You are on page 1of 3

Paola Cavalcante Ribeiro

Projeto de Pesquisa

Título
A Práxis da Lei Nº 10639/03: Uma Perspectiva de Reconhecimento

Tema
O ensino de História e Cultura Africana e Afrobrasileira nas escolas da rede pública de
ensino do município de Porto Alegre.

Delimitação do tema
Analisar as experiências de ensino de História e Cultura Africana e Afrobrasileira, na
disciplina de História, em escolas da rede pública de ensino de Porto Alegre.

Problema
De que forma o ensino de História e Cultura Africana e Afrobrasileira influenciam na
construção da identidade de alunos afrodescendentes?

Hipótese
O ensino de História e Cultura Africana e Afrobrasileira atua de forma positiva para a
construção da identidade de alunos afrodescendentes, atuando para o reconhecimento do
papel do negro na sociedade brasileira.

Objetivo geral
Analisar de que forma o ensino de História e Cultura Africana e Afrobrasileira contribui
para a formação da identidade dos alunos afrodescententes.

Objetivos específicos
a) Observar a metodologia de ensino do professor de História acerca da temática
africana e afrobrasileira.
b) Constatar o impacto desta temática nos alunos afrosdescententes.
c) Analisar este impacto na construção da identidade dos alunos afrodescentestes
pesquisados.

Justificativa
Dentro deste contexto de lutas e mobilizações, a promulgação da Lei Nº 10.639
representou uma grande conquista para o avanço na construção da plena cidadania a
todos os brasileiros. Sabemos que a escola é uma das principais ferramentas ideológicas
de reprodução e manutenção do status quo, mas que também pode se configurar como
um espaço de fomento de novas mentalidades, de novas relações entre os indivíduos. A
escola, no atual contexto globalizado e letrado, tem um poder imensurável ao gestar o
desenvolvimento intelectual de grande parte dos indivíduos que atuam de forma
dialética nesta. Desta forma, acredito que a Lei Nº 10.639 abre um importante espaço
para o debate, análise e reflexão sobre as questões raciais no Brasil.

Metodologia
Segundo as Diretrizes Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o
Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, elaborada pelo Conselho
Nacional de Educação, Art 3º §3° “O ensino sistemático de História e Cultura Afro-
Brasileira e Africana na Educação Básica, nos termos da Lei 10.639/2003, refere-se, em
especial, aos componentes curriculares de Educação Artística, Literatura e História do
Brasil.”. Desta forma, a pesquisa se desenvolverá junto aos professores das áreas
especificadas no inciso citado acima. A metodologia utilizada será a de observação
participante, utilizando o caderno de campo, câmera filmadora, gravações de voz e
questionários como instrumento de pesquisa.

