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O Caminho do Herói

Arquétipo dos mais recorrentes, o mito do herói guarda estrita relação com a vida. Desafios e superação
colocados continuamente, sendo o papel de cada um “segundo suas potencialidades e segundo suas
possibilidades” alcançar o objetivo traçado. O conhecimento de si diante do Universo é uma jornada interior
solitária, na qual o Mestre é um lume decisivo, o amparo diante do desfiladeiro iminente, mas sempre será ao
próprio indivíduo que cabe sua própria travessia.

O poema “Eros e Psique”, de Fernando Pessoa, ilustra com enorme perfeição a saga do herói, que cada
indivíduo vivência ao construir seu próprio conhecimento.

Conta a lenda que dormia, uma princesa encantada.


A quem só despertaria, um infante que virara,
De além do muro da estrada.
Ele tinha que tentado, vencer o mal e o bem.
Antes que já libertado, deixasse o caminho errado,
Por o que a Princesa vem.

A Princesa Adormecida, se espera, dormindo espera.


Sonha em morte a sua vida,
e orna-lhe a fronte esquecida,
verde uma grinalda de hera.
Longe o Infante, esforçado, sem saber que intuito tem,
Rompe o caminho fadado.
Ele dela é ignorado.
Ela para ele é ninguém.
Mas cada um cumpre o Destino ---------
Ela dormindo encantada, ele buscando-a sem tino
Pelo processo divino que faz existir a estrada.

E se bem que seja obscuro, tudo pela estrada fora,


E falso, ele vem seguro, vencendo estrada e muro,
CHEGA ONDE EM SONO ELE MORA.
E ainda tonto do que houvera, a cabeça em maresia,
Ergue a mão, e encontra hera, e vê que ele mesmo era,
A Princesa que dormia.

O Caminho do venerável guerreiro

Saudação ao Céu e a Terra. O Céu e a Terra juntos formam o homem, o meio, a natureza, todas as coisas.

O Homem sai em busca de conhecimento. Ele pede conhecimento ao Céu e traz esse conhecimento para si,
que ele aprendeu, o que ele trouxe para o seu interior, ele devolve através de seus atos, ao mundo e o mundo
lhe devolve mais sabedoria.

Aí, o homem aprende e abre o seu coração ao Mundo. E quando este coração do homem está aberto, pleno
de bondade e quietude, todos os pássaros vêm cantar em seu jardim.

Depois que atingiu certo grau de amadurecimento, sabedoria, o Homem parte em busca de novas fronteiras.
Ele vai a busca de mais sabedoria, e procura aos céus e o céu generosamente lhe dá mais sabedoria. Então, ele
incorpora esta sabedoria e procura novamente transmitir tudo ao mundo, às pessoas que nem tudo
compreendem e este homem é de novo agredido. Ele se defende e retira todos os obstáculos do caminho,
mas suas forças não são suficientes, pedindo então mais forças aos céus e mais força ele recebe.Como um
tigre, como uma cegonha, ele limpa seus obstáculos e prossegue.

E novos rumos, novos caminhos se abrem à sua frente e o homem chega próximo do mar. Ele senta-se à
beira da praia e observa as ondas, que se assemelha à sua própria vida pulsando em seu interior. Assim
procede, percebendo o fluxo de sua própria vida que é um ir e vir, e assim compreende e não se assusta.

O homem, então, passa a observar a natureza dos animais. E assim como esses animais, ele vai seguindo o
seu próprio caminho. Mas o homem que se considera a maior obra da criação, olha e inveja os animais que
alçam vôo em total liberdade, e ele quer essa liberdade para si. Para conquistar essa liberdade, o homem deve
então sair para a luta, continuando assim a enfrentar os obstáculos da vida, lutando como um tigre em sua
luta na floresta.

