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LIÇÕES DA VIDA DE SALOMÃO

A Oportunidade de Salomão

A última grande obra de Davi, em sua posição oficial, foi chamar mais uma vez a
atenção do povo para a solene relação que tinham para com Deus como súditos de
Seu governo teocrático. Convocando os príncipes de Israel e representantes de todas
as partes do reino, conferiu, na presença destes, um inspirado encargo ao filho,
investindo-o da autoridade real e ordenando que cumprisse fielmente os deveres que
lhe haviam sido impostos.

"Conhece o Deus de teu pai", exortou o encanecido monarca, "serve-o com um


coração íntegro e alma voluntária, pois o Senhor esquadrinha todos os corações, e
penetra todos os desígnios e pensamentos. Se o buscares, será achado de ti; mas se O
deixares, rejeitar-te-á para sempre. Olha, agora, pois o Senhor te escolheu para
edificares uma casa para o santuário. Esforça-te, e faze a obra." 1 Crônicas 28:9, 10.

Através da obediência, os israelitas poderiam ter permanecido como cabeça das


nações da Terra. Deus faria com que fossem exaltados "em louvor, em nome e em
glória sobre todas as nações que criou, para que sejas povo santo ao Senhor teu Deus,
como tem dito." Deuteronômio 26:1. "Todos os povos da Terra", disse Moisés, "verão
que és chamado pelo nome do Senhor, e terão temor de ti." Deuteronômio 28:10. "Os
povos que ouvirem todos estes estatutos, dirão: Este grande povo é realmente sábio e
entendido." Deuteronômio 4:6.
Ninguém entendeu essas promessas melhor que Davi. O rei de Israel aprendeu por
experiência própria quão duro é o caminho daquele que se afasta de Deus.

"Esforça-te e Faze a Obra"

Davi deu ao filho instruções minuciosas acerca para a construção do templo,


juntamente com os desenhos de todas as partes, e de todos os instrumentos
empregados em seu serviço, conforme lhe fora revelado por inspiração divina. Essas
instruções, tão minuciosamente transmitidas, não foram deixadas ao capricho da
memória traiçoeira, mas cuidadosa e detalhadamente registradas por escrito e
conservadas para a orientação dos edificadores.

Sendo Salomão ainda moço, recuava ante o peso das responsabilidades que sobre ele
recairiam com a ereção do templo e governo do povo de Deus. Disse-lhe, porém, Davi:
"Esforça-te e tem bom ânimo, e faze a obra. Não temas, nem te desalentes [pela
grandeza dos planos], pois o Senhor Deus, o meu Deus é contigo. Ele não te deixará
nem te desamparará." 1 Crônicas 28:20. "O Senhor te escolheu para edificares uma
casa para o santuário. Esforça-te e faze a obra." Versículo 10. Tudo quanto o homem
recebe da generosidade de Deus, ainda pertence a Ele. O que quer que o Senhor
tenha outorgado dentre as coisas belas e valiosas da Terra, é posto nas mãos dos
homens para desenvolver-lhes e provar-lhes o caráter — sondar a profundidade de seu
amor por Ele e o reconhecimento de Seus favores. Por mais maravilhosas que sejam
as faculdades e talentos humanos, ninguém possui nada que não tenha recebido de
Deus e que o Senhor não possa retirar caso estes preciosos sinais de Seu favor não
sejam apreciados e devidamente aplicados.

