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“Chorar!

No final da tarde de uma quinta-feira, como habitualmente, dirigia-me para participar na


oração da comunidade de base. No caminho fui abordado pela mama Ntila. A sua filha,
Adassa com quem costumava brincar, estava muito doente. Precisava de ajuda para a
levar ao médico. Conhecia muito bem esta família. Ainda a tínhamos ajudado há pouco
e naquele momento não tinha possibilidade de a ajudar. Depois, dizia-me, situações de
crianças com malária são tão frequentes que não podemos “sonhar” responder a todos
estas solicitações. Tenho que aprender a dizer não, mesmo que me custe, e neste caso
até nem tenho aqui meios para o fazer. Segui o meu caminho, mas ficou-me o rosto
desta menina de 3 anos que chorava ao colo da sua mãe. No sábado, passo de novo
naquele caminho e vejo que uma brancha de palmeira, partida na ponta, está à entrada
da parcela aonde vivia a Adassa e a sua família. Era o sinal de luto, de morte de uma
criança (brancha de palmeira partida na ponta), não queria acreditar e perguntei. Nani
akufi? (Quem morreu) A resposta deitou-me por terra: Adassa, mwana ya mama Ntila!
(Adassa, a filha da mama Ntila). Aproximei-me em silêncio e chorei! Porquê meu
Deus? Apenas 10 € poderiam ter evitado este fim… e são tantos os meninos e meninas
que ficam por aqui…

Diante da morte… perscrutar a Vida


Um dia Jesus é confrontado com a notícia da doença de seu amigo Lázaro (Jo 11, 1-44).
Continuou a sua missão com a certeza que “esta doença não é de morte, mas sim para a
glória de Deus…”. Ficou lá 2 dias… parece que Deus não age… que deixa morrer. E a
morte surpreende-nos e Jesus diz que Lázaro dorme! Amar alguém significa dizer: “Tu
não morrerás”. Não é verdade, não pode ser… é necessário tempo para acreditar,
sobretudo quando aliado a este momento, por si doloroso, está presente a dor do choque,
da injustiça, da violência.
Marta e Maria, irmãs de Lázaro, entram em diálogo com Jesus: «Senhor, se Tu cá
estivesses, o meu irmão não teria morrido.» Jesus responde-lhes: “O teu irmão
ressuscitará”. Se tu estivesses aqui… Se eu tivesse feito isto, ou aquilo não teria
morrido… detalhes de histórias de Amor. Jesus decide ir ao encontro de Lázaro, morto
já há 4 dias… cheio de dor e de angustia… ir ter com a morte não é coisa fácil! Jesus
chorou, mas não se deixou vencer pela morte. O Senhor é Ressurreição pela
compaixão… chora. A compaixão não é um sentimento de quem é débil, mas de quem
tem a força de Deus que é Amor.
«Tirai a pedra.», disse Jesus. Tirai a pedra! È preciso tirar a pedra que tapa aquilo de que
temos medo. A pedra é a fronteira entre a vida e a morte. Jesus manda tirar a pedra e
chama Lázaro para fora. Como nós gostaríamos de o fazer! Jesus não nos tira, porém,
com este gesto, aquele limite que é necessário para existir, nem a dignidade de sermos
conscientes dele; mas dá-nos a graça de o viver de um modo novo, divino. Vem daí para
aqui, diz Jesus. A ressurreição é viver como Jesus viveu. O nosso lugar não é o sepulcro,
não é a morte, mas a vida plena! Jesus salva-nos não “da” morte, mas “na” morte. Esta é
uma das mais difíceis lições nos caminhos da missão. Lado a lado com o sorriso
acolhedor de um povo temos que aprender a lidar com a morte injusta e sobretudo a
acreditar na primavera da vida que Jesus nos chama a anunciar.
Neste mês Pascal, o mês da vida, do chamamento por excelência. É início da primavera
que é caracterizada pelo brotar de folhas, ervas e flores… Depois de um tempo frio…
chega o tempo do calor! Precisamos de 40 dias para preparar o mistério pascal, da
doação, da morte… precisaremos de 50 para celebrar a vitória da Vida. Esta diferença
do tempo litúrgico mostra, por si, como é difícil perceber que a morte não é a última
palavra de Deus. Ele confia-nos a missão de a todos convidar para a festa da Vida,
mesmo quando a morte parece tão próxima, dura e injusta…

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