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CENTRO TECNOLÓGICO
ESCOLA DE ENGENHARIA
LABORATÓRIO DE TECNOLOGIA, GESTÃO DE NEGÓCIOS E MEIO
AMBIENTE
MBA EM ENGENHARIA ECONÔMICA E FINANCEIRA
SEGMENTAÇÃO
Niterói
2006
GÊIZA LÍLIAN BARRETO POWELL
RENATA DE PINHO GOMES
Orientador:
Marco Antonio Oliveira, D. Sc.
Niterói
2006
Dedico este trabalho
A nossas mães, pais e irmãos que nos incentivaram e nos ajudaram a chegar até aqui.
caminho.
Renata Araújo, Fernando Borges e a todos os que nos ajudaram a divulgar o questionário.
Aos amigos e amigos dos amigos, aos conhecidos e desconhecidos que confiaram na
Tolerância ao risco é um importante conceito que tem implicações tanto para investidores
individuais quanto para gestores de investimentos. Atualmente sabe-se que o gerenciamento
de bens de investidores pode ser melhorado através da combinação entre a metodologia de
investimentos tradicional, baseada na Teoria Moderna de Portfólio, e as observações feitas
em finanças comportamentais. No mercado financeiro americano há uma diversidade de
estudos abordando a influência de variáveis demográficas e psicográficas no comportamento
de tolerância ao risco, apesar de serem pouco conclusivos. No mercado financeiro brasileiro,
no entanto, trabalhos abordando finanças comportamentais ainda são raros.
O objetivo principal do estudo foi avaliar o perfil de risco de diversos segmentos da
sociedade brasileira e, através de análise estatística, determinar a existência de padrões
dependentes de fatores demográficos. Para tal, foram testadas três hipóteses que relacionam
sexo, idade do investidor e renda familiar com comportamento de tolerância ao risco.
Objetivos secundários do estudo foram: (i) estudar o comportamento de tolerância ao risco
dos mesmos segmentos quando se considera o horizonte de investimento; e (ii) analisar o
perfil do investidor da amostra e a relação existente entre conhecimento em finanças e
tolerância ao risco.
Embora os resultados encontrados não possam ser generalizados para o âmbito brasileiro,
são um forte indicativo de que: (i) mulheres são menos tolerantes ao risco do que homens;
(ii) a idade do investidor não possui relação estatisticamente significativa com o grau de
tolerância ao risco; e (iii) quanto maior a renda familiar do indivíduo, maior a sua tolerância
ao risco.
Palavras-chave: Tolerância ao Risco. Fatores demográficos. Segmentação. Finanças
Comportamentais.
ABSTRACT
Tabela 10 - ANOVA para a Tolerância ao Risco por Renda Familiar Mensal ............... 50
LISTA DE SIGLAS
1 INTRODUÇÃO ..............................................................................................12
1.2 OBJETIVOS.................................................................................................13
2 REVISÃO DE LITERATURA......................................................................16
2.2 HISTÓRICO.................................................................................................18
3 PROPOSIÇÕES .............................................................................................27
4 METODOLOGIA...........................................................................................29
6 DISCUSSÃO ...................................................................................................52
7 CONCLUSÃO.................................................................................................56
1 INTRODUÇÃO
1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO
Tolerância ao risco pode ser definida como uma combinação de atitude de risco e
capacidade de risco (CORDELL, 2002), mas alguns autores concordam que, apesar de inter-
relacionados, estes dois conceitos são distintos e assim devem permanecer (ROSZKOWSKI;
DAVEY; GRABLE, 2005). Um dos conceitos de tolerância ao risco seria “até que ponto
entendimento mais apurado dos seus perfis de risco, pode ser melhorado através da
preocupação com o tema, apesar de estes serem pouco conclusivos devido às discordâncias
trabalhos abordando finanças comportamentais ainda são raros, sendo muitos desenvolvidos
tolerância ao risco ainda guarda muitas questões sem resposta, particularmente quanto aos
1.2 OBJETIVOS
1.3 PROPOSIÇÕES
O trabalho propõe o teste de três hipóteses para análise da relação existente entre as
risco:
H2: Pessoas mais jovens são mais tolerantes ao risco do que pessoas mais velhas.
