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INTERDISCIPLINARIDADE I
PESQUISA E
INTERDISCIPLINARIDADE I
1ª Edição - 2008
IMES
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SUMÁRIO
GLOSSÁRIO _____________________________________________________________ 32
CONHECIMENTO,
INTERDISCIPLINARIDADE E PESQUISA
CIÊNCIA E CONHECIMENTO
Pesquisa e Interdisciplinaridade I 7
Industrial. É fato que os fatores que caracterizaram a Era Industrial já não se fazem mais presentes; há
inequívocos sintomas de que há uma época nova surgindo.
As questões que se colocam estão, inicialmente, na limitação do termo pós. Como denominar o que
virá após a era PÓS? Além disso, denomina um período da história ainda em transição, em mudanças. O
registro histórico pressupõe um distanciamento temporal, para permitir a visão sistêmica do “antes” e do
“depois” e suas implicações.
Antigüidade Clássica
Os povos antigos, egípcios, gregos, babilônios, chineses, hebreus e outros, deixaram inestimável le-
gado de conhecimento e cultura para a humanidade em todas as áreas. Para os propósitos desta discussão,
limitar-se-á a pontuar aspectos da cultura grega e romana.
Os gregos — a Grécia, no século V a.C., foi o berço de importante fase da história da humanidade.
Sinônimo de democracia, filosofia, arte, teatro, esportes e poesia, a Grécia foi, também, precursora de
uma idéia moderna e importante: a rede, a network, como chamada hoje em dia.
A Antigüidade Clássica, cujos limites se aproximam de 600 a.C. ao século III d.C., consta de inicia-
tivas tais como a autonomia do pensar e a formação de conceitos, a exemplo da maiêutica socrática, bem
como da atenção aos aspectos políticos.
Nesse período, a dedicação para estudo e reflexão da vida esteve evidente, tendo destaque pensado-
res que, por merecimento, são considerados grandes filósofos da humanidade. Dos gregos, a humanidade
herdou significativas contribuições para o avanço das ciências e da filosofia.
Desse modo, é possível afirmar que ainda sob outros títulos, como exercício da maiêutica (para Só-
crates), superação do mundo sensível (para Platão), busca da Felicidade (para Aristóteles), o olhar sobre
o desenvolvimento humano se fez presente por prezar por valores e idéias favoráveis à conquista da au-
tonomia, bem como do posicionamento individual e social cada vez mais consciente dos próprios atos.
Os romanos — Eram povos mais práticos, organizados e preocupados com o bem-estar e com a
vida material. Destacaram-se como advogados, soldados e administradores. A arte, a ciência e a medicina
da Roma antiga eram tomadas de empréstimo dos gregos, quando necessitavam. Os romanos não culti-
vavam o espírito investigativo, a reflexão, nem a busca do conhecimento por amor à ciência.
As atividades práticas de todas as naturezas, contudo, floresceram em Roma, assim como a pre-
ocupação com a qualidade de vida terrena. Eficientes administradores, legisladores e soldados criaram
obras de fundamental importância para o conforto e a proteção à saúde pública, como aterros sanitários,
aquedutos para transportar água potável, aparelhos sanitários, hospitais e um serviço médico público,
engenharia civil e militar. O gênio prático, capacidade de organização e competência administrativa dos
romanos deixaram exemplos até hoje imbatíveis na história da humanidade, como as leis do direito roma-
no, presente na regulamentação das leis em todas as nações do mundo. De certa maneira, pode-se com-
preender que no contrato, mediante lei, para melhor convivência entre as pessoas encontra-se iniciativa
em prol do ser humano e de seu desenvolvimento enquanto pessoa e comunidade.
Idade Média
Em torno do século III d.C. o apego às coisas do espírito, a preocupação em discutir e explicar a
razão de ser do homem, sua natureza e finalidade, abrem caminho para o domínio da religião. Cresce a
força da Igreja, de suas leis e dogmas; o sofrimento terreno passa a ser condição para o acesso ao reino
dos céus; nasce e toma força a idéia do pecado, da culpa, da salvação e da danação, transformando as
pessoas em rebanho submisso e escravo dos dogmas religiosos.
O acesso a todo o conhecimento, principalmente grego, foi proibido ao homem comum e guarda-
do em bibliotecas pertencentes ao clero, que passou a ocupar todos os cargos e postos de poder religioso
e político. As pessoas só tinham acesso às verdades declaradas e impostas pela Igreja, que, doutrinaria-
mente, as mantinha presas aos preceitos e ensinamentos religiosos. Em termos de descobertas e inven-
Pesquisa e Interdisciplinaridade I 9
genheiro, arquiteto, físico, biólogo e filósofo, revelando-se supremo em todos esses assuntos. Para ele, as
coisas precisavam ser explicadas, comprovadas, e o único método verdadeiro de se obter conhecimento
e fazer ciência era a observação e a experimentação. Apreendeu o princípio da “inércia”, deduziu a lei da
alavanca corno fonte de energia, realizou estudos em hidrostática e hidrodinâmica, propagação de ondas
na superfície da água e no ar, as leis do som, entre outras contribuições para a ciência.
Muitos fatos impulsionaram o movimento renascentista. A navegação foi facilitada pela bússola
magnética, já usada pelos chineses no século XI e levada para a Europa Ocidental um século depois. Ini-
ciou-se uma nova fase de descobertas e de invenções, como a pólvora, a redescoberta do moinho d’água,
o uso da bússola e a modernização dos arreios dos cavalos. Foram inventados os óculos, a imprensa, o re-
lógio. No início do século XV, os navegadores portugueses iniciaram grande período de exploração, des-
cobrindo os Açores, em 1419, e, mais tarde, seguindo a costa ocidental da África. Foi, finalmente, aceita
a teoria de a Terra ser quase esférica e, assim, os navios puderam partir da Europa, atingir a Ásia, a Índia,
a China e voltar à Europa. Essas descobertas alargaram o mundo conhecido e o espírito da humanidade.
