Professional Documents
Culture Documents
Rezar com os meninos a Via-sacra (num lugar calmo…e se possível a partir das 15.00h.
No fim de cada estação pode-se ajoelhar diante da cruz e dizer a seguinte invocação:
Pai-nosso ou um cântico.
Introdução
A via-sacra é uma antiga devoção cristã que praticamos sobretudo na Quaresma e, de
um modo especial, na Sexta-Feira Santa. Recorda-nos os diversos passos do caminho de
Jesus em direcção ao Calvário, até à morte na cruz e sepultura. Presentemente, há
muitas pessoas que sofrem na carne as consequências de uma via-sacra constante, que
parece não ter fim. A história de milhões de crianças, sobretudo no Sul do mundo, são
os caminhos por onde hoje Cristo passa de novo entre nós. A vida delas é uma via-sacra
actual, que nós vamos agora percorrer, escutando os seus testemunhos.
A criança é condenada à morte ainda antes de nascer. Nos países do Sul, as crianças já
nascem com uma dívida, que terão de pagar aos países industrializados.
«Os homens inclinaram-se para o mal. Estão a destruir a Natureza. A maioria dos males
é causada pela ambição do dinheiro e do poder. Eu creio que o dinheiro não é essencial.
É mais importante viver feliz com os outros».
«Trabalho 12 horas por dia com um salário de miséria. Tenho a coluna vertebral
deformada por carregar tijolos à cabeça. Não tive infância para poder brincar».
A criança descobre aquela que será a sua verdadeira mãe: a rua, o grupo, o «gang».
«Na rua encontrei a única alternativa possível para a minha vida. Trabalho de sol a sol,
mendigo um pedaço de pão, arrumo carros ou roubo nos campos. Vivo nas ruas de São
Paulo, de Lisboa ou de Hong Kong e durmo em casas abandonadas, parques ou
passeios. Ainda bem que tenho alguns amigos».
«Tive de fugir de casa. Vivia na rua. Agora um grupo de pessoas quer resolver a
minha desesperada situação. O carinho e o afecto que encontrei nelas ajudam-me a
superar muitos problemas».
«Muitas vezes ralham-me porque sujo as meias, mas pagam-me sempre. Regresso a
casa com o que ganho engraxando sapatos na rua, e podemos comer. Somos seis
pessoas na família e a minha casa só tem duas divisões: a cozinha e um quarto onde
todos dormimos».
Nos países em guerra, três em cada dez crianças morrem antes de atingir os cinco anos.
Mas a criança não quer ser considerada unicamente como vítima.
«As nossas escolas estão fechadas. A guerra deu cabo de tudo. Não podemos brincar
nem sei onde estão os meus companheiros. Minha mãe diz-me para não chorar, que a
paz chegará em breve, que voltaremos a brincar e a ir à escola. Não sei porque é que as
injustiças dos homens causam tanto sofrimento».
9ª Estação: Jesus cai pela terceira vez
A criança atingiu uma idade em que procura integrar-se no mundo dos adultos. Mas
estes continuam a olhar para ela com desconfiança.
«Vivo na rua. A rua aceita-me e quer-me tal como sou. Aí roubo, como, vivo. Um dia,
talvez um justiceiro me mate. Há tempos mataram nove companheiros que dormiam no
passeio da rua. Não nos deixam fazer mais nada. Ganhamos a vida como podemos para
metermos alguma coisa à boca».
«A pobreza empurra-me para a rua. Não sei ler nem escrever. Não tenho família nem
amigos, nem brinquedos, nem escola para frequentar. Ganho a vida a pulso. Procuro
abrir caminho para conseguir uma vida estável».
«Porque morrem as crianças? – perguntei ao meu pai e ele não me soube responder.
Disse-me que há crianças que morrem quando empunham uma arma para irem para uma
guerra sem sentido, quando rebenta uma mina no
caminho, quando não têm que comer, quando são obrigadas a fazer trabalhos
perigosos... Mas, porquê?»
«Sou um menino de 15 anos e nunca conheci um dia de paz no meu país, a Libéria.
Alistei-me no exército porque, sendo soldado, podia conseguir alimentos para a minha
família. Os meus pais não queriam que eu me alistasse».
14ª Estação: Jesus é encerrado no sepulcro
As crianças são sepultadas pelos preconceitos e pelas discriminações dos países e das
classes sociais.
«Encontraram-me numa rua. Fora abandonado pelos meus pais, porque não podiam
sustentar-me. Agora vivo com outros meninos e meninas, que também foram
abandonados».
RESSURREIÇÃO
Como Cristo, também as crianças e adolescentes ressuscitam para lutarem pela justiça e
solidariedade. Não há via-sacra sem ressurreição. Não há Sexta-Feira Santa sem Dia de
Páscoa. Em frente do sepulcro, temos a esperança de, também nós, transformarmos o
mundo numa grande família, onde os pobres, as crianças e os jovens possam viver com
aquela dignidade, que tantas vezes lhes é negada.
No final:
Cada menino vem-se ajoelhar um bocadinho ao pé da cruz, e, depois leva o símbolo do
dia. Em casa é convidado a pintar a cruz e a escrever qual é a cruz que custa mais
aceitar… e a rezar.