H3: Quanto maior a renda familiar, maior será a tolerância ao risco do indivíduo.
14
- mulheres são menos tolerantes ao risco do que homens, embora a relação tenha se
mostrado fraca;
de tolerância ao risco; e
- quanto maior a renda familiar do indivíduo, maior a sua tolerância ao risco, embora
em função das limitações encontradas, são um forte indicativo de que sexo, renda familiar e
1.4 JUSTIFICATIVA
padrões ocorrem podem ser bastante úteis não só para auxiliar na análise preliminar de
ativos.
dos resultados.
15
- revisão de literatura, onde são abordados (i) conceitos de tolerância ao risco; (ii)
- análise dos resultados, onde são apresentados os pontos mais relevantes sobre
2 REVISÃO DE LITERATURA
efetivamente a tolerância ao risco de cada investidor pode levar a uma homogeneização dos
variações consideráveis nas definições utilizadas. Algumas mais conhecidas foram citadas
Tolerância ao risco também pode ser definida como uma combinação de atitude de
risco - quanto risco eu escolho ter - e capacidade de risco - quanto risco eu posso ter
investidor, estes dois conceitos são distintos e assim devem permanecer. Para eles tolerância
ao risco pode ser definida como “até que ponto uma pessoa escolhe arriscar experimentar
que, para isso, seu risco de perda do capital investido é reduzido. Preza a
Para esse investidor, a segurança é importante, mas também quer retornos acima
rentabilidade, mesmo que corra risco de perder parte de seu patrimônio. Seu
mercado.
2.2 HISTÓRICO
Desde que Henry Markowitz escreveu seu artigo Portfolio Selection em 1952,
profissionais da área de investimento têm sido educados numa visão bem conhecida de
maximizassem o retorno para um dado nível de risco. Estes eram combinados para criar uma
portfólio mais adequado para seu perfil de tolerância ao risco (NEVINS, 2003).
ao risco relativo, juntamente com as hipóteses de que a aversão ao risco relativo aumenta
aversão ao risco relativo para segmentos da população utilizando uma variedade de técnicas.
Outros conduziram testes empíricos para o número crescente de hipóteses sobre aversão ao
19
Segundo Nevins (2002), a procura por novas idéias em Finanças ganhou força em
de a maioria dos processos de investimento usados atualmente serem efetivos pelos padrões
estabelecidos pela teoria de seleção de portfólio de Markowitz, eles causam menos impacto
entendimento mais apurado dos seus perfis de risco, pode ser melhorado através da
nuances comportamentais mostra a preocupação com o tema, apesar de estes serem pouco
investidor brasileiro. Segundo Corrêa (2001), grande parte dos investidores atuantes é das
regiões Sul e Sudeste, devido ao fato de nessas regiões se concentrarem os maiores negócios
sexo masculino, ao contrário de países europeus, onde o sexo feminino tem boa participação
no mercado. Os investidores estão, em sua maioria, entre 30 e 50 anos, sendo casados e com
nível superior.
tolerância ao risco ainda guarda muitas questões sem resposta, particularmente quanto aos
tenham sido propostos e testados, uma análise resumida dos resultados revela, mesmo no
Segundo Roszkowski; Davey; Grable (2005), em estudos deste tipo deve-se recorrer
tolerância ao risco. Através do uso desta ciência de medição, é possível elaborar pesquisas e
aquele que mede o que faz sentido medir e um teste confiável é aquele que faz isso
consistentemente.
Para estudos deste tipo também é preciso entender a relação existente entre alguns
fatores e o grau de tolerância ao risco. Para alguns fatores demográficos como idade, sexo e
raça, por exemplo, onde os indivíduos não têm chances reais de escolha, a relação causal
possível com a tolerância ao risco é óbvia. Esses fatores são denominados Variáveis Causais
Já a relação entre tolerância ao risco e outros fatores como nível de educação, estado
civil e número de dependentes, por exemplo, não é tão clara. Apesar de se supor que estes
fatores podem afetar a tolerância ao risco, também se pode supor que a tolerância ao risco
do indivíduo pode levá-lo a algumas escolhas em relação ao seu estilo de vida. Estes fatores
Alguns dos fatores mais abordados em estudos prévios serão apresentados a seguir.
