adequada nesse
contexto saturado. Nessa situação, conhecer a forma de
pensamento que permeava discussões entre uma pequena
parcela da elite grega de mais de dois milênios atrás pode
auxiliar este jovem a sobreviver?
A resposta relativa à sobrevivência em geral é um
“não” muito claro. Discutir o pensamento antigo não
acrescenta ferramentas ao jovem em geral para sustentar-se
na nossa sociedade, como atualmente organizada. A
discussão desse pensamento é mais útil à manutenção do

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próprio pensamento, ou seja, permitir que as idéias antigas


não sejam esquecidas, para não termos que eventualmente
tatear gerando ou redescobrindo conceitos que já foram
discutidos e “catalogados”. Assim, a praticidade ou a
aplicação efetiva dá lugar à manutenção dos conceitos
como “história do conhecimento”. Não se pode, todavia,
descartar esse conjunto histórico de discussões como uma
“inutilidade”, porque houveram momentos em que foram
relevantes no direcionamento do pensamento que motivou
as sociedades. Seu registro, vinculado a esses momentos,
permite comparações entre situações semelhantes,
eventualmente futuras, habilitando, então, sua rediscussão
e eventual aplicação, adaptado a uma nova situação.
Assim, o jovem em geral, se pretende tomar parte
das evoluções tecnológicas das sociedades atuais,
produzindo e criando as ferramentas práticas dessa
sociedade, não encontrará na rediscussão de conceitos
como a “felicidade” os meios para esta participação. Mas o
jovem em particular, cuja personalidade tem inclinação
para a leitura, discussão e rediscussão de conceitos
desenvolvidos ao longo da história, poderá compor um
conjunto de acadêmicos que manterá este tipo de
conhecimento.
A observação dos parágrafos anteriores é feita
vinculada ao contexto atual. Adicionalmente, eu o vinculo
ao projeto “Humanização como ferramenta de aumento de
interesse nas exatas”, onde a utilidade dessa discussão e
rediscussão é testada na busca de melhores meios de
transmitir idéias complexas aos jovens que buscam na área
de Ciências Exatas o seu meio de sobrevivência. O
ambiente dessa aplicação é, portanto, acadêmico, restrito
ao interesse de melhor ministrar aulas e “ativar o interesse”
do aluno pela atividade intelectual e pela resolução de
problemas em sua futura atividade profissional.

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No tocante à antiguidade dos textos em si, o


presente estudo discorre sobre um conjunto de informações
bibliográficas no qual estão contidas notas desde a
legitimidade até a idade dos manuscritos. Nesse caso, não
há conclusão própria, as quais necessitariam um rebuscar
muito maior dos textos e dos cruzamentos de informações
que os legitimam. Interessante, no conjunto de informações
disponíveis, é a possibilidade de os textos estarem
contaminados com comentários e observações dos copistas,
o que, de certa forma, cria um vínculo com os diferentes
pontos de vista, ou rediscussões de um conceito,
observados em um mesmo texto antigo.
No tocante à definição da felicidade segundo à
Ética a Nicômaco, fez-se inicialmente um resumo das
idéias contidas no primeiro livor do capítulo 1, apresentou-
se um fluxograma, de modo que uma impressão visual
permitisse o trânsito pelas discussões, e, então, partiu-se
para a justificação contida no próprio texto da Ética a
Nicômaco. Este exercício de justificação, após já efetuado
o resumo e tendo-se, portanto, atingido o entendimento, é a
característica “menos atualizada” desse conjunto de passos,
ou seja, que confere uma morosidade usualmente
indesejada no contexto atual de rapidez de troca de
informações.
No presente texto, não se buscou comentar as
posições contidas na Ética a Nicômaco. Apenas comparou-
se o entendimento com autores e comentadores
encontrados na literatura da área, efetuando, portanto, um
exercício de rediscussão. Isto foi feito porque se reconhece
que o universo no qual o conceito é aplicado é um universo
já tornado restrito pelas condições que são adicionadas ao
longo da leitura. Se se desconsiderar as condições, a
definição tem que ser rediscutida com muito maior vagar.

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Caso hajam questões sobre a maneira como esta


leitura foi conduzida, por favor entrar em contato com o
presente autor, através de heschulz@sc.usp.br, ou
harry.schulz@pq.cnpq.br.

Harry Edmar Schulz


São Carlos, 11 de Março de 2012.
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aumento de interesse nas exatas.

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Sumário

1 – Introdução 8

1.1 – O tema proposto: 8

2 - Elementos Pré-Textuais 10

2.1 - Uma nota sobre o interesse no 10


tema
2.2 – Entendimento do texto 12

2.2.1 – Apresentação esquemáti-


ca dos passos da Ética a 12
Nicômaco para a felicidade
2.2.2 – O auxílio ao entendimen-
15
to: o uso de comentadores
2.3 – Os textos através de uma um
18
tanto nebulosa história
2.3.1 – Nota acerca de textos
históricos e relevantes – 18
Aristóteles
2.3.2 – Nota acerca da correta 27
interpretação

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3 – Elementos Textuais 30

3.1 – Descrição das passagens que 31


evidenciam os passos da definição
3.1.1 – Alíneas i e ii do item 2.2.1 31

3.1.2 – Alienas iii e iv do item 33


2.2.1
3.1.3 – Alíneas v e vi do item 36
2.2.1
3 1.4 – Alínea vii do item 2.2.1 41

4 – Conclusão: 44

5 – Bibliografia 46

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Objeto de Estudo:
Ética a Nicômaco, Li-
vro Primeiro, Capítu-
lo Primeiro

1 - Introdução
1 1– O tema proposto
O tema considera o conceito de felicidade segundo
o primeiro capítulo do primeiro livro da Ética a Nicômaco.
O tema é desenvolvido a partir da leitura do capítulo, sua
apreensão seguindo as considerações próprias e pessoais
(isto é, o exercício intelectual que acompanha qualquer
leitura interpretativa), com comparação (concomitante ou
posterior) com as idéias desenvolvidas por comentadores
que se ocuparam com o mesmo tema.

Frisa-se que não são feitos comentários que


questionem o desenrolar da definição, uma vez que o seu
universo de validade é apresentado no próprio texto. A
felicidade se configura, nesta definição, como uma
atividade que está sujeita a condições para que possa ser
atingida. O universo no qual a idéia se desenvolve,
portanto, passa a ter os contornos definidos pelas condições
sucessivamente apresentadas. Uma vez que o leitor é
levado a considerar esses contornos para que possa atingir
o conceito, conforme definido, pode aventar, durante a
leitura, a possibilidade de que este universo seja restritivo a

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ponto de não ser realizável, ou seja, de constituir um


universo ideal teórico e fictício. Nesse caso, pode-se
eventualmente perguntar se a própria definição tem algum
interesse que não seja retórico.

Entretanto, uma eventual busca de uma resposta a


qualquer pergunta elaborada neste sentido exige, sem
dúvida, que um primeiro esforço se direcione ao
entendimento da própria definição proposta no texto, ou
seja, da felicidade. Assim, as leituras foram efetuadas
visando esse objetivo melhor especificado.

Para a resposta acerca do interesse da definição


falta-me no momento engenho e arte (parafraseando um
poeta lusitano), mas segue-se o esforço de um iniciante
para se entremear por um texto escrito em uma época em
que a necessidade de depositar em papel o entendimento de
uma sociedade que se organizava era muito grande, texto
este eventualmente redigido por muitas mãos, já entendido
por outras tantas cabeças e com a idéia motora aqui
assimilada, quero crer, através das leituras efetuadas.

Menciona-se que um texto de origem tão antiga


suscita também questionamentos paralelos, que não se
vinculam ao tema discutido, mas talvez ao trajeto deste
texto na história, seu vínculo com a proposta original, sua
credibilidade, enfim, assuntos que excitam a curiosidade do
iniciante. Entendo que tal curiosidade não deve ser calada,
ou oprimida, enquanto causa motivadora para entender o
próprio texto. Assim, o presente estudo possui duas partes,
a primeira denominada de Elementos Pré-Textuais, que
trata de alguns aspectos desses temas paralelos, e a
segunda denominada de Elementos Textuais, que trata do
tema propriamente dito.

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2 – Elementos Pré-Textuais
2.1– Uma nota sobre o interesse no tema
A menção da eventual ausência de um interesse
mais abrangente, ou talvez aplicativo (no caso de minha
própria motivação), faz com que talvez seja necessário
exemplificar essa menção. Ainda que qualquer afirmação
possa ser entendida como “conhecimento”, podendo ser
posta à prova e discutida, a sua importância mais básica
possivelmente estará atrelada à aplicabilidade às atividades
humanas e sua capacidade de gerar mais conhecimento. É
com esse sentido que busco um entendimento maior da
formação dos conceitos, de modo a auxiliar na transmissão
dos mesmos em minha atividade.

