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Especial Barack Obama
O regresso da maioria Democrata
e os Desafios adiante
Editores: Rodrigo Cintra e Ricardo Migueis
Diretora de Redação: Lucyana Sposito
Organização: Filipe Almeida Mendonça
Capa: Vagner Moraes Junior ‐ VmjDesign| TI & Comunicação
www.revistaautor.com
© 2009 Revista Autor
Editores Rodrigo Cintra e Ricardo Migueis
ISSN Brasil 1677‐3500 – ISSN Portugal 1646‐8465
Publicação: Janeiro de 2009.
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Especial Barack Obama
Editorial
É com imenso prazer que entregamos aos nossos leitores o especial “O regresso da maioria
Democrata e os Desafios adiante”, fruto do esforço e dedicação de muitos analistas do Brasil,
de Portugal e de outros lugares do mundo. Neste especial procurou‐se destacar os desafios
que se colocarão diante do governo norte‐americano, especialmente para o Presidente Barack
Obama e para a maioria Democrata no Congresso dos Estados Unidos.
Este número especial da Revista Autor parece‐nos incontornável: tratamos aqui das
possibilidades, desafios e obstáculos no percurso da maior potência mundial, portanto, com
capacidade de atuação e interferência nas mais diversas regiões e questões globais. O
momento é de expectativa: é sabido que os sistemas políticos e econômicos estão em
constante mutação e a realidade que vivemos coloca muitas interrogações no que concerne o
papel a desempenhar pelos EUA nos anos vindouros.
Atualmente, os EUA são a maior potência bélica, econômica, financeira, tecnológica e,
provavelmente, cultural do mundo contemporâneo. Também são o país com a terceira maior
população mundial e estão entre os 5 maiores países do mundo em termos territoriais.
Os EUA desempenharam um papel fundamental na construção da ordem internacional que
está em vigência até hoje, sendo decisivos para a criação e consolidação de algumas das mais
importantes organizações internacionais atuais. Não se pode esquecer que foi em duas
cidades norte‐americanas que tais organizações surgiram: São Francisco (Organização das
Nações Unidas) e Bretton Woods (Banco Mundial, Fundo Monetário Internacional e
Organização Internacional de Comércio, transformada em Acordo Geral de Tarifas e Comércio
– GATT e, mais tarde, na Organização Mundial do Comércio).
Neste especial procuramos apresentar o momento eleitoral (Parte I) a fim de identificar as
principais forças e grupos atuantes na política norte‐americana e com real capacidade de
influência sobre o país, bem como os principais desafios (Parte II) que o próximo governo dos
EUA enfrentará.
Tanta influência trás benefícios e malefícios, de forma que é fundamental compreender as
atuais dinâmicas e usá‐las para garantir o avanço da justiça social.
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Especial Barack Obama
Introdução
Esta edição traz ao público mais um número especial da Revista Autor. O tema selecionado foi
a eleição de Barack Obama para Presidente dos Estados Unidos e a ampliação da maioria
democrata no Congresso deste país, dada a importância do acontecimento e a conseqüente
atenção que tem atraído.
Informar e formar os leitores sobre o impacto da eleição de Barack Obama para presidente dos
Estados Unidos, discorrer sobre os desafios que o novo presidente irá encontrar nos próximos
anos, além de analisar rapidamente a corrida eleitoral neste país na sua vertente histórica e
institucional, são os principais objetivos deste projeto.
Dada a importância desta temática, consideramos relevante desenvolver um trabalho capaz de
reunir numa só publicação artigos factuais e análises temáticas com o objetivo de transmitir
uma imagem completa deste processo. Para tanto, esta edição conta com a participação de
vários pesquisadores renomados de diferentes instituições de ensino, com abordagens e
perspectivas distintas. Tal diversidade é, na verdade, uma das principais riquezas do projeto,
garantindo acesso ao leitor a diversas visões do mesmo objeto.
O projeto está estruturado em duas partes: a primeira é dedicada ao significado e contexto da
última corrida presidencial, bem como aos vários atores que participaram deste processo. A
segunda é dedicada à compreensão do impacto destas eleições em diversas políticas norte‐
americanas e os desafios que os Democratas, tanto no Executivo quando no Legislativo, terão
que enfrentar nos próximos anos.
Agradeço a coolaboração dos diversos autores para a realização deste projeto. Deve‐se
destacar a participação fundamental do Instituto Transatlântico Democrático e do Instituto
Nacional de Ciência e Tecnologia para Estudos sobre os Estados Unidos.
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Especial Barack Obama
Editores & Autores
António Rebelo de Sousa é Professor Agregado da Universidade Técnica de Lisboa.
André Barrinha é Licenciado em Relações Internacionais pela Faculdade de Economia da
Universidade de Coimbra. Atualmente é Doutorando em Relações Internacionais, Universidade
de Kent, Reino Unido.
Ariel Finguerut é mestrando do programa de pós‐graduação em Sociologia da Unesp de
Araraquara, pesquisador do Observatório das Relações EUA‐América Latina, do Grupo de
Estudos Interdisciplinar sobre Desenvolvimento e Cultura e do Programa Renato Archer de
Apoio à Pesquisa em Relações Internacionais.
Arthur Coelho Dornelles Jr é Doutorando em Ciência Política pela Universidade Federal do Rio
Grande do Sul.
Corival Alves do Carmo é Mestre em Economia pela Unicamp e coordenador do curso de
Relações Internacionais do Centro Universitário Ibero‐americano (Unibero/Anhanguera
Educacional).
David Magalhães é Mestre em Relações Internacionais pelo Programa San Tiago Dantas
(UNESP, UNICAMP, PUC‐SP).
Denise Figueiredo Barros do Prado é Mestranda em Comunicação Social pela Universidade
Federal de Minas Gerias, UFMG.
Filipe Miranda Ferreira é Politólogo, Pós‐Graduado nos Instituto Superior de Ciências Sociais e
Políticas da Universidade Técnica de Lisboa. Investigador do Instituto Transatlântico
Democrático (ITD) e Vereador na Câmara Municipal da Amadora.
Felipe Ortega é Mestrando em Relações Internacionais pelo Programa San Tiago Dantas
(UNESP, UNICAMP, PUC‐SP).
Filipe Mendonça é Mestrando em Relações Internacionais pelo Programa San Tiago Dantas,
pesquisador do Centro de Estudos de Cultura Contemporânea (CEDEC), colunista da Revista
Autor e Professor universitário.
Glauco Fernando Numata Batista é graduando em Relações Internacionais pela UNESP‐Marília
e bolsista CNPq/PIBIC de iniciação científica.
Haroldo Ramanzini Júnior é Mestrando em Ciência Política na Universidade de São Paulo (USP)
e Pesquisador do Centro de Estudos de Cultura Contemporânea (CEDEC).
Helena Margarido Moreira é Mestranda pelo Programa de Pós Graduação em Relações
Internacionais San Tiago Dantas (UNESP, UNICAMP e PUC‐SP).
Hermes Moreira Jr é Mestrando em Relações Internacionais e Desenvolvimento no Programa
de Pós‐Graduação em Ciências Sociais da UNESP e bolsista da CAPES.
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Especial Barack Obama
Janaina Storti é Mestranda em Relações Internacionais pelo Programa San Tiago Dantas
(UNESP, UNICAMP, PUC/SP) e pesquisadora do Centro de Estudos de Cultura Contemporânea
(CEDEC)
José Alexandre Altahyde Hage é Professor Universitário e Doutor em Ciência Política pela
Unicamp.
Laís Forti Thomaz é Graduanda de Relações Internacionais, Unesp – Campus de Marília.
Lucyana Sposito é Directora de Redacção da Revista Autor, Licenciada em Relações
Internacionais pela Universidade Ibero‐Americana em São Paulo, e desempenha funções no
Gabinete do Coordenador Nacional da Estratégia de Lisboa e do Plano Tecnológico –
Presidência do Conselho de Ministros (Portugal).
Marcos Alan Fagner dos Santos Ferreira é Docente na Escola Superior de Propaganda e
Marketing e é doutorando em Ciência Política pela Universidade Estadual de Campinas
(UNICAMP) além de Pesquisador no Observatório das Relações Estados Unidos‐América Latina.
Paulo Pereira de Almeida é Professor do ISCTE, Colunista de Política da Revista Autor. Vice‐
presidente do OSCOT ‐ Observatório da Segurança, Criminalidade Organizada e Terrorismo e
Vice‐presidente do ITD ‐ Instituto Transatlântico Democrático.
Ricardo Migueis é Editor da Revista Autor, Pós‐graduado em Economia e Política Públicas pelo
Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (Lisboa). Investigador no Centro de
Estudos sobre a Mudança Socioeconómica (DINÂMIA/ISCTE) e Ponto de Contacto Nacional do
Sétimo Programa Quadro de Investigação e Desenvolvimento Tecnológico da União Europeia;
fundador e coordenador do Círculo de Reflexão Social e Política da Fundação Friedriech Ebert
em Portugal (CIRESP).
Rodrigo Cintra é Editor da Revista Autor, Doutor em Relações Internacionais pela Universidade
de Brasília, professor na Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM); presidente da
ONG Consulado da Cidadania; Sócio‐diretor da Focus R. I. ‐ Assessoria & Consultoria em
Relações Internacionais.
Shuy Wen Shin é Doutor em Ciências Sociais‐Políticas pela PUC/SP. Professor da Escola de
Turismo e Hospitalidade da Universidade Anhembi Morumbi e da Universidade São Judas
Tadeu. Coordena o Núcleo de Negócios da China da Universidade Anhembi Morumbi. Diretor
da Via Turística.
Tainá Dias Vicente é Graduanda em Relações Internacionais pela UNESP – FFC/Marília e é
Membro do Grupo de Estudo do BRICs.
Terra Friedrich Budini é Mestranda em Relações Internacionais pelo Programa San Tiago
Dantas (UNESP, UNICAMP, PUC/SP)
Thiago Lima é Mestre em Relações Internacionais pelo Programa San Tiago Dantas (UNESP,
UNICAMP, PUC‐SP) e Pesquisador do Centro de Estudos de Cultura Contemporânea (CEDEC)
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Índice
Parte I – O Processo eleitoral
Instituições, condição material e comércio: a consolidação da maioria democrata no 9
congresso norte‐americano (Filipe Mendonça)
O comportamento político do eleitorado americano (Laís Forti Thomaz) 17
A vitória de Obama é sobre George W. Bush (Ariel Finguerut) 36
O significado da vitória de Obama para as relações internacionais (André Barrinha) 52
Parte II – Os desafios de Barack Obama
Os desafios de segurança e defesa dos Estados Unidos após George W. Bush
56
(Alessandro Shimabukuro)
Obama e a relação bilateral Brasil‐EUA (David Magalhães) 68
Estados Unidos e Rússia: uma mudança em que nós podemos acreditar? (Felipe
73
Ortega)
Os desafios nas relações com a Índia (Hemes Moreira Junior e Tainá Dias Vicente) 78
Os desafios nas relações com Israel (Glauco Numata ) 84
Os desafios no Iraque (Janaina Storti) 90
Os desafios para o governo Barack Obama nas relações com a América Latina nos
99
campos de segurança e diplomacia (Marcos Alan)
EUA‐África: novas realidades, novos desafios (Filipe Ferreira) 104
O horizonte das relações entre Washington e Pequim no Governo Obama:
110
considerações preliminares (Arthur Coelho Dornelle Júnior)
As relações comerciais sino‐americana no Governo de Barack Obama (Shuy Wen
117
Shin )
A agenda de Barack Obama 2009‐2012: desafios para a segurança interna (Paulo
123
Pereira de Almeida)
Os desafios do futuro (Antônio Rebelo de Sousa) 127
Os desafios de Obama na política comercial (Thiago Lima) 131
Se não foram feitas ontem, as mudanças não ocorrerão amanhã ou os limites do
134
governo Obama (Corival do Carmo)
Os Estados Unidos de Obama: a continuidade do problema energético (José
143
Alexandre Hage)
Os desafios da Rodada Doha e a posição dos Estados Unidos (Haroldo Ramazini
147
Júnior)
Os desafios da reforma da ONU (Terra Budini) 151
Os desafios do Governo Obama para as mudanças climáticas e o meio ambiente
157
(Helena Margarido Moreira)
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Parte I
O Processo eleitoral
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Filipe Mendonça
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Instituições de Comércio, Condição Material, Internacionalização da Economia e Eleições
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incentivar a publicação pelo USTR de uma esta se materializará em mecanismos
“lista” com as principais barreiras aos institucionais após a formulação de idéias
produtores norte‐americanos para ser convincentes.
combatida; entre outros.
Estes projetos, além de outros, embora
talvez a maioria deles não tenham sido Breve Indicação Bibliográfica
aprovados, são dignos de nota, pois PECEQUILO, Cristina Soreanu. Os Estados
funcionam como um termômetro das Unidos: Hegemonia e Liderança na
atividades do Congresso norte‐americano. Transição. Rio de Janeiro: Editora Vozes,
É possível notar que a condição material 2001
prejudicada, motivada pelas idéias que
relacionam a abertura econômica com o NYE, Joseph S. O Paradoxo do Poder
déficit na balança comercial, estão mais Americano: Por que a única superpotência
próximas de se materializarem em do mundo não pode prosseguir isolada.
mecanismos institucionais no Congresso, e São Paulo: Editora Unesp, 2002
tal tendência parece que se prolongará nos
STIGLITZ, Joseph E. The Economic
próximos anos.
Consequences of Mr. Bush. VanityFair.
Contudo, é importante frisar que o Disponível em
Executivo parece não ser tão sensível à http://www.vanityfair.com/politics/feature
condição material quanto os congressistas. s/2007/12/bush200712 . Acesso no dia
Esta tendência prevalece desde o pós‐ 01/10/2008
Segunda Guerra até os nossos dias; a
ARRIGHI, Giovanni. O longo século XX:
própria criação do USTR, ainda na década
dinheiro, poder e as origens de nosso
de 60, foi em certa medida resultado dela.
tempo. 2ª ed. Rio de Janeiro/São Paulo:
Portanto, embora a bandeira de Obama
Contraponto/Editora Unesp, 1997.
seja a mudança, certamente haverá limites.
Mas, é bom ressaltar, que isso não retira COUNCIL OF ECONOMIC ADVISORS.
todo o poder de ação do Congresso. Além Economic Report to the President (2002).
disso, Barack Obama parece responder às Disponível
mesmas forças que já estão em pleno vigor em<http://www.gpoaccess.gov/eop/index.
nesta instituição. Caso este cenário se html>. Acesso em: 01 fev 2006.
torne real, todas as características
domésticas necessárias para uma transição DRYDEN, Steve. Trade warriors: USTR and
rumo à uma postura comercial mais the American crusade for free trade. New
agressiva parecem estar presentes. York: Oxford University Press, 1995
Somente forças exógenas ou a manutenção
GOLDSTEIN, J. “Ideas, institutions, and
das políticas de Estado norte‐americanas
American trade policy”. International
pró‐liberalização servirão como freio para a
Organization, vol. 42, nº 1, The State and
escalada do protecionismo. Em suma,
American Foreign Economic Policy, Winter
podemos assistir em breve a mais um
1988, pp. 179‐217.
processo de alteração na política comercial
norte‐americana. Resta saber qual a
profundidade dessa mudança indicada
pelas mutações na condição material e se
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KENNEDY, Paul. Ascensão e queda das países em desenvolvimento”. São Paulo /
grandes potências. Rio de Janeiro: Ed. Campinas: CEDEC / Unicamp, abril de 2007.
Campus, 1989.
DESTLER, I. M. America trade politics. 3th
ed. Massachusetts: Institute for
International Economics, 1995
VIGEVANI, T. et. al. Estados Unidos: política
comercial (USTR). Relatório científico final
enviado à FAPESP, integrante do projeto
temático “ Reestruturação econômica
mundial e reformas liberalizantes nos
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O comportamento político do eleitorado americano
Laís Forti Thomaz
Uma eleição é determinada por diversos aumento de 58% em 2004 para 70% em
fatores. Uma análise profunda do 2008 da participação desse eleitorado,
eleitorado e uma campanha que privilegie sendo que o candidato democrata recebeu
suas demandas e anseios, além de 95% desses votos. Obama ainda teve um
fortalecerem as bases partidárias, são aumento de 11% dos votos relativos aos
decisivos para uma vitória. hispânicos, isto é, em 2004 os democratas
obtiveram 56% dos votos de hispânicos e
Os eleitores norte‐americanos nas eleições em 2008 esse número passou para 67%.
de 2008, assim como no ano de 2004,
orientaram‐se, em grande medida pelo Outro fator decisivo diz respeito aos 6
medo, mas o principal agente catalisador milhões de títulos novos, dos quais Obama
foi o desejo de mudança. Se em 2004 o conseguiu 69% de votos. Obama recebeu
medo era em função do terror pós‐11 de 66% de votos dos jovens (18‐29 anos)
Setembro, em 2008 o medo estava contra 32% dos votos para McCain. Uma
relacionado com o futuro da economia de diferença como esta somente havia
seu país. ocorrido duas vezes no histórico das
eleições dos Estados Unidos, sendo que
Claramente, existia uma enorme jamais fosse tão significativa. No caso das
insatisfação para com o governo de George eleições de 1984, Reagan obteve 59% dos
W. Bush, o qual perdeu sua credibilidade eleitores com idade inferior ou igual a 30
durante a guerra do Iraque e ficou ainda anos, contra 40% dos votos para Mondale.
mais vulnerável com crise econômica. O Já Clinton em 1996 obteve 53% contra 34%
desejo de mudança e de por um basta a nesse mesmo eleitorado. A faixa etária
esse governo já eram bons motivos para compreendida entre 18 e 44 anos
um aumento significativo da participação constituem 57% da população. O candidato
nas urnas durante essas eleições. McCain obteve 51% dos votos de eleitores
Dessa maneira, por meio de pesquisa acima dos 60 anos, sendo que estes
realizada pela Edison Media Research e representam 23% da população. O
pela Mitofsky International, divulgada pelo eleitorado compreendido entre 45 e 60
New York Times em 9 de novembro de ficou mais indeciso e a diferença de votos
2008, com 17.836 eleitores em 300 zonas foi muito pequena. (EXIT POLLS, 2008)
eleitorais dos Estados Unidos, além de Nessa perspectiva, devemos atentar para o
2.378 entrevistas com eleitores que implemento das bases políticas dos
votaram pelo correio ou antecipadamente, democratas. Métodos que antes dotaram o
observamos que eleitores negros, Partido Republicano de organização e
hispânicos e com idade inferior a 30 anos estratégias de implementação de sua
votaram predominantemente em Barack máquina eleitoral foram absorvidas pelo
Obama. (CONNELY, 2008) Partido Democrata, após suas derrotas
Com relação aos eleitores negros, presidenciais, tais como: incentivo a
principalmente impulsionados pela participação de jovens como novos
candidatura de Barack Obama, houve um militantes e o aumento de informação
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partidária na internet. Nos anos 1990, os presidente eleito conseguiu arrecadar
republicanos formaram uma base sólida e cerca de 750 milhões de dólares, sendo
fiel a seus princípios conservadores, que 104 milhões foram doados nas
estimulando seus afiliados a semanas anteriores a eleição. O candidato
incrementarem suas eleições. Mas essa democrata desistiu do financiamento
base republicana não foi muito bem público, mas teve 580 mil doadores, em
sustentada após as duas vitórias que 20% contribuíram com cerca de 200
consecutivas de George W. Bush. milhões de dólares. (AGENCIA ESTADO,
2008)
Adicionalmente, a agenda de campanha de
Obama, tido por alguns como uma agenda A partir disso, também observa‐se um
progressista, até mesmo chamada New aumento histórico do número de eleitores
Deal, tinha como propósitos: um plano que se consideram democratas. A
detalhado para a economia dos Estados diferença entre os democratas e
Unidos voltarem aos trilhos, através da republicanos na população chegou a 7%,
criação de novos postos de trabalho e isto é, 32% da população se dizem
aliviando a carga de impostos aos democratas e 32% se consideram
trabalhadores norte‐americanos; investir republicanos. Essa é a maior vantagem
em combustíveis alternativos e renováveis desde 1980.
de energia, incluindo um plano para
aumentar a eficiência energética dos Concomitantemente, em sua campanha
Estados Unidos, com a criação de 5 milhões Obama demonstrava anseio em não dividir
de novos "verdes" empregos (nesse ponto seu país, mas buscar uni‐lo. Confirmou isso
também se destaca a manutenção de em seu primeiro discurso como presidente
subsídios para produção de etanol a partir eleito declarando que a população norte‐
do milho); continuar a longa tradição americana nunca foi um conjunto de
diplomática, melhorando simultaneamente indivíduos ou de estados azuis ou
a posição dos Estados Unidos no mundo; vermelhos: “Somos e sempre seremos os
implantar um plano de saúde que dará Estados Unidos da América” (OBAMA:
acesso e cobertura com preços acessíveis VICTORY SPEECH, 2008)
para todos; aumentar as medidas de Dessa maneira, conseguiu agregar eleitores
segurança como parte de um plano de grupos importantes, tais como:
nacional para manter as comunidades indecisos, católicos, suburbanos,
seguras; trabalhar com seus comandantes independentes políticos e veteranos de
militares responsavelmente para acabar guerra. Isso demonstra seu avanço entre
com a guerra no Iraque; reorientar os grupos tradicionalmente republicanos,
recursos para combater a Al‐Qaeda no como por exemplo, brancos,
Afeganistão e focar‐se na luta contra os conservadores, sulistas e freqüentadores
terroristas responsáveis pelo ataque em 11 de igreja. No que tange aos independentes,
de setembro; garantir a Segurança Social; é praticamente um feito ter conseguido
entre outros (ISSUES, 2008). 52% a 44% desses votos. Isso não ocorria
Outro passo importante da campanha de desde 1972 para o Partido Democrata.
Obama diz respeito a sua arrecadação Vale atentar que nos Estados Unidos, as
recorde de fundos. Segundo a Comissão eleições para a Presidência se pautam por
Federal de Eleição dos Estados Unidos, o
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Dados obtidos em: American presidential
election; COLÉGIO ELEITORAL, 2008; map,
2008.
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latinos, representavam um quinto da Em Nevada, com 5 delegados, a grande
população em 2006. presença latina (12% do eleitorado) fez
diferença, pois 62% dos seus eleitores
Numa votação cheia de suspeitas de hispânicos apoiavam Obama que obteve
irregularidades, em 2000, a Flórida, com 55,1% a 42,7%. Entretanto, seu histórico
seus 27 delegados, decidiu a eleição em também apresenta Bush como vitorioso
favor de Bush, sendo que a margem de em 2000 com 49% dos votos, contra os
votos foi mínima. Bush também derrotou 45,5% de Gore e em 2004, Bush conseguiu
Kerry por 52% a 47% em 2004 nesse 50% dos votos, contra 48% de Kerry.
estado. Mas nessas eleições esse reduto foi
palco freqüente dos comícios democratas. New Hampshire possui 4 delegados
Dessa maneira, o Obama obteve 50,9% dos apenas. O estado apresenta mais de 90%
votos, contra os 48,4% de McCain. Vale de brancos na população e um terço dessa
ressaltar que a Florida apresenta uma taxa população são católicos. Bush venceu em
de desemprego acima da média nacional, o 2000 (48% a 47%), mas não repetiu o
que pesou na hora da escolha do candidato resultado e perdeu para Kerry (50% a 49%)
democrata e seu discurso de mudança em 2004. A perspectiva democrata
frente a crise econômica. Outro aspecto continuou, já que Obama foi vitorioso
que colabora com esse resultado é a nesse estado com 54,3% dos votos contra
grande presença de hispânicos (16% da 44,8% de McCain.
população) e de negros (14%).
Estado onde a população hispânica é
Indiana, com seus 11 delegados, não elegia numerosa (35% do eleitorado), o Novo
um democrata desde 1964. A população México possui 5 delegados. Ao contrário de
desse estado é, em sua ampla maioria, New Hampshire, Bush perdeu em 2000 e
branca e protestante. Em 2000, Bush conseguiu vencer em 2004, mas nas duas
venceu Gore por 57% a 41%, e nas eleições eleições a diferença de votos foi muito
de 2004 Bush foi reeleito nesse estado com pequena. O governador do Novo México,
60% dos votos, contra 39% de Kerry. Bill Richardson, é o único chefe de
Nessas eleições, Obama conseguiu sua Executivo hispânico dos Estados Unidos, e
vitória com 49,9% contras 49,0% dos votos apoiou Obama já nas primárias, quando o
de McCain. candidato derrotou a Hillary Clinton. O
resultados nessas eleições foi 56,7% dos
Já o estado recordista em eleger votos para contra 42,0% para McCain.
presidentes, Missouri, possui 11 delegados,
votou no vencedor em todas eleições do Em Ohio, nas duas últimas eleições Bush
século XX, com exceção apenas na de 1956. teve sucesso. Dos 20 delegados, Bush teve
Entretanto, agora em 2008 também não 50% e Gore 46% em 2000. Em 2004, foram
obteve o resultado que esperava. Isso 51% para Bush e 49% para Kerry. Vale
porque 49,4% de seus votos foram para destacar que, desde 1860, quando
McCain e Obama ficou com 49,3%. No sul Abraham Lincoln foi eleito, nenhum
desse estado, os caçadores enxergavam na republicano conseguiu chegar à
candidata, a vice republicana Sarah Palin, presidência sem vencer as eleições em
uma defensora do direito de portar armas. Ohio. Para Obama não foi fácil vencer em
um estado com mais de 80% de brancos na
população. Porém, um aspecto que
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favoreceu o democrata foi que um quarto de Obama como presidente, já que a
da população tem menos de 18 anos, assim máquina política está novamente no
ele obteve 51,2% contra os 47,2% de controle de um único partido.
McCain.
De todo o mapeamento que fizemos com
A Pensilvânia é o único dos estados‐chave relação aos votos por faixa etária, etnias,
onde os republicanos foram derrotados em localidades, religião, e colégios eleitorais,
2000 e 2004 (51% a 46% e 51% a 49%) e podemos observar que, nessas eleições, os
possui 21 delegados. Hillary Clinton teve eleitores enxergaram em Obama algo além
enorme apoio durante as primárias, e esse da possibilidade que inspirava sua
apoio foi transferido a Obama. Mas esse campanha: “sim, nós podemos”. O
apoio não foi tão fácil, visto que há grupo eleitorado norte‐americano acreditou no
de eleitores mais velhos, veteranos de candidato democrata por enxergar uma
guerra, com um perfil muito conservador, igualdade de oportunidade. O peso
haja vista que durante as primárias, Obama simbólico de ser o primeiro presidente
não foi bem visto ao dizer que “gente negro foi muito significativo nesse aspecto,
amarga se apega a armas e à religião nas pois, as minorias, principalmente,
crises econômicas”. Porém, Obama teve enxergaram no candidato democrata a
acertividade ao abrir 65 escritórios no esperança para a melhoria de suas vidas e
estado, quatro vezes mais do que o de seu país. Nem as críticas de McCain
candidato republicano, e mais do que em chamando‐o de “socialista” e
qualquer outro estado do país. Isso “redistribuidor” por adotar uma agenda
colaborou para que ele conseguisse seus que previa maiores medidas assistenciais,
54,7% dos votos contra 44,3% de McCain. enfraqueceram sua campanha e o
impediram de vencer.
Por fim, a Virgínia, com seus 13 delegados,
não elegia democratas a 44 anos. Esse
estado apresenta quase um quinto de sua
população de negros, mas a maior parte é Referências e fontes estatísticas:
branca. Apresenta também asiáticos e Agencia Estado. Obama arrecadou US$ 104
latinos. Nas últimas eleições Bush milhões no final da campanha. O Estado de
conseguiu 52% em 2000 e 54% em 2004, São Paulo. 5 de dezembro de 2008
contra, respectivamente 44% de Gore e Disponível em:
45% de Kerry. Em 2008 o resultado foi de <http://www.estadao.com.br/internaciona
52,7% a 42,0% a favor de Obama. l/not_int289162,0.htm> Acesso em: 10
É muito relevante considerar que a Dezembro 2008.
campanha eleitoral dessas últimas eleições American presidential election.
começou logo em 2006, considerando a Encyclopædia Britannica. Disponível em:
vitória democrata, conquistando a maioria <http://www.britannica.com/EBchecked/t
no Senado e na Câmara dos Deputados. opic‐art/717803/67687/> Acesso em: 10
Por esse lado é interessante observar que Dezembro 2008.
nos dois mandatos de Bush, até 2006, os
republicanos possuíam o controle da Colégio Eleitoral: Os estados decisivos.
máquina política. Dessa maneira, essa Eleição nos Estados Unidos. Seção Online
tendência prevaleceu agora com a eleição Veja. Disponível em:
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Denise Figueiredo Barros do Prado
A vida social é atravessada por uma série acontecimentos. Desse modo, o objetivo
de eventos que, ao se tornarem uma deste artigo é discutir como a candidatura
referência temporal, produzem um antes e e a eleição de Barack Obama se revela
um depois do ocorrido que se torna uma como um acontecimento e identificar a
das pontuações organizadoras da história atuação da mídia como participante desse
da vida cotidiana. Esses eventos são acontecimento, visto que ela o conformou
chamados acontecimentos. O potencial de como um acontecimento midiático ao
afetação dos acontecimentos é variável, estruturar uma narrativa que permitisse
dependendo da força que possui para apreender esse evento. Para
alterar as percepções de mundo e de seu desenvolvermos nossa perspectiva, é
potencial de implicação. A peculiaridade necessário apresentar os conceitos de
comum a todos esses tipos de acontecimento, acontecimento midiático e
acontecimento é que o resultado final, em narrativa midiática.
quê resultará o seu desenvolvimento,
possui certo grau de imprevisibilidade e
após o acontecido as percepções de Acontecimento: ruptura e
mundo já não são as mesmas. No âmbito descontinuidade
individual, acontecimentos podem ser
mortes de familiares, casamentos, Um acontecimento é um evento que, ao
nascimentos de filhos e etc. No âmbito emergir, rompe com o modo de se
coletivo, os acontecimentos têm um grau compreender as relações sociais. Ao
de afetação ampliado, um caráter público e vivenciar um acontecimento, sente‐se
são, freqüentemente, veiculados pelos implodir os quadros de sentido3
meios de comunicação. São exemplos precedentes, posto que o repertório
desse tipo de acontecimentos os desastres anterior dos indivíduos não dá conta de
naturais, eleições, eventos esportivos, explicar ou justificar naquele mesmo
entre outros. instante em que decorrem os eventos, a
natureza do ocorrido. Como nos explica
Nas sociedades contemporâneas, a forma Mouillaud, “no momento mesmo do
mais comum de se experienciar os acontecimento, não existe nada, nada
acontecimentos é pelo acesso às narrativas pode ser ‘visto’. As testemunhas estão
produzidas pelos meios de comunicação.
Assim, os acontecimentos são construídos
3
por formas narrativas convencionais e Aqui nos valemos do conceito de Goffman
publicizados. Desse modo, o público entra (1991), para quem os quadros de sentido
são princípios organizadores que tornam as
em contato com as narrativas dos situações vividas inteligíveis. Desse modo,
acontecimentos midiatizados e é afetado tais quadros seriam mobilizados pelos
pelo evento e pela organização temporal indivíduos na vida social para compreender
desenvolvida pelas narrativas midiáticas as situações vividas e, a partir disso, eles
poderiam definir qual é comportamento
ainda que não tenha vivido uma relação de adequado para cada situação e quais são os
co‐presença com o desenrolar dos sentidos partilhados.
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sideradas. A explosão é uma explosão do potencial de disjunção do acontecimento?
sentido pulverizado em um pó de detalhes” Ora, ainda que alguns acontecimentos
(Mouillaud,1997, p.49). A partir disso é sejam planejados, o imprevisto pode surgir
necessário que os indivíduos busquem e provocar deslocamentos e alterar
construir (ou reconstruir) seus quadros percepções já arraigadas.
referenciais para compreender e assimilar
a nova situação instalada. Quando se vive a experiência de
descontinuidade, busca‐se socializar as
Quéré (2005) nos explica que, uma surpresas do acontecimento e reconstruir
característica inerente a todos os um passado que torne esse evento, em
acontecimentos é o seu poder de afetação. alguma medida, possível e antevisto.
