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Cartografia do conhecimento e apoio em ambientes de

aprendizagem hipermédia
António Manuel Tomé
Escola Básica de 2º e 3º ciclo António Sérgio
amcfrances@gmail.com

1. HIPERTEXTO E CURRÍCULO exploração dos recursos em rede, dada a qualidade e diversidade dos
A recente vulgarização da Internet e do uso de computadores conteúdos publicados. As características de complexidade, baixa
portáteis em sala de aula tem contribuído para introduzir nas escolas estruturação e não linearidade do domínio (Spoehr & Spoehr, 1994:
portuguesas rotinas de aprendizagem abertas, socializadoras e 74), a conveniência numa abordagem baseada em múltiplas
promotoras de autonomia. Neste quadro de reconfiguração de perspectivas e na multidimensionalidade, a necessidade de construir
práticas, as tecnologias hipertexto e hipermédia associadas aos o conhecimento a partir do contacto directo com as fontes, levam a
dispositivos de interacção virtual assumem importante papel na encarar a Internet e o hipermédia como recursos especialmente
disponibilização e representação dos saberes contribuindo para a adequados à aprendizagem da História (Barca, 2001, 41).
vulgarização nas nossas escolas de metodologias cada vez mais Estudos realizados permitem concluir que com os meios
comprometidas com literacias fundamentais no mundo actual. tecnológicos disponíveis é possível concretizar o projecto de uma
Apesar da diversidade de posições, as conclusões têm levado à História digital. Fontes históricas digitais e recursos distribuídos
percepção de que o estudante encontra mais interesse e motivação apresentam vantagens relativamente aos tradicionais. São mais
numa pesquisa baseada em objectivos de construção da sua própria acessíveis, encorajam a actividade de pesquisa, promovem o
estrutura de informação, do que na simples leitura e revisão de desenvolvimento de redes de comunicação, são fáceis de manipular
documentos realizados por outros (Rhéaume, 1993: 146). A e flexíveis (Lee, 2002).
produção de estruturas de informação envolve os alunos de forma O papel do professor neste contexto de diversidade e complexidade
profunda e crítica nos domínios específicos devido à intensa é múltiplo e exigente. Além de organizador deve saber transformar
interactividade de significação implicada na construção os recursos dispersos num material didacticamente coerente e
(Mayes,1993: 46). Desenvolve variadas competências das quais se proveitoso. Na programação das actividades devem ter-se em conta
salienta a capacidade de análise e interpretação crítica, de pesquisa e aptidões individuais sendo de salientar os conhecimentos prévios do
tratamento de informação, de representação e comunicação mas domínio, das tecnologias e das técnicas de aprendizagem dominadas
também estratégias de controlo, resolução de problemas e pelo aluno. A actuação deverá ser próxima e mediada por ajudas e
planificação de actividades (Spoehr & Shapiro, 1991). O modelo materiais de apoio, segundo princípios de aprendizagem cognitiva
hipertextual de aprendizagem que daí resulta comporta desafios e suscitando a articulação, reflexão e aprofundamento das ideias
obstáculos para os quais se afiguram necessários, cuidados de (Collins, Brown & Newman, 1989: 476). Requer-se o envolvimento
programação e apoio. Uma aprendizagem sem orientação eficaz em tarefas desenhadas segundo princípios de flexibilidade em que o
mesmo que em ambiente rico em representações, como o digital, saber é visto como algo complexo e dinâmico. Em vez da
pode resultar numa experiência improdutiva. Na ausência de ajudas simplificação e regularidade será estimulada a análise dos mesmos
ou outras formas de orientação não é possível ao professor temas e conteúdos segundo uma pluralidade de perspectivas e
assegurar-se de que a organização espontânea do conhecimento seja representações do conhecimento (Spiro, Feltovitch, Jacobson &
desprovida de erro ou que outra forma de estruturação não teria sido Coulson, 1992; Carvalho, 1999). Só assim será possível construir
mais eficaz (Depover, Quintin & De Liévre, 1993: 60). um saber adaptável a diferentes contextos e objectivos.

2. A HISTÓRIA E O CURRÍCULO 3. CARACTERIZAÇÃO DOS PROJECTOS


HIPERTEXTUAL HIPERMÉDIA
A História é uma das áreas que apresenta maior potencial de A utilização dos recursos distribuídos em sala de aula e a sua
articulação na complexa missão de promover e apoiar a
aprendizagem da História foi o propósito do projecto descrito nesta
comunicação. Integrados num modelo de actividade anteriormente
testado, os dispositivos e materiais foram concebidos e adaptados
em função de um nível adequado e diferenciado de complexidade
estimulando a reformulação crítica do conhecimento.