Ao caminhar na floresta, o tigre não faz barulho, ele é silencioso, o tigre é silencioso. Ele é tão leve quanto o
bater das asas de uma cegonha, de uma ave. Tão leve, tão suave deve ser o homem em sua caminhada pelo
mundo. Ele deve caminhar sem fazer barulho algum, sem fazer alarde.

O caminhar dos homens pela vida, deve seguir os mesmos exemplos dos animais que com sabedoria e
naturalidade passam a viver as suas vidas, com profunda perfeição. Assim, deve ser o homem T´ai Chi, que
encontra a sua força no seu interior para expandi-la e doá-la.

E assim, o homem T´ai Chi, deve continuar seu caminho, em todas as direções, para todos os lados, andando,
interagindo com a natureza que o cerca.

Ao caminhar pela vida, encontra-se muito obstáculo, mas o homem T´ai Chi, caminha e baila entre os
obstáculos a sua frente. Certas vezes, a vida do homem é muito turbulenta e ele se encontra no Céu e às vezes
nas mais tortuosas e profundas dores da Terra. Mas quando se chega ao fundo, o outro caminho é sempre
para cima.

Então, o homem T´ai Chi, volta-se para o Céu e novamente retorna a Terra e prossegue sua jornada pela vida
em busca de novos horizontes. E agora, o caminhante chega a um ponto muito importante de sua caminhada:
ele se depara com uma montanha. E agora, o que é que o caminhante faz?

A montanha simboliza e significa, um grande obstáculo na vida de cada um de nós. Se o obstáculo existe, ele
deve ser enfrentado porque devemos transpô-lo e o homem T´ai Chi saberá enfrentar o obstáculo de modo
T´ai Chi. Mas não fugirá à luta jamais, pois sabe o discípulo que a montanha e todas as coisas que existem no
seu caminhar são elementos para a sua própria experiência aqui na terra. Ao enfrentar a montanha na forma
do tigre, ele usa de toda a sua força para vencer este obstáculo. O Tigre luta na forma T´ai Chi. O homem,
enfrenta a montanha como um guerreiro, ele não foge dos obstáculos de sua vida.

Mas ainda ele continua lutando, porque não é fácil vencer ou subir a montanha. O guerreiro prossegue. Ele
usa a energia do seu interior, expande essa energia, e segue a sua jornada., lutando, lutando e prosseguindo e
enfrentando toda e qualquer dificuldade com suavidade e força – sem esforço – defendendo-se do inimigo e
então liberta a sua força e vence. Ataca e ataca como um tigre e defende-se como um tigre.

O nosso guerreiro encontrou a sua montanha e a enfrentou com dignidade, com todo o seu espírito de
guerreiro, porque ele compreendeu que a montanha em seu caminho, nada mais é que um desafio que deve
ser aceito e deve ser vivido e que valia a pena ser experimentado. E nosso guerreiro partiu e lutou bravamente
com seu desafio, com sigo mesmo, sem perder ou ganhar, ele simplesmente se reencontrou consigo mesmo.
Porque simplesmente, essa vida não é um jogo de perder ou ganhar, ela é simplesmente a vida, assim como
ela é. Continuando sua jornada, ele agradece este presente do céu e continua firme.

Nosso guerreiro depara-se, agora com um lago, um grande lago. E o que é que ele faz diante do lago? Depois
de ter enfrentado a montanha, o que é que ele faz diante do lago?
O lago de águas claras, límpidas e tranqüilas, simboliza um conflito interior do guerreiro, um conflito de
natureza espiritual, que não pode jamais ser enfrentado com socos e pontapés, como enfrentamos a
montanha (conflito externo ). O lago não assimila esse tipo de tratamento para a solução de seus mistérios.