21
financeira é a de que mulheres são mais avessas a risco que homens. Uma conseqüência
deste estereótipo é a discriminação estatística que reduz o sucesso das mulheres no mercado
financeiro e de trabalho. Espera-se que mulheres sejam investidoras mais conservadoras que
homens e, conseqüentemente, em geral são oferecidos a elas investimentos com menor risco
Isso porque experimentos abstratos fornecem um forte controle sobre o ambiente econômico
que envolve a decisão de risco e, com isso, podem não ser conclusivos (SCHUBERT et al,
1999).
FAN, 1998; RILEY; HUSSON, 1995), no entanto, o sexo não é significativo para prever
controladas, mulheres geralmente não fazem escolhas financeiras menos arriscadas que os
mulheres sendo mais propensas ao risco de perda. Com isso, o comportamento de risco
ligado especificamente ao sexo pode ser originado pelas diferenças entre as oportunidades
Estudos mais antigos mostram que a tolerância ao risco diminui com a idade
2003; INFORMATIVO ARUS, 2003), embora esta relação não seja necessariamente linear
MCKENZIE, 2003). Esta observação pode ser justificada utilizando-se como argumento que
investidores mais jovens têm um maior número de anos para se recuperar das perdas que
Pesquisas mais recentes, no entanto, não conseguem suportar esta teoria ou fornecem
Outros estudos, realizados com chefes de família, mostraram que famílias de pessoas
mais velhas e aposentadas alocam uma menor parte de seu portfólio em ativos de risco do
Há, ainda estudos demonstrando não haver uma relação significativa entre idade e
Renda e riqueza são dois fatores adicionais que, hipoteticamente, têm uma relação
positiva com a tolerância ao risco, ou seja, quanto maior a renda e a riqueza, maior será a
tolerância ao risco (GRABLE; LYTTON, 1999; SHAW, 1996; BERNHEIM et al, 2001
apud FAAG; HALLAHAN; MCKENZIE, 2003). Para alguns autores, a influência destes
WORDEN, 1996; INFORMATIVO ARUS, 2003), enquanto para outros ela existe, mas é
entanto, apresentam grandes variações. Por um lado, investidores ricos podem mais
riqueza acumulada pode até ser um reflexo da sua disposição a correr riscos. Por outro lado,
isto é visto como um contra-senso, já que pessoas ricas deveriam ser mais conservadoras
com seu dinheiro e pessoas com menor nível de riqueza pessoal deveriam enxergar o risco
como um bilhete de loteria, estando mais dispostas a correr risco associado com lucros não
Acredita-se que o nível de educação leva a uma maior tolerância ao risco financeiro
Alguns trabalhos mostram que a tolerância ao risco prevista aumenta com o nível de
1996), sendo maior para aqueles com nível superior completo e menor para aqueles com
entre estado civil e tolerância ao risco (MASTERS, 1989, HALIASSOS; BERTAUT, 1995
Outro estudo comparou diferentes estados civis, concluindo que divorciados são menos
tolerantes ao risco que viúvos e estes são menos que os casados, que por sua vez são menos
que os solteiros (RILEY; HUSSON, 1995). Segundo Spero (2000), para casados, a
discordância entre a visão dos cônjuges precisa ser equacionada, para evitar a sabotagem da
querem manter o padrão de vida do casamento, o que costuma ser difícil; já recém-viúvos
conclusivos. Enquanto para Schooley; Worden (1996) famílias não brancas e para Halek;
Heisenhauer (2001) negros e hispânicos tendem a ser mais tolerantes ao risco do que
brancos, para Sung; Hanna (1996) brancos não-hispânicos mostraram maior tolerância ao
risco prevista do que hispânicos ou aqueles em outros grupos étnicos que não negros.
Outros fatores foram estudados com menor expressão pelos autores relacionados.
tolerância ao risco do investidor. Para Informativo Arus (2003), quanto maior o número de
Segundo Spero (2000), a tolerância ao risco também pode ser associada ao tipo de
por exemplo, deve ser considerado que o fato de assumirem um risco ao possuir um negócio
não significa que eles tenham um perfil de investimento agressivo. Em geral, o próprio
26
negócio já é o risco assumido, e eles preferem ser mais conservadores com seus
investimentos.
