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A FUNÇÃO SOCIAL DA ESCOLA: ENSINAR

Ronivaldo de Oliveira
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Sheila Delgado Soares

Quando se pensa na função social da escola e pergunta-se para que


ela serve, a primeira que nos vem à mente é: a escola serve para ensinar. Mas ensinar
a quem? O que ensinar? Como ensinar?
Essas mesmas dúvidas passam pela cabeça dos profissionais da
educação em cada início de ano letivo, pois, afinal, serão pessoas diferentes, com tipos
de aprendizagem diferentes as quais o professor terá que se adaptar. A cada ano que
passa, a escola se renova, os problemas que havia algum tempo atrás não são os
mesmo de hoje. A preocupação é evidente quando há esses questionamentos, porém,
há coisas que por mais que a escola queira ensinar, não consegue... Os alunos terão
que aprender com a vida.
E esta é a principal função da escola: formar cidadãos críticos e bem
informados, em condições de compreender e atuar no mundo em que vive. Cientes
disso, questiona-se: “A escola tem cumprido com sua função?”.Rubem Alves (2002,p.21
e 22) cita o exemplo de uma tirinha do Charlie Brown, que ele leu no jornal, e alerta
para a situação da educação no Brasil:
Sabe por que temos que tirar boas notas na escola?

Para passarmos do primário para o ginásio. Se tirarmos boas notas no ginásio,


passamos para o colégio e se no colégio tirarmos boas notas, passamos para a
universidade, e se nesta tirarmos boas notas, conseguimos um bom emprego e
podemos casar e ter filhos para mandá-los á escola, onde eles vão estudar um
monte de coisas para tirar boas notas e...

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Acadêmicos do 1º período de Letras da Unoesc Campus de Xanxerê.
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Pode-se até achar graça na tirinha acima, mas ela retrata como é a
educação no Brasil. Os pais, que desejam uma vida melhor para os filhos que aquela
que tiveram, fazem todo esforço para matriculá-los na escola. Ao chegarem lá, as
crianças não entendem (muitas vezes) o que o professor ensina e, por medo ou
vergonha, ficam caladas. Na hora da prova, decora todo o conteúdo do caderno e
responde a prova exatamente como no caderno, até mesmo com as vírgulas e pontos
finais, conseguindo uma boa nota. O lado triste dessa história é que esse processo se
repete o ano inteiro e com vários alunos que, no final do ano letivo, consegue ir para a
próxima série.
E assim sobrevive a educação brasileira: as crianças aprendem. E
aprendem tão bem que se tornam incapazes de pensar coisas diferentes. Mas como
criticar os professores se eles são frutos da mesma educação que estão repassando
hoje?
Eis aí a prova de que parte dos profissionais da educação estão
despreparados, não sabem como agir, sentem-se inseguros em sala de aula. E, por
não saberem como agir, simplesmente repetem tudo o que foi feito com eles. Até
percebem que o tempo passou e que a escola não é mais a mesma, mas não sabem
como fazer para que o conteúdo que é ensinado na escola tenha significado para o
aluno.
Segundo Lúcia Moysés (2001, p.34), isso ocorre porque “os conteúdo
programáticos que fazem parte dos currículos aproximam-se muito da cultura das elites
do que da do povo”. E se for analisado, percebe-se que essa é uma grande verdade. O
que se fala na escola, não é aquilo que o aluno vivencia, e isso não tem significado
algum para ele.
Já Gentili e Alencar (2001, p.99), “Melhor do que falar em natureza
humana, portanto, é falar em condição humana. Somos filhos do tempo, da cultura e...
dos processos educativos que as sociedades criam e recriam”. Pensando nessa
afirmação, questiona-se: que tipo de cidadão está sendo formado nas escolas?
Planta-se hoje o que se colhe amanhã. Tratam-se os alunos com
descaso. É isso que se terá daqui a algum tempo: cidadãos marginalizados e sem
interesse na sociedade em que vive. E quem será o culpado pelo caos da sociedade?
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Todos são culpados. É necessário haver um compromisso maior de