Alunos de nono ano de escolaridade produziram estruturas de
informação hipermédia a partir de pesquisas realizadas na web e em
documentos impressos e digitais sobre o tema K do programa de
História do 3º ciclo de escolaridade, Do Segundo Após-Guerra aos
Desafios do Nosso Tempo. As tarefas, desenvolvidas 4.2. Sessões de estruturação teórica
predominantemente em sala de aula, apoiaram-se na acção do A arquitectura aberta do ambiente de aprendizagem não dispensa a
professor, directa e mediada por artefactos e dispositivos de estruturação e apoio teórico naquilo a que se designa de descoberta
comunicação virtual. A actividade desenvolveu-se em clima de guiada. Professor e alunos sentem a necessidade de desenvolver a
aculturação em comunidade de práticas com cunho de autenticidade par das aulas práticas, momentos de elaboração teórica sobre os
(Lave & Wenger, 1991) em tarefas de estruturação complexa da conteúdos abordados. Em sala de aula tradicional desenvolve-se a
informação hipermédia (Lehrer, 1993: 199). reflexão e discussão das ideias e conceitos relevantes. É feito um
Neste breve artigo pretendemos sublinhar a importância das balanço geral das dificuldades detectadas nas aulas práticas sendo
diferentes modalidades e instrumentos de orientação e apoio para a ocasião para corroboração da informação e documentação
realização duma tarefa sensível como a proposta. As contingências a pesquisada confrontando-a com o saber do professor e do livro. Ao
que estão sujeitos os ambientes TIC levam-nos a aconselhar a desenhar esquemas, discutir relações ou expondo a sua interpretação
utilização de múltiplos suportes físicos e digitais, mas também a das situações o professor apresenta ao aluno um modelo
presença próxima ou virtual do professor e de outros serviços de especializado de construção de conhecimento histórico, com formas
apoio da escola como os centros de recursos educativos, na específicas de articulação conceptual que o aluno pode depois
configuração conjunta de envolvimentos favoráveis à expressão das adaptar ao projecto particular. O aluno apresenta a sua leitura das
múltiplas competências em jogo na sala de aula. situações que nem sempre coincide com aquela se, na pesquisa
realizada as fontes consultadas introduziram dados novos ou
divergentes dos que são apresentados pelo livro de estudo ou pelo
4. CONTEXTOS DE ACTUAÇÃO professor.
PRESENCIAL O contributo de todos os elementos da turma é importante devendo-
Uma prévia abordagem ao tema é fundamental já que os sujeitos se estimular a curiosidade e o desafio cognitivo, sugerindo sitios da
devem começar por atingir uma compreensão global antes de web ou documentos multimédia inéditos e interessantes. Relatos
entrarem na discussão e negociação pormenorizada das tarefas e directos, cartas ou fotografias pessoais podem ainda servir como
acções a realizar. No início do estudo é traçado um perfil genérico elementos motivadores que desenvolvam a empatia histórica e
da actividade com a caracterização breve das etapas do processo levem a aprofundar domínios específicos. Embora todos considerem
procedendo-se à entrega de guiões e materiais de ajuda. Diferentes estas aulas importantes, alunos com melhores níveis de desempenho
tipos de aula devem ser programados e o professor deve intervir e de actividade reclamam-nas mais insistentemente.
de forma adequada às necessidades e objectivos da tarefa (Collins,
Brown & Newman, 1989: 476). Além das aulas de reflexão e
articulação teórica o apoio estende-se às sessões práticas de 4.3. Sessões de discussão em auditório
construção de estruturas, actividades de discussão em auditório e Em auditório podem ser discutidos trabalhos em realização ou
interacções em comunidade virtual. produzidos por colegas em anos anteriores. É analisada a adequação
e pertinência das ligações, o conteúdo dos nós e o discurso
hipertextual. São comentadas as relações, a exaustividade da
4.1. Sessões práticas de construção informação ou os elementos gráficos e audiovisuais, que podem
As sessões práticas de construção de hipermédia ocupam servir de base a uma discussão que se pretende alargada à turma.
