You are on page 1of 14

Mestrado de Engenharia Civil

Instrumentação e Observação de Obras

Alexandre Catanho
Gilberto Laranja
Roberto Côrte

VISITA TÉC$ICA AO MUSEU QUITA DAS CRUZES,


FU$CHAL.

Professora Eliane Portela

2008/2009
Alexandre Catanho, Gilberto Laranja, Roberto Côrte

RESUMO
O Museu Quinta das Cruzes, contendo um edifício com mais de meio século de idade,
foi ao longo da sua existência alvo de várias intempéries e deteriorações
estruturais/materiais.
As inspecções efectuadas em conjunto com a observação e métodos de monitorização
do comportamento estrutural do museu, permitiram delimitar a necessidade de
reabilitação de alguns dos seus componentes estruturais.
Para além da realização de ensaios às madeiras estruturais, foi utilizada muito pouca
instrumentação de monitorização. Apenas foi requerido um fissurómetro de modo a
acompanhar a evolução das fissuras existentes no antigo edifício.
Após o estudo dos dados da monitorização e dos ensaios, foram propostas e efectuadas
uma série de soluções pelo técnico consultado (Eng. Appelton).
Resumindo, foi efectuada a amarração das paredes autoportantes, para eliminar os
esforços que provocavam as fissurações, e o reforço da estrutura de madeira
característica do edifício, com a utilização da técnica antiga de colocação de tarugos
entre vigas e a instalação de um elemento pré-esforçado em uma das vigas que
apresentava sinais mais preocupantes (flecha considerável).
Anexa a esta campanha de reabilitação do Museu Quinta das Cruzes, também estava
prevista a construção de uns balneários nas traseiras do museu que, entretanto, foi
cancelada devido à inviabilidade económica dos trabalhos de escavação e construção,
visto que o solo era constituído por imensa rocha.
Nesta visita técnica, permitiu-se concluir que a execução de trabalhos de reabilitação em
edifícios antigos tem que ser extremamente ponderada, de modo a não prejudicar o
respectivo enquadramento arquitectónico e cultural associado.

Instrumentação e Observação de Obras | ii


Alexandre Catanho, Gilberto Laranja, Roberto Côrte

LISTA DE FIGURAS

Figura 1– Alguns pormenores acerca do projecto de reabilitação do edifício. ................ 1


Figura 2– Fissura no arco (à direita) e a parede que estava mais fissurada (mais à esq.). 3
Figura 3 – Zona do foco de incêndio (na madeira da viga principal, interior da parede). 5
Figura 4 – Tarugos e respectivas chapas metálicas pregadas. .......................................... 6
Figura 5 – Chapas em L.................................................................................................... 6
Figura 6 – Elemento pré-esforçado, em aço inox. ............................................................ 7
Figura 7 – Outra perspectiva do elemento pré-esforço..................................................... 7

Instrumentação e Observação de Obras | iii


Alexandre Catanho, Gilberto Laranja, Roberto Côrte

Í$DICE

1. INTRODUÇÃO. ........................................................................................................... 1
1.1. Delimitação do Tema............................................................................................. 1
1.2. Objectivos. ............................................................................................................. 1
2. CARACTERIZAÇÕES DA ESTRUTURA................................................................. 2
3. REABILITAÇÃO ESTRUTURAL E OBSERVAÇÃO COMPORTAMENTAL. ..... 2
3.1. Nota introdutória. .................................................................................................. 2
3.2. Designação e causas dos problemas encontrados. ................................................. 2
3.2.1. Fissurações. .................................................................................................... 2
3.2.2. Flechas das vigas. ........................................................................................... 3
3.2.3. Ruídos na pavimentação de madeira. ............................................................. 3
3.3. Soluções adoptadas. ............................................................................................... 4
3.3.1. Fissurações. .................................................................................................... 4
3.3.2. Reabilitação da estrutura de madeira. ............................................................. 5
3.4. Métodos de monitorização/observação estrutural. ................................................ 8
4. OUTROS PORMENORES ACERCA DA OBRA DE REABILITAÇÃO. ................ 8
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS. ...................................................................................... 9
6. BIBLIOGRAFIA. ....................................................................................................... 10