Tal afetação pode se dar tanto nos âmbitos Assim, restaura‐se a continuidade ao ligar a
da vida individual quanto nos âmbitos da natureza do acontecimento a uma série de
vida coletiva e sua capacidade de ocorrências do passado. Embora essas
implicação é proporcional a sua força. A ocorrências — marcas residuais que viram
partir disso, Quéré questiona a natureza pistas de um presente que emerge —
desse poder e quais seriam as rupturas que tenham passado despercebidas até então,
ele proporciona. O autor explica que, se ao serem decantadas mostram que a
num primeiro momento o acontecimento é realização do acontecimento no presente
inapreensível, esse vácuo de sentido comportava certo grau de previsibilidade.
instaurado acaba por marcar um período Mas, impressionantemente, esse passado e
de transição em que se torna necessário esse contexto organizado para abrigar o
estabelecer uma série de causalidades (que acontecimento e justificá‐lo não “existia”
precisam ser decantadas do passado para antes da sua ocorrência.
justificar o ocorrido) e criar um novo leque
de possibilidades para o futuro. Desta Em suma, é preciso que o acontecimento
forma, paradoxalmente, o acontecimento ocorra, que ele se manifeste em sua
pode tanto ser um início como um fim. descontinuidade e que tenha sido
identificado de acordo com uma certa
É pelo estabelecimento de uma série de descrição em função de um contexto de
causalidades e pela construção de um sentido, para que se lhe possa associar um
passado que permita reconhecer as linhas passado e um futuro assim como uma
de força que confluem no acontecimento explicação causal. (...) É por isso que o
que se torna possível apreender o sentido acontecimento esclarece o seu passado e o
do acontecimento. Com isso, alteram‐se seu futuro, melhor ainda, é por isso que o
também as possibilidades do que está por passado e o futuro são relativos a um
vir. O futuro é, enquanto conjunto de presente evenemencial. (Quéré, 2005,
possibilidades, alterado porque o presente p.62).
clama e inaugura novas possibilidades.
Quéré explica que é preciso conhecer os
Assim, Quéré destaca: nem tudo o que elementos que condicionam o
acontece é inesperado. Certos acontecimento, que o tornam possível,
acontecimentos são previstos, o que para depois ver a descontinuidade como a
quebra a noção de que só há ultrapassagem das possibilidades
descontinuidade na irrupção do previamente estabelecidas.
acontecimento. Então qual a novidade e
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representa um momento memorável, de semelhante, entendem que uma das
ruptura, que marca a trajetória individual contribuições das narrativas midiáticas dos
ou coletiva. O número de pessoas afetadas acontecimentos que é elas, ao tornarem
depende, obviamente, do grau de públicos os eventos e criarem referências
proximidade que se tem com o evento temporais coletivas, promovem uma
ocorrido (como, por exemplo, a morte de relação de implicação coletiva4.
uma pessoa próxima) e da possibilidade de
se sentir implicado pela ocorrência (como A partir da compreensão de que os
uma crise econômica de proporções acontecimentos midiáticos restauram o
globais). A possibilidade de ser afetado sentido de ocasião, Katz apresentou uma
pelas ocorrências está ligada à forma como série de características desse tipo de
esses eventos se tornam públicos e acontecimento.
conclamam coletividades a aderirem e Transmissão ao vivo: a possibilidade de
participarem da compreensão dos eventos. transmissão simultânea de um evento
Na vida social contemporânea, a forma permite que os espectadores sejam
mais comum de se tomar parte da “transportados” simultaneamente ao local
dinâmica dos acontecimentos e de ser dos eventos;
tragado por essa afetação é pela
publicização realizada pelos meios de Acontecimento planejado: para o autor, os
comunicação. Essa construção midiática acontecimentos midiáticos, em geral, não
dos eventos é chamada acontecimento foram organizados pelos mídia. Embora
midiático. alguns deles levem em conta a presença
dos meios de comunicação, ocorreriam
Segundo Katz (1993), os eventos sociais independentemente da midiatização;
que estavam associados à co‐presença dos
implicados e a uma temporalidade Enquadramento no tempo e no espaço: os
específica instauravam um “sentido de acontecimentos são situados no presente e
ocasião próprio”, que circunscrevia a são referidos a um passado reorganizado
afetação àquele contexto específico em pelas narrativas dos mídia de modo que
que o acontecimento se dava. No entanto, seja possível estabelecer relações de
com a presença dos meios de causalidade e justificativa dos eventos.
comunicação, acusou‐se a mídia de acabar Nesse processo de enquadramento, os
com o “sentido de ocasião” dos eventos mídia oferecem quadros de sentido para
visto que havia uma quebra da que os acontecimentos sejam “lidos”.
temporalidade e não era necessária a co‐
Personalidade heróica: para Katz, nos
presença.
acontecimentos midiáticos narrados pelos
Subvertendo essa compreensão, Katz
entende que os meios de comunicação,
4
pelo contrário, restauram aquilo que ele Molotoch e Lester também desenvolveram
uma tipologia dos acontecimentos
chama de “sentido de ocasião” pela
(acontecimento de rotina, acontecimento
produção dos acontecimentos midiáticos, acidente, acontecimento de escândalos e
uma vez que eles tornaram possível a acontecimento serendipty, ou seja, de
participação dos eventos coletivos a acaso). No entanto, entendemos que a
tipologia desenvolvida por Katz nos permite
públicos mais amplos. Também Molotoch e
analisar de modo mais rico o
Lester (1993), em uma perspectiva desenvolvimento da forma narrativa.
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mídias há certa centralidade da ansiedade para se vislumbrar a nova
personalidade; ou seja, costuma‐se fixar ordem.
um herói.
Katz ainda indica que essa tipologia revela
Grande significado dramático e ritual: é três elementos dramáticos que, enquanto
essencial que haja um elemento emotivo, recursos para o desenvolvimento da
ritual e simbólico no acontecimento que narrativa elaborada pelos meios de
tenha apelo junto às normas sociais e comunicação, compõe os acontecimentos
valores do público. midiáticos: a natureza programada, o
drama e o mistério. A natureza
A força de uma norma social que torna o programada está, justamente, na
ato de assistir obrigatório: para Katz, os orquestração do acontecimento. O drama
indivíduos se mostram interessados pelas seria o risco intrínseco a todo processo de
narrativas midiáticas dos acontecimentos que haja alguma falha, desistência ou
porque pressentem que uma mudança abandono dos planos e o mistério é a
substancial está se produzindo. Assim, incerteza do resultado que causa tensão
a característica principal dos devido à instabilidade que se faz presente
acontecimentos midiáticos talvez seja a na vida social.
insistência comunitária em que a pessoa Análise
deve abandonar outras funções e
compromissos a favor da televisão. ‘Pare Optamos por utilizar a matriz de Katz para
com tudo e junte‐se a nós na construção identificarmos e caracterizarmos o
da história’ é o tema constrangedor desses acontecimento midiático da campanha
acontecimentos. Ver televisão é eleitoral de Obama nos Estados Unidos.
obrigatório; nada é mais importante” Percebemos que a tipologia proposta pelo
(KATZ, 1993, p.54). autor se revelou interessante porque é
possível enxergar nesse processo eleitoral
A partir dessas características, Katz um encadeamento dos três tipos de
desenvolve uma tipologia dos acontecimentos midiáticos elencados por
acontecimentos, indicando três tipos deles: ele e identificar os elementos dramáticos
a missão heróica; a competição e a ocasião mobilizados para a organização das
de estado. O primeiro tipo se refere narrativas midiáticas5.
àqueles acontecimentos em que a história
de um herói desafia “a ordem natural das A seqüência dos acontecimentos
coisas” ou as “regras naturalizadas” para midiáticos
que os eventos ocorram (e a novidade
vinda com os meios de comunicação seria No início da campanha eleitoral, surgem
poder seguir os passos do herói antes de se como pré‐candidatos do partido
ter o resultado final). No segundo, há a democrata a Senadora Hillary Clinton e o
dimensão da disputa entre as rivalidades
tradicionais e do respeito às regras 5
Essa fragmentação do acontecimento foi
partilhadas. No terceiro, seriam aqueles realizada para a operacionalização da
momentos em que se marca o início ou o análise. De modo algum entendemos que
esses três acontecimentos midiáticos não
fim de uma era. Há certo temor do futuro e são parte de um mesmo todo, do
acontecimento que emergiu da campanha e
da eleição de Barack Obama.
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Senador Barack Obama. Embora não seja discurso que o aclamou como um político
nosso foco, a pré‐candidatura de Hillary já articulado e capaz de tratar questões sérias
gozava de expressivo reconhecimento e como o preconceito racial de modo
visibilidade midiática. Já seu oponente, era consistente e firme. Vencidas as primárias
desconhecido tanto do grande público eleitorais, interpôs‐se um outro tipo de
norte‐americano quanto no cenário acontecimento midiático para organizar o
internacional. Assim, no momento de seu novo quadro político: a competição.
surgimento, foi necessário que os mídia
construíssem um lugar de fala6 para Barack No acontecimento de competição narrado
Obama e que desse conta de traçar um pelos mídia, a disputa não se deu apenas
perfil pessoal e indicar o seu percurso entre a tradicional rivalidade entre
político. Disso, nasceu um herói. Estava republicanos e democratas: disputava‐se
posto um acontecimento midiático de pela instauração de possibilidades de
missão heróica: Obama era o primeiro futuro. O Senador McCain, associado ao
afro‐descendente a pleitear a candidatura governo de Georg W. Bush, representava a
à presidência pelo partido democrata e a continuidade, a manutenção das
reforçar o seu discurso não na luta racial perspectivas de futuro já delimitadas. Já
(embora ela tivesse atravessado muitas das Obama, se valendo da perspectiva do herói
referências feitas a ele), mas no seu construída nas narrativas anteriores,
desempenho político até então. Houve associou sua candidatura à mudança8, à
obstáculos, e o exemplo mais destacado busca por novas opções de futuro:
deles foi o discurso inflamado do ofereceu um novo por vir. Com isso, ser
reverendo Wright7. Desse entrave, surgiu o eleitor de Obama passou a ser considerado
um indicador de uma postura política
crítica ao governo vigente e atento às
6
O conceito de lugar de fala, desenvolvido transformações sócio‐culturais e aos
por Braga (2000), se trata de um ambiente desequilíbrios da sociedade americana.
construído discursivamente, que permite
Neste momento da campanha, os aliados
que indivíduo expresse suas opiniões,
crenças e compreensão da situação em que se tornam mais evidentes e os mecanismos
está inserido. Como num primeiro momento de captação da atenção dos mídia e de
Obama não era conhecido pelo público nem
possuía grande visibilidade nos meios de
comunicação, seu lugar de fala foi
construído ao longo da campanha eleitoral, nos Estados Unidos. Após tal discurso,
tanto pelos meios de comunicação, que Obama passou a ser identificado como um
buscaram situar sua trajetória e grande orador maduro e consciente.
posicionamento político junto ao público,
8
como pelo próprio Obama que participou A título de exemplo, citamos o discurso
do processo de construção de sua imagem proferido por Barack Obama nas eleições
pública pelo posicionamento adotado na primárias da Carolina do Sul, na qual o
sua campanha eleitoral e na relação com os candidato tratava da necessidade de
mídia. mudanças que os americanos ansiavam.
Nesse discurso, Obama utilizou a frase “yes,
7
O reverendo Wright da Trinity Church fez we can” como recurso retórico para
um discurso racista que teve grande interpelar a platéia. Após o discurso, o
repercussão nos meios de comunicação rapper Will‐i‐am musicou o discurso de
porque ele é o pastor da igreja freqüentada Obama e a frase passou a ser considerada
há 20 anos por Barack Obama. Após esse um mote para se referir ao vontade se
incidente, Obama realizou um discurso participar das mudanças político‐sociais
ponderado no qual tratava da questão racial necessárias.
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delineamento das ocorrências. Esses Bush, a crise econômica mais grave dos
elementos dramáticos são: a natureza últimos 70 anos e a insatisfação com
programada do acontecimento, o drama e imagem autoritária e violenta legada por
o mistério. Bush junto às outras nações do mundo.
Natureza programada do acontecimento: Quanto à candidatura sem precedentes de
um afro‐descendente, foi necessária uma
O calendário das eleições nos Estados reconstrução do passado para encontrar
Unidos é marcado por uma série de elementos na história da democracia
eventos como as primárias (ocorridas neste americana que viabilizassem tal
ano no dia 3 de janeiro), a “Super‐Terça” candidatura. Esses elementos deveriam,
(dia 5 de fevereiro), o congresso inclusive, ressaltar que sempre houve a
democrata (entre os dias 25 e 28 de possibilidade de um afro‐descendente ser
agosto), o congresso republicano (de 1 a 4 presidente, embora ela só se tornasse real
de novembro), a inscrição dos candidatos ( na medida em que se materializa no
dia 5 de novembro) e a eleição final, que horizonte de possíveis. Além disso, quando
ocorreu no dia 4 de novembro. Afora essas Obama surge como pré‐candidato, a
datas, há uma série de eventos questão racial emerge com toda sua força
programados tanto pela agenda dos e pressiona para que haja a sua
candidatos (visita a estados e discursos tematização. Ela eclode quando o
públicos) quanto pelos meios de reverendo Wright expõe seu ponto de vista
comunicação, como as coletivas de sobre a questão racial e Obama realiza o
imprensa e os debates. São essas datas discurso racial na Filadélfia. A força do
que dão a periodicidade e estabelecem o acontecimento toma proporções que
que é relevante e deve ser coberto pelos superam as expectativas de debate da
mídia. Assim, enquanto elemento questão racial.
dramático, é a programação do evento que
pontua quais são os momentos da Assim, com um passado que permita a
campanha eleitoral nos quais a presença ocorrência das eleições de 2008 e com a
dos meios de comunicação são evidência do tensionamento que atravessa
imprescindíveis. a corrida eleitoral, a candidatura de Obama
se torna o símbolo de uma sociedade que
Drama anseia por mudanças. São colocadas em
A composição dramática da narrativa xeque percepções naturalizadas e são
midiática das eleições buscou configurar revistos posicionamentos e questões
esse acontecimento pela compreensão de sociais. Ao transformar a personalidade em
um contexto que incitasse à ruptura, pela símbolo, Obama se torna aquele que marca
reconstrução de um passado, pelo o fim de uma era e estabelece novas
estabelecimento de uma teia de pontuações de futuro.
causalidade, pela explicitação de uma
necessidade de mudança e pela ansiedade
por outras opções de futuro. Mistério
O contexto das eleições de 2008 se O risco dos planos e das expectativas
vislumbrava um país dividido quanto ao serem frustradas atravessa toda a corrida
apoio às guerras iniciadas no governo de eleitoral. Conforme Katz, isso acontece
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porque as ações dos grandes homens são Mais do que isso, a eleição de Obama se
envolvidas por um mistério que causam configura como um acontecimento no seu
fascínio nos espectadores. A possibilidade sentido forte de disjunção, visto que ele fez
do insucesso que ronda as disputas com que se olhe para um passado
eleitorais cria um ambiente de obliterado e o narre como parte de um
instabilidade que é utilizado pelos mídia presente a fim de que se instaurem novas
como mecanismo de suspense e mistério possibilidades de futuro.
acerca dos eventos futuros. Aliás, a
possibilidade da narração simultânea ao Referências bibliográficas
acontecimento surgiu com os meios de BARTHÉLÉMY,Michel. Événement et
comunicação massivos e essa incerteza é espace publique: l’affaire Carpentras. In.
uma importante parte da dramatização Revue Quaderni, n° 18. Paris, Outubro de
que envolve o acontecimento midiático. 1992. (p.125‐140)
Fazer projeções, especular ganhadores,
buscar furos e informações privilegiadas BIRD, Elisabeth. DARDENNE, Robert W.
são formas de se reforçar a incapacidade Mito, registro e ‘estórias’: explorando as
de se prever o desenrolar dos eventos e de qualidades das notícias. In. TRAQUINA,
se manter no público a ansiedade por mais Nelson. Jornalismo: questões, teorias e
informações. histórias. Lisboa: Editora Vega, 1993.
(p.263‐277)
GOFFMAN, Erving. Les cadres de
Considerações finais l’experience. Paris: Minuit, 1991.
Ao fim dessa discussão, percebemos que o GUREVITCH, Michael. BLUMLER, Jay G. A
poder e a força do acontecimento estão, construção do noticiário eleitoral: um
exatamente, nesse caráter disjuntivo que estudo de pbservação na BBC. In.
ele traz consigo. No momento da TRAQUINA, Nelson. Jornalismo: questões,
ocorrência, não há quadros de sentido teorias e histórias. Lisboa: Editora Vega,
disponíveis que dêem conta de explicar e 1993. (p.191‐213)
tornar coerente o que se passa. É nesse
momento que se torna necessário KATZ, Elihu. Os acontecimentos midiáticos:
estabelecer certa organização para que o o sentido de ocasião. In. TRAQUINA,
acontecimento seja apreendido. Tal Nelson. Jornalismo: questões, teorias e
organização só se torna possível por meio histórias. Lisboa: Editora Vega, 1993. (p.52‐
da narração do acontecimento, narração 61)
essa que, nas sociedades contemporâneas,
MOLOTOCH, Harvey. LEASTER, Marilyn. As
é produzida e veiculada pelos meios de
notícias como procedimento intencional:
comunicação. Assim, entendemos que o
acerca do uso estratégico do
acontecimento midiático é resultado de
acontecimento de rotina, acidentes e
um processo de socialização da experiência
escândalos. In. TRAQUINA, Nelson.
coletiva, o que inclusive, permite afirmar
Jornalismo: questões, teorias e histórias.
que a candidatura e a eleição de Obama se
Lisboa: Editora Vega, 1993. (p.34‐51)
trata de um “fato histórico” vivenciado.
MOTTA, Luiz Gonzaga. Jornalismo e
configuração narrativa da história do
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presente. In. Revista e‐compós. Edição 1, RICOEUR, Paul. Narrative time. In. Critical
dezembro de 2004. Disponível em Inquiry. Vol.7, n°1. Outono, 1980. (p.159‐
www.compos.org.br/e‐compos. 190)
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O governo de Barack Obama: um mergulho para dentro
Rodrigo Cintra
A questão do lobby sempre uniu a opinião No caso do recém‐eleito presidente Barack
pública e dividiu a opinião política. Por Obama, mesmo que ele ainda não tenha
aquela é geralmente compreendido como assumido a presidência dos Estados
corrupção ou tráfico de influência, deforma Unidos, já é possível perceber um pouco do
que passa a ser algo que interfere perfil que o governo deverá ganhar. Para
negativamente na lógica política e na tanto, foram selecionadas e analisadas 4
condução dos bons governos. Para esta, o indicações de Obama para ocupar cargos
lobby é entendido como uma força política importantes de seu governo. Buscou‐se no
forte o suficiente para fazer com que histórico político destas indicações as
determinadas políticas possam ser relações preferenciais de doações, bem
concebidas e implementadas ou como uma como o perfil geral das captações, a fim de
força capaz de fazer o interesse de apenas compreender as forças sociais que
alguns se sobreporem aos interesses apoiaram a pessoa, dando‐lhe poder
coletivos. político e projeção suficiente para que
conseguissem as respectivas indicações.
Importante é compreender que o lobby
diferencia‐se da corrupção na medida em Secretária do Trabalho – Hilda Solis.
que o lobby deve ser compreendido como
a capacidade que um indivíduo ou grupo Deputada democrata eleita pelo estado da
tem de representar e peticionar por seus Califórnia, captou em doações
interesses junto a um tomador de decisões aproximadamente USD 890 mil dólares
(público ou privado; individual, coletivo ou desde 1999. Sua principal fonte de doações
institucional) que não tem qualquer foram as uniões trabalhistas, sendo que 15
retorno de natureza privada ao atender às dos seus 20 maiores doadores são deste
petições solicitadas. grupo. Outro importante setor de
doadores de campanha é formado por
A partir disto, é possível entender que o grupos feministas, com especial destaque
lobby é uma atividade natural e esperada para o PAC EMILY's List, que é o seu maior
na política, e não só nela. Mais do que doador individual, alcançando USD 85 mil.
negar o lobby, ele deve ser observado Os doadores de suas campanhas são fortes
como uma das formas que a sociedade civil defensores de mudanças nas regras de
organizada tem para surgir diante do formação dos sindicatos. Defendem que
Estado, defendendo os seus interesses. poderão formar sindicatos nas empresas
Neste mesmo sentido, analisar o lobby e quando pelo menos 50% dos trabalhadores
seus diversos instrumentos (doações de de uma empresa se sindicalizarem,
campanha, apoio em manifestações enquanto que a regra atual determina que
públicas, apoio técnico na formulação de os sindicatos nas empresas são formados
leis e políticas públicas) é uma forma de se por votação secreta, o que, segundo os
saber quais e porque alguns grupos serão sindicatos, abre espaço para pressões
atendidos e outros não. empresariais sobre os funcionários. Outra
área que terá grande força em sua
secretaria é a promoção de "empregos
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verdes", ou seja, aqueles que ocorrem em da agricultura e da energia renovável, as
postos que respeitam o meio ambiente. quais deve fundir em uma mesma
percepção de negócio, provavelmente no
Secretário do Transporte ‐ Ray LaHood. próprio biocombustível. Dentre os
Deputado republicano eleito pelo estado principais desafios de Vilsack está a
Illinois. É deputado há 14 anos, tendo reformulação da Farm Bill, que garante
arrecadado um total de USD 7 milhões imensas quantias em subsídios a uma série
neste período, dos quais aproximadamente de indústrias do setor agrícola.
USD 350 mil vieram do setor de Secretário de Interior – Ken Salazar.
transportes. Entre seus principais doadores
individuais, encontram‐se a Associação de Senador democrata pelo estado do
Vendedores de Carros (USD 54 mil) e a Colorado, é um reconhecido ativista
Associação de Pilotos de Empresas Aéreas ambiental. Sua indicação segue a tradição
(USD 53 mil). No entanto, o maior de oferecer o posto a uma liderança de
destaque fica para o setor automotivo, que algum estado do oeste americano, onde
fez doações que ultrapassam os USD 124 recursos naturais e uso da terra ocupam
mil, superando qualquer outro doador no um papel central na agenda política.
setor de transportes. LaHood será Salazar captou em sua vida política USD 13
responsável por criar empregos e milhões, sendo o maior receptor de
promover a infraestrutura de transporte doações da indústria de energia alternativa
dos EUA, mediando interesses divergentes depois de John McCain e Barack Obama.
das várias indústrias de transporte. Dentre Em termos de doações individuais, seu
os órgão governamentais que irá controlar segundo maior doador é Brownstein, Hyatt
e que terão uma alta capacidade de et al, que faz lobby junto ao congresso em
impacto político estão National Highway questões relacionadas com o uso da terra,
Traffic Safety Administration (NHTSA) e energia e políticas de uso da água e de
Federal Aviation Administration (FAA). terras públicas.
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Especial Barack Obama
crise maior, que tem minado a capacidade satisfeitos com sua perda relativa de poder
econômica norte‐americana, transferindo e não tomarão isso como algo inexorável,
poupança para outros países ao contrário, trabalharão fortemente para
(especialmente aqueles do hemisfério reverter o quadro. Quanto tempo isso
Oriental), diminuindo a capacidade de tomará pode ser a chave para se
liderança dos EUA e enfraquecido sua compreender se haverá sucesso. Enquanto
capacidade de construção de grandes isso, o mundo deve esperar um Estados
alianças políticas mundiais. Unidos mais protecionista (por formas não‐
tradicionais, como a defesa de padrões
O perfil das indicações, diante do cenário ambientais e trabalhistas na sustentação
atual norte‐americano, mostra que mais do do comércio internacional), que deverá
que a construção de um novo grande pacto ceder menos e tentar influenciar mais as
mundial, como foi a criação da ONU e de organizações internacionais, na tentativa
Bretton Woods (FMI, Banco Mundial e de forjar novos padrões, adequados a seus
GATT), os EUA deverão mergulhar em sua interesses.
própria grandeza, redescobrindo
potenciais. Certamente os EUA não estão
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A vitória de Obama ainda é sobre George W. Bush
Ariel Finguerut
Barack Hussein Obama, presidente eleito 1 ‐ Um Organizador Social: histórico de
dos EUA em 2008, fez uma campanha uma mudança.
milionária (foram mais de 600 milhões de
dólares), mobilizou o eleitorado americano A candidatura de Barack Obama
e a opinião pública internacional de forma apresentou‐se diante de um desafio quase
inédita numa campanha longa (quase dois impossível de ser vencido – pelo menos no
anos11) inovadora (com um papel inédito contexto político‐social dos EUA. Os
dado aos meios eletrônicos de motivos eram suficientes para analistas
comunicação) centrada nas bandeiras de pontuarem como fragilidade eleitoral: em
mudança, esperança e juventude. primeiro lugar tratava‐se de um candidato
negro; em segundo, um candidato com um
A “mudança”, concepção fundamental na nome que era associado a dois grandes
campanha de Obama, em termos práticos, inimigos declarados dos EUA, Osama Bin
pode ser entendida como um sinal de Laden e Saddam Hussein, ‐ e é preciso
antagonismo com o legado lembrar o pavor social causado pelo 11 de
neoconservador de Bush na política setembro de 2001, ainda presente na
externa e, conservador, de forma geral, na lembrança dos americanos. Seu nome tem
política doméstica. Mas o que origem africana, o que é facilmente
representava “mudança” na campanha de confundido com origem muçulmana; em
Obama? É o que discutiremos neste artigo terceiro lugar, Obama é um político jovem,
que se propõe fazer uma análise da eleição com pouca experiência política; e
presidencial de 2008 nos EUA com foco no finalmente um quarto ponto: ele
diálogo que a campanha e a votação tão enfrentaria uma candidata vista como
expressiva de Obama tiveram comparadas imbatível, Hillary Clinton que dispunha de
ao legado político de George W. Bush. Para recursos para a campanha e apoio da
tanto analisaremos as primárias da máquina partidária.
campanha de Obama a partir de seus
adversários, as principais propostas de A trajetória de Obama, de certa forma,
política externa ali apresentada e, por fim, responde como este candidato conseguiu
desenharemos uma comparação entre a vencer esse quadro desfavorável que lhe
eleição de 2008 e a de George W. Bush em era associado durante as primárias do
2004, procurando perceber as mudanças Partido Democrata. Em muitos momentos
de perspectiva política. Entendemos que Obama parece que fez o impossível;
essa discussão contribuirá para aqueles nascido em Honolulu em 1961, criado em
que procuram entender as “mudanças” Kansas, ativista em Chicago; Barack teve
oriundas dessa eleição histórica onde foi uma primeira formação em ciências
eleito Barack Obama. políticas e especialização em relações
internacionais pela Universidade de
Columbia, formação que foi completada
com um curso de Direito em Harvard.
11
Os candidatos começaram a se articular
entre novembro de 2006 e fevereiro de
2007.
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Entrou para a política pela Trinity United religioso Alan Keyes, vencendo por uma
Church of Christ12 trabalhando como diferença superior a 40% dos votos.
“organizador social”. O passo seguinte foi
transformar‐se num “mobilizador político” De volta ao Senado, passou a aparecer nas
trabalhando na eleição de 1992 para as listas de políticos mais influentes do
campanhas de Bill Clinton e Carol Moseley partido democrata, o que lhe rendeu o
Braun13, a primeira mulher negra eleita direito a voz na convenção nacional do
para o senado. Partido em Boston, Massachusetts, que
lançou a candidatura de John Kerry. Em
Obama também se interessou pelo Direito 2005, apareceu na lista da revista Time,
antes de concorrer a um cargo público. Ele como uma das 100 pessoas mais influentes
trabalhou entre 1992 e 1996, como do mundo. Trabalhando em sua segunda
advogado de direitos civis em Chicago, e legislação com senadores experientes
lecionou Direito Constitucional na como Richard Lugar e Russ Feingold entrou
Universidade de Chicago durante este em comissões importantes como a de
mesmo período. Política Externa (onde se posicionou contra
a Guerra do Iraque), Orçamento, assuntos
Em 1996, foi eleito senador pelo estado de relacionados à Europa e relativos ao
Illinois, tendo uma atuação moderada, furacão Katrina.
porém com ênfase na questão social e dos
direitos civis. Dentre seus principais feitos Em 10/02/2007 em Springfield, Illinois,
como senador destacamos a tentativa de Barack Obama (sem Hussein) anunciou sua
criar um fundo para o combate a AIDS entrada na campanha pela nomeação do
nacional e internacional; mudança das Partido Democrata à presidência dos EUA.
regras dos seguros de saúde, dando mais A estratégia de início era abrir o terreno
direitos aos inadimplentes e a lei que para a indicação em 2012 ou, na melhor
obriga a instalação e manutenção de das hipóteses, ganhar força política para o
câmara nas salas de interrogatório da posto de vice numa chapa com Hillary
polícia dos EUA. Como senador, destacou‐ Clinton. A base política de Obama estava
se também em temas relacionados à neste momento em Chicago sob
África, ao desarmamento militar e aos responsabilidade de Dann Shapiro15, David
biocombustíveis. Axelrod16 e David Plouffe. Foram estes três
nomes que em poucos meses
Em 2000, tentou disputar a cadeira do transformaram a candidatura de Obama
Partido Democrata no Congresso pelo num acontecimento social e político nas
primeiro distrito de Illinois14, perdendo eleições de 2008.
para Bobby L. Rush (61% a 30%), o que o
levou a uma nova eleição ao senado em
2004, esta vitoriosa. Obama enfrentou, na
15 Trabalhou no Conselho de Segurança
ocasião o republicano conservador‐ Nacional durante o governo Bill Clinton,
assessor experiente de políticos democratas
no Senado. Assessorou o Senador da Flórida
12 Cf.<http://www.tucc.org/home.htm> Bill Nelson e foi Embaixador dos EUA nos
Acesso em: 09\07\08. Emirados Árabes. Com Obama, sua
13 Eleita pelo Estado de Illinois. assessoria tem focado nos temas do Oriente
14 Nos EUA as eleições para o Congresso são Médio, enfatizando um discurso pró‐Israel.
distritais Cf.<www.house.gov>. Acesso em: 16 Um estrategista político conhecido em
13/07/08. Chicago, mas não nacionalmente.
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Especial Barack Obama
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Especial Barack Obama
na reta final da campanha. A resposta da arrecadar seis milhões de dólares num
campanha de Obama foi manter a postura único dia via internet), um ex‐ator,
“cool”, ou seja, manteve‐se como um candidato de última hora, Fred Thompson
jovem afro‐descendente aglutinador de e o moderado, herói de guerra, John
forças pró‐mudança. Nos termos de Robert McCain.
Kurz, o fortalecimento de Obama foi fruto
das “esperanças, desejos e medos (que) A Guerra do Iraque estava em 2008 cada
ligaram‐se a um messias político quando vez mais impopular, assim como o governo
uma ruptura balança a sociedade” (KURZ, Bush [conferir quadro 5], de forma que, os
2008, p. 0818) ventos sopravam a favor dos democratas.
Com o avanço das primárias entre os
Mapa 1 – A disputa pela indicação da republicanos, Guilliani ficou para trás, e as
nomeação do partido democrata, Estado candidaturas McCain, Romney e Huckabee
por Estado entre Clinton e Obama.19 cresceram.
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Especial Barack Obama
4 ‐ O Fortalecimento de McCain diante da
divisão dos democratas entre Hillary e
Obama.
21
Cf. <http://www.nrlc.org/>. Um dos
24
principais Think Tanks da Direita Cristã que Segundo pesquisa Gallup de janeiro de
mobiliza evangélicos e renascidos cristãos 2008, 11% rejeitaria uma candidata mulher
em geral para temas conservadores como e 5 % um candidato negro.
25
aborto, migração, direitos civis e que Rove foi o principal estrategista de George
distribui guias de votação em todos os W. Bush, desde sua campanha para o
estados dos EUA. Acesso em: 03\04\08. governo do Texas até as duas eleições
22
Ligado ao American Center for Law & Justice presidências. Foi também um dos principais
(http://www.aclj.org/). articuladores da base conservadora durante
23
Ativista importante anti‐aborto. os oito anos de W. Bush na Casa Branca.