O aumento da circulação monetária, o ouro e a prata, elevando os preços e estimulando a indústria e o
comércio, aumentaram a riqueza e deram oportunidade ao lazer, ao estudo e à invenção.
A revolução da ciência, caracterizada pela criação do método científico de fazer pesquisa, hoje pos-
to em questão pela concepção contemporânea de ciência, data dos séculos XVI e XVII, com Copérnico,
Bacon, Galileu, Descartes e outros. Não surgiu, porém, do acaso. A descoberta ocasional e empírica de
técnicas e de conhecimentos referentes ao universo, à natureza e ao homem, desde os antigos babilônios
e egípcios, a contribuição do espírito criador grego, sintetizado e ampliado por Aristóteles, e as invenções
feitas na época das conquistas, tudo isso veio preparar o mundo para o surgimento do método científico
e para o desenvolvimento do espírito crítico e objetivo, que veio caracterizar a ciência a partir do século
XVI, no início de forma vacilante e, agora, de modo mais vigoroso. Aos poucos, o método experimental
foi-se aperfeiçoando e estendendo-se a outras áreas. Desenvolveu-se o estudo da química e da biologia,
surgindo um conhecimento mais objetivo da estrutura e das funções dos organismos vivos no século
XVIII.
Idade Moderna
Em meados do século XVIII nasceu um novo movimento, o racionalismo, que confiava na razão
humana para a solução dos problemas, em contraposição às soluções que pregavam a emoção, a solução
pela religião ou a explicação pela fatalidade. A vida prática do homem do século XVIII não foi muito dife-
rente da dos seus antepassados, dos tempos de Júlio César ou de Hamurábi. Este, também, tinha medo de
raios e trovões, pestes e eventos que lhe pareciam de ordem sobrenatural, para os quais não possuía uma
explicação que não fosse de caráter religioso ou fatalista. Porém, insinuam-se, pela primeira vez, a dúvida
e a esperança de que a razão pudesse compreender os eventos, para depois administrá-los e dominá-los.
Voltaire, um grande representante dessa época, dizia:
Talvez virá o dia em que o homem saberá, com antecedência, se choverá ou se
virá um tempo de seca, e saberá, além disso, como conter um raio. Para chegar a tal
ponto, é necessário estudar racionalmente, é necessário nutrir nossa mente, é neces-
sário cultivar o nosso jardim.
Assim, da mistura do cientificismo com o racionalismo, a ironia e a auto-ironia, nasceu o “iluminis-
mo”, que fez do século XVIII o “século das luzes”. O século XVIII foi, também, o século das grandes
descobertas do mundo moderno. As Revoluções Industriais, com a invenção da máquina a vapor (1760)
e da eletricidade (1860), da locomotiva e do pára-raios, abrem espaço para o surgimento de um novo
ser humano, racional, consciente de que é capaz de domar a natureza até nas suas manifestações mais
terríveis e caprichosas. Ocorrem progressos em quase todos os campos científicos — na física, na filoso-
fia, na biologia —, enquanto a literatura, a arte e a poesia não dão grandes passos além dos já dados no
Renascimento.
No século XIX verificou-se uma modificação geral nas atividades intelectuais e industriais. Surgi-
Características da Ciência
• Distinção entre essência e aparência
O espírito científico parte do princípio de que nada se revela na aparência; tudo, para ser explicado,
deve ser investigado, criticado, analisado. Essa capacidade de permitir a distinção entre essência e aparên-
cia significa que a ciência fornece, através da metodologia, um conjunto de procedimentos racionais, rígi-
dos e lógicos, que permitem penetrar na essência dos fenômenos perceptíveis pela inteligência humana,
chegando à sua verdade, portanto.
O uso de um método científico para praticar ciência a diferencia das outras formas de conhecimen-
to humano. E uma de suas particularidades é não aceitar nada como verdadeiro se não for comprovado
e, mesmo que comprovado, não será para sempre uma verdade, pois, na medida em que tudo pode ser
explicado, conclui-se que tudo pode ser melhorado, revisto, reinterpretado.
• Compromisso com a verdade
Ciência não é poesia nem especulação. Tendo como objetivo o conhecimento científico, a ciência
exige respostas que expliquem lógica e racionalmente suas questões: por quê? para quê? como? Para que
uma investigação seja considerada centífica as hipóteses levantadas e suas conseqüências lógicas, assim
como outras explicações do mundo e das coisas, devem ser submetidas a rigorosos testes de equivalência
com as coisas observáveis, ou seja, com a realidade, e com outras hipóteses sugeridas.
• Compromisso com a teoria, a análise e a política
O compromisso da ciência com a teoria está no fato de que ela se caracteriza por ser um conjunto de
Pesquisa e Interdisciplinaridade I 11
princípios, ou conjunto de tentativas de explicação de um número limitado de fenômenos. Cuida de reunir
bagagem de conceitos e princípios, racionalmente comprovados para serem utilizados em pesquisas.
Quanto ao seu compromisso com a análise, a ciência se ocupa da explicação, da análise e da aplica-
ção dos princípios teóricos encontrados. Procura interpretar fatos, fazer precisões, buscar comprovações.
E, com a política, ela tem o compromisso ético de orientar como as coisas devem ou não ser feitas, bali-
zando seus resultados para o bem da humanidade. Ela se responsabiliza pela transição entre o que é para
o como deve ser. Esta é uma postura ligada ao comprometimento social, à ética.