ENCARGOS E RESPONSABILIDADES

Obediência Implícita - A todos quantos se empenham no serviço, o Senhor concede


sabedoria. Tanto o tabernáculo, conduzido de lugar em lugar no deserto, como o
templo em Jerusalém foram construídos de acordo com as específicas instruções
divinas. Através dos séculos, Deus tem sido minucioso quanto aos propósitos e à
realização de Sua obra. Nesta geração, conferiu a Seu povo muita luz e instrução a
respeito de como Sua obra deve ser levada avante — de maneira elevada, refinada e
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conscienciosa. Agrada-Se daqueles que realizam no serviço o Seu desígnio. Somente
os que, cônscios de sua própria deficiência, obedecem implicitamente às ordens do
Senhor, podem permanecer em Seu serviço.
Quando as pessoas acham que é coisa sem importância obedecer a um "assim diz o
Senhor" no que se refere à Sua obra, mas julgam que devem pôr em prática seus
próprios planos, evidenciam com isto sua inaptidão para qualquer cargo de confiança
em Sua causa. Em todo esforço para promover os interesses da obra do Senhor,
devemos perder de vista o próprio eu e ter em vista somente a glória de Deus.
Existem aqueles que pensam poder melhorar o plano elaborado pelo Senhor. Acham
que podem traçar para si mesmos uma conduta melhor do que aquela que para eles
por Deus foi traçada. Essas pessoas, ao escolherem o critério humano, endurecem o
coração contra a direção divina e seguem seus próprios caminhos. A menos que eles
se arrependam, virá o tempo em que olharão para a obra de toda uma vida como
completo fracasso. A sabedoria do homem, quando exercida sem a orientação de
Cristo, é um elemento perigoso.

Qualquer reconhecimento ou exaltação obtida à parte de Deus não vale nada, pois o
Céu não a sanciona. Ter a aprovação dos homens não conquista a aprovação de Deus.
As pessoas que querem ser reconhecidas por Deus no dia do juízo devem hoje ouvir o
Seu conselho e submeter-se à Sua vontade. Só assim podem entrar na posse das ricas
bênçãos capazes de habilitá-los para receberem a aprovação divina. Cumpre-lhes
conservar a fé inabalável até o fim, recusando-se a ser desviados de sua lealdade por
quaisquer projetos ambiciosos.

ORDEM E ORGANIZAÇÃO

Nosso Deus é um Deus de ordem. Tudo quanto se acha relacionado com o Céu está
em perfeita ordem. Sujeição e completa disciplina assinalam os movimentos da hoste
angélica.
É calculado esforço de Satanás levar os professos cristãos o mais longe que lhe seja
possível das medidas tomadas pelo Céu. Portanto, ele engana por vezes mesmo o
professo povo de Deus, fazendo-os crer que a ordem e a disciplina são inimigas da
espiritualidade e que a única segurança para eles é seguir cada um sua própria
orientação. Se não reconhecermos a necessidade de ação harmoniosa e formos
desordenados, indisciplinados, desorganizados em nossa maneira de agir, os anjos,
que são inteiramente organizados e agem em perfeita ordem, não podem trabalhar
com êxito em nosso favor. Afastam-se tristes, pois não são autorizados a abençoar a
confusão, a desordem e a desorganização.

Todos quantos desejam a cooperação dos mensageiros celestes, devem trabalhar em


harmonia com eles. Aqueles que receberam a unção do Alto hão de em todos os seus
esforços promover a ordem, a disciplina e a unidade de ação. Só assim os anjos de
Deus poderão cooperar com eles. Jamais, porém, hão de esses celestes mensageiros
sancionar a irregularidade, a desorganização e a desordem. Todos esses males são
resultado do planejado esforço de Satanás para enfraquecer nossas forças, destruir
nosso ânimo e impedir a ação bem-sucedida. Deus deseja que Sua obra seja feita de
forma precisa e metódica, a fim de que Ele possa colocar nela o selo de Sua
aprovação.

A NECESSIDADE DE SÁBIO DISCERNIMENTO

Recebendo Para Dar

Embora o Senhor proveja homens e mulheres de tudo quanto necessitam, comunica


seus dons somente àqueles que podem fazer deles o uso apropriado. Pode conceder
maior discernimento a alguns do que a outros porque sabe que aqueles hão de
empregar este dom para Sua glória. Quando o obreiro anela por sabedoria celestial
mais do que por riqueza, poder ou fama, Deus não o decepciona. Tal obreiro aprenderá
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do Grande Mestre não apenas o que deve fazer, mas como fazê-lo da maneira que
alcance a aprovação divina.