todos para solucionar essas questões. Precisa haver mais investimentos na qualificação
de professores: cursos de aperfeiçoamento, estímulo para iniciar e concluir o Ensino
Superior, um salário bom, etc. Os profissionais da educação investem tanto em sua
preparação, fazendo faculdade, pós-graduação, e não vêem retorno para o que
gastaram em seus estudos, e o que ganham, muitas vezes, não paga nem o curso que
fizeram, sendo que é ele, professor, quem forma o médico, o engenheiro e tantos
outros profissionais.
É preciso redescobrir a alegria de ensinar, para que os alunos tenham
prazer em aprender. Houve um tempo em que se perguntava para uma criança
(geralmente as meninas) o que ela queria ser quando crescesse. Ela respondia: “Quero
ser uma professora”. Tem que se parar de brincar de ensinar e levar a sério sua missão
de educador.
Quando um professor falta, envia um substituto e pronto. Por que isso
não acontece em um consultório médico ou no meio de uma cirurgia? Será tão sem
importância a formação do caráter de uma criança, sua formação como cidadã que,
para substituir, qualquer um serve?
Quanto ao papel dos pais na educação dos filhos, é preciso haver maior
interesse por parte deles: participar, cobrar, exigir mais das pessoas que, juntamente
com eles, são responsáveis pela formação cidadã da criança. Não apenas largar o filho
na escola e que o professor se encarregue do resto.
A arte de ensinar nunca morre. Sempre haverá quem precisa aprender.
O professor se imortaliza em cada pessoa que forma. Como diz Rubem Alves (2002,
p.5): “Ensinar é um exercício de imortalidade. De alguma forma continuamos a viver
naqueles cujos olhos aprenderam a ver o mundo pela magia da nossa palavra. O
professor assim, não morre jamais...”.
A capacidade física intelectual e moral do ser humano é desenvolvida a
partir do momento que um indivíduo é inserido na sociedade. A educação dá-se através
de um processo contínuo e sistemático que implica momentos de reflexão.
Em mundos diversos, a educação existe diferente: em pequenas
sociedades, em paises desenvolvidos e industrializados; em mundos sociais sem
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classes. Existe a educação de cada povo. Ela existe em cada povo, pode existir
imposta por um sistema centralizado de poder, pode ser livre e entre todos.
A educação é parte da vida e tem suas características, entre tantas
outras invenções de sua cultura, em uma sociedade. A educação existe no imaginário
das pessoas e na ideologia dos grupos sócias e ali sempre se espera que a sua missão
seja transformar sujeitos e mundos em algo melhor.
Para Hurtado, (1992, p. 63), “em todo o processo educativo, o domínio
da metodologia pode ajudar-nos a conseguir a coerência, a clareza na análise dos
problemas ou situações, tornando mais eficientes e eficazes em nosso que fazer
educativo”.
Devido à amplitude da realidade é tão complexa que é muito difícil ter
parâmetros ou pontos de referências que ajudem a decidir o caminho a seguir para o
tratamento correto do tema a ser analisado.
Educar? A educação acontece por meio de trocas, com a natureza e
entres os homens. Trocas que existem dentro do mundo social, onde a própria
educação habita as diferentes formas que ocorrem. Fazem perceber que sempre se
envolve com educação, quer queira quer não. Esta está incutida em todas as partes,
basta saber como será aplicada, que tipo de ser que vai ser formado, pode ser à
maneira que mais proporcione o aprendizado e a relação entre sociedades.
Educar uma pessoa que já é educada torna-se uma tarefa árdua,
porque, no momento em que uma criança chega à sala de aula, já é portadora de
certos conhecimentos que adquiriu junto a sua comunidade. Transformar e/ou
acrescentar mais conhecimentos é a tarefa do profissional da educação que trabalha
com esse indivíduo. Isso se torna difícil, pois apenas se faz o papel de mediador, não
de transformador de conhecimentos. A criança apenas irá complementar sua sabedoria.
Sabe-se que tudo o que envolve uma sociedade é a educação. O que o
ser humano adquiriu em seu meio, é a educação que ali é cultivada. Para esse
indivíduo receber uma nova prática educativa, é para ele desnecessário, pois o mesmo
já possui determinados conhecimentos que julga serem o suficiente para sua
existência.
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Por estas e por outras razões que educadores sentem-se frustrados


com a prática educativa, pois não está se formando cidadãos, mas mais um elemento
que compõe uma sociedade qualquer. Conforme Coraggio (199, p. 55), “para escapar a
isto poderia tentar-se construir uma legitimidade com base na manipulação simbólica,
pelos meios de comunicação”, porém é difícil quando a metade dos “cidadãos”
permanecem excluídos de exercer seus direitos mais fundamentais.

REFERÊNCIAS

BRANDAO, Carlos Rodrigues. O que é educação. Brasiliense: São Paulo, 2006.

CORAGIO, José Luis. Desenvolvimento humano e educação, O papel das ONGs


latino-americanas na iniciativa da Educação para todos. 2ª ed. Cortez: São Paulo, 1999.

NEVES, Maria Aparecida Mamede, et al. O fracasso escolar e a busca de soluções


alternativas: a experiência do NOAP. Vozes: Petrópolis - RJ, 1993.

NUÑEZ, Carlos Hurtado. Educar para transformar, transformar para educar:


comunicação e educação popular. Vozes: Petrópolis - Rio de Janeiro, 1992.

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