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Especial Barack Obama
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Especial Barack Obama
estratégia para a Guerra do Iraque militante do grupo Weather Undergroud
(basicamente sem data para retirada com um grupo de influência Beat que pregava a
reforço de tropas) ganhou eco eleitoral, re‐ guerrilha urbana contra a Guerra do
conquistando eleitores descontentes com Vietnã) e exploravam a falta de experiência
os rumos da gestão republicana. Em seu e o caráter popstar da candidatura, ataque
discurso de nomeação Obama retratou que ficou bem caracterizado pela vinheta
este momento desfavorável buscando financiada pelos republicanos que
colar a McCain uma imagem de associavam a imagem de Obama a de uma
continuísmo desconstruindo a perspectiva celebridade como Paris Hilton
de candidato da mudança, como McCain despreparado para os desafios de liderar e
queria ser visto. governar um país como os EUA.30
Quadro 4 ‐ McCain x Obama em Swing Por fim, faltando poucas semanas para a
States29, dados de julho de 2008 (Obama já eleição, os republicanos lançaram – a partir
como candidato definido do Parido de um ríspido diálogo entre Obama e um
Democrata). eleitor de Ohio, Joe Wurzelbacher (que
ficou conhecido como Joe, o encanador)31 –
Estados Obama McCain Diferença em
uma campanha anti‐Obama. O impasse
%
girou em torno da discussão sobre
Flórida 43.8 46 2.2% pró‐ impostos e distribuição de renda. Os
McCain
republicanos se aproveitaram do caso
Michigan 43.6 41.6 3% pró‐Obama expondo na mídia a idéia de que Obama
Ohio 47.3 42.8 4.5% pró‐
Obama seria um socialista e iria aumentar os
Carolina 42 46.5 4.5 pró‐McCain impostos para redistribuir a renda. Joe, o
do Norte
encanador, ganhou destaque nacional,
Pensilvânia 48 40.3 7.7% pró‐
Obama simbolizando o homem branco de classe
Iowa 47.7 41.3 6.4% pró‐ média temeroso. Depois deste fato, o
Obama
socialismo voltou às bocas dos
Virginia 44.3 45 0.7% pró‐
McCain comentaristas das grandes redes de TV,
Fonte: desacostumados com o conceito, tão
http://www.realclearpolitics.com/polls/ ; recorrente no linguajar da Guerra Fria.
acessado em 07/2008 Porém, do lado democrata, a resposta não
foi direta, na defesa de uma tributação
Contra Obama os republicanos resgataram
mais justa que possibilitaria a
as principais polêmicas levantadas pela
universalização do sistema de saúde e um
candidatura Clinton: suposta infância
melhor nível educacional, discurso também
islâmica na Indonésia, suposto vínculo com
voltado para classe média equilibrou o
radicais, como o pastor Jeremiah Righ
efeito “Joe”.
(pastor da Trinity United Church of Christ,
freqüentada por Obama), o professor da
Universidade de Chicago Bill Ayers (que foi
30
Cf. vídeo
em:<http://www.youtube.com/watch?v=4_
29
Dados sistematizados pelo site Za‐Mx1y3A> (acesso em: 09\11\08)
RealClearPolitics:
31
<http://www.realclearpolitics.com/>. Cf.<www.secureourdream.com>. Acesso
Acesso em: 09\06\08. em: 09/12/2008.
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Especial Barack Obama
O principal cabo‐eleitoral de Obama foi a EUA não poderiam ter dúvidas em relação
rejeição à Geroge W. Bush, a Guerra do a sua capacidade de mudar o mundo e de
Iraque e o vinculo destes dois na mostrar às outras nações a trilha para um
candidatura de McCain, o quadro 5 abaixo engajamento que produziria a paz no
nos mostra como o desempenho de W. sistema internacional. Concretamente, sair
Bush no período eleitoral foi um fator do Iraque, para McCain, seria “abraçar a
decisivo para a vitória de Obama e um derrota”, a solução seria um plano capaz
fator constrangedor para a campanha de derrotar os extremistas, evitando que o
republicana. Iraque se transformasse num “santuário de
terroristas”. A vitória americana
Quadro 5 ‐ Evolução da avaliação do dependeria de um engajamento de anos,
governo George W. Bush entre maio e com uma estratégia bem definida. Para
novembro de 2008 (momento decisivo das tanto, McCain propunha mais tropas no
eleições presidenciais) em porcentagem. Iraque, mais gastos militares e um re‐
Instituto Gallup Instituto Fox News arranjo das organizações internacionais. O
que viria em boa parte com a criação –
Mês Aprova Desapr Aprovaçã Desapro liderada pelos EUA – da Liga das
ção ovação o vação
Democracias. Esta liga permitiria aos países
Maio 29 65 32 60 democráticos e aliados agirem sem os
bloqueios e entraves impostos pela ONU. A
Junho 30 64 29 64
Liga das Democracias não substituiria a
Julho 31 61 27 66 ONU, que continuaria a existir, mas seria
uma espécie de OTAN a nível mundial. Na
Agost 33 61 28 67
o
Liga, aliados como os países da América
Sete 31 65 32 64 Latina, teriam mais peso político.
mbro
Outu 25 70 25 69 Pensando na Guerra ao Terror, a proposta
bro
do candidato republicano seguiu a linha do
Nove 29 66 26 67
mbro soft power ao Islã moderado; uma área de
Fonte: Compilação feita por nós com base livre comércio ligando a África ao Oriente
nos dados disponíveis no site Polling Médio, isolando países que patrocinam o
Report <http://www.pollingreport.com> terror. Propunha uma nova estratégia para
Acesso em: 08\12\08. as forças armadas dos EUA, que passariam
a ter mais serviço de inteligência,
treinariam forças estrangeiras para agirem
em situações de fracasso estatal;
5 ‐ 100 anos no Iraque: a política externa
investiriam em novas armas e programas
de McCain x a política externa de
de treinamentos para enfrentar “novos
Obama/Clinton
inimigos”, aumentando o quadro dos
Foi na discussão das propostas de política atuais 750 mil alistados para 900 mil.
externa que McCain produziu a principal
Na política de poder, McCain identificava a
distinção de sua campanha diante das
Ásia e o Pacífico como novo lócus. Coréia
propostas dos democratas.
do Sul, Austrália, Japão e Índia seriam os
Seu norte na política externa retomava o aliados preferências dos EUA e teriam um
momento pós‐Vietnã mostrando que os papel central na resolução de conflitos que
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Especial Barack Obama
A Guerra do Iraque quando declarada, Obama sinaliza para uma manutenção das
contava com um amplo apoio político, políticas republicanas quando permanece
entre republicanos, democratas e com Robert Gates na Secretaria de Defesa,
ideólogos do neoconservadorismo, dos em questões sobre o terrorismo e a
liberais e até entre progressistas e segurança doméstica. Com Hillary Clinton,
libertários de ambas agremiações substituindo Rice, ele sinaliza para um
presentes no Congresso, que aprovou a resgate das pretensões americanas de ser
Guerra. Esta imagem começou a mudar uma liderança global, ameaçada e
quando, pós‐vitória precisou‐se de quatro questionada com o engajamento global do
anos para ajustar uma estratégia contra os governo Bush. Quanto ao Iraque, Obama
insurgentes, tempo que na percepção do sinaliza para uma diplomacia que force o
eleitorado produziu um enfraquecimento entendimento entre os atores domésticos
e reconhece que a vitória militar não pode
ser atingida. Caso o entendimento
32
Para o candidato republicano, não há por doméstico não ocorra, cabe ao presidente
que pensar, de partida, na China como um
adversário, mas é preciso estar atento ao
crescimento militar chinês, bem como a
33
relação da China com Estados Falidos e sua http://www.brookings.edu/foreign‐
tensão latente com Taiwan. policy.aspx. Acessado em 02\12\08.
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Especial Barack Obama
decidir entre uma nova estratégia ou um mais velhos (eleitores com mais de 65
plano de retirada. Optando pela retirada, anos, representam 16% do eleitorado) e
Obama corre o risco de ficar sem a vitória, votou majoritariamente (53% dos votos)
que não seria possível, de qualquer forma, em McCain (um candidato de 72 anos) o
nem com uma região estável, que os EUA que seria compensando pelos votos do
já tiveram no passado. eleitorado mais jovem, entre 18 e 29 anos,
que representa 18% do eleitorado.
O nó do Iraque em certa medida, é o
mesmo que a política externa dos EUA Isolando os 35% que se identificam como
enfrenta desde Carter (1977‐1981) para o conservadores pela pesquisa Gallup de
Oriente Médio, isto é, lidar o interesse novembro de 2008, teríamos 65% de
energético vital (petróleo e gás), garantir a moderados e liberais, parcela que poderia
segurança de aliados‐ chave tranquilamente garantir os 51%
(principalmente Arábia Saudita e Israel), necessários para a vitória democrata. A
lidar com o conflito Árabe‐Israel e Persas principal ameaça a vitória de Obama estava
(Irã)‐Árabes e, mais recentemente, nos desdobramentos da crise econômica
entender e combater a ascensão das que coincidiu com o desfecho das eleições
políticas de base islâmica que substituíram e, no debate sobre os desdobramentos e
o nacionalismo árabe. São estes os desfecho da Guerra do Iraque. Bush, em
principais pontos que a administração 2004, enfrentou o seguinte quadro
Obama/Clinton terão que lidar para ideológico (segundo a Cnn 34): 34% se
realmente construir uma mudança na diziam conservadores, 45% moderados e
política externa dos EUA. 21% liberais, muito semelhante ao quadro
de 2008. Vejamos agora um quadro de
comparação entre o perfil da vitória de
6 ‐ George W. Bush: Ou você esta com ele, Bush em 2004 e de Obama em 2008.
ou você esta contra ele: como (e porque) Quadro 6 ‐ Comparação entre o
Obama venceu Bush. desempenho eleitoral de George W. Bush
em 2004 com Barack Obama em 2008.
Dados em porcentagem.
Do lado dos democratas a soma para a
vitória eleitoral começava assim: 12% do
eleitorado é formado pela população George W. Bush em 2004 Barack Obama em 2008
negra, 15 % são latinos; são 28% que Vitória ente homens Derrota entre os homens
poderiam anular os eventuais 30% pró‐ brancos (62 x 37) e entre
brancos (43x40) e entre
homens (55x44) os homens (49x48) e
Bush (ver quadro 5). O sul dos EUA tende a entre homens brancos
votar nos republicanos, o que poderia ser do sul (60x 38)
Derrota entre negros (52 x Vitória entre negros
balanceado por uma vitória nas grandes
11) (92x3)
cidades. Os mais ricos tendem a votar no Vitória entre pessoas Vitória entre hispânicos
candidato mais conservador e serem mais casadas (57 x 42) (74 x 20)
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Especial Barack Obama
Derrota entre latinos Vitória entre pós‐ hegemonia no Sul, obtiveram vitórias com
(53x44) graduados (61x34)
margem acima de 10% em estados como:
Derrota entre os com Vitória entre os com
ensino superior (55x 44) ensino superior (51x 45) Alabama, Arizona, Arkansas e Carolina do
Vitória entre pessoas Vitória entre os com Sul, e vitórias apertadas na Geórgia, Dakota
casadas (57x42) Ensino Superior
incompleto (50x 43)
do Sul e Carolina do Sul. Obama saiu‐se
Vitória entre pessoas com Vitória entre pessoas muito bem na: Califórnia, Connecticut,
porte de arma (63 x 36) com até ensino médio Illinois, e Nova Iorque, com vitórias
(50 x 41)
Vitória entre evangélicos Vitória entre apertadas no Missouri, Carolina do Norte,
(78x21) conservadores pró‐ Indiana, Montana, Flórida, Ohio e Virgínia
democratas (82x12)
(estado que desde 1964 era
Vitória entre protestantes Vitória entre moderados
(59x40) pró‐democratas (89x7) majoritariamente republicano). Vejamos a
Vitória entre católicos Vitória entre os liberais comparação do mapa de 2004 (vitória de
(52x47) (96x3)
Bush) com o mapa de 2008 (Obama).
Vitória entre moradores Vitória entre mulheres
da zona rural (57x42) solteiras (63x29)
Vitória entre os moradores Vitória entre homens Mapa 2 ‐ Vitória de George W. Bush em
dos subúrbios (52x47) solteiros (58x34) 200436.
Derrota entre judeus (74 x Vitória entre os Judeus
25) (78x30)
Derrota entre asiáticos (56 Vitória entre asiáticos
x44) (62x40)
Fonte:
http://www.cnn.com/ELECTION/2008/resu
lts/full/#P cruzados com os dados de
Pesquisa Nacional feita pela CNN em 2004
como o eleitorado logo após votação35.
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Especial Barack Obama
Quadro 7 ‐ A virada de Obama nos “Swing
States” (Dados oficiais da eleição de Fonte: MELGOZA, César M. Portrait of
4/11/2008, em porcentagem) Hispanic Power. Poder, n.58, outubro de
2008, p. 28‐51.
CANDIDATOS
Obama McCain O desempenho de Obama entre os latinos
Flórida 51 49 foi decisivo para sua vitória. Em Estados
como Texas e Arizona, sua campanha
centrou‐se numa promessa de assimilação,
37
A crise teve vários fatores dentre eles a reaproximação com a América Latina,
expansão das fianças desregulamentadas, o propondo um assessor especial para o
boom das hipotecas e a ameaça de tema em seu gabinete e buscando dialogar
recessão.
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Especial Barack Obama
com parcelas específicas do eleitorado peso do Partido Republicano, e que
latino. Segundo pesquisa do Latin Force apoiaram McCain – sentiu o desgaste do
Group38 (2008), os hispânicos nos EUA discurso anti‐castrista e conservador
podem ser sub‐divididos em: marcados pelo governo W. Bush. Em
americanizados, aqueles que falam inglês, relação à votação que Bush teve entre os
nasceram nos EUA, são neto ou bisneto de latinos em 2004, McCain teve uma perda
imigrantes, sem laços culturais fortes com de cerca de 30%40, e o motivo central da
a cultura hispânica. (representam 15% do mudança para o lado democrata, segundo
universo latino); novos latinos que também esta pesquisa, foi a questão da migração e
nasceram nos EUA, mas os pais não falam a preocupação com a economia.
inglês e espanhol e valorizam a cultura
hispânica (representam 30% do universo O desempenho eleitoral de McCain entre
latino); os bi‐culturais, que são bilíngües, os latinos também nos sinaliza para uma
imigrantes que vieram na infância para os crise na base de sustentação dos
EUA e representam 25% do universo latino; republicanos. O senador do Arizona teve
os hispanos, que pouco dominam o inglês, grande dificuldade de, como moderado e
imigraram na idade adulta e estão no autor de leis pro‐imigrantes, assimilar um
máximo há dez anos nos EUA, representam discurso conservador, anti‐imigrante com
15% do universo latino. Por fim, os retórica religiosa. Talvez, se McCain, ao
latinoamericanos, recém chegados aos invés de convidar a governadora do Alasca,
EUA, com pouco domínio da língua e Sarah Palin – que desempenhou o papel de
grande identificação cultural hispânica, atrair o eleitorado mais conservador,
representam 15% do universo latino. religioso e que flertou com os eleitores
democratas descontentes com a derrota
A candidatura democrata conseguiu de Clinton nas primárias do partido
massivo apoio dos latinos, em estados democrata – convencesse um democrata,
como Califórnia, Nova Iorque, Ilinois e ou o próprio governador da Flórida, Charlie
Texas tendo nestes estados uma votação Crist, a ser vice na chapa republicana, o
foi superior a 70% entre os latinos desempenho eleitoral entre os latinos teria
(respectivamente: 71%%, 73%, 75% e sido diferente.
73%39). Na Flórida, um estado com
peculiaridades, Obama ganhou entre os 7 ‐ Conclusão
latinos com 52%, centrando sua campanha Obama foi eleito presidente dos EUA
entre novos latinos e bi‐culturais, uma devido a um triângulo de fatores
parcela da população de cubano‐ fundamentais, que também explicam sua
americanos que não mais tem o embargo e trajetória até o momento. Destacamos o
o regime cubano como prioridades na hora primeiro ponto: o político. Neste vem se
do voto. O eleitorado republicano na colocando como moderado, capaz de lidar
Flórida – responsável pela vitória de Jeb e reconciliar pontos de vista opostos.
Bush (1998‐2007) e Charlie Crist Como presidente eleito tem demonstrado
(governador desde 2007), dois nomes de esta marca ao chamar sua principal
adversária interna, Hillary Clinton, para a
38
Cf.<http://www.nhclc.org/>. Acesso em:
09/12/2008.
39 40
Fonte: nytimes.com/election‐guide/2008, cf. pesquisa do National Hispanic Christian
acessado em 02/12/2008. Leadership Conference
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Especial Barack Obama
Todas estas medidas, conforme mostra a Por fim vale destacarmos seus dois motes
pesquisa da Universidade de Quinnipiac de campanha: uma afirmação “Yes We
(de 06/11/2008), são aprovadas e Can” (Sim, nós podemos) e um conceito
respaldadas pela opinião pública: 65% vago porém forte, “Change” (mudança).
aprovam a escolha de Clinton, 75% de Ambos sinalizam para uma retórica de
Gates e, para 51%, Obama escolheu a mudança e Obama conduz esta
quantidade certa de nomes com passagem mobilização rumo a uma transição política,
pelo governo Clinton. não para uma revolta política, em parte,
por que sua candidatura manteve‐se fiel ao
Quanto ao seu perfil político, percebemos partido democrata e, em parte, pelo perfil
que ao longo da campanha Obama que desenha para seu gabinete, trazendo
construiu sua imagem como alternativa políticos e técnicos experientes e
possível aos rumos tomados por Bush de estabelecidos. O carisma serve para Obama
perfil centro‐conservador. Colocou‐se como ponte entre os anseios produzidos e
assim, como de centro‐liberal, decisão que a transição política almejada, caso
foi bem aceita pela opinião pública, vide contrário, nas palavras de Slavoj Žižek
pesquisa feita pela Universidade de (Folha de S. Paulo, 09/11/2008, p. 06): “[...]
Quinnipiac41 que aponta como o eleitorado até onde um novo presidente pode impor
associa o perfil político de Obama: liberal mudanças reais sem provocar um
(52%), moderado para (30%) e conservador derretimento econômico ou uma revolta
(6%). política?”
Durante a campanha, tanto contra Clinton O foco central da campanha democrata, a
como contra McCain, Obama demonstrou propagada “mudança” teve como
carisma. Segunda característica que explica interlocutor concreto a Guerra do Iraque.
sua trajetória, vértice de seu triângulo de Os republicanos propunham a continuação
sustentação. Seu carisma se evidencia na da presença militar, já Obama sinaliza para
mobilização inédita que produziu no um plano de saída, o que conta com o
eleitorado dos EUA. Sua arrecadação foi respaldo popular, como sinaliza a pesquisa
um recorde, sua votação foi recorde, seus da Universidade de Michigan (de
discursos e eventos de campanha lotavam 02\12\2008) que perguntou se sair do
parques, estádios com um aparato de Iraque seria um grande progresso, um
segurança semelhante a de uma progresso, não seria um progresso ou se a
celebridade42. Seu poder de mobilização de situação ficaria pior. Para 27%, seria um
grande progresso, para 42% um progresso,
41
Cf. www.quinnipiac.edu/x271.xml para 15% um não progresso e para 10%,
42
Em Berlin calculou‐se em um milhão de sinalizaria para uma piora da situação. Ou
expectadores, em seu discurso aceitando a
candidatura democrata no estádio do
Denver Broncos foram cerca de 80 mil, no
discurso da vitória em Chicago calcula‐se mais de um milhão de pessoas.
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Especial Barack Obama
seja, a mudança de rumo na Guerra do Zimbábue – te dissuadir de fazer o que
Iraque de Obama tem 69% de aprovação, você pensa ser o certo para os EUA.” 43
porcentagem semelhante ao índice de
rejeição a Guerra do Iraque em novembro Bibliografia
de 2008 (fonte pesquisa Gallup): 66%. Isso ASSHEUER, Thomas. Ainda Potência,
nos mostra uma relação direta entre a entrevista com Jürgen Habermas. Folha de
rejeição a Bush e a vitória de Obama e S. Paulo, Caderno Mais! p. 09, 09/11/2008.
reforça a imagem do primeiro como o
responsável pela imagem internacional BENOIT, Bertrand. US will lose financial
negativa dos EUA e o segundo como a superpower status. Financial Times,
esperança de uma nova postura 27/09/08.
internacional.
BROOKS, Davis. The Running Mate Choice.
Fechando o triângulo de sua caracterização The New York Times, 27\04\08.
política e pessoal temos um democrata de
BRZEZINSKI, Zbignew. The Choice. NY: Basic
visão política moderada (de centro) com
Books, 2003.
habilidade para ouvir lados distintos,
mantendo o diálogo aberto com o CLINTON, Hillary Rodham. Security and
oponente. Foi com este ímpeto que Obama Opportunity for the 21th Century. Foreign
convidou Clinton para Secretária de Affairs. Novembro\dezembro de 2007.
Estado, Robert Gates para a Defesa e
propôs, com esta estratégia em mente, COLTER, Ann. Slander. NY: Three Rivers
durante a campanha: tributação mais justa, Press, 2002.
universalização do sistema de saúde,
DAALDER, Ivo H.; LINDSAY, James M.
melhora no nível educacional, melhor
American Unbound. NY: Brooking
distribuição de renda e novas estratégicas
Institution Press, 2003.
diplomáticas com Cuba e Irã.
FONSECA, Carlos da. Os Think Tanks e a
Se não bastasse os desafios de lidar com
política americana. Contexto Internacional,
duas guerras, com a ameaça do terrorismo,
v. 29, n. 01, janeiro/junho de 2007.
a reconstrução econômica, Obama precisa
também lidar com as expectativas, sonhos, GALLUP. Politics and Government.
aspirações e encanto depositados em sua Disponível em
imagem por milhões de pessoas no mundo <http://www.gallup.com/pol>. Acesso: 02
inteiro. Pensando nisso, John Bolton, um abr. 2006.
dos principais nomes do governo W. Bush,
e influente interlocutor republicano nos _______. Pulse of Democracy. Disponível
meios neoconservadores, se despede em:
deixando o seguinte conselho ao
presidente eleito: “Não deixe a opinião
pública global sobre os EUA – da Albânia ao
43
No original: “ Do not let global “public
opinion” about the U.S – from Albania to
Zimbabwe – dissuade you from doing what
you think is right for America” in Open
Letter to President‐Elect (disponível em
aei.org acessado em 25/11/2008)
Página | 50
Especial Barack Obama
GREEN, John C; ROZELL, Mark J.; WILCOX, MOSI, Dominique. Views from abroad for
Clyde. The Christian Right in American the next U.S administration. Foreign
Politics: marching to the millennium. Affairs, setembro/ outubro de 2008.
Washington D.C: Georgetown University
Press, 2003. OBAMA, Barack R. Renewing American
Leadership. Foreign Affairs, Julho\Agosto
HASS, Richard N. The Reluctant Sheriff The 2007.
United States after the Cold War. NY:
Brookings Inst, 1998. SCHOEN, Douglas. Obama and the Values
Question Mark. Washington Post,
HOLBROOKE, Richard. A Daunting Agenda. 12\04\08.
Foreign Affairs, setembro/ outubro de
2008. SHANKS, J. Merrill e MILLER, W. The New
American voter. Harvard University Press,
KAGAN, Robert. The Bush Era in Cambridge. 1996.
Perspective. Foreign Affairs, setembro/
outubro de 2008. SILVA, Carlos Eduardo Lins da. O último ano
de Bush e seu legado aos EUA. Revista
KAHL, Colin e ODON, William. Leaving Iraq: Política Externa, São Paulo, v 16, n. 03, fev.
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KRISTOL, William. McCain – Jindal? Mew Realism. Foreign Affairs, julho/agosto 2008.
York Times. 05\05\2008.
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KUHN, Paul. GOP strategists mull McCain John McCain and the Media. Anchor, NY.
‘blowout’. Washington Post, 25\05\08. 2008.
Página | 51
Especial Barack Obama
O significado da vitória de Obama para as relações internacionais
André Barrinha
Num mundo cada vez menos últimas décadas não deixaram de existir,
‘americanizado’, a eleição de Obama mas passaram a ficar enquadrados numa
mostrou‐nos o fascínio que os EUA ainda nova realidade, a realidade da mudança
nos podem provocar. Depois de oito anos possível. E este é o primeiro impacto de
desastrosos e provavelmente irremediáveis Obama para a realidade internacional: num
em termos de perda de influência dos EUA mundo em que as democracias se vêem
no mundo, cabe agora ao novo Presidente confrontadas com a falta de interesse dos
e à sua equipa transferir a magia do dia 4 seus próprios cidadãos, em que a China
de Novembro ao resto do planeta. O seu apresenta um modelo alternativo para o
exemplo de vida, a sua política externa e a desenvolvimento de um país, em que as
consciência do novo lugar dos EUA no paranóias securitárias reduzem as
mundo serão vitais para tal sucesso. liberdades centrais do modelo
democrático, a fé em tal sistema político
esmoreceu. Nesse sentido, a vitória de
Liderança pelo exemplo Obama vem mostrar o que todos
sabíamos, mas andávamos esquecidos –
Fez‐se história. A eleição de um Presidente que só em democracia é possível o
da maior potência mundial, fica sempre politicamente improvável; que só em
para a memória coletiva da Humanidade, democracia a política pode ser aquilo que
assim como a sucessão de imperadores em queremos e não aquilo que nos é imposto.
Roma ou a mudança de monarca no Reino A promoção da democracia pelo exemplo é
Unido dos séculos XVIII e XIX. A eleição do já uma realidade com a eleição de Obama.
44° Presidente dos EUA tinha, portanto, à É natural que a isto os EUA juntem na sua
partida, o seu lugar assegurado na história. política externa a promoção da democracia
Contudo, enquanto que a eleição de de forma mais direta junto de outros
Reagan, Bush ou Clinton foram relevantes países; contudo, ao contrário do que
pelo fenômeno em si (a eleição), no caso acontece agora, tal será feito por um
de Obama o importante não foi o Presidente que foi eleito com base nas
fenômeno eleitoral, mas sim quem foi mais‐valias do sistema democrático e não
eleito. nas suas falhas.
Ao contrário dos casos atrás mencionados,
cujo legado só pôde ser avaliado depois de
estes passarem pelo poder, no caso de A política externa de Obama
Obama o legado já existe, Portanto, o exemplo de Obama traz sem
independentemente do Presidente que demais algo de diferente ao mundo,
venha a ser. Um legado que é político, mas independentemente do que as suas
sobretudo social; um legado que nos indica políticas venham a ser. Em relação a estas
que os problemas raciais que têm marcado ainda pouco se sabe. Contudo, a nomeação
a sociedade norte‐americana ao longo das de Hillary Clinton para Secretária de Estado
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Especial Barack Obama
vem dar aos EUA uma extraordinária tentará fazer a economia norte‐americana
combinação de carisma e experiência. descolar.
Barack Obama como ídolo em boa parte do
mundo (assim o diziam as sondagens antes Iraque. Barack Obama usou na sua
das eleições), Hillary Clinton como campanha o fato de ter votado contra a
experiente, carismática e intervenção dos EUA (ao contrário de
internacionalmente influente (também todos os seus adversários democratas nas
através do seu marido, Bill Clinton) primárias). Além do mais, insistiu por
Secretária de Estado, e o Vice‐Presidente várias vezes que, caso eleito, tentaria
Joe Bidden com décadas de experiência em retirar as tropas norte‐americanas do
política externa no Capitólio fazem crer Iraque assim que possível. Após as
que os EUA levem a cabo uma política eleições, os EUA assinaram um acordo com
externa mais sensata e pensada ao que o Governo iraquiano no qual 2011 é
tem sido posta em prática nos últimos oito apontado com data limite para tal retirada.
anos. Oportunidades não faltam. Depois do Será interessante saber se a nova
efeito ‘elefante em loja de cristais’ que a Administração não tentará antecipar tal
Administração Bush provocou nas relações data. Para além da questão da retirada,
internacionais, a nova Administração terá não é claro o papel que Obama pretende
várias questões importantes a resolver, ter no futuro do Iraque. Retirar sem deixar
mesmo antes de tentar promover a sua o país cair no caos será uma das mais
própria agenda. Vejamos algumas: difíceis tarefas do novo Presidente.
Crise econômica e financeira. Visto os EUA Afeganistão. Uma prioridade na luta contra
estarem no epicentro da crise, Obama terá o terrorismo, mesmo para Obama. Como
de tentar resolver o problema interno ao tal, é de prever o reforço do contingente
mesmo tempo que deverá contribuir para norte‐americano no combate aos Talibans
a resolução do problema a nível e à Al‐Qaida nas montanhas do
internacional. Da mesma forma que Afeganistão. Tal será provavelmente uma
Bretton Woods não só redefiniu o sistema boa oportunidade para envolver os aliados
financeiro mundial, mas serviu igualmente da Aliança Atlântica de forma mais directa
para consolidar o papel dos EUA como no combate ao terrorismo, visto a NATO
grande potência no pós‐II Guerra Mundial, ter uma presença militar significativa na
um papel ativo de Barack Obama na região.
eventual institucionalização de um novo Irã. Obama tem sido ambíguo em relação a
sistema financeiro internacional será a este tópico, mostrando‐se, por um lado,
melhor forma de este garantir um lugar favorável ao estabelecimento de um
central para os EUA no futuro da balança diálogo com Teerã, por outro, rejeitando
de poderes internacional. O recente por completo a possibilidade do Irão
relatório dos serviços de informação norte‐ desenvolver um programa nuclear. A
americanos onde vaticinam o fim dos EUA política a seguir dependerá tanto da
como única superpotência mundial até abordagem norte‐americana como dos
2025 será mais um incentivo a tal desenvolvimentos na instável realidade
intervenção. Obama terá assim de garantir política iraniana.
uma aterragem suave dos EUA enquanto
superpotência, ao mesmo tempo que
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Especial Barack Obama
Europa. George W. Bush é, talvez, o potência num mundo com várias outras
Presidente norte‐americano mais odiado potências em crescente afirmação.
na Europa dos últimos 100 anos. Como tal,
qualquer Presidente que lhe sucedesse não Em 2000, quando George W. Bush
teria de fazer muito para melhorar a ascendeu ao poder, o mundo era
imagem dos EUA na Europa. Com Barack ‘globalizado’. Falava‐se em governança
Obama não só a imagem melhorará, como global e a regulação desse fenômeno
os europeus terão do lado de lá do dominante de nome ‘globalização’ ocupava
Atlântico um Presidente que adoram (as a mente de acadêmicos, analistas e
200.000 pessoas que assistiram em Berlim políticos. Os EUA estavam no centro de um
a um comício de Obama são disso mundo cada vez menos estadual e cada vez
exemplo). Num mundo crescentemente mais multi‐nível.
multipolar, Obama perceberá que os EUA Nos últimos oito anos o mundo voltou a ser
têm mais em comum com a Europa que internacional. A Administração Bush fez os
com qualquer outra região do mundo. possíveis para afundar o sistema pós‐
Assim sendo, é de prever o relançamento Guerra Fria que garantia o estatuto de
de uma relação transatlântica mais superpotência global aos EUA: a economia
igualitária e mais estável. americana deixou de ser tão importante
A estes tópicos poderíamos juntar a para o mundo, as instituições
relação com os vizinhos americanos, assim internacionais reforçadas pelos EUA nos
como o relacionamento com as potências anos 1990 foram largamente ignoradas e
emergentes, com destaque para a Rússia. em alguns casos humilhadas pela corrente
Voltar a um relacionamento baseado nas Administração, o eixo transatlântico ficou
trocas comerciais e não no discurso fragilizado, o discurso securitário passou a
securitário será provavelmente um dos dominar a agenda internacional com a
caminhos a seguir pela nova Guerra Global contra o Terrorismo, e o soft
Administração. Cabe a Obama conseguir power norte‐americano, pilar do seu
um balanço entre uma política externa sucesso no mundo, perdeu significado – o
baseada na economia e a resolução dos mundo passou a querer ser menos como
problemas econômicos internos, sem cair os Estados Unidos da América.
em discursos protecionistas. Garantir o regresso do ‘global’ será assim o
grande desafio de Obama. Um global
menos americano e mais multipolar, em
O mundo com Obama que empresas norte‐americanas falam de
igual para igual com empresas chinesas e
Ao contrário do que tem sucedido nas indianas; em que Hollywood e Bollywood
últimas décadas, Obama tomará o seu têm praticamente o mesmo impacto
lugar de Presidente dos EUA não mais global. George W. Bush deixou escapar a
como líder da indiscutível superpotência liderança incondicional do mundo; cabe a
mundial, mas como líder de uma grande Obama garantir a sua liderança consensual.