Como exemplo de uso de conceitos menciona-se


rapidamente o conhecido período Song, no qual a China
apresentou um acelerado avanço como sociedade
organizada, procurando garantir um alto padrão ético de
seus servidores públicos, utilizando censores e encarrega-
dos de queixas oficiais. Conforme o texto “Império
Ilustrado Chinês”, impresso em Português sob direção de
Siewers (1990), as diferentes formas de corrupção podiam
ser levadas a juízo, para todos os níveis da administração.
O Departamento de Reclamações vigiava o próprio
imperador. A China despontava no mundo quanto ao
refinamento de sua civilização. A educação e a alfabetiza-
ção foram privilegiadas. A xilogravura (impressão em
papel utilizando uma tábua entalhada com o texto da
página, técnica conhecida há séculos) permitia a publicação
em larga escala de livros. Os números de cópias publicadas

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impressionam e os temas iam desde os textos e figuras


budistas, dicionários, almanaques, obras de agricultura,
obras de medicina e filosofia (confucionismo e o já
mencionado budismo). Em torno de 1040 Bi Sheng
inventou a impressão por caracteres isolados, mas que não
teve repercussão grande porque a língua possuía mais de
quarenta mil caracteres, mantendo-se a xilogravura como
forma principal de impressão. (Na Europa, o número
restrito de caracteres tornou viável a impressão com
caracteres isolados, como demonstrou Gutenberg). A nota
importante neste recorte específico da história humana é
que “a facilidade de acesso aos textos, combinada com as
exigências do sistema educacional, deram nova vida aos
estudos da filosofia de Confúcio, que nos séculos
anteriores aos Song haviam se tornado um domínio um
tanto acadêmico, relegados à memorização para os
exames e à exegese estéril, enquanto o budismo e o
taoísmo atraíam a atenção dos intelectuais mais vivos.
Com sua elite de administradores altamente educados, no
entanto, a China dos Song precisava de uma escola de
pensamento que se voltasse para a vida neste mundo. Os
intelectuais interessaram-se novamente pela ênfase secular
do confucionismo sobre a vida moral do homem e seu
papel na sociedade. Defendendo tanto as atividades
sociais como o cultivo do eu, a doutrina revivida era ideal
para os funcionários-eruditos do período Song.” (ver
Siewers, 1990, diretor da impressão em Português do texto
“Império Ilustrado Chinês”, nas páginas 27 a 30).

Verifica-se, no final do parágrafo anterior, o


vínculo entre conhecimento e sua aplicabilidade anterior-
mente mencionado, com o qual busco nortear o meu
deslocamento iniciante através das afirmações filosóficas.
Particularmente, observa-se a aplicabilidade de conceitos

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vinculados “à vida moral do homem e seu papel na


sociedade”, um tema próximo da discussão observada no
texto objeto do presente estudo. No exemplo aqui relatado,
a não-aplicabilidade está ilustrada pelos termos
“memorização” e “exegese estéril”, inferidas como
características “um tanto acadêmicas”. Adicionalmente,
nota-se um movimento no qual uma linha filosófica
vinculada à mencionada moralidade homem/sociedade
mostra-se relevante para catalisar um novo período de
florescimento de uma civilização antiga. Entendo que,
havendo acontecimentos que podem ser analisados a
posteriori em um conglomerado humano que já conta com
5000 anos, em comparação com acontecimentos do
conglomerado humano ocidental, que possui registros que
se voltam a até cerca de 2500 anos, os paralelismos podem
nos habilitar melhor para eventualmente interferir na
direção das sociedades daqui para diante. Não se trata de
seguir um socialismo histórico, ou coisa do gênero, mas de
procurar aprender com os registros que já dispomos (sem,
entretanto, revivê-los).

2.2 – Entendimento do texto


2.2.1 – Apresentação esquemática dos passos
da Ética a Nicômaco para a felicidade
Foi preparado o seguinte conjunto de idéias, que
apresentam resumidamente as considerações acerca da
felicidade no Livro 1 da Ética a Nicômaco:

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i – As ações humanas visam bens.


ii – Como as ações posteriores às que visam um
bem também visam um bem, deve haver um bem maior,
apresentado como o objeto da ciência política.
iii – A felicidade surge como o bem maior a atingir.
iv – A felicidade é uma atividade. Agir
virtuosamente nos leva à felicidade.
v – A felicidade necessita de bens externos, meios,
para ser atingida.
vi – Ações virtuosas e meios são necessários ao
longo de toda a vida.
vii – Felicidade: agir conforme a virtude
perfeita, suficientemente provido de bens, por toda a
vida. (Ética - 1101 a 15).

Entende-se que este conjunto de idéias resume as


conclusões das argumentações do primeiro livro da Ética a
Nicômaco, tendo-se ainda gerado e apresentado o
fluxograma da Figura 1, com o intuito de criar uma
impressão visual deste resumo de conclusões.

(Aposto do presente autor: O uso de esquemas


gráficos elucidativos é bastante raro nos textos de filosofia,
fazendo com que a palavra escrita tenha que estabelecer
todos os vínculos entre os diferentes conceitos trabalhados
pelo autor. Entendo que o uso de esquemas gráficos pode
simplificar bastante o trânsito pelas idéias dos diferentes
autores, sendo um artifício que, defendo, deveria ser mais
explorado pelo menos nas obras de comentadores, que
visam esclarecer os vínculos que enxergaram no texto
original. Esquemas gráficos permitem entender a estrutura
da construção do raciocínio e o fluxo das idéias pretendido
pelo autor. )

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Figura 1: Fluxograma dos passos seguidos na apresentação


da definição da Felicidade (passos i a vii).

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2.2.2 – O auxílio ao entendimento: o uso de


comentadores
A necessidade de utilizar comentadores evidente-
mente leva o iniciante à pergunta acerca da validade dos
comentários dos diferentes estudiosos. Em que medida
cada comentário se volta ao conceito que se pretende
elucidar ou à idéia do conceito que está vinculada ao
próprio comentador? Havendo comentários que se
contrapõem, qual seria o mais adequado? (Note-se que aqui
apenas se aventam as dúvidas que surgem teoricamente,
não se citando exemplos). Em que medida o texto
traduzido que está sendo estudado reflete a idéia do autor?
Ainda mais adiante: o presumido autor escreveu este texto?
Qual é a idade do manuscrito mais antigo ligado ao
presumido autor? São autor e manuscrito contemporâneos?
Se a resposta à contemporaneidade for negativa, outras
perguntas surgem: como as cópias foram feitas? Há
inserções de outros comentadores nas cópias? Quais
diferentes realidades compõem o texto final?

Deixando de atentar ao passado, o iniciante pode se


deslocar no tempo, e perguntar se a sua própria primeira
avaliação do texto, no presente, segundo seus próprios
primeiros critérios, não é uma seqüência mais natural para
o início do seu aprendizado do que a leitura acumulada de
opiniões anteriores.

E aqui é importante esclarecer que não se defende a


assunção da posição (petulante, sem dúvida) de um alguém
que crê poder entender o que os outros não entenderam.
Mas atentar que pode ser a posição de um alguém
suficientemente humilde que quer antes tentar entender por

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si próprio, do que de antemão direcionar seu raciocínio por


agentes externos, atitude esta que pode criar vícios, regras
invisíveis que, em não sendo reconhecidas, poderão
impedir uma interpretação talvez mais honesta e produtiva
para o seu próprio aprendizado e para o seu futuro
entendimento de outros textos complexos. Nesse caso o
comentador passaria a ser visto melhor como um
auxiliador em “segundo grau”, não uma referência
obrigatória ou em “primeiro grau”.

Finalmente, o iniciante pode voltar-se para o futuro


e perguntar se as opiniões emitidas agora e o próprio
conceito em discussão são úteis àquilo que se poderia
denominar de “desenvolvimento da humanidade”, ou, se
formos mais modestos, “desenvolvimentos das sociedades
organizadas”. Um exercício que poderia ser feito por esse
iniciante seria: se a verdade já foi dita, seja pelos autores de
conceitos, seja pelos seus comentadores, pode-se sugerir
que se aceite esta verdade e, não havendo complementos a
ela, que se fechem os cursos ou as universidades que ainda
discutem essas idéias, porque parece elementar que nada há
para descobrir para além da verdade. Ou então, o exercício
do iniciante pode se deslocar para a idéia de que se
concentrem as atenções sobre temas novos, oriundos das
novas realidades e anseios experimentados por aquilo que
se convencionou denominar de humanidade.