aproximadamente sessenta por cento do tempo total destinado aos Explorando os diferentes percursos de interpretação são feitos
projectos. Permitem a expressão das competências sociais, de comentários que sugerem respostas adequadas permitindo avaliar a
resolução de problemas, tomada de decisões e adaptação a integração das competências com relevância para a compreensão
diferentes contextos e situações envolvendo os grupos de alunos histórica e sua expressão hipertextual. São sessões úteis e que
em acções de intensa permuta e negociação. Estas dizem respeito podem porventura aumentar a motivação para a realização por parte
a operações de pesquisa e tratamento da informação relacionadas de alunos menos activos.
com a compreensão dos fenómenos ao mesmo tempo que se
exercitam competências de comunicação e especificamente de
literacia hipermédia (Eagleton, 2002). 5. AJUDAS À CONCEPÇÃO
Observa-se os estudantes enquanto estes levam a cabo operações e Compreende-se neste conjunto de informações as ferramentas
procedimentos diversos. São dadas informações, estímulos, apoio e metacognitivas e cognitivas, os procedimentos de
modelam-se acções. É possível ajustar e melhorar os trabalhos em navegação/realização, instrumentos de comunicação (De Liévre &
vias de realização atraindo a atenção para aspectos periféricos mas Depover, 2001: 326) e as fontes históricas digitalizadas cuja
igualmente importantes. Modelam-se partes da tarefa que o aluno discussão individualizamos.
não está ainda apto a realizar. Nos projectos realizados as ajudas exigiram a concepção de dossiers
O professor deve evitar interferir em demasia na construção e impressos e hiperdocumentos tendo em vista o apoio à execução
negociação das estruturas diminuindo gradualmente a sua presença à autónoma das operações. Pretendia-se que mesmo na ausência do
medida que os alunos se tornam mais competentes (fading), até para professor ou na impossibilidade de disponibilizar apoio, os alunos
permitir nos grupos a emergência de estratégias e procedimentos pudessem dispor de informações indispensáveis ao prosseguimento
adaptados. Pode, ao mesmo tempo apoiar pesquisas no ambiente das tarefas. Considerámos a necessidade de serem impressos mas
remoto da biblioteca ou disponibilizar esquemas, transparências ou atendendo a que o seu esquecimento pelos alunos poderia
recursos digitais acompanhando e apoiando alternadamente inviabilizar a realização dos projectos procedemos à publicação de
diferentes grupos e trabalhos.
tais ajudas no webblog, Miúdos da Turma1, à sua introdução em Tomando como exemplo a temática do Salazarismo e Estado
disquete e ao envio dos mesmos documentos para os endereços Novo podem considerar-se conteúdos estruturantes:
electrónicos. Os documentos produzidos pretendiam configurar um Conteúdo estruturante K3: Portugal, do Autoritarismo à
envolvimento favorável à manipulação da informação digital Democracia
estando disponíveis em qualquer situação.
Dos anos quarenta a sessenta Portugal teve algum
desenvolvimento económico. Apoiando-se nos Planos de
5.1. Ajudas metacognitivas Fomento e numa política intensiva de obras públicas verificou-se
As ajudas metacognitivas informam o sujeito sobre dados relevantes um acréscimo da actividade económica e alguma renovação da
que lhe permitam maior controlo sobre a etapa em que se encontra, indústria nacional.
da sua progressão e do percurso a realizar até à conclusão dos A Guerra Colonial veio porém criar obstáculos importantes ao
trabalhos. Destacamos algumas das instruções relativas às diferentes regime já que o esforço financeiro necessário e as duras críticas
etapas de realização dos projectos hipermédia, que devem prever dos regimes democráticos europeus e mesmo dos EUA acabaram
por exemplo: por levantar vozes internas de oposição combatidas com a
Na primeira fase de planificação, pesquisa e selecção da repressão.
informação: E, episódios ou conceitos com os quais se podem articular,
Atraso estrutural Guerra Colonial
• Planificação sumária do projecto e dos conteúdos a incluir. Salazarismo Humberto Delgado
• Pesquisa e selecção da informação. Estado Novo MUD
• Uso de palavras-chave em pesquisa electrónica. Condicionamento Mário Soares
• Análise crítica da informação proveniente de múltiplas Industrial CEE
fontes com eliminação da informação irrelevante. Política ultramarina
Considerámos também conveniente a explicitação das
competências específicas aplicáveis ao universo alargado dos Para apoiar a pesquisa e tratamento da informação foram ainda
conteúdos tratados, sugerindo a realização de nós-ficheiros com previamente reconhecidos e explorados sessenta e sete sites
funções equivalentes nos diferentes conteúdos. dedicados aos conteúdos estruturantes K1, K2 e K3 além de
dezoito portais e directórios online para pesquisa de fontes
primárias e secundárias, sobre temas de História geral e
5.2. Ajudas cognitivas
contemporânea.