Para Grable; Joo (2000), dois fatores se mostram mais significativos do que sexo na
Controle”, ou seja, aqueles que sentem ter controle sobre o que acontece em suas vidas são
mais tolerantes ao risco. Outro fator apontado é o Conhecimento sobre Finanças; quanto
diferenças culturais entre países, que podem ter origens no tipo de povoamento ou
determinada por região do Brasil. Os resultados demonstraram que estados do Sul e Sudeste
têm menor necessidade de controle de incertezas quando comparados aos estados do Norte e
exemplo, embora no estudo tenha sido detectado que a propensão média do investidor a
suportar risco não parece alterar ao longo do tempo ou responder a novidades ou eventos
financeiros globais.
27
3 PROPOSIÇÕES
Apesar de a visão mais difundida sobre tomada de decisão financeira ser a de que
mulheres são menos tolerantes a risco que homens (SCHUBERT et al, 1999) e alguns
GRABLE; JOO, 2000; HALEK; HEISENHAUER, 2001; PALSSON, 1996), para outros
autores o sexo não é significativo para prever tolerância ao risco (FAAG; HALLAHAN;
MCKENZIE, 2003; HANNA; GUTTER; FAN 1998; RILEY; HUSSON, 1995). Estes
financeiras depende fortemente da estrutura de decisão. Além disso, a maior parte dos
estudos, feitos para o mercado americano, mostra a realidade das mulheres daquele país.
hipótese:
Estudos mais antigos mostram que a tolerância ao risco diminui com a idade
2003; INFORMATIVO ARUS, 2003), embora esta relação não seja necessariamente linear
utilizando-se como argumento que investidores mais jovens têm um maior número de anos
para se recuperar das perdas que podem ocorrer em investimentos mais arriscados (FAAG;
HALLAHAN; MCKENZIE, 2003). Já pesquisas mais recentes não conseguem suportar esta
teoria ou fornecem evidências contrárias (WANG; HANNA, 1997; GRABLE, 2000 apud
28
FAAG; HALLAHAN; MCKENZIE, 2003). Há, ainda, estudos demonstrando não haver
uma relação significativa entre idade e tolerância ao risco (SUNG; HANNA, 1996;
H2: Pessoas mais jovens são mais tolerantes ao risco do que pessoas mais velhas.
Renda e patrimônio são dois fatores adicionais que, hipoteticamente, têm uma
relação positiva com a tolerância ao risco, ou seja, quanto maior a renda e o patrimônio,
maior será a tolerância ao risco (GRABLE; LYTTON, 1999, SHAW, 1996, BERNHEIM et
al, 2001 apud FAAG; HALLAHAN; MCKENZIE, 2003). Para alguns autores, a influência
WORDEN, 1996; INFORMATIVO ARUS, 2003), enquanto para outros ela existe, mas é
pequena (RILEY; HUSSON, 1995). Isto leva à necessidade de testar a seguinte hipótese:
H3: Quanto maior a renda familiar, maior será a tolerância ao risco do indivíduo.
29
4 METODOLOGIA
melhorá-lo;
Uma amostra conveniente de 450 pessoas, cujo escopo era brasileiros ou residentes
questionário para seus conhecidos, sendo verificado um efeito de rede, ou “bola de neve”
(REA; PARKER, 2002). Os questionários foram distribuídos somente uma vez para os
participantes entre os dias 24 e 30 de outubro de 2005 por meio eletrônico e só foram aceitos
preferiram não informar o nome. À medida que iam sendo abertas para consolidação, o
30
essenciais não respondidas, o número foi usado para localizar o respondente e solicitar o
A maior parte dos questionários foi respondida e reenviada por meio eletrônico e
conforme indicado por Churchill; Iacobucci (2005). Nesse texto era informado,
- planilha contendo:
sexo, faixa etária, nível de escolaridade, raça/ grupo étnico, estado civil,
sobre renda mensal podia causar para algumas pessoas, foi incluída a
tolerância ao risco usadas por Droms; Strauss (2003) para alocação de ativos
Conservador: de 13 a 18 pontos;
Moderado: de 19 a 24 pontos; e
Agressivo: de 25 a 30 pontos.