Considerando esse caso, de olhar para o futuro,


creio que se percebe que admitir uma verdade última,
absoluta, impõe um final ao desenvolvimento das idéias.
Se, por sorte (ou azar) for encontrada esta verdade absoluta
(ainda que acidentalmente), atingiu-se tudo o que se
poderia atingir com o desenvolvimento do conhecimento.
Seria uma visão terminal, idealizada, um tanto triste (mas

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colocada aqui de forma algo bem-humorada): uma grande


quantidade de sábios perambulando pelo mundo sem ter o
que fazer, porque tudo já foi feito ou tudo é sabido
(absolutamente). Assim, olhar para o futuro talvez nos
mostre antes que o que se busca é uma maior proximidade
a uma eventual verdade, entendida não como algo
absoluto, mas algo que permita o contínuo incremento do
conhecimento, algo que em sua essência permita que o
acúmulo de experiência (da humanidade, na falta de termo
melhor) seja utilizável na compreensão daquilo que
viermos a considerar relevante. Talvez esse olhar para o
futuro mostre que essa busca exige o pensamento criativo e
não meramente repetitivo, propondo e não só memorizan-
do, evoluindo e não voltando à “exegese estéril” menciona-
da no item 2.1.

Assim, não tenho certeza de que devamos reviver


as discussões do período pré-platônico, discutindo
Heráclito e Parmênides, ou ao período de Platão e
Aristóteles, ou qualquer outra época mais distante (repondo
constantemente a pergunta sobre o que será o verdadeiro
conhecimento: mutável ou imutável, etc.). Embora haja
sempre o esforço de evidenciar os vínculos com os
conceitos então em discussão, creio que interessa antes
verificar como os conceitos resolveram os problemas
havidos e se há sobreposição entre problemas antigos e
novos (a sobreposição seria uma “sorte”, que mostraria se
uma possível solução deve ou não ser tentada), mas as
questões de agora e as soluções de que precisamos devem
ser discutidas a partir de nossa realidade. Sem qualquer
lampejo de arrogância (por favor), alguns podem dizer: já
entendemos a pergunta, precisamos da resposta. No
contexto atual, sou alguém que possui algumas décadas de
“uso” de ideais aplicativos, de busca de soluções para os

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problemas que se apresentam neste momento. Nessa


situação, vejo-me como um crítico de posturas menos
vinculadas ao nosso meio atual (sim, nesse caso o meio
físico), menos atreladas à necessidade de substituir
conceitos (substituição urgente) e procedimentos (ultrapas-
sados). Evidentemente reconheço-me como um “recém-
nascido” no ambiente mais voltado à filosofia (embora o
corpo negue), mas também neste ambiente por vezes tenho
a impressão de que se busca evidenciar ferramentas que
não têm mais utilidade no ambiente atual.

Na falta da certeza, continuo lendo e procurando


atingir as minhas próprias conclusões. Nesse caso, sinto-
me bem, humildemente, com a condição que me fornece a
liberdade de poder concluir.

2.3 – Os textos através de uma um tanto


nebulosa história

2.3.1 – Nota acerca de textos históricos e


relevantes – Aristóteles
No contexto do estudo pessoal, o texto da ética a
Nicômaco é uma motivação a mais para o crescimento em
andamento (admitindo que ainda exista aqui capacidade
instalada para esse crescimento).

Em termos de idade, o texto lido é descrito como


tendo sido elaborado na época de Aristóteles, sendo aceito
como genuíno. Como iniciante no estudo de textos antigos,
entendi que talvez valesse a pena ater-me um pouco ao

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“que significa genuíno, neste caso?” Evidentemente não se


dispõe, nos dias de hoje, de qualquer manuscrito da época
de Aristóteles. Adicionalmente, aventa-se que Aristóteles
não tenha escrito os livros a ele atribuídos, mas que isto
tenha sido feito por seus alunos, ouvindo-o (ver, por
exemplo, Lukáks, http://www.rmki.kfki.hu/~lukaks/
ARISTO3.htm). Ainda mais adiante, um cidadão daquela
época podia possuir escravos escribas, que se ocupavam
desta tarefa. Mesmo perseguindo esses textos escritos por
outras mãos, mas contendo os ensinamentos de Aristóteles,
é mencionado que parte deles (parte acromática ou
esotérica) foi escondida e perdida por algum tempo (cerca
de 200-300 anos), sendo posteriormente redescoberta e
reunida por um “editor” antigo (Andronicus de Rhodes ou
Tyrannion, ou ambos, ver a seqüência do texto). Para que
uma perda total da parte acromática ocorresse, seria
necessário que os escritos dos diferentes alunos ou as
cópias estivessem todos reunidos nesta “perda e
redescoberta”, uma situação curiosa. Em compensação, é
dessa parte que a obra de Aristóteles chegou aos nossos
dias. A parte “exotérica”, destinada ao público, inicialmen-
te era divulgada e “transitava” na sociedade, mas posterior-
mente perdeu-se. A biblioteca de Alexandria é mencionada
como tendo possuído esses escritos (também a biblioteca
de Pergamum é mencionada, saqueada por Marco Antônio,
que enviou esses textos para Cleópatra, ou seja, para a
biblioteca de Alexandria). A biblioteca de Alexandria,
adicionalmente, possui uma história um tanto densa,
relativa ao seu tamanho e à sua destruição. O tamanho, ou
a própria biblioteca, interessantemente não foi mencionado
por Strabo, em 13 AC, uma testemunha ocular da época
(ver, por exemplo, Wikipedia, verbete Geographica, http:
//en.wikipedia.org/wiki/Geographica), em seu relato sobre
Alexandria, em que menciona os cientistas, mas não a

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biblioteca (a referência a Strabo decorre de sua impressio-


nante obra Geographica, composta de 17 volumes, cuja
primeira versão foi publicada não antes de 7 AC). Com
relação ao tamanho, Lukáks (http://www.rmki.kfki.hu/
~lukaks/ARISTO3.htm) menciona J. Hannam (que, entre
outros textos, escreveu God's Philosophers: How the
Medieval World Laid the Foundations of Modern Science,
livro recebido de forma positiva pelos historiadores e que
se contrapõe a posturas preconceituosas relativas à ciência
da idade média) que, em um texto voltado aos escritos
antigos, comenta que o menor número de rolos de
pergaminho foi mencionado por Sêneca (50 DC), sendo
este menor número de quarenta mil, e o maior foi
mencionado por Aulus Gellius (150 DC), sendo este maior
número de setecentos mil (mais de dezessete vezes maior o
número anterior). Quanto à destruição da biblioteca, sete
eventos que eventualmente a destruíram podem ser
encontrados, podendo ser enumerados:

1 – Durante a campanha militar de César, em 47


AC, um incêndio na biblioteca queimou os valiosos
pergaminhos.

2 – O imperador Caracalla puniu Alexandria com


um massacre e saque em 215 DC, quando a biblioteca foi
destruída.

3 – A cidade se revoltou contra o imperador


Aureliano em 273 DC, sendo então saqueada. O quarteirão
do palácio foi transformado em ruínas e também a
biblioteca.

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4 – O imperador Theodosius aboliu os templos


pagãos em 393. Em seguida os cristãos tomaram o
Serapeum (museu) e destruíram a biblioteca.

5 – Em 415 DC a multidão inflamada pelos monges


do bispo Cyryl lincharam a astrônoma pagã Hypatia e
destruíram seu local favorito: a biblioteca.

6 – Os árabes tomaram Alexandria em 641, não


considerando a biblioteca necessária porque a sabedoria de
Alá é simples. Assim, usaram os pergaminhos para aquecer
seus banhos. Os pergaminhos teriam queimado por seis
meses (!)

7 – Os cruzados queimaram a biblioteca.

Uma vez que Strabo, um observador minucioso,


não descreve qualquer grande biblioteca em Alexandria no
ano de 13 AC, há uma probabilidade não desprezível de
que ou ela foi destruída por César (em 47 AC, como
sugerido pela data mais antiga), ou por outras causas, mas
antes de 13 AC. Vale mencionar que o papiro é frágil e que
a manutenção de uma grande biblioteca exigiria um grande
orçamento (a ser constantemente suprido ao longo de toda
a sucessão de mandatários da cidade). Uma grande
biblioteca existiu, mas se foi tão grande quanto a sua fama,
e tão longeva quanto algumas datas sugerem, torna-se
agora difícil de dizer. No caso dos textos de Aristóteles,
trata-se de estabelecer quando as cópias teriam sido
destruídas (em parte talvez) ou retiradas da biblioteca
destruída (novamente, em parte talvez). Considerando a
primeira edição do Corpus Aristotelicum, em torno de 60
AC, há tempo para o mesmo, ou uma cópia sua, estar na

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Projeto: Humanização como ferramenta de aumento de interesse nas exatas.
A definição de Felicidade (ou o conceito da Eudaimonia), Harry Edmar Schulz 22

biblioteca e sofrer com sua destruição em qualquer das


datas aventadas. Quanto mais “antiga” tenha sido esta
destruição, tanto mais tempo existe para que algum
material sobrevivente se perca, ficando mais difícil atestar
que um determinado texto contenha as informações de seu
homônimo da biblioteca. Não obstante, um catálogo das
obras de Aristóteles continuou a existir.