As ferramentas cognitivas fornecem as informações teóricas
Esteve ainda disponível uma página web concebida pelo professor,
necessárias à compreensão dos conteúdos. Através de um léxico
Sítios da História2 contendo informações sintéticas sobre os
específico, remetendo para conceitos e ideias chave, os alunos vão
conteúdos organizadores do programa da disciplina.
integrando informações, noções e relações em contexto. Da
interacção com as representações distribuídas, resulta uma
capacidade acrescida de compreensão dos factos e processos
históricos. 5.3. Fontes históricas digitalizadas
As fontes históricas que é possível consultar na web, raramente se
Para que isso aconteça é necessário fornecer um conjunto de apresentam em língua portuguesa. Integram-se geralmente em
dados mais ou menos complexos, articuláveis entre si e adequados arquivos, bibliotecas ou bases de dados de instituições
ao grau diferenciado de reflexão que se prevê que os alunos internacionais que as disponibilizam em língua inglesa. Para alunos
possam atingir. Estimulando a flexibilidade deve ser acentuado o do ensino básico essa condição linguística é obstáculo importante ao
carácter complexo e enredado do conhecimento (Spiro, desenvolvimento dos projectos em formato digital razão que nos
Feltovitch, Jacobson & Coulson, 1992). As ajudas impressas e levou a criar um CDROM com recursos vídeo em português. Em
digitais devem por isso sugerir diferentes percursos temáticos e tecnologia compatível com os programas Windows Media Player e
episódios que suportem a construção de contextos históricos. Quick Time, os alunos poderiam estabelecer hiperligações entre
Aqueles, são unidades complexas e plurissignificativas que devem ficheiros texto e os ficheiros multimédia do CDROM. Criando
permitir uma visão global e sintética de cada questão, agindo ligações referenciais, seriam abertos os ficheiros vídeo associados
como linhas diferenciadas de reflexão e pesquisa (Carvalho, enfatizando a perspectiva crítica apresentada e enriquecendo o
1999). Sem fornecer informação pormenorizada, articulam os conteúdo das estruturas.
factos em narrativa histórica sugerindo o processamento da
informação específica através da qual o aluno estará naturalmente
implicado no escrutínio do conhecimento. Os minicasos ou 5.4. Procedimentos de realização
episódios são unidades significativas, segmentos ou factos As ferramentas de navegação/realização permitem ao aluno obter
históricos que, alinhados por arcos, permitem uma análise que um conjunto de orientações sobre a forma de realizar as tarefas.
ponha em destaque variações e semelhanças conceptuais. Apresentamos como exemplo o tipo de ajudas fornecidas durante
A articulação de tais elementos em diferentes percursos temáticos a fase de pesquisa e selecção da informação no uso de programas
resulta na concepção de estruturas hipermédia com variável grau como o Powerpoint, Word ou Frontpage:
de complexidade de acordo com o nível de actividade e • Consulta a Internet, os CDROM que tiveres disponíveis,
conhecimentos prévios dos alunos. quaisquer livros e o CRE da escola. Para isso:

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Disponível em http://miudosdo9a.blogspot.com . Disponível em http://www.malhatlantica.pt/sitiodahistoria.
• introduz no computador, a disquete que foi fornecida. O chat pode ainda ser um importante recurso de gestão da sala de
• Abre o ficheiro linkshipertextuais 9ºano com ligações úteis aula e de coordenação de apoios escolares e extra-escolares
para pesquisa; clica nos endereços da web, activos. associando webcam e microfones ao sistema. Tomando como
• Utiliza também palavras-chave em pesquisa electrónica a exemplo o centro de recursos educativos da escola este pode ser
partir dos conceitos e noções fornecidas neste documento. convertido em extensão da sala de aula ampliando o campo de acção
• Um dos colegas pode ir ao CRE e consultar informação em do professor e dos alunos para além do espaço/tempo curricular.
livro ou em CDROM. Essa informação pode ser digitalizada Neste projecto, elementos de alguns grupos de trabalho tiveram
e deve ser enviada os colegas do grupo, na sala de aula dificuldade em encontrar na Internet informação em português sobre
através do Messenger MSN. Pode também ser visionada o tema Crise de Berlim e a Alemanha no pós-guerra, no contexto da
através de câmara digital e acrescentada no trabalho ou Guerra Fria. Sem possibilidade de traduzir rapidamente a
escrita simplesmente na janela de diálogo do chat. informação disponível em inglês, solicitaram ao professor
Sobre a construção da hipertextualidade: autorização para a deslocação ao centro de recursos educativos.
