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Outro componente da crise de 29, após a quebra da Bolsa de Nova York, em função
da seca em grandes extensões dos EUA. Esse desequilíbrio provocou a migração de
grande massa de trabalhadores, que se sujeitavam a salários muito baixos e
eram incapazes de consumir o que havia sido produzido.
A crise atual é típica do capitalismo moderno, com foco exclusivamente financeiro. Não
há um lastro compatível com a riqueza gerada (em função, principalmente, da elevada e
contínua inflação dos preços). Ela é uma novidade para o Mundo. A velocidade
das transações nas diversas bolsas em vários continentes – de forma instantânea – traz
um componente novo.
Há muitas coisas a serem analisadas como: crise de energia (inclusive da recente e forte
queda no preço do petróleo); situação em Gaza e posse do novo Presidente nos EUA;
reordenamento dos países desenvolvidos; aumento da importância dos emergentes no
contexto global; cataclismas naturais, isso para ficar apenas em alguns itens.
É nessa esteira que o Brasil pode sofrer conseqüências com a crise. Mesmo em alguns
estados, que como o Paraná, tenha sua produção agrícola baseada em
Cooperativas, fortalecidas e com recursos para financiar uma parte da produção de seus
cooperados.
Uma possível conseqüência futura ao Brasil, caso haja restrição exagerada do crédito
agropastoril, será a inflação, gerada pela redução de bens disponíveis com conseqüente
aumento de preços e sem recursos ao consumo, visto que a massa dos salários também
seria reduzida.
Neste momento venho observando que as demissões em parte das indústrias vem se
processando como uma higienização dos salários; ou seja: cortam-se os maiores salários
que são substituídos por pessoas com salários de iniciantes. Pode ser um programa
válido, caso não haja uma pressão sobre a produção.
De qualquer forma, entendo que especular sobre o futuro é fazer um lance de dados,
com alguma probabilidade de acerto (e muitas de erro).
A situação brasileira é caótica sob o ponto de vista dos investimentos públicos, dentre
tantas que a mazela pública nos tem proporcionado ao longo de muitos anos.
A gangorra na Bolsa de Valores, bem como na taxa cambial, são condições que devem
continuar até que “o Capital” consiga se reequilibrar com as perdas recentes. A euforia
que toma conta das bolsas no mundo todo apenas revela que grandes capitalistas estão
gerando expectativas positivas aos pequenos e médios investidores, para que estes
apostem e possivelmente percam suas economias seguidamente. Neste momento as
bolsas são o ambiente mais sintomático dessa contínua transferência de recursos. Fixar-
se nelas, e tentar entender os mecanismos de altas e baixas sucessivas, gerará
ansiedade e medo.
Claro que devem ser adotadas algumas medidas padrão, que poderiam (e deveriam) ser
tomadas anteriormente, como por exemplo:
8. Etc.
As pequenas empresas são uma garantia de que haverá trabalho e emprego à maioria
das pessoas. São geradoras naturais de riqueza. Seu primeiro passo, entretanto, deve
estar alinhado com mudanças estruturais (inclusive com a reciclagem do próprio
empreendedor, que deverá ouvir consultores especializados, que contribuirão com o
realinhamento mais rápido e eficiente da organização); especialmente na melhoria de
controles internos e busca na redução de custos mantendo a qualidade ou, até mesmo,
melhorando a qualidade sem grandes mudanças no custo (aqui entra a inovação).
Às médias empresas (os primeiros passos) ficam além da busca das melhores
oportunidades do mercado na colocação de seus produtos, no aprimoramento dos
controles internos e qualidade na informação e comunicação, especialmente interna, que
proporcionará o gás motivador às equipes. Caso ainda não tenham buscado ativos
ocultos existentes na empresa é o momento de dedicar atenção a isso. Há sempre boas
oportunidades a serem descobertas no passado das empresas (aqui, especificamente,
falo de apuração de créditos tributários; realização de ativos incorporados ao longo dos
anos e que não contribuem com a geração de renda, etc.).
Creio que ao adotar uma posição de sintonia com o mercado, criando cenários possíveis
de serem perseguidos e atingidos, estamos visualizando as oportunidades onde
podermos atuar com maior facilidade. Especialmente na área de comércio e serviços
buscando capacitar as pessoas responsáveis pelo atendimento ao público. A maioria
perde bons negócios por falhas grosseiras no atendimento. Na produção as ações são
mais complexas. Cada decisão deve ter um cenário de no mínimo 6 meses à frente. Para
isso a empresa deve contar com analistas experientes que possam estabelecer metas de
produção e tipos de produtos a serem colocados nos vários mercados. As indústrias
devem, então, contar com pesquisas permanentes de mercado. É claro que custa um
bom preço. Errar uma produção, entretanto, pode custar uma fábrica!
Boa parte das ações possíveis de serem adotadas já foi mencionada. Um realinhamento
estratégico é muito importante, assim como uma cuidadosa revisão de custos e análise
do retorno dos investimentos já realizados e/ou em andamento.