Seguindo uma outra linha, considerando os sites


atualmente ativos na internet e que comparam a idade de
manuscritos bíblicos ainda existentes e de outros livros
famosos, o manuscrito vinculado a Aristóteles mais antigo
é datado de aproximadamente 1400 anos após a época em
que as idéias teriam sido proferidas (há vários sites que
apresentam esse número, em várias línguas. Um exemplo
em Português é http://www.allabouttruth.org/portuguese/
origem-da-biblia-2.htm). Lukáks menciona que o manus-
crito mais antigo de Aristóteles é datado do século X.
Evidentemente entende-se aqui que toda a crítica histórica
relativa aos escritos atribuídos a Aristóteles, talvez mais
vinculada à crítica das fontes (tradição, monumentos,
documentos, segundo a classificação mencionada em Lahr
(1969, pgs. 418 a 426, mas nesse caso apenas voltada aos
documentos), foi efetuada, seja pela parte interna, pela
parte externa, ou pela integridade do documento. Assim,
apoiando-nos na certeza de que as conclusões dessa crítica
são aquelas melhores possíveis, somos levados a acatar a
validade aristotélica dos escritos por ela indicada.

No tempo destinado a este estudo, não consegui


acesso a textos específicos que mostrem os cruzamentos de
informações mais efetivos de diferentes fontes, ao longo da
história, e as indicações de onde se encontram os textos de
referência que asseguram essas informações, as quais

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permitem atestar que um texto sob análise é genuíno. Mas


sem dúvida há textos que informam partes desses
cruzamentos. O Corpus Aristotelicum (Wikipedia, http://pt.
wikipedia.org/wiki/Corpus_aristotelicum), cuja reunião é
remetida ao ano 60 AC, primeiramente editado por
Andronicus de Rhodes (Wikipedia, http://en.wikipedia.org
/wiki/Andronicus_of_Rhodes) ou Tyrannion (Wkipedia,
http://en.wikipedia.org/wiki/Tyrannion_of_Amisus), ou
ambos, é uma das fontes para esses cruzamentos. Outra
seria a Constituição de Atenas, mais conhecida após
fragmentos em papiro terem sido encontrados no Egito em
1891 e datados de 332 a 322 AC (ver, por exemplo, a
informação algo simples de Wikipedia, http://pt.wikipedia.
org/wiki/Constitui%C3%A7%C3%A3o_dos_Atenienses).
Acerca de citações antigas das obras de Aristóteles, há
controvérsias (naturais, pode-se talvez acrescentar) acerca
da validade dessas citações, como mencionado, por
exemplo em Wikipedia (http://fr.wikipedia.org/wiki/
M%C3%A9taphysique_(Aristote)).

O iniciante pode perguntar: e posteriormente aos


períodos grego e romano? Como Aristóteles foi divulgado
pela Europa? Faria (2008) descreve sucintamente, em um
texto para iniciantes, a passagem do mundo antigo ao
mundo medieval, da seguinte forma: “De certa forma
esquecido na Grécia de seus contemporâneos, banido de
Atenas depois da morte de Alexandre, o Grande,
Aristóteles ressurge em toda a sua importância na Europa
medieval do século XII. Os europeus travam contato com
Aristóteles através dos árabes invasores” (grifo nosso). O
salto histórico é, sem dúvida, grande, e um texto mais
elaborado sobre os meandros dos caminhos dos textos de
Aristóteles é, sem dúvida, necessário. Mas, considerando
esta informação resumida, Artistóteles retorna à Europa

São Carlos, 2012.


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A definição de Felicidade (ou o conceito da Eudaimonia), Harry Edmar Schulz 24

através de cópias árabes de seus textos. (Novamente


menciona-se que o tempo destinado a este estudo não me
permitiu verificar quais as diferentes possibilidades de
chegada do pensamento aristotélico à Europa medieval,
mas a vertente árabe parece ser a mais enfatizada).

Por exemplo, Meirinhos (http://ler.letras.up.pt/


uploads/ficheiros/5619.pdf) apresenta uma interessante
resenha acerca do texto árabe da Ética a Nicômaco,
informando:”É conhecida a influência que esta obra de
Aristóteles exerceu em pensadores de língua árabe, em
particular na Idade Média, mas até recentemente
desconhecia-se o texto da tradução árabe medieval. O
único manuscrito, datado de 619 da era de Hégira (Outubro
de 1222 da era de Cristo) tem duas partes separadas e foi
descoberto na Biblioteca de Fez em dois momentos
sucessivos e por dois diferentes arabistas, a primeira parte
no inverno de 1951-1952 por Arthur J. Arberry, a segunda
por Douglas D. Dunlop no Verão de 1959. As duas partes
do manuscrito em papel (Fez, Quarawîyîn, L 2508/80 e L
3043/80), hoje de dimensões diferentes por corte das
margens, tiveram sérias deteriorações desde a sua
descoberta, por vermes e maus cuidados de conservação,
que entretanto tornaram ilegíveis muitos pontos do texto.”

Os manuscritos também são motivo de cobiça de


colecionadores, como pode ser visto na página acerca de
leilão de livros antigos que menciona a Ética de Nicômaco
(http://www.finebooksmagazine.com/press/2011/10/). Em
um anúncio de 31 de Outubro de 2011, lê-se: “Günther
Rare Books at the Dallas Antique Show (…)outstanding
treasures which will invite the audience to dive into a
different universe like in a time travel, taken into the world
of Aristotle (Aristotle, Ethica Nicomachea, translated by

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Projeto: Humanização como ferramenta de aumento de interesse nas exatas.
A definição de Felicidade (ou o conceito da Eudaimonia), Harry Edmar Schulz 25

Leonardo Bruni Aretino; Illuminated manuscript on


vellum. Southern Europe (Italy, Naples, or perhaps Spain),
c. 1458-59, US$975.000).” Ou seja, trata-se de um
manuscrito de 1458-59 avaliado em 975 mil dólares.
Embora sem interesse acadêmico imediato, a existência de
coleções particulares pode representar uma manutenção
eventualmente mais longeva dos textos antigos,
considerando o investimento necessário para esta
manutenção.

Considerando a descrição feita do texto árabe da


Ética a Nicômaco, vê-se que o cuidado para com os textos
antigos é difícil, o que os torna efêmeros. A deterioração
dos textos antigos e a sua complementação posterior por
comentadores é mencionada em diferentes fontes. Como
fato acerca de documentos antigos, temos que os rolos de
pergaminhos tinham que ser copiados, porque se
deterioravam com o uso ou porque eram mal preservados.
Seguindo um texto de Fontes (2003, p. 27-28), “Logo,
porém, foi preciso submeter todo o acervo da Antiguidade
clássica a este tratamento (glossários, notas, obras de
gramáticos, comentadores – nota do presente autor), de
modo que (...) poucos, entre os seus poetas e prosadores,
chegaram até nós sem as competentes notas dos comenta-
dores. Notas que eram chamadas de σχολια=skhólia e
foram publicadas, inicialmente, separadas dos textos: assim
os Comentários de Simplício sobre Aristóteles, os de
Ascônio sobre os discursos de Cícero (...) Em geral,
entretanto, as notas dos antigos comentadores eram
copiadas nas margens dos textos por algum escolista
anônimo, compilador dos trabalhos de seus predecessores,
que ele raramente mencionava. Acrescentemos (...) que
muitos desses comentários ou skhólia são de data posterior
ao manuscrito onde figuram, pertencendo, no mais, a

São Carlos, 2012.


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A definição de Felicidade (ou o conceito da Eudaimonia), Harry Edmar Schulz 26

diferentes mãos. Uma palavra estrangeira ou insólita era


chamada de γλοσσα=glôssa, e sua explicação constituía
um γλωσσηµα= glossema; de onde os termos glosa e
glossário. Geralmente concisas, as glosas eram escritas
acima do códex; e na sequência de transcrições de um
mesmo texto, haveria de ocorrer (...) um fenômeno
saboroso: copistas posteriores confundiam as glosas com o
texto, introduzindo, nele, adições parasitas, que a crítica
moderna procura – deliciada – desalojar de seus esconderi-
jos, para destruí-las e reconstruir a obra original.” (os sinais
gráficos “acentos” não puderam ser introduzidos nas letras
gregas – nota do autor).

Assim, interessantemente estamos estudando um


texto que provavelmente não foi escrito (literalmente) por
Aristóteles, mas, espera-se, por seus alunos. O texto foi
perdido e reencontrado, copiado um número de vezes,
traduzido, podendo ter-se inserido comentários nas
sucessivas cópias. Em que isto pode representar um
empecilho ao estudo do autor mencionado?