Através do chat foi possível comunicar directamente tal deslocação
• Deves elaborar um ficheiro sobre cada assunto contendo
à funcionária e professores em serviço no CRE e registar a
apenas a informação correspondente.
deslocação através de um ficheiro electrónico devidamente
• Os diversos ficheiros resultantes da pesquisa e tratamento
preenchido e enviado. Foi ainda monitorizada a actividade dos
da informação devem ser depois ligados por hiperligações
alunos através das câmaras disponíveis. Também estava prevista
de forma a criar uma estrutura hipertextual.
caso necessário a digitalização de documentos em scanner e o seu
• A informação textual deve ser resumida e não ocupar mais
envio para a sala de aula para apoiar a concepção dos trabalhos.
de 12 linhas de texto.
As ajudas à realização articulam-se com as ajudas metacognitivas
e cognitivas já que a manipulação das ferramentas informáticas
implica formas de uso determinadas pelo domínio em estudo e 6. COMPETÊNCIAS E LITERACIAS EM
pelos objectivos da tarefa (Pea, 1993: 52). O aluno é obrigado a AMBIENTE DIGITAL
reflectir sobre as acções a realizar para conseguir um determinado No final dos projectos é administrado um questionário onde se
efeito, de acordo com o conhecimento implicado. pretendem avaliar não só aprendizagens substantivas mas também a
opinião dos alunos sobre o ambiente de trabalho, a suficiência de
ajudas e outros recursos de apoio às tarefas. Ilustramos de seguida
5.5. Ferramentas de comunicação algumas conclusões com as correspondentes percepções dos alunos
As ferramentas de comunicação representam a dimensão recolhidas nalguns dos inquéritos administrados.
comunitária da web (Dias, 2000: 160) não podendo ser ignorado o O ambiente colaborativo e digital de aprendizagem é favorável à
seu importante contributo quando se encara a construção de integração de saberes e a uma intensa actividade de permutas e
projectos apoiados em TIC. Email, webblog, e chat complementam- negociações. Enquanto alunos mais seguros, são activos e
se no reconhecimento prévio do saber e no apoio que ao professor é participativos desde o início, outros descrevem trajectórias de
exigido. progressiva integração nas práticas à medida que adquirem maior
Sem ser explorado nas suas potencialidades plenas, o email é confiança nos seus métodos de trabalho, perspectivas de análise e
instrumento auxiliar de grande valor para qualquer projecto digital. conhecimentos. Inquiridos sobre os aspectos mais motivadores no
Através dele, é possível estabelecer comunicação assíncrona e ambiente de trabalho hipertextual as opiniões são sempre favoráveis
individual com os alunos, enviam-se ficheiros e é recebida e à dinâmica colaborativa, interactiva e inovadora.
armazenada informação sobre cada projecto. As características de A competência de pesquisa e selecção de informação exercita-se de
ubiquidade deste recurso são de grande interesse podendo assumir- forma contínua na consulta de representações distribuídas na web.
se o endereço electrónico como elemento fundamental de um Interagindo com sites, seleccionando os ficheiros com imagens
portefólio electrónico ou digital. vídeo no CDROM disponibilizado ou consultando o livro de estudo
Encaramos o webblog neste modelo de actividade não como e outras obras impressas, o aluno exercita e aprofunda os seus
ferramenta organizadora e expressiva dos saberes, mas como conhecimentos reflectindo criticamente sobre os temas em estudo. É
plataforma de comunicação flexível e versátil disponível no uma tarefa apreciada pela generalidade dos alunos que consideram
ambiente de trabalho. Sem constituir um espaço dedicado à ser esta etapa extremamente frutuosa em termos cognitivos.
intervenção crítica, é grande a sua utilidade como instrumento Repetindo as leituras, reconhecendo e corroborando a informação,
assíncrono de divulgação e afixação de informações e os fenómenos são analisados a partir de diferentes perspectivas e
procedimentos de realização. Usado também como portal de usando diferentes ferramentas de análise. Um elemento referiu que o
pesquisa, no blog foi publicado o guião da actividade e ligações de que me agradou mais nesta actividade foi o facto de sermos nós a
acesso à informação específica. fazer a busca de informação o que nos permite memorizar e
perceber muito melhor a matéria.
