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A Biografia de Antónia Pusich

Pequisado por Dr. Azágua

Nacionalidade Cabo-Verdiana (1805 - 1883)

A Primeira Jornalista Portuguesa

Os cultores mais conhecidos da poesia pré-claridosa, como


Guilherme Dantas, Augusto Barreto, Luis Medina, Rodrigues Aleixo,
Gertrudes Ferreira Lima, Januário Leite, Eugénio Tavares, Pedro Cardoso, José Lopes e tantos
outros, a poetisa Antónia Pusich, vamos incluir, de direito, possivelmente o membro mais antigo
dessa ilustre confraria pré-claridosa, pois nasceu na ilha de São Nicolau, em 1805, tendo falecido
em Lisboa a 6 de Outubro do ano de 1883.
Deixo aqui quatro quadras que dedicou à sua ilha berço, segundo se diz quando partia para se
fixar definitivamente em Portugal:

Eu vos saúdo, majestosas


serras,
montes e vales, verdejantes
plagas!
doce mistérioque na gruta
encerras
perfumes da tarde, harmonias
vagas!

Eu vos saúdo, laranjas


floridos,
ribeiro manso que o luar
prateia!
celestes lumes da amplidão
caídos
frondente ramo que p’ra deus
s’alteia!

Eu vos saúdo, todos vós,


n’estância
e, hoje, a mente nesta angústia
hora
relembra mais a minha doce
infância
prazer suave que minh’alma
adora.

Oh! como sinto um turbilhão de


ideias
aqui sozinha contemplando os
montes,
virentes cumes, cristalinas
veias,
ouvindo, meigo, o sussurrar das
fontes!
Numa época em que as mulheres estavam confinadas à família, à música e aos
bordados, Antónia Pusich defendeu que deveriam também aprender a ler e a
escrever para poderem participar na vida social e política do País. Através dos
jornais que fundou despertou nas mulheres o sentido cívico que viria a ser uma
realidade nos séculos que se lhe seguiram. Conhece-a e admire-a.

Antónia Gertrudes Pusich foi a primeira mulher em Portugal que, como jornalista e
directora de publicações periódicas, pôs o seu nome no cabeçalho, sem se esconder, como até
aí outras mulheres o haviam feito, atrás de um pseudónimo masculino.
Desde nova que Antónia começou a rabiscar os primeiros versos. Com a educação que o
pai lhe dera e os muitos livros de que a rodeou, sabemos que tinha conhecimento de várias
línguas e que escrevia desde nova. A vida de casada e os três casamentos, bem como as
adversidades da vida, só lhe permitiram que publicasse pela primeira vez em 1841. A sua obra
mais conhecida é Olinda ou a Abadia de Comnor Place. de 1848. No prefácio do livro, Antónia
Pusich conta que a ideia de escrever aquele romance lhe surgiu depois de ler uma novela de
Walter Scott. De facto, no seu livro não faltam todos os ingredientes dos contos de terror, mais
ao gosto das brumas britânicas que do nosso sol português, onde não faltam, como refere a
investigadora Maria Leonor Machado de Sousa, «tradição, castelos, subterrâneos, ruínas,
narcóticos, fugas, salteadores, mortes, tempestades e até um espectro».
Antónia Gertudes Pusich também escreveu sobre membros da família real, que sempre
dedicou à sua família e a ela própria uma grande amizade, sendo mesmo íntima amiga da
infanta Isabel Maria. A longevidade da escritora permitiu-lhe atravessar diversos reinados - de
D. Maria I até ao reinado de D. Luís.
A sua obra literária é extensa e sabe-se que recorreu à escrita para custear as despesas
da sua numerosa família. Embora muitos dos seus livros só interessem a investigadores, a sua
escrita como jornalista e como fundadora de três periódicos ainda se lê com interesse e
agrado. Fundou A Cruzada, A Beneficência e A Assembleia Literária que são testemunho de
uma faceta de pedagoga e interveniente na vida social e política. Grande sucesso teve, no
Teatro Normal, a apresentação da sua peça Constança ou o Amor Maternal, drama
autobiográfico. No fim da representação apareceu no palco com as duas filllas mais novas,
tendo sido muito aplaudida.