Fundamentação Teórica e Definição de Conceitos


Utilizarei como substrato teórico as análises desenvolvidas pela Teoria Crítica,
principalmente as reflexões oriundas dos escritos dos intelectuais da Escola de
Frankfurt, sendo Habermas o teórico mais estudado. Esta corrente de pensamento
buscou elaborar um conjunto de conceitos que visavam através de um processo de
reflexão e auto-reflexão a construção de uma sociedade constituída de indivíduos
conscientes de seu papel social, emancipados das ideologias de dominação, vivendo em
verdadeira democracia, iguais na diferença.
Desta forma, a Teoria Crítica fornece ferramentas de análise fundamentais para o
entendimento da questão racial no Brasil e de que forma as políticas de ações
afirmativas se constituíram como um instrumento importante para a construção de um
novo paradigma social. A promulgação da Lei 10.639 e a elaboração das Diretrizes
Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e
Cultura Afro-Brasileira e Africana vão ao encontro das demandas de valorização do
negro na construção da sociedade brasileira, do reconhecimento das injustiças
cometidas contra as populações que foram escravizadas por quase 400 anos. O objetivo
desta política afirmativa somente poderá ser concretizar se, dentre inúmeras outras
medidas necessárias, houver uma mudança profunda nos paradigmas educacionais do
sistema de ensino brasileiro. Sendo assim, a promulgação da referida lei expressou a
dimensão política da educação, fazendo com que a prática pedagógica, devesse ser
repensada no sentido de reconstruir a história dos povos africanos e de seus
descendentes brasileiros.
Na ótica habermasiana, este compromisso político da ação educativa fica
explícito quando esta transmite modelos sociais, colabora com a formação da
personalidade, difunde um conjunto de conceitos que estão em consoante com um
projeto político, de maneira clara ou não. Portanto se a escola é um espaço social por
excelência, ela detém em suas mãos uma força transformadora, pois se esta voltar-se
para a formação histórica do ator social capaz (qualificado no sentido de ser
autodeterminado) e tomando a educação como a construção de competência política,
possibilitará a formação de indivíduos dotados de consciência crítica, aptos para
definirem e conduzirem seus destinos, tendo como horizonte a convivência com
liberdade, a verdadeira emancipação humana.
Uma forma de engendrar medidas positivas na direção de um estado menos
desigual, onde os indivíduos que sofreram processos de marginalização é através de
políticas de ações afirmativas. Segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais para a
Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-
Brasileira e Africana, ações afirmativas são definidas como: “Conjunto de ações
políticas dirigidas à correção de desigualdades raciais e sociais, orientadas para a oferta
de tratamento diferenciado com vistas a corrigir desvantagens e marginalização criadas
e mantidas por estrutura social excludente e discriminatória” (2004, pg. 12). Esta visão
estatal está intimamente ligada a questão do reconhecimento, onde o Estado assume sua
parcela de responsabilidade na superação das práticas discriminatórias racistas. Este
processo de reconhecimento perpassa diversos âmbitos da sociedade, pois implica em
mudanças nos discursos, nas mentalidades, na visão de outro e de alteridade que estão
presentes em nossa estrutura social.
Para um entendimento mais abrangente sobre a questão do preconceito racial no
Brasil, foi de imensa contribuição à leitura do artigo de João Feres Júnior (2006), onde
ele aborda a redefinição da discriminação no contexto pós-abolição até os dias atuais,
trazendo as análises de Florestan Fernandes e Carlos Hasenbalg, que utilizaremos para
esta pesquisa. Fernandes, na obra A integração do negro na sociedade de classes (1965)
define o racismo moderno sob duas explicações complementares: a) o preconceito como
um atraso cultural, resíduo histórico da hierarquização da sociedade escravocrata,
estando destinado a esvaecer com o desenvolvimento capitalista; b) falta de capacitação
dos negros para as novas profissões que surgiam no pós-abolição e suposta
anarquização de suas relações familiares. Acredito que a superação desta argumentação
de Fernandes se mostra evidente, dado que seu prognóstico de superação do preconceito
racial não se concretizou, já que nos encontramos em um estágio avançado de
desenvolvimento tecnológico e mesmo diante da complexidade de nossa sociedade (ou
devido a esta complexidade??) persistem paradigmas raciais baseados na dominação de
um genótipo pelo outro, legitimada por uma corrente de pensadores que remontam a
Antiguidade.
Neste sentido, Hasenbalg tece sua crítica a tese de Fernandes, afirmando que o
preconceito racial persiste em nossa sociedade capitalista por exercer uma função social
estrutural neste sistema: “ou seja, o racismo e a discriminação devem ser relacionados
aos ganhos materiais e simbólicos do grupo superior, os brancos.” (FERES JR., 2006,
pg. 165). Sendo assim, o racismo, que fundamentou quase quatro séculos de escravidão
no Brasil se reestrutura, buscando manter a dominação elitista branca sobre as
populações negras, que após a abolição ganha o status de “cidadãos brasileiros”. Esta
dominação, que antes era física e coercitiva, agora assume formas mais sutis, excluindo
os afrodescendentes das oportunidades de obtenção de melhorias de vida, alijando os
negros de uma justa competição na sociedade democrática liberal capitalista que se
constitui no Brasil.
Em consoante ao pensamento de Hasenbalg, Luiz Carlos Paixão da Rocha, em
dissertação de mestrado sobre políticas afirmativas, aborda a questão das desigualdades
raciais interligadas com as desigualdades sociais, sendo que ambos fenômenos sociais
são mantidos e resignificados pela sociedade capitalista. Rocha (2006, pg. 3) então
afirma que: “a dinâmica da desigualdade racial deve ser entendida na sua relação com a
dinâmica da luta de classes, tendo em vista a visão do racismo enquanto subproduto da
forma capitalista de organização da sociedade”. Portanto, a superação do atual sistema
excludente deve abarcar a superação da discriminação racial e as lutas contra o racismo
devem se alinhar com as questões sociais e de classe.
Uma expressão máxima do preconceito e discriminação racial no Brasil é a
questão da negação do reconhecimento. Segundo Feres Jr. podemos definir
reconhecimento como : “relação dialógica e recíproca e sua negação deve ser entendida
pela identificação dos mecanismos que impedem esta reciprocidade” (2006, pg. 173). O
autor identifica que, no caso do Brasil, ocorre, como forma de negação do
reconhecimento, a oposição assimétrica racial, sendo definida como: “falta ou má
formação de atributos físicos e psicológicos próprios do Eu coletivo” (FERES JR. 2006,
pg.168), ou seja, a inferioridade e o estigma discriminatório torna-se uma questão
impossível de se contornar. A negação do reconhecimento traz conseqüências profundas
nos indivíduos que se vêem alijados do respeito social e da plena cidadania.

You might also like