A flexibilidade do programa de chat MSN Messenger adequa-se a
uma gestão complexa do ambiente de aprendizagem. O seu uso é do Também a manipulação dos recursos tendo em vista a procura de
agrado dos alunos e é frequente o professor ser solicitado para informação é agradável e motivante. Alguns exemplos permitem-nos
prestar esclarecimentos em contextos informais de comunicação. É avaliar o impacto positivo do uso de múltiplas fontes e materiais de
útil ainda quando se pretende divulgar com urgência uma última apoio: …o que mais me agradou nesta actividade foi trabalharmos
indicação antes de uma aula importante disseminando-se esta com muitos recursos (livros, Internet…) e em grupo. Pois assim
rapidamente através da rede que os alunos estabelecem entre si aprendi muito melhor a matéria. Ou outro que destaca o tipo de
através do chat. pesquisa …. Porque normalmente vamos à net, mas neste trabalho
recorremos a diferentes tipos de pesquisa…ou outro aluno que No desenho da actividade destacam-se poucos inconvenientes que
considera terem sido do seu agrado as formas de pesquisa que resultam em geral de condicionalismos ambientais. A tarefa requer
foram dadas. disponibilidade de tempo dado o cunho de autenticidade e de
Os alunos procuram sempre pesquisar em sites de língua portuguesa envolvimento requerido da parte dos alunos. A manipulação dos
facto que induz dificuldades e atrasos na concepção das estruturas já sistemas, o reconhecimento da informação nos diversos suportes e
que a maioria da informação de qualidade, disponível na web sobre materiais, a concepção das estruturas, textos, dispositivos de
temas de História contemporânea, está publicada em inglês. Temas orientação e elementos gráficos, são etapas que requerem tempo.
como a Guerra Fria, o conflito Israelo-árabe, ou Terceiro Mundo e Constatámos que os grupos que perderam mais tempo em
Descolonização não permitem a pesquisa e cruzamento de fontes interacções pouco produtivas durante a fase de pesquisa acabaram
diversificadas. No uso de línguas estrangeiras só os alunos com por elaborar estruturas menos expressivas e ricas do ponto de vista
melhores conhecimentos prévios se aventuram na tarefa para curtos crítico e interpretativo. Pressionados pelo tempo os alunos tiveram
blocos de informação. Nestas situações e desde que haja tempo que acabar os trabalhos mais depressa do que seria desejável, disso
disponível a tradução cooperativa é uma estratégia positiva para se ressentindo a qualidade e nível técnico.
todos os envolvidos, sob a orientação de um par competente ou de O ambiente de trabalho é de reciprocidades intensas. Por vezes o
um professor com conhecimentos razoáveis no domínio. barulho das conversas e a qualidade das interacções não ajuda a um
As funcionalidades de processamento de texto que as ferramentas trabalho concentrado num espaço limitado. Uma aluna refere como
informáticas incluem modelam algumas das competências básicas de críticas ao modelo de actividade talvez o barulho e a facilidade com
língua materna. Variadas ajudas vão permitindo a introdução de que a turma tem de se distrair com outras.
aperfeiçoamentos sucessivos nos textos. A autoria cooperativa é Dos dez trabalhos efectuados e analisados retivemos algumas
facilitada e o processo de escrita converte-se em processo de revisão características que nos levam a persistir neste modelo de
continua. Para todos, esta é também a competência mais árdua e aprendizagem. Um dos grupos utilizou spots de vídeo fornecidos no
para alunos com mais dificuldades na compreensão de textos, os CDROM. Outro, construiu o hipermédia mais complexo e
conhecimentos limitados dificultam a pesquisa em múltiplas fontes expressivo de todos sobre o tema Israel e a Palestina, inserindo
ou a partir de textos muito longos. Os melhores alunos reconhecem ligações para vídeos encontrados na web. Três dos grupos incluíram
por outro lado que as leituras e revisões repetidas facilitam a ligações para sites externos. Cinco dos projectos desenvolvidos
aprendizagem. atingiram bom nível e dois deles nível muito bom, com grande
No uso de linguagens das diferentes áreas do saber cultural, expressividade e qualidade de conteúdo e forma. Grande número de
científico e tecnológico, utilizam-se os sistemas informáticos e de nós e ligações incluindo as de retorno, imagens, animações, ligações
comunicações como ferramentas auxiliares de construção do externas ou ligações a vídeos do CDROM ou You Tube
conhecimento histórico. Incluem-se múltiplos media nos enriqueceram contextos e exprimiram boas aptidões de pesquisa e
hiperdocumentos e os diferentes tipos de representação são tratamento crítico da informação.