O homem sábio, quando encontra o lago, diante de si, procura então com a máxima suavidade possível,
caminhar por sobre as águas deste lago tão singelo. Com muita leveza e suavidade do seu corpo, do seu
espírito tornando-se leve como o vento, leve como a pluma, leve como o espírito, atravessando o lago até
chegar à sua margem e então, após tê-lo atravessado – como que a algo impossível – simplesmente olhará
para o lago e se voltará para novos horizontes.
Ao atravessar o lago, nosso guerreiro continua seguindo seu caminho, deparando-se com novas situações e
experiências até que ele se depara com o bruxo, com o mago. E o que fazer diante do bruxo? O que é o
bruxo?

O bruxo representa as barreiras do desconhecido que estão dentro de cada um de nós. Como vencer o
bruxo? O sentimento de terror e de ignorância, só poderá ser suplantado, se desafiado e o nosso guerreiro
não tem medo. Ele luta e vence como uma flexa que encontra e transpassa o medo com coragem que só para
depois de atingir o seu alvo (como se atingisse a si mesmo, sem siquer atingir algo ou a si mesmo), nada a
detém.Aí então o bruxo estará aniquilado pela flexa da sabedoria e assim, novo horizonte se defronta a seus
olhos. Um novo horizonte, liberto das amarras do Bruxo.

Depois de ter enfrentado os seus fantasmas, o nosso venerável guerreiro, caminha guiado pela sua própria
consciência e encontra novos horizontes. E aí, o nosso guerreiro encontra-se com o monge, o mestre, o
sábio, o orientador. Que fará nosso discípulo diante disso?

O monge é a figura do orientador, aquele que pode dirigir, orientar a vida de todo homem na face da Terra.
LO homem passa por situações onde sua energia, sua força, seu trabalho, seu caminhar se tornam
desorientados, sem rumo. A figura do orientador, do mestre, do monge, que todos tem a oportunidade de
encontrar pela vida, poderá colocar este discípulo em novo caminho, novo rumo.

Ao encontrar o monge, o nosso guerreiro recebe uma orientação e ele volta-se para um novo horizonte, um
novo caminho. Calmo, sereno e suave, ele prossegue nesse caminho, acreditando que o mestre tenha lhe
oferecido o caminho perfeito. No entanto, depois de dar o terceiro passo ele se vê diante do abismo. Mas que
mestre é esse que me tira de um caminho seguro, muda totalmente a minha rota e me coloca diante do
abismo? Que mestre é este?

O abismo, significa o encontro do nosso próprio vazio interior. Quando o mestre diz, vá por essa estrada e o
discípulo vai e olha, ele encontra-se consigo mesmo e percebe dentro de si o enorme abismo da ignorância, o
grande abismo volteado de escuridão, de medo, de pavor, terror dentro do seu próprio interior. Um imenso
abismo, um imenso vazio. Mergulhar fundo neste abismo é a grande solução. Retornar é o caminho dos
covardes, e o guerreiro não é covarde, ele aceita o desafio do abismo, sabendo que depois de mergulhado no
abismo, não há mais retorno. Nosso guerreiro, deve mergulhar fundo no abismo e chegando ao fundo, deve
levantar-se e virar. O homem do passado deverá deixar de existir, pois haverá nossa a morte de um homem e
o nascimento de um novo guerreiro. Antes desse momento, nosso guerreiro lutava contra as intempéries do
mundo, das coisas .Agora, essa luta acabou. Começa outra, agora ele é levado a enfrentar as suas próprias
batalhas interiores: - o grande dragão adormecido dentro de sua própria roupa.

O nosso guerreiro se encontra, agora, no fundo do abismo, envolto pela escuridão. E como uma serpente, ele
rasteja pela lama do fundo do abismo, sem enxergar direção alguma a seguir, e continua a seguir, e continua
rastejando-se na lama. E então ele percebe, como a serpente, que ele deve levantar-se, despir-se da lama e
olhar longe para novos horizontes.