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Especial Barack Obama
Parte II
Os desafios de Barack
Obama
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Especial Barack Obama
Os desafios de segurança e defesa dos Estados Unidos após George W. Bush
Alessandro Shimabukuro
Em janeiro de 2007 o presidente Estados Unidos no Iraque, Ryan Crocker,
americano George W. Bush ordenou um implementaram a nova estratégia
reforço de tropas no Iraque, conhecida americana ordenada por Bush, obtendo
como o “surge”. Bush tinha perdido a lento, mas claro progresso na estabilização
maioria republicana no Congresso nas do país46.
eleições legislativas em novembro de 2006
e, contra a opinião geral do país e de Barack Obama se destacou entre os
muitos políticos democratas e candidatos por afirmar que era contrário
republicanos, ordenou mais 30 mil tropas ao envolvimento americano no Iraque
ao Iraque. O objetivo era reverter o caos desde o início e que não teria votado a
no país, que tinha se agravado ao longo de favor da invasão, criticou a iniciativa do
2006, com uma nova estratégia militar, governo Bush de enviar mais tropas ao
diplomática e econômica44. No mesmo Iraque no início de 2007, afirmando que o
mês, Hillary Clinton confirmou que iria Iraque era uma distração e que o país
concorrer à presidência americana, deveria focar a “guerra contra o terror” no
iniciando um dos períodos mais longos de Afeganistão. Obama prometia que, caso
campanha pela Casa Branca nos Estados fosse eleito, ordenaria a retirada imediata
Unidos45. das tropas americanas do Iraque em 16
meses. Esse discurso apelava à base do
Ao longo de 2007 o Iraque foi o principal partido Democrata que estava cansada
tema de política externa debatido entre os com a guerra no Iraque e com o governo
potenciais candidatos à presidência, tanto Bush47.
democratas quanto republicanos, e
analistas afirmavam que seria o principal O principal assunto político do primeiro
tema da eleição presidencial no ano semestre de 2008 foi a disputa entre
seguinte já que era o maior e mais Hillary Clinton, e Barack Obama pela
controverso legado do governo Bush. O
general David Petraeus e o embaixador dos
46
MILES, Donna. “Petraeus: Surge in Iraq
Works; Reductions Could Begin by Summer
2008” American Forces Press Service. 10 de
44
ABRAMOWITZ, Michael, WRIGHT, Robin. setembro de 2007. Disponível em:
“Bush to Add 21,500 Troops In an Effort to http://www.defenselink.mil/news/newsartic
Stabilize Iraq”. The Washington Post. le.aspx?id=47384 ; BIDDLE, Stephen,
Washington, D.C. 11 de janeiro de 2007. p. O’HANLON, Michael E., POLLACK, Kenneth
A1; President’s Address to the Nation. The M. “How to Leave a Stable Iraq”. Foreign
White House. President George W. Bush. 10 Affairs, September/October 2008.
de janeiro de 2007. Disponível em Disponível em:
http://www.whitehouse.gov/news/releases/ http://www.foreignaffairs.org/20080901faes
2007/01/20070110‐7.html say87503/stephen‐biddle‐michael‐e‐o‐
45
BALZ, Dan. “Hillary Clinton Opens hanlon‐kenneth‐m‐pollack/how‐to‐leave‐a‐
Presidential Bid; The Former First Lady stable‐iraq.html
47
Enters the Race as the Front‐Runner for the Em 2003, Barack Obama ainda não era
Democratic Nomination”. The Washington membro do Senado; THE ECONOMIST.
Post. Washington, D.C. 21 de janeiro de “Which war?” U.S. Election 2008, 4 de
2007. p. A1. outubro de 2008. p. 7.
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Especial Barack Obama
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Especial Barack Obama
superpotência militar sem rival50. Barack no dia 20 de setembro, Bush detalhou as
Obama será o comandante em chefe da ações dos Estados Unidos no novo
mais capacitada e bem equipada força contexto:
militar no mundo, e esse poder ainda é
relevante para lidar com questões “Our response involves far more than
tradicionais de segurança que instant retaliation and isolated strikes.
permanecem, mesmo que o foco atual dos Americans should not expect one battle,
Estados Unidos sejam as ameaças do but a lengthy campaign, unlike any other
fundamentalismo islâmico e do terrorismo. we have ever seen. It may include dramatic
strikes, visible on TV, and covert
Como Obama preservará a superioridade operations, secret even in success. We will
militar americana depende de um starve terrorists of funding, turn them one
equilíbrio entre investimentos e against another, drive them from place to
capacitação para lidar com as novas place, until there is no refuge or no rest.
ameaças (terrorismo, “guerra assimétrica”) And we will pursue nations that provide aid
e a preservação das capacidades or safe haven to terrorism. Every nation, in
convencionais para lidar com desafios every region, now has a decision to make.
“tradicionais” (possíveis guerras entre Either you are with us, or you are with the
Estados). Para estruturar as forças de terrorists. From this day forward, any
segurança e defesa dos Estados Unidos, nation that continues to harbor or support
Obama terá que lidar com a realidade de terrorism will be regarded by the United
segurança deixada por Bush: a “guerra States as a hostile regime.52
contra o terror”, sendo o Afeganistão e
Iraque os dois principais campos de
batalha, e os desafios de potências rivais
em diversas regiões estratégicas. Nation. The White House. President George
W. Bush. 15 de setembro de 2001.
52
Após os atentados de 11 de setembro de Nossa resposta compreende mais do que
2001, o Presidente Bush afirmou que a retaliações instantâneas e ataques isolados.
Americanos não devem esperar apenas uma
“guerra contra o terror” seria um novo tipo
batalha, mas sim uma campanha longa,
de guerra, diferente das anteriores, onde a diferente de tudo que já presenciamos.
vitória não seria definida em uma batalha e Poderá incluir ataques dramáticos, vistos na
não haveria cerimônias de rendição pelo TV, e operações secretas, bem sucedidas em
segredo. Iremos debilitar o financiamento
adversário51. Em um discurso ao Congresso de terroristas, colocar um contra o outro,
expulsá‐los de local em local até que não
haja mais refúgio nem descanso. E nós
50
HELLMAN, Christopher, SHARP, Travis. iremos punir nações que providenciarem
“Fiscal Year 2009 Pentagon Spending ajuda e refúgio à terroristas. Cada nação, em
Request Briefing Book”. Center for Arms todas as regiões, têm uma decisão a tomar.
Control and Non‐Proliferation. Washington, Ou estão com nós, ou estão com os
D.C. fevereiro de 2008. p. 16. Disponível em: terroristas. Desse dia em diante, qualquer
http://www.armscontrolcenter.org/policy/s nação que continuar a abrigar ou apoiar
ecurityspending/articles/fy09_dod_request/ terrorismo será considerada pelos Estados
; POSEN, Barry R. Command of the Unidos como um regime hostil. (Tradução
Commons: The Military Foundation of U.S. do autor) Address to a Joint Session of
Hegemony. International Security, Congress and the American People. The
Cambridge, MA, MIT Press, v. 28, n. 1, White House. President George W. Bush.
Summer 2003. p. 7. United States Capitol, Washington, D.C. 20
51
Radio Address of the President to the de setembro de 2001.
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Especial Barack Obama
Após os ataques, os Estados Unidos Após a derrubada do regime no
demandaram do regime Talibã no Afeganistão, os Estados Unidos voltaram
Afeganistão que abandonassem sua atenção ao Oriente Médio. Muitos
imediatamente seu apoio à Al Qaeda, críticos afirmavam que as causas do 11 de
desmontando todos os acampamentos de setembro se deviam às políticas do país
treinamento de grupos terroristas, e que para a região, como o embargo da ONU
entregassem bin Laden e os demais líderes contra o Iraque ao longo da década de
e integrantes da Al Qaeda53. Em outubro de 1990 após a Guerra do Kuwait, e o apoio a
2001 os Estados Unidos iniciaram Israel em detrimento aos palestinos.
operações militares contra a Al Qaeda e o Alguns integrantes do governo Bush
após o regime recusar as exigências consideravam o status quo na região um
americanas. O objetivo dos Estados Unidos dos fatores que geraram os atentados de
era eliminar os acampamentos terroristas e 11 de setembro, principalmente as
a rede Al Qaeda e também derrubar o condições político‐sociais de muitos
regime , ou seja, promover uma mudança Estados da região em que ideologias
de regime (regime change) no país. A islâmicas radicais prosperavam. O apoio
preocupação com Estados falidos como americano a regimes árabes não
zonas sem lei que podiam abrigar democráticos, em troca de petróleo e
terroristas, e o reconhecimento da estabilidade, gerava descontentamento
necessidade no novo contexto de entre setores das populações locais por ser
“construir nações” (nation building) pelo entendido como, no mínimo, incompatível
governo Bush demonstrou a mudança de com os valores pregados pelos Estados
atitude em relação à visão inicial do Unidos, mas em geral como hipócritas55.
Presidente Bush sobre a política externa
dos Estados Unidos defendida durante sua Alguns analistas criticavam a definição vaga
campanha presidencial em 2000. do governo dos Estados Unidos da ameaça
como apenas “terror” ou “terrorismo”,
Em dezembro de 2001, os Estados Unidos, termos que designam apenas um método
juntamente com a OTAN e alguns outros ou tática de ação.Para eles, a nova ameaça
países aliados (como a Austrália), se apresentava como um movimento
derrubaram o regime no Afeganistão e global, que ignorava fronteiras, limitando a
instalaram um governo provisório por meio eficácia das ações de qualquer governo,
do Acordo de Bonn, estabelecido em uma mesmo os Estados Unidos. Apontavam
conferência das Nações Unidas. O ataque também que a Arábia Saudita era uma das
ao Afeganistão para destruir a Al Qaeda e fontes principais do radicalismo islâmico,
remover o teve apoio internacional e devido ao incentivo desse país ao
doméstico e foi considerado uma ação
defensiva por parte dos Estados Unidos54.
in Afghanistan”. Strategic Studies Institute of
the U.S. Army War College. Outubro de
2007.
53 55
UNITED STATES OF AMERICA. National WALDMAN, Peter, GLAIN, Stephen J.,
Commission on Terrorist Attacks upon the GREENBERGER, Robert S., POPE, Hugh, and
United States. The 9/11 Commission Report. LeVINE, Steve. “America in the Eyes of the
p. 64. Arab World: A Complex Mix of Emotions
54
YOUNG, Dennis O. “Overcoming the Fuels Hate”. THE WALL STREET JOURNAL. 14
obstacles to establishing a democratic state de setembro de 2001.
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Especial Barack Obama
wahabismo, uma interpretação mais chamou de “Eixo do Mal” (Iraque, Irã e
radical do Islã56. Coréia do Norte)58, o Presidente Bush
destacou o regime de Saddam Hussein no
O problema, portanto, seriam os radicais Iraque. O continuado desrespeito de
islâmicos; a “guerra contra o terror” Hussein às resoluções do Conselho de
liderada pelos Estados Unidos seria mais Segurança da ONU, seu histórico de
bem definida como uma guerra contra o guerras contra países vizinhos, de ataques
radicalismo, ou “fascismo”, islâmico: contra a própria população iraquiana e o
movimentos de inspiração islâmica que aparente desejo, e capacidade, de retomar
rejeitam políticas ocidentais, a programas de desenvolvimento de armas
57
modernidade e tolerância religiosa . de destruição em massa, foram
O governo Bush implementou mudanças considerados por Bush como uma ameaça
domésticas para evitar outro ataque preocupante à segurança do Oriente
terrorista na escala do 11 de setembro. O Médio e dos Estados Unidos no mundo pós
“Department of Homeland Security” (o 11 de setembro.
equivalente a um ministério) foi criado Ao longo de 2002, preocupações de
para cuidar da segurança interna do país, o segurança estabelecidas na década de
USA PATRIOT Act (Uniting and 1990, como o combate à proliferação de
Strengthening America by Providing armas de destruição em massa e a ameaça
Appropriate Tools Required to Intercept de “Estados párias”, eram consideradas
and Obstruct Terrorism), um conjunto de junto com a ameaça do terrorismo
leis para combater o terrorismo, foi patrocinado por radicais islâmicos. Devido
aprovado pelo Congresso, e reformas à vulnerabilidade demonstrada à um
foram feitas para facilitar a troca de ataque terrorista em 2001, surgia a
informação e cooperação entre as diversas preocupação americana de que países
agências e órgãos de inteligência do hostis aos Estados Unidos se alinhassem a
governo (FBI, CIA). grupos terroristas islâmicos, e que
Em seu discurso sobre o estado da União desenvolvessem e entregassem armas de
de 2002, ao analisar os países do que destruição em massa a estes grupos para
atacarem os Estados Unidos.
56
Apesar de Saddam Hussein e seu regime
FUKUYAMA, Francis. “Esta não é uma
guerra só contra o terrorismo”. O ESTADO
não terem tido nenhuma ligação com os
DE S. PAULO. 16 de dezembro de 2001; responsáveis pelos atentados de 11 de
SONTAG, Susan. At the Same Time: Essays setembro (Osama bin Laden e a Al‐Qaeda),
and Speeches. New York: Farrar Staruss muito menos serem um governo de
Giroux, 2007; VIDAL, Gore. Sonhando a
Guerra. Rio: Nova Fronteira, 2003; HOGE Jr, ideologia islâmica radical, a mudança de
James, ROSE, Giddeon (eds). How Did This
Happen? Terrorism and the New War. New
58
York: Public Affairs, 2001. Denominados pelos Estados Unidos ao
57
McCARTHY, Andrew C. The Great War on longo da década de 1990 como os “rogue
Militant Islam. The American Spectator; states” ou “Estados párias”; The White
Jul/Aug 2004; 37, 6.; MELLOAN, George. House. “The President's State of the Union
America's Problem Is Jihadists, Not the Address”. George W. Bush. 29 de janeiro de
Whole of Islam. Wall Street Journal. (Eastern 2002. Disponível em:
edition). New York, N.Y. 26 de novembro de http://www.whitehouse.gov/news/releases/
2002. p. A25. 2002/01/20020129‐11.html
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Especial Barack Obama
regime no Iraque era vista pelo governo Agreement”) que define o papel e tempo
Bush como um passo fundamental para de permanência das tropas americanas no
confrontar e derrotar o radicalismo país. Entretanto, ainda há muitas
islâmico na região. incertezas sobre a duração dessa
estabilidade, e da permanência desses
Removendo Saddam Hussein do poder, os ganhos59.
Estados Unidos não apenas eliminariam um
regime hostil, mas ajudariam a instalar um Obama terá que tomar decisões que
regime democrático e aliado no centro do determinarão a preservação dos ganhos
Oriente Médio. Tal regime serviria como obtidos no Iraque até o momento, e que
inspiração para as populações da região ao conduzam a um cenário mais favorável aos
apontar outro caminho, contrário ao do Estados Unidos: a longo prazo, um Iraque
radicalismo islâmico e alternativo aos estável e um aliado confiável, cooperando
regimes opressivos vigentes em muitos na defesa de interesses americanos na
países do Oriente Médio. A mudança de região.
regime no Iraque permitiria também aos
Estados Unidos pressionar por mudanças Ao mesmo tempo que a mudança do
nos regimes vizinhos aliados, que também equilíbrio estratégico no Oriente Médio
incentivam ideologias islâmicas radicais eliminou a ameaça à estabilidade da região
(como a Arábia Saudita). (o regime de Saddam Hussein), permitiu
que outra potência regional hostil aos
Ao derrubar o regime de Saddam Hussein, Estados Unidos se fortalecesse, o Irã. Sem
os Estados Unidos eliminaram um dos um Iraque sob o comando de Saddam
Estados do “eixo do mal” e se Hussein, disputando a influência na região
estabeleceram mais firmemente como um e equilibrando seu poder, o Irã têm se
poder central no equilíbrio de poder do afirmado na região nos últimos anos60.
Oriente Médio. A estabilização do país não
ocorreu no tempo previsto, muito menos O apoio do Irã a grupos radicais, como o
da forma como os planejadores Hezbollah, Hamas, e forças xiitas no Iraque
americanos tinham esperado. Ex‐membros (liderados por Moqtada Al‐Sadr) contrários
do partido Baath iniciaram uma guerrilha, a ao governo iraquiano e à presença
Al‐Qaeda no Iraque, liderada por Abu americana no Iraque, juntamente com o
Musab Al‐Zarqawi, realizava atentados, e desenvolvimento de um programa nuclear
com o ataque à Mesquita al‐Askari em não transparente (indícios de uma busca
2006, deflagrou um conflito étnico entre
xiitas e sunitas iraquianos. 2006 foi o auge
59
da violência do conflito, o que levou o BRUNO. Greg. “Beginning of Iraq Endgame”
Council on Foreign Relations. December 10,
presidente Bush a ordenar o “surge” para 2008. Disponível em:
reverter a situação. http://www.cfr.org/publication/17953/ ;
SIMON, Steven. “The Price of the Surge”.
Desde 2007 o Iraque tem sido estabilizado Foreign Affairs, May/June 2008. Disponível
e avanços políticos entre as comunidades em:
http://www.foreignaffairs.org/20080501faes
xiita, sunita e curda iraquiana têm
say87305/steven‐simon/the‐price‐of‐the‐
progredido. Em dezembro de 2008 o surge.html
60
governo iraquiano estabeleceu um acordo FRIEDMAN, George. “Obama’s Challenge”.
com os Estados Unidos (o “Status of Forces STRATFOR. 5 de novembro de 2008.
Disponível em http://www.stratfor.com
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Especial Barack Obama
Os atentados terroristas em Mumbai, na tecnologia de mísseis balísticos lideradas
Índia, no final de novembro de 2008 pelos Estados Unidos.
agravam as relações entre Paquistão e
Índia, tornando essa região central da Há rumores de uma possível transição na
“guerra contra o terror” em uma das mais Coréia do Norte devido a supostos
voláteis, com a possibilidade de um guerra problemas de saúde de seu líder errático,
entre dois países com um histórico de Kim Jong Il, o que poderia gerar maior
guerras recentes e armamentos nucleares. instabilidade na região devido à incertezas
Essa situação demonstra que a sobre a nova configuração da liderança do
possibilidade de guerras inter‐estatais regime, e o risco de que refugiados norte‐
ainda está presente, apesar da coreanos tentem cruzar a fronteira com a
preocupação com o terrorismo. China e Coréia do Sul em caso de uma
agravamento da situação interna advinda
Uma das maneiras de contrabalancear, ou dessa transição64.
no mínimo restringir, o poder militar
convencional dos Estados Unidos, ou pior, Qualquer solução dos desafios
realizar um ataque terrorista mais apresentados pela Coréia do Norte
impactante que o 11 de setembro, é o uso depende de ações da China. Durante a
de armas de destruição em massa. Por isso década de 1990 a China surgiu como a
os Estados Unidos concentram esforços em nova potência rival dos Estados Unidos e
limitar o desenvolvimento e a proliferação nos últimos anos, o governo chinês têm
desse tipo de armamento, seja químico ou aumentado seus gastos militares,
biológico, mas principalmente nuclear, modernizando suas forças militares, e aos
entre Estados hostis63. poucos desenvolvendo uma capacidade de
projeção de força. O investimento militar
Portanto um desafio constante desde a da China afeta os cálculos de equilíbrio de
década de 1990 é o programa nuclear da poder das demais potências da Ásia, como
Coréia do Norte. O regime norte‐coreano Japão, Índia e Austrália, e os
continua sendo um risco à estabilidade da comprometimentos de segurança dos
Ásia, ameaçando a Coréia do Sul e Japão Estados Unidos na região, principalmente
com testes de mísseis de longo alcance, e em relação à Taiwan.
ações que desafiam as iniciativas de não
proliferação nuclear e proliferação de Mesmo sendo um dos principais parceiros
econômicos dos Estados Unidos, o dilema
entre confronto e cooperação se torna
http://www.foreignaffairs.org/20090101faes mais freqüente na medida em que mais
say88103/robert‐m‐gates/a interesses americanos e chineses entram
63
The White House. “National Strategy to em choque. A crise econômica de 2008
Combat Weapons of Mass Destruction”
pode forçar ambos os países a
Washington, D.C. Dezembro de 2002.
Disponível em: coordenarem melhor suas políticas, mas
http://www.whitehouse.gov/news/releases/
2002/12/WMDStrategy.pdf ; The Joint Chiefs
64
of Staff. “National Military Strategy to CNN. “Missing Kim Jong Il raises health
Combat Weapons of Mass Destruction”. questions”. 10 de setembro de 2008.
Washington, D.C. 13 de fevereiro de 2006. Disponível em:
Disponível em: http://edition.cnn.com/2008/WORLD/asiapc
http://www.defenselink.mil/pdf/NMS‐ f/09/09/north.korea.60th.anniversary/?iref=
CWMD2006.pdf mpstoryview
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diferenças de interesses quanto à Taiwan, exercícios navais no Caribe, a intenção de
Coréia do Norte, e cooperação com deslocar mísseis para Kaliningrad, segundo
regimes considerados por Washington alguns analistas, não indica uma “nova
como não democráticos e guerra fria”, já que a Rússia não têm uma
desestabilizadores em regiões estratégicas, economia que sustentaria uma competição
continuará a gerar tensões entre os dois direta com os Estados Unidos, mas ações
países e Obama terá que lidar com os que seriam usadas como moeda de troca
dilemas da ascensão deste país65. em negociações com os Estados Unidos em
outros temas de seu interesse, por
A criação de um novo comando militar exemplo, a não inclusão da Geórgia e
americano em 2007 focado na África visa Ucrânia na OTAN.67
lidar com ameaças específicas do
radicalismo islâmico e terrorismo na A expansão da OTAN desde o final da
região, dentre outros interesses comuns Guerra Fria é considerada pela Rússia uma
dos Estados Unidos com os países ameaça aos seus interesses nos países de
africanos. Mas, segundo alguns analistas, seu entorno, principalmente no Leste
também seria uma forma de preparar Europeu. Os acordos de cooperação militar
contra quaisquer problemas advindos da dos Estados Unidos com países da Ásia
atuação mais intensa da China no Central, estabelecidos após o 11 de
continente, tendo em vista a crescente setembro para conduzir operações no
presença deste país na região por busca de Afeganistão, também são vistos com
petróleo e recursos naturais, e seu apoio a desconfiança por Moscou.
regimes não democráticos, como o Sudão e
Zimbábue66.
67
REUTERS. “Russia sends 12 bombers to
Outra potência em ascensão que desafiará
Atlantic, Arctic”. 1 de fevereiro de 2008.
os Estados Unidos é a Rússia. Sob a Disponível em:
liderança de Vladmir Putin, e de seu http://www.reuters.com/article/worldNews
sucessor, Dmitri Medvedev, a Rússia /idUSL0114852720080201 ; FOXNEWS.COM
“Venezuela, Russia to start naval exercises
ressurgiu em anos recentes e busca de
Monday”. 29 de novembro de 2008.
retomar seu lugar como uma potência Disponível em
central no cenário internacional. http://www.foxnews.com/wires/2008Nov29
/0,4670,LTVenezuelaRussiaNavy,00.html ;
Algumas iniciativas militares russas CNN. “Russia slams U.S., threatens missile
recentes, como a volta de bombardeiros deployment”. 5 de novembro de 2008.
Disponível em:
russos patrulhando o norte do Atlântico, http://edition.cnn.com/2008/WORLD/europ
e/11/05/russia.missiles/index.html ; CNN.
“Expert: Russia‐Venezuela military exercises
reaction to U.S. moves”. 25 de setembro de
65
KISSINGER, Henry A. “The Three 2008. Disponível em:
Revolutions”. The Washington Post, http://edition.cnn.com/2008/WORLD/ameri
Washington, D.C. 7 de abril de 2008. p. A17; cas/09/25/russia.venezuela/index.html ;
KEATING, Joshua. “What McCain and Obama KLIEN, Brian. “What Goes Around Comes
didn’t talk about”. Foreign Policy. Novembro Around for Rússia”. Council on Foreign
de 2008. Relations, 19 de setembro de 2008.
66
HANSON, Stephanie. “The Pentagon’s New Disponível em:
Africa Command”. Council on Foreign http://www.cfr.org/publication/17281/what
Relations. 3 de maio de 2007. Disponível _goes_around_comes_around_for_russia.ht
em: http://www.cfr.org/publication/13255/ ml
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Especial Barack Obama
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Especial Barack Obama
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Especial Barack Obama
Há indicações de que a China busca meios capacitar o aparato de segurança e defesa
de limitar ou mesmo anular as vantagens dos Estados Unidos para defender o
dos Estados Unidos advindos de recursos homeland americano, progredir na “guerra
espaciais com pesquisas em lasers, ou contra o terror” (também denominada a
armas de energia, capazes de afetar “guerra longa”), promover segurança em
satélites norte‐americanos. Em janeiro de regiões estratégicas, deter conflitos, e
2007 a China conseguiu destruir com vencê‐los caso seja forçado a travar mais
sucesso um velho satélite meteorológico uma guerra79. Obama, terá o desafio de
chinês utilizando um míssil balístico, lidar com as ameaças “novas” à segurança
alarmando oficiais dos Estados Unidos, internacional e dos Estados Unidos, cujo
Inglaterra e Japão77. exemplo máximo é a “guerra contra o
terror”, como também com ameaças
Apesar de os Estados Unidos estar em uma “tradicionais” representadas pelas disputas
posição vantajosa em termos de poder entre potências novas ou resurgentes,
espacial em relação à potenciais Estados preservando a superioridade militar dos
rivais, esse quadro pode não ser o mesmo Estados Unidos e adaptando‐as para lidar
daqui a algumas décadas78. Nos próximos com ambas as ameaças, em meio à uma
anos os Estados Unidos têm a chance de crise econômica e recessão.
moldar os regimes internacionais que
busquem regular o uso do espaço, tanto
para fins econômicos e científicos, mas
principalmente para fins militares.
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Especial Barack Obama
Obama e a relação bilateral Brasil‐EUA
David A. Magalhães
O inaudito triunfo eleitoral de Barack oportunidade de assumir a liderança do
Obama e as perspectivas de mudança processo de substituição do petróleo."
trazidas pela eleição histórica do primeiro Ademais, o apoio do governo Bush atendia
presidente negro dos EUA ecoaram mundo a um claro interesse de Segurança
afora e o Brasil, não diferente, recebeu Nacional: os EUA precisavam encontrar
com entusiasmo o resultado das urnas uma alternativa ao petróleo, cujas reservas
norte‐americanas. Todavia, não foi são limitadas, majoritariamente, às áreas
somente a figura de Obama que criou todo como o Oriente Médio ou estão sob o
o ambiente de expectativa por controle da hostil Venezuela.80
transformações profundas na política
interna e externa dos EUA. Contribuíram Com Obama na presidência dos EUA a
sobremaneira para o ‘fenômeno Obama’ os relação com Brasil não deve sofrer
desastrosos anos de administração Bush nenhuma alteração de ordem estratégica.
que, além de envolver os EUA em duas Mesmo estando ciente de que o Brasil é a
guerras, herdará ao novo presidente a quarta maior democracia, a nona
maior crise econômica desde de 1929. economia mundial e um player cada vez
mais atuante no cenário internacional,
É verdade que o Brasil não tem muito do certamente não figuraremos no rol de
que se queixar com relação à era Bush. Se prioridades da administração democrata.
por um lado o governo republicano relegou Primeiramente porque a questão
a América do Sul um papel praticamente nevrálgica das relações internacionais para
insignificante, por outro, ele prestigiou o os EUA nos próximos anos deve continuar
Brasil reconhecendo nele sua “liderança no Oriente Médio e na Ásia,
natural”, sobretudo atribuindo ao governo principalmente em torno de questões de
brasileiro a responsabilidade de equilibrar segurança nacional. Em seguida porque
uma região que, aos poucos, vinha temas relacionados à ameaça do
enveredando para o ‘populismo radical’ de terrorismo, aos desdobramentos da guerra
Hugo Chavez, Evo Morales e Rafael Correa. no Iraque, à proliferação nuclear com Irã e
Outro exemplo do bom relacionamento ao crescimento econômico da China e da
dos EUA com o Brasil durante os dois Índia devem ocupar prioritariamente a
governos de Bush foi o apoio ao etanol agenda de política externa dos EUA. Na
brasileiro. Em 2007, Bush veio a São Paulo interface do plano doméstico com o
para lançar uma parceria Brasil‐Estados internacional, a grave crise econômica
Unidos com o intuito de disseminar pelo certamente demandará a atenção dos
mundo o uso de biocombustível à base de primeiros anos da administração Obama.
álcool. "Esta visita é uma oportunidade Michael Reid, editor da sessão Américas da
histórica para o país", asseverou o ex‐
Ministro da Agricultura Roberto Rodrigues,
80
um dos maiores especialistas brasileiros
em biocombustíveis. "O Brasil tem a http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoc
a/0,,EDG76507‐6009‐459,00.html
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Especial Barack Obama
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Especial Barack Obama
(de Obama) de que a visão desses novo presidente eleito que diminua a
congressistas não era a do próximo dependência com o petróleo do Oriente
governo”84, afirmou Amorim. Com a crise Médio trabalhando conjuntamente com o
econômica, a liberalização do comércio Brasil na produção de etanol de cana de
seguramente não estará na pauta do açúcar, que, como se sabe, é mais barato e
próximo governo. ecologicamente sustentável. Durante a
campanha presidencial, Obama chegou a
O Etanol é outro tema que deve aparecer propor trabalhar em conjunto com líderes
com freqüência na relação bilateral Brasil‐ de todo Hemisfério no sentido de se
EUA nos próximos anos e que diz respeito a estabelecer uma “nova parceria energética
três questões que se interligam: comercial, paras as Américas”86 para apoiar a energia
ambiental e energética. Muito embora o limpa. Obama também apoiou um
Brasil tenha sido praticamente ignorado na aprofundamento nas relações com o Brasil
campanha de Obama, as poucas vezes para desenvolver o mercado de
onde ele é citado aparecem ao lado do biocombustível e a promoção da
tema do etanol. É o que acontece, por ‘tecnologia verde’87. O futuro presidente
exemplo, no principal documento da dos EUA tem se referido ao Brasil, onde
campanha de Obama direcionado às suas 70% dos automóveis são de combustível
propostas para a América Latina e o Caribe, ‘flex’, como um modelo de independência
“Uma Nova Parceria para as Américas"85. energética a ser seguido.
O documento demonstra uma disposição Entretanto, Obama se mostrou contrário,
em incentivar tecnologias para a produção por exemplo, ao acordo de cooperação
do etanol no Brasil e difundir sua bilateral para expandir o uso de etanol
distribuição para outros países, como fonte assinado entre Brasil e EUA em 2007.
alternativa de energia em substituição ao Naquela ocasião Obama defendeu que
petróleo. Afirma o documento: Barack "aqueles que defendem a substituição da
Obama wants to expand production of produção norte‐americana de
renewable energy across Latin America in a biocombustíveis pelas exportações de
way that at the same time promotes self‐ etanol brasileiro podem até ser bem
sufficiency and creates more markets for intencionados, mas não entendem o
American green energy manufacturers and desafio que temos para obter uma
biofuels producers”. Contudo, a posição de segurança energética de longo prazo e
Obama e do partido democrata com ignoram uma oportunidade de política
relação ao etanol tem se mostrado um exterior valiosa"88
tanto controversa.
Andres Oppenheimer, no seu ultimo artigo
publicado no Miami Herald, sugere ao 86
http://origin.barackobama.com/issues/forei
gn policy/#onlatinamerica
84 87
OESP, Acordo de Doha depende de Obama.
