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TOMÁS DE TORQUEMADA

“E todo aquele que vos matar, pensará estar


prestando um bom serviço a Deus” – Jesus.

Corria o ano de 1490. A mão fanática e assassina de Tomás de


Torquemada infundia terror às gentes de Espanha, porque o Santo Ofício
funcionava desenfreado e infernal, remetendo ao mundo das almas, depois dos
mais cruéis martírios, milhares e milhares de filhos de Deus. Como simples
questões de cisma pudessem levar as mais notáveis criaturas ante o Santo
Ofício, bem assim como a ausência de cisma algum, contanto que outros
interesses convenientes à Igreja Católica o determinassem, eis que em todos
os corações havia muito lugar para os mais temíveis prognósticos.
Se para alguns o problema consistia em ser herético, fosse lá pelo que
fosse, para outros o problema estava cingido ao simples fato de ter posses ou
posições que fossem desejadas pelos senhores do Santo Ofício. Em nome do
purismo religioso caudais de lágrimas corriam, antes que viesse correr o
sangue ou antes que as labaredas tostassem milhares de corpos.
A máquina infernal do Santo Ofício funcionava perfeitamente,
organizadamente, estando suas peças e engrenagens estendidas aos mais
distantes rincões da Espanha; afora a gente superior e diretamente autorizada,
outros havia que funcionavam a bem de mais afastados servidores da forja de
terrores. Os interesses eram tantos e de tal modo se haviam tornado
complexos, por causa da multidão de objetivos pessoais, que elementos da
mesma infernal maquinação se encontravam e mutuamente se espionavam,
sem terem disso a menor idéia.
Eu, Leonor, simples camareira de abastadíssima família, fora induzida a
funcionar a bem dos tentáculos infernais, em parte por amedrontamento e em
parte em função de melhor posição social. De tal modo as coisas se foram
passando, progredindo, avolumando, que em pouco tempo meus felizes amos
estavam envolvidos nas malhas do Santo Ofício, terrivelmente culpados, tendo
aparecido até mesmo fartos documentos comprovantes de culpa, documentos
que, bem sabia eu, foram totalmente forjados.
E depois de estarem os elementos visados e dentro das garras do Santo
Ofício, acusados com aquela montante imensa e tenebrosa de escritos
culposos, quem iria dizer alguma coisa em contrário? E mesmo que uma voz
se levantasse, de que adiantaria, sem ser para jogar essa mesma voz contra a
máquina usurpadora e sanguinária?
As fogueiras eram o final de um longo processo de tortura; muitas vezes
foram rogadas pelo amor de Deus, para dar fim a um longo e desesperador
programa de maceração geral. Pelo menos, depois de alguns momentos de
tortura cruel, soaria como verdadeira carta de alforria.
Meus amos foram aprisionados, sujeitos a forçadas respostas e seus bens
foram confiscados; Deus, o Cristo e a Igreja Católica foram os instrumentos
usados pelos sanguinários e perversos elementos do Santo Ofício, para que
milhares de inocentes se tornassem culpados, roubados e ferozmente
assassinados.
Minha participação foi a princípio por medo, mas de pouco em pouco já não
era assim, porque uma onda, não sei de que tenebrosas províncias do meu ser,
manifestou-se com arrebatadora violência, tornando-me a mais fiel e
compenetrada de todas as defensoras da causa inquisitorial.
Os porões e os corredores, os pavimentos de reclusão e as celas, por certo
que marcaram por ali a minha passagem, agora transformada em alguém que
era temida ao extremo. A Igreja Católica devia ser acima de tudo rica e
poderosa, ainda que tudo no mundo findasse. Como diziam seus
representantes máximos, um só Poder devia reinar, sobre almas, corpos e
bens materiais; entretanto, que ninguém o soubesse, até que tudo se
consumasse, para não alertar imperadores, reis e príncipes, a fim de que não
houvesse, da parte dos mesmos, atitudes que pudessem comprometer os
intentos da Igreja.
Ninguém e nada mais me impunham medo e respeito; nenhuma atitude,
por mais escabrosa que fosse, causava-me o menor resquício de remorso;
