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Antonio Moreira dos Santos Apostila da Aula 5 1

PREPARAÇÃO DA MISTURA AR-COMBUSTÍVEL.

Motores do Ciclo Otto:


O rendimento de um motor do ciclo otto está diretamente ligado à
quantidade de combustível, e ar e ao modo que ele é fornecido ao motor.
Chamaremos de razão ar-combustível (AC), a razão entre a massa de
ar e a massa de combustível contido na mistura.
Por exemplo, uma mistura de AC = 15/1 é constituída de 15 kg de ar e
1 kg de combustível. Um motor pode ser alimentado por uma mistura com
distintas razões AC, porém, terá um bem definido que lhe dará um melhor
rendimento.
A potência máxima de um motor não é limitada pela quantidade de
combustível fornecido, mas sim pela quantidade de ar aspirado, uma vez que
a quantidade de ar necessária é sempre várias vezes maior do que a
quantidade de combustível. Além disto, o ar está na fase gasosa, com um
volume específico cerca de mil vezes superior e sofre a restrição ao
escoamento provocada pelo filtro de ar, dutos e porta da válvula de
admissão. O combustível encontra-se na fase líquida com alta densidade o
que facilita sua admissão. Se um motor recebe uma porcentagem extra de
combustível acima da necessária para a combustão completa, este excesso
será desperdiçado, devido a falta de oxigênio para queimar este combustível.

Mistura Estequiométrica:

A quantidade de ar teórica, necessária para que ocorra uma combustão


completa em um motor alimentado com uma mistura formada de ar e
gasolina pode ser obtida a partir da reação química de combustão:
A gasolina é uma mistura de vários hidrocarbonetos porém podemos
tomar como representativo desta mistura o iso-octano, cuja reação de
combustão é a seguinte:

C8 H18 + 12,5O2 + 12,5 * 3,76 N 2 


→8CO2 + 9 H 2O + 47 N 2
massa de ar (02 + N2): 12,5 * 32 + 12,5 * 3,76 * 28 = 1716 kg de ar.
massa de combustível: 8 * 12 + 18 = 114 kg de combustível.

portanto a razão ar-combustível ACe é dado por:


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1716
AC e = = 15
114

Portanto, para que ocorra a combustão em 1 kg de gasolina são


necessários 15 kg de ar atmosférico. Esta razão de ar-combustível é chamada
de mistura estequiométrica (ACe).

O etanol é uma substância pura, cuja reação de combustão é a


seguinte:

C2 H 5OH + 3O2 + 33
. ,76 N 2 
→ 3H 2O + 2CO2 + 11,28 N 2
massa de ar (02 + N2): 3 * 32 + 3 * 3,76 * 28 = 411,84 kg de ar.
massa de combustível: 2 * 12 + 6 + 16= 46 kg de combustível.

portanto, a razão a-combustível estequiométrica para o etanol é:

411,84
AC e = = 8 ,95
46

O d-limoneno, um combustível extraído da casca da laranja, tem a


seguinte reação de combustão:

C10 H 16 + 14O2 + 14.3,76 N 2 


→ 8H 2O + 10CO2 + 52,64 N 2
massa de ar (02 + N2): 14 * 32 + 14 * 3,76 * 28 = 1921,92 kg de ar.
massa de combustível: 10 * 12 + 16= 136 kg de combustível.

1921,92
AC e = = 14 ,13
136
Tipos de misturas Ar/Combustível
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A mistura estequiométrica é a mistura onde a relação ar + combustível


é a ideal para que ocorra uma combustão completa. Teoricamente falando,
ela seria a razão da mistura com o qual um motor apresentaria a sua máxima
potência, porém, na prática, isto não acontece, sendo necessário o uso de
uma mistura com razão AC menor que o estequiométrico. O uso desta
mistura em excesso de combustível, com a qual obtemos a máxima potência,
se faz necessário, por causa da vaporização da mistura e dos gases residuais
da combustão do ciclo anterior que se juntam a esta nova mistura. Nas
velocidades de cruzeiro do motor, o fator predominante é a economia de
combustível, portanto, nesta condição, o título da mistura ar-combustível
deve ser maior que o valor estequiométrico, isto é, a combustão realiza-se
em excesso de ar.
Nestes dois exemplos anteriores, podemos verificar que a razão AC,
pode oscilar em torno do valor estequiométrico, dependendo do regime de
funcionamento do motor.
Costuma-se definir o lâmbida - λ da mistura como a razão entre a
mistura ar-combustível real e a mistura ar-combustível estequiométrica.