informava, ao final das cinco perguntas, o seu perfil de tolerância ao risco. Esse
questionário continha, também, uma pergunta usada em Droms; Strauss (2003), para
anos), Médio Prazo (quatro a sete anos) ou Longo Prazo (mais que sete anos);
carteira atual: caderneta de poupança; títulos e fundos de renda fixa; ações e fundos
das opções, dado que existia a opção “Outros” para cobrir investimentos não listados,
unidades para cada fator analisado. Para cada um deles, foi construída uma tabela
contingencial com tabulação cruzada (REA; PARKER, 2002), em que a variável dependente
- pontuação de tolerância ao risco - foi agrupada por perfil, sendo considerados os seguintes
intervalos:
sexo, idade e renda mensal - sobre a tolerância ao risco foi feita com base no horizonte de
investimento. Nesse caso, os dados para cada um dos horizontes possíveis (curto prazo,
médio prazo e longo prazo) foram isolados e foi repetido o teste de hipótese. O objetivo
desses testes foi verificar se o comportamento dos dados para cada horizonte seria diferente
foram aplicados testes para avaliar a significância estatística das diferenças observadas. Os
para determinar a validade estatística das diferenças observadas entre classes de dados,
sendo o único disponível para dados com ambas as variáveis medidas na escala nominal. Ele
também pode ser usado para testar dados medidos nas escalas ordinal e de intervalos,
e as que seriam esperadas caso não houvesse diferença entre as categorias das variáveis,
(fo – fe)2
2
χ =Σ
fe
caso não houvesse diferença entre as categorias, suposição conhecida como hipótese nula.
para um certo número de graus de liberdade, dentro de um nível de confiança. Dada uma
tabela contingencial cruzada, os graus de liberdade (gl) são obtidos pela seguinte fórmula:
gl = (l – 1) (c-1)
hipótese nula.
consistindo de duas categorias em qualquer escala (REA, PARKER, 2002, p. 181). Esse
teste consiste na comparação entre as médias aritméticas das duas categorias da variável
x1 – x 2
Z=
s1 2 s2 2
+
n1 n2
cada coluna (variável independente), s1 e s2 são os desvios-padrão para cada uma dessas
número de desvios depende do nível de confiança com o qual se deseja trabalhar (para este
estudo, 95%) e a direção – única ou dupla – da hipótese formulada. A direção dupla testa se
existe diferença significativa entre as médias obtidas; a direção única, se essa diferença
acontece em um sentido específico, como é o caso da hipótese de que homens são mais
Os valores críticos absolutos de Z para o nível de confiança de 95% são: 1,96 para os
testes de duas direções (bicaudais) e 1,645 para os testes de direção única (unicaudais). Se o
Z encontrado for maior que o Z crítico, rejeita-se a hipótese nula de que não há diferença
O teste Z é aplicável a amostras com pelo menos trinta elementos. Dado o número de
respostas obtidas, essa não foi uma limitação ao uso desse teste.
36
decidir se as diferenças amostrais observadas são reais ou casuais, isto é, se elas decorrem
(MILONE, 2004).
próximas. A hipótese nula para a análise das variâncias é a de que as médias populacionais
são iguais.
Para a análise da variância, é necessário obter a razão entre a variância das médias
amostrais (estimativa entre) e a média das variâncias amostrais (estimativa dentro), também
chamada de razão F. Quando F é menor que ou igual ao F crítico, aceita-se a hipótese nula.
O F crítico depende dos graus de liberdade das estimativas entre e dentro e do nível de
significância do teste.
O MS-Excel possui uma ferramenta para análise das variâncias (ANOVA), que
o F crítico.