O Conhecimento
A expressão ERA DO CONHECIMENTO tem sido utilizada para caracterizar o modo de viver
da sociedade pós-industrial, ou seja, após a metade do século XX. Seria o caso de se concluir que o co-
nhecimento é um produto da Era Industrial surgido apenas nas últimas cinco, seis décadas? Poder-se-ia,
portanto, concluir que a Era Industrial, a Clássica, e mesmo a Idade Média, não teriam produzido conhe-
cimento? Obviamente que não. O homem sempre conheceu.
A origem da palavra conhecimento é connaissance (palavra francesa que significa naissance = nascer com).
O homem, ao contrário do animal, não está no mundo apenas vivendo-o; ele vive e modifica o mundo à sua volta.
Tenta conhecê-lo (faz ciência) e age sobre ele para transformá-lo (com o uso da técnica, do instrumento).
Reflita!
Reflexão
O conhecimento é uma forma de estar no mundo.
Tipologia do conhecimento
Uma das formas de se classificar o conhecimento pode ser: pessoal, particular (tácito) ou compar-
tilhado (explícito) com grupos de interesse.
• Conhecimento tácito
O homem conhece quando é capaz de reunir experiências, percepções sensoriais próprias e lembran-
ças, idéias formando novos conceitos. Nesse processo, ele está conferindo sentido à realidade que o cerca,
criando teorias, métodos, sentimentos, valores e habilidades que utilizará em sua vida. Conhecimento tácito,
portanto, pode ser definido como a forma pessoal, individual com que cada pessoa interpreta a realidade
que a cerca. Como é formado dentro de um contexto social e individual, conclui-se que o conhecimento
tácito representa uma realidade externamente provocada, mas internamente determinada. Esse tipo de co-
nhecimento é gerado pela pessoa em seu processo do viver do ser. Exemplos de conhecimento tácito são
as habilidades, como nadar, andar de bicicleta, etc., que são incorporadas ao ser. São conhecimentos difíceis
de serem externalizados, mas passíveis de serem comunicados, ensinados através da troca de informações
sobre ele. Pode-se concluir que as habilidades, competências, artes que envolvem prática — física e mental
—, adquiridas pelo treinamento, pertencem ao campo do conhecimento tácito.
• Conhecimento explícito
Embora gerado no indivíduo, de forma pessoal, o conhecimento pode ser construído, também, de
forma social, grupal. As pessoas mudam ou adaptam os conceitos através de suas experiências e utilizam a lin-
guagem para expressá-los, compartilhá-los, comunicá-los. Assim, a expressão acervo social do conhecimento,
conhecimento explícito ou conhecimento compartilhado significa que a experiência do indivíduo, tanto histó-
rica como biográfica, pode ser objetivada, conservada e acumulada, através do veículo da informação.
Tal processo de acumulação é transmitido de uma geração para outra e utilizado pelo indivíduo na vida
cotidiana e na convivência com seus pares. O conhecimento explícito é, pois, o conhecimento do individuo,
que foi exposto, explicitado, entendido, compartilhado com pessoas do mesmo grupo social, através do pro-
cesso de transmissão da informação. Exemplos: conhecimento organizacional, científico, cultural, profissional
etc. A experiência, adquirida através da troca de informações, da reflexão, os julgamentos de valor e as relações
do indivíduo com a sua rede social pertencem ao campo do conhecimento explícito, compartilhado.
Pesquisa e Interdisciplinaridade I 13
DEFINIÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DA
INTERDISCIPLINARIDADE
O que é Interdisciplinaridade?
Interdisciplinaridade é a integração de dois ou mais componentes curriculares na constru-
ção do conhecimento. A interdisciplinaridade surge como uma das respostas à necessidade de
uma reconciliação epistemológica, processo necessário devido à fragmentação dos conhecimentos
ocorrido com a Revolução Industrial e a necessidade de mão-de-obra especializada. A interdisci-
plinaridade buscou conciliar os conceitos pertencentes às diversas áreas do conhecimento a fim de
promover avanços, como a produção de novos conhecimentos ou mesmo novas sub-áreas.
E sua aplicação na produção do conhecimento?
Com o processo de especialização do saber a interdisciplinaridade mostrou-se como uma das
respostas para os problemas provocados pela excessiva compartimentalização do conhecimento.
No final do séc. XX surge a necessidade de mudanças nos métodos de ensino, buscando viabilizar
práticas interdisciplinares.
A não escolar difere da científica em termos de finalidades, objetos de estudo, resultados,
dentre outros.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Interdisciplinaridade
Você sabia?
Você sabia...
Além de ser um empreendimento de ordem filosófica, científica e educativa, a busca da
interdisciplinaridade corresponde a um desafio, por se constituir num ato político de extrema re-
levância para a consecução do atual projeto de formação do profissional contemporâneo. Este ato
implica um redimensionamento da função educativa e da relação escola-comunidade e docentes
profissionais-grupos das classes populares.
Reflita!
Para melhor compreender o conteúdo leia o texto a seguir:
Reflexão sobre a importância da Interdisciplinaridade
A busca de uma atitude interdisciplinar, quer na esfera da pesquisa, da prática social ou do
ensino, deve ser precedida de uma reavaliação do “papel da Ciência e do Saber em suas relações
com o poder”. Não se trata de criar uma superciência, mas de buscar a concorrência solidária das
várias disciplinas na construção da totalidade humana.