Na verdade, não representa um empecilho porque o


estudo passa a ser a idéia central do autor, não seus
detalhes. Se a palavra hoje lida foi proferida de fato no
discurso de Aristóteles, isso não é importante frente ao fato
de que a sua idéia foi discutida e rediscutida, lida e
interpretada de diferentes pontos de vista, e que o resultado
desse processo de rediscussão e reinterpretação está
acessível a nós. Assim, não tem sentido, por exemplo,
enfatizar como “ponto” relevante: “se Aristóteles não
quisesse ter usado ’tal’ palavra, ele teria escolhido outra”,
porque não há como garantir que Aristóteles a tenha
proferido conforme depositado no texto. Esta forma de
discussão torna-se uma exegese estéril (expressão já

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A definição de Felicidade (ou o conceito da Eudaimonia), Harry Edmar Schulz 27

utilizada ao mencionar o crescimento do confucionismo na


época Song, que se contrapunha a essa estagnação), pouco
acrescentando ao entendimento da idéia central. O “ponto”
de convergência da discussão não é, portanto, a palavra,
mas a idéia que emana do texto como um todo.

O fato de que a idéia relevante passa a ser (por


contingências históricas ou por busca do conhecimento)
submetida a diferentes interpretações é um fenômeno
existente nas ciências exatas, onde as primeiras
interpretações do próprio “criador” ou “descobridor”
podem conter incongruências, que são posteriormente
abrandadas. Para o projeto “Humanização como aumento
de interesse nas exatas” é interessante verificar que as
idéias centrais em Filosofia também são sujeitas ao tempo,
às reinterpretações, e verificar como os conceitos são
abordados na presente data (ou a discussão permite uma
progressão, desejada, ou ela é estéril, não levando a
avanços práticos).

2.3.2 – Nota acerca da correta interpretação


A busca de entendimento dos textos que
fundamentaram o pensamento europeu ocidental,
identificados na cultura da Grécia antiga, e, por
conseqüência, de todo o pensamento da Europa e das suas
ex-colônias ocidentais, está sujeita a questões de
interpretação. A palavra uma vez proferida na Grécia
antiga e por tantos escrita pode ter assumido diferentes
sentidos ao longo da história, o que sem dúvida exige
esforço constante para que seu “real” sentido seja
entendido. Estudiosos dos textos antigos e comentadores

São Carlos, 2012.


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têm o seu lugar de honra aqui, permitindo, através do


cruzamento de diferentes informações históricas, melhor
atentar para o sentido pretendido pelo autor ou nas
discussões das aulas desse autor.

A preocupação a posteriori de se ter a correta


interpretação reflete talvez a “necessidade” humana,
enfatizada nas diferentes épocas (mas sempre imersa
nelas), de buscar aquilo que é mais próximo do
pensamento isento de tendências (objetivo difícil de ser
alcançado). Interessantemente, um exemplo de uma
preocupação a priori acerca do sentido de palavras
proferidas encontra-se nas últimas linhas do livro de
Chilam Balam de Chumayel, um dos mais importantes
manuscritos maias, que diz (na tradução ao espanhol de
Bolio, 1930, lembrando que os manuscritos são posteriores
à invasão do continente caboclo, contendo tradições
eventualmente mantidas anteriormente em escritos maias
infelizmente destruídos pela cultura invasora ou mantidas
oralmente). No Chilam Balam de Chumayel lê-se:

“Buena es la palabra de arriba, Padre. Entra su


reino, entra en nuestras almas el verdadero Dios, pero
abren allí sus lazos, Padre, los grandes cachorros que se
beben a los humanos esclavos de la tierra. Marchita está la
vida y muerto el corazón de sus flores, y los que meten su
jícara hasta el fondo, los que lo estiran todo hasta
romperlo, dañan y chupan las flores de los otros. De gente
nueva es su lengua, nuevas sus sillas, sus jícaras, sus
sombreros; golpeadores de día, afrontadotes de noche,
magulladores del mundo! Torcida es su garganta,
entrecerrados sus ojos; floja es la boca del Rey de su tierra,
padre, el que ahora ya se hace sentir.

São Carlos, 2012.


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No hay verdad en las palabras de los extranjeros.


Los hijos de las grandes casas desiertas, los hijos de los
grandes hombres de las casas despobladas, dirán que es
cierto que vinieron ellos aquí, Padre.

Qué profeta, qué sacerdote, será el que rectamente


interprete las palabras de estas Escrituras?”

O grito final “que profeta (...) será aquele que


corretamente interpretará as palavras destas escrituras” é
que apontamos como uma preocupação a priori pela
correta interpretação. Este texto é mencionado apenas
como uma figura mnemônica, um exemplo (interessante)
para que tenhamos a preocupação de expressar as idéias
com a maior exatidão possível, e, no caso de tentarmos
entender as idéias de outros, assumir a postura mais idônea
(com o quê estamos simplesmente nos alinhando ao
discurso de todos os nossos precedentes e contemporâneos
- e não apenas ao grito maia).

O livro de Chilam Balam está, certamente, fora do


contexto da presente análise, a não ser pelo aspecto de
ironia decorrente do choque de culturas, uma delas
vinculada ao mundo grego. A preocupação da correta
interpretação do Chilam Balam evidentemente estava
vinculada às escrituras (ou sua tradução) maias. O tênue
vínculo com a Grécia da Ética a Nicômaco é que os
estrangeiros que não proferiam a verdade são identificados
historicamente (por conta das invasões do continente
caboclo) como aqueles (invasores) europeus ocidentais,
impregnados de pensamentos discutidos na (ou oriundos
da) Grécia antiga; pensamentos que estavam subordinados
naquele então, provavelmente, a um ponto de vista
diferente do atual.

São Carlos, 2012.


Projeto: Humanização como ferramenta de aumento de interesse nas exatas.
A definição de Felicidade (ou o conceito da Eudaimonia), Harry Edmar Schulz 30

A ironia nos leva à situação, por exemplo, de um


maia ter dificuldade de atingir a felicidade no sentido da
Ética a Nicômaco (com os conceitos atuais de que todo
indivíduo é um cidadão) em um choque de culturas no qual
a sua devia sucumbir. A felicidade aristotélica é atingida
através do exercício da virtude, por toda a vida, com os
meios necessários para tal; e os maias estavam perdendo
seus meios e sua vida (as virtudes, provavelmente, eram as
mesmas decantadas, mas talvez não necessariamente
exercitadas naquele momento invasivo, pelos
representantes da antiga cultura grega). Por outro lado,
seus meios (dos maias) estavam possibilitando que aqueles
que deles se apossavam poderiam atingir a felicidade
aristotélica por toda a vida.

A ironia desponta porque a felicidade do saqueador


implica na impossibilidade de atingir a felicidade para o
saqueado. Esta ironia certamente leva a outras questões e
soluções no contexto da Filosofia e do Direito, que não são
objeto do presente estudo.

Como foi mencionado, este texto é uma ilustração


de uma preocupação a priori da correta interpretação, que
deve estar implícita em toda nossa leitura.

3 – Elementos Textuais
Neste item, são reproduzidas algumas das
passagens do capítulo I da Ética a Nicômaco nas quais as
alíneas i a vii do item 2.2.1 são justificadas.
Adicionalmente, é feita a menção de autores que se referem

São Carlos, 2012.


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A definição de Felicidade (ou o conceito da Eudaimonia), Harry Edmar Schulz 31

igualmente ao texto lido e ao tema abordado, procurando-


se embasar o entendimento do mesmo.

3.1 – Descrição das passagens que evidenciam


os passos da definição

3.1.1 – Alíneas i e ii do item 2.2.1


O primeiro livro da Ética a Nicômaco nos transmite
a idéia de que a felicidade é o bem final a alcançar. Na
nossa visão contemporânea, esse é um objetivo muito
interessante, considerando o significado atual de felicidade.
O sentido definido na obra mencionada, entretanto, não é
imediato. Inicialmente é argumentado que a felicidade é
resultado de ações visando um “bem”. Isto é exposto, por
exemplo, em EN 1094a – (1 a 3, aproximadamente)
“Admite-se geralmente que toda arte e toda investigação,
assim como toda ação e toda escolha, têm em mira um bem
qualquer; e por isso foi dito, com muito acerto, que o bem
é aquilo a que todas as coisas tendem.”

Na seqüência, é argumentado que o ser humano age


encadeadamente, ou seja, executa ações que levam a outras
ações. Considerando que ações posteriores àquelas que
visam um bem também visam um bem, percebe-se que
deve haver um bem maior para o qual todas as ações
convergem. Adicionalmente, é informado que este bem é
desejado por ele mesmo. Um exemplo deste raciocínio
aparece em EN 1094a – (18 a 22, aproximadamente) “Se,
pois, para as coisas que fazemos existe um fim que
desejamos por ele mesmo e tudo o mais é desejado no
interesse desse fim; e se é verdade que nem toda coisa

São Carlos, 2012.