37
De acordo com Rea; Parker (2002), os testes de significância estatística são capazes
de determinar se existe ou não uma relação entre variáveis, mas não medem a força dessa
4.4.1 V e Fi de Cramer
fórmula a seguir:
χ2
V=
n(M – 1)
contingencial cruzada.
contêm somente duas categorias. Neste caso, M – 1 é igual a 1 e a fórmula passa a ser:
χ2
Fi =
n
prazo. Destes, 108 (55% do total) foram respondidos por pessoas a quem o questionário foi
respondidos foi bastante satisfatória, principalmente dado o curto prazo para retorno e a
O perfil típico do respondente foi homem entre 31 e 40 anos, casado ou que vive
nasceu e vive no Sudeste do Brasil, empregado de empresa particular e com renda familiar
podendo, portanto, ser usada para fazer inferências estatísticas sobre as médias e a
distribuição da população, ela permite que sejam feitas inferências sobre o relacionamento
Não respondeu 2 1%
41
que a grande maioria dos entrevistados tem uma visão de curto ou médio prazo para seus
investimentos.
observar que os títulos e fundos de renda fixa são os investimentos preferidos pela maioria
dos pesquisados (68%), seguidos pelas ações e fundos de ações (50%) e pela caderneta de
poupança (44%).
Tabela 3 - Distribuição dos dados por tipo de investimento (fonte: elaboração própria)
O gráfico 1 apresenta a distribuição dos pesquisados por perfil de risco. O perfil mais
freqüente dentro da amostra analisada foi o Moderado, respondendo por 54% do total de
pesquisados.
Tolerância ao Risco
9% 1%
36% Muito Conservador
Conservador
Moderado
Agressivo
54%
risco. O número de respostas obtidas permitiu que fosse obtida uma curva próxima à normal,
conforme a tabela 4.
44
18% 250
Freqüências Acumuladas
16%
Freqüencias Relativas
14% 200
12%
150
10%
8%
100
6%
4% 50
2%
0% 0
12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30
Pontuação
Média 19,64141
Erro padrão 0,233656
Mediana 19
Modo 19
Desvio padrão 3,287834
Variância da amostra 10,80985
Curtose 0,196915
Assimetria 0,486953
Intervalo 18
Mínimo 12
Máximo 30
Soma 3889
Contagem 198
Maior(1) 30
Menor(1) 12
Nível de confiança(95,0%) 0,460789
45
5.2.1 Sexo
Por meio da tabela 5, é possível observar que a média da tolerância ao risco dos
homens é maior que a das mulheres. Analisando a questão com mais profundidade usando a
tabela contingencial com tabulação cruzada (tabela 6), percebe-se uma maior concentração
do perfil conservador para o sexo feminino e do perfil agressivo para o sexo masculino.
risco foram:
- Hipótese alternativa (H1): Homens são mais tolerantes ao risco do que mulheres
na amostra analisada.
não apenas uma diferença, mas também o sentido em que essa diferença ocorre, foi
possível afirmar que os homens são mais tolerantes ao risco que as mulheres (Z = 2,00,
maior que o Z crítico de 1,645), o que comprova a hipótese H1. Essa é, entretanto, uma
Nos testes segmentados por horizonte de investimento, foi verificado que, no curto
prazo, a relação se mantém, ou seja, os homens são mais tolerantes ao risco que as mulheres
(Z = 1,663). Essa relação, porém, é intensificada para esse horizonte, pois ocorre com força
moderada (Fi de Cramer igual a 0,27). Para os demais horizontes, não foi encontrada relação
Para verificar a possível existência de relação entre horizonte e sexo, também foi
homens e mulheres era significativa. Como não foi encontrada qualquer relação entre o sexo
5.2.2 Idade
Para a análise da idade foi necessário reagrupar as faixas etárias, dado o baixo
Pela hipótese 2, pessoas mais jovens são mais tolerantes ao risco do que pessoas
mais velhas. Os dados apresentados na tabela contingencial cruzada (tabela 7), porém,
foram, então:
Para verificar se a diferença entre as classes é significativa, foi usado o teste qui-
quadrado, por meio do qual se constatou que a idade não influencia no grau de tolerância ao
risco para a amostra analisada (qui-quadrado observado igual a 8,82 e qui-quadrado crítico
encontrada relação entre a idade e a tolerância ao risco para cada um dos horizontes
considerados.
apenas três faixas, dado o baixo número de pesquisados com renda familiar mensal até
- até R$3.900,00;
- de R$3.901,00 a R$6.500,00; e
- acima de R$6.501,00.
Aqueles que optaram por não responder à questão foram excluídos desta análise.