A pessoa a quem o Senhor dotou de especial sabedoria será habilitada, pela bênção
de Deus, a instruir seus companheiros de trabalho a terem raciocínio rápido e a serem
dignos de confiança e fiéis ao princípio. Seu zelo consagrado, seu sábio conselho e
piedade serão uma inspiração para seus colegas de trabalho. Estes serão levados, não
a louvar e exaltar o agente humano nem a tornar-se dele dependente, mas a recorrer
por si mesmos à Fonte de toda sabedoria verdadeira em busca da ajuda de que
precisam. Deus é grandemente desonrado por aqueles que dependem servilmente de
seres humanos. Aquele que disse a todos quantos Nele crêem como Salvador pessoal:
"Certamente estou convosco todos os dias, até a consumação do século", há de guiar
e ensinar aqueles que O reconhecem como seu Guia e Instrutor (Mateus 28:20).

A Dedicação do Templo

Vários anos se haviam empregado na construção do templo e finalmente ficou


concluído. Agora, para que esse belo palácio se tornasse de fato, como Davi havia
declarado, um lugar de habitação "não para homem, mas para o Senhor Deus",
restava a solene cerimônia de dedicá-lo formalmente a Jeová e a Seu culto (1 Crônicas
29:1).

O tempo escolhido para a dedicação era muito favorável — o sétimo mês, quando as
pessoas de toda a parte do reino costumavam reunir-se em Jerusalém para celebrar a
Festa dos Tabernáculos. Essa festividade era preeminentemente uma ocasião de
regozijo. Estando findos os labores da ceifa e não tendo começado as fadigas do novo
ano, o povo estava livre de cuidados e podia entregar-se às sagradas e jubilosas
influências da ocasião.

No tempo designado, "uma grande congregação" de todas as partes do território


reuniu-se em Jerusalém e tomou parte na remoção do tabernáculo do deserto e todo o
seu santo mobiliário, inclusive a arca do concerto, para o templo.

A hora do serviço dedicatório revelou uma cena de grande esplendor. Diante do


templo estavam reunidas as hostes de Israel e os ricamente vestidos representantes
de muitas nações estrangeiras. Salomão pôs-se de pé com o rosto voltado para o
grande altar das ofertas queimadas. Os sacerdotes que haviam levado para ali a
mobília sagrada, saíram do lugar santo, e ocuparam os lugares a eles designados no
átrio do templo. Os cantores, levitas "vestidos de linho fino, com címbalos, com
alaúdes e com harpas estavam em pé ao oriente do altar e, com eles, cento e vinte
sacerdotes que tocavam as trombetas." 2 Crônicas 5:12.

OS PERIGOS DA PROSPERIDADE

Em meio à maravilhosa prosperidade de Salomão emboscava-se o perigo. Os pecados


dos últimos anos de seu pai Davi, embora se havendo ele se arrependido deles e
tendo sido severamente punidos, haviam feito que o povo se tornasse ousado na
transgressão dos mandamentos de Deus. Por meio de associação com nações
circunvizinhas, más influências foram gradualmente permeando o reino que havia sido
abençoado de maneira tão notável. Não se fazia indagação a Deus. A riqueza, com
todas as suas tentações, chegaram rapidamente nos dias de Salomão a um número
crescente de pessoas. "Fez o rei que em Jerusalém houvesse ouro e prata como
pedras preciosas, e cedros em abundância como sicômoros que há nas baixadas." 2
Crônicas 1:15.

Através dos séculos, riquezas e honras têm sido consideradas de muito perigo para a
humildade e espiritualidade. Quando alguém prospera, quando todos os seus
semelhantes falam bem dele, é que está em extraordinário perigo. O homem é ser
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humano. A prosperidade espiritual só continua enquanto o homem depende
inteiramente de Deus para a obtenção de sabedoria e perfeição de caráter. E os que
mais sentem sua necessidade de dependência de Deus são geralmente os que têm a
menor quantidade de riquezas terrestres e honra humana de que depender.

A Aprovação Humana

Há perigo em dar ricos presentes ou proferir palavras de elogio a agentes


humanos.