13 de dezembro de 2008. Disponível em: http://www.brazzilmag.com/content/view/1
http://www.estadao.com.br/internacional/n 0048/1/
88
ot int293343,0.htm Barack Obama é Contra Redução De Tarifa
85
A New Partnership For The Americas. Fonte: Para Etanol Brasileiro. International
obama.3cdn.net/ef480f743f9286aea9_k0tm Buisness Times 10/03/2007. Disponível em:
vyt7h.pdf http://br.ibtimes.com/articles/20070310/bar
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Especial Barack Obama
Alguns analistas avaliam que as posições mostrou uma visão clara e convergente
políticas pró‐álcool de Obama estão com os interesses comerciais brasileiros.
relacionadas, de alguma forma, ao fato de
ele ter procedência de Illinois, um cuja Durante a campanha, McCain defendeu a
riqueza está intimamente relacionada à eliminação dos multibilionários subsídios
intensa produção de milho. Uma que o governo fornece anualmente para
reportagem publicada pelo jornal New York proteger o etanol produzido nos EUA. Na
Times89 mostra os vínculos de Obama com condição de defensor do liberalismo
o lobby da indústria do etanol. O jornal econômico, o candidato derrotado se
relata que Tom Daschle, que foi co‐ opunha à tarifa (54‐cent‐a‐gallon) imposta
presidente do comitê do presidente eleito, pelo governo ao etanol produzido a partir
trabalha para três companhias norte‐ da cana‐de‐açúcar, que armazena muito
americanas do álcool em seu escritório de mais energia que o etanol produzido a
advocacia em Washington. Para Obama, a partir do milho. “Cometemos uma série de
produção de etanol atendia a um claro erros ao não adotar uma política
interesse de segurança nacional dos EUA: energética sustentável ‐ um deles são os
In the heart of the Corn Belt that August subsídios para o etanol de milho, que eu
day, Mr. Obama argued that embracing avisei em Iowa que iriam destruir o
ethanol “ultimately helps our national mercado e foi de fato o que aconteceu: o
security, because right now we’re sending etanol de milho está causando um sério
billions of dollars to some of the most problema de inflação”, observou McCain
hostile nations on earth.” America’s oil em entrevista ao Estado90 em Boston.
dependence, he added, “makes it more “Além disso, está errado impor uma tarifa
difficult for us to shape a foreign policy that de US$ 0,54 por galão de etanol de cana
is intelligent and is creating security for the brasileiro, que é muito mais eficiente do
long term.” que o etanol de milho.”
Se a posição de Obama com relação ao Em relação ao reconhecimento e o apoio
etanol se mostrou dúbia durante a ao papel que o Brasil vem desempenhando
campanha presidencial, o mesmo não como mediador e líder da América Latina,
ocorreu com seu opositor republicano, não se esperam mudanças com a
John McCain. Enquanto ambos os administração Obama. O novo presidente
candidatos enfatizaram a necessidade dos dos EUA tem uma visão favorável sobre o
EUA garantirem sua “segurança papel do Brasil em ajudar a aplacar
energética” e combateram o uso do conflitos na América Latina ‐ como na
carbono por motivos ambientais, McCain tensão entre Colômbia e Equador ‐ e sobre
o papel das tropas do país no Haiti.
Anthony Lake, assessor de Obama e
influente figura do governo Clinton, julga
que a atuação dos soldados brasileiros que
ack‐obama all.htm
89 comandam as forças de paz no país
ROTHER, Larry. Obama Camp Closely Linked
With Ethanol. NYT. 23 jan. 2008. disponível caribenho é ''uma história de êxito''. É
em
http://www.nytimes.com/2008/06/23/us/poli
tics/23ethanol.html? r=3&pagewanted=1&a
90
dxnnl=1&ref=politics&adxnnlx=1214247965 OESP, 15 junho de 2008, McCain quer se
‐6myQyyiFsbE0/SSUCYN0iQ aproximar do Brasil
Página | 71
Especial Barack Obama
91
BBC Brasil. Disponível em:
http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporter
bbc/story/2008/06/080618_obamabrasilbg.s
html
92
Disponível em:
http://oglobo.globo.com/blogs/ny/post.asp
?t=barack_obama_quer_brasil_no_conselho
_de_seguranca_da_onu&cod_Post=86678&
a=283
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Especial Barack Obama
Estados Unidos e Rússia: uma mudança em que nós podemos acreditar?
Felipe Ortega
Durante os oito anos do governo Bush, os relacionamento que nasceu marcado pelo
Estados Unidos passaram de uma relação otimismo em um distanciamento quase
harmoniosa com a Rússia a uma espiral de completo.
conflitos sucessivos. Após o primeiro
encontro entre Putin e Bush, em 2001, A presidência de Obama começa, portanto,
parecia emergir uma era de proximidade com o grande desafio de reparar os laços
entre os dois países. Na ocasião, Bush com a segunda maior potência militar do
proferiu as seguintes palavras, que mais mundo, economicamente fortalecida e
tarde se tornaram famosas, em relação a estrategicamente importante graças aos
Putin: “eu olhei o homem nos olhos. Eu o recursos energéticos de que dispõe. O
achei muito sincero e confiável e nós tema da campanha do novo presidente foi
tivemos um ótimo diálogo. Eu pude ver sua “a mudança em que nós podemos
alma”93. Cerca de sete anos mais tarde, o acreditar”96, mas qual o significado dessa
cenário mudou da água para o vinho. Em mudança nas relações entre Washington e
agosto de 2008, Bush caracterizava a Moscou? Baseado nas idéias apresentadas
Rússia, após o conflito com a Geórgia, durante a campanha de Obama, este artigo
como um Estado que “vê a expansão da pretende avaliar quais as perspectivas para
liberdade e da democracia como uma o relacionamento entre Estados Unidos e
ameaça aos seus interesses” 94 e que havia Rússia nos próximos quatro anos. Para
“danificado sua credibilidade e suas tanto, analisaremos em primeiro lugar a
relações com as nações do mundo livre”95. visão da Rússia apresentada na plataforma
de Obama e a estratégia geral proposta
No período que separa as duas para o relacionamento bilateral. A seguir,
declarações, diversos imbróglios opuseram faremos uma avaliação específica das
os dois países. Da independência de propostas apresentadas pelo democrata
Kosovo em relação à Sérvia à para lidar com alguns dos principais
independência da Abkhazia e da Ossétia do problemas que permeiam o diálogo atual
Sul em Relação à Geórgia, da expansão da entre os dois países.
OTAN ao plano de um escudo antimísseis
na Polônia e na República Tcheca, diversos
temas contribuíram para transformar um A Rússia no Programa de Obama
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Especial Barack Obama
temas presentes no programa de governo principal crítica feita a Bush é a de ter se
disponibilizado no website de sua aproximado de Putin, o que ocorreu no
campanha97. Nos principais tópicos da início de seu governo. Talvez mais
agenda, sobre os quais uma sistematização importante, não é feita qualquer menção à
da estratégia proposta é disponibilizada, possível responsabilidade americana na
apenas três países são tratados geração dos diversos conflitos que
individualmente: Israel, Irã e Rússia. Os emergiram com Moscou nos últimos anos,
dois primeiros são, respectivamente, o apesar da caracterização da política Bush
maior aliado americano no Oriente Médio como “errática”.
e seu arquiinimigo na região. A presença da
Rússia como terceiro ator individualmente Após essa breve descrição da Rússia atual,
analisado diz muito a respeito da o programa de Obama elenca os principais
importância que o país representa na pontos da estratégia que deve orientar o
agenda americana. relacionamento com o país. São eles:
apoiar os “parceiros democráticos”
A visão ali expressa, contudo, não permite americanos na Eurásia e garantir a
supor uma mudança significativa em soberania dos Estados da região; fortalecer
relação à política de Bush quanto a Moscou a OTAN; ajudar a reduzir a dependência
nos últimos anos. O próprio título da seção, européia dos recursos energéticos russos;
“Enfrentando os Desafios de uma Rússia trabalhar com o governo russo em áreas de
Ressurgente”, sugere que persiste a visão interesse mútuo, como o combate ao
do país como uma ameaça a ser terrorismo e a redução dos arsenais
enfrentada, e não como um possível nucleares; e aceitar uma maior integração
parceiro. Mais adiante, a visão de Obama da Rússia ao sistema global, desde que ela
sobre a Rússia é apresentada da seguinte aja como um estado “responsável e
maneira: cumpridor da lei”99.
“Em contraste com a política errática da Como se vê, nenhuma mudança
Administração Bush de acolher Vladimir significativa é sugerida na maioria dos
Putin e negligenciar as relações EUA‐ pontos de conflito entre os dois Estados. O
Rússia, Barack Obama e Joe Biden apoio aos “parceiros democráticos” da
enfrentarão o desafio apresentado por região nada mais é que a persistência da
uma crescentemente autocrática e belicosa política Bush de aproximação crescente de
Rússia perseguindo uma estratégia nova e estados como Ucrânia e Geórgia, que têm
ampla que defenda os interesses nacionais como principal característica comum uma
americanos sem comprometer nossos acentuada russofobia. O fortalecimento da
princípios tradicionais”98. OTAN também foi uma política de Bush e
um ponto de tensão bilateral,
A Rússia é apresentada, portanto, como especialmente quando o foco passou a ser
um Estado autocrático e belicoso. A a expansão da Aliança. Quanto à intenção
de reduzir a dependência européia do
97 petróleo e do gás russos, isso nada mais é
http://origin.barackobama.com/issues/forei
gn_policy
98 99
http://origin.barackobama.com/issues/forei http://origin.barackobama.com/issues/forei
gn_policy/#onrussia gn_policy/#onrussia
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Especial Barack Obama
que uma maneira de isolar a Rússia e devem ser livres para escolher suas
reduzir sua margem de manobra, algo que próprias alianças100. (grifo meu)
se faz com Estados não‐confiáveis. Por fim,
a possibilidade de cooperação é restrita às E também:
escassas áreas em que ainda há interesses “Barack Obama e Joe Biden têm defendido
comuns. O mencionado “contraste com a constantemente o início do Membership
política errática da Administração Bush”, Action Plan para a Ucrânia e para a Geórgia
portanto, não pode ser observado, ao e apoiado sua admissão à OTAN quando
menos nos princípios gerais da estratégia estiverem preparados”101.
americana em relação a Moscou.
Como se vê, então, a idéia é persistir o
avanço a leste da Aliança Atlântica, embora
Problemas Específicos e Perspectivas esta seja uma das principais preocupações
externas do Kremlin. O programa
Serão analisados aqui três dos principais democrata enfatiza, ainda, que os Esados
problemas que permeiam a agenda atual devem ser livres para “escolher suas
do relacionamento EUA‐Rússia. O primeiro próprias alianças”, numa clara referência à
é a expansão da OTAN, que corteja a desaprovação russa aos processos de
Geórgia e a Ucrânia, ex‐Repúblicas adesão ucraniano e georgiano. Obama
Soviéticas e vizinhos da Rússia, como tenta minimizar a importância da inclusão
possíveis novos membros. O segundo é a dos visinhos russos na Organização dizendo
proposta do governo Bush de instalar um que “nos últimos quinze anos, a OTAN fez
escudo antimísseis na Polônia e na grandes progressos em sua transformação
República Tcheca ‐ supostamente para de uma estrutura da Guerra Fria para uma
conter a ameaça de rogue states, como a parceria dinâmica para a paz”102. Mas o
Coréia do Norte e o Irã ‐ que a Rússia fato é que ela foi criada como uma coalizão
considera uma ameaça a sua segurança contra um inimigo comum – a União
nacional. Finalmente, o terceiro tema Soviética – e, aos olhos de Moscou, ainda é
importante a ser discutido é a intervenção uma ameaça. A insistência em manter a
russa na Geórgia e todos os seus política de expansão só tende a manter as
desdobramentos, que os americanos tensões elevadas.
consideraram um flagrante desrespeito ao
direito internacional por parte de Quanto ao escudo antimísseis, o programa
Moscou.No que se refere à expansão da de Obama diz o seguinte:
OTAN, o programa de Obama diz o “Barack Obama e Joe Biden não pouparão
seguinte: esforços para proteger os americanos das
“Barack Obama e Joe Biden acreditam que
o processo de alargamento da OTAN (...)
100
deve continuar, desde que os novos
http://www.barackobama.com/pdf/Fact_Sh
candidatos sejam democráticos, pacíficos e eet_Europe_FINAL.pdf
101
dispostos a contribuir com a segurança
comum. Eles apóiam firmemente o http://obama.3cdn.net/1ec5fc3b0aa4e9d89
7_xlpmv2bau.pdf
princípio de que democracias soberanas 102
http://www.barackobama.com/2007/04/23/t
he_american_moment_remarks_to.php
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103 104
http://www.barackobama.com/pdf/Fact_Sh http://obama.3cdn.net/1ec5fc3b0aa4e9d89
eet_Europe_FINAL.pdf 7_xlpmv2bau.pdf
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Especial Barack Obama
enfrentando depois a resposta russa. Da de governo em Washington não será
mesma maneira, Obama insiste na suficiente para alterar o padrão de
necessidade seguir com o forte apoio aos relacionamento entre os dois países. A
governos anti‐russos da ex‐União Soviética julgar pelas propostas de Obama, nessa
e do leste europeu, política que, nos área nem o mais otimista dos americanos
últimos anos, tem levado a conflitos pode acreditar numa mudança
sucessivos com Moscou. Aqui, novamente, significativa.
há mais traços de continuidade que de
mudança.
Conclusão
“Joe Biden e Barack Obama entendem que
nós precisamos manter a Rússia em
cheque, precisamos manter os países do
leste europeu livres e precisamos manter
os Estados Unidos seguros.”105. (grifo
meu)
105
http://obama.3cdn.net/1ec5fc3b0aa4e9d89
7_xlpmv2bau.pdf
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Especial Barack Obama
Os desafios nas relações com a Índia
Hermes Moreira Jr e Tainá Dias Vicente
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Especial Barack Obama
requerida pelos países do chamado em conflitos diretos com a URSS (ex‐
Terceiro Mundo. Nesse sentido, frente ao aliada), aproximando‐se dos EUA, na
novo sistema que se constituía, a Índia complexa diplomacia triangular
optava pela busca da autonomia e da arquitetada pela dupla Kissinger‐Nixon.
neutralidade nos temas conflitantes da Nesse sentido, a tensão atômica gerada
política internacional. pelo desenvolvimento dos projetos
nucleares indiano, paquistanês e chinês,
Contudo, à medida que o conflito entre vieram somente para agravar a já delicada
EUA e URSS se desenvolveu e ganhou situação e tornar mais sensível a
maior complexidade, a posição indiana no instabilidade regional durante os anos da
cenário internacional passou a ser revista. Guerra Fria.
Resquícios da Guerra Fria chegavam ao
continente asiático e “esquentaram” a Findada a Guerra Fria e desarticulado o
disputa pela Caxemira. Por se tratar de poder soviético, houve um natural
região fronteiriça entre Índia e Paquistão, desgaste dessas alianças. As disputas
em litígio desde a independência destes regionais, sobretudo pela hegemonia no
dois países (1947), a Caxemira caíra como vácuo de poder que se dera com a queda
uma luva nas intenções de EUA e URSS de do império vermelho, se acirraram porém,
constituir alianças e garantir sua sob novas circunstâncias. O comércio entre
possibilidade de influência na região. a China e a Índia aumentou
consideravelmente, sobretudo a partir da
Desse modo, ao passo que os Estados gradual abertura de seus mercados no
Unidos e o Paquistão tornaram‐se início dos anos 1990. Esta abertura trouxe
“parceiros íntimos” a Índia arquitetou uma um novo componente à política externa
aliança especial com a URSS, opção que lhe indiana, a aproximação com os Estados
foi vantajosa econômica e Unidos, que em pouco tempo se tornaria
estrategicamente durante muitos anos. seu principal parceiro individual em
Entretanto, tais alianças, em meio àquele comércio e tecnologia.
complexo jogo em que se transformou a
Guerra Fria, refletiram nas relações entre Mesmo frente às mudanças ocorridas no
Índia e China. cenário internacional do pós‐Guerra Fria, a
Índia não perdeu seu lugar de centralidade
As interações diplomáticas entre a Índia e a no jogo político mundial, e continua – se
China iniciam‐se, logo a partir da não mais como porta‐voz do movimento
independência chinesa, no ano de 1949, dos não‐alinhados – a ser um grande
trilhando caminhos pacíficos. Porém, a representante dos países em
disputa regional não demoraria a emergir, desenvolvimento do Sul. Grande parte da
e se intensificaria a partir de 1959, com a sua agenda se encontra voltada à
concessão de asilo político por parte do cooperação no sul asiático procurando
governo indiano a Dalai Lama representar os interesses desse grupo
(revolucionário da região separatista perante os órgãos multilaterais, sobretudo
chinesa do Tibet). Tal episódio agravou os a partir da SAARC (Associação da Ásia do
problemas de contigüidade existentes Sul para a Cooperação Regional).
entre os dois países, culminando no
conflito sino‐indiano de 1962. Além desse acordo, atua no IBAS (Índia,
Concomitante a isso, a China se envolveu Brasil e África do Sul), representando
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Especial Barack Obama
mundialmente três pontos regionais de garantir seus interesses estratégicos em
base para a luta dos países do sul e todo o continente asiático. Contudo, a
projetando positivamente para o mundo a manutenção da estabilidade regional, com
imagem indiana. A Índia se posiciona a presença norte‐americana, perpassa pela
também enquanto liderança nas discussões parceria com as principais lideranças
sobre meio ambiente e nas negociações da regionais, sobretudo a partir de relações de
Rodada Doha da OMC contestando o cooperação com a Índia. Considerada pelos
protecionismo dos países do norte ao Estados Unidos como parceiro estratégico,
mercado agrícola. Assim, a Índia se coloca, principalmente no que tange à defesa, à
atualmente, como um dos principais expansão da democracia, e à luta contra o
articuladores dos países em terrorismo, as relações bilaterais entre
desenvolvimento (G‐20 ; G‐77), esses dois países têm se intensificado nos
fomentando e fortalecendo suas últimos anos, principalmente nos
características de grande potência intercâmbios tecnológicos e culturais.
emergente e líder regional.
As intensas relações comerciais que se
desenvolveram entre os setores terciários
de os Estados Unidos e da Índia têm
A Política Externa Norte‐Americana e Seus colaborado para o aumento na cooperação
Desafios frente a Índia entre os dois países. Ademais, a presença
O grande desafio encontrado pelos Estados de, aproximadamente, 1,7 milhões de
Unidos no mundo contemporâneo é o de imigrantes indianos vivendo em território
liderar uma sociedade internacional norte‐americano é outro fator que tem
baseada em seus valores e princípios, sem contribuído para o incremento dessa
deixar de garantir seus interesses nacionais relação. No entanto, é a possibilidade de
baseados no sucesso de sua economia que, no longo prazo, o aumento de poderio
privada e nos índices de acumulação de da China gere uma transição da hegemonia
capital para a manutenção de sua posição do sistema internacional para o mundo
hegemônica. Nesse sentido, os Estados asiático que tem fortalecido a aliança entre
Unidos devem moldar o ambiente Índia e Estado Unidos.
internacional de forma vantajosa para si, Logo no início do seu mandato, George W.
adotando a postura de ação antes do Bush assinalou com a possibilidade de um
rompimento das crises internacionais, ou relacionamento especial com a Índia,
seja, agindo de forma preventiva. Portanto, principalmente no tocante à possibilidade
o envolvimento norte‐americano nos de colaboração para diminuir a
assuntos globais é baseado na crença de instabilidade regional no continente
sua responsabilidade, capacidade e asiático. As disputas envolvendo Índia e
interesse na construção de uma ordem Paquistão reduziram sensivelmente nos
internacional que satisfaça seus objetivos, últimos anos, abrindo até mesmo
ou seja, um internacionalismo com íntima possibilidades de cooperação no plano
conexão com os interesses dos Estados energético entre os dois países. Nesse
Unidos. sentido, a presença norte‐americana no
Desse modo, o engajamento dos Estados continente se dá de maneira estratégica,
Unidos na região é fundamental para buscando evitar que Índia / Paquistão / Irã
venham a se tornar um pólo de referência
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Os desafios nas relações com Israel
Glauco Fernando Numata Batista
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Especial Barack Obama
mudança de regime para a disseminação pois estes grupos lutam motivados por
da democracia, conforme tentado no questões locais, quer sejam relacionadas a
Iraque a partir de 2003. diferenças religiosas, disputas estratégicas
(disputa de territórios ou pelas reservas
A diplomacia americana sob Bush filho aqüíferas da região) ou mesmo em relação
primou pelo chamado “desenvolvimento à criação do Estado da Palestina. A mesma
democrático” como princípio norteador análise pode ser feita para os “estados‐
das negociações entre árabes e israelenses, pária” da região, que de fato representam
contudo acabou não sendo eficiente para ameaças efetivas para Israel, e não para a
encaminhar o processo de paz de forma superpotência.
eficaz. Além disso, o que dificultou ainda
mais a atuação dos Estados Unidos na Ainda no âmbito da guerra contra o terror,
região foi o fato do país se recusar a entrar as relações do Estado de Israel com seus
em negociações com grupos como o vizinhos se deterioram a partir de 2006.
Hamas, alegando sua vocação terrorista. Este ano ficou marcado pela vitória do
Hamas nas eleições legislativas na
Assim, o que cabe salientar é que o Palestina, as novas incursões israelenses na
estreitamento da aliança dos Estados Faixa de Gaza e o conflito com o Hezbollah
Unidos com Israel no âmbito da guerra no Líbano, além da manutenção da
contra o terror parecia não fortalecer a luta construção do muro de isolamento com os
contra o terrorismo antiamericano, mas territórios palestinos, apesar de protestos
sim incentivá‐lo. As repercussões negativas da comunidade internacional.
da doutrina da guerra preventiva pelo
sistema internacional certamente tiveram Frente a este cenário, George W. Bush
grande impacto no Oriente Médio, região tentou reverter o quadro de relativo
na qual se localizavam prováveis alvos das descaso no conflito do Oriente Médio,
mudanças forçadas de regime. Os líderes retomando a iniciativa do processo de paz
dos grupos terroristas, com destaque a e promovendo conversações entre as
Osama bin Laden, freqüentemente citam a lideranças israelenses e palestinas na
questão árabe‐israelense em seus academia naval de Annapolis em 2007,
discursos, utilizando o apoio incondicional com a realização de uma conferência
americano a Israel como forma para incitar internacional que contou com a presença
mais pessoas a aderirem as suas causas. O de vários países, inclusive da Liga Árabe.
programa nuclear iraniano também pode Contudo, a conferência ainda não
ser visto como resposta a possíveis ações demonstrou resultados práticos, assim
conjuntas de Washington/Tel‐aviv na como o Quarteto de Madrid, grupo
região no bojo das ações preventivas. formado por Estados Unidos, União
Européia, Rússia e as Nações Unidas, que
Nesse sentido, ainda podemos acrescentar tenta fazer a mediação no conflito árabe‐
que há uma percepção equivocada ao israelense, mas até o momento sem obter
considerar que Estados Unidos e Israel sucesso.
possuem inimigos comuns na questão do
terrorismo, vistos que muitos dos grupos Deste modo, o que podemos analisar é
considerados terroristas que atacam Israel que, inicialmente, o grande desafio da
não constituem de fato ameaças reais para próxima administração norte‐americana
os Estados Unidos. Isso pode ser explicado será minimizar as conseqüências negativas
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Por fim, realizando uma breve análise do liderar o processo. Deste modo, com a
cenário político atual de Israel, vitória nas eleições o novo presidente terá
principalmente as perspectivas para as grandes desafios pela frente, já que com a
próximas eleições legislativas em fevereiro, promessa da “renovação da liderança
de fato vemos que os cenários para a americana” no Sistema Internacional, o
negociação do processo de paz não se Oriente Médio certamente será uma das
mostram muito otimistas. No presente regiões mais relevantes na qual Obama
momento, as pesquisas indicam a vitória terá seu discurso colocado à prova.
do Partido Likud, sob a liderança de
Benjamin Netanyahu, que, se concretizada,
poderá significar o retorno de políticos de Referências
ultradireita no parlamento israelense, o
que pode significar um revés nas FELDBERG, Samuel. Estados Unidos e Israel
possibilidades de diálogo com as lideranças – uma aliança em questão. São Paulo:
palestinas. A candidata que pode ameaçar Hucitec, 2008.
Netanyahu é a atual Ministra das Relações
HAAS, Richard N.; INDYK, Martin. Beyond
Exteriores, Tzipi Livni, líder do Kadima, a
Iraq: a new U.S. strategy for the Middle
qual tem tido grandes dificuldades para
East. Foreign Affairs, New York, v. 88, n. 1,
lidar com a oposição e manter os diálogos
Jan./Feb. 2009. Disponível em:
com a Autoridade Palestina. Assim, Obama
terá que acompanhar de perto os <
processos da eleição, pois o resultado será http://www.foreignaffairs.org/20090101fa
fundamental para a continuidade ou não essay88104/richard‐n‐haass‐martin‐
dos diálogos para o processo de paz. indyk/beyond‐iraq.html>. Acesso em: 6
dez. 2008.
Desta forma, a título de conclusão,
podemos analisar que o governo norte‐ HUCKABEE, Michael D. America`s priorities
americano sob Barack Obama terá in the war on terror: islamists, Iraq, Iran
caminhos tortuosos para percorrer em and Pakistan. Foreign Affairs, New York, v.
suas relações com Israel, tendo em vista o 87, n. 1, Jan./Feb. 2008. Disponível em:
difícil cenário que parece emergir para o <http://www.foreignaffairs.org/20080101f
retorno às negociações que devem ser aessay87112/michael‐d‐
desencadeadas na região para sua huckabee/america‐s‐priorities‐in‐the‐war‐
estabilização. Durante a disputa on‐terror.html>. Acesso em: 15 nov. 2008.
presidencial norte‐americana pôde ser
notado que a pacificação do conflito árabe‐ KAGAN, Robert. The September 12
israelense teve pouca prioridade nas paradigm: America, the World and George
agendas de campanha dos dois partidos, W. Bush. Foreign Affairs, New York, v. 87,
sendo que nenhum dos candidatos chegou n. 5, Sept./Oct. 2008. Disponível em:
a deixar claro uma proposta concreta para
<
a resolução dos confrontos. Obama chegou
http://www.foreignaffairs.org/20080901fa
a destacar a necessidade de mais países
essay87502/robert‐kagan/the‐september‐
aliados de Israel envolver‐se na pacificação
12‐paradigm.html>. Acesso em: 10 nov.
do conflito, assim como prometeu um
2008.
comprometimento pessoal na tentativa de
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Os desafios no Iraque
Janaína Marques Storti
Iniciada pelo governo Bush em 20 de comprometendo a imagem de Bush como
março de 2003 a Guerra do Iraque se governante e a credibilidade dos Estados
tornou um dos assuntos mais polêmicos da Unidos como liderança internacional.
política internacional americana. Com as
eleições presidenciais o assunto não Prova disto são as últimas pesquisas
poderia deixar de entrar em pauta, realizadas por fontes como:
tornando‐se foco de muitos dos debates ABC/Washington Post, Gallup, CBS/New
entre os candidatos republicanos e York Times e NBC/Wall Street Journal, as
democratas. Com a eleição de Barack quais apontam que a aprovação nacional
Obama é inevitável que se questione: do governo Bush caiu de cerca de 50% em
Quais são as perspectivas quanto à guerra 2005, lembrando‐se que em 2001, logo
do Iraque? Quais os desafios que deverão após os ataques de 11 de setembro a
ser enfrentados pelo novo governo? E aprovação de Bush estava em cerca de
como as ações perante o fim do conflito 70%, para pouco mais de 20% em 2008.106
serão conduzidas? Questionados se os gastos com a guerra do
Iraque valiam à pena, o número de pessoas
Justificada pelo governo Bush como um que acredita que ela não vale a pena saltou
conflito parte da luta global contra o de 45% em 2004 para pouco mais de 63%
terrorismo, a motivação principal da guerra em 2008.107 Além disso, em 2008, cerca de
do Iraque foi defendida em termos de 54% dos americanos estimam que a guerra
combate a um governo tirano e agressor do Iraque representa um erro na política
dos Direitos Humanos que supostamente externa americana, contra cerca de 25%
apoiava a Al Qaeda, e que sobretudo, em 2003.108
possuía armas de destruição em massa as
quais poderiam ser utilizadas contra os A operação militar no Iraque é a segunda
Estados Unidos e seus aliados diretamente mais longa guerra na história dos EUA,
ou, até mesmo, ser fornecida a grupos perdendo apenas para o Vietnã (1959‐
terroristas. 1975), e a segunda mais custosa, perdendo
apenas para 2°. Guerra Mundial. De acordo
A falta de consenso internacional sobre a com Joseph Stiglitz, Prêmio Nobel de
guerra, a intervenção norte‐americana no
Iraque sem que antes houvesse
106
autorização das Nações Unidas, a Para conferir os dados e gráficos
referente a esta pesquisa acesse
dificuldade em provar uma conexão entre <http://www.pollster.com/polls/us/jobapp
Saddam e a Al Qaeda, bem como a falta de roval-bush.php>.
107
provas que comprovassem a existência de Para conferir os dados e gráficos
referente a esta pesquisa acesse
armas de destruição em massa no <http://www.pollster.com/polls/us/issue-
território iraquiano colaboraram para iraq-worthcostornot.php>.
108
aumentar os questionamentos existentes Para conferir os dados e gráficos
referente a esta pesquisa acesse
sobre a legitimidade do conflito, <http://www.pollster.com/polls/us/issue-
iraq-rightormistake.php>.
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com cautela, levando em consideração Este acordo, aprovado depois de debates
todas as variáveis disponíveis. ferozes pelo parlamento iraquiano no final
de novembro de 2008, estabelece prazos
Questionado sobre o prazo para retirada visando a transição de responsabilidades
das tropas americanas do Iraque, Barack para o governo iraquiano até dezembro de
Obama afirmou em sua primeira entrevista 2011.
como presidente eleito dada ao jornal “60
minutes”120 que mantém seu compromisso O pacto intitulado “Agreement between
com o fim da presença norte‐americana no the United States of America and the
país, o qual será negociado com os Republic of Iraq on the withdraw of United
membros do aparato de segurança States forces from Iraq and the
nacional governamental assim que Obama Organization of their activities during their
assumir a presidência. temporary presence in Iraq” assinado por
Bush121 e Nouri al‐Maliki, Primeiro‐Ministro
No início de dezembro de 2008 Obama iraquiano, no ano passado detalha como e
anunciou sua equipe de segurança e em que prazo será efetuada a retirada das
defesa, mantendo Robert Gates, Secretário forças armadas dos EUA do Iraque, e ainda
de Defesa desde dezembro de 2006, em estabelece disposições para a organização
sua função de chefe do Pentágono. Esta e regulamentação das atividades dos dois
posição foi vista por críticos, especialmente governos durante a presença temporária
militares, como uma tentativa de amenizar dos EUA no Iraque.122 Mais do que isso, a
o debate pré‐eleitoral sobre a posição em aprovação do acordo representou uma
ser adotada no Iraque. Ao manter o
mesmo Secretário de Defesa do governo
121
antecessor Obama surpreendeu a muitos, O acordo não foi colocado em votação no
parlamento americano nem ratificado pelo
haja vista suas críticas às políticas de
Senado. O executivo americano,
defesa implementadas durante o governo compreendeu que o pacto é um mero
Bush. Este fato levantou expectativas de acordo ordinário de reconhecimento de
que pouco mudaria com referência à forças Status of Forces Agreement (SOFA) o
qual pode ser implementado sem o aval do
definição de ameaças e estratégias
Congresso. Este fato levantou debates nas
delineadas no governo anterior. casas representativas, contestando a
validade do mesmo. Durante sua campanha
Aparentemente existe uma harmonia entre presidencial Obama defendeu que qualquer
Gates e Obama na questão do Iraque. acordo de segurança deveria ser submetido
Gates atuou de maneira importante para à aprovação do Congresso, uma vez que
poderia comprometer os planejamentos da
concluir um acordo com o governo futura administração americana,
iraquiano que definisse o papel dos EUA no algemando‐a a um compromisso que não
Iraque a partir de janeiro de 2009, bem necessariamente corresponda a suas
intenções.
como estabeleceu premissas para a
retirada das tropas americanas do Iraque. 122
WHITE HOUSE. Agreement between the
United States of America and the Republic
of Iraq on the withdraw of United States
120
Obama On Economic Crisis, Transition. CBS forces from Iraq and the Organization of
News, 16/09/2008. their activities during their temporary
Disponível em: presence in Iraq. Bagdá: 17 de novembro de
<http://www.cbsnews.com/stories/2008/11 2008. Disponível em
/16/60minutes/printable4607893.shtml>. <http://www.whitehouse.gov/infocus/iraq/
Acesso em 10 nov.2008. SE_SOFA.pdf>. Acesso em 05 dez.2008.
