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IMPLANTAÇÃO DA TRILHA DO CAXETAL

HERMANN SCHMITT
JULIANA MARCONDES BUSSOLOTTI

CENTRO UNIVERSITÁRIO MÓDULO


EIXO TEMÁTICO: A TRILHA

INTRODUÇÃO

O Parque Estadual da Serra do Mar – PESM estende-se do litoral norte do Estado de


São Paulo, a partir da divisa do Estado do Rio de Janeiro até a cidade de Pedro de
Toledo no litoral sul do Estado de São Paulo, sendo o maior parque paulista com
315.350 he. No Município de Ubatuba o parque abrange uma área de 47.500 he,
administrada pelo Núcleo Picinguaba – NP.
O Plano de Manejo do Núcleo Picinguaba, documento que orienta todas as atividades
realizadas dentro dos limites do parque, estabelece no Programa de Visitação e Uso
Público a oferta de seus recursos naturais para todos aqueles que desejam conhecer
os ecossistemas litorâneos e suas belezas cênicas, organizados em grupos escolares,
familiares e de turistas, acompanhados por monitores ambientais credenciados pela
UC e capacitados para apresentar aos visitantes as principais características do
ambiente, do clima, da geologia, da fauna e flora, da cultura tradicional, da história de
ocupação, enfim dados importantes para se conhecer o ambiente e as populações que
vivem nele, sempre respeitando as particularidades de cada grupo.
Os relatórios da Coordenadoria de Visitação do PESM-NP indicam uma freqüência
média de 4.500 pessoas por ano, dividido em grupos escolares, universitários e de
turistas, que utilizam quatro trilhas interpretativas da Base Administrativa da Praia da
Fazenda.
Normalmente estes grupos são compostos por pessoas jovens, que pouco ou nunca
visitaram uma mata e que, portanto, não estão acostumadas em caminhar em
ambiente natural. Não é raro que, por falta de experiência, causem impactos
desnecessários, ou mesmo, sofram leves ferimentos.
A restinga existente na Praia da Fazenda, localizada dentro da área administrada pelo
Núcleo Picinguaba, é a única preservada pelo Parque Estadual da Serra do Mar e que,
por esta razão, é de grande interesse das instituições de ensino que desejam realizar
trabalhos de estudo de meio neste tipo de ecossistema litorâneo.
Tais grupos são encaminhados a visitar a trilha do “Picadão da Barra”, que cruza um
trecho de mata de “baixa restinga”, mas passa também por um segmento impactado
pela construção da Rodovia Rio-Santos, , que tem seu valor didático, porém perde
muito em tempo, recursos naturais e beleza cênica de um ambiente preservado.

Esta trilha também dá acesso ao manguezal do Rio Picinguaba, que por si só já é


fonte suficiente de informação para um roteiro próprio. Assim, realizando a visitação
por esta trilha deixa a atividade extremamente densa e desgastante, por tratar de dois
ecossistemas diferentes, perdendo assim em aproveitamento dos conteúdos
apresentados.

A intensa visitação da trilha do Picadão da Barra com 216 grupos no período de março
a setembro de 2002 (Coordenadoria de Visitação do NP) acabou por ocasionar forte
impacto ao longo dela, com alargamento do caminho, pisoteamento de vegetação,
além da compactação do solo, principalmente dentro do ambiente de manguezal.

Com o objetivo de minimizar o impacto causado pela visitação no ambiente de


manguezal procurou-se criar alternativas que permitisse aos visitantes conhecer os
ecossistemas sem degradá-los.

A solução para o ambiente de manguezal foi implantar uma trilha fluvial que consiste
em navegar o Rio Fazenda até o manguezal em um bote de alumínio por entre a
vegetação característica deste ecossistema. Este roteiro de bote mostrou ser uma
alternativa viável para os grupos que desejam conhecer o ambiente de manguezal;
causando um impacto mínimo no ambiente, pois elimina o pisoteamento; além de
visitar um manguezal mais característico em solo, vegetação, qualidade da água;
favorece o avistamento de animais.

Com a visitação do manguezal resolvida, busca-se agora uma alternativa que passe
pelo ambiente de restinga e que ofereça aos visitantes voltados ao estudo do meio um
ambiente mais preservado, com suas características ambientais bem definidas e com
o mínimo impacto possível.