Instrumentação e Observação de Obras | iv


Alexandre Catanho, Gilberto Laranja, Roberto Côrte

1. I$TRODUÇÃO.

1.1. DELIMITAÇÃO DO TEMA.


O Museu Quinta das Cruzes, sito à Calçada do Pico, Funchal, é constituído por uma
área considerável de 1 hectare de jardins que nos quais se insere um edifício de
características arquitectónicas enraizadas pela cultura madeirense.
A casa (tal como a quinta) é datada do final do séc. XV / inicio do séc XVI, tendo sido
exposta, obviamente, a imensas intempéries a nível estrutural desde então, quer devido a
fenómenos de deterioração consequentes da idade avançada, quer devido a intervenções
estruturais/arquitectónicas efectuadas ao longo dos tempos (uma delas devido ao grande
terramoto que atingiu a ilha em 1748). Deste modo, e face aos últimos fenómenos de
deterioração encontrados, foi solicitada a intervenção técnica ao edifício do Museu
Quinta das Cruzes.
A presente casa é classificada como Imóvel de Interesse Público, sendo por isso
evidente que as reparações e respectiva reabilitação estrutural tenham sido requeridas e
efectuadas.
Dada a importância cultural do edifício, foram consultados técnicos especializados na
matéria da reestruturação e foram utilizados métodos adequados à determinação dos
principais factores influentes na deterioração estrutural, tal como a instalação de
instrumentos de observação comportamental da estrutura e a implantação de processos
construtivos capazes de responder às necessidades do problema em questão.

Figura 1– Alguns pormenores acerca do projecto de reabilitação do edifício.

1.2. OBJECTIVOS.
No âmbito da visita técnica ao Museu Quinta das Cruzes, pretendeu-se escutar e
conhecer as características do edifício do museu, bem como as anomalias corrigidas e
reparadas a nível estrutural e material. Por tal motivo, este relatório tem por objectivo
relatar toda a informação que foi possível recolher pelos elementos do grupo, aquando
das explicações da Arquitecta Filipa (guia da visita), acerca da metodologia adoptada
para a reabilitação da estrutura, bem como as técnicas de observação e respectiva
instrumentação utilizada nos meios de monitorização.

Instrumentação e Observação de Obras | 1


Alexandre Catanho, Gilberto Laranja, Roberto Côrte

2. CARACTERIZAÇÕES DA ESTRUTURA.

Tratando-se de um edifício de 3 pisos, característico da cultura de construção


madeirense, é constituído por uma estrutura considerada mista.
Quanto aos pormenores que se conseguiram apurar, os materiais utilizados na
constituição da estrutura do edifício são essencialmente madeira (na sua maioria de
Carvalho), alvenaria rebocada e cantaria (mole e rígida), tudo supostamente originário
da ilha da Madeira.
Fazendo uma caracterização estrutural, constatou-se o seguinte:
 O soalho, que constitui a inexistência de laje, é apoiado em várias vigas
transversais (facilmente observadas directamente) de madeira de Carvalho;
 As paredes são autoportantes (segundo a informação disponibilizada) e
constituídas por alvenaria e cantaria, essencialmente;
 As arcarias existentes no exterior e interior do edifício, são também constituídas
por cantaria, a qual é bem visível a pedra insular de cor vermelha;
 As fundações são características das construções antigas, pelo que se presume
que estão a pouca profundidade.

3. REABILITAÇÃO ESTRUTURAL E OBSERVAÇÃO COMPORTAME$TAL.

3.1. $OTA I$TRODUTÓRIA.


Dada a idade de construção do edifício, datado de cerca de 500 anos, estamos perante
um caso de normal deterioração. O envelhecimento dos materiais que constituem a
estrutura, em conjunto com as intempéries sofridas ao longo do seu período de vida útil,
nomeadamente as mais influentes como o forte sismo de 1748 e a mais recente
construção do túnel da cota 40 sob o terreno da quinta, solicitaram a estrutura de tal
modo que os deslocamentos e assentamentos foram mais que suficientes para detectar
vários aspectos que ponham em causa a segurança e a longevidade do edifício.
Por motivos claros, a reabilitação era mais que necessária de modo a evitar uma ainda
mais acentuada deterioração. Para tal, exigiu-se uma participação técnica especializada
para elaborar um projecto de reabilitação do edifício adequado às exigências culturais
do mesmo.
Ao longo do tempo de vida útil do edifício, as diversas solicitações à estrutura, foram
constatadas por quem a frequentava. Com o aglomerar de informação registada e com as
deteriorações detectadas actualmente, por uma observação cuidada de entendidos na
matéria, foi possível isolar todas as anomalias estruturais e, em alguns casos, presumir
as suas causas.