adaptados aos temas em estudo (gráficos, imagens, blocos de áudio, A capacidade de síntese foi satisfatória embora exista uma
vídeo, sons, animações, ligações com outros ficheiros ou sites da dificuldade generalizada em distinguir as ideias e aspectos mais
web) desenvolvendo-se a literacia hipermédia (Eagleton, 2002). importantes, organizando-os em discurso hipertextual. Encontram-se
Alunos com maior empenhamento dão-se ao trabalho de incluir deficiências na estruturação coerente das ideias históricas revelando
hiperligações para ficheiros vídeo You Tube, sites exteriores ou insegurança nas associações conceptuais, com reflexos na
inserindo elementos de significação diversificados. Blocos de texto complexidade das estruturas construídas. Talvez por isso grande
muito extensos e não suficientemente escrutinados, poucas imagens parte das estruturas resultantes tenha sido de natureza linear, em
e ligações demonstram menor actividade e disponibilidade de tempo estrela ou em árvore e apenas quatro dos trabalhos apresentaram
ou empenho. sub-estruturas complexas. Foi o caso da estrutura criada sobre Mao
As interacções entre a sala de aula e o centro de recursos remoto Tse Tung e Fidel Castro. Mista, albergando referências a ditadores
foram pouco frequentes na experiência realizada. A comunicação foi ideologicamente dissemelhantes como Mussolini, Salazar, Hitler,
estabelecida e as facilidades disponíveis foram ensaiadas mas da Mao Tse Tung ou Castro, os autores não explicitaram de forma clara
parte dos alunos existem reservas no acesso à documentação na a ideia subjacente à concepção da estrutura. A sua consulta deixa no
biblioteca. Estando disponível em sala de aula, a presença da ar a dúvida sobre qual o verdadeiro objecto de estudo: se a análise
Internet inibe a consulta de documentação impressa. Procedem de de regimes de ditadura mais conhecidos desde os anos vinte, se dos
outro modo quando os grupos de trabalho estão bloqueados em regimes comunistas mais extremos como o chinês e o cubano como
etapas de pesquisa para as quais os recursos digitais nada lhes era intenção expressa do grupo de alunos.
fornecem. Foi o que aconteceu nalguns projectos em que temas de
História mundial, obrigaram alguns grupos a deslocações ao centro
de recursos para pesquisa de documentação em português. 7. SUFICIÊNCIA DE RECURSOS E AJUDAS
Integraram a informação nos seus trabalhos mas apesar das À CONCEPÇÃO
orientações dadas nas ajudas impressas, perderam tempo em O apoio dado presencialmente pelo professor foi considerado
deslocações, tempo que lhes faltou na fase de tratamento e suficiente e as apreciações foram positivas, tendo um dos alunos
elaboração da estrutura. Deslocando um elemento do grupo ao CRE, comparado o apoio dado neste projecto com outras disciplinas onde
escrevendo um texto sintético e enviando o ficheiro por chat ou os professores apenas nos dão o tema e os objectivos do trabalho.
email para a sala de aula, o grupo poderia ter poupado tempo. Há Além dessa presença, os alunos consideraram como determinantes
por isso que dinamizar e diversificar práticas de pesquisa autónoma, para a realização do trabalho, os sites da Internet, o livro de estudo e
rotinas de distribuição de tarefas e de monitorização. as instruções em papel. Foram suficientes e bastantes os recursos
disponibilizados, desde as instruções impressas à utilização dos [4] Depover, C, Quintin J, De Liévre, B. Elements pour un
endereços de sites da web, previamente reconhecidos. Consideradas modele pedagogique adapté aus possibilités d’ un environnement
menos importantes para a tarefa foram as disquetes, o webblog e o hypermedia. In G.L. Baron, J. Baudé & B. De La
CDROM com blocos de vídeo. Concluímos que a pesquisa rápida Passardiére (Org.), Hypermedias et Apprentissages 2, Actes
através de motor de busca e palavras-chave foi o processo mais des deuxiémes journées scientifiques. Paris: Institut Nacional de
utilizado para encontrar informação devido aos condicionalismos de Recherche Pédagogique, 1993, pp. 49-62.
tempo. Apenas um quarto dos alunos referiu ter procurado [5] Dias, P. Hipertexto, hipermédia e media do conhecimento:
informação no centro de recursos da escola e em outros livros, além representação distribuída e aprendizagens flexíveis e
do livro de estudo. Uma das alunas reconheceu porém que os colaborativas na Web. Revista Portuguesa de Educação,
colegas devem ir mais ao CRE ver os livros, pois são bastante 2000, 13(1), (pp. 141-167).