Esta trilha esta localizada aproximadamente a 100 metros da guarita da Praia da


Fazenda, sentido rodovia, rumo noroeste. Utilizada por moradores locais até a época
de implantação do núcleo no começo dos anos 80, sendo abandonada desde então,
apenas esparsamente utilizada por pesquisadores que realizam seus estudos na área.
Após debater sobre a necessidade de abertura de novas trilhas junto a Coordenação
de Uso Público autorizou a realização de estudos que visem avaliar a implantação de
novas trilhas.

Este trabalho é o resultado do estudo para propor a implantação da trilha do Caxetal.


OBJETIVOS

O objetivo geral deste projeto é o de colaborar no Programa de Visitação e Uso


Público do Parque Estadual da Serra do Mar – Núcleo Picinguaba, no sentido de
oferecer uma trilha interpretativa que apresente aos visitantes as principais
características do ambiente de planície litorânea / restinga causando o menor impacto
possível no ambiente natural e minimizando as possibilidades de ocorrência de
acidentes aos visitantes, elevando o nível de satisfação deste e valorizando a
apreciação dos recursos cênicos do outro.

Os objetivos específicos são:

• Estabelecer um traçado que perpasse por pontos característicos do


ambiente de planície litorânea / restinga.

• Propor intervenções no traçado da trilha que minimizem os impactos


ambientais resultantes da visitação.

• Identificar áreas para serem limpas com pelo menos 10 m² que deverão
ser utilizadas como “áreas de interpretação”.

• Propor em parceria com a equipe de visitação do PESM-NP um sistema


de interpretação dos recursos disponíveis no ambiente.

• Criar um método de análise dos impactos resultantes da visitação.

• Estabelecer um sistema de coleta de dados que avaliem os impactos


resultantes da visitação.

METODOLOGIA

A trilha foi percorrida até seu atrativo final, uma imensa Figueira Branca (Fícus
Insípeda) no meio do Caxetal, (tabebuia cassinóides) tirando anotações de rumo,
distância e intervenções (ver anexo 1); que foi entregue a coordenação para análise
de sua viabilidade.

As intervenções sugeridas visam facilitar o acesso de grupos, minimizar o impacto no


ambiente causado pela visitação, proteger a vegetação próxima da trilha ordenando as
passadas por um caminho bem definido, sem obstáculos que podem favorecer o
surgimento de desvios indesejáveis ou dificultar o acesso. Deverá ser realizada de
forma tal que não interfira no trajeto original da trilha, apenas se necessário para
proteger a integridade de uma planta ou raiz e com o menor impacto visual possível,
permitindo a rápida incorporação das intervenções, no corpo da trilha, pela mata.

A vegetação que por alguma razão deverá ser removida, sempre que for possível será
replantada nas proximidades de seu lugar de origem, garantindo seu micro-clima e
favorecendo que suporte melhor o replantio.
As intervenções deverão ser realizadas em 6 níveis:
1. Definição de largura de trilha, espaçamento máximo de 80cm, com limpeza
lateral suficiente para garantir a passagem das pessoas sem tocar na
vegetação.
2. Definição da altura mínima em 2,5m permitindo a passagem sem obrigar as
pessoas a se agachar, que normalmente, escolherá passar por um lugar
mais alto. Impõe-se aqui o fator segurança evitando queda de detritos e
batidas de cabeças. Neste caso serão preservadas as árvores vivas com
tronco com mais de 10cm de DAP.
3. Definição das áreas para interpretação, sendo aproveitados os pontos com
apenas vegetação rasteira ou impactada por queda de galhos; sem corte
de troncos vivos, e seu perímetro demarcado por elementos da própria
floresta, evitando o aumento gradativo das áreas de interpretação pelo
pisoteio do grupo, que normalmente, quando parados, se postam em roda
para ouvir as explicações ou participar de dinâmicas.
4. As intervenções no solo muito sensível ao pisoteio, deverão ser realizadas
com o aproveitamento, ao máximo, de elementos da própria floresta, ou
seja, galhos ou troncos em cima de cordões litorâneos. Apenas em caso
especiais, onde se torne ineficaz o uso destes elementos que será utilizado
outros materiais, como pedras, saibro, sempre garantindo o pleno
escoamento das águas em seu traçado natural. Pedaços de cano de PVC
de 10’, devidamente cobertos e escondidos podem ser úteis nos casos em
que a grande extensão do cordão litorâneo dificulte a passagem, evitando
que os grupos passem por regiões sensíveis, inundáveis e lamacentas.
5. No caso de raízes expostas, com as alternativas de cobri-las com saibro
quando não alterar muito o ambiente, ou pequeno desvio quando a raiz se
encontrar muito acima do nível do solo.
6. E finalmente, abertura de uma trilha de aproximadamente 20ms, levando do
final da trilha, na borda do Caxetal, até a Figueira Branca situada na borda
pelo lado direito, mantendo aqui todos os cuidados anteriores.