3.2. DESIG$AÇÃO E CAUSAS DOS PROBLEMAS E$CO$TRADOS.

3.2.1. Fissurações.
Constatou-se a existência de fendas na parte mais antiga do edifício, nomeadamente por
baixo de um dos arcos exteriores e numa parede próxima desse arco (Figura 2).

Instrumentação e Observação de Obras | 2


Alexandre Catanho, Gilberto Laranja, Roberto Côrte

Figura 2– Fissura no arco (à direita) e a parede que estava mais fissurada (mais à esq.).

Presume-se que as causas destas fissurações se resumem à idade avançada do edifício


(cerca de 500 anos).
No entanto, houve dois eventos na ilha da Madeira que influenciaram directamente a
estabilidade estrutural do edifício:

Terramoto de 1748

Há constatações de que este evento sísmico tenha danificado a estrutura que,


posteriormente foi alvo de reparação. Dada a altura da reparação e técnicas existentes,
presume-se que estas não seriam de uma eficácia suficiente.

Obra do túnel da Cota 40

Exactamente por baixo dos jardins em frente do edifício do museu, passa o túnel da cota
40 que, segundo informação dada na visita, intersecta escoamentos naturais de águas
subterrâneas que acabaram por ser desviados e atingiram parte das fundações do
edifício, alterando as suas propriedades e desestabilizando a estrutura.
Durante a construção do túnel, os métodos de perfuração utilizados também podem ter a
sua quota-parte de danificação estrutural.

3.2.2. Flechas das vigas.


A partir de uma inspecção estrutural, nomeadamente às vigas de madeira que suportam
os pavimentos do edifício, foi observada algumas anomalias corrigíveis. O caso seguiu
para estudo, através da realização de ensaios mecânicos a todas as vigas de madeira, de
modo a conhecer/avaliar o seu comportamento.

3.2.3. Ruídos na pavimentação de madeira.


A movimentação de pessoas, normalmente por grupos de visitantes do museu, nos
pavimentos de madeira do edifício, provocava ruídos característicos do ranger de

Instrumentação e Observação de Obras | 3


Alexandre Catanho, Gilberto Laranja, Roberto Côrte

madeiras e traziam alguma sensação de desconforto e desconfiança por quem ali


passava. No entanto, esses ruídos eram considerados normais devido à idade das
madeiras, excluindo a hipótese de se dever a danos estruturais graves.

3.3. SOLUÇÕES ADOPTADAS.


O edifício do Museu Quinta das Cruzes, considerado Imóvel de Interesse Público,
requeria uma intervenção a nível de reabilitação e reforço estrutural que não violasse
nem prejudicasse as suas características arquitectónicas.
Para tal, foi procurada ajuda técnica e especializada em estruturas antigas (de madeira),
sendo por isso contactado o Eng. Júlio Appleton que, após estudar o caso do edifício,
propôs uma série de soluções à entidade responsável pelo museu.

3.3.1. Fissurações.
No que toca à problemática do surgimento de fissuras, o presumível afundamento de
fundações e consequente desestabilização estrutural foram motivos mais que suficientes
para reforçar a estrutura.
Seguidamente descreve-se as intervenções propostas pelo Eng. Appleton.