Pesquisa e Interdisciplinaridade I 15
unidade “cósmica” da Natureza, que incluía até mesmo o homem, dela parte integrante e contínua. To-
davia, a imposição e a predominância hegemônica de uma metodologia positivista levaram os cientistas a
uma fragmentação do Saber e ao sacrifício da unidade do real. Escravizando-se demais ao protocolo da
experiência, o Saber da Ciência positivista leva necessariamente à autonomizaçao dos vários aspectos de
manifestação do real. Assim, as intenções manifestas do Positivismo comtiano acabam perdendo terreno
para suas implicações latentes: a afirmação das especialidades prevalece sobre a busca do sistema do uni-
verso, convertendo-se antes na afirmação da sistematicidade do método.
O Positivismo torna-se, portanto, no limiar da contemporaneidade, o maior responsável pela frag-
mentação do Saber e o maior obstáculo à própria interdisciplinaridade. E com toda razão, dado que ele se
apresenta fundamentalmente como uma Filosofia da Ciência, tematizando de modo especifico a questão da
natureza, do processo e do alcance e validade do Saber científico, tendo, portanto, muita autoridade. Mar-
cou profundamente as feições da cultura contemporânea, de modo particular no aspecto epistemológico.
Consagra a proposta das especializações, que, se não chegaram a comprometer o esforço de unificação no
âmbito das Ciências Naturais, comprometeram-no, de forma inevitável, no âmbito das Ciências Humanas.
Por isso, buscar hoje caminhos de interdisciplinaridade é tarefa que inclui um necessário acerto de
contas com o Positivismo, bem como uma reavaliação de sua herança. É bom entender, no entanto, que
esta busca não significa a defesa de um saber genérico, enciclopédico, eclético ou sincrético. Não se trata
de substituir as especialidades por generalidades, nem o seu saber por um saber geral, sem especificações
e delimitações. Assim, já se esclarece um pouco mais o que vem a ser a unidade no interdisciplinar: o que
se busca é a substituição de uma Ciência fragmentada por uma Ciência unificada, ou melhor, pleiteia-se
por uma concepção unitária contra uma concepção fragmentária do Saber científico, o que repercutirá de
igual modo nas concepções de ensino, da pesquisa e da extensão.
Se, de um lado, é de se creditar ao projeto iluminista/positivista uma valiosa contribuição ao denun-
ciar e superar a generalidade da construção do Saber metafísico, livrando-nos, assim, do medo do mundo
da naturalidade, impõe-se hoje, de outro, debitar-lhe o ônus da fragmentação do Saber, o que exige igual-
mente a prática de uma denúncia e o esforço de superação dessa etapa da evolução do Saber. E isso não
só por motivos exclusivamente epistemológicos, mas, também, por motivos políticos. A concepção frag-
mentária da Ciência, tal qual foi consolidada pelo Positivismo no contexto do mundo contemporâneo, re-
laciona-se de forma íntima com um processo de divisão técnica do trabalho humano, que arrasta consigo
uma correspondente divisão social do trabalho, diluído no taylorismo da ação técnico-profissional. Isso
tem graves conseqüências na estruturação da sociedade e na alocação do poder político entre as classes
sociais. Além de base epistemológica do desenvolvimento científico e técnico, o Positivismo passou a ser
também o sustentáculo ideológico, extremamente consistente e resistente, do sistema de poder social e
político reinante nas sociedades modernas, sistema de poder este que se tem manifestado de modo fun-
damental como sistema de opressão, pelo que contradiz radicalmente as intenções declaradas do projeto
iluminista de fazer da Ciêrncia um instrumento de libertação dos homens.
É por isso que se pode afirmar com toda segurança que nenhuma revisão do Positivismo se fará de forma
válida num plano puramente epistemológico, sem uma crítica também radical de suas alianças e compromissos
ideológicos. Não basta torná-lo tecnicamente mais rigoroso, como pretende o empirismo lógico, nem suplantá-lo
no terreno das relações epistêmicas entre sujeito e objeto, como o faz, o mais das vezes, a Fenomenologia. Não
existe, isento de implicações ideológicas, um positivismo superior. Na realidade, a crítica epistemológica ao Positi-
vismo não tem a ver apenas com critérios técnicos e éticos: ela é necessariamente política.
Em busca de uma atitude interdisciplinar
É nessa linha de considerações que o problema do interdisciplinar se redimensiona. Não se trata
tanto de contrapor Epistemologia à Epistemologia, mas de reavaliar o papel da Ciência e do Saber em
suas relações com o poder. Daí, se uma visão interdisciplinar, unificada e convergente, se faz necessária
no âmbito da teoria, ela será exigida igualmente no âmbito da prática, seja esta a prática da intervenção
social, a prática pedagógica ou a prática da pesquisa.
Pesquisa e Interdisciplinaridade I 17
complementar dos subsídios fornecidos pelas várias Ciências. A intervenção práxica é o correspondente
social e concreto da “antropologia geral” de que se falou acima. Pressupõe, de forma necessária, uma
convergente colaboração dos especialistas das várias áreas das Ciências Humanas, evitando-se assim uma
hipertrofia, seja de uma fundamentação unidimensional, seja de uma intervenção puramente técnico-
profissional.
Ação pedagógica e interdisciplinaridade
Em quarto lugar, cabe destacar a extrema relevância da prática da interdisciplinaridade na esfera do
ensino. A questão aqui se torna crucial, dado o efeito multiplicador da ação pedagógica. A Educação é,
aliás, o exemplo, dos mais evidentes, da necessidade de uma abordagem interdisciplinar, seja como objeto
de conhecimento e de pesquisa, seja como espaço de intervenção sociocultural.
De modo geral, porém, como formar o profissional e o cientista a não ser sob um enfoque inter-
disciplinar? À luz do que já explicitei a respeito da natureza da Ciência e da produção do conhecimento,
é inevitável concluir que a autêntica iniciação à Ciência e à prática da pesquisa passa, de forma necessária,
por uma metodologia vazada na interdisciplinaridade. Lamentavelmente, os currículos plenos dos vários
cursos, na maioria dos casos, não garantem, com sistematicidade, essa exigência, que é pertinente também
aos cursos profissionalizantes.