O que significa esse se rastejar no fundo do abismo? Significa o maior momento de conflito interno,
momento de destruição, momento da morte de todo o seu orgulho, raiva, apegos, ciúme, inveja. A morte de
um ser que caminhava em uma direção e tinha uma perspectiva de vida, porém o sábio mestre, o sábio
monge o dirigiu a um abismo e lá o colocou no fundo desses abismo com intenção de morte. Nosso
caminhante chegou ao fundo do abismo e percebeu a sua condição humana e aprendeu, como a serpente, que
deverá erguer-se, levantar-se para enxergar ao longe o novo horizonte. Desse momento em diante, ocorre a
morte do velho homem e surge então o novo guerreiro, que busca no horizonte distante, uma luz, que é onde
ele quer chegar.

Nosso guerreiro estava olhando para a luz lá no horizonte distante, não é mesmo? Então ele resolve ir a
caminho da luz. Mas ele percebe uma coisa estranha. Quanto mais ele caminha em direção a luz, mais distante
ela fica dele e nosso caminhante vendo este detalhe, ele para, medita sobre o fato. Então ele descobre e diz a
si mesmo: - vou a direção oposta. E caminha em direção oposta e assim, a luz chega até o nosso guerreiro.
Porque isso? O que é que o nosso nobre guerreiro descobriu? Porque é que caminhando na direção oposta,
ele encontra-se com a luz? O que é realmente essa luz?

Nosso guerreiro deixou a sua jornada pela terra, em busca de compreensão própria, em busca de sua própria
essência espiritual, em busca desta luz. Caminhou, caminhou, caminhou, caminhou e caminhou e encontrou
todos os tipos de adversidades, de obstáculos e só encontrou a luz, no momento em que viu a si próprio
refletido no espelho e compreendeu que o caminho era de volta para dentro de si mesmo. Caminhou então
para dentro de si mesmo e então encontrou a luz. Após encontrar a luz a felicidade começou a brotar, e esse
homem torna-se então um liberto de todas as amarras, obstáculos, vicissitudes e então passa a voar, passo a
passo. Nosso guerreiro, que está próximo de seu lar, de sua própria morada, de onde havia partido. Esta ave,
este vôo simboliza o espírito liberto retornando ao lar.

Após encontrar-se com a luz, que simboliza o encontro com sua natureza própria, o encontro consigo
mesmo, este jovem discípulo galgou, como uma ave que retorna ao ninho para alimentar seus filhotes, aquela
ave que parte em revoada à busca de alimento para si e para os seus, como ela, esse mesmo discípulo retorna
para o seu lar. Nosso discípulo retorna ao lugar de origem onde tudo começa e onde tudo volta a terminar –
o TAO, o princípio único. E assim, nesse momento, oeste homem não sabe mais o que é Céu, ou o que seja a
própria terra, pois agora ele é a própria natureza, pois tudo que o compreende em si e no Universo, é tudo
uma coisa só.

Sejamos nós todos esse homem T´ai Chi, esse guerreiro errante, esse que sai da luz, e à luz retorna, como a
gota de água do Oceano, vai para o Céu , retorna em gotas de orvalho às nascentes, percorre a terra no leito
suave dos rios, recorta montanhas e vales e se juntam às sutilezas de um lago, formando outros rios e não tem
outro destino que é o de retornar ao Oceano de onde ele partiu.

Sois o oceano, a gota d´água que está em peregrinação pelos pequenos riachos da vida.Em breve amados
discípulos, chegarão ao oceano. Aquele que isso compreende, que não é se não, apenas uma gota d´água no
oceano da vida, que basta se soltar sem esforço que certamente, suave e naturalmente chegará até o imenso
oceano.

Soltem-se, não lutem com a vida, não se debatam com ela, deixem tudo – simplesmente tudo – fluir
naturalmente. Deixem teu ser passar pela vida, assim mesmo como a água que desce a montanha.

O encontro com o mar é inevitável. Porque tanto temor a buscar algo que já é seu merecimento inalienável.

Tudo, exatamente tudo está perfeito. Tudo, exatamente tudo é simplesmente maravilhoso.

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