Projeto: Humanização como ferramenta de aumento de interesse nas exatas.
A definição de Felicidade (ou o conceito da Eudaimonia), Harry Edmar Schulz 32

desejamos com vistas em outra (porque, então, o processo


se repetiria ao infinito, e inútil e vão seria o nosso desejar),
evidentemente tal fim será o bem, ou antes, o sumo bem”.

Um comentário acerca desta obra, muito semelhan-


te às considerações acima, é apresentado por Guimarães
(http://revistaitaca.org/versoes/vers09-08/132-140.pdf),
onde a autora comenta que “A abertura da ética a
Nicômaco traz, a partir de uma observação da vida
cotidiana, a afirmação de que todas as nossas ações têm
uma finalidade, isto é, um objetivo em relação ao qual
fixaríamos todas as nossas ações (...) Em seguida, entende
Aristóteles, que essas finalidades podem ser meios para
finalidades ulteriores. Isto significa dizer que nossos fins
podem desencadear uns aos outros de tal modo que um
dado fim seria meio para um fim posterior (...) estes
tendem a um fim único (...)”. Também se pode mencionar
Oliveira e Trotta (2006), que comentam que “O bem é a
plenitude e todo ser tende para esta plenitude. O homem,
ao longo da vida, encontra uma hierarquia de bens até
alcançar o bem supremo (...)”.Verifica-se, nesse caso, o
entendimento adequado das passagens originais de Ética a
Nicômaco.

Como informação adicional, vale lembrar a


afirmação de que o homem só se realiza no âmbito da polis
(ou, mais extensamente, “...que a cidade faz parte das
coisas da natureza, que o homem é naturalmente um
animal político, destinado a viver em sociedade (...que) a
natureza compele assim todos os homens a se associarem”,
como escrito em Aristóteles, A Política, 1253a,
aproximadamente linhas 1 a 30, Folha, 2010), que aqui
serve para complementar a “visão politizada dos fins” aos
quais o texto da Ética a Nicômaco nos remete, por

São Carlos, 2012.


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A definição de Felicidade (ou o conceito da Eudaimonia), Harry Edmar Schulz 33

exemplo, em EN 1094b – (10 a 12, aproximadamente)


“Tais são, por conseguinte, os fins visados pela nossa
investigação, pois que isso pertence à ciência política
numa das acepções do termo.” Novamente mencionando
Oliveira e Trotta (2006), esses autores comentam que
“Segundo o entendimento de Aristóteles, a política é a
ciência da felicidade humana, uma ciência prática que
busca o conhecimento como meio para a ação e que se
divide em ética e política”.

Nota-se que esta seqüência de excertos da Ética a


Nicômaco permite apontar para as conclusões resumidas (i)
e (ii) da lista de conclusões apresentadas no item 2.1, o que
também se infere da leitura dos autores aqui mencionados.

3.1.2 – Alíneas iii e iv do item 2.2.1


O texto enfatiza que o bem final é a felicidade, uma
idéia que se repete explorando diferentes formas de
apresentação, ora colocando a felicidade como “fim”, ora
sendo algo que “existe por si”, ora vinculado-a à ação bem
efetuada. Por exemplo, a finalidade e a “boa ação” são
enfatizadas em EN 1095a - (15 a 20, aproximadamente),
onde é dito que “Verbalmente, quase todos estão de
acordo, pois tanto o vulgo como os homens de cultura
superior dizem ser esse fim a felicidade e identificam o
bem viver e o bem agir como o ser feliz.” Mais uma vez
citamos Guimarães (http://revistaitaca.org/versoes/vers09-
08/132-140.pdf), que enfatiza uma multiplicidade de fins
com uma tendência ao apresentar o conceito de
eudaimonia, ao dizer que “...apesar de percorrermos ao
longo de nossas vidas uma variedade de fins, estes tendem
para um fim único, ou seja, o fim supremo, a eudaimonia.”

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A finalidade, ou o encadeamento de fins é mais


uma vez aventada em EN 1097a – (21 a 23,
aproximadamente), onde é dito que: “Por conseguinte, se
existe uma finalidade para tudo que fazemos, essa será o
bem realizável mediante a ação; e, se há mais de uma,
serão os bens realizáveis através dela.” Este encadeamento
de repetições de idéias ou de alterações intermitentes de
pontos de vista parece antes uma seqüência de comentários
“posposta” à afirmação inicial, seja pelo autor original, seja
por “comentadores copistas” que buscaram o entendimento
da obra. De fato, no presente momento, a repetição faz com
que paulatinamente avancemos por “terrenos mais
seguros”, porque já houve o esforço do entendimento
próprio acerca do conceito inicialmente proposto. Se isto
for uma manifestação da didática do autor original, é talvez
digna de menção aqui. Por outro lado, essa repetição torna-
se um tanto cansativa, expondo o caráter antigo da obra,
caráter talvez mais sentido no atual momento de
transmissão acelerada de informações e idéias.

Mais adiante, enfatiza-se a “existência por si” do


bem maior, mais uma vez em conjunto com o fim, em EN
1097b – (21 a 22, aproximadamente): “A felicidade é,
portanto, algo absoluto e auto-suficiente, sendo também a
finalidade da ação.”

Em torno da tendência a um bem, da ação, e, mais


especificamente, da noção de finalidade Zingano (2004)
acrescenta a noção de bem aparente, devida a Aristóteles,
na forma: “A noção de bem aparente é provavelmente (...)
a mais importante. Como tudo tende a um bem, isto vale
tanto para a ação quanto para o ser, o que não permite
distinguir um domínio do outro. (...) O bem aparente, na
moral, não figura mais meramente como um bem falso,

São Carlos, 2012.


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somente aparente, ao qual se opõe o que é verdadeiramente


bom; ele é agora pensado como a condição necessária para
que algo seja objeto de busca ou fuga, figurando assim
como fim de uma ação. É somente no interior do que
aparece ou é tomado como um bem que pode encontrar-se
o que é verdadeiramente bom. O bem verdadeiro, portanto,
está submerso nas condições de pouca visibilidade que lhe
são dadas pelo bem aparente.” Esta forma de apresentação
difere do ponto de vista lido na Ética a Nicômaco, porque
detalha como se vislumbra o bem verdadeiro através do
bem aparente, algo não enfatizado no texto lido, mas ilustra
que há diferentes formas de abordagem dos temas no
próprio conjunto do pensamento aristotélico.

Como comentado, os argumentos, na ética a


Nicômaco, voltam a idéias já discutidas, fazendo com que
haja uma expectativa de novas conclusões, mas
eventualmente apenas reforçando as conclusões já obtidas.
Por exemplo, em EN 1097b – (26, aproximadamente) a
“boa ação”, já mencionada anteriormente, é inserida na
seqüência de argumentos, como “...considera-se que o bem
e o “bem-feito” residem na função...” que inicialmente não
acrescenta uma nova idéia, mas que posteriormente leva ao
texto EN 1098a – (15 a 18, aproximadamente) onde essa
“boa ação” do homem é vinculada à virtude, na forma: “...e
se qualquer ação é bem realizada quando está de acordo
com a excelência que lhe é própria; se realmente assim é, o
bem do homem nos aparece como uma atividade da alma
em consonância com a virtude, e, se há mais de uma
virtude, com a melhor e mais completa.”

Os excertos apresentados da Ética a Nicômaco,


bem como os autores mencionados, mostram que as
conclusões resumidas (iii) e (iv) da lista apresentada no

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item 2.1, constituem conclusões intermediárias da


definição de felicidade buscada.

3.1.3 – Alíneas v e vi do item 2.2.1


A necessidade de ser virtuoso é repetida, após sua
apresentação, mas acrescentando-se que isto deve ser feito
ao longo de toda a vida. Isto é mencionado, por exemplo,
em EN 1098a – (18 a 20, aproximadamente), na forma:
“Mas é preciso ajuntar ‘numa vida completa’. Porquanto
uma andorinha não faz verão, nem um dia tampouco; e da
mesma forma um dia, ou um breve espaço de tempo, não
faz um homem feliz e venturoso.” Embora o texto esteja
passando ao foco de “vida completa”, a conexão entre
viver bem e agir bem, que já havia levado ao conceito de
virtude, é mais uma vez enfatizada na seqüência de
argumentos da Ética a Nicômaco, onde a felicidade é
novamente vinculada a essas práticas. Isso ocorre, por
exemplo, em EN 1098b – (20 a 22, aproximadamente),
quando se menciona: “Outra crença que se harmoniza com
a nossa concepção é a de que o homem feliz vive bem e
age bem; pois definimos praticamente a felicidade como
uma espécie de boa vida e boa ação.” Esta repetição
(ressaltada no próprio texto original) serve de base para
remeter à proposta de que são também necessários bens ou
meios externos para atingir a felicidade na execução de
atos nobres, como aparece em EN 1098b – (29 a 32) e
1099 – (1, aproximadamente), onde consta: “Com efeito,
todos eles pertencem às mais excelentes atividades; e estas,
ou então, uma delas – a melhor -, nós a identificamos com
a felicidade. E no entanto, como dissemos, ela necessita
igualmente dos bens exteriores; pois é impossível, ou pelo

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A definição de Felicidade (ou o conceito da Eudaimonia), Harry Edmar Schulz 37

menos não é fácil, realizar atos nobres sem os devidos


meios.”