Os que são favorecidos pelo Senhor precisam estar constantemente em guarda para
que o orgulho não venha a brotar e alcançar supremacia. Aquele que tem seguidores
incomuns, aquele que tem recebido muitas palavras de elogio dos mensageiros do
Senhor, necessita das orações especiais dos fiéis atalaias de Deus, para que fique
escudado contra o perigo de alimentar pensamentos de vaidade e orgulho espiritual.
Jamais deve tal pessoa manifestar presunção ou tentar agir como ditador ou
dominador. Ore ele e vigie, tendo em vista unicamente a glória de Deus. À medida que
sua imaginação passa a dominar coisas não vistas e ele contempla a alegria da
esperança que diante dele está posta – mesmo o precioso privilégio da vida eterna – o
elogio humano não lhe encherá a mente de pensamentos de orgulho. E por vezes,
quando o inimigo faz esforços especiais para corrompê-lo por meio de lisonja e honra
mundana, seus irmãos devem fielmente adverti-lo dos perigos que o ameaçam; pois,
se for deixado à sua própria sorte, estará inclinado a cometer erros e revelar
fragilidades humanas.

Vale da Humilhação

Não é a taça vazia que temos dificuldade em carregar. É a taça cheia até à borda que
precisa ser cuidadosamente equilibrada. A aflição e a adversidade podem causar
muitos inconvenientes e trazer grande depressão; mas é a prosperidade que é
perigosa para a vida espiritual. A menos que o súdito humano esteja em constante
submissão à vontade de Deus, a menos que seja santificado pela verdade, e tenha a
fé que opera por amor e purifica a alma, a prosperidade certamente despertará a
inclinação natural para a presunção.

Nossas orações precisam ser proferidas principalmente em favor dos homens que
ocupam altos postos. Eles precisam das orações de toda a Igreja, pois lhe são
confiadas prosperidade e influência.

No vale da humilhação, onde os homens dependem de Deus para que os ensine e lhes
guie cada passo, há relativa segurança. Cada um, porém, dos que estão em viva
comunhão com Deus, ore em favor dos homens que ocupam posições de
responsabilidade — pelos que estão em elevado pináculo, e que por sua elevada
posição, presumem possuir muita sabedoria. A não ser que tais homens sintam sua
necessidade de um Braço mais forte do que o braço da carne em que se apoiar, a
menos que coloque em Deus sua dependência, sua visão das coisas ficará distorcida,
e eles cairão.

"O Que Semeia a Perversidade Sega Males"

Uma das mais poderosas influências que levaram à apostasia de Salomão foi o orgulho
da prosperidade. Ao lhe advirem riqueza e honra mundana ele a princípio continuou
humilde, mas após certo tempo começou a perder de vista a fonte de sua inigualada
prosperidade. Isso levou a um uso errôneo dos talentos da riqueza e da influência. Os
dons do céu foram pervertidos para fins egoísticos.

A dissipação de Salomão foi acompanhada de extravagância. Para sua primeira


esposa, filha de Faraó, construiu magníficos palácios "de pedras escolhidas. . . por
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dentro e por fora; e isto desde o fundamento até as beiras do teto." "Construiu
Salomão os seus palácios, e levou treze anos para acabá-los." 1 Reis 7:9, 1.

Apostasia Nacional

A aliança de Salomão com nações pagãs seguiu-se de males que levaram muitos dos
filhos de Israel à transgressão da Lei de Deus. Multidões foram contaminadas com os
princípios e práticas dos pagãos. Introduziu-se na Palestina a poligamia. O puro serviço
religioso instituído por Deus foi substituído por idolatria da pior espécie. Sacrifícios
humanos eram oferecidos aos ídolos, e apoiados os ritos licenciosos praticados pelos
pagãos.

Ao rejeitar os caminhos de Deus pelos caminhos dos homens, começou a queda de


Israel. Assim também continuou, até que o povo judeu se tornou presa das próprias
nações cujas práticas havia preferido seguir.