Conclusão
Uma concepção unitária do Saber, tal qual visualizada numa perspectiva de interdisciplinaridade,
não significa que deva ser constituída uma espécie de superciência única, nem que o real seja algo intrin-
secamente homogêneo e indiferenciado. As diversas disciplinas continuam como válidas perspectivas de
abordagem dos diferentes aspectos do real. Para se constituir, a perspectiva interdisciplinar não opera
uma eliminação das diferenças: tanto quanto na vida em geral, reconhece as diferenças e as especificida-
des e convive com elas, sabendo, contudo, que elas se reencontram e se complementam, contraditória e
dialeticamente. O que de fato está em questão na postura de interdisciplinaridade, fundando-a, é o pres-
suposto epistemológico de acordo com o qual a verdade completa não ocorre numa Ciência isolada, mas
ela só se constitui num processo de concorrência solidária de várias disciplinas.
Além disso, a interdisciplinaridade implica, no plano prático-operacional, que se estabeleçam me-
canismos e estratégias de efetivação desse diálogo solidário no trabalho científico, tanto na prática da
pesquisa como naquela do ensino e da prestação de serviços. Não basta, por exemplo, uma estrutura
curricular com justaposição de disciplinas, se não houver em ação um processo vivificador de discussão
que explicite as correlações e reciprocidades de significação.
Finalmente gostaria de observar que a atitude interdisciplinar exige ainda a superação da
preconceituosa afirmação de incompatibilidade entre a Ciência e a Filosofia. O Saber humano vive
hoje uma grande época, tanto para a Ciência como para a Filosofia, que parecem ter encontrado
o segredo de uma coexistência pacífica. Essa convivência, porém, não é aquela que decorreria da
dissolução de uma na outra ou do predomínio de uma sobre a outra, ou ainda da pressuposição
da homogeneidade de seus objetos ou de seus métodos; ao contrário, é aquela da autonomia bem
definida de cada uma, da segurança da própria identidade assumida e cultivada. Estão definiti-
vamente superados tanto um metafisicismo dogmático como um cientificismo exacerbado. Hoje,
as Ciências dedicam-se, com a abrangência que seu método lhes pemtite, ao desvendamento de
todas as relações que tecem a realidade fenomenal, enquanto a Filosofia se expande em todas
as direções, com toda a liberdade de investigação que a razão natural lhe assegura, procurando
constituir o sentido, a significação dessa realidade. Enfim, consagra-se o reconhecimento da mul-
tiplicidade dos olhares do espírito sobre uma realidade multiforme. Todavia, ao mesmo tempo
consolida-se a convicção de que essa multiplicidade constitui uma rede única a testemunhar que,
na origem de tudo, está um espírito único a olhar para um único mundo.
alternativas que se apresentam aos cientistas sociais consiste em fazer um dos seguintes tipos de pesquisa:
a) comprometida com os grupos sociais mais necessitados de mudanças estruturais no sistema
socioeconômico;
b) colocada a serviço das organizações privadas que controlam boa parte da produção e distribui-
ção de bens e serviços;
Pesquisa e Interdisciplinaridade I 19
c) realizada em função de objetivos econômicos individuais: ingressar ou continuar em algum sis-
tema de estímulo à produtividade acadêmica.
Longe de ser patrimônio exclusivo de uma disciplina, a pesquisa dos fenômenos sociais necessi-
ta do concurso de diversas profissões que permitam, com suas respectivas abordagens e ferramentas
teórico-metodológicas, uma análise mais completa e congruente dos problemas. Isto é muito importante
porque o grau de complexidade dos processos sociais exige uma pesquisa integral de todos e cada um de
seus aspectos, uma pesquisa que proporcione um conhecimento mais profundo e objetivo da problemá-
tica em que se desenvolve a sociedade.
A análise dos fenômenos será mais objetiva e precisa se os pesquisadores procurarem apoio nas
abordagens de outras disciplinas sociais ou que estão relacionadas com elas.
A adoção desta postura é necessária, uma vez que o objeto e o sujeito da pesquisa social é o homem, a
família e os grupos sociais em contínua interação, do que resulta a criação de complexas redes de relações sociais e
a participação dos diversos atores sociais, de diferentes maneiras, no devir histórico da sociedade em que vivem.
Assim, a composição de equipes com pessoas de diferente formação profissional é imprescindível
no mundo atual da pesquisa, pois somente o esforço conjunto poderá resultar na realização de objetivos
de maior envergadura e em mais curtos prazos.
A soma das contribuições de todas as especialidades que podem convergir em uma equipe de tra-
balho facilitará a elaboração de uma proposta metodológica mais consistente, em termos teóricos, para
interpretar os fenômenos sociais.
Isso certamente vai abrir novas perspectivas para o trabalho científico no âmbito social, além de reduzir
as probabilidades de erros de avaliação e interpretação, tão freqüentes quando se lida com informação.
As equipes interdisciplinares devem ser formadas com pessoas que estejam cientes de perseguirem
objetivos comuns, que serão alcançados por meio da fixação de diretrizes e critérios de trabalho, sem que
isto limite de modo algum a discussão franca e criativa.
Finalmente, cumpre frisar que uma equipe de trabalho comprometida com os setores sociais mais neces-
sitados não considerará a pesquisa concluída simplesmente ao oferecer sugestões para resolver os problemas,
pois deverá buscar o modo de levar a efeito uma pesquisa-ação, envolvendo-se no projeto e na realizaçáo dos
programas de ação que surgirem nas repartições ou organismos em decorrência da pesquisa.