Após a identificação da viabilidade, foi realizada uma pesquisa de gabinete na


biblioteca do Núcleo Picinguaba, onde estão guardados mais de 200 trabalhos de
pesquisadores que desenvolveram projetos na UC junto com os relatórios de
avistamento, que são registros de avistagem de animais anotados em fichas por
colaboradores do parque, como funcionários, monitores, estagiários, pesquisadores e
visitantes.

Este estudo permitiu montar um painel mostrando as principais características


disponíveis nesta trilha que definem um ecossistema de restinga, como composição
de solo, vegetação existente e indícios de animais, com o objetivo de definir, junto à
equipe de visitação, como será apresentada a interpretação do ambiente aos grupos
visitantes.

RESULTADOS

Os dados coletados durante a primeira etapa mostram que a trilha depois de


implantada terá 675 metros de extensão. Foi verificada a necessidade de limpeza área
e lateral e elevação do piso em 10 cm ao longo de toda a trilha, além de outros 17
pontos de intervenções.

Foram identificados 4 áreas de aproximadamente 10m², onde já existem aberturas


naturais, que deverão ser preparadas para acomodar os grupos durante as paradas
para interpretação do ambiente. Também foram identificadas áreas onde o relevo do
terreno impõe a necessidade de criar passagens niveladas com o piso e que permitam
o fluxo de água por baixo, cruzando a trilha por tubos de PVC, devidamente cobertos
com saibro e pedras, tendo suas extremidades escondidas por materiais da própria
floresta.

A planície litorânea compreende um mosaico de diferentes tipos vegetacionais,


incluindo dunas, praias, mangues, florestas paludosas e formações florestais sobre
cordões litorâneos, que alcança, até as encostas da Serra do Mar. A área avaliada é
coberta por vegetação típica de cordões regressivos quaternários e a fisionomia da
vegetação é caracterizada por árvores de pequeno porte (10 a 15 m) e sub bosque
com alta densidade. (PEDRONI 2001)
O solo é constituído basicamente de areia depositada pelo mar ao longo de cinco mil
anos de recuo marinho, muito permeável e com forte salinidade, coberto com grossa
camada de serrapilheira escura, deixando o solo rico em húmus, sendo
periodicamente encharcado com o afloramento do lençol freático no período das
chuvas. Seu tom escuro, diz respeito a forte umidade e calor do ambiente,
desenvolvendo intensa atividade decompositora.
A vegetação na trilha do Caxetal se encontra na maior parte da trilha em um estágio
adulto, com manchas de antigas ocupações que hoje estão em estágio médio para
avançado de regeneração, com seu dossel em torno de 10 a 15 metros permitindo
maior luminosidade e conseqüentemente uma disputa maior pela luz no sub bosque,
com difícil definição de seus extratos florestais, tornando a caminhada em seu interior
bastante difícil e agressiva.

As principais espécies arbóreas encontradas são:


FAMÍLIA NOME CIENTIFICO NOME POPULAR
Melastomatácea Miconia cinna Jacatirão
Tibouchina mutabilis Manacá da Serra
Tibouchina granulosa Quaresmeira
Clusiaceae Callophilum Guanandi
Tabebuia Cassinóides Caixeta
Euphorbiaceae Hyeronima alchorneoides Urucurana
Aracaceae Euterpe edulis Jussara
Acropiaceae Acropia Glayomi Embauba