úteis. [6] De Liévre B., Depover C. Apports d’une modalité de tutorat
Relativamente ao contributo da página web concebida pelo proactive ou réactive sur l’utilisation des aides dans un
professor, neste formato de projecto os alunos não a utilizaram. A hypermédia de formation à distance. In E. De Vries, J. Ph. Pernin
sua estrutura racionalizada e hierarquizada de saberes e objectivos & J. P. Peyrin (Org.), Hypermedias et Apprentissages 5, Actes du
não disponibiliza o tipo e formato de informação considerada útil. cinquième colloque. Paris. Institut Nacional de Recherche
Pédagogique, 2001, pp. 323-330.
Alunos com bom nível de desempenho e conhecimentos prévios [7] Eagleton, M. Making text come to Life on the Computer:
podem não estar aptos a realizar isoladamente projectos hipermédia Toward an Understanding of Hypermedia Literacy, 2002.
complexos e alunos com baixos conhecimentos prévios no domínio http://www.readingonline.org/articles/art_index.asp?HREF=eaglet
podem realizar estruturas em rede com nível de complexidade e on2/index.html (consultado na Internet em 2 de Março de
expressividade elevado. No ambiente de trabalho de TIC outras 2006).
variáveis podem influenciar a realização dos projectos. O tempo [8] Lave, J. & Wenger, E. Situated Learning: Legitimate
disponível, a motivação para a tarefa e para o domínio em estudo, o Periperal Participation. Cambridge: Cambridge University
grau de familiaridade no uso das TIC e no desenvolvimento de Press, 1991.
projectos hipermédia podem induzir diferenças apreciáveis tanto na [9] Lee, J. K. Digital History in the History/Social Studies
qualidade como na expressividade dos multimédia produzidos. No Classroom, 2002.
entanto, o contexto colaborativo encoraja a execução dos projectos e http://www.historycooperative.org/journals/ht/35.4/lee.html.
favorece a disseminação de saberes sendo por isso aconselhável (consultado na Internet em 10 de Dezembro de 2005).
como matriz social mais adequada a alunos deste nível. [10] Lehrer, R. Authors of Knowledge: Patterns of Hypermedia
As conclusões apresentadas deverão ser confirmadas por outros Design. In S. Lajoie & S. Derry (Org.), Computers as Cognitive
estudos e análises mas a investigação sobre a utilização das TIC no Tools. New Jersey: J. Lawrence Erlbaum, 1993, 197- 227.
ensino da História e de outras áreas disciplinares levará certamente à [11] Mayes, T. Hypermedias et outils cognitifs. In G.L. Baron, J.
discussão nos próximos anos sobre as possibilidades que se abrem à Baudé & B. De La Passardiére (Org.), Hypermedias et
aprendizagem em ambiente hipertextual. O modelo e a tecnologia de Apprentissages 2, Actes des deuxiémes journées scientifiques.
representação hipermédia afiguram-se como caminhos possíveis Paris: Institut Nacional de Recherche Pédagogique, 1993, pp.
para levar os alunos a construir novas e antigas literacias permitindo 39-47.
reconhecer como se estruturam as ideias históricas, quer em [12] Pea, R. Practices of distributed intelligence and designs
ambientes digitais quer em ambientes de aprendizagem mais for education. In G. Salomon (Org.), Distribute Cognitions,
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Cambridge University Press, 1993.
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8. AGRADECIMENTOS pédagogiques. In G.L. Baron, J. Baudé & B. De La
Os nossos agradecimentos à Comissão Provisória, ao Conselho Passardiére (Org.), Hypermedias et Apprentissages 2, Actes
Pedagógico e ao Centro de Recursos Educativos do Agrupamento des deuxiémes journées scientifiques. Paris: Institut Nacional
de Escolas António Sérgio do Cacém pelas facilidades em espaços de Recherche Pédagogique, 1993, pp. 139-150.
e equipamentos e pelo apoio prestado em todos os momentos de [14] Spiro, R. Feltovitch P., Jacobson M. & Coulson R.
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