O Espírito de Sacrifício

O ponto de partida para a apostasia de Salomão pode remontar a muitos desvios


aparentemente insignificantes dos retos princípios. As ligações com mulheres idólatras
não foram de maneira nenhuma a causa única de sua queda. Entre as causas
principais que levaram Salomão ao descomedimento e à opressão tirânica, estava a
conduta que adotou no desenvolver e no nutrir um espírito de cobiça.

As maléficas influências postas em operação pelo emprego desse homem de espírito


ganancioso permearam todos os ramos do serviço do Senhor, estendendo-se pelo
reino de Salomão. Os altos salários reivindicados e obtidos ofereceram ocasião para a
condescendência com o luxo e a extravagância. Nos efeitos de vasto alcance dessas
influências podem-se reconstituir os vestígios de uma das principais causas da terrível
apostasia daquele que uma vez fora o mais sábio dos mortais. O rei não estava
sozinho em sua apostasia. Extravagância e corrupção manifestavam-se por toda
parte. Os pobres eram oprimidos pelos ricos. O espírito de abnegação no serviço de
Deus foi por assim dizer perdido.

Eis aqui importantíssima lição para o povo de Deus hoje — lição que muitos são
tardios em aprender. O espírito de cobiça, de buscar a posição mais elevada e os mais
altos salários é freqüente no mundo. Bem raramente se encontra o antigo espírito de
abnegação e sacrifício. Mas este é o único espírito que pode inspirar o verdadeiro
seguidor de Jesus. Nosso divino Mestre deu-nos o exemplo da maneira pela qual
devemos trabalhar. Àqueles a quem ordenou: "Vinde após Mim, e Eu vos farei
pescadores de homens", não ofereceu nenhuma quantia estipulada como recompensa
por seus préstimos. Deviam ser participantes de Sua abnegação e sacrifício.

Deve-se exercer grande cuidado no tocante ao espírito que permeia as instituições do


Senhor. Essas instituições foram estabelecidas com sacrifício próprio e edificadas com
as abnegadas dádivas do povo de Deus e o desinteressado trabalho de Seus servos.
Tudo quanto se relaciona com o serviço institucional deve levar a assinatura do Céu.
Cumpre incentivar e cultivar a intuição da santidade das instituições do Senhor. Os
obreiros devem humilhar o coração perante o Senhor, reconhecendo-Lhe a soberania.
Todos devem viver de acordo com os princípios de abnegação. À medida que o obreiro
fiel e abnegado, com sua lâmpada espiritual espevitada e acesa, esforça-se
abnegadamente para promover os interesses da instituição em que trabalha, obterá
preciosa experiência sendo habilitado a dizer: "Na verdade o Senhor está nesse lugar".
Sentir-se-á altamente privilegiado em lhe ser permitido dar à instituição do Senhor,
sua capacidade, serviço e incansável vigilância.

Ostentação Exterior

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Lamentável aspecto da experiência de Salomão foi sua suposição de que edifícios
imponentes e magníficos mobiliário caracterizassem a obra de Deus. Esforçava-se por
imitar o mundo e com ele competir. Perdeu de vista o princípio fundamental
subjacente à influência que sempre deve exercida pelo povo de Deus — obediência a
todo preceito da Sagrada Escritura. O real poder de Deus não consiste em números
nem na riqueza e prosperidade mundana que se ostentem, mas em firme adesão a
Sua palavra. A verdade obedecida torna-se o poder de Deus para salvação. Salomão
teve a ambição de exceder a todas as outras nações em poder e grandeza. Foi seu
desejo alcançar maior poder político, que o levou a formar alianças com nações
idólatras, e selar essas alianças por meio de casamentos com princesas pagãs. Em
conformidade com os costumes de nações circunvizinhas, manteve luxuosa corte em
muitos aspectos sobrepujando em esplendor as cortes dos governantes de outros
reinos. O luxo foi seguido de libertina extravagância. Vastas riquezas eram
desperdiçadas e isso resultou em cobrança de pesados impostos aos pobres.