Reforço das paredes

Projectou-se uma amarração de todas as paredes para impedir que estas se


movimentassem incorrectamente e provocassem fissuras nas paredes.
Como as paredes são autoportantes, estas «trabalham» para a estrutura e a
movimentação desadequada do conjunto de paredes provocaria, possivelmente, a
abertura de fendas. Por isso, projectou-se furar cada parede longitudinalmente e inserir
tirantes para a respectiva amarração.
Uma das particularidades desta intervenção, foi que de início pretendia-se que a
perfuração das paredes não fosse feita com água, porque traria imensos problemas às
paredes antigas do edifício. A utilização de água neste tipo de paredes provocaria a
lavagem das argamassas no seu interior e o aparecimento de salitres (sais), o que seria
indesejável para a resistência das paredes. Assim, foi requerida uma perfuração a seco.
São muito poucas as empresas que efectuam perfurações a seco, mas a empresa
contratada efectuou um trabalho muito rápido e eficiente, com a excepção de um único
contra tempo:
 Quando se começou a perfuração, os operários deixaram a máquina sozinha
(durante o intervalo de almoço) a perfurar a parede, com o pretexto que isso era
normal e daí não resultavam problemas/consequências de execução. No entanto,
não foi levada em conta a existência de madeira no interior da parede
(características próprias de construções antigas), pelo que a fricção provocada
pelo instrumento de perfuração originou um pequeno foco de incêndio.
Foi com alguma sorte que se detectou o cheiro a queimado e o fumo, por
funcionários do museu, e assim resolveu-se o insólito com a chamada dos
bombeiros e dos operadores responsáveis pela execução do furo.
Para averiguar a situação, foi feito um furo pela parte interior do edifício, para
alcançar a zona queimada e averiguar o caso (Figura 3).
Segundo a informação fornecida, os danos foram preocupantes mas
considerados desprezáveis do ponto de vista do reforço estrutural.

Instrumentação e Observação de Obras | 4


Alexandre Catanho, Gilberto Laranja, Roberto Côrte

NOTA: A título de curiosidade, a perfuração das madeiras existentes nas paredes foi tão
exigente como uma perfuração em rocha. A dificuldade foi tal, que da perfuração
resultou um carote de madeira (o que não é normal).

Figura 3 – Zona do foco de incêndio (na madeira da viga principal, interior da parede).

Reforço das fundações

O Eng. Appleton propôs também uma intervenção a nível das fundações do edifício, de
modo a promover a estabilização do edifício.
No entanto, e dado que essa intervenção implicava uma série de trabalhos de um certo
modo indesejados, optou-se por não intervir nas fundações.

3.3.2. Reabilitação da estrutura de madeira.


Após os ensaios mecânicos, as conclusões tiradas pelo Eng. Appleton demonstraram
que a maior parte das anomalias eram pouco significativas e podia-se excluir a hipótese
de os ruídos estarem associados a danos estruturais. Mesmo assim, o resultado dos
ensaios revelou alguns pormenores de deterioração estrutural que necessitavam de um
reforço obrigatório, tendo em vista a sua reabilitação e longevidade.

Tarugos

Uma das soluções mais viáveis foi a utilização de técnicas antigas de pavimentação que
actualmente estão em desuso, que foi tarugar a estrutura em madeira de todas as salas do
museu. Isto é, optou-se pela colocação à pressão de tarugos (barrotes de madeira) entre
as vigas secundárias, de modo a garantir um maior desempenho estrutural, travando o
movimento das madeiras, e ajudar a eliminar o rangido incomodativo.
Esses tarugos, foram ocultados com a pregagem/prensagem de chapas metálicas,
conforme se vê na Figura 4, estrategicamente escolhidas para não causar danos estéticos
à estrutura de madeira. Estas chapas, foram juntas à parede com o auxílio de barras
metálicas que descansam em cima de chapas em L (reforço adicional), tal como se
constata na Figura 5.

Instrumentação e Observação de Obras | 5


Alexandre Catanho, Gilberto Laranja, Roberto Côrte

Figura 4 – Tarugos e respectivas chapas metálicas pregadas.

Figura 5 – Chapas em L.

Pré-esforço

Por exclusão de casos estudados, apenas uma viga foi alvo de maior atenção devido a
não se encontrar em muito boas condições, visto que possuía uma flecha considerável.
A solução proposta para corrigir a flecha da viga mais problemática baseou-se na
instalação de um elemento pré-esforçado na própria viga. Entretanto colocou-se outra
questão: Qual elemento a instalar sem prejudicar a viga, nos seus aspectos estruturais e
arquitectónicos?
Foi sugerida a utilização de um elemento em aço inox, que de inicio causou alguma
dúvida em relação ao seu enquadramento estético, mas que acabou por ser aceite devido
à sua elegância e à posterior confirmação de que assentou bem nos parâmetros estéticos
existentes.