A hipótese 3 afirma que, quanto maior a renda familiar mensal, maior a tolerância ao
risco do indivíduo. Analisando a tabela contingencial com tabulação cruzada para a renda
perfil conservador para os perfis moderado e agressivo conforme a renda familiar aumenta.
De fato, a média de tolerância ao risco aumenta conforme a renda familiar mensal, conforme
Tabela 8 - Tabela Contingencial com Tabulação Cruzada – Renda Familiar Mensal (fonte:
elaboração própria)
- Hipótese nula (H0): A renda familiar mensal não influencia no grau de tolerância
ao risco; e
significativa. No caso da ANOVA, como o F observado foi maior que o F crítico (tabela
10), a hipótese nula pôde ser rejeitada. O qui-quadrado observado foi 9,67, maior, portanto,
que o qui-quadrado crítico para quatro graus de liberdade e intervalo de confiança de 95%
(9,488), o que também mostrou que a hipótese nula poderia ser rejeitada.
Usando a estatística V de Cramer para medir a força da relação, foi encontrada uma
amostra por horizonte, não foi obtida relação estatisticamente significativa entre a renda
Tabela 10 - ANOVA para a Tolerância ao Risco por Renda Familiar Mensal (fonte:
elaboração própria)
A relação entre tolerância ao risco e outros fatores como nível de escolaridade, grau
civil, lugar onde nasceu e onde reside, número de dependentes e situação profissional foram
51
avaliados mais superficialmente. Destes fatores, o único que apresentou relação com a
maior que o qui-quadrado crítico de 9,488 para quatro graus de liberdade e intervalo de
6 DISCUSSÃO
coincidentes com o estudo sobre o perfil do investidor no mercado nacional, descrito por
Côrrea (2000). É importante ressaltar, no entanto, que os resultados encontrados não podem
ser generalizados para a população brasileira, já que nenhuma análise de significância foi
por serem estes os fatores tidos como mais significativos e precisos. A análise entre
Para os demais fatores, optou-se por utilizar apenas análises mais superficiais de tendência e
para determinação do perfil do investidor analisado, uma vez que a relação entre alguns
destes fatores e a tolerância ao risco não é muito clara, de acordo com Halek; Heisenhauer
(2001). Segundo os autores, pode-se defender que estes fatores afetam a tolerância ao risco
individual, ou que a tolerância ao risco individual afeta as escolhas dos indivíduos para
determinados fatores. Eles afirmam que é possível defender, por exemplo, que o casamento
reduz a tolerância ao risco, mas também que pessoas menos tolerantes ao risco optam pelo
casamento.
financeiro demonstrou uma maior concentração do perfil conservador para o sexo feminino
confiança de 95%, que homens são mais tolerantes ao risco que mulheres, embora a relação
seja fraca.
53
Este resultado está de acordo com a maior parte dos autores pesquisados, que
encontraram embasamento para a idéia de que mulheres são menos tolerantes ao risco do
que homens. Esse comportamento pode ser originado pelas diferenças entre as
oportunidades oferecidas a homens e mulheres, bem como por fatores culturais, por
exemplo.
aumentam com a idade, mas essa relação entre a tolerância ao risco e a idade não se mostra
significativa, podendo-se afirmar que, na amostra analisada, a idade não influencia o grau de
tolerância ao risco. Deve-se ressaltar, porém, que não foi possível analisar mais
anos, uma vez que a quantidade insuficiente de respostas obtidas isoladamente para cada
estudos encontrados que demonstram não haver uma relação significativa entre idade e
tolerância ao risco, não estando de acordo nem com os mais antigos, que demonstram que a
tolerância ao risco reduz com a idade, nem com os mais recentes, que afirmam o inverso.
tendem a ser altamente, se não perfeitamente, correlacionadas, ou seja, as pessoas mais ricas
geralmente tendem a ter rendas maiores. Assim, pode ser difícil isolar as influências de
renda e riqueza sobre a tolerância ao risco. Segundo Gujarati (2000), isso seria possível se
pessoas ricas com baixa renda e pessoas pobres com alta renda. No entanto, considerando-se
optou-se por medir apenas a variável renda familiar, correlacionando-a com a tolerância ao
risco financeiro.
54
maior a sua tolerância ao risco, mas que essa relação é fraca. Este resultado está de acordo
com o estudo de Riley; Husson (1995), que afirmam que essa relação existe, é positiva, mas
é fraca.