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tentativa do governo Bush de legitimar Todas as guerras possuem objetivos
suas ações naquele país, a fim de evitar militares e políticos. Podemos afirmar que
maiores constrangimentos. parte do objetivo militar na guerra do
Iraque foi alcançada, qual seja, capturar,
Deste modo, é relatado no documento que julgar e condenar Saddam Hussein por seus
o governo iraquiano solicita formalmente a crimes de guerra. No entanto, até o
permanência por prazo determinado dos momento o objetivo político da guerra, o
EUA em seu território a fim de manter a qual versa sobre a estabilização do país,
segurança e a estabilidade no país. Ao seguida da consolidação da paz num
mesmo tempo o governo americano cenário favorável, ainda não foi atingido.
reconhece a crescente capacidade das Percebe‐se uma grande expectativa sobre
forças de segurança iraquianas em assumir as intenções do governo Obama em
as responsabilidades necessárias, concluir rápida e exitosamente este
concordando que todas as forças conflito, porém, devemos lembrar que
americanas devem deixar o território trata‐se de um processo complexo, que
iraquiano até 31 de dezembro de 2011.123 não depende da vontade de um único
Diferentemente do acordado neste pacto, homem, mas sim de todo aparato político e
Obama defende a evacuação das tropas burocrático americano.
americanas do Iraque em 16 meses, mas Segundo Obama125, depois dos erros
de acordo com Robert Gates, o presidente cometidos a partir da Guerra do Iraque que
teria sinalizado que poderia reconsiderar o mancharam a imagem do país, os EUA
prazo inicialmente proposto, caso seus precisam mudar sua estratégia e recuperar
comandantes e conselheiros lhe mostrasse sua capacidade de atrair apoio, admiração
que esta seria a opção mais adequada.124 e confiança aos valores americanos. Tendo
Isto também pode ser percebido nos isto em vista, de acordo com o presidente,
últimos discursos do presidente que a conclusão responsável do conflito no
parecem um pouco mais flexíveis em Iraque e a condução adequada na guerra
relação aos prazos estimados inicialmente. contra o terrorismo terão potencial para
renovar a liderança americana no cenário
mundial, a qual deve ter como base a
atuação internacional comprometida,
123
Deve‐se enfatizar que a cláusula 30 do multilateral e capaz de liderar pelo
acordo reconhece o direito soberano do exemplo de sua conduta, evitando
governo iraquiano de solicitar a partida das posturas arrogantes, conflitos
forças americanas a qualquer momento,
desnecessários e colaborando para
assim como os EUA tem direito de deixar o
país em qualquer momento, sendo que o
pacto será anulado após um ano da
solicitação feita por escrito por uma das
partes.
124
BARNES, Julian E. Gates on board with 125
Obama's Iraq plan. Los Angeles: Los Angeles OBAMA, Barack. Renewing American
Times, 03 de dezembro de 2008. Disponível Leadership. Foreign Affairs, July/August
em 2007. Disponível em
<http://www.latimes.com/news/nationworl <www.foreignaffairs.org/20070701faess
d/world/la‐na‐gates3‐ ay86401/barack‐obama/renewing‐
2008dec03,0,138085.story>. Acesso em 05 american‐leadership.html>. Acesso em
dez.2008. 20 nov.2007.
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supplementary appeal. Geneva, 2008. of Iraq on the withdraw of United States
Disponível em forces from Iraq and the Organization of
<http://www.unhcr.org/partners/PARTNER their activities during their temporary
S/477b8f744.pdf>. Acesso em 10 nov.2008. presence in Iraq. Bagdá: 17 de novembro
de 2008. Disponível em
WHITE HOUSE. Agreement between the <http://www.whitehouse.gov/infocus/iraq
United States of America and the Republic /SE_SOFA.pdf>. Acesso em 05. dez. 2008.
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Os desafios para o governo Barack Obama nas relações com a América Latina
nos campos de segurança e diplomacia
Marcos Alan Fagner dos Santos Ferreira
Dentre os grandes desafios em política seu ápice na Crise dos Mísseis de outubro
externa do governo Barack Obama, a de 1962.
América Latina não deixa de ter um papel
fundamental. Os desdobramentos da Ainda que em um curto período do
política externa de George W. Bush, que governo Clinton a busca para a
resultaram em ações unilaterais bastante normalização das relações com Cuba
questionadas em diversas instâncias, acaba encontrasse eco em alguns setores – em
por afetar a América Latina em diversos especial produtores agrícolas do meio‐
âmbitos. Neste artigo, objetivarei mostrar oeste ávidos em exportar para a ilha de
os problemas que o novo governo Fidel Castro –, o governo Bush fortaleceu o
democrata encontrará na região. embargo com a Comission Assistance for a
Seguramente não conseguiremos abranger Free Cuba, coordenada por Colin Powell.
os desafios para o governo Obama na Tal medida restringiu as viagens para a ilha,
América Latina em sua plenitude, e neste além de colocar as condições para a
sentido escolhemos discorrer sobre três normalização das relações com a ilha.
pontos principais neste contexto: Cuba, Além de herdar uma política hostil, o
México e Região Andina. Em seguida, grande desafio no governo Obama será
concluiremos dissertando sobre o desafio lidar com as diferentes percepções e
de se criar uma política concreta de interesses acerca da ilha dentro da política
cooperação com a região latino‐americana. interna norte‐americana. De um lado,
O desafio permanente: Cuba... até encontrará representantes parlamentares
quando? anti‐castristas radicais como Lincoln Diaz‐
Balart e Ileana Ros‐Lehtinen (ambos
Falemos inicialmente de um desafio que republicanos do estado da Flórida) que
geograficamente está muito próximo da tentam manter o embargo e sufocar o
grande potência: Cuba. O caso de Cuba é regime; de outro lado terá um número
bastante peculiar: mais do que um desafio razoável de empresários ligados ao
proveniente do governo Bush, é um agrobusiness e indústria interessados na
desafio histórico, vindo desde a abertura do mercado cubano. Soma‐se a
administração Eisenhower e que tal desafio o fato da política externa para
permanece até os dias atuais. Após a Cuba estar vinculada ao Congresso através
declaração do caráter socialista da da lei Helms‐Burton (1996) que codificou o
Revolução Cubana no início dos anos 60, a embargo e colocou como condição para
relação entre EUA e Cuba se deteriorou finalização do mesmo a aprovação prévia
constantemente. De início o embargo, em do Senado e Casa dos Representantes.
seguida a invasão fracassada patrocinada
pela CIA na Baía dos Porcos, e logo vimos Embora Obama sinalize positivamente com
cristalizada a situação de tensão que teve um maior diálogo com Cuba, este será
limitado pelos interesses internos de seu
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problemas políticos junto a população Fonte: Ministério da Defesa da Colômbia
latina que o elegeu. Além disso, a (2008)
continuidade da ajuda contra o
narcotráfico em seu governo é algo difícil Não podemos deixar de considerar, porém,
prever, ainda mais considerando que ele que o aumento da ajuda é em números
está recebendo um governo dentro de uma absolutos, haja vista que em porcentagem
crise econômica grave que precisará conter o orçamento colombiano de combate ao
os gastos públicos. narcotráfico e guerrilha nos mostra que os
números da ajuda de Washington têm
Os desafios que vem dos Andes: diminuído.
Colômbia e Venezuela
Nos últimos meses houve diversas vitórias
Desde a aprovação do Plano Colômbia do governo colombiano sobre a guerrilha
durante a administração Andrés Pastrana com o desmantelamento de algumas
(Colômbia) e Bill Clinton (EUA), a região dos atividades de seqüestro e a morte e prisão
Andes passou a ocupar uma posição de alguns líderes das FARC‐EP. Dados da
importante na agenda de política externa Junta Interamericana de Defesa da
dos EUA na região. Os oito anos de ajuda Organização dos Estados Americanos
financeira à Colômbia sofreram mudanças mostram que a capacidade operativa das
de foco importantes, deixando de FARC‐EP e ELN diminuiu em 40% de 2001 a
combater somente o narcotráfico para 2007. Ainda que isto tenha gerado um
lutar também contra as guerrilhas aumento da popularidade do presidente
marxistas das FARC‐EP (Fuerzas Armadas colombiano Álvaro Uribe, algumas
Revolucionarias da Colombia – Ejército Del acusações de que militares assassinaram
Pueblo) e ELN (Ejército de Libertación pessoas inocentes para engrossar as cifras
Nacional). positivas de combate à guerrilha podem
enfraquecer sua imagem frente a uma
No que se refere à ajuda financeira dos parcela da população.
EUA neste contexto, vemos no Gráfico 1
que esta cooperação (em laranja) tem Outro problema para o governo Obama na
aumentado constantemente nos últimos região é a Venezuela. Ainda que nos anos
cinco anos e não há uma tendência que a iniciais o governo de Hugo Chávez
ajuda cesse no governo Obama. mantivesse uma posição neutra de
distanciamento frente aos EUA, o golpe de
Gráfico 1: Orçamento da Colômbia para o 2002 contra o governo chavista, golpe este
combate à guerrilha e narcotráfico (em declaradamente visto com bons olhos pelo
milhões de US$) governo Bush, fez o líder venezuelano
radicalizar suas posições contra
Washington. Um radicalismo, diga‐se de
passagem, limitado ao campo político‐
diplomático, pois no campo econômico os
negócios entre EUA e Venezuela só
crescem – por exemplo, houve um
2003
438
2004
454
2005
463
2006
499
2007
509
aumento de 116% no volume da balança
Cooperación EE.UU.
Impuesto al Patrimonio
Presupuesto ordinario
516
3.617
134
4.703
56
5.792
30
6.434
0
7.942
comercial entre os dois países em 2006.
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Ainda assim, o grande desafio do governo menos prioritárias na agenda de política
democrata será diminuir o tom hostil da externa dos EUA. Ainda que o crescente
diplomacia bilateral com Caracas. O desinteresse venha desde meados da
governo Bush não só apoiou o golpe de década de 1990130, a preocupação com a
2002 como também incluiu a Venezuela região ao sul do Rio Grande se limitou
nos relatórios sobre terrorismo basicamente a questões de segurança.
internacional, acusando‐a de ser conivente
com grupos terroristas. Outra ação foi Podemos entender o impacto psicológico
banir a exportação de materiais bélicos dos atentados que dizimaram quase 3.000
para este país. Hugo Chávez não hesitou vidas em território estadunidense, mas não
em buscar novos parceiros no setor de podemos deixar de considerar a
defesa, fortalecendo a cooperação com a desproporcionalidade da preocupação com
Rússia e desagradando diversas instâncias o terrorismo. Na região latino‐americana
políticas norte‐americanas. não foi diferente. Aqui vimos acusações
infundadas de presença de células
O desafio maior passa a ser aqui, terroristas na Tríplice Fronteira (Argentina,
reconstruir os laços diplomáticos Brasil e Paraguai), a implicação da
cooperativos com Caracas, ação de Venezuela como conivente com o terror e
profunda importância considerando a o foco demasiado em questões de
interdependência econômica entre os dois segurança junto a parceiros importantes
países. como México e Colômbia.
O grande desafio: a criação de uma Um relatório produzido pela Brookings
política concreta voltada à América Latina Institution (think tank ligado aos
democratas) mostrou que o novo governo
Embora os problemas colocados acima precisará criar parcerias principalmente em
sejam de grande monta e inevitavelmente quatro campos para diminuir o vácuo
farão parte da agenda dos EUA para a diplomático deixado nos últimos anos
região, o grande desafio para o novo entre os EUA e a América Latina:
governo democrata será melhorar a desenvolver fontes de energias
imagem dos EUA através de uma política sustentáveis e combater a mudança
com ações concretas de cooperação com a climática; gerenciar efetivamente o tema
América Latina. da migração; expandir oportunidades para
No início de seu governo, George W. Bush todos através de integração econômica e;
colocou a América Latina como um proteger o Hemisfério do tráfico de drogas
compromisso fundamental de sua e crime organizado131. Outra conclusão
presidência.129 Após os atentados de 11 de
setembro o que se viu foi o rebaixamento
130
da América Latina como uma das regiões SHIMABUKURO, Alessandro, PEREIRA,
Paulo e FERREIRA, Marcos Alan. A política
exterior dos Estados Unidos: alguns
aspectos do segundo mandato de George
129
BUSH, George W. In: Bush pledges better W. Bush. In: OLIVA CAMPOS, Carlos (coord.)
relations with Latin America, CNN.com, 25 Anuario de Integracion Latinoamericana y
ago. 2000. Disponível em: Caribeña. Havana : Ediciones CEA‐AUNA,
http://archives.cnn.com/2000/ALLPOLITICS/ 2007.
131
stories/08/25/campaign.wrap/index.html. CÁRDENAS, Maurício et. al. Rethinking U.S.‐
Acessado em: 2 dez. 2008. Latin America Relations: Report of the
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interessante deste relatório: em poucos uma postura liberal no sentido político do
momentos históricos os EUA tiveram uma termo, há um temor por parte da imprensa
parceria genuína e sustentável com a e dos acadêmicos de uma retomada de um
região. Na maior parte do tempo protecionismo que prejudique as
permaneceu uma postura que agia economias da região, algo presente em
conforme problemas específicos, sem uma governos democratas anteriores.
agenda clara voltada para a América Latina.
Segundo o relatório, este seria o momento Há por fim o que talvez seja o maior
de mudar esta escrita e executar uma desafio na região: a desconfiança de que
política coesa e clara para a América uma proximidade com os EUA seja maléfica
Latina. para a região. Quebrar esta desconfiança
será uma tarefa árdua, se é que é possível.
No que se refere ao governo eleito, há Depois de oito anos de uma diplomacia
vontade política – ao menos isto é voltada a questões de segurança e pouco
sinalizado no campo do discurso – de preocupada nos reais problemas da região,
reconsiderar a América Latina como região o novo governo terá o desafio de criar uma
importante na diplomacia para além das agenda específica para o continente, como
questões de segurança. Em um dos poucos acertadamente colocou o relatório da
discursos de Obama sobre a América Latina Brookings Institution. Isto não será uma
durante sua campanha presidencial, ele tarefa simples e tampouco dependerá
colocou sua vontade de retomar com força somente da vontade política de
as relações com a região. Ainda lembrou Washington. Entender o que é a América
que justamente pelos EUA se distanciarem Latina, sem uma posição de superioridade
da região, outros Estados como China e Irã e aceitando a idéia de que estes países
se aproveitaram do vácuo para reforçarem aprenderam a defender seus interesses
seus laços com a América Latina. Sua fala diplomáticos nos últimos anos sem a
demonstrou que sua política para a região presença dos EUA será um desafio interno
seria a da boa vizinhança, comparando o (talvez até o mais árduo) dos novos
que pretende fazer com a postura do ex‐ agentes decisores de Washington. Resta
presidente dos EUA, Franklin Delano saber se há vontade política para lidar com
Roosevelt. Neste sentido, enfatizou a este desafio ou será mais simples continuar
necessidade de cristalizar uma política que relegando a região para segundo plano. A
defenda as quatro liberdades tal como segunda opção pode ser a mais simples,
concebia Roosevelt: a política, a do medo mas é a que manterá a regra dos últimos
(segurança), a da livre escolha e a anos: a perda de influência política dos
religiosa.132 Ainda que tenha defendido EUA na América Latina.
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EUA‐Africa: novas realidades, novos desafios
Filipe Miranda Ferreira
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responder como uma ameaça ao seu provinces that may become “hot”
interesse nacional. Nesse plano nacional exploration areas during the coming
está previsto que os EUA estabeleçam decade (Mauritania, Senegal, Sierra Leone,
relações com os países produtores de and Sao Tome and Principe), and others
petróleo de forma a tornar previsíveis e that are currently, or soon hope to be,
mais seguros os seus canais de distribuição. exploring for oil and gas (The Gambia,
Liberia, Togo, Benin, and Niger).
Como muitas das vezes estes países
produtores de petróleo estão localizados A África Ocidental e o Golfo da Guiné são
em regiões com um grau de instabilidade banhados pelo Oceano Atlântico e estão no
elevado e tendo índices de caminho das rotas transatlânticas, logo
desenvolvimento muito baixos, é afirmado para os EUA esse fato confere‐lhes um
que é do interesse dos EUA o apoio a esses acrescentado valor estratégico, pois
países, não só para gerar estabilidade qualquer ameaça a essa situação porá em
política mas também para diminuir os causa os mercados dos próprios EUA e da
custos de exploração por parte das grandes Europa Ocidental.
companhias petrolíferas americanas que
têm de gastar fatias consideráveis dos seus A montante da questão energética, os EUA
orçamentos em infra‐estruturas de base, têm apostado também num
onerando assim o preço do produto final. relacionamento mais próximo com alguns
países africanos no que concerne no
Importa aqui realçar a importância da combate ao terrorismo. Em 1998 as
África Ocidental e mais em particular da embaixadas norte‐americanas de Dar‐es‐
região do Golfo da Guiné para a Estratégia Salaam e de Nairobi foram alvo de ataques
dos EUA de assegurar um livre escoamento terroristas perpetrados por militantes
de petróleo. islâmicos da Al‐Qaeda. Esse fato levou a
que a África Oriental ganhasse uma nova
Já em 2004, John R. Brodman do importância no combate ao terrorismo.
Departamento de Energia, e perante uma
Comissão do Senado135 afirmava que: Países como o Sudão e a Somália apoiaram
ativamente a Al Qaeda. Bin Laden
“For our purposes today, I have defined estabeleceu‐se mesmo durante anos no
West Africa as the regional grouping of Sudão e criaram‐se redes de organizações
countries from Mauritania to Angola, and terroristas locais com laços fortes à
inwards to include Chad and the two organização de Bin Laden, mas devido ao
Congos. This group includes six significant, seu alcance meramente nacional ou
current oil producing countries (Nigeria, regional nunca foram alvo de grande
Angola, Gabon, Congo Brazzaville, atenção por parte dos EUA.
Equatorial Guinea, Chad), other countries
with smaller amounts of current production Nas vésperas da invasão do Iraque de
(Cameroon, Ghana, Cote d’Ivoire, Congo 2003, a Administração Bush acreditava que
Kinshasa), a number of frontier oil o regime de Saddam Hussein estaria em
vias de comprar material nuclear num país
africano.
135
Estes fatos fizeram com que os EUA
http://www.senate.gov/~foreign/testimony
/2004/BrodmanTestimony040715.pdf começassem a sentir que África teria um
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Especial Barack Obama
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Especial Barack Obama
sensíveis como a SIDA e a Malária países africanos. Se quer continuar na
marcaram a diferença em relação às tradição democrata de ligar a atribuição de
administrações anteriores. verbas a dossiês como a boa governação e
a defesa dos direitos humanos ou se quer
Embora existam muitas criticas acerca do continuar a tradição republicana de
funcionamento e filosofia do PEPFAR, sem atenuar esse discurso apostando numa
dúvida que numa análise global, o PEPFAR vertente mais realista e pragmática.
foi um projeto positivo e tem melhorado
de fato a vida dos africanos. Obama não se poderá esquecer que a
inexistência de premissas em relação à boa
governança e aos direitos humanos é um
Dos desafios do futuro dos trunfos dos chineses em África. No seu
programa de campanha Obama defendia
A administração Obama terá de enfrentar um esforço para que os EUA atinjam os
sérios desafios e terá de realizar um Objetivos de Desenvolvimento do Milênio
esforço formidável se quiser deixar a sua e prometeu duplicar a ajuda pública norte‐
marca nas relações EUA‐África. As americana para 50 bilhões.
realizações sociais da Administração Bush
devem ser consolidadas nomeadamente no Contudo o capital de esperança de Barack
que concerne à PEPFAR e à PMI. Obama junto da maioria dos africanos é de
tal forma grande que pequenas melhorias
Em relação à PEPFAR é esperado uma não serão suficientes para sedimentar a
reforma do seu funcionamento, tornando‐ sua imagem de liderança.
a mais ágil e menos burocrática. É
igualmente expectável que a sua carga A sua ascendência queniana reforça a
ideológica seja atenuada em favor de uma percepção que os africanos têm que esta
abordagem mais pedagógica e mais poderá ser uma oportunidade única de
preventiva. Embora estas mudanças terem um líder norte‐americano cultural e
possam trazer mais valias e um maior emocionalmente ligado às grandes
aproveitamento das verbas existentes para questões africanas.
estes planos, na realidade pouco irá Howard Wolpe, director do Programa
verdadeiramente mudar, pois as bases já Africa e do Projecto Liderança e Reforço da
estão lançadas. Capacidade do Estado no Centro Woodrow
Para António Gaspar do ISRI137 a eleição de Wilson138 refere que:
Barack Obama “ a ascendência de Obama à presidência
“…não se traduzirá em mudanças terá um enorme impacto político simbólico
substantivas nas relações económicas com no continente africano. O fato de uma
África, pois estas desenvolvem‐se sobre pessoa de raça africana poder ser
pilares já edificados”. presidente dos EUA vai aumentar
substancialmente a nossa estatura moral e
Os EUA deverão ter de escolher qual o
discurso político que irão utilizar junto dos
138
http://portuguese.maputo.usembassy.gov/
elections2_2008.html
137
www.africa21.com.br
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Especial Barack Obama
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Especial Barack Obama
Arthur Coelho Dornelles Jr.
Em função da crise financeira do que os 1,3 milhões de chineses
internacional, é provável que o decidirem, isso porque quando um quinto
crescimento econômico dos Estados da população mundial decide consumir
Unidos caia para cerca de 1% ao ano. mais (seja o que for), isso tem tremendas
Segundo as estimativas mais implicações sobre o mercado internacional,
conservadoras, o crescimento econômico bem como sobre o meio ambiente. O autor
da China cairá para algo em torno de 5% ao nos lembra que, uma China cooperativa
ano. Nas últimas duas décadas a China pode tornar a vida dos Estados Unidos
cresceu três vezes mais rápido do que os muito mais fácil e tranqüila, pois a
Estados Unidos. Contudo, graças à atual cooperação de Pequim pode ajudar a
crise financeira, talvez a economia chinesa evitar a difusão de tecnologia nuclear; a
possa crescer cinco vezes mais rápido do manter dinâmico o comércio internacional,
que a norte‐americana. Com isso, a China bem como o sistema financeiro
alcançará o PIB dos Estados Unidos em um globalizado; a garantir o suprimento de
intervalo de tempo consideravelmente energia para diversos países; a impedir a
menor. Certamente, essa é uma grande ação de grupos terroristas; e a reduzir a
fonte de preocupação para Washington degradação ambiental(Haass, 2008).
(Zakaria, 2008b). É sob essa nova realidade
que o governo Obama terá de lidar com A posição de Haass remete diretamente à
Pequim. estratégia de engajamento da China,
postulada por diversos analistas norte‐
Nesse artigo, pretende‐se estabelecer os americanos nos anos noventa (neo‐
principais pontos de atrito entre os Estados institucionalistas liberais e sinólogos de
Unidos e a China, no intuito de delinear o inclinação liberal). De acordo com tal visão,
horizonte que a nova administração norte‐ os Estados Unidos precisam engajar
americana deverá encontrar em suas Pequim nos regimes e organizações
relações com Pequim. internacionais, a fim de enquadrá‐la nas
normas políticas e econômicas da
comunidade internacional. Segundo
1) Engajar a China Michael Swaine e Minxin Pei, “o objetivo
de longo prazo dos EUA com o
Em recente matéria publicada na revista engajamento político e econômico da
Newsweek, Richard Haass afirma que o China é a emergência de uma sociedade
principal desafio da administração Obama aberta, que combine uma economia de
será integrar profundamente a China à mercado com instituições
“ordem internacional globalizada”, pois o democráticas”(2002: 4 – tradução nossa).
destino do planeta depende cada vez mais Contudo, dificilmente a
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Especial Barack Obama
integração/engajamento de Pequim nos possui cerca de 26 milhões de habitantes.
regimes e instituições internacionais seja Em Taiwan se encontra o “governo” da
uma condição suficiente para a República da China (RC) fundada em 1912
transformação da China em uma na China continental. Em 1949, as
democracia liberal de estilo ocidental. Sem autoridades da RC fugiram para Taiwan
dúvida, trata‐se de uma condição após serem derrotadas pelo exército
necessária, mas seria temerário defini‐la comunista na guerra civil chinesa. Desde
como suficiente. então, os Estados Unidos têm sido o fiador
da independência de facto (ou seja, não
Apesar disso, a sugestão apresentada por jurídica) que as autoridades da ilha
Haass é bastante interessante, pois tem desfrutam, pois até 1979 o governo norte‐
como objetivo de longo prazo a americano manteve tropas em Taiwan, no
democratização da China e, intuito de evitar que os comunistas
consequentemente, a redução da chineses tomassem‐na à força. Isso porque,
probabilidade de um conflito bélico entre o regime de Taipé (capital da RC em
Pequim e Washington (assumindo que Taiwan) era um importante140 aliado dos
democracias raramente lutam entre si).139 Estados Unidos na Guerra Fria. Em 1979, os
Entretanto, essa é uma tarefa para muitas Estados Unidos reataram relações
décadas, e antes de alcançá‐la é preciso diplomáticas com Pequim, abrindo mão de
que seja resolvido definitivamente o futuro seu relacionamento oficial com Taipé. No
de Taiwan, pois essa pequena ilha pode mesmo ano, Washington estabeleceu o
deflagrar uma guerra entre Estados Unidos Taiwan Relations Act, em que se
e China, colocando a perder as eventuais comprometeu a impedir a reintegração
conquistas do governo norte‐americano forçada de Taiwan. O resultado disso é
em termos de engajamento de Pequim. que, se a Casa Branca permitir que a China
2) A “Questão de Taiwan” tome a ilha à força, a credibilidade do
compromisso estratégico dos Estados
Taiwan é um pequena ilha situada a Unidos com a defesa de seus aliados
aproximadamente 160km da costa chinesa, regionais será duramente abalada,
no Mar da China Meridional, atualmente, sobretudo frente à Coréia do Sul e o Japão.
(Ross, 2000; Dornelles Jr., 2007; Roy, 2003)
139
A despeito da veracidade empírica da Sendo assim, é pouco provável que o
“teoria da paz democrática”, ela carece de governo Obama consiga muito mais do que
uma teoria, em sentido estrito. A paz o governo Clinton obteve de Pequim em
democrática é um fato verificável
termos de cooperação.141 O governo
empiricamente, dotado de considerável
regularidade. Em outras palavras, a paz Clinton teve sérios problemas com Pequim
democrática é uma lei, não uma teoria.
Teorias explicam leis, ao passo que leis não
140
explicam nada, pois são apenas Até outubro de 1971 a RC foi membro
regularidades probabilísticas. Sobre essa permanente do Conselho de Segurança da
distinção, ver: Waltz (1979). Assim, embora ONU.
141
seja um ponto pacífico que as democracias Mais detalhes sobre a crise de 1995‐96
raramente lutam entre si, os defensores da entre Estados Unidos, China e Taiwan, ver:
“teoria da paz democrática” falham em Dornelles Jr, (2007) e Ross (2000). Para mais
explicar as razões que levam a ocorrência informações sobre a política externa dos
desse fenômeno. Sobre a paz democrática, Estados Unidos para a China nos anos
ver: Ray (2003) e Doyle (1996). noventa, ver: Suettinger (2003).
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Especial Barack Obama
durante boa parte de seu mandato, Em virtude da “Guerra ao Terrorismo”, a
culminando na crise de 1995‐96 no Estreito cooperação do governo chinês se tornou
de Taiwan. Contudo, a partir de 1997‐98 a importantíssima para Washington e com
administração democrata conseguiu isso os Estados Unidos reduziram
melhorar significativamente suas relações significativamente seu apoio político e
com o governo chinês. Isso só foi possível militar a Taiwan (sobretudo, a partir de fins
após o Presidente Clinton anunciar de 2003).143 Porém, com o fim da “Guerra
oficialmente seu apoio à posição chinesa (o ao Terrorismo” se aproximando, a China
que foi feito em 1998 em Pequim, para teme que o assunto logo volte a ser o
assegurar que a liderança chinesa não principal ponto de discórdia com o governo
guardasse dúvidas quanto à franqueza e à norte‐americano e, atrito com Washington
seriedade da declaração). Em é o que a liderança chinesa menos deseja.
conseqüência, o governo Clinton teve de Pequim espera crescer por mais duas ou
“colocar Taiwan de volta em sua caixa”, ou três décadas no atual ritmo, aí então
seja, teve de manter distância das poderá consolidar sua influência regional
autoridades da ilha. (Idem.) (hoje, tremendamente pronunciada, mas
ainda não consolidada em função da
Entretanto, provavelmente a presença militar norte‐americana na Ásia).
administração Obama fará um trabalho Por outro lado, a presença militar dos
mais equilibrado do que o feito pelo Estados Unidos na região desempenha um
governo Bush nos seus três primeiros anos papel importantíssimo na manutenção da
de mandato, pois nesse período a Casa estabilidade asiática. Estabilidade esta que
Branca privilegiou aberta e permitiu a China crescer a uma taxa média
sistematicamente suas relações com de 9,3% ao ano entre 1979 e 2004.144 Sem
Taiwan, em detrimento da China e da os Estados Unidos no Leste Asiático,
estabilidade regional. Essa inclinação ficou Pequim, Moscou e Tóquio, teriam de
evidente já no início de 2001, quando da responder pelos custos políticos e
autorização presidencial à venda de um econômicos advindos da manutenção da
grande pacote de armamentos a Taiwan (o estabilidade regional e, no momento,
maior desde o fim da Guerra Fria).
Também dão mostra dessa inclinação as
diversas permissões que a Casa Branca 143
Desde fins de 2003, as relações entre
concedeu (entre 2001 e 2002) às Estados Unidos e Taiwan perderam muito
autoridades de Taiwan, para que estas de seu ímpeto inicial. Isso porque, em
visitassem o território norte‐americano. agosto de 2002 o “governo” de Taiwan deu
inicio a uma série de ações provocativas
Tais visitas desagradam imensamente a
dirigidas contra a China, comprometendo
liderança chinesa, pois basta lembrar que a duramente a disposição de Pequim em
crise de 1995‐96 foi provocada pela visita cooperar na “Guerra ao Terrorismo”. Em
do “presidente” de Taiwan aos Estados dezembro de 2003 tais ações chegaram ao
ápice, e o governo norte‐americano, então,
Unidos.142 decidiu reduzir expressivamente seu apoio
político e militar às autoridades da ilha.
(Dornelles Jr., 2009)
144
Já no período pré‐reforma (1960‐1978), o
crescimento médio da China foi de 5,3% ao
142
Mais detalhes sobre os três primeiros anos ano. (Morrison, 2005) Com um crescimento
política externa do governo Bush para médio de 9,3%, o PIB chinês dobra de
Taiwan, ver: Dornelles Jr., (2009). tamanho a cada oito anos.