Em pequena colaborava com os pais no apoio às populações de Cabo Verde

Antónia Gertrudes Pusich nasceu em Cabo Verde a 1 de Outubro de 1805 e foi a quinta filha de
António Pusich, originário da cidade de Ragusa, conhecida em croata pelo nome de
Dubrovnik, e de uma portuguesa, Ana Isabel Nunes. António Pusich pertencia à nobreza que
se dedicara à navegação comercial e era herdeiro de uma considerável fortuna. Segundo a
tradição, ele deveria comandar os navios da frota de seu pai que lhe coubessem por herança.
Entretanto, recebera uma educação primorosa, como competia aos varões ilustres do seu
tempo, estudando em diversas cidades italianas.
Terminados os estudos e preparação na Marinha, António Pusich viajou por quase
todos os países da Europa. Foi em Turim que o nobre de Ragusa conheceu Rodrigo de Sousa
Coutinho, embaixador de Portugal naquela cidade do Piemonte, e que o viria a convidar a
visitar Portugal.
Em Lisboa, a cultura, o charme, a bela e aprumada figura de António Pusich, com os
seus cabelos loiros, os olhos azuis, abonaram decisivamente a seu favor. Não é de admirar,
pois, que ao ser apresentado a D. Maria I, esta lhe peça que lhe traga relíquias de santos e
esculturas italianas para o mosteiro do Santíssimo Coração de Jesus (Basílica da Estrela) que
estava em fase adiantada e que ficaria pronto em 1790.
António Pusich foi, de facto, o responsável pelo transporte, por barco, da estátua de
Santa Teresa de Jesus que está naquela basílica, sendo considerado um benfeitor pela rainha,
que era muito religiosa, e pelas freiras que ocuparam o convento. Mais tarde, Pusich viria a
comprar propriedades naquela zona onde mandou edificar casas.
Numa das suas viagens de regresso a Itália, António Pusich vem acompanhado de
Franzini, célebre astrónomo e cardeal, que viria a ser um dos mestres dos príncipes, filhos de
D. Maria I e de seu marido e tio D. Pedro III. Não podiam ter sido melhores as relações entre
este estrangeiro e a família real portuguesa, como a história se encarregaria de o demonstrar.
Um dia, António Pusich é convidado para uma recepção no Palácio de Queluz. É aí que
conhece aquela que iria a ser sua mulher, Ana Maria Isabel Nunes, filha de Manuel Nunes,
valido da rainha D. Maria I e educador dos infantes mais velhos, D. José e D. João. Como
capitão-do-mar de Sintra e Ericeira, Manuel Nunes fez parte da comitiva que foi buscar a
Espanha, em 1785, a princesa Carlota Joaquina, que viria a casar com o futuro rei D. João VI.
O romance entre António Pusich e Ana Nunes acabou em casamento, com o apoio da
própria rainha. Porém, a noiva pôs uma condição: casava, mas não sairia de Portugal. Como
filha única, não queria deixar os pais. Não sabemos se António Pusich terá hesitado perante o
pedido. O certo é que vai a Ragusa tratar dos seus negócios, deixar a mãe como sua herdeira,
participar à família o seu enlace e regressa a Portugal. O ministro Martinho de MeIo e Castro
garante-lhe um emprego compatível com as suas muitas habilitações, ao serviço da corte
portuguesa. Como sabemos, a Marinha portuguesa gozava, nessa época, de grande prestígio e
mais um homem do mar era bem-vindo.
Os pais de Antónia Gertrudes Pusich casam na capela do Paço de Queluz, em 25 de
Agosto de 1791.
António Pusich foi acumulando distinções e subindo de posto com regularidade. Em
1798 é responsável pelo brigue Dragão. No ano seguinte, já comanda um bergantim de nome
Balão que aporta às ilhas de Cabo Verde. Em 18 de Março de 1801, é nomeado intendente da
Marinha de Cabo Verde e Capitão-de-Fragata graduado. Será posteriormente nomeado
Governador daquelas ilhas, a partir de 1818. Sabemos pela filha - que mais tarde escreve a
biografia do pai - que este foi o único Intendente da Marinha das Ilhas de Cabo Verde, cargo
que exerceu durante oito anos. Foi em 1805 que nasceu, na Ilha de São Nicolau, Antónia
Gertrudes Pusich, tendo sido o padrinho de baptismo o príncipe regente que se fez representar
por um irmão da neófita. Foi para assinalar este nascimento que o pai mandou erigir a capela
de Santo António dos Navegantes no Porto Preguiça, que ainda existe.
É Antónia Gertrudes Pusich que nos conta como ela, em pequena, colaborava com os
pais no apoio às populações de Cabo Verde, tantas e tantas vezes assoladas por doenças e
privações, devido a secas prolongadas e cíclicas. O pai, que ela não deixa nunca de elogiar,
teria acabado, naquelas ilhas, com costumes bárbaros, como eram os castigos corporais em
público, que o governador anterior cometia contra a população, que era praticamente
escravizada.