Instrumentação e Observação de Obras | 6


Alexandre Catanho, Gilberto Laranja, Roberto Côrte

Este pré-esforço, para além de garantir a reabilitação da viga, também tem o objectivo
de excluir os ruídos do ranger da madeira.

Figura 6 – Elemento pré-esforçado, em aço inox.

Figura 7 – Outra perspectiva do elemento pré-esforço.

Conservação das madeiras

Já antes de sequer pensarem na necessidade de reabilitação do edifício do Museu Quinta


das Cruzes, a conservação de todas as suas madeiras era prática corrente. Existe então
um plano de tratamento das madeiras, de periodicidade anual, que consiste em efectuar
uma desinfestação. Resumindo, trata-se da realização de pequenos furos na madeira
com vista a injectar um anti-xilófago no seu interior (produto que desinfesta os bichos
roedores de madeira). Este procedimento leva ao encerramento temporário do museu,
dada a toxicidade do produto e respectivo odor fortíssimo.
Um pormenor importante à conservação de madeiras antigas, é que quando se projecta
introduzir novas madeiras junto das antigas, tem que haver uma preocupação especial
quanto ao seu tratamento, de modo a não haver transferência de bichos/doenças das
madeiras novas para as antigas. Para tal, as madeiras novas são desinfestadas em
estaleiro antes de serem depositadas no local da obra de reabilitação.

Instrumentação e Observação de Obras | 7


Alexandre Catanho, Gilberto Laranja, Roberto Côrte

3.4. MÉTODOS DE MO$ITORIZAÇÃO/OBSERVAÇÃO ESTRUTURAL.


A título de curiosidade, embora não remonte à data desta visita mas sim a uma data
muito anterior, foi comprovada a influência directa da construção do túnel da cota 40
nos assentamentos da estrutura. No entanto, não foi efectuado qualquer observação
estrutural nem utilizada instrumentação na altura de modo a poder-se observar e registar
a movimentação danosa do edifício.
Já neste projecto de reabilitação, foi utilizada muito pouca instrumentação de
monitorização, resumindo-se apenas a métodos de inspecção/observação do
comportamento do edifício.
Para detectar a evolução das fissuras das paredes, ou para determinar se estas ainda se
movimentavam (podiam ser fissuras antigas já estabilizadas por completo), foram
colocados testemunhos de gesso em cima das fendas. Se estes testemunhos estalassem,
significava que a fissura estava a mover-se, que acabou por ser um facto confirmado.
De seguida, foi necessária a instalação de um fissurómetro para obter resultados
quantitativos. Ao comprovar que a fissura se movia com uma velocidade preocupante,
começou-se a acompanhar o caso, recorrendo a registos escritos e fotográficos para uma
posterior análise. As leituras registadas e as fotografias foram depois encaminhadas ao
Eng. Appleton, que por sua vez estudou o caso e propôs as soluções já mencionadas.
Devido à escolha de colocar apenas tirantes de amarração das paredes, foi indispensável
uma posterior observação do evoluir (ou não) das deformações estruturais.
NOTA: no momento da visita técnica, obteve-se a informação de que a estrutura do
edifício não apresentava, nem tinha apresentado após a reabilitação, qualquer tipo de
deslocamento/assentamento/fissurações. No entanto havia uma ligeira desconfiança, por
parte da Arquitecta Filipa Abrantes que nos guiou, que poderiam surgir novamente
esses movimentos.

4. OUTROS PORME$ORES ACERCA DA OBRA DE REABILITAÇÃO.

Aquando dos trabalhos de reabilitação do Museu Quinta das Cruzes, estava suposta a
construção de balneários e casas de banho nas traseiras do edifício. Acerca do exacto
local onde se queriam construídos, existiam rumores que o solo era constituído por
rocha na sua maioria, o que dificultaria os trabalhos de escavação.
Por isso, foi requerido ao Laboratório Regional de Engenharia Civil um meio de
prospecção que ditasse quais as características do solo em questão. Para isso, o L.R.E.C.
aconselhou a realização de um ensaio de penetração dinâmica, cujo objectivo não era
exactamente determinar a existência de rocha, mas sim determinar as suas capacidades
mecânicas. O ensaio consiste na penetração de uma lança, através de um número
determinado de pancadas. Quando a lança deixa de penetrar com as pancadas, significa
que encontrou algum obstáculo (neste caso, rocha).
Esse ensaio acabou por ser realizado em pelo menos três zonas distintas, onde em uma
delas obteve-se uma penetração de apenas 30 cm, que rapidamente serviu para concluir
a existência de rocha.