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orçamento oficial, os quais se encontram esforços do governo norte‐americano e
diluídos entre cidades, províncias e seus aliados, tal organização perdeu sua
governo central. Tal procedimento nunca funcionalidade, ou seja, sua capacidade de
foi realizado pelo Departamento de Defesa, operar em diversos países
o que torna sua avaliação bastante simultaneamente, recrutando, treinando e
especulativa.” (Dornelles Jr., 2008: 31‐32) armando seguidores, o que era possível
através de uma complexa rede
Soma‐se a isso a crescente penetração internacional de financiamento e lavagem
político‐econômica da China no continente de dinheiro, agora desmantelada (isso não
africano, o que preocupa o governo norte‐ significa que a Al‐Qaeda esteja morta, o
americano, pois Pequim tem ocupado que se está afirmando é que ela perdeu
rapidamente os espaços deixados na seu alcance global, estando hoje bastante
África, tanto pelas potências coloniais circunscrita ao Afeganistão e, sobretudo,
quanto pelas grandes potências da Guerra ao Paquistão). Este é, sem dúvida, o único
Fria. Para se ter uma idéia, o comércio feito significativo da administração Bush
entre a China e o continente africano em termos de política externa. (Zakaria,
cresce cerca de 50% ao ano, devido ao 2008)
crescimento econômico relativamente
acelerado de diversos países africanos Em relação ao terrorismo, o governo
(como, por exemplo, Angola e África do Obama precisa aumentar expressivamente
Sul) possibilitado pelas exportações de o número de tropas no Afeganistão (algo
recursos naturais (petróleo, gás natural e entre 60 mil e 80 mil homens), para ter
minérios estratégicos). A China, com a sua condições mínimas de controlar a fronteira
política africana espera: 1) conquistar o entre Paquistão e Afeganistão. Isso seria
emergente mercado africano; 2) suficiente para eliminar definitivamente o
diversificar suas fontes de petróleo, gás Taleban e a Al‐Qaeda? Provavelmente,
natural e minérios estratégicos; 3) cooptar não. Contudo, contribuiria
os Estados africanos que ainda mantêm significativamente para a estabilidade
relações diplomáticas com Taiwan; 4) regional, pois dificultaria grandemente a
consolidar sua imagem de grande potência vida dos diversos grupos e organizações
benevolente e pacífica.146 terroristas que se utilizam da porosa
fronteira entre Afeganistão e Paquistão
para agir violentamente na região e
4) A importância da China para o combate escapar das autoridades locais.
ao terrorismo Entretanto, tal aumento no contingente
Embora a “Guerra ao Terrorismo” tenha militar norte‐americano no Afeganistão
apresentado diversas conseqüências teria um custo (político) menor se apoiado
imprevistas (como, por exemplo, a difícil pela China, pois se Pequim se opor a essa
tarefa de pacificar o Iraque), a Al‐Qaeda foi iniciativa, a Casa Branca não contará com
grandemente enfraquecida, pois graças aos inúmeras facilidades. Entre elas estão: o
congelamento dos bens de suspeitos de
terrorismo (algo que a China já vem
146
Mais detalhes sobre a penetração chinesa fazendo, a pedido do governo Bush);
no continente africano, ver: Gill & Reilley
partilha de informações sobre organizações
(2007); Gill, Huang & Morrison (2007); e
Looy & Haan (2006). terroristas (idem.); liberdade para as
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autoridades norte‐americanas operarem Flanagan & M. E. Marti. The People’s
em território chinês (idem.); pressão sobre Liberation Army and China in Transition.
o governo paquistanês (e seu serviço de Washington D.C: National Defense
inteligência) para que esse aceite sem University Press, pp. 177‐193.
restrições o aumento de tropas
estrangeiras em sua fronteira. DORNELLES Jr., Arthur C. (2007) “A Crise no
Estreito de Taiwan (1995‐1996) e as
Relações entre Estados Unidos, China e
Taiwan”. Cena Internacional. Vol. 9, N° 1,
Conclusão pp. 57‐81.
Sendo esses os principais pontos de atrito ________. (2008) “O Crescimento do
entre Washington e Pequim, percebe‐se Orçamento de Defesa Chinês:
que o desafio do novo presidente norte‐ características, prioridades e objetivos”.
americano é imenso. Porém, se o governo Carta Internacional. Vol. 3, N° 1, pp. 30‐37.
Obama desempenhar uma política externa
agregadora e conciliadora nas diversas ________. (2009) “A Política do Governo
áreas de atrito, então ele terá boas Bush para Taiwan: o fim da ‘ambigüidade
condições de conquistar o apoio da estratégica’? (2001‐2003)”. No prelo.
liderança chinesa, que deseja estabilidade
e tranqüilidade para crescer e igualar seu DOYLE, Michael W. (1996) “Kant, Liberal
PIB ao dos Estados Unidos. Legacies, and Foreign Affairs”. In: Brown,
Michael E. et. al. (Eds.) Debating the
Mas o que acontecerá se a China conseguir Democratic Peace. Cambridge, MA: MIT
chegar aonde quer? Transigir pode ser Press, pp. 3‐57.
fácil, mas no longo prazo, talvez isso tenha
um custo muito elevado. Um custo que GILL, Bates; HUANG, Chin‐hao; MORRISON,
Washington pode não estar disposto a J. Stephen. (2007) “Assessing China’s
pagar. Uma nota de cautela: não Growing Influence in Africa”. China
esperemos grandes novidades na política Security. Vol. 3, N° 3, pp. 3‐21.
dos Estados Unidos para a China. Não GILL, Bates & REILLY, James. (2007) “The
apenas porque o lobby de Taiwan é muito Tenuous Hold of China Inc. in Africa”. The
forte no congresso norte‐americano, ou Washington Quarterly. Vol. 30, N° 3, pp.
porque ainda exista um forte sentimento 37‐52.
anticomunista entre muitos parlamentares
influentes, mas, sobretudo, porque os HAASS, Richard. (2008) “China: don’t
Estados Unidos temem a multipolaridade, isolate, integrate”. Newsweek. November
temem a redução de seu poder no sistema 29. Disponível em:
internacional, e a ascensão da China http://www.newsweek.com/id/171259
representa exatamente isso. (acesso em 15/12/2008).
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MORRISON, Wayne M. (2005) China’s SUETTINGER, Robert L. (2003) Beyond
Economic Conditions. Washington, D.C: Tiananmen: the politics of U.S – China
Congressional Research Service. relations, 1989‐2000. Washington, D.C:
Brookings Institution Press.
RAY, James Lee. (2003) “A Lakatosian View
of the Democratic Peace Research SWAINE, Michael D. e MINXIN Pei. (2002)
Program”. In: Elman, Colin & Elman, “Rebalancing United States – China
Mirian. (Eds.) Progress in International Relations”. Carnegie Endowment for
Relations Theory: appraising the field. International Peace. Policy Brief. (February
Cambridge, MA: MIT Press, pp. 205‐243. 13) pp. 1‐8.
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As relações comerciais sino‐americana no Governo de Barack Obama
Shuy Wen Shin
Apesar de o público chinês ter ficado necessidade de usar um terceiro país para
contente pelo fato de Barack Obama ter intervir nas negociações. A perda deste
sido eleito o primeiro afro‐descendente poder de barganha junto a administração
americano como presidente, o governo americana pode enfraquecer a posição
chinês não compartilha com esta alegria. chinesa que é histórica, desde o conflito
De fato o governo chinês preferiria o Coréia‐Estados Unidos.
candidato republicano John McCain como
presidente para manter a atual política Durante a sua campanha para a Casa
externa que o governo Bush vem Branca, Obama enviou uma carta ao
desenvolvendo. Na visão dos chineses, Secretário de Comércio Henry Paulson
um presidente republicano é mais cobrando uma postura mais enérgica em
previsível do que um democrata. relação a China, inclusive acusando a China
de manipular sua moeda por alguns anos
As idéias de Obama em relação a política para ganhar vantagens injustas no
externa enfatiza entre outras, comércio. Também lamentou que a atual
protecionismo do comércio e direitos administração nada fez para mudar o
humanos internacionais. São temas que comportamento da China. Ainda acusou o
os governantes de Beijing não querem Secretário Paulson de que o seu
ouvir. São pressões que vem do partido departamento se recusou a tomar medidas
democrata que deixam preocupadas as mais duras para proteger os interesses dos
autoridades de Beijing em relação ao empresários e trabalhadores norte‐
direito dos trabalhadores, proteção americanos.
ambiental, liberdade no Tibet e liberdade
de expressão. Não é de hoje que Obama faz duras críticas
à China. Durante uma formatura na Knox
A política do presidente Bush pode não College no ano de 2005, Obama disse aos
agradar os norte‐americanos, porém formandos que os trabalhadores norte‐
agrada em muito os governantes chineses, americanos devem se preocupar com
principalmente por causa da política trabalhadores chineses, pois o número de
intervencionista como a guerra do Iraque, engenheiros formados na China, por
que desvia as atenções do que acontece na exemplo, é quatro vezes maior do que nos
China. Estados Unidos. A mão‐de‐obra chinesa
é mais rápida e mais barata do que a norte‐
O governo Bush estreitou as relações com americana. Para Obama, é dever do
a China nos últimos anos para poder abrir governo norte‐americano proteger os
um canal de comunicação com a Coréia do interesses de seus trabalhadores.
Norte e até com o Irã. Com Obama isto Portanto, medidas mais duras deveriam ser
pode mudar. Com a sua formação aplicadas contra produtos importados da
multicultural, Obama é mais tolerante e China nos próximos anos.
aberto para negociações, e por isso pode
abrir um canal de conversação direta sem a
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Revista Veja. Editora Abril Edição 2075 pp. SHIN , Wong K. A China Explicada para
136‐142. Brasileiros. Editora Atlas.
SETH, Sushil. Obama faces China´s SPENCER, Richard. CHINA China reacts
challenge. Taipei Times. 08.12.2008 P cautiously to Barack Obama´s
win. Telegraph.co.uk 05.11.2008.
SHENKAR, Oded. Século da China.
Bookman Companhia Ed. 2005
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A agenda de Barack Obama 2009‐2012: desafios para a segurança interna
Paulo Pereira de Almeida
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se a um acordo prevalecendo os princípios assinaram com a União Europeia tratados e
dos Estados Unidos em detrimento dos extradição de criminosos; estes não estão
valores Europeus, o que levou a que a relacionados apenas com terroristas mas
“homeland security agenda” fosse vista também com criminosos comuns,
mais como uma externalização das obrigando todos os países membros a
necessidades domésticas americanas. assinar acordos nacionais com os Estados
Felizmente, esta situação tem vindo a Unidos com condições semelhantes às
alterar‐se à medida que as questões aceites pela União Europeia. E estes
securitárias adquirem uma maior acordos tendem a facilitar o processo de
visibilidade na União Europeia. Agora é extradição, permitindo simplificar a troca
verdade que – apesar do esforço de de informação sobre os processos.
integração de todos os Estados Membros –
a União Europeia deixa ainda à É certo que, após o 11 de Setembro, os
responsabilidade dos governos nacionais Estados Unidos adoptaram como
tarefas relacionadas com o policiamento, prioridades a luta contra o terrorismo e a
justiça criminal e espionagem. E isto segurança nacional. Mas num contexto de
porque – no essencial – não possui as globalização económica e das pessoas,
estruturas adequadas para lidar com estes também as matérias de segurança
problemas. O facto de se tratar de um assumem uma visibilidade global. Acresce
governo descentralizado leva a que muita que, hodiernamente, as fronteiras e o mar
informação não seja partilhada de forma – por si só – já não delimitam e protegem
eficaz. Outra dificuldade prende‐se com o um país. A segurança nacional passa, pois,
interlocutor correcto para tomar uma por um reforço da cooperação entre países
determinada decisão: a complexa estrutura de forma a combater o terrorismo e – em
governativa da União Europeia torna mais particular nesta nova frente de ameaças à
difícil determinar qual será a entidade segurança dos Estados e das pessoas e
responsável por uma área de decisão bens – por um encorajamento da
específica. participação da União Europeia, e de cada
um dos seus parceiros individualmente,
Apesar destas dificuldades, foram nos teatros da segurança nacional e
adoptadas muitas medidas em conjunto internacional.
pela União Europeia e pelos Estados
Unidos no sentido de melhorar a segurança Todavia, as soluções nacionais e
interna. Desde o 11 de Setembro que os transnacionais para os problemas no
Estados Unidos e a União Europeia campo da segurança interna nem sempre
estabeleceram parcerias e mecanismos têm sido as mais ajustadas e – por razões
formais e informais para coordenarem de pressão conjuntural – os políticos
esforços no que respeita à segurança tendem, por vezes, a agir de acordo com os
nacional. Procuraram estimular a últimos acontecimentos, escolhendo as
constante troca de informações entre si medidas mais simples, em vez de
para um melhor funcionamento conjunto, pensarem a longo prazo e procurando
estimulando as relações das instituições antecipar os riscos e as ameaças à
norte‐americanas com a Europol e o segurança. Todavia, uma concepção
Eurojust. Por exemplo, depois do 11 de moderna das políticas de segurança
Setembro os Estados Unidos da América assenta na ideia de inovação e da
descoberta de novas formas para lidar com
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formulação e implementação da política áreas e nas regiões mais vulneráveis do
externa; construir um sistema integrado, Mundo; e desenvolver novas ferramentas e
inter‐agências, com um mecanismo de capacidades de gestão de crises, que os
planeamento estratégico de longo alcance, habilitem com uma melhor capacidade de
vinculado diretamente para a alocação de resposta aos desafios e à actual frente de
recursos; investir em intelligence, e em ameaças à segurança de pessoas e de bens.
diplomacia económica e de recursos nas
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Os desafios do futuro
António Rebelo de Sousa
Se nos basearmos na equação da Balança Para que tal pudesse vir a acontecer seria
de Pagamentos de Feldstein‐Horioka, indispensável que as taxas de juro
teremos: aumentassem substancialmente,
ultrapassando, nomeadamente, as
BP = NX (Yd , Y f , R ) + BC (i d − i f − Δ e e ) praticadas na Europa.
, em que NX nos dá as exportações
Ora, uma evolução deste tipo não se
liquidas, Yd o rendimento doméstico, Yf o
apresenta possível, na presente
rendimento do resto do mundo, R a taxa
conjuntura.
de câmbio, enquanto BC nos dá o saldo
consolidado das balanças de capitais, id a Estando a economia americana numa fase
taxa de juro doméstica, if a taxa de juro do recessionista (ou, se se preferir, para‐
resto do mundo e ∆e/e as expectativas de recessionista), não faz sentido aumentar as
variação da taxa de câmbio em relação à taxas de juro domésticas, uma vez que tal
moeda da economia considerada. teria implicações no nível de investimento,
inviabilizando a “inversão” do “ciclo da
Se NX<0, BC pode apresentar‐se >0 e
crise”.
superior, em termos absolutos, a NX, mais
do que compensando o défice da Balança Logo, a resolução do problema do
Comercial. desequilíbrio externo dificilmente poderá
estar no afluxo de capitais externos,
Tal poderá acontecer se o “spread” entre a
tornando‐se indispensável pensar numa
taxa de juro doméstica e a taxa de juro do
abordagem diferente desta problemática.
exterior (ou dos principais parceiros) se
apresentar elevado (com id> if), ainda que E a abordagem diferente terá,
tendo em conta ∆e/e (i.e., as expectativas necessariamente, que passar pelo aumento
de eventual depreciação da moeda). das exportações ou, em alternativa, pela
aceitação da inevitabilidade de um
Ora, na década de 80, a Administração
agravamento do desequilíbrio externo
Reaganiana adoptou, deliberadamente,
(sem que, simultaneamente, possa
uma política de elevadas taxas de juro, a
constatar‐se uma forte redução do défice
qual permitiu que o afluxo de euro‐dólares
orçamental), nos tempos mais próximos.
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Os desafios de Obama na política comercial
Thiago Lima
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difícil debate político, mas que sinaliza, de desempenho comercial de uma economia
início, uma menor disposição em abrir o cada vez mais integrada à internacional – e
mercado interno à competição política – pois deve ser capaz de angariar
internacional. apoio para uma política comercial atuante
e ao mesmo tempo evitar um
No plano externo, entende‐se que algumas descontentamento profundo com a
práticas de outros países criam vantagens inserção internacional a ponto de reverter
injustas em detrimento dos Estados a tendência liberalizante desde o pós‐II
Unidos. A principal crítica seria ao mercado Guerra. Fundar um novo consenso
de trabalho nos países parceiros que doméstico nessas bases será algo de
pagam salários considerados muito baixos bastante dificuldade, pois é uma das linhas
e que não fornecem ou não possibilitam de fratura entre Republicanos e
condições de dignidade para os Democratas há mais de 15 anos.
trabalhadores. Isso baixaria os custos de
mão‐de‐obra nesses países, resultando em O posicionamento sobre o NAFTA é
desemprego nos Estados Unidos. O bastante ilustrativo. Enquanto McCain se
combate a essas práticas é proposto em apresentava como um defensor do acordo,
duas frentes. Na externa, promovendo Obama o critica veementemente,
acordos que modifiquem as regras basicamente pelos motivos aludidos acima,
trabalhistas na direção apontada pelos denotando claramente as rachaduras entre
norte‐americanos e, na doméstica, Republicanos e Democratas. Como
modificando leis para que as empresas que presidente‐eleito, Obama afirma a
pratiquem outsourcing tenham efeitos necessidade de reformar o acordo, o que
colaterais em termos de impostos. significa reabrir a agenda política
Paralelamente, empresas que privilegiem doméstica e internacional. Como o NAFTA
empregos nos Estados Unidos deverão é um acordo paradigmático, o resultado de
contar com incentivos fiscais. Uma outra sua renegociação pode definir as iniciativas
condição que torna a competição injusta que serão tomadas para os outros acordos
contra os Estados Unidos, segundo os bilaterais e regionais. O CAFTA seria um
Democratas, são as regras de proteção ao próximo alvo, pois é abertamente
meio ambiente. Estas seriam menos rígidas contestado pelos Democratas em termos
em outros países, permitindo que de regras trabalhistas e ambientais.
empresas operem com menores custos no
exterior e exportem aos Estados Unidos. Sobre propriedade intelectual, Obama
Com relação ao tema, é preciso destacar argumenta que deve haver flexibilização
que os grupos que o defendem não o das regras de propriedade intelectual em
fazem, aparentemente, a partir de uma casos de saúde pública nos acordos
posição protecionista, e buscam sim atrelar comerciais promovidos pelos Estados
medidas de proteção aos acordos Unidos, algo que vai na contra‐mão dos
comerciais, ou seja, pode haver apoio à esforços norte‐americanos da década de
liberalização, desde que acompanhada de 1990 e dos anos 2000 de enrijecer a
regras ambientais mais justas. proteção às patentes farmacêuticas. A
modificação do acordo com o Peru nesse
Em suma, combater o chamado unfair sentido foi um dos motivos que atraiu o
trade é visto como uma necessidade apoio de Obama à ratificação desse
econômica – pois tem a ver com o acordo. Se adotado como diretriz para a
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Especial Barack Obama
política comercial, a flexibilização dos debate político em torno da aceitação de
direitos de propriedade intelectual pode concessões e de realização de demandas.
ser bem visto pelos países em
desenvolvimento, embora seja mais um Essas propostas e desafios formariam um
ponto de atrito com os Republicanos. cenário de reconhecimento de que os
Estados Unidos perderam competitividade
O posicionamento de Obama na área ou de que não são mais capazes de liderar
agrícola é outro sinal que aponta nessa o movimento de liberalização no sistema
direção. Ele é defensor do protecionismo multilateral de comércio? Uma resposta
em termos de subsídios agrícolas, tendo afirmativa parece ser exagero, mas o
votado a favor da Farm Bill de 2008. Com questionamento à competitividade norte‐
um dos principais nós que amarram e americana vindo do próprio presidente‐
impedem o avanço da Rodada Doha que é eleito é algo um tanto quanto inusitado.
justamente a liberalização agrícola, pode‐ Tradicionalmente o discurso dos altos
se esperar que será baixa a capacidade de políticos tem sido que, leveling the playing
Obama retomar a liderança nas field, os norte‐americanos podem competir
negociações comerciais multilaterais. com todos e vencer muitos. Além disso, a
Sobre o etanol, especificamente, Obama se existência de uma fratura política
mostra favorável à eliminação de barreiras doméstica significaria que a força política
ao comércio do produto, mas somente necessária para movimentar a política
quando a produção nos Estados Unidos for comercial foi exaurida? Esboçar uma
competitiva. Até lá, sobretaxas e subsídios resposta é prematuro, até por que esse é o
devem vigorar. principal desafio que Obama encontrará no
campo da política de comércio
Uma outra modificação que se pode internacional. Mas é interessante pensar
vislumbrar na política comercial e que até que ponto o Democrata poderia ceder
acarreta a maneira como o tema será sem alienar suas bases em uma sociedade
tratado politicamente no Congresso é a polarizada. De todo modo, superar a
utilização dos acordos comerciais como fratura e recuperar o bipartidarismo é
instrumento de política externa e de fundamental para o Estado voltar a ser
segurança dos Estados Unidos na América plenamente ativo na política comercial,
Latina e no Oriente Médio. Na prática, isso condição necessária para o avanço da
é mais um indício de retração do Rodada Doha e tentar recuperar a
engajamento internacional em termos de liderança dos Estados Unidos no sistema
acordos comerciais, pois tradicionalmente multilateral de comércio.
os argumentos de segurança e de política
externa são componentes importantes no
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Especial Barack Obama
Se não foram feitas ontem, as mudanças não ocorrerão amanhã ou os limites
do governo Obama
Corival Alves do Carmo
Milton Friedman intitulou o livro onde “Tem sido com freqüência notado que a
analisou os primeiros anos do governo estrutura do governo nos Estados Unidos
Ronald Reagan de “Tirania do Status Quo”. torna muito difícil introduzir mudanças,
E duas teses que permeiam o livro servem exceto em ocasiões de grandes crises. A
de ponto de partida para analisar as Grande Depressão, culminando no feriado
possibilidades do governo Barack Obama. bancário de março de 1933, foi uma dessas
crises. Em tempos de guerra, são possíveis
A primeira diz respeito ao tempo para iniciativas governamentais semelhantes.
mudança: Em circunstâncias ordinárias, porém, a
“um novo governo dispõe de seis a nove complexa divisão de poder introduzida em
meses a fim de introduzir grandes nossa Constituição pelos seus elaboradores
mudanças. Se não aproveitar a – a divisão entre os governos federal e
oportunidade e agir decisivamente nesse estadual, o equilíbrio entre o legislativo, o
período, não terá outra igual. As mudanças executivo, e o judiciário, e entre as duas
adicionais virão apenas lentamente, ou não casas do Congresso – tudo isto torna difícil
virão em absoluto, e contra‐ataques serão e demorado o processo de introdução de
desfechados contra as mudanças iniciais. grandes mudanças.” (FRIEDMAN;
As forças políticas temporariamente FRIEDMAN, 1983, pp.16‐17).
derrotadas reagrupam suas hostes e Ou seja, uma nova administração se quiser
tendem a mobilizar todos os que foram implementar um pacote de mudanças deve
prejudicados pelas mudanças, enquanto os assumir o governo sabendo o que irá fazer,
proponentes destas tendem a relaxar deve introduzir o pacote imediatamente e
depois das primeiras vitórias.” (FRIEDMAN; ainda assim as novidades só tendem a ser
FRIEDMAN, 1983, pp.11‐12). facilmente assimiladas em situações de
E acrescenta: crise.
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now”. As crises dos anos 90 no México, na pela generalização do rentismo que leva ao
Tailândia, Indonésia, Coréia do Sul, ou crescente descolamento da esfera
Brasil fizeram‐nos crer que as transmissões financeira e a esfera real. As crises são os
ocorriam entre os diferentes mercados momentos em que a economia se
emergentes, porque guardavam as reestrutura em função dos fundamentos.
mesmas vulnerabilidades, e não adotavam
as políticas adequadas, e por isso, eram Segundo o McKinsey Global Institute
penalizados pelos mercados. (2008), os ativos financeiros globais
atingiram em 2006 a impressionante cifra
A crise norte‐americana e sua difusão de 167 trilhões de dólares considerando
mostram que a instabilidade é estrutural, depósitos bancários, dívidas
própria de uma economia centrada nos governamentais e privadas e ações. Já o
mercados financeiros. Em artigo publicado montante dos derivativos globais em 2006
em 28 de novembro no “The New York foi estimado em 477 trilhões de dólares.
Times”, o economista novo Keynesiano, Em 2006, o PIB mundial nominal foi de 48,3
Gregory Mankiw, que foi conselheiro de trilhões de dólares. Apenas o volume de
George Bush e do pré‐candidato Mitt ativos financeiros (depósitos bancários,
Romney, lembrou duas frases clássicas de dívidas governamentais e privadas, ações)
Keynes, a primeira que no longo prazo nos EUA, 56,1 trilhões de dólares também
todos estaremos mortos, e a segunda que em 2006, já supera o PIB mundial.
os homens, em geral são escravos de
algum economista morto. E conclui “In Outra vulnerabilidade que o Presidente
2008, no defunct economist is more Barack Obama terá que enfrentar é o setor
prominent than Keynes himself.” O externo da economia. Uma das grandes
objetivo de Mankiw é alertar para a ironias da história é que em Bretton Woods
importância do longo prazo ao invés de os EUA rejeitaram a proposta de Keynes de
políticas de curto prazo para sair da crise e uma moeda internacional para as
para o risco das soluções para crise ficarem transações interestatais e uma política para
restritas ao universo da análise keynesiana impedir que um Estado tivesse superávits
elaborada para a crise dos ano 1930. Mas permanentes a custas dos outros. A
as similaridades são de tal forma notáveis superioridade econômica dos EUA na
que se torna difícil ignorar Keynes, época fez com que a proposta de Keynes
inclusive por faltar uma teoria alternativa fosse rejeitada em prol da versão de Harry
que explique a crise e proponha uma Dexter White, que garantia o dólar como o
política econômica para a recuperação sem padrão monetário do sistema e o FMI
colocar em xeque os cânones do como a instituição responsável por
capitalismo liberal. Por isso, neste gerenciar os desajustes de curto prazo do
momento em que o ciclo financeiro coloca balanço de pagamentos e da taxa de
em risco toda a economia mundial é câmbio. Hoje, certamente, dado o
preciso lembrar outro dístico keynesiano persistente déficit em transações correntes
que pautou as reformas que levam aos e os superávits de China e Japão, os EUA
trinta anos gloriosos do capitalismo, seriam os principais beneficiários de um
Keynes dizia ser preciso fazer a eutanásia sistema mais amplo de cooperação nas
do rentista. As fontes de instabilidade nas relações econômicas internacionais. Na
economias capitalistas foram ampliadas ausência de cooperação, a saída para os
EUA foi o crescente endividamento e a
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Especial Barack Obama
necessidade de um fluxo estável de importações por parte dos EUA,
recursos para o país que muitas vezes é conseqüentemente afetará o superávit da
sustentando através da difusão de China e do Japão. Aizenman e Jinjarak
instabilidades financeiras no resto do (2008, p. 6) estimam que uma redução de
mundo. 0,5% no déficit em transações correntes
dos EUA gera uma redução de 1,3% no
O World Economic Outlook divulgado pelo superávit em transações correntes da
FMI em outubro de 2008 aponta que a China, o que mostra o potencial dos EUA
diferença de crescimento entre os EUA e de difundirem a crise para a economia real
seus principais parceiros comerciais e a de economias até agora altamente
desvalorização do dólar desde 2002 dinâmicas e explica também as razões
reduziu o déficit em conta corrente de pelas quais os efeitos sobre a economia
6.5% do PIB em 2005 para 5% do PIB na chinesa foram imediatos fazendo com que
primeira metade de 2008. Entretanto este a China reduzisse os juros e apresentasse
ajustamento ocorreu contra as demais um novo pacote de investimentos para
economias desenvolvidas, que no caso da recuperar a economia. Sempre cabe
União Européia, gerou a valorização do lembrar que a China não é uma economia
euro e um impacto negativo do setor “financeirizada”, portanto é bastante
externo. No caso do Japão, o iene se significativo que a crise americana já tenha
valorizou frente ao dólar, mas segundo o repercussões na economia real chinesa.
FMI, o iene continua desvalorizado em Por fim, hoje a China rivaliza com o Japão
relação aos fundamentos econômicos. A como principal credor externo dos EUA, em
China, com o yuan ainda muito setembro de 2007, a China detinha 467,7
desvalorizado, com uma intensa entrada bilhões de dólares de títulos do tesouro
de capitais, vem mantendo um superávit americano e o Japão, 591,9 bilhões de
em conta corrente de 10% do PIB (FMI, dólares. Já em setembro de 2008, a China
2008, p.5). detém 585,0 bilhões de dólares e o Japão
Diante dos desequilíbrios dos EUA no 573,2 bilhões. O terceiro lugar é ocupado
balanço de pagamentos e os déficits atualmente pela Grã‐Bretanha. A título de
orçamentários, Aizenman e Jinjarak (2008) curiosidade, o Brasil ocupa a quarta
chamam apropriadamente os EUA de posição.
“demander of last resort”. Ou seja, os EUA Por outro lado, a crise na economia
se colocaram numa posição de grandes americana deveria produzir uma aversão
demandantes de recursos internacionais. ao dólar. Diante dos desequilíbrios da
Em geral associamos o endividamento economia americana, os investidores
externo aos países pobres, às economias internacionais deveriam desconfiar da
em desenvolvimento. Mas hoje os EUA são conveniência de usar a moeda americana
o grande demandante. E as políticas para como reserva de valor. Entretanto, o que
enfrentar a crise iniciada pelo subprime vão está ocorrendo é o oposto. O dólar está se
fazer com que os EUA dependam ainda valorizando, porque diante da crise, a
mais de recursos externos. E considerando demanda por dólares aumentou, os fluxos
apenas os governos, estes recursos estão de capitais para os EUA aumentaram. O
em países como China e Japão que dinheiro acorre aos EUA em busca de
acumulam superávits há vários anos. Mas a proteção. Diante da centralidade dos EUA
crise irá reduzir a demanda por
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no mundo, o diagnóstico do capital é que multilateral, entretanto, como já
os EUA estão fragilizados, se são o mencionado, sempre que houvesse
epicentro da crise econômica mundial, são divergências prevaleceria a posição dos
também o Estado que detém o poder para EUA dada a preeminência da economia
enfrentar a crise. Na crise econômica americana sobre a economia mundial no
busca‐se a proteção de quem detém o período. Naquelas condições, os EUA
poder político, em escala mundial, o centro poderiam ter optado por uma saída
do poder está nos EUA. O resultado é que claramente unilateral. Não optaram. Agora
este movimento fragiliza economias que de no auge da crise pareceu haver uma
outro modo não seriam afetadas pela crise. convergência sobre o fórum adequado, o
E isso coloca a questão do controle de G‐20. Mas da reunião do G‐20 ocorrida em
capitais. Qualquer discussão sobre a São Paulo nos dias 8 e 9 de novembro de
cooperação internacional para estabilizar a 2008 não saiu nenhuma proposta concreta
economia mundial e retomar o efetiva para a crise. Produziu‐se apenas
crescimento deve partir de uma discussão uma carta de intenções suficientemente
sobre controles de capital para que seja genérica, abstrata para não evidenciar as
possível prevenir crises e controlar a divergências no interior do grupo e ao
financeirização da riqueza em escala mesmo tempo dar uma legitimidade
mundial que amplifica os movimentos internacional às medidas que cada governo
especulativos de capitais. já tomou unilateralmente. Admitir, por
exemplo, a importância das instituições de
Mas além de difundir a crise, este Bretton Woods nesse momento de crise
movimento de capitais rumo aos EUA não agrega nada à solução do problema e é
também demonstra que é de lá que os preciso discutir exatamente o papel delas,
capitalistas esperam a solução dos definir as regras no relacionamento
problemas da economia mundial. Temos financeiro entre os Estados, etc. Portanto,
hoje um cenário no qual a economia de importante a reunião do G‐20 apenas
dominante está fragilizada, e já não é mais reafirmou o princípio liberal não apenas
possível aos EUA simplesmente impor a em relação ao comércio, conclamando a
sua vontade ao mundo, precisam negociar, retomada da Rodada Doha, quanto
adotar uma estratégia multilateral (NYE, também na esfera financeira, que é
2002). Evidente que os EUA continuam exatamente o que está em xeque.
podendo tomar medidas unilaterais como
foi constatado durante o governo George Uma reforma do sistema financeiro
W. Bush e mesmo pode buscar fazer uma internacional além de reformar o Banco
reafirmação do poder monetário e Mundial e o FMI, deve também tratar do
financeiro dos EUA como em 1979 com fluxo internacional de capitais privados de
Paul Volcker (TAVARES, 1997). Entretanto, curto prazo, e principalmente das relações
uma estratégia unilateral seria apenas uma entre as moedas das principais economias
solução de curto prazo até que as do mundo: dólar, euro, iene e yuan.
contradições e a fragilidade do sistema Nenhuma proposta de reforma do sistema
voltassem a se manifestar. financeiro internacional será digna deste
nome se não houver uma solução para as
Em 1944, a Conferência de Bretton Woods taxas de câmbio entre estas moedas. E
visava organizar a ordem econômica do tecnicamente a questão envolveria definir
pós‐guerra. Foi uma conferência
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uma taxa de câmbio que permitisse aos de mudanças e reorganização do sistema
EUA diminuir o déficit comercial e uma financeiro internacional. As propostas
redução substancial dos superávits da tendem a reproduzir a ideologia econômica
China e do Japão. A questão é saber qual e a distribuição de poder que marcam
Estado estaria disposto a aceitar perdas em estas instituições desde o início. O poder
favor de uma redefinição da ordem destas instituições depende em grande
financeira internacional. Na atual medida da conservação da distribuição de
(des)ordem, para usar uma fórmula poder entre os EUA e a Europa Ocidental,
bastante popular nos anos 90, os EUA portanto são refratárias ao aumento da
conseguem manter a centralidade do dólar participação de outros países e mesmo de
e o arbítrio na definição da política em uma modificação efetiva nas suas
relação ao dólar internacionalmente, atribuições. Se tornaram instituições
enquanto os seus parceiros se beneficiam anacrônicas. Portanto, uma proposta de
acumulando superávits comerciais. Apenas mudança envolve uma vitória das ONGs
a crise seria capaz de forçar que todos que postulam “50 years is enough”, ou no
estes governos sentem à mesa de mínimo a criação de uma terceira
negociação. Entretanto, nada garante que instituição para regular este novo cenário.
a crise seja capaz de forjar um consenso A discussão sobre o fórum adequado para
capaz de desalojar o status quo. as discussões sobre a crise, que levou à
reunião do G‐20, expressa esta fragilidade
Regra geral, as organizações internacionais das organizações de Bretton Woods para
preservam o status quo do momento em atuar no contexto do aprofundamento da
que elas são criadas, refletem a integração capitalista ocorrido após o fim
distribuição de poder naquele instante. da Guerra Fria.