Acerca das posições alternadas observadas ao longo


do texto, além das repetições, é interessante observar o que
é comentado por Zingano (2004) (in Hobbus, 2004), acerca
da própria definição de felicidade: “Não basta aludir ao
eudaimonismo, é preciso ainda determinar qual
eudaimonismo. É bem sabido que o bem supremo em
Aristóteles parece ora funcionar como um fim de segundo
grau, que não conta ao lado de outros fins, mas os inclui
em si, ora aparece como um único fim, em detrimento dos
outros, a saber, a contemplação, em função do qual o
agente seria prioritariamente feliz, os outros fins não
podendo senão engendrar uma felicidade de segunda
espécie. Falou-se mesmo em uma oposição ou tensão entre
os nove primeiros lifros da Ethica Nicomachea, que
sustentariam uma doutrina inclusivista do fim supremo, e o
último, o décimo livro, que defenderia, em seus capítulos
finais, uma versão dominante da felicidade como
contemplação.” Esse mesmo “ponto” é ressaltado por
outros estudiosos, como comentado em Catunda (2008): “a
discussão sobre o estatuto da eudaimonía na ethicha
nicomachea (é um) ponto de divergência entre os
especialistas, pois segundo eles, enquanto Aristóteles
afirma no livro I que para toda ação e toda escolha existe
um bem, no livro X Aristóteles afirma que existe um bem
que é a finalidade de toda ação e toda escolha”. Hobbus
(2004), que se concentra neste aspecto da definição da
felicidade, comenta também acerca da felicidade como um
conjunto de bens, na apresentação da sua obra: “Parece, à
primeira vista, que Aristóteles não tem uma concepção
única, apresentando, na realidade, duas concepções
aparentemente contraditórias: uma, no livro I da Ethica

São Carlos, 2012.


Projeto: Humanização como ferramenta de aumento de interesse nas exatas.
A definição de Felicidade (ou o conceito da Eudaimonia), Harry Edmar Schulz 38

Nicomachea, que defenderia uma tese que explicitaria a


felicidade como constituída de alguns ou todos os bens,
enquanto na EN X ficaria clara a opção por uma tese
distinta da primeira, a saber, a felicidade é um bem que
exclui todos os outros bens, isto é, seria apenas e tão
somente a vida contemplativa, contemplação dos primeiros
princípios e primeiras causas, a vida própria do filósofo.
Mesmo no interior destas duas teses existem sutis
distinções interpretativas, especialmente entre os
defensores da eudaimonia como um composto de bens, já
que estes últimos não apresentam, pelo menos com clareza,
uma solução que acabe por conciliar esta divergência
aparente entre os livros I-IX e o X da EN.” Note-se que
esta discussão considera a obra da Ética a Nicômaco como
um todo, e não apenas o seu primeiro livro, que é o tema
do presente texto. Entretanto, a discussão ilustra a
necessidade de transitar por diferentes pontos de vista à
medida que se avança no texto.

No tocante aos bens necessários à felicidade, está


claro, no primeiro livro, que devem ser providos. Assim,
lê-se em EN 1099b – (26 a 29, aproximadamente): (a
felicidade) “é uma atividade virtuosa da alma, de certa
espécie. Dos demais bens, alguns devem necessariamente
estar presente como condições prévias da felicidade, e
outros são naturalmente cooperantes e úteis como
instrumentos.” A possibilidade de agir virtuosamente
depende dos bens (neste capítulo), situação à qual se
adiciona a necessidade de uma vida inteira, como se lê em
EN 1100a – (3 a 5, aproximadamente): “Porque, como
dissemos, há mister não só de uma virtude completa mas
também de uma vida completa...”

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A definição de Felicidade (ou o conceito da Eudaimonia), Harry Edmar Schulz 39

A necessidade de bens para permitir a felicidade é


bastante clara no livro I, tanto que autores mais recentes
que se debruçam sobre esta leitura, como Malinoski e Silva
(http://www.ufsm.br/gpforma/2senafe/PDF/069e4.pdf)
utilizam até exemplos atuais na descrição de seu
entendimento sobre esta parte do texto. Os autores citados
mencionam, por exemplo: “Estes bens (dinheiro, prazeres,
honrarias, saúde, etc.), são denominados por Aristóteles de
bens relativos. Eles são apenas pré-requisitos para atingir a
felicidade e, portanto, são meios para se chegar ao fim
último (Bem Supremo). Dessa forma, esses bens não são
negados na sua teoria, mas entendidos como bens
necessários para o homem obter uma vida feliz. Sendo
assim, em boa medida, poderíamos afirmar que o homem
que possui amigos, família, emprego, estudo, carro,
saúde, etc. (grifo nosso), possivelmente terá boas
condições para viver feliz.”

Posteriormente, o texto remete novamente às ações


boas e à felicidade ao longo de toda a vida, como se lê em
EN (17 – 23, aproximadamente): “O atributo em apreço
pertencerá, pois, ao homem feliz, que o será durante a vida
inteira; porque sempre, ou de preferência a qualquer outra
coisa, estará empenhado na ação ou na contemplação
virtuosa, e suportará as vicissitudes da vida com a maior
nobreza e decoro, se é ‘verdadeiramente bom’ e ‘honesto
acima de toda censura”.

Como foi mencionado, o texto oscila entre distintos


pontos de vista. Eles podem ter sido apresentados dessa
forma como um artifício didático, ou seja: após a
apresentação da idéia ocorre, em certa altura, a sua
repetição, fixando-a para que uma nova condição para
atingir a felicidade seja acrescentada. Eventualmente

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Projeto: Humanização como ferramenta de aumento de interesse nas exatas.
A definição de Felicidade (ou o conceito da Eudaimonia), Harry Edmar Schulz 40

também se trata da ação daqueles que transferiram as idéias


para o papel (idealmente os alunos de Aristóteles, mas
eventualmente copistas que acrescentaram os comentários
daqueles que também buscavam o entendimento da obra).
Finalmente, esta alteração de pontos de vista pode ser
resultado da junção dos diferentes textos, como
mencionado em Durand, Klein e Marquer (2010): “Le titre
de l'oeuvre a sans doute été choisi par un éditeur ancien
plutôt que par Aristote lui-même. Nicomaque était le nom
du père d'Aristote, mais aussi celui de son propre fils, mort
prématurément. L'oeuvre semble être un recueil de textes
rédigés par Aristote en différents étapes et rassemblés en
raison de leur unité thématique.”, traduzido aqui como “O
título da obra foi provavelmente escolhido por um editor
antigo ao invés do próprio Aristóteles. Nicômaco era o
nome do pai de Aristóteles, mas também de seu próprio
filho, que morreu prematuramente. A obra parece ser um
compêndio de ensaios escritos por Aristóteles em
diferentes épocas e reunidos por causa de sua unidade
temática.”

No tocante ao termo “eudaimonia”, aqui


apresentado como “felicidade no sentido da Ética a
Nicômaco”, da mesma forma que há discussões acerca da
definição a ser dada ao conceito original, também há
alguma discussão acerca de sua tradução. Nesse particular,
menciona-se o comentário de Spinelli, encontrado em
Catunda (2008), que diz: “A tradução desse conceito é tida
por muitos comentadores como difícil e, por isso, muitos
deles preferem usar o termo grego transliterado
(eudaimonía), enquanto outros vão traduzi-lo por:
felicidade, vida plena, vida boa. No anexo de sua
dissertação, Priscilla Spinelli faz um comentário acerca da
tradução desse termo e observa que as características que

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A definição de Felicidade (ou o conceito da Eudaimonia), Harry Edmar Schulz 41

Aristóteles lhe atribui afastam a possibilidade de qualquer


subjetivismo, que é uma das dificuldades colocadas por
comentadores e tradutores para o entendimento e tradução
do termo. Cf. Spinelli, P. A prudência na Ética
Nicomaquéia de Aristóteles.” Particularmente, entendo que
se a definição do conceito está ainda obscurecida (a
questão dos capítulos I-IX e X da Ética a Nicômaco), é
difícil também que uma tradução seja definitiva.