Não apenas coser, pintar e bordar

«Nos outros colégios do Estado e ainda nas escolas particulares igual esmero se vai tendo com a
instrução dos meninos e honra seja feita aos professores e directores desses colégios. Mas as
meninas!... As meninas imploram atenção, e de todas as pessoas que nutrem sentimentos de
humanidade e desejos de ver prosperar a sua pátria.[...]. Enquanto em nossa terra as mulheres
não tiverem a precisa instrução literária, ensinam a coser, marcar, bordar, música, etc. Porém a
ler, escrever, contar, etc., não. E ainda menos outros estudos. Que mal pode ensinar alguém o
que mal sabe... Poucas senhoras sabem escrever bem [...]. Aparecem numa sociedade, ostentam
uma brilhante conversação, fazem uma elegante figura... encantam os espectadores...
seduzem... adquirem nomeada, estudam todas essas aparências fosfóricas (sic); vai um sábio
entrar com elas em discurso... onde está o espírito dessas fascinantes beldades?... Evaporou-se!
Nem sabem dar uma razão do que dizem.»

Antónia Pusich, 25 de Agosto de 1849

Desde pequena que Antónia Gertrudes acompanhava o pai nas suas viagens pelas ilhas
de Cabo Verde. Era ela também que lhe servia de secretária para redigir certos documentos.
Em 1820, dá-se a Revolução Liberal no Porto e as notícias chegam à Ilha de S. Tiago, em
Cabo Verde, em 24 de Agosto. Para António Pusich e família. fiéis à: monarquia, iria começar
um período de infortúnio e de humilhações. No ano seguinte, ainda como Governador de Cabo
Verde, recusa-se a jurar a Carta Constitucional, sem prévia ordem do rei. Para o efeito, manda o
filho Pedro António ao Brasil aconselhar-se com o monarca mas o rei, entretanto, já embarcara
para Lisboa. A instabilidade nas ilhas de Cabo Verde era enorme. Havia muita gente com poder
económico que queria ver o Governador afastado das suas funções, embora grande parte da
população das Ilhas estivesse do lado de António Pusich. É certo que ele desde sempre sentira
que havia muita gente na corte de D. Maria I e depois de D. João VI que não via com bons olhos
as atenções e cargos que os monarcas davam "àquele estrangeiro", como diziam. Diziam mesmo
que ele não era merecedor dos cargos, pois "havia nacionais habilitados nas Academias
(portuguesas) que o rei devia preferir ao estrangeiro". As eternas invejas e intrigas que rodeiam
o poder só que ele não era estrangeiro pois, ao casar com uma portuguesa, tinha adquirido a
nacionalidade portuguesa. Pusich, acompanhado da família, chegou a Lisboa, em Setembro de
1821 e foi impedido de desembarcar pelas forças governativas, tendo de aguardar que o próprio
rei ficasse como seu fiador. Só então desembarcou.
Antónia Gertrudes Pusich casara pela primeira vez, muito nova, em 1820, com o
desembargador João Cardoso de Almeida Amado Viana Coelho, deputado às cortes de 1820,
de quem teve seis filhos: João António, Antónia, Alfredo, Maria, Ana e Ema. Esta última filha
deste primeiro casamento casaria com Humberto de Luna da Costa Freire e Oliveira, que
chegou a coronel. Foi republicano e apoiou Sidónio Pais. Viria a aderir ao movimento
revolucionário de 28 de Maio de 1926.
O segundo casamento de Antónia Pusich foi, em 1830, com o comendador Francisco
Henriques Teixeira, que esteve do lado de D. Miguel. Deste casamento nasceu Miguel (Pusich
Henriques Teixeira). Tendo enviuvado pela segunda vez, Antónia Gertrudes Pusich casa uma
terceira vez, em 16 de Abril de 1836, na Igreja de Santa Isabel, em Lisboa, com o capitão José
Roberto de Melo Fernandes e Almeida. Tiveram vários filhos, a saber: António (Pusich de
Melo) : Antónia (Pusich de Melo), Ana Isabel Filomena (Pusich de Melo) e Maria Amélia
(Pusich de Melo).
Os muitos descendentes que ainda são vivos têm um grande orgulho da grande
jornalista que ela foi.
Antónia Gertrudes Pusich, monárquica e profundamente religiosa, morreu a 6 de
Outubro de 1883. A sua obra merece uma nova leitura. Ela não pode ficar confinada às
estantes das bibliotecas nem à lápide que a Câmara Municipal lhe colocou na última casa onde
morou, na Rua de São Bento, em Lisboa.

TRÊS JORNAIS FUNDADOS POR ANTÓNIA PUSICH

A TESTEMUNHAR A SUA INTERVENÇÃO NA PEDAGOGIA E NA VIDA SOCIAL E


POLÍTICA:

 A Assembléia Literária, (jornal d’instrução)


 A Cruzada, (jornal religioso e literário) e
 A Beneficencia (jornal religioso e literário).

Tenham uma boa leitura!

Referências:

http://www.oleme.pt
revista claridade (1 página solta e sem data)

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