Talvez a única grande exceção entre as
organizações internacionais que importam Contidas no interior da Guerra Fria e nos
seja a União Européia. Isso ocorre em marcos das instituições de Bretton Woods,
grande medida, porque a União Européia as economias capitalistas passaram por
se tornou efetivamente uma instância para intenso e profundo processo de integração
abordar os problemas europeus, a que supera algumas das contradições do
burocracia da União Européia tende a conflito interimperialista. Os Estados
buscar soluções coletivas que reforcem o passam a se preocupar mais com a defesa
processo de integração e a adesão dos do capital em geral do que com o capital
Estados ao processo de integração. Não é o nacional. Na medida em que esta nova
que ocorre nas organizações de Bretton economia mundial se expande, os marcos
Woods, tanto o FMI quanto o Banco regulatórios vão sendo superados, porque
Mundial continuam refletindo a divisão de o espaço de atuação do capital é cada vez
poder existente em 1944. Talvez hoje de mais o mercado mundial. Esta tendência se
forma ainda mais pronunciada, porque aprofunda com o primeiro ciclo de
agora de fato a Europa tem poder e liberalização nos anos 1970, e com os ciclos
capacidade de interferir no processo subseqüentes nos anos 1980 e 1990. Com
decisório. Esta divisão das organizações de o fim da Guerra Fria, este processo de
Bretton Woods entre os EUA e a Europa integração se torna mais intenso e visível
Ocidental impede que a partir do FMI e do na forma da globalização financeira. Este
Banco Mundial surjam efetivas propostas novo estágio da integração capitalista
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Summers faz parte da Comissão Trilateral, havia avançado pouco na agenda de
ou seja, entende a necessidade de uma reformas, e que teria agora que esperar
maior integração e cooperação entre os conseguir ser eleito para um segundo
países da Tríade sustentada pela ação mandato para aprofundar as reformas
privada, seja por empresas ou por liberais. O que os EUA e o mundo esperam
intelectuais. Portanto, dificilmente é que após a posse, Obama continue sendo
veremos propostas de saída para crise que sinônimo de esperança. Portanto, se o
não signifiquem a reafirmação dos projeto econômico de Obama ainda está
mercados mundiais e do capital sobre as em disputa, o que se decide é o significado
economias nacionais. Mas a opção seria da esperança.
pelo multilateralismo, dentro da estratégia
identificada por Nye como a adequada
para os EUA, “transformar o nosso atual Referências bibliográficas
poder predominante num consenso
internacional e os nossos princípios em AGLIETTA, Michel. Lidando com o risco
normas internacionais amplamente sistêmico. Economia e Sociedade,
aceitas.” (NYE, 2004, p.270). Por outro Campinas, 11, dez. 1998.
lado, a presença de Paul Volcker como
AIZENMAN, Joshua; JINJARAK, Yothin. The
presidente do Conselho Assessor para a
US as the “demander of last resort” and its
Recuperação Econômica expressa a
implications on China’s current account.
ausência de coerência na formação da
NBER Working Paper, n. 14453, october
equipe econômica e provavelmente a
2008. Disponível em:
inexistência de um programa econômico
http://www.nber.org/papers/w14453,
definido.
acesso em 30/11/2008.
E se no plano interno ainda não se formou
COUTINHO, Luciano e BELLUZZO, Luiz
o programa econômico de Obama, menos
Gonzaga de Mello. Desenvolvimento e
ainda na agenda internacional. A primeira
estabilização sob finanças globalizadas.
questão a ser considerada é em que
Economia e Sociedade, Campinas, n.7,
medida o governo Obama chamará para os
dezembro 1996.
EUA a responsabilidade pela reforma do
sistema financeiro internacional. O foco CRUZ, Sebastião C. Velasco e. Globalização,
nos problemas internos pode deixar em democracia e ordem internacional: ensaios
segundo plano as questões internacionais e de teoria e história. Campinas/São Paulo,
a crise acabar sendo “superada” sem que Unicamp/Unesp, 2004.
as causas estruturais da crise no plano
internacional tenham sido atacadas. Enfim, DeLONG, J. Bradford e SUMMERS,
no governo Obama, a grande esperança de Laurence H. The ‘New Economy’:
mudança vem da crise, dos movimentos background, historical perspective,
que ela provoca, porque o projeto questions, and speculations. Economic
econômico de Barack Obama ainda está Review, Fourth Quarter 2001, pp.29‐59.
em disputa. Disponível em: http://www.j‐bradford‐
delong.net/Econ Articles/summersjh2001.
Como já mencionado, escrevendo quase pdf acesso em 30/11/2008.
dois anos após o início do governo Reagan,
Friedman considerava que o Presidente
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Especial Barack Obama
DIONNE Jr, E. J. Obama’s brain trust. ness/economy/30view.html? r=1, acesso
Washington Post, November 25, 2008, em 30/11/08.
Page A15. Disponível em:
http://www.washingtonpost.com/wp‐ MAYER, Chris; PENCE, Karen. Subprime
dyn/content/article/2008/11/24/AR20081 mortgages: what, where, and to whom?
12402116.html. Acesso em: 25/11/2008. Finance and Economics Discussion Series,
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FMI. World Economic Outlook. Financial 2008. Disponível em:
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produce the basis for another Minsky do mundo não pode seguir isolada. São
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http://www.nytimes.com/2008/11/30/busi Acesso em 30/11/2008.
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Especial Barack Obama
Os Estados Unidos de Obama: a continuidade do problema energético
José Alexandre Altahyde Hage.
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automobilísticas para que diminuíssem a 2. O país também é muito importante na
produção de carros especiais, altamente produção de álcool combustível junto com
consumidores de gasolina. Vale dizer, o Brasil. A diferença é que o etanol norte‐
contrariar condutas sociais e econômicas americano é feito de milho, cereal que
que foram privilegiadas e incentivadas há serve como elemento básico para a
mais de dez anos para que refletissem um indústria alimentar. Em todo o ano de 2008
novo estilo de vida baseado no instantâneo houve forte embate entre os defensores do
e no desperdício. Talvez essa tarefa possa etanol contra organizações internacionais,
ser feita em virtude da crise financeira ambientais e não‐governamentais, cujo
mundial que tem seu epicentro nos mote era a condenação do álcool
Estados Unidos, situação que o governo combustível por este ter provocado a alta
Obama não pode ser negligente. A própria do custo da alimentação, situação que
OPEP já declara que terá de diminuir a pegou também o Brasil que não tem etanol
produção de óleo para 2009 por causa da de milho. Aquilo foi raciocínio automático
crise e a queda de consumo que ela que fez o Brasil sofrer crítica para qual não
provoca, fato que pode ser conveniente deveria passá‐lo. Mas isso já seria outra
para o governo democrata. questão. Por serem fortes no investimento
em ciência e pesquisa, os Estados Unidos
Analisando de modo muito breve alguns ainda procuram maximizar ganhos na
itens energéticos dos Estados Unidos pode exploração da biomassa, caminhando no
ser congruente para compreender o futuro “estado da arte” na área de insumos que
próximo do país em uma área tão especial podem ser relevantes para o futuro, como
e, ao mesmo tempo, preocupante para a madeira.
Presidência Obama:
3. Os Estados Unidos, na ânsia de manter,
1. Os Estados Unidos ainda são integrantes segurança energética e diminuir o grau de
dos três ou quatro maiores produtores de dependência aos recursos importados
petróleo do mundo com números acima de também investem maciçamente na
oito milhões de barris ao dia. Contudo, compreensão sobre o hidrogênio, insumo
suas reservas estão minguando e isso pode que promete muito para o futuro por ser
fazer com que o novo governo venha abundante e altamente rentável
pensar na exploração de áreas pouco energeticamente. Mas a questão é que o
convenientes para o meio ambiente, o hidrogênio ainda é bastante complexo em
Alaska, por exemplo. Se não houver sua confecção para o uso atual, sem deixar
políticas e autoridade suficientes para fazer de recordar que seus custos são muito
com que a sociedade estadunidense altere altos na extração, por exemplo, para se
seu modo de vida certamente a Casa adquirir uma unidade energética de
Branca vai ter de enfrentar o dilema de hidrogênio se gasta quatro. A relação com
explorar o Alaska, além do limite, bem o petróleo é de uma unidade de energia
como agravar seu relacionamento com o para oito ou de uma para quatro, na pior
Canadá pelo fato deste último possuir das hipóteses. Em todo o caso o hidrogênio
grandes reservas de combustíveis pesados não deixa de ser uma espécie de poupança
em abundância, mas altamente negativos em fase de maturação, podendo ser
para o controle dos gases tóxicos, CO2. promissor quando for compensável
economicamente.
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Os desafios da Rodada Doha e a posição dos Estados Unidos
Haroldo Ramanzini Júnior
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PDs, não só no campo comercial, mas agrícola, principalmente os produtores de
também no âmbito da segurança algodão, soja, milho, algodão e arroz.
internacional, muitas vezes os interesses Parece que a possibilidade das discussões,
particulares operacionalizam‐se de forma a na OMC, gerarem uma mudança na Farm
debilitar o multilateralismo. Sabe‐se que Bill é limitada, por se tratar, entre outros
determinadas políticas domésticas e/ou motivos, de um mecanismo onde a
comunitárias dos PDs constrangem os participação do Executivo no seu processo
acordos e as negociações multilaterais na de formulação é pouco efetiva. Em maio de
OMC. No curto prazo, nas negociações 2008, o Congresso norte‐americano
comerciais, embora não haja qualquer derrubou o veto presidencial à nova Farm
certeza sobre esse caminho, a tendência Bill e confirmou o montante de US$ 290
parece ser de aprofundamento nos bilhões para o setor agrícola até 2012.
parâmetros desse diagnóstico. Além disso, a nova lei agrícola norte‐
americana não elimina os subsídios e
A posição dos EUA parece não ser no programas condenados pelo MSC no
sentido de concluir a rodada ainda neste contencioso do algodão.
ano. Ou melhor, não parece haver as
flexibilidades necessárias que poderiam As declarações do Presidente eleito Barack
contribuir para que a rodada pudesse ser Obama em relação ao tema dos subsídios
concluída em 2008. Os líderes democratas, agrícolas parecem não se alinhar com as
nas duas Casas do Congresso norte‐ visões dos parceiros comerciais dos
americano, enviaram carta ao presidente EUA158. No Senado, Obama votou
George Walker Bush, para dizer que o favoravelmente à nova Lei Agrícola
pacote que está sobre a mesa, na OMC, estadunidense (Farm Bill). O novo chefe do
não agrada ao partido que governará os executivo norte‐americano parece
EUA a partir de 20 de janeiro de 2009156. favorável à necessidade de proteção dos
Cabe frisar que os EUA estão envolvidos interesses dos agricultores norte‐
nos três principais temas que são os americanos no contexto do comércio
entraves para a retomada das negociações: internacional159, bem como a uma maior
acordos setoriais, salvaguarda especial atuação do Congresso, potencialmente
para países em desenvolvimento mais suscetível aos grupos de interesse, na
restringirem importação de produtos definição dos temas de política comercial.
agrícolas (SSM) e eliminação dos subsídios Embora ainda não haja confirmação oficial,
para o algodão157. Neste último caso, a imprensa tem divulgado a possibilidade
mesmo tendo sido considerado pelo de Obama nomear o deputado pela
Mecanismo de Solução de Controvérsias Califórnia, Xavier Becerra, para substituir
(MSC) inconsistente com os compromissos Susan Schwab, no cargo de secretário
assumidos pelos EUA, na OMC, os norte‐ especial de Comércio Exterior. Becerra tem
americanos continuam subsidiando o setor dezesseis anos de experiência no
Congresso e é identificado com posições
protecionistas: votou contra os tratados de
156
“Em meio a impasse, Doha deve ficar
paralisada por tempo incerto”. Folha de S.
158
Paulo, 09/12/2008. “Em foco: posições comercias do novo
157
Moreira, Assis. “Posição dos EUA atrasa presidente eleito dos EUA, Barack Obama”.
reunião ministerial”. Valor Econômico, Pontes, vol, 3, n?20, 2008.
159
09/12/2008. Idem.
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Especial Barack Obama
160
Obama põe articulador político no
Comércio. Folha de S.Paulo, 04/12/08.
Página | 150
Especial Barack Obama
Os desafios da reforma da ONU
Terra Budini
O presente artigo pretende explorar os conceito de construção da paz
desafios do futuro governo de Barack (peacebuilding)161, voltado para a
Obama com relação à reforma das Nações reestruturação das sociedades que
Unidas. Para tanto, será baseado nas passaram por conflitos.
declarações feitas pelo então candidato e
atual Presidente eleito sobre o assunto e Era inegável a necessidade de adaptação
na escolha de sua equipe na área de das Nações Unidas para os novos desafios
segurança nacional e política externa. do pós Guerra Fria, mas este projeto de paz
Antes, porém, mostra‐se importante claramente incluía um elemento não
retomar brevemente o histórico deste presente na concepção tradicional: a
processo de reforma. transformação econômica e social dos
países em questão, os Estados falidos.
Terminada a Guerra Fria, a década de 1990 Nesta visão, está embutida a idéia de que a
se inicia com otimismo e com a crença de falência das instituições está na raiz dos
que finalmente as instituições conflitos, portanto a reestruturação
internacionais ‐ principalmente a econômica, social, política, institucional,
Organização das Nações Unidas e seu jurídica destas nações faz parte do
Conselho de Segurança ‐, poderiam processo de paz. Na prática, tornou‐se a
funcionar, após décadas de paralisia no imposição de um modelo determinado de
período da bipolaridade. Contudo, regime político e de um sistema de
fracassos de missões de paz, como na governo. O Conselho de Segurança, nos
Somália e na Bósnia; a própria oito anos de Governo Clinton, aprovou 26
fragmentação dos Bálcãs; a emergência de missões de paz162.
rivalidades étnicas ‐ que levaram a guerras
intra‐estatais com desastres humanitários Os esforços de reforma se intensificaram
de grandes proporções, como o genocídio na gestão do Secretário Geral Kofi Annan.
em Ruanda ‐, colocaram questionamentos O pacote de 1997 (“Renovando as Nações
com relação ao papel e à efetividade das Unidas: um programa para reforma”),
missões e das organizações internacionais incluiu uma série de mudanças na
e contribuíram, portanto, com a discussão estrutura da Secretaria Geral, como a
sobre uma reforma na Organização. criação de um departamento de assuntos
econômicos e sociais – resultante da fusão
Foi neste contexto que o então Secretario de três departamentos existentes – e a
Geral da ONU Boutros Boutros‐Ghali
apresentou o relatório “uma Agenda para a
Paz”, uma iniciativa de reforma que 161
UNITED Nations. Relatório do Secretário
procurava reforçar instrumentos como a Geral: “An Agenda for Peace” (17 de junho
diplomacia preventiva e as operações de de 1992. A/47/277 S/24111). Disponível em
http://www.un.org/docs/SG/agpeace.html
paz (peacekeeping e peacemaking) e 162
UNITED Nations Peacekeeping. List of
adicionava ao vocabulário das missões o Operations.
http://www.un.org/Depts/dpko/list/list.pdf
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Especial Barack Obama
criação do posto de Vice‐Secretário Geral, direitos humanos são os três pilares de
além de mudanças no departamento de uma liberdade mais ampla165.
informação pública163.
O último ponto do projeto de Kofi Annan é
Os anos 2000 assistiram a um sobre a reforma propriamente dita.
aprofundamento da crise da instituição, Algumas das sugestões já foram
principalmente após os ataques terroristas implementadas, como a criação da
de 11 de setembro aos Estados Unidos164. A Comissão para a Construção da Paz e do
administração do Presidente George W. Conselho de Direitos Humanos, que
Bush, sob forte influência de grupos neo‐ substituiu o Alto Comissariado. Contudo,
conservadores, teve o pretexto necessário nas palavras do próprio Annan, “(...)
para endurecer sua política externa, adotar nenhuma reforma da ONU estaria
medidas unilaterais e ignorar regimes e completa sem a reforma do Conselho de
organizações internacionais. Segurança”166.
Já neste contexto de enfraquecimento da A atual estrutura do Conselho de
ONU, em 2005, o então Secretário Geral Segurança apresenta quinze membros: os
Kofi Annan apresentou o projeto “Dentro cinco permanentes com poder de veto
de uma liberdade mais ampla”, fruto dos (Estados Unidos, Rússia, China, Inglaterra e
relatórios do Grupo de Alto Nível sobre França) e dez membros rotativos, eleitos
Ameaças, Desafios e Mudança e outro, de para um período de dois anos, sem direito
250 especialistas que participaram do a reeleição. O relatório apresenta dois
projeto do Milênio da ONU. modelos de reforma. O primeiro (modelo
A) propõe a criação de seis novos assentos
“Dentro de uma liberdade mais ampla” permanentes, mas sem direito a veto (de
propõe um conceito mais abrangente de acordo com distribuição regional: dois para
paz, considerando como ameaças à África, dois para Ásia, um para Europa e
segurança não apenas os conflitos outros e um para América Latina e Caribe)
clássicos, mas também a pobreza, a e três assentos não permanentes, com
destruição do meio ambiente, as doenças mandato de dois anos, não renováveis. O
contagiosas, o terrorismo e o crime segundo modelo (B) propõe a criação de
organizado. Segurança, desenvolvimento e oito assentos não permanentes, com
mandato de quatro anos e com direito a
reeleição, e um assento não permanente
163
UNITED Nations. Relatório do Secretário
Geral: “Renewing the United Nations: A
Programme for Reform” (14 de julho de
1997. A/51/950)
165
http://daccessdds.un.org/doc/UNDOC/GEN UNITED Nations. Relatório do Secretário
/N97/189/79/IMG/N9718979.pdf?OpenEle Geral: “In larger freedom: towards
ment development, security and human rights for
164
Vale ressaltar que a ONU já caminhava para all” (21 de março de 2005. A/59/2005).
uma relativa perda de espaço antes mesmo http://www.un.org/largerfreedom/contents
do Governo de George W. Bush. Um dos .htm
maiores exemplos foi o bombardeio da Ex
166
República da Iugoslávia pelas forças da ANNAN, Kofi. Dentro de uma Liberdade
OTAN em 1999, ainda sob o governo mais Ampla: momento de decisão das
Clinton, que não passou pelo Conselho de Nações Unidas. Política Externa, São Paulo.
Segurança da ONU. Vol. 14, n. 2, set./out./nov. de 2005.
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Especial Barack Obama
nos moldes atuais (mandato de dois anos, Geral, incluindo é claro os cinco membros
sem reeleição)167. permanentes com o poder de veto.
Nas duas últimas Assembléias Gerais, os Além da equação de equilíbrio delicado
países decidiram enviar esforços para a entre legitimidade e acomodação de poder
concretização das reformas. Em setembro entre os Estados, os arranjos multilaterais
de 2008, pela primeira vez a Assembléia parecem enfrentar um novo desafio,
Geral aprovou por consenso, que os colocado pela participação de atores não
membros devem dar início a uma estatais em âmbito global, seja por redes
negociação para a reforma do Conselho de terroristas, seja por elementos mais
Segurança, mas até o momento não houve construtivos da sociedade civil.
maiores sinalizações com a agenda Organizações e redes da sociedade civil são
dominada pelos temas econômicos. crescentemente geradoras de condutas
globais e, em alguns casos, desafiam
Um consensual acordo da Assembléia instituições multilaterais em bases
Geral sobre a reforma e o modelo de normativas. Esta crise do multilateralismo
expansão será matéria muito difícil. Por um tem raízes mais profundas, na medida em
lado, há um grupo formado por Alemanha, que o Estado‐nação tem sido desafiado por
Brasil, Índia e Japão (G4), mais alinhado estes atores não estatais168.
com o modelo A, que têm feito as
demandas mais fortes por uma ampliação E diante deste quadro, o que esperar do
de assentos permanentes e, por outro, o futuro governo de Barack Obama com
grupo chamado “Unidos pelo consenso”, relação à reforma da ONU? Vale ressaltar
que reúne opositores das aspirações do que por reforma, se considera neste artigo
G4, como Itália, Espanha, México, iniciativas que promovam uma maior
Argentina, Paquistão e Coréia do Sul, entre democratização da organização, sendo
outros. Estes países defendem que para indispensável nesse sentido uma reforma
uma reforma legítima seria necessário o ampla do Conselho de Segurança.
consenso mais amplo possível; afirmam
que os modelos apresentados pelo Painel Pensar em cenários futuros é sempre uma
representam propostas, mas não soluções tarefa arriscada. Embora a política externa
finais e que, dentre as duas opções, o tenha sido um tema recorrente durante a
modelo B seria mais flexível e permitiria campanha eleitoral, o debate esteve mais
uma representação mais justa e equânime. centrado no andamento das duas guerras
conduzidas pelo país no Iraque e no
Qualquer que seja o modelo de reforma Afeganistão. Temas como multilateralismo
escolhido e negociado, ele deverá ser e papel das Nações Unidas praticamente
aprovado por dois terços da Assembléia não estiveram em discussão,
principalmente nos dois últimos meses de
campanha, quando as atenções se
voltaram para a crise financeira.
167
UNITED Nations. Relatório do Secretário
Geral: “In larger freedom: towards
development, security and human rights for
168
all” (21 de março de 2005. A/59/2005). NEWMAN, E., THAKUR, R., e TIRMAN, J.
http://www.un.org/largerfreedom/contents Multilateralism under Challenge?: power,
.htm international order and structural change.
United Nations University Press, 2006.
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num processo de reforma amplo da ONU, permanentes no Conselho de Segurança,
incluindo a expansão de membros parece difícil na atual conjuntura.
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Os desafios do Governo Obama para as mudanças climáticas e o meio
ambiente
Helena Margarido Moreira
“Today we begin in earnest the work of enfatizou seu entusiasmo com a
making sure that the world we leave our Conferência na Polônia e reafirmou que a
children is just a little bit better than the sua administração marcará “um novo
one we inhabit today” Barack Obama capítulo da liderança americana na questão
da mudança climática”. Obama afirmou
A frase acima foi proferida pelo Presidente ainda que “poucos desafios que se colocam
eleito dos EUA, o democrata Barack à América e ao mundo são mais urgentes
Hussein Obama, por ocasião do início do que o combate às mudanças do clima”, e
Global Climate Summit, encontro que que “muitos de vocês (líderes) estão
reuniu mais de 600 líderes na área de trabalhando para confrontar tal desafio
mudanças climáticas de todo o país e do (...), no entanto, frequentemente
mundo em Los Angeles durante os dias 18 Washington tem falhado ao mostrar esse
e 19 de novembro de 2008, organizado mesmo tipo de liderança. Isso mudará
pelo Governador republicano da Califórnia, quando eu assumir.”175. O Presidente eleito
Arnold Schwarzenegger, para tentar afirma‐se comprometido a engajar os EUA
avançar nas discussões que serão tema da com a comunidade internacional para
próxima Conferência das Partes da buscar soluções e ajudar a liderar o mundo
Convenção do Clima174, a COP 14, que será em direção a uma nova era global de
realizada em dezembro de 2008, em cooperação na área das mudanças
Póznan, Polônia. climáticas. É importante mencionar que
Em um vídeo endereçado aos participantes esse vídeo foi enviado de surpresa aos
deste Encontro, o Presidente Barack líderes reunidos nesse Encontro,
Obama, eleito em 4 de novembro de 2008, mostrando que Obama, apesar de ainda
nem ter tomado posse do Governo dos
EUA ‐ fato que acontecerá em 20 de
174 janeiro de 2009 – já mostra‐se engajado
A Convenção Quadro das Nações Unidas
sobre Mudanças Climáticas foi aberta para nessas discussões, o que pode ser um
assinaturas durante a Conferência das indicativo de que este tema terá
Nações Unidas sobre Meio Ambiente e tratamento prioritário durante o seu
Desenvolvimento, no Rio de Janeiro, em
governo.
1992 (Rio 92), e tem como objetivo principal
estabilizar as emissões de gases de efeito
estufa, que causam o aceleramento do
Esses compromissos trazem, em meio a
aquecimento global e que tem como sérias todos os significados que a vitória do
conseqüências mudanças drásticas no
padrão climático mundial, aos mesmos
níveis do ano de 1990. Para isso, a
175
Convenção estabeleceu a realização anual Este vídeo está disponível na página do
de Conferências das Partes (COP), que se escritório do presidente eleito na internet:
tornou o órgão responsável por reunir os http://change.gov/newsroom/entry/preside
signatários da Convenção e tomar as nt_elect_obama_promises_new_chapter_o
decisões com relação ao tema. n_climate_change/. Acesso em: 22/11/08.
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primeiro Presidente negro eleito pela níveis do ano de 1990 até 2020, e então,
democracia norte‐americana representa chegar a 2050 com uma redução de 80%
para a história dos EUA e do mundo, novos em relação a este mesmo ano. Trata‐se de
ventos de esperança também para a promessas bem ousadas, se considerarmos
política desse país para as mudanças que os EUA são o maior emissor de GEE do
climáticas e o meio ambiente. Os olhos do mundo176, e que nenhum Presidente norte‐
mundo todo se voltam nesse momento americano comprometeu‐se até hoje com
para as tão esperadas ações do futuro qualquer tipo de meta para reduzir o
Presidente em várias áreas da política lançamento desses gases poluentes na
externa norte‐americana as quais o atual atmosfera.
Presidente dos EUA, George W. Bush
deixou em segundo plano. No entanto, é A posição adotada pela delegação norte‐
preciso analisar com cuidado a questão das americana tem sido desde a Convenção do
mudanças climáticas e dos acordos Clima, que já foi assinada por mais de 170
internacionais que tratam dela para se ter países desde 1994, inclusive pelos EUA, a
uma idéia a respeito do que seria um de se aliar a outros países desenvolvidos,
compromisso possível e realizável. como a Austrália, Nova Zelândia e Japão,
Especialmente neste artigo, trataremos dos para aprovar uma Convenção que não
desafios que se colocam ao novo ocupante estabelecesse metas e prazos para a
da Casa Branca na área de mudanças redução das emissões de GEE, com o
climáticas e o meio ambiente, deixada de argumento de que ainda não haviam
lado durante a administração republicana certezas científicas a respeito das causas e
de Bush e cuja falta de ação tornou‐se um conseqüências do aquecimento global.
dos principais alvos de ataque de líderes de Essa postura acabou por gerar um texto
todo o mundo, sempre pressionando por fraco, sem objetivos bem sedimentados,
uma atitude mais cooperativa e de que apenas estabelecia que os países
liderança que mais emite gases de efeito deveriam continuar se reunindo para
estufa no mundo. elaborar um protocolo de cumprimento
legal obrigatório e que determinava o
A promessa de campanha de Barack “princípio das responsabilidades comuns,
Obama com relação às mudanças porém diferenciadas” como o princípio
climáticas, reafirmada agora em virtude do norteador do regime internacional de
Encontro de Governadores na Califórnia, mudança climática. Este princípio baseia‐se
foi a de reduzir as emissões de gases na idéia de que as condições econômico‐
causadores do efeito estufa (GEE) em 80% sociais dos diversos países fazem com que
até 2050, através da implementação de um suas respectivas capacidades de resposta a
programa que permita que as empresas ou esse fenômeno sejam diferentes entre si, e
instituições que reduzirem suas emissões que os países desenvolvidos, sendo os
acima do estipulado possam comercializar
as suas cotas restantes de carbono; e a de
fazer dos EUA novamente um líder no 176
Os EUA são o maior emissor per capita de
esforço global contra a mudança do clima. GEE do mundo, colocando‐se bem à frente
Para cumprir essa meta, Obama dos demais países. No entanto,
considerando‐se emissões absolutas de
comprometeu‐se a reduzir as emissões cada país, a China já é hoje o maior emissor
norte‐americanas de GEE aos mesmos de CO2 do mundo, seguida de perto pelos
Estados Unidos.
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mecanismos de compliance, entre outros. Apesar de o Protocolo de Kyoto ter
Apesar da aprovação da proposta dos entrado em vigor, mesmo com a retirada
mecanismos de mercado dos EUA, os quais dos EUA das negociações, ele se mostra um
passaram a fazer parte do Protocolo de acordo internacional frágil e insuficiente,
Kyoto, os EUA se retiraram das especialmente pela ausência da maior
negociações, em março de 2001, sob a economia do mundo, do país que mais
justificativa dada pelo Governo Bush de emite GEE a nível global, do país que,
que este Protocolo era inapropriado para talvez, tenha mais capacidade e
lidar com as questões de mudança do clima instrumentos para combater as mudanças
e que traria um ônus muito grande para a climáticas e influenciar o restante da
economia dos EUA (BRAZ, 2003). comunidade internacional a respeito da
Claramente, o argumento sustentado pelo gravidade e da necessidade de urgência de
governo Bush se refere à falta de se tomar medidas mais duras para buscar
compromissos assumidos por países soluções mais eficazes.
emergentes como Brasil, Índia e China. Isto
porque, os EUA não assumiriam um Um aspecto importante que
compromisso que prejudicaria seu provavelmente influenciará sobremaneira
crescimento econômico, enquanto países a política de Obama para as mudanças
que tinham um crescimento anual do PIB climáticas é a visão que o futuro governo
de cerca de 9% não tivessem qualquer tipo democrata tem com relação ao desafio
de restrição (de acordo com o Protocolo de energético. A dependência norte‐
Kyoto) para dar continuidade ao seu americana externa de petróleo é tida como
crescimento econômico, ou seja, sem uma ameaça inclusive para a segurança
sofrer o ônus que a economia norte‐ nacional, degradante para o meio
americana sofreria. ambiente e prejudicial para a economia
interna, à medida que restringe o
Com a retirada dos EUA do processo, a orçamento das famílias americanas em
União Européia assumiu a liderança nas todo o país. Nesse sentido, a política para a
negociações e concluíram, juntamente com energia e meio ambiente do Governo
os outros países signatários, todas as Obama passa pela execução de um plano
regras do Protocolo de Kyoto, que de investimentos para o desenvolvimento
entraram em vigor em 2005, com a de energias alternativas e renováveis179
ratificação deste pela Rússia. De acordo (que pode significar subsídios para a
com o Protocolo, os países desenvolvidos produção de etanol nos EUA, prejudicando
aceitaram compromissos diferenciados de as intenções brasileiras de aumento da
redução ou limitação de emissões entre exportação de etanol de cana‐de‐açúcar),
2008 e 2012, representando, no total dos pelo fim da dependência de fontes
países desenvolvidos, redução em pelo externas de petróleo (especialmente da
menos 5% em relação às emissões
combinadas de gases de efeito estufa de
1990 (BRASIL, Senado Federal, 2004).
179
Barack Obama se comprometeu a um
investimento de US$ 15 bilhões anuais para
promover a utilização de energias mais
limpas, como a energia eólica e a solar, e,
flexibilizadores propostos anteriormente assim, gerar 5 milhões de “empregos
pelos EUA. verdes” para a população norte‐americana.
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