Com relação aos três fatores - sexo, idade e renda - inicialmente a proposta era
Para esta análise, demonstrou-se que, em relação ao sexo, no curto prazo há uma
mostram somente tendências, não podendo ser considerados significativos e nem mesmo
confiáveis, de acordo com Rea; Parker (2002), já que as amostras não seguiram a regra
prática de que cada célula da tabela contingencial deveria possuir uma freqüência esperada
estudo de Grable; Joo (2000). A falta de conhecimento das regras e das particularidades de
detectar e gerenciar riscos. O conhecimento leva a uma maior segurança em arriscar, devido
7 CONCLUSÃO
sexo, idade do investidor e renda familiar, para uma amostra conveniente selecionada entre
A primeira hipótese, que visava testar se homens são mais tolerantes ao risco do que
A segunda hipótese, que visava testar se pessoas mais jovens são mais tolerantes ao
risco do que pessoas mais velhas, foi refutada, uma vez que se constatou que a idade não
A terceira hipótese, que visava testar se quanto maior a renda familiar, maior seria a
tolerância ao risco do indivíduo, foi comprovada embora com uma relação fraca.
Quanto aos objetivos secundários, o perfil dos respondentes encontrado teve pontos
análise de significância foi feita neste sentido e o resultado não pode ser generalizado para
fechadas.
Uma limitação potencial deste estudo envolveu a amostragem. Deve-se notar a falta
Uma amostra maior e mais heterogênea possibilitaria a análise de outras variáveis e poderia
potencialmente limitante no que se refere à generalização, ela se mostrou útil, por exemplo,
para tirar conclusões gerais sobre a influência de alguns fatores demográficos sobre a
tolerância ao risco.
Outro problema encontrado se deve à falta de ferramentas para garantia do sigilo dos
entrevistados. Assim, o teor e a forma das perguntas foram limitados, de modo a encorajar
pessoal foram evitadas, a fim de não causar constrangimento, o que impediu a análise de
sociedade e o entendimento de como e por que esses padrões ocorrem podem ser bastante
58
úteis não só para auxiliar na análise preliminar de carteiras individuais, como também para
Trabalhos futuros poderiam focar apenas em idade como variável quantitativa e sexo
Chow (GUJARATI, 2000). Outra possibilidade seria utilizar amostras baseadas em bancos
REFERÊNCIAS
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Financial Planning, March 2003.
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October 1988.
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Management, 22, p.10-16, 1996
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2000.
61
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Characteristics? Journal of Economic Psychology, v. 17, p. 771-787, 1996.
RILEY, N.F.; RUSSON, M.G. Individual Asset Allocations and Indicators of Perceived
Client Risk Tolerance. Journal of Financial and Strategic Decisions, v. 8, n. 1, p. 65-70,
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XIAO, J.J. Effects of Family Income and Life Cycle Stages on Financial Asset Ownership.
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YOOK, Ken C.; EVERETT, Robert. Assessing Risk Tolerance: Questioning the
Questionnaire Method. Journal of Financial Planning, August 2003.
63
APÊNDICE
64
RISCO
Questionário de Avaliação de Perfil de Tolerância ao Risco
Nome (opcional):
Idade
Sexo Até 30 anos
Masculino Entre 31 e 40 anos
Entre 41 e 50 anos
Feminino Entre 51 e 60 anos
Acima de 60 anos
Solteiro(a) Nenhum
Casado(a) ou vive com companheiro(a) Um
Viúvo(a) Dois
Separação legal (judicial ou divórcio) Três
Outro Quatro ou mais
Sim Sim
Não Não
Norte Norte
Nordeste Nordeste
Sul Sul
Sudeste Sudeste
Centro-oeste Centro-oeste
Fora do Brasil Fora do Brasil
Estagiário
Desempregado
Do lar
Aposentado
Vive de rendas
65
Total de pontos: 0
ANEXOS
68
QUADRADO
Gl χ2*0,05
1 3,841
2 5,991
3 7,815
4 9,488
5 11,070
6 12,592
7 14,067
8 15,507
9 16,919
10 18,307
CRAMER
Medida Interpretação