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"Se o grão de trigo que cai na terra não morre, ele fica só.

Mas, se morre, produz muito fruto."

(Jo 12,24)

Estas palavras de Jesus, muito mais eloquentes do que um tratado, revelam o


segredo da vida.

Não existe alegria de Jesus que não seja fruto de uma dor abraçada. Não há
ressurreição sem morte.

Aqui Jesus fala de si mesmo e explica o significado da sua existência.


Faltam poucos dias para a sua morte. Será dolorosa, humilhante. Por que morrer,
justamente Ele que se definiu “Eu sou a Vida”? Por que sofrer, Ele que é inocente? Por
que ser caluniado, esbofeteado, escarnecido, pregado numa cruz, a morte mais
desonrosa? E sobretudo por que Ele, que viveu na união constante com Deus, haveria de
sentir-se abandonado pelo seu Pai? Também Ele sente medo da morte. No entanto, ela
terá um sentido: a ressurreição.

Jesus tinha vindo para reunir os filhos de Deus dispersos, para derrubar toda e qualquer
barreira que separa povos e pessoas, para irmanar os homens divididos entre si, para
trazer a paz e construir a unidade. Mas havia um preço a ser pago: para atrair todos a si,
Ele deveria ser levantado da terra, na cruz. Daí a parábola, a mais bonita de todo o
Evangelho:

"Se o grão de trigo que cai na terra não morre, ele fica só. Mas, se morre, produz muito
fruto."

Aquele grão de trigo é Ele.

Neste tempo de Páscoa Ele se apresenta a nós do alto da cruz – seu martírio e sua glória
– como sinal de amor extremo. Ali Ele doou tudo: aos carrascos, o perdão; ao ladrão, o
Paraíso; a nós, sua mãe e o próprio corpo e sangue. Deu a sua vida até o ponto de gritar:
“Deus meu, Deus meu, por que me abandonaste?”.

Eu escrevia em 1944: “Sabes que Ele nos deu tudo? Que mais poderia dar-nos um Deus
que, por amor, parece esquecer-se de que é Deus?” E deu-nos a possibilidade de nos
tornarmos filhos de Deus: gerou um povo novo, uma nova criação.

No dia de Pentecostes o grão de trigo caído na terra e morto já florescia qual espiga
fecunda: três mil pessoas de todos os povos e nações são transformadas “num só
coração e numa só alma”. Depois são cinco mil, e depois…

"Se o grão de trigo que cai na terra não morre, ele fica só. Mas, se morre, produz muito
fruto."
Esta Palavra dá sentido também à nossa vida, ao nosso sofrimento, à nossa morte,
quando ela chegar.

A fraternidade universal pela qual desejamos viver, a paz, a unidade que queremos
construir ao nosso redor é um vago sonho, uma ilusão, se não estivermos dispostos a
percorrer o mesmo caminho traçado pelo Mestre.

O que fez Ele para “produzir muito fruto”?

Compartilhou todo o nosso modo de ser. Assumiu sobre si os nossos sofrimentos.


Connosco, Ele se fez trevas, melancolia, cansaço, contraste… Experimentou a traição, a
solidão, a orfandade… Numa palavra: Ele “se fez um” connosco, carregando tudo
aquilo que para nós era um peso.

Assim devemos fazer também nós. Enamorados deste Deus que se faz nosso “próximo”,
temos um modo para demonstrar-lhe a nossa imensa gratidão pelo seu infinito amor:
viver como Ele viveu. E a nossa oportunidade está em nos tornarmos “próximos” de
quem passa ao nosso lado na vida, estando dispostos a “nos fazermos um” com ele, a
abraçar a dor de uma divisão, a partilhar um sofrimento, a resolver um problema, com
um amor concreto que sabe servir.

Jesus no abandono se doou completamente. Na espiritualidade centralizada Nele, Jesus


Ressuscitado deve resplandecer plenamente e a alegria deve testemunhar que isso é
verdade.

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