"Fiz para mim obras magníficas", declara Salomão (Eclesiastes 2:4). Entre estas
estavam "os terraços de apoio, o muro de Jerusalém, como também a Hazor, a Megido
e a Gezer." 1 Reis 9:15. "Também edificou a Tadmor no deserto, e a todas as cidades-
armazéns em Hamate. Edificou também a alta Bete-Horom, e a baixa Bete-Horom,
cidades fortificadas com muros, portas e ferrolhos; como também a Baalate, e todas
as cidades-armazéns que Salomão tinha, e todas as cidades para os carros, e as
cidades para os cavaleiros, e tudo o que, conforme o seu desejo, quis edificar em
Jerusalém, no Líbano e em toda a terra do seu domínio." 2 Crônicas 8:4-6.

Tão envolvido estava Salomão por pensamentos de vaidades, que a perfeição e beleza
do caráter foram passados por alto em sua tentativa de suplantar outras nações em
ostentação exterior. Vendeu sua honra e sua integridade procurando glorificar a si
mesmo perante o mundo, e finalmente se tornou um déspota. O poder e as riquezas
obtidos com sacrifícios de retos princípios se constituíram para ele terrível maldição.

Quão assinalado é o contraste entre os ambiciosos desejos de Salomão de exaltar-se e


a vida que o Filho de Deus viveu nesta Terra! O Salvador da humanidade nasceu de
pais humildes num mundo ímpio e amaldiçoado pelo pecado. Foi criado obscuramente
em Nazaré, pequena cidade da Galiléia. Começou Sua obra em pobreza e sem posição
social no mundo. Não buscou a admiração ou o aplauso do mundo. Habitou entre os
humildes. Segundo todas as aparências, era simples homem humilde, e tinha poucos
amigos. Assim Deus apresentou o Evangelho de maneira em tudo diferente daquela
que muitos julgam sábia, de proclamar o mesmo Evangelho nesta época.

"Apartai-vos"

Colocado à frente de uma nação estabelecida como luz para as nações circunvizinhas,
Salomão poderia haver trazido grande glória ao Senhor do Universo por meio de uma
vida de obediência. Poderia ter animado o povo de Deus a evitar os males que eram
praticados nas nações ao seu redor. Poderia ter usado a sabedoria dada por Deus e o
poder da influência na organização e direção de um grande movimento missionário
para iluminar os que ignoravam a Deus e Sua verdade. Assim multidões poderiam ter
sido ganhas para a lealdade do Rei dos reis.

Satanás bem sabia os resultados que se seguiriam à obediência e durante os


primeiros anos do reinado de Salomão — anos gloriosos em razão da sabedoria,
beneficência e retidão do rei — procurou introduzir influências que insidiosamente
haviam de minar a lealdade de Salomão aos princípios e fazê-lo separar-se de Deus. E
que o inimigo foi bem-sucedido nesse esforço, sabemos pelo relato: "Salomão fez
aliança com Faraó, rei do Egito, e tomou por mulher a filha de Faraó. Trouxe-a à cidade
de Davi" 1 Reis 3:1.

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Ao formar aliança com uma nação pagã e selar o pacto por meio de casamento com
uma princesa idólatra, Salomão rejeitou temerariamente as sábias providências que
Deus havia tomado para manter a pureza de Seu povo. A esperança de que sua
esposa egípcia se convertesse era apenas uma débil desculpa ao pecado. Na
transgressão de uma ordem direta de permanecer separado de outras nações, o rei
uniu sua força ao braço da carne.

"A Tristeza Segundo Deus Opera Arrependimento"

Duas vezes durante o reinado de Salomão o Senhor lhe havia aparecido com palavras
de aprovação e de conselho. Logo após ascender ao trono o rei passou por notável
experiência em Gibeom, onde o Senhor, após lhe prometer sabedoria, riqueza e honra,
o admoestou a continuar obediente e humilde. "Anda em Meus caminhos", aconselhou
ao jovem rei, "para guardar Meus estatutos e Mandamentos". 1 Reis 11:38 (KJV). Após
a dedicação do templo, "o Senhor tornou a aparecer a Salomão" (1 Reis 9:2),
exortando-o a permanecer fiel ao seu sagrado encargo. "Anda perante Mim", rogou o
Senhor, "como andou Davi, teu pai, com inteireza de coração e com sinceridade, para
fazeres segundo tudo o que te mandei." 1 Reis 9:4. Como recompensa da obediência,
o Senhor declarou: "Confirmarei o trono de teu reino sobre Israel para sempre, como
prometi a Davi, teu pai, dizendo: Não te faltará sucessor sobre o trono de Israel."
Versículo 5.