Contudo, é a família das Orquidáceas que predomina na área com 60 espécies


diferentes sendo encontradas naquela área. (FURLAN 1987)
A imensa Figueira Branca localizada no meio do Caxetal coroa uma trilha muito rica
em espécies da flora e da fauna local.
Os registros colhidos das observações dos colaboradores do Núcleo Picinguaba,
dizem da presença de diversas espécies de animais que vivem nesta área, como 17
espécies de Anfíbios, mais de 200 espécies de Pássaros, 32 espécies de Répteis; não
foi feito um estudo detalhado nesta área sobre população de mamíferos, mas o Plano
de Manejo do PESM indica a existência de 674 espécies de vertebrados, sendo 111
de mamíferos, e os registros de avistamento mostram felinos e roedores como os mais
observados.
Antes da abertura definitiva da trilha serão preparadas fichas contendo parâmetros
importantes para se medir a intensidade do impacto causado pela visitação, com
informações precisas em trechos previamente demarcados. As variáveis a serem
verificadas pelos indicadores físicos são medidas de largura e profundidade da trilha,
pelos fatores biológicos são estado da vegetação nas margens (pisoteamento, marcas
em troncos, quebras de galhos) indícios de animais (sons, rastros, frutas comidas,
fezes avistamentos), e pelos indicadores sociais a caracterização do lixo encontrado,
sendo os dados coletados ao longo de toda trilha com espaçamento de 50 metros em
períodos com um mês de intervalo. (MITRAUD 2003)

Estes dados sobrepostos aos relatórios de visitação do NP durante aquele período


serão fundamentais para se compreender qual será o comportamento da trilha e o
quanto ela esta suportando o peso da visitação, para assim poder se estabelecer um
parâmetro de capacidade de carga ideal, garantindo uma visitação com o mínimo de
impacto, melhorando a experiência do visitante e respeitando os limites do ambiente.

Modelo de tabela para medição de impacto

TRILHA:___________________________________________________
DATA:_____________________________________________________
VISITA N°:__________________________________________________
RESPONSÁVEL:_____________________________________________
EQUIPE:____________________________________________________

PONTO DISTANCIA LARGURA PROFUNDIDADE VEGETAÇÃO ANIMAIS LIXO


DA TRILHA DA TRILHA (I) intocada (X) sem indício (QUAL?).
(P) pisoteada (S) som
(M) marcas (R) rastro
(Q) quebra (C) fruta comida
(F) fezes
(A) avistamento
0 0
1 50
2 100

Os trabalhos de campo serão supervisionados pela Srª Fernanda Wadt, Coordenadora


do Programa de Visitação e Uso Público, coordenado pelo Sr Hermann Schmitt,
monitor ambiental do NP, realizado por uma equipe de duas pessoas, composta por
monitores e funcionários da UC.
No início da trilha serão instalados uma placa com seu nome e indicando que ela é
uma trilha monitorada, contendo o logotipo do NP e da instituição financiadora. Estas
marcas também estarão sendo impressas em vinte camisetas que serão distribuídas
aos monitores que operam neste local.
O NP se comprometeu a fornecer todo o material de apoio, como máquina fotográfica
e revelação do filme para registro de todas as fases do trabalho, transporte de pessoal
e material dentro da UC, hodômetro para medições precisas de distância, carrinho de
mão para o transporte de substrato (saibro) e ferramentas de campo (rastelo, enxada,
pá, facão, machado).

DISCUSSÃO

Uma trilha é um caminho através do espaço geográfico, histórico e cultural e seu


planejamento e construção devem obedecer a uma série de pressupostos para que
atenda tanto as necessidades dos usuários, como da conservação da área. Uma trilha
é interpretativa quando seus recursos são traduzidos para os visitantes através de
guias especializados, folhetos ou painéis. Uma trilha é guiada quando um interprete,
guia-monitor, acompanha os visitantes na caminhada, levando-os a descobrir os fatos
relacionados ao tema, com paradas pré-estabelecidas e caracterizando-se pela
mobilidade do público e por ser basicamente visual. As possibilidades de interpretação
variam conforme o local, o público e os objetivos propostos. Porém mesmo com estas
diferenças, devem criar consciência em seu ouvinte no sentido de criar apreciação e
ou sugerir uma nova maneira de pensar.

A demanda de um público preocupado com a natureza, e disposto a compreendê-la


melhor aumentou significativamente. As novas Unidades de Conservação que
estavam sendo criadas para suprir as necessidades preservacionistas, foram os
principais alvos desta nova pressão turística.

Os gestores destas UC’s devem se preocupar em proteger os recursos naturais, e ao


mesmo tempo satisfazer as necessidades dos usuários, considerando que a
informação é a melhor ferramenta para a preservação.

Neste sentido os Programas de Uso Público das Unidades de Conservação devem ser
planejados para normatizar o uso da área visando à minimização dos impactos nas
atividades que envolvem visitação, utilizando a recreação, educação ambiental e
interpretação da natureza como ferramenta para sensibilizar o visitante da importância
e beneficio da conservação, buscando seu entendimento, apoio e participação.