AC real
λ=
AC e
Mistura Rica
A mistura é considerada rica quando a razão ar-combustível real é
inferior à razão ar-combustível estequiométrica, portanto quando λ < 1:

AC real
λ= <1
AC e
O inconveniente da mistura rica é que proporciona combustão
incompleta, devido a falta de oxigênio. Assim, haverá formação de depósitos
de carbono na câmara, anéis, válvulas e nos eletrodos da vela, prejudicando
assim o funcionamento do motor . Uma outra desvantagem é o aumento no
consumo de combustível do motor. A vantagem é que, com a mistura rica, a
temperatura no interior da câmara de combustível é mais baixa.

Mistura Pobre
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A mistura é considerada pobre quando a razão ar-combustível real é


superior à razão ar-combustível estequiométrica, portanto quando λ > 1:

AC real
λ= >1
AC e
Quando uma mistura pobre entra em combustão, devido ao excesso de
oxigênio, a temperatura da chama será muito alta. Esta elevação de
temperatura, poderá provocar um superaquecimento nos órgãos do motor,
principalmente na válvula de descarga, podendo inclusive provocar a sua
queima.

Razão Estequiométrica para alguns combustíveis


COMBUSTÍVEL RAZÃO COMBUSTÍVEL RAZÃO
ESTEQUIOMÉTRICA ESTEQUIOMÉTRICA

ciclopentano 14,7 hidrogênio 29,6


ciclohexano 14,7 mon. de carbono 29,6
benzina 13,2 metano 9,5
tolueno 13,4 etano 5,7
xileno 13,6 propano 4
propeno 14,7 butano 3,1
buteno 14,7 benzol 2,7
penteno 14,7 metanol 6,4
hexeno 14,7 etanol 8,95
hepteno 14,7 propanol 10,5
hexadecano 14,7 butanol 11,1
d-limoneno 14,13

Performance de um Motor do Ciclo Otto em Função da Mistura


O sistema de alimentação de mistura ar-combustível, quer seja sistema
carburado como sistema injetado tem a função de dosar o combustível e o ar,
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de modo que o motor seja alimentado com uma mistura a mais propícia
possível.
Na figura a seguir apresenta-se o comportamento da potência e do
consumo específico de um motor em função da qualidade da mistura ar-
combustível λ.

cv
100 g/cvh
800
90
700
80 600
70 500
60 400
50 300
40 200
100
30

0,8 0,9 1 1,10 1,20


λ

O sistema de alimentação carburado é projetado para que forneça uma


mistura rica (λ ≅ 0,86) quando o motor trabalhar na máxima potência e uma
mistura pobre (λ ≅ 1,1) para a velocidade de cruzeiro.
Quando o motor está em regime de baixa rotação, partes dos gases de
escape retrocede ao coletor de admissão no momento do cruzamento de
válvula. Assim, em baixa rotação os gases de escape diluem a mistura fresca
que será admitida. Para contornar o efeito enfraquecedor dos gases de
combustão, a mistura deve ser enriquecida, a fim de não prejudicar o
funcionamento do motor.
Quanto mais fechada estiver a borboleta, maior será a depressão no
coletor, e por conseguinte maior será a quantidade de gases de combustão
que fluirá para o seu interior, sendo necessário portanto, que o combustível
seja fornecido em excesso.

