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Economia Política

Capítulo 9
Inacção, Atrasos e Crises

9.1 – Argumentos Económicos

9.2 – Interesses instalados, incerteza e falhas de comunicação

9.3 – Conflitos distributivos

9.4 – Crises económicas

9.5 – Aplicações empíricas

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Inacção, Atrasos e Crises

z Exemplos da divergência entre a experiência real e


modelos teóricos simples de decisão económica:
• Incapacidade de adoptar reformas económicas socialmente
benéficas,
• Adopção de reformas após longos atrasos,
• Sustentabilidade das reformas só ser atingida após várias
tentativas.

z O planeador social típico dos modelos adopta qualquer


reforma que aumenta o bem-estar social.

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Inacção, Atrasos e Crises

z A economia política da não adopção, atraso ou reversão


das reformas merece atenção especial por várias razões:
• Se entendermos a reforma como a remoção de políticas
claramente inferiores, a continuação das mesmas é
especialmente intrigante.
• Se a reforma significa uma grande alteração em todo um
conjunto de políticas responsáveis pelo fraco desempenho
económico de um país, explicar o seu fracasso em reformar
assume grande importância em termos de bem-estar.
• A razão porque as mudanças políticas benéficas não são
feitas está muitas vezes fortemente relacionada com a origem
da má situação económica em que um país se encontra.

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Inacção, Atrasos e Crises

z Os modelos do fracasso da adopção de políticas


socialmente óptimas podem ser agrupados em quatro
categorias:
• Modelos em que poderosos interesses instalados bloqueiam
as reformas que não lhes são benéficas.
• Modelos em que as reformas são encaradas como bens
públicos.
• Modelos que salientam a incerteza a priori sobre benefícios
privados.
• Modelos que assumem assimetria de informação entre os
políticos e o eleitorado.

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9.1 - Argumentos Económicos

z Falta de conhecimentos técnicos


• Pode não se saber como alterar as políticas actuais
ou qual das políticas alternativas é a mais indicada.
• A falta do capital humano necessário ao planeamento
e implementação das reformas é uma explicação
plausível para a inacção.
• Este argumento não explica os muitos casos em que
a falta de conhecimentos técnicos não é desculpa
para a inacção ou atrasos.

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9.1 - Argumentos Económicos

z Atraso óptimo
• A versão mais simples é que os políticos não fazem
nada, na esperança de que a economia melhore com
o passar do tempo.
• Uma variante do atraso óptimo é que, mesmo que os
problemas não se resolvam sem uma alteração das
políticas, circunstancias externas podem não ser
actualmente favoráveis a uma reforma.
• Orphanides (1992, JEDC) formaliza esta visão num
modelo de controlo óptimo aplicado a estabilizações da
inflação, baseadas na taxa de câmbio, para as quais seria
necessário um nível mínimo de reservas em moeda
estrangeira.

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9.1 - Argumentos Económicos

z Irracionalidade dos políticos;


• Sociedades, tal como os indivíduos, adiam escolhas
difíceis, mesmo sabendo que as terão que tomar e que as
coisas só se tornarão mais difíceis com o passar do tempo.
• Os grupos de interesse que exigem cada vez mais recursos
do estado podem não antecipar a insustentabilidade das
finanças públicas (Krueger, 1993).
• Mas, atribuir fenómenos económicos a comportamento
irracional corta pela base toda a análise económica.
• Importa explicar com recurso a modelos de economia política
fenómenos que parecem não ter explicação lógica.

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9.2 – Interesses Instalados,
Incerteza e Falhas de Comunicação

z Interesses Instalados
• De acordo com Olson (1982), o sucesso económico cria
grupos de interesses instalados.
• Estes podem ser contra subsequentes alterações que ponham em
causa a sua situação privilegiada.
• Num modelo em que o crescimento económico depende da
adopção de novas tecnologias, Krusell e Rios-Rull (1996,
RES) assumem que indivíduos que tenham investido numa
tecnologia poderão depois tentar bloquear o aparecimento
de tecnologias superiores.
• Políticos cuja principal motivação seja a reeleição poderão
não estar dispostos a implementar reformas impopulares.

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9.2 – Interesses Instalados,
Incerteza e Falhas de Comunicação

z Incerteza
• Uma explicação simples para a não adopção de reformas é que os
benefícios das mesmas para o público em geral são incertos.
• Explicações de economia política da inacção são mais interessantes
quando é certo que a maioria da população beneficiaria da reforma.
• Fernandez e Rodrik (1991, AER) mostram como uma reforma que
beneficia uma maioria da população, e o país como um todo, pode ser
rejeitada por uma maioria quando a identidade de muitos dos
beneficiados não pode ser determinada à partida.
• Num jogo com dois períodos, em que as decisões são tomadas por
referendo, há uma tendência para o status quo.
• Laban e Sturzenegger (1994, JDE) mostram como a deterioração das
condições económicas pode levar o grupo que mais sofre com as
mesmas a aceitar uma reforma, mesmo na presença de incerteza
sobre o resultado final.