A ética é a parte da filosofia que estuda os valores morais da conduta humana, estabelecendo um
conjunto de princípios para os conceitos do bem e do mal, válido para um grupo social determinado,
profissional, político ou cultural, em determinada época.
A ciência experimental não pode, por uma exigência epistemológica intrínseca, ficar sem a expe-
rimentação: é exatamente nessa fronteira da experimentação, que se distinguem ciências empíricas e ci-
ências não empíricas. A história da ciência experimental viu crescer, dos tempos de Galileu até hoje, não
apenas o aprimoramento do método experimental, mas, igualmente, sua extensão e seu potencial.
A experimentação é necessária para o progresso da ciência em geral. Dentro da ciência e da pesqui-
sa científica, a dimensão cognitiva (conhecimento) e a dimensão utilitarista (uso do conhecimento) estão
presentes e são interdependentes. É óbvio, porém, que a tendência de dominação permeia uma e outra,
a ponto de perverter seus fins, seus métodos e meios.
Todo conhecimento leva a uma saída para o bem ou para o mal; todo domínio do mundo poderá estar
sujeito ao homem ou sujeitar o homem, de acordo com a ética que se insere nos processos e nos fins da ciência
e do poder do homem. De tudo o que mencionamos conclui-se, mais uma vez, que a ética é essencial como
dimensão de equilíbrio entre a natureza e a pessoa, entre a ciência e a tecnologia e a vida humana.
Ética pessoal ou da convicção x ética do grupo social ou da responsabilidade
• Ética da convicção ou ética pessoal
Código de valores, conjunto heurístico de normas e regras que regem a vida e a conduta pessoal
de cada pessoa. Esses valores fazem parte do caráter, da personalidade de cada um, e são elementos que
estruturam a sua moral; é a sua orientação social e humana. Ex.: uma pessoa que arrisca o seu emprego,
se recusando a participar de um processo de corrupção que poderá trazer grandes retornos financeiros,
mesmo que esta seja uma prática sem riscos e comum no ambiente, pelo fato de que tal condição não faz
parte do seu código de valores pessoais.
• Ética do grupo social ou da responsabilidade
Código de valores determinados pela cultura de um povo, um grupo social, uma organização e orien-
tados para os objetivos e fins do grupo. Estão relacionados com os interesses do grupo ou organização, em
torno dos quais os indivíduos pertencentes a esse grupo se orientam e se comportam. Não necessariamente
esses valores coincidem com os valores pessoais, com a ética pessoal de cada um, mas devem ser praticados,
pois é condição para a permanência no grupo. Ex.: um funcionário, ao atender um cliente, é desrespeitado
por ele, se sente agredido em seus princípios morais, mas aceita o tratamento indelicado porque a norma da
empresa, na qual trabalha e da qual precisa para sobreviver, é que o cliente tem sempre razão.
Fundada na “Nova Ética” ou “Ética do Homem Integral,” que visa recobrar a dignidade do ser
humano através do seu desenvolvimento integral, ou seja, o desenvolvimento de suas potencialidades em
todas as dimensões humanas.
Deste modo, a qualidade está nas pessoas, que devem ser íntegras, integradas e integralmente
desenvolvidas.
Nesse contexto, o homem é levado a retomar o seu papel de sujeito da ação de trabalhar, como
fonte digna de sua realização, desenvolvimento, contemplação e satisfação.
Pesquisa e Interdisciplinaridade I 21
Atividade Complementar
1. Por que a produção de conhecimento científico tem levado a humanidade tanto à evolução
quanto à sua destruição?
2. Visto que a produção de conhecimento não pára, aonde a ciência levará o homem?
3. A experiência tem demonstrado que o conhecimento científico tem levado o homem a especia-
lizar-se cada vez mais. Neste contexto, qual o papel da interdisciplinaridade na formação profissional?
4. É notável o avanço que a ciência atingiu nos últimos dois séculos, principalmente no que diz
respeito à produção de bens materiais. Que relação se pode fazer entre esta mesma evolução cientifica e
o agravamento dos problemas sociais no mundo?
Na Virada do Milênio
No encerramento deste século XX há uma difusa sensação de urgência tangível em muitos níveis,
como se realmente se aproximasse o fim de mais um éon (etimologicamente uma idade, uma vida ou um
período de tempo). É um momento de intensa expectativa, de luta, de esperanças e incertezas. Muitos
têm a impressão de que a grande força que determina a nossa realidade é o misterioso processo dialético
de construção da história, que neste século pareceu arremessar-se para uma grande desintegração de
todas as estruturas e fundamentações, como um triunfo do fluxo heracliteano (Heráclito de Éfeso acre-
ditava no contínuo devir). Perto do final de sua vida, Toynbee escreveu:
O Homem do presente há pouco tempo tornou-se consciente de que a História está se acelerando
– e a um ritmo veloz. A geração atual tem consciência desse aumento da aceleração no período de sua
própria vida; o avanço do conhecimento que o Homem tem de seu passado revelou, retrospectivamente,
que a aceleração começou a cerca de 30.000 anos...e que deu “grandes saltos” sucessivos com a invenção
da agricultura, com a aurora da civilização e com o progressivo domínio — especialmente nos últimos
dois séculos – das forças titânicas da Natureza. A aproximação do climax intuitivamente previsto pelos
profetas está sendo sentida, e temida, como um evento futuro. Hoje sua iminência não é um artigo de fé:
é um dado da observação e da experiência.