3.1.4 – Alínea vii do item 2.2.1


Após as apresentações anteriores, nas quais foram
justificadas as condições para que se atinja a felicidade, ou
seja, determinam-se os contornos do universo no qual o
conceito se desenvolve, a definição mais completa deste
primeiro livro é apresentada em EN 1101a – (15 a 23,
aproximadamente): “Quando diremos, então, que não é
feliz aquele que age conforme a virtude perfeita e está
suficientemente provido de bens exteriores, não durante
um período qualquer, mas através de uma vida completa?
Ou devemos acrescentar: ‘E que está destinado a viver
assim e a morrer de modo consentâneo com sua vida’? Em
verdade, o futuro nos é impenetrável, enquanto a
felicidade, afirmamos nós, é um fim e algo de final a todos
os respeitos. Sendo assim, chamaremos felizes àqueles
dentre os seres humanos vivos em que essas condições se
realizem ou estejam destinadas a realizar-se – mas homens
felizes.” Resumidamente, esta definição foi apresentada no
item 2.1, como: Felicidade: agir conforme a virtude
perfeita, suficientemente provido de bens, por toda a vida.
Entende-se que esta forma agrega as conclusões dos
argumentos seguidos no primeiro livro da obra lida.

São Carlos, 2012.


Projeto: Humanização como ferramenta de aumento de interesse nas exatas.
A definição de Felicidade (ou o conceito da Eudaimonia), Harry Edmar Schulz 42

Definições são encontradas na literatura, que não


necessariamente seguem em detalhes a proposta observada
no primeiro livro da Ética a Nicômaco, mas que abordam a
eudaimonia como uma doutrina que possui as
características já descritas. Assim, por exemplo, Hansen-
Love (2011) apresenta a definição: “Eudémonisme (du
grec eudaimonia): Toute doctrine qui fait du bonheur, soit
individuel, soit collectif, la fin supréme à laquelle tend
toute activité humaine. L'eudémonisme doit étre distingué
de l'hedonisme, qui place le Souverain Bien dans le plaisir.
Le bonheur, notamment dans ces deux écoles de la sagesse
antique que sont le stoïcisme et l'épicurisme, n'est un
souverain bien que parce qu'il a une valeur éthique. Le
bonheur n'est pas séparable de la vertu. On parle aussi
parfois d'eudémonisme, en un sens plus négatif, pour
désigner toute conception de la vie que privilégie la
recherche du bonheur par rapport à toute autre
considerátion, y compris morale.” Ou seja, “Eudemonismo
(do grego eudaimonia): Toda doutrina que faz da
felicidade, individual ou coletiva, o fim supremo para o
qual tende toda atividade humana. O Eudemonismo deve
ser diferenciado de hedonismo, que coloca o bem maior no
prazer. A felicidade, especialmente nessas duas escolas de
sabedoria antiga, que são o estoicismo e o epicurismo, é
um bem supremo, porque ele tem um valor ético. A
felicidade é inseparável da virtude. Essa é muitas vezes
referida eudemonismo, em um sentido mais negativo, para
se referir a qualquer concepção de vida que enfatiza a
busca da felicidade em comparação com todas as outras
considerações, incluindo a moralidade.” (Tradução nossa).

Na sua obra muito interessante, na qual discorre


sobre a evolução do conceito de ética ao longo da evolução
do conglomerado ocidental da humanidade, Comparato

São Carlos, 2012.


Projeto: Humanização como ferramenta de aumento de interesse nas exatas.
A definição de Felicidade (ou o conceito da Eudaimonia), Harry Edmar Schulz 43

(2006, pg 441), quando trata do fundamento da ética,


menciona:”O filósofo lembra que, segundo a opinião
unânime, o bem supremo, causa final de toda a vida
humana, é aquilo que ele denomina de eudaimonia...” Esta
passagem é interessante, porque mostra que o pensamento
antigo considerava natural (opinião unânime) essa forma
de abordagem para a atividade humana. Assim, a ética a
Nicômaco parte de um ponto de vista usual para a
sociedade antiga, que evidentemente não aponta contra o
conceito, mas mostra que dificilmente se encontrariam
parâmetros para questioná-lo naquela condição. Outras
partes não abordadas nessa busca de definição da felicidade
(no sentido da Ética a Nicômaco), como o “caminho do
meio”, também são vinculadas a posturas comuns no
mundo antigo. Por exemplo, Hobbus (2004) cita Gauthier
(1973) na seguinte passagem: “Segundo Gauthier, ‘tudo o
que se retém da moral de Aristóteles é (...) a idéia que a
virtude é um justo-meio’, mas isto não é verdadeiramente a
contribuição mais original da ética aristotélica, já que esta
concepção é conhecida há muito tempo, pois ela era
‘familiar à poesia grega’ e, no período clássico, ‘a idéia de
justo-meio (...) tinha invadido todos os domínios da vida e
do pensamento’. Na verdade, para Gauthier, tratar-se-ia
antes, para Aristóteles, do uso de uma noção comum
naquela época para expressar um ponto de vista pessoal.”
Particularmente essa noção do caminho do meio também
se mostra presente, em épocas anteriores à vida de
Aristóteles, por exemplo na cultura da região nordeste da
Ásia Meridional, onde Siddhartha Gautama igualmente
concluiu ser melhor conduzir uma vida sem extremismos
(ver http://pt.wikipedia.org/wiki/Siddhartha_Gautama).
Este conjunto de comentários apenas visa mostrar que os
conceitos com os quais a Ética a Nicômaco se ocupa
podem representar o reflexo de toda uma realidade local, e

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Projeto: Humanização como ferramenta de aumento de interesse nas exatas.
A definição de Felicidade (ou o conceito da Eudaimonia), Harry Edmar Schulz 44

não especificamente a mensagem de um pensador. Nesse


caso, a obra esclarece a realidade, os costumes, os
conceitos então em voga, aos próprios alunos de
Aristóteles, que idealmente efetuaram esses apontamentos,
orientados pelo mestre.

4 – Conclusões
Nesse texto concentrou-se a atenção mais nos passos
seguidos no texto original, para apresentar a definição de
felicidade no capítulo 1 de Ética a Nicômaco. Esses passos
foram resumidos e esquematizados, e, posteriormente,
justificados e vinculados a passagens de outros autores
sobre o mesmo tema.

Verifica-se a consistência da divisão de idéias


apresentada no item 2.1, que resume a estrutura deste
capítulo, até a apresentação da referida definição.

O procedimento seguido foi acadêmico, buscando


mais evidenciar o método descritivo das idéias do que uma
postura própria acerca das mesmas. A descrição, com
cruzamento de opiniões de diferentes autores, mostra que
se pode criar um corpo acerca do entendimento de um
item, de um conceito específico. No caso estudado, mostra-
se que há um entendimento acerca do que o texto da Ética a
Nicômaco pretende dizer (ou diz) acerca da felicidade, em
seu primeiro livro, primeiro capítulo. Resta a questão, no
tipo de abordagem feita, de esclarecer se o que é dito
corresponde a uma aproximação de uma verdade geral, ou
é uma verdade restrita, o que remete à questão seguinte,

São Carlos, 2012.


Projeto: Humanização como ferramenta de aumento de interesse nas exatas.
A definição de Felicidade (ou o conceito da Eudaimonia), Harry Edmar Schulz 45

sobre a sua aplicabilidade em um ambiente geral ou apenas


sob condições específicas.

Considerando o Projeto “Humanização como


ferramenta de aumento de interesse nas exatas”, a
aplicação dos procedimentos aqui vistos vale para aquele
conceito mais claro, sobre o qual não repousam pendências
básicas. Assim, mostrar como autores de diferentes áreas
utilizam o conceito, ou o apresentam em seus textos, pode
ser uma forma de transmitir segurança acerca deste
conceito ao aluno das Ciências Exatas.

Harry Edmar Schulz


São Carlos, São Paulo,
Março de 2012

São Carlos, 2012.


Projeto: Humanização como ferramenta de aumento de interesse nas exatas.
A definição de Felicidade (ou o conceito da Eudaimonia), Harry Edmar Schulz 46

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Zingano, M. (2004) Deliberação e Interferência Prática em


Aristóteles. Revista Dissertatio, edição
comemorativa (19-20), EGUFPel, Pelotas, 93-111.

Imagem da capa:

A imagem da capa foi elaborada com artifícios do “Word”


e com a ferramenta digital “Paint”. A imagem do rosto
sorridente é uma brincadeira com o título do estudo, que
envolve a palavra “felicidade”. Mnemonicamente associa-
se felicidade com prazer, com alegria e, portanto, com
sorriso.

São Carlos, 2012.


Projeto: Humanização como ferramenta de aumento de interesse nas exatas.

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