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9.2 – Interesses Instalados,
Incerteza e Falhas de Comunicação

z Falhas de comunicação
• A não aceitação de uma reforma pode dever-se a um problema de
comunicação da natureza socialmente benéfica da mesma:
• Assimetria de informação entre o político (o proponente) e o eleitorado (o
decisor final) quanto aos benefícios sociais da reforma.
• O proponente e o decisor terem preferências políticas diferentes e haver
limitações à comunicação de informação.
• Abordagens seguidas na literatura:
• “Cheap talk” e definição da agenda;
• Não adopção quando os políticos têm informação superior;
• Credibilidade das propostas e implementação de políticas extremas
(Cukierman e Tommasi, 1998, AER).

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9.3 – Conflitos Distributivos

z Uma explicação alternativa da não adopção ou atraso


das reformas baseia-se na observação de que a
reforma é um bem público.
• Indivíduos ou grupos podem beneficiar da mesma sem
suportar todos os custos.
• Cada grupo de interesse pretende que seja(m) outro(s) a
suportar os custos de uma reforma socialmente benéfica.
• Fenómeno do borlista (free rider).

• Isso implica que a reforma pode não ser adoptada mesmo


quando se sabe que todos beneficiariam da mesma.

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9.3 – Conflitos Distributivos

z Principais referências:
• Em Alesina e Drazen (1991, AER) atrasos numa reforma fiscal
resultam da falta de acordo entre dois grupos de interesse rivais
sobre um plano de redução dos défices orçamentais.
• Polarização ideológica, fragmentação do sistema político, baixos custos da
inflação e maior dispersão de rendimentos entre os grupos de pressão podem
levar a atrasos nas reformas.
• Drazen e Grilli (1993, AER) ampliam este modelo mostrando os
potenciais benefícios de crises económicas.
• Casella e Eichengreen (1996, EJ) analisam o impacto da ajuda
externa no timing das estabilizações.
• Em Laban e Sturzenegger (1994, JDE) conflitos entre ricos e
pobres e custos de ajustamento justificam adiamentos de
estabilizações na América Latina.
• Hsieh (2000, EER) apresenta uma variante que se baseia num
modelo de negociação similar aos usados para analisar greves.

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9.3 – Conflitos Distributivos

z Modelo de Hsieh (2000)


• Há dois grupos, capitalistas e trabalhadores, que devem decidir se há
reforma e como serão repartidos os custos da mesma.
• Sem reforma, o resultado é zero para ambos.
• Com reforma, o rendimento bruto dos capitalistas é R e o dos trabalhadores é W.
• R é aleatório e a sua realização só é conhecida pelos capitalistas. R está distribuído
uniformemente no intervalo [A,B] , em que B≥A≥0.
• A reforma requer impostos totais T, dos quais os capitalistas pagam X.
• Os rendimentos líquidos dos capitalistas são (R-X) e os dos trabalhadores são (W-
T+X). Com 0<X<A, ambos ficam claramente a ganhar com a reforma.
• A simplificação aqui apresentada (ver Romer, 2006, 592-598) assume
que os trabalhadores apresentam uma proposta sobre X aos capitalistas.
• Se estes aceitam, a reforma é implementada. Caso rejeitem, não há reforma.
• No modelo de Hsieh (2000) há duas rondas de negociações. A rejeição da reforma
na primeira ronda leva os trabalhadores a propor um X mais baixo na segunda.

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9.3 – Conflitos Distributivos

z Análise do modelo:
• A probabilidade de que a proposta é aceite corresponde à probabilidade de
R>X. Ou seja:

• Assim, o resultado esperado para os trabalhadores é:

• Os trabalhadores não vão fazer uma proposta que seja rejeitada de certeza
(X≥B) nem lhes interessa propor X<A.

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9.3 – Conflitos Distributivos

z Análise do modelo (continuação):


• Para analisar formalmente o comportamento dos trabalhadores, usamos
(11.35) para achar a derivada de V(X) com respeito a X.

• V’’(X) é negativa em todo o intervalo.


• Se V’(X) for negativa para X=A, é negativa entre A e B, pelo que os trabalhadores propõem X=A.
• Se V’(X) for positiva para X=A, o óptimo é interior a [A,B] e é definido pela condição V’(X)=0.