O que fizemos quando soltamos esta Terra de seu Sol? Para onde vai ela agora? Para onde estamos
indo? Para longe de todos os sóis? Não estamos permanentemente mergulhando? Para trás, para os la-
dos, para a frente, em todas as direções? Existirá ainda um em cima ou um embaixo? Não estaremos nos
desgarrando como se num infinito vazio? Não sentimos o hálito do espaço vazio? Ele não se tornou mais
frio? Não está a noite se fechando sobre nós?
Da mesma forma, o grande sociólogo Max Weber, que viu as inevitáveis conseqüências do desencan-
tamento do mundo do espírito moderno, viu também o escancarado vazio do relativismo deixado com a
dissolução da modernidade das visões de mundo tradicionais e percebeu que a Razão moderna, em que o
Iluminismo colocara todas as suas esperanças de liberdade e progresso humano, ainda que não pudesse em
seus próprios termos justificar valores universais para orientar a vida humana, de fato criara uma gaiola de
ferro de racionalidade burocrática que permeava todos os aspectos da existência moderna:
Ninguém sabe quem viverá nesta gaiola no futuro, ou se ao final desse extraordinário progresso
surgirão profetas inteiramente novos, se haverá um grande renascimento das velhas idéias e dos velhos
ideais, ou nada disso, talvez a petrificação mecanizada, enfeitada com uma espécie de empáfia desordena-
da. Poder-se-ia muito bem dizer do último estágio desse progresso cultural: “Especialistas sem espírito,
sensualistas sem coração; esta nulidade imagina ter atingido um grau de civilização jamais obtido.”
“Somente um deus pode nos salvar’, disse Heidegger no final de sua vida. Jung, no fim da sua, ao
comparar nossa era ao início da Era Cristã há dois milênios, escreveu:
Um clima de destruição e renovação universal colocou sua marca em nossa era. Este clima se faz
sentir por toda parte, política, social e filosoficamente. Vivemos no que os gregos chamavam de kairos
- o momento certo - para uma “metamorfose dos deuses”, dos princípios e símbolo fundamentais. Essa
Pesquisa e Interdisciplinaridade I 23
peculiaridade de nosso tempo, que certamente não foi uma escolha nossa, é a expressão do Homem in-
consciente dentro de nós que está mudando. As gerações futuras terão de levar em conta esta importante
transformação, para que a Humanidade não se destrua por meio de sua própria tecnologia e ciência.
Portanto, o Desenvolvimento Humano consiste essencialmente em, além de proporcionar um elevado
crescimento das técnicas de produção e outras mais, ter seu escopo fundamental no favorecimento do
aprimoramento das potencialidades idiossincráticas que nos fazem ser tal qual somos, pessoas.
Nosso momento na História é realmente cheio de promessas. Como civilização e como espécie,
chegamos ao momento da verdade; o futuro da mente humana e o futuro do Planeta estão na balança. Se
alguma vez foram necessárias coragem, profundidade e clareza de visão, entre outras qualidades, é agora.
Contudo, essa mesma necessidade talvez possa chamar a coragem e a criatividade de que agora precisa-
mos. Deixemos as últimas palavras desse épico interminado para o Zaratustra de Nietzsche:
E como poderia eu agüentar ser um homem, se o Homem não fosse também poeta e leitor de
enigmas e... um caminho para novos inícios.
Após a compreensão dos novos conceitos e desafios do novo milênio, podemos perguntar: Que fatos
ocorreram ao longo do processo histórico que favoreceram o desenvolvimento humano e de que forma estes
mesmos fatos interferiram na construção deste novo perfil de homem e/ou profissional do século. XXI?
A Formação do Homem Integral
Pesquisa e Interdisciplinaridade I 25
CONCEPÇÃO HOLÍSTICA E DESENVOLVIMENTO
HUMANO
Pesquisa e Interdisciplinaridade I 27
O DESAFIO DO NOVO PARADIGMA DO
CONHECIMENTO
O que é paradigma?
Lembremos que um paradigma é um conjunto de regras que define qual deve ser o compor-
tamento e a maneira de resolver problemas dentro de alguns limites definidos para que possa ter
êxito. Um paradigma condiciona nossa “visão do mundo”, a perspectiva com a qual abordamos os
temas e nos relacionamos com o exterior. Segundo Kuhn, quando um paradigma não pode resolver
os problemas que surgem, a necessidade de uma mudança vai aumentando.
A vida de um paradigma passa por três fases, que vão desde uma etapa inicial de incorporação lenta,
uma fase intermediária de ritmo rápido e produtivo, e uma fase de declínio, quando começa a deixar de ser
útil. Mudando o paradigma, mudam-se as regras e, mudando as regras, mudam-se todas as outras coisas.
É difícil afirmar se estamos ou não diante de um processo de mudança de paradigma, mas o que po-
demos constatar é a existência de uma forte representação de reflexões a partir dos mais diversos âmbitos da
cultura que nos mostra as deficiências do paradigma vigente (Yus Ramos, 1997). Diante dessas deficiências
foram dadas respostas contraculturais diversas, algumas delas possivelmente transitórias até que se fixe um
novo paradigma. Dentro desse conjunto de respostas encontram-se as propostas de uma visão holística do
mundo que, na área da educação, levaria a propostas como as descritas anteriormente.
Capra (1994) afirma que estamos diante de um processo de mudança de paradigma, diante de uma evidente
“crise de percepção” segundo a qual o paradigma que vem dominando o mundo ocidental desde a Ilustração, o
paradigma mecanicista (também conhecido como analítico), não só está deixando de ser útil para as metas atuais
como está provocando danos consideráveis em todas as escalas (devido à onipresença de todo paradigma).