A figura a seguir mostra a qualidade da mistura ar-combustivel em


função da abertura da borboleta de aceleração.
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AC
λ
9 0,6

12 0,8

15 1,00

18 1,20

0 0,25 0,50 0,75 1


porcentagem de abertura da borboleta

Podemos notar que para um regime de rotação baixa, quando a


borboleta está parcialmente fechada, a mistura será rica, tendo uma razão ar-
combustível baixa, isto proporciona um consumo específico alto. A medida
que a borboleta se abre a mistura começa a empobrecer , diminuindo o
consumo específico até atingir um ponto mínimo. A partir daí, quanto maior
for a abertura da borboleta, maior será o consumo, já que a mistura começa a
enriquecer novamente.

Temp. da Câmara em Função da Mistura


A temperatura de combustão está relacionada com a razão ar-
combustível. Pelo gráfico da figura a seguir podemos verificar que a
temperatura da câmara atinge um valor máximo, quando a mistura é pobre.
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T
o
( C) cv
570 g/cvh

550 90

530 70 600

510 400
50
490 200
30

0,25 0,50 0,75 1,0 1,25 1,75 2,0 λ

Podemos verificar que para um lâmbida de 1,25, a temperatura da


câmara é máxima, e se a mistura torna rica ou pobre a temperatura diminui.
Porém, a temperatura pode variar em função das características particulares
do motor.
A temperatura dos gases de escapamento também estão relacionadas à
razão ar + combustível da mistura. Podemos verificar, que com o
empobrecimento da mistura, a temperatura dos gases vai subindo até atingir
um ponto máximo a partir daí, começa a diminuir.

T
o
( C)

1000
Tg
900

800

700

600

0,25 0,50 0,75 1,0 1,25 1,75 2,0 λ


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Vaporização da Mistura
A combustão da mistura será tanto melhor quanto maior for a
percentagem de combustível vaporizado nesta mistura. A vaporização de um
líquido está diretamente relacionado a três fatores:
a)- Superfície de contato
b)- Pressão ambiente
c)- Temperatura
e segue aproximadamente a seguinte lei de Dalton:

C * A * ( Pvap − Psat )
mcv =
P
onde:
mcv = Quantidade de líquido evaporado em gr/min.
A = Superfície em m2.
C = Constante, varia de 400 a 700 para ventilação normal a forçada.
Pvap = Pressão de vapor saturado líquido.
Psat = Pressão de vapor do líquido na temperatura ambiente.
P = Pressão atuante.

a) Superfície de contato
O carburador deve ser projetado de modo a obter-se a máxima
vaporização do combustível, com o maior rendimento volumétrico possível.
Desta forma, o combustível é finamente pulverizado de tal forma que se
divida em pequenas gotículas aumentando-se substancialmente a área de
transferência de calor por volume de combustível debitado.

b) Pressão Atuante
A pressão atuante na mistura está relacionada com a abertura da
borboleta e rotação do motor.

c) Temperatura
A mistura ar-combustível pode ser aquecida através da água de
refrigeração do motor ou através dos gases de escape. A água de refrigeração
do motor é circulada na jaqueta que envolve o coletor de admissão. Uma
parte destes gases, é desviado por meio de um defletor sendo conduzida até a
parede inferior do coletor de admissão, aquecendo-o. Tal defletor pode ser
fixo ou móveis, os móveis são construídos de modo a desviar uma grande
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quantidade de gases de escapamento sobre a parede do coletor, quando o


motor estiver frio. Assim que ele é aquecido uma mola metálica aciona o
defletor para a posição de fechado, diminuindo assim a quantidade de gases
circulantes, e portanto não elevando demasiadamente a temperatura do
coletor.
O aumento da temperatura da mistura facilita a evaporação, mas por
outro lado, diminui o rendimento volumétrico, já que a mistura aquecida
aumenta de volume e seu peso específico diminui.
Portanto, a temperatura ideal do coletor deve ser aquela que
proporciona uma melhor evaporação para um maior rendimento
volumétrico.