• A equação (11.34) implica que a probabilidade de equilíbrio de a proposta ser


aceite é:

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9.3 – Conflitos Distributivos

z Análise do modelo (continuação):


• A Figura 11.2 mostra as duas
possibilidades de como o resultado
para os trabalhadores, V, varia com a
sua proposta.
• Em a), o retorno é decrescente entre
A e B, pelo que os trabalhadores
propõem X=A.
• Em b), o retorno tem um máximo
entre A e B, pelo que os
trabalhadores propõem A<X<B.

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9.3 – Conflitos Distributivos

z Discussão do modelo:
• A implicação chave do modelo é que P(X*) pode ser inferior a 1.
• Os dois grupos podem não chegar a acordo apesar de saberem que
há propostas que seriam benéficas para ambos.
• Mas, os trabalhadores podem fazer uma proposta menos generosa
que X=A e arriscar que não haja acordo. A sua esperança é
melhorar a sua situação à custa da dos capitalistas.
• Limitações:
• Só considera dois grupos.
• Interesses tão marcadamente antagónicos entre grupos podem não
corresponder à realidade.
• Esta análise não identifica a fonte do défice ou da tendência para
registar défices. Limita-se a indicar porque um défice pode ser
persistente.

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9.4 – Crises Económicas

z Alguns economistas argumentam que as crises induzem reformas, mas


há também quem veja esse argumento como uma tautologia.
z É necessário distinguir duas hipóteses:
• A adopção de reformas é mais provável em tempos maus do que bons.
• A situação económica tem que ficar muito má para induzir reformas.
z É sobretudo a segunda hipótese que importa analisar, de forma a
determinar como uma crise pode facilitar a adopção de reformas:
• Enfraquecimento do poder de grupos de interesses instalados;
• Percepção da necessidade de mudança;
• Aceitação da incerteza sobre benefícios individuais;
• Custos do status quo acelera a resolução de guerras de atrito.

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9.5 – Aplicações Empíricas

z Evidência sobre as implicações do(s) modelo(s) de guerra de atrito para o


momento de implementação de uma estabilização (fiscal ou da inflação):
• Não há evidência de que a passagem do tempo aumente a probabilidade de
uma estabilização ocorrer.
• Vários estudos concluem que as crises apressam as reformas:
• Bruno e Easterly (1996, AER), Veiga (2000, Eco&Pol), Drazen e Easterly (2001,
Eco&Pol), Alesina, Ardagna e Trebbi (2006, IMFSP).
• A natureza das instituições políticas é importante. Governos mais coesos ou
menos sujeitos a constrangimentos à sua acção estabilizam mais depressa:
• Roubini e Sachs (1989, EER), Alesina, Perotti e Tavares (1998, BPEA), Veiga (2000,
Eco&Pol), Persson e Tabellini (2003), Alesina, Ardagna e Trebbi (2006, IMFSP).
• Consolidações políticas e eleições são propícias ao início de reformas:
• Castro e Veiga (2004, EcoLet), Alesina, Ardagna e Trebbi (2006, IMFSP), Aisen
(2007, IMFSP) e literatura dos Ciclo Politico Económicos.
• A ajuda externa não parece afectar o timing de estabilizações:
• Barro e Lee (2005, JME), Veiga (2005, OER), Easterly (2006), Alesina, Ardagna e
Trebbi (2006, IMFSP).

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9.5 – Aplicações Empíricas

z O estudo empírico de Alesina, Ardagna e Trebbi (2006, IMFSP)


• Dados anuais de 1960 a 2003. Fontes: PWT, IFS-FMI, DPI e Polity IV.
• Modelo empírico:

• Δsyit = yi,t+s - yit


• POL é a variável política de interesse (média entre t e t+s)
• A equação é estimada com efeitos fixos para países e anos, para valores de s
entre 1 e 4.

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9.5 – Aplicações Empíricas

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9.5 – Aplicações Empíricas

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9.5 – Aplicações Empíricas

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9.5 – Aplicações Empíricas

z Alesina, Ardagna e Trebbi (2006, IMFSP) concluem que é mais


provável que as estabilizações ocorram:
• Em épocas de crise.
• Quando novos governos tomam posse.
• Quando os governos são “fortes” (sistemas presidenciais e governos
unificados em que o partido do governo dispõe de uma larga maioria
dos deputados no parlamento).
• Quando o poder executivo está sujeito a menores constrangimentos.
• Apoios externos, como o de programas do FMI, têm na melhor das
hipóteses um efeito fraco.

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