Novos Paradigmas
Diante dessa defasagem vai surgindo de maneira progressiva um novo paradigma, chamado sistêmi-
co ou holístico, que começa a dar algumas respostas mais acertadas para os problemas que temos na atua-
lidade em todos os terrenos da atividade humana e planetária. Em linhas gerais, o paradigma mecanicista
nos proporcionou uma ferramenta poderosa para o avanço científico e tecnológico, mas isso às custas
de uma visão distorcida da natureza (sua dimensão material), de incentivar uma visão compartimentada
do mundo, separando o homem do resto da natureza, a mente ou a alma do corpo e, conseqüentemente,
exigindo uma especialização precoce no âmbito educativo, esquecendo daquelas dimensões humanas que
são essenciais para uma formação integral.
O paradigma sistêmico, com sua concepção holística, pretende recompor muitas das rupturas gera-
das pelo paradigma mecanicista, buscando essa conexão homem/natureza e mente/corpo que havíamos
perdido, para que com isso possamos reconectar-nos com o todo do qual fazemos parte e, assim, come-
çar um novo tipo de relação com nossos semelhantes e com a natureza em geral.
Alguns autores, como R. Mifler (1997), estão convencidos de que o holismo se situa dentro das
correntes contraculturais da pós-modernidade. Sem dúvida a pós-modernidade foi uma reação cultural
contra a precariedade e os excessos da modernidade, embora, segundo outros autores, continue sendo
insuficiente para dar resposta aos problemas enfrentados pela humanidade. Por isso é que somos mais
partidários de situar o holismo no terreno de um paradigma novo, embora possamos considerar a reação
pós-moderna como sintoma desse processo de mudança.
Realmente um número crescente de pensadores competentes (filósofos, cientistas, teólogos, soci-
ólogos, historiadores, ensaístas e teóricos educativos) tem articulado uma visão pós-moderna da cultura,
arraigada na sabedoria espiritual e ecológica, na comunidade democrática e em um profundo apreço pelos
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gradual da água, do solo e do ar da Terra por venenos químicos e radiação, de eliminação de milhares de
espécies de plantas e animais, assim como a maioria das áreas silvestres que restam na Terra, além da pos-
sibilidade de que a atmosfera já não possa mais nos proteger do aquecimento global ou da radiação can-
cerígena do espaço. Uma orientação humanizadora exige que voltemos a ter uma relação mais orgânica
com o mundo natural. E um reconhecimento de que, para a razão utilitária, falta a sabedoria de manipular
a natureza com poder auto-assegurador, sem conseqüências catastrófícas. Uma relação orgânica com a
natureza começa com a afirmação de que não existe riqueza, mas vida; embora possamos ficar deslum-
brados e iludidos com nossa habilidade tecnológica, em última instância, estamos esgotando a fonte de
tudo o que mantém e enriquece a vida. A existência humana está sendo delicadamente embalada no útero
da natureza e, finalmente, depende das conexões intrincadas, muitas vezes inconscientes e não-racionais,
com o mundo natural no alimento físico, psicológico e espiritual.
4. O século XXI aponta para uma nova era para a humanidade. Em que medida a nossa formação
profissional tem dado conta desta nova perspectiva?
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Glossário
▄ ANALOGIA – Equivalente à proporção de igualdade de relações.
▄ ANTROPOCENTRISMO – Que considera o homem como o centro ou a medida do Universo,
sendo-lhe por isso destinadas todas as coisas.
▄ DIALÉTICO – É o processo em que há uma tese a ser refutada e que supõe, portanto, duas teses
em conflito proporcionando um salto qualitativo, que é a síntese.
▄ ÉTICA – Ciência do fim para o qual a conduta dos homens deve ser orientada.
▄ EXEQÜÍVEIS – Executáveis.
▄ HOLISMO – Teoria segundo a qual o homem é um todo indivisível e que não pode ser explicado
pelos seus distintos componentes (físico, psicológico ou psíquico), considerados separadamente;
holística.
▄ IDIOSSINCRÁTICAS – Características natas do indivíduo que o fazem ser tal qual é.
▄ INEXORÁVEL – implacável; austero; inflexível.
▄ INTEGRAL – Estado em que o indivíduo encontra-se formado e unificado.
▄ PARADIGMA – Modelo; padrão.
▄ RELATIVISMO – Doutrina que afirma a relatividade do conhecimento, visão do sujeito sobre o
objeto, ação recíproca sujeito-objeto.
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. Ed. Martins Fontes. São Paulo. 2000.
FAZENDA, Ivani C. Arantes. Interdisciplinaridade: história, teoria e pesquisa. 8 ed. Campinas, SP:
Papirus, 1994.
JOHNSON, Allan G. Dicionário de Sociologia: Guia prático da linguagem sociológica; tradução, Ruy
Jungmann; consultoria, Renato Lessa. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997.
RICHARDSON, Roberto Jarry. Pesquisa social: métodos e técnicas. São Paulo: Atlas, 1999.
SILVA, Antonio Carlos Ribeiro da. Metodologia da Pesquisa Aplicada à Contabilidade: Orientações
de estudos, projetos, artigos, relatórios, monografias, dissertação, teses. São Paulo: Atlas, 2003.
SORIANO, Raúl Rojas. Manuel de pesquisa social. Petrópolis, RJ: Vozes, 2004.
TARNAS, Richard. A epopéia do pensamento oriental: para compreender as idéias que moldaram
nossa visão de mundo; tradução de Beatriz Sidou. 4 ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001.
YUS, Rafael. Educação integral: uma educação holística para o século XXI. Porto Alegre: Artmed,
2002.
SITES
http://pt.wikipedia.org/wiki/Interdisciplinaridade
http://www.educacional.com.br/articulistas/outrosEducacao_artigo.asp?artigo=cosme0001
http://www.priberam.pt/dlpo/
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ANOTAÇÕES
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