A Educação Ambiental é um processo permanente de aquisição de conhecimentos,


habilidades, experiências, valores que devem ser trocados, em todos os lugares, em
todos os momentos, na busca de soluções para os problemas ambientais,
restabelecendo a ligação do homem com o seu ambiente.

A Educação Ambiental em ambiente natural é uma fonte inesgotável de meios que


facilitam a compreensão do lugar do homem no mundo, servindo como laboratório
natural que favorece o entendimento do entorno ecológico, o reconhecimento das
ações humanas sobre o entorno, a possibilidade de escolha de formas mais saudáveis
de vida e o envolvimento no esforço conjunto para a conservação da natureza.

Conciliar a recreação do visitante com educação ambiental, sem que esta transmissão
de sensações, impressões, conhecimentos, se torne maçante e cansativas é a arte e
técnica da interpretação ambiental.

A interpretação ambiental é a ferramenta mais informal e eficiente para fazer as


pessoas entender seu entorno, e assim poder reconhecer e avaliar as possíveis
conseqüências de suas atitudes para então poder tomar decisões conscientes.

Apesar de assumir importância recentemente, a Interpretação Ambiental já era


utilizada há bastante tempo. Enos Miles, que trabalhou como guia de 1889 até 1922,
dizia que o “interprete é um naturalista que sabe guiar os outros até os segredos da
natureza”.

Porém, o primeiro a propor uma definição formal sobre interpretação ambiental, foi o
dramaturgo e filósofo norte americano Freman Tilden, que em 1957 estabeleceu que
“Interpretação da natureza é uma atividade educativa que aspira revelar os
significados e as relações existentes no ambiente, por meio de objetos originais,
através de experimentos de primeira mão e meios ilustrativos, em vez de
simplesmente comunicar informação literal”. (VASCONCELLOS 2003, p. 97)

Outras definições surgiram, lembra VASCONCELLOS (2003), e a de Don Aldridge é:


“a arte de explicar o lugar do homem em seu meio, para aumentar a consciência do
visitante ou do publico sobre a importância desta relação e despertar um desejo de
contribuir para a conservação ambiental”, traduz bem o significado atual da arte de
interpretar a natureza, favorecer as mudanças de comportamento para benefício maior
do planeta.

VASCONCELLOS (2003, p. 98) indica que para Tilden, os princípios da Interpretação


Ambiental são:

1. A interpretação deve relacionar fatos com a personalidade ou com experiências


anteriores das pessoas a quem se dirige; não sendo assim estéril.
2. A informação como tal, não é interpretação. A interpretação é uma revelação
que vai além da informação, tratando de significados, inter-relações e
questionamentos. Porém toda interpretação inclui informação.

3. A interpretação é uma arte que combina muitas artes, sejam cientificas,


históricas arquitetônicas, para explicar temas, utilizando todos os sentidos para
construir conceitos e provocar reações no indivíduo.

4. O objetivo principal da interpretação não é a instrução, mas a provocação,


deve despertar curiosidade, ressaltando o que parece significante.

5. A interpretação deve tratar de todo conjunto e não de partes isoladas; e os


temas devem estar inter-relacionados.

6. A interpretação para crianças não pode ser apenas uma diluição da


apresentação para adultos, deve ter uma abordagem fundamentalmente
diferente. Para diferentes públicos deve haver programas diferentes.

E que Sharp ressalta serem três os objetivos da interpretação:

• Assistir ao visitante, proporcionando meios para o entendimento e


melhor apreciação dos recursos da área, tornando a experiência da
visitação rica e agradável.

• Atingir as metas de manejo, estimulando o uso adequado dos recursos


recreacionais, reforçando a idéia de que parques e outras áreas
protegidas são locais especiais e merecem condutas especiais por
parte dos visitantes. Ainda, a interpretação pode reduzir os impactos
humanos nos recursos, guiando e afastando os visitantes das áreas
sensíveis.

• Proporcionar ao público entendimento de uma instituição e de seus


programas.

Uma analise destes autores revela que Tilden esta focado na prática do interprete, nos
cuidados que ele deve ter para atingir seus objetivos, enquanto Sharp busca na prática
do interprete uma ferramenta de transformação. Não se contradizem, mas se
complementam. Uma boa técnica de comunicação é o caminho mais eficaz para a
transformação.

O interprete, conhecedor da complexidade do ambiente, deve possuir a sensibilidade


aguçada para perceber qual é o seu público, para assim poder adaptar sua fala à
realidade e as necessidades de cada grupo, traduzindo a linguagem da natureza para
a linguagem comum das pessoas.