subordinar o mundo à Igreja era o que desejavam Deus e Jesus Cristo, sendo
portanto justos todos os recursos postos em prática. E posso afirmar que os
superiores, mergulhados naquelas infernais maldades e sangueiras, nutriam
pelos servidores cruéis um carinho especial, fazendo perante outros, menos
extremados em seus atos de maldade, rasgadas e empolgantes referências.
Quem quisesse ficar bem com os senhores do Santo Ofício, que praticasse
as mais terríveis sevícias naqueles que habitavam os calabouços imundos,
cheios de bichos, excrementos e mortos já fedorentos. Ter os tacões das
botinas manchados de sangue ou pigmentados de massa encefálica era um
documento de recomendação perante os superiores, porque atrás de tudo
aquilo estavam as posses e as posições sociais daquela gente, tudo convertido
em riquezas para a Igreja.
E, sem dúvida alguma, Deus e Jesus Cristo, a Virgem e os Apóstolos,
todos estariam maravilhados com aquelas demonstrações de fidelidade
religiosa. Assim é que afirmavam os nossos mandatários, e assim é que nos
dizia a consciência tremendamente corrompida, transformada em vastíssima
caudal de martírios e mortos.
De uma realidade, porém, estávamos todos conscientes – a Igreja Católica
Apostólica Romana se estava impondo, crescia em fortunas imensas, devendo
estar em breve a reinar sobre todas as almas, todos os corpos e todos os bens
terrenos!
E assim as coisas foram correndo, até o dia em que vi, estarrecida, uma
parente minha entre os componentes de um grupo que dava entrada nos
porões imundos. Como simples empregada, por que estaria envolvida naquelas
malhas, entre os que eram citados como traidores da Igreja? E que poderia eu
fazer, para conseguir sua liberdade?
Meditando algumas horas, antes de agir, julguei ser o ideal valer-me das
amizades que julgava ter; sim, que julgava ter, porque realmente nada tinha,
visto como a resposta do homem escolhido fora terminante:
— Minha filha, somente a Igreja é aqui autoridade. Seja grande, enfrente a
sua função de frente, para jamais traí-la sob qualquer pretexto. Nada mais
tenho a lhe dizer, e sei perfeitamente que a senhora sabe disso.
Aquela parenta, que me criara, por haver falecido minha mãe quando eu
tinha apenas sete anos, era para todos os efeitos minha mãe; e por que motivo,
sendo apenas uma empregada, agora envelhecida sob o peso dos anos e dos
muitos sofrimentos, devia entrar para aqueles mortíferos tratamentos?
Saí de diante do meu chefe como que embriagada; tonta, pernas bambas,
coração oprimido, fui chorar dentro de um compartimento sanitário, o lugar
onde se podia ter alguma certeza de não haver sombras espiãs. Porque de tal
modo as coisas se passavam, que uns aos outros se desconfiavam de vida e
morte. E aquele que tivesse a infelicidade de ser apanhado em suspeita, para
efeito de disciplina sobre quantos pudessem saber do caso, seria eliminado
prontamente, sem ter tempo para alegar direito algum de defesa. Que todos
ficassem, pois, alertas contra o menor vestígio de suspeita.
Aquela noite foi terrível, porque tive de enfrentar a realidade da tragédia em
plena consciência. Tive febre, gritei, fiz com que duas companheiras de quarto
não pudessem dormir. E no terceiro dia, frente ao médico, não era capaz de
sustentar-me de pé.
— Convém chamar o padre Marcial – disse o médico, vendo-me naquele
estado e sabendo em parte o que ocorria.
Quando padre Marcial chegou, o médico levou-o a um canto, nada tendo
eu ouvido da conversa havida entre ambos. Recebi uma palmadinha do padre
na testa, acompanhada de uma efusiva gratidão pelos serviços prestados à
Santa Madre Igreja.
Saí carregada e fui colocada num leito que fora colocado em um quartinho
escuro, no fim de um corredor sombrio. Disseram-me que estaria livre de
ruídos e se foram. Dentro de minutos, vinha uma companheira com um bule e
me fazia tomar um pouco de amargo líquido. Era, disse-me, um grande
calmante nervoso. Dormiria e acordaria melhor, porque o meu mal era
esgotamento, produto de ingentes esforços desenvolvidos em prol da Causa