O CARBURADOR
O carburador tem a finalidade de preparar a mistura ar-combustível
necessária a cada regime de funcionamento do motor e de promover a maior
taxa de vaporização possível do combustível no interior da massa de ar
admitida. O ar e o combustível, estão diretamente ligados ao carburador,
sendo, que para uma pequena parcela de combustível, necessita-se de uma
grande quantidade de ar. Como foi visto nos capítulos anteriores, a razão ar-
combustível da mistura é dado pela seguinte fórmula:

Kg de ar
AC =
Kg de comb

O ar é muito importante no funcionamento do motor. O ar tem uma


constituição aproximada de 21 % de oxigênio, 79% de hidrogênio.
A mistura ar/gasolina é formada no carburador com uma razão AC =
12 à 13 para a potência máxima e uma = 15 à 17 para o menor consumo
específico, isto é, para velocidade de cruzeiro.

Principais sistemas de um carburador:


Todo carburador é constituído dos seguintes sistemas:
a) Sistema de alimentação de combustível.
b) Sistema de marcha lenta.
c) Sistema principal.
d) Sistema suplementar de alta rotação.
e) Sistema de aceleração rápida.
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f) sistema de afogamento.

O sistema de alimentação do combustível é constituído pela cuba, boia


e agulha. A cuba de um carburador é o recipiente que contém o combustível
vindo do tanque. Ela comunica-se com a atmosfera, através de uma
passagem geralmente tubular, conhecida como tubo de aeração da cuba ou
Pitot. O nível de gasolina contida neste reservatório é mantido constante em
qualquer condição de funcionamento do motor, e a regulagem é feita por
intermédio de uma bóia e uma válvula agulha, localizada no seu interior.
Quando o nível de combustível desce, a válvula permite a sua entrada, e
quando esse atinge um certo ponto, a agulha obstrui a passagem mantendo
assim, o nível constante no interior do recipiente.

O sistema de marcha lenta tem a função de alimentar o motor nas


rotações mais baixa, quando a borboleta de aceleração está pouco aberta. A
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gasolina depois que sai da cuba atravessa o gargulante principal e sobe para
o gargulante de marcha lenta onde é controlada a quantidade que deve
passar. Em seguida a gasolina se mistura com o ar que vem do respiro e a
mistura formada desce em direção à base do carburador, passando pela
agulha de regulagem que controla a quantidade de mistura que deve
descarregar no fluxo principal de ar. Para suavizar a passagem da marcha
lenta para as marchas mais altas, existem os furos de progressão que são
restrições calibradas que descarregam no fluxo principal.

O sistema principal tem a finalidade de alimentar o motor nas rotações


mais elevadas. O ar ao passar pelos difusores arrasta a gasolina da cuba
através do gargulante principal, onde é controlado a quantidade debitada e
através do tubo misturador onde encontra-se com o ar que vem do respiro
de alta. A mistura então formada vai para o difusor secundário de onde se
descarrega no fluxo principal formando dessa maneira a mistura ar-gasolina
final que vai para o cilindro.
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O sistema suplementar de alta potência tem a finalidade de enriquecer


a mistura nas rotações mais elevadas, onde deseja-se máxima potência.
Quando a borboleta está totalmente ou parcialmente fecha, a
depressão abaixo dela atua no canal de tomada de vácuo fechando a
passagem de gasolina para o tubo de descarga suplementar. Quando a
borboleta está totalmente aberta, a depressão no canal de vácuo cai e a mola
superior atua no sentido de abir a agulha que dá passagem de combustível
para o tubo de descarga suplementar.
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O sistema de aceleração rápida tem a finalidade de mudar o motor de


regime de rotação.
Quando a borboleta de aceleração é fechada o pistão injetor é erguido
admitindo combustível no cilindro que o contém. Qualquer abertura da
borboleta de aceleração, tem como conseqüência uma injeção de
combustível adicional para proporcionar a rápida mudança de regime.
Quando a borboleta estaciona numa posição, o contrapeso e a esfera fecham
a passagem de combustível por este sistema.
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O sistema de afogador tem a finalidade de enriquecer a mistura e de


causar uma queda de pressão no coletor de admissão para proporcionar uma
mistura ar-vapor de combustível que facilite a partida a frio.
Ao acionar o cabo do afogador, a borboleta do afogador é fechada e a
de aceleração é levemente aberta proporcionando um enriquecimento da
mistura e uma queda de pressão no coletor.

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