CONCLUSÃO

Conclui-se que as intervenções sugeridas ao traçado tradicional da trilha contribuíram


para a gestão do Programa de Uso Público do PESM-NP no sentido de permitir o
acesso seguro de grupos visitantes em uma área de restinga em fase avançada de
regeneração, minimizando os inerentes impactos causados pela visitação, além de
estabelecer um programa de avaliação bio/físico da trilha, ao coletar e analisar os
dados de comportamento da trilha diante dos fluxos humanos e hídricos e dos seres
vivos que por ali são encontrados, tanto vegetais, como animais e humanos. As
intervenções também contribuíram para a valorização cênica do espaço, realçando a
estratificação florestal, os contrastes de sombra e luz e a conseqüente disputa vegetal
por ela, no relevo irregular decorrente dos fluxos naturais da água, na adaptação das
espécies conforme os rigores impostos pelo ambiente e como o espaço se transforma
ao longo do tempo.

BIBLIOGRAFIA

COORDENADORIA de Visitação e Uso Público do Núcleo Picinguaba. Rodovia Rio-


Santos Km 11. Ubatuba 2006.
FURLAN, Antonio – A vegetação de restinga no Núcleo de Desenvolvimento
Picinguaba, 1987. UNESP. Rio Claro.
LECHNER, Lawrence. Planejamento e Implantação de Infra-estrutura em trilhas.
2003. Centro de Capacitação em Conservação da Biodiversidade. Fundação O
Boticário de Proteção à Natureza. Guaraqueceba. Boticário.
MITRAUD, Silvia. Uso Recreativo do Parque Nacional Marinho de Fernando de
Noronha. Séries Técnicas VIII. Brasília: WWF, 2001.
MITRAUD, Silvia. (org.) Manual de Ecoturismo de Base Comunitária: ferramentas
para um planejamento responsável. Brasília: WWF, 2003.
PEDRONI, Fernando – Tese de doutorado: Aspectos da estrutura e dinâmica da
comunidade arbórea na Mata Atlântica de planície e encosta em Picinguaba,
Ubatuba. 2001.UNICAMP. São Paulo.
PLANO DE MANEJO do Parque Estadual da Serra do Mar. Secretaria do Meio
Ambiente do Estado de São Paulo. CETESB, 2006.
VASCONCELLOS, Jane M. de O. Programa de Educação e Interpretação
Ambiental no Manejo de Unidades de Conservação. 2003. Centro de Capacitação
em Conservação da Biodiversidade. Fundação O Boticário de Proteção à Natureza.
Guaraqueçaba. Boticário.

ANEXO

PLANILHA DE MANUTENÇÃO Nº 0

TRILHA: CAXETAL
DATA: 07/02/03
RESPONSÁVEL: Hermann Schmitt

PONTO RUMO DISTANCIA INTERVENÇÃO


0 312 O Entrada da trilha, limpeza lateral e
aérea.
1 312 20m Limpeza lateral e aérea.
2 292 28m Limpeza lateral e aérea com retirada
de tronco morto.
3 312 113m Limpeza aérea com retirada de tronco
morto.
4 299 35m Limpeza de área para interpretação,
num triangulo com 3m de lado.
5 299 25m Passagem do cordão litorâneo com
troncos.
6 301 30m Limpeza lateral e aérea ao longo do
trecho(galhos e arranha gato)
7 303 35m Passagem de cordões litorâneos com
troncos caídos. Raízes expostas com
sugestão de desvio pela esquerda.
8 303 14m Área de encharcamento, cobrir com
troncos e saibro.
9 312 35m Área para interpretação.
10 50 30m Cordões litorâneos com raízes
expostas, aqui será necessário o uso
de todos os recursos disponíveis,
saibro, pedras, troncos, pedaços de
cano de PVC.
11 50 20m Cobertura com saibro de raízes
expostas.
12 50 20m Passagem com troncos sobre cordão
litorâneo. Limpeza aérea.
13 87 30, Forte limpeza aérea.
14 40 30m Cobertura com troncos e saibro de
cordão litorâneo e raízes expostas.
Limpeza lateral.
15 45 80m Área para interpretação.
16 20 100m Limpeza lateral e passagem sobre
cordões litorâneos. Caxetal
17 140 30m Abertura de trilha até a Figueira
Branca.

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