Instrumentação e Observação de Obras | 8


Alexandre Catanho, Gilberto Laranja, Roberto Côrte

5. CO$SIDERAÇÕES FI$AIS.

A título de conclusão, foi possível destacar alguns pormenores acerca da informação


recebida e das observações efectuadas à estrutura.
No momento da visita, não existia qualquer fenda digna de atenção, nas paredes que foi
melhorada. Apenas umas pequenas fissuras, muito estreitas, foram avistadas, podendo
concluir que estas tenham grandes probabilidades de ter ocorrido devido ao fissurar do
reboco.
Quanto às perfurações a seco efectuadas nas paredes, para a colocação dos tirantes, há
que ter uma atenção especial. Quando se trabalha em edifícios antigos, onde as madeiras
das vigas por vezes atravessam as paredes consideravelmente, é necessário que se
estude bem o local antes de iniciar a perfuração e se mantenha um estado de alerta
constante durante os procedimentos de execução, de modo a não acontecer algo como o
queimar de madeira por fricção. Por isso, são técnicas que não prescindem do
acompanhamento obrigatório por parte dos técnicos/operadores.
A dita fricção da máquina perfuradora, presume-se que tenha sido influenciada pela
dificuldade de furar a madeira. Pode-se assim concluir que a dureza da madeira era de
tal maneira elevada, que a se aproximava à dureza de uma rocha, providenciando uma
incidência prolongada da fricção, sem avanços significativos, provocando então o
«mini-incêncido».
No que toca às soluções encontradas para a reabilitação das madeiras do interior do
edifício, pode-se concluir que, para além de resolverem o problema inicial, estas foram
bem escolhidas, foram simples e respeitam a estética, ficando perfeitamente
enquadradas no aspecto arquitectónico do museu.
As reabilitações de edifícios antigos têm que ser seguidas e efectuadas com especial
atenção, nomeadamente nas estruturas, matérias, entre outros, de forma a manter sempre
o enquadramento arquitectónico em questão. Estas intervenções não podem ser as mais
evidenciadas, isto é, aquando das visitas ao local, a evidência tem que ser remontada à
história do edifício (pormenores culturais mais antigos da estrutura) e nunca às
intervenções recentes. Só assim se preserva o ambiente histórico-cultural de um museu.
No entanto, os trabalhos efectuados na reabilitação de edifícios deste género sofrem
alguns contratempos. É necessária um redobrado alerta a tudo o que está estipulado em
projecto, pois este está devidamente pensado em função do enquadramento estético e
tem que ser absolutamente respeitado pelas empreitadas e/ou sub-empreitadas que têm a
cargo os trabalhos, de modo a não prejudicar a essência arquitectónica e cultural do
edifício. Tem que haver um estrito cumprimento do projecto.
Por fim, a pretendida construção dos balneários e casas de banho nas traseiras do
edifício foi cancelada. Pode-se considerar que existia, de facto, muita rocha no local e
que em termos financeiros talvez não seria viável avançar com esses trabalhos.

Instrumentação e Observação de Obras | 9


Alexandre Catanho, Gilberto Laranja, Roberto Côrte

6. BIBLIOGRAFIA.

Museu Quinta das Cruzes, Museu, História do Edifício, Evolução arquitectónica e


funcional da Quinta das Cruzes; http://www.museuquintadascruzes.com/pt-
PT/Default.aspx

Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana; Prédio da Quinta das Cruzes *1

Secretaria Regional do Equipamento Social e Transportes; Relatório – Ensaio de


Penetração Dinâmica, Museu das Cruzes – LREC, Funchal 2007

Instrumentação e Observação de Obras | 10

You might also like