Claras são estas admoestações, maravilhosas as promessas de prosperidade, sob


condição de obediência. Contudo, daquele que, em circunstâncias, caráter e vida,
parecia favorecido sobre todos os outros, é relatado que desviou "o seu coração do
Senhor Deus de Israel, que duas vezes lhe aparecera. Embora acerca deste negócio
lhes tivesse dado ordem que não seguisse a outros deuses, porém ele não guardou o
que o Senhor lhe ordenara." 1 Reis 11:9, 10.

Tão completa foi a apostasia de Salomão, tão endurecido na transgressão se tornou


seu coração, que seu caso parecia quase sem esperança. Mas o Senhor em Sua
infinita misericórdia não o abandonou. Por meio de juízos terríveis e palavras de
severa repreensão, procurou despertar o rei para a percepção da malignidade do
pecado. Removeu-se o protetor cuidado de Deus e foi permitido que adversários o
assediassem enfraquecessem. "Então levantou o Senhor contra Salomão um
adversário, a Hadade, o edomita." 1 Reis 11:14. "E Deus lhe levantou outro adversário,
a Rezom, . . . comandante de um esquadrão", que "reinou sobre a Síria e foi inimigo de
Israel. E também Jeroboão, . . . servo de Salomão", "homem valente e capaz",
"rebelou-se contra o rei." 1 Reis 11:23-26.

Deus falou a Salomão não somente por meio desses juízos mas também por um
profeta, que transmitiu aterradora mensagem: "Já que houve isto em ti, que não
guardaste a Minha aliança e os Meus estatutos que te ordenei, certamente rasgarei de
ti este reino, e o darei a teu servo. Todavia, não o farei nos teus dias, por amor de
Davi, teu pai. Da mão de teu filho o rasgarei." 1 Reis 11:11, 12.

O Poder da Influência

Por centenas de anos após a morte de Salomão, estranha e melancólica visão se podia
captar do outro lado do Monte Moriá. Coroando a eminência do Monte das Oliveiras, e
avultando acima dos bosques de murta e oliveiras, estavam imponentes amontoados
de edificações, para o culto idólatra de gigantescas e indecorosas imagens de madeira
e pedra. Muito forasteiro devoto, vendo esses santuários pela primeira vez, foi levado
a indagar: Como podem essas construções e ídolos do lado oposto ao desfiladeiro de
Josafá tão impiamente afrontar o templo de Deus? Deve ser dada uma resposta veraz:
"O construtor foi Salomão. Aquele a quem Deus tão maravilhosamente honrou deixou

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de dar a glória a Deus, e finalmente foi persuadido por suas mulheres pagãs a
construir esses altares para culto idólatra."

Pouco pensava Salomão ao construir os santuários profanos na colina diante de


Jerusalém, que essas evidências de sua apostasia permaneceriam de geração em
geração a testificar contra ele. Apesar de seu arrependimento, o mal que fez lhe
sobreviveu, dando testemunho da terrível queda do maior e do mais sábio dos reis.

Após mais de três séculos, Josias, o jovem reformador, em seu zelo religioso demoliu
essas construções e todas as imagens de Astarote, Camos, e Moloque. Muitos dos
escombros da demolição rolaram abaixo para o canal de Cedrom, mas permaneceram
grandes massas de ruínas. Mesmo ainda nos dias de Cristo as ruínas do "Monte das
Ofensas" — como foi chamado o lugar por muitos dos sinceros israelitas — ainda
podiam ser vistas. Pudesse Salomão, ao erguer esses santuários idólatras, ter
penetrado o olhar no futuro, como teria recuado, horrorizado ao pensar no triste
testemunho que daria ao Messias!