Sagrada.
Dormi, realmente, muitas horas a fio; mas acordei tendo pela frente o
tremendo drama que minha consciência vivia. O semblante de minha segunda
mãe não saía de minha frente, olhava-me com aquela ternura com que me
criara. Revivia os dias da infância, da juventude, sempre envolvida pelos seus
cuidados maternais. E como podia estar ali, num porão imundo, entregue a
tantos sofrimentos? Por que, ó Deus, pensava eu e tornava a pensar, aquela
santa mulher devia estar ali e naquelas condições, daquele modo e para
aqueles fins?!
Bem sabia que a família fora envolvida nas malhas do Santo Ofício, cujos
terrificantes olhos se voltavam, muito mais para os bens e as posições de
milhares de pessoas, do que mesmo para as questões religiosas. E se a família
estava nas garras sanguinárias do Santo Ofício, quem seria ela, quem seria eu,
para libertar alguém ou se libertar?
Muitas vezes cheguei a pensar que devia estar de fato realizando alguma
coisa a bem de Deus, ao defender os interesses da Santa Madre Igreja; de tal
modo a mecânica infernal me conspurcara a consciência, que cheguei a me
julgar uma servidora fiel do Céu; mas agora, frente à minha segunda mãe ali
trancafiada, sujeita àquelas mortíferas brutalidades, tinha a mais plena certeza
de que tudo aquilo eram crimes e mais crimes acumulados, coisas de homens
gananciosos, infernalmente entregues ao serviço das trevas.
A febre aumentou, a noite foi passada em sobressaltos e o médico, no dia
seguinte, abanou a cabeça pesarosamente.
— Assim, minha filha, você não vai... Precisa reagir, precisa ter coragem.
Também abanei a cabeça, mas sem dizer nada, porque a minha fala seria
um decreto de morte. De modo algum poderia concordar com a estada ali de
minha segunda mãe, naquelas condições; e de modo algum eles me fariam
essa obra de misericórdia. O Santo Ofício teria, querendo, milhares de
servidores fiéis; mas os inocentes não poderiam ter um, sequer, de modo
algum.
— Tome um pouco de chá, durma e coma bastante – disse-me o médico –
porque você está a se enfraquecer muito depressa. É apenas uma questão de
depressão nervosa, nada mais; porém, se não cuidar de si reagindo, terminará
mal.
Veio o bule, veio muita comida, veio a mais terrível noite daquela hedionda
existência!
No dia seguinte, padre Marcial visitou-me, apresentando seus pêsames
pelo estado em que me encontrara; todavia, com ares piegas, salientou que
meu lugar estava garantido no Céu, pela severidade com que me dedicara à
defesa da Santa Madre Igreja.
— Quem – disse ele – com todas as forças de sua alma se desliga dos
infantis laços do mundo, para se ligar à grandeza da Santa Madre Igreja,
certamente está com o lugar garantido entre os bem aventurados do Senhor!
Quando saiu, deixou-me a certeza de um nunca mais voltar a me ver; o
breve sorriso, acompanhado daquela erguida de olhos, sentenciou a minha
saída, para sempre, daquele intrincado e tenebroso meio. E eu, com aquele
tremendo peso sobre a alma, concordei em que seria o melhor a acontecer.
Foi uma expectativa cruel, saber que seria envenenada; mas tinha a
certeza de que, acima de tudo, era melhor findar de repente, do que ser
torturada nos porões imundos, para findar comida pelos vermes e parasitos. E
aqui vos falo hoje, que tudo aquilo foram nonadas, em face do que
posteriormente aconteceu.

Extraído do Livro: A VOLTA DE JESUS CRISTO

Pai Divino, Princípio Sagrado ou Deus


3 LIVROS APOCALÍPTICOS

EVANGELHO ETERNO E ORAÇÕES


PRODIGIOSAS conta o que Deus prometeu e entregou, dos
Patriarcas até agora, o findar do segundo milênio.

A BÍBLIA DOS ESPÍRITAS conta sobre todas as Bíblias,


desde os Primeiros Grandes Iniciados – Iniciadores.

O NOVO TESTAMENTO DOS ESPÍRITAS conta sobre o


que realmente fizeram, João Batista, Jesus e os Apóstolos, fora
dos erros e das enganações feitas por homens.

LEIA MAIS:

NOS DOMÍNIOS MARAVILHOSOS DA PSICOMETRIA,


conta como funciona uma das mais belas e instrutivas
faculdades, ou Dons do Espírito Santo.

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