8. Qual a sua opinião sobre as medidas que o governo brasileiro vem tomando
em função da crise, como a redução de IPI para veículos e, mais recentemente,
campanhas para os brasileiros consumir mais (o próprio Lula, em cadeia
nacional, exortou o povo brasileiro a comprar mais neste natal), são corretas?
Por que?
[Siqueira] Ainda que o Governo possa apresentar uma dose de otimismo, deve manter
uma posição de permanente alerta para enfrentamento da crise, dependendo do rumo
que esta tomar. Ela não será passageira; já que estamos num ambiente globalizado e
sem a perfeita noção das possíveis ameaças e riscos inerentes. Não adianta acertarmos
os nomes dos culpados se, no final, sofrermos conseqüências danosas em nossa
economia, que é muito frágil e não tem tanta robustez como as apregoadas
nos palanques.
As medidas adotadas, até agora, podem atender a uma pequena parcela de agentes.
Baixar impostos, como forma de continuar a promover a venda de bens, promover o
consumismo como forma de passar pela crise, são campanhas insustentáveis. É
necessário que o governo comece a adotar medidas efetivas de mudança como:
criterioso ajuste fiscal, redução de gastos públicos; criação de incentivos objetivos para a
produção agro pastoril e de produtos de exportação. Adotar uma política tributária que
incentive a geração de renda, sem penalizar a produção. Ter sabedoria na escolha dos
investimentos públicos a serem continuados.
Elevar a disponibilidade de créditos (com uma política de juros mais adequada) para as
atividades produtivas e que dependem de crédito para a geração de riquezas. Somos um
país privilegiado e muito rico. Temos abundância de água e muita energia do Sol. Esses
dois componentes, escassos na maior parte dos continentes são um diferencial
extremamente importante a ser aproveitado. Não se trata de desmatar a Amazônia ou
promover a destruição do Cerrado. Basta mantermos as áreas de produção existentes
ativas. Elaborar um planejamento agrícola e pastoril, com indicação dos preços mínimos
a serem garantidos em cada safra; evitando o desabastecimento futuro e pressões
inflacionárias mais complexas de serem controladas. O que o Governo precisa, portanto,
é de mais ação efetiva e menos discurso.
Com relação ao otimismo apresentado pelo governo parece que é um novo modelo
adotado para enfrentamento de crises. Se os trabalhadores não estiverem “antenados”
com as oportunidades e necessidades do mercado irão, provavelmente, ficar sem
emprego e muito pessimistas. Talvez até mais do que o que poderia ser considerado
razoável. É tudo uma questão de momento.
No Brasil também temos esse tipo de ação irresponsável por parte do governo, que foi
rapidamente adotada por alguns agentes financeiros. A ampliação do crédito consignado,
por exemplo, gerou a elevação de nosso PIB (e conseqüentemente a indesejada elevação
dos gastos de custeio do governo, que é balizada pela expectativa de receitas), sem
lastro real. Essa bolha gerada há alguns anos na economia brasileira também pode
estourar a qualquer momento. Por isso o governo acena com uma “atitude otimista” para
que todos continuem consumindo; pedalando cada vez mais forte a bicicleta ribanceira
abaixo. Pode até parecer bom, enquanto a bicicleta está em pé e acreditamos que a
mantemos sob nosso controle.
Nas empresas a gestão adotada premiava os executivos que produziam lucros e geravam
gordos dividendos. Mesmo que estes fossem gerados em operação de elevado risco.
Infelizmente os investidores, no mundo todo, somente acordam e passam a reclamar
quando a “brincadeira acaba”. Antes, mantêm um ar “apatetado” de que “tá tudo indo
bem na minha empresa. Nosso Presidente é um exímio financista e sabe fazer dinheiro
como poucos”. Portanto a gestão temerária passou a ser estimulada até o limite, que
ninguém sabia onde seria. A euforia fez com que acreditassem na imutabilidade da
situação. Todos viviam alimentando a grande pirâmide dos sonhos.
Sabemos que – agora – muitos desses executivos foram demitidos e substituídos. Isso é
uma forma que os Conselhos de Administração e Membros das Governanças
Corporativas têm para renovar “o otimismo de seus investidores”. Passam a buscar
outras formas para gerar seus lucros e continuarem a distribuir seus gordos dividendos e
altíssimos salários aos seus primeiros executivos.
No fundo – ainda que alardeiem aos quatro cantos – falta transparência, além da adoção
de outras métricas que não as exclusivamente financeiras.
A crise tem conotação política quando há falta de um Plano de Governo, que possa cuidar
do desenvolvimento sustentado do país. A carga tributária em relação ao PIB mostra que
o modelo pode exaurir-se de um momento para outro, com conseqüências inimagináveis.
É preciso dar início imediato às reformas no País. A ordem que acredito mais natural é a
seguinte:
a) Reforma Política;
b) Reforma Administrativa;
c) Reforma Fiscal;
d) Reforma Previdenciária; e,
e) Reforma Tributária.
Caso estas sejam julgadas muito distantes de serem realizadas, nessa ou outra ordem,
quem sabe bastaria uma reforma fiscal, onde o governo ajustasse seus gastos ao mínimo
necessário, sem o esbanjamento que presenciamos há tanto tempo.