Por uma vida de lealdade e integridade Salomão poderia ter feito muito para preservar
o povo de Deus da apostasia. Sua primitiva piedade e sua grande sabedoria, o poder e
a prosperidade que acompanharam seu reinado, o respeito e a honra demonstrados
ao reino de Israel pelas nações circunvizinhas — todas essas condições favoráveis se
combinaram para aumentar em muito a influência exercida pelo rei. Tivesse ele
permanecido sincero, fervoroso e verdadeiro, não teria nódoa de apostasia a macular
sua vida, e poderia ter exercido poderosíssima influência para o bem na vida de
outros. Mas ele se desviou de sua lealdade a Deus; e a nação de que ele havia sido o
orgulho seguiu-lhe a direção. Tão poderosa foi sua influência que por sua apostasia
desencaminhou a nação.

O arrependimento de Salomão foi sincero, mas o dano que seu exemplo de mau
proceder havia produzido no povo, não pôde ser devidamente remediado. Na angústia
de amarga reflexão sobre a má influência de seu pecaminoso proceder, foi
constrangido a declarar: "Melhor é a sabedoria do que as armas de guerra, mas um só
pecador destrói muitos bens." Eclesiastes 9:18. "Há um mal que vi debaixo do Sol, erro
que procede do governador: o tolo posto em grandes alturas." "Assim como a mosca
morta faz que o ungüento do perfumista exale mau cheiro, da mesma forma um pouco
de estultícia pesa mais do que a sabedoria e a honra." Eclesiastes 10:5, 6, 1.

Confiantes Até o Fim

A vida de Salomão é plena de advertência, não só para a juventude, mas para os que
alcançaram a maturidade e a velhice, os que estão descendo a colina da vida, a olhar
para o Sol poente. Vemos e ouvimos falar da instabilidade da juventude, a hesitação
dos jovens entre o certo e o errado, e a corrente de más paixões que se lhes
demonstra demasiadamente forte. Mas não procuramos instabilidade e infidelidade
nos adultos. Esperamos, isto sim, que o caráter esteja estabilizado e os princípios
firmemente arraigados. Em muitos casos isso é assim, mas há exceções como a de
Salomão. "Aquele, pois, que pensa estar em pé, cuide para que não caia." 1 Coríntios
10:12. Quando Salomão devia ter sido, no caráter, como um vigoroso carvalho, caiu
de sua firmeza sobre o poder da tentação. Quando sua força deveria ter sido a mais
firme, viu-se nele o mais fraco dos homens.

De tais exemplos devemos aprender que a vigilância e a oração se constituem a única


segurança tanto para os jovens como para os velhos. O fato de uma pessoa ocupar
uma elevada posição e ter recebido grandes privilégios não a torna nem um pouco
mais segura. Durante muitos anos pode uma pessoa ter gozado genuína experiência
cristã, mas ainda acha-se exposta aos ataques de Satanás. Na batalha contra
corrupções interiores e tentações exteriores, até o sábio e poderoso Salomão foi
vencido. Sua queda nos revela que quaisquer que sejam as qualidades intelectuais de
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um homem e por mais fielmente que ele tenha servido ao Senhor no passado, jamais
pode, sem risco algum, confiar em sua própria sabedoria e integridade.

Sempre que alguém realiza algo de caráter espiritual ou temporal, deve lembrar-se de
que o fez somente pela graça e cooperação de seu Criador. Quando entregue a si
mesma, a pessoa revela seu temperamento natural; aparece o egoísmo; a sabedoria
humana ocupa o trono do coração. Mas, aqueles que fazem de Deus sua eficiência,
reconhecem suas próprias fraquezas e o Senhor os supre com Sua sabedoria. À
proporção que, dia a dia, confiam em Deus, aceitando humildemente Sua vontade, e
de todo o coração e com a mais estrita integridade, crescem em conhecimento e
capacidade. Mediante voluntária obediência, demonstram respeito e honra a Deus, e
são por Ele honrados.

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