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Sexualidade:

Reflexões sobre Relacionamentos Amorosos na


contemporaneidade

Jefferson Cliffiton Nepomuceno de Sousa


Luís Bruno de Meneses Santo*
Antonieta Lira e Silva**

RESUMO

O amor, para o senso comum, é tido desde antiguidade como sentimento


misterioso e poderoso capaz de prover desde uniões matrimoniais até guerras.
Mas, afinal o que é esse amor? Como podemos interpretá-lo diante do
comportamento sexual que a humanidade apresenta na atualidade? No presente
ensaio, buscamos refletir, com base bibliográfica, qual a percepção do sexo no
contexto dos relacionamentos amorosos na contemporaneidade.

Palavras-chave: Amor, Sexo, Relacionamentos amorosos,


Contemporaneidade.

Sexuality:
Reflections on love relationships in contemporary

ABSTRACT

The love for the common sense, is taken from ancient and mysterious and
powerful feeling able to provide unions from marriage to war. But after all that, and
this love? How can we interpret it in the face of sexual behavior that shows humanity
at present? In this test, we think, based on literature, which the position of the
opposite sex to love relationships with a view in contemporary psychology.

Keywords: Love, Sex, Relationships love, Contemporaneity.

* Graduandos em psicologia pela Faculdade Santo Agostinho FSA-PI.


** Professora Mestra em Psicologia Clínica e Orientadora do trabalho.
INTRODUÇÃO

O presente artigo tem como objetivo principal refletir sobre os relacionamentos


amorosos na contemporaneidade e a partir destas reflexões, identificar a evolução
do amor e do sexo na atualidade, bem como os aspectos psicossociais envolvidos.
Para tanto, iremos analisar a evolução dos relacionamentos amorosos deste a
antiguidade até os dias atuais, focando na dinâmica das relações sexuais amorosas
da atualidade.

A reflexão sobre relacionamentos amorosos é uma temática bastante


discutida, porém atual e relevante diante de nossa atualidade. Nas últimas décadas,
constituiu-se no Ocidente uma nova cartografia do social, em que a fragmentação da
subjetividade ocupa posição fundamental. Essa fragmentação não só constitui uma
forma nova de subjetivação, como também serve de matéria-prima por meio da
quais outras modalidades de subjetivação são forjadas.

De acordo com estudos recentes, modificou-se a relação do sujeito com seu


objeto. Vive-se numa sociedade em que as pessoas não mais se permitem ficar
tristes, não toleram o fato de serem frustradas. Instalou-se uma ordem social
segundo a qual as pessoas valem pelo que aparentam, e não pelo que são,
predominando, cada vez mais, o individualismo.

Segundo Birmam, “os destinos do desejo assumem,


pois, uma direção marcadamente exibicionista e
autocentrada, na qual o horizonte intersubjetivo se
encontra esvaziado e desinvestido das trocas inter-
humanas”. (2001, p. 29)

Na contemporaneidade, nos deparamos com uma ordem do descartável, do


“ficar” ou relacionamentos líquidos, da quantidade em detrimento da qualidade, onde
as pessoas podem dar prevalência ao exterior ao invés do interior, onde há uma
diminuição da complexidade e envolvimento dos relacionamentos, provocando
desde fracassos e estragos a novas formas de se relacionar na vida amorosa.

Portanto, diante desse cenário sobre os relacionamentos amorosos, refletir


sobre as questões da afetividade é de absoluta importância para tentarmos e
compreender os cenários sexuais atuais, já que a intensidade e o excesso pulsional
é característica marcante de tais comportamentos.

SEXUALIDADE NA HISTÓRIA E SUAS REPRESENTAÇÕES

No percurso histórico dos comportamentos sexuais, da pré-história até a


atualidade, observa-se a prática sexual para além das funções vitais e instintivas,
estando imbricada com as relações psicológicas e sociais embora.
A partir de várias leituras sobre as primeiras representações e reproduções
sexuais, como artes rupestres, observa-se a priori, uma norma sexual semelhante
aos animais, ou seja, conforme a “lei da natureza”, as relações sexuais ocorriam em
momentos propícios. Estas primeiras reproduções plásticas do cotidiano primitivo
deste homem revelam suas observações e descriminação entre os sexos,
primeiramente através de animais com características sexuais relevantes, e
posteriormente a reprodução de momentos sexuais de casais humanos e rituais em
grupos.
Com um intenso processo de reprodução e conseqüentemente um acelerado
crescimento dos grupos primitivos surge à necessidade de subsistência e uma
cooperação monogâmica. As relações monogâmicas tornam-se prioritária, pois
diante de escassos recursos de sobrevivência para todo o grupo a monogamia tem,
como principal objetivo, garantir a vida de seus descendentes.
Evoluindo para uma era mais representativa e complexa da sexualidade,
período marcado pelas explicações míticas grego-romana, é exposto à relevante
preocupação sobre a própria origem e a origem do mundo. Todas estas duvidas,
medos, e falta de uma regra que explicasse a origem de tudo e de todos, os levaram
a recorrer a explicações divinas. Uma destas explicações da criação do universo e
tudo que nele habita é o mito de Adão e Eva onde, segundo Gêneses, tudo foi criado
por Deus, sendo a terra criada por etapas (haja a luz,... o firmamento,... o mar,... as
águas, etc.), posteriormente cria o homem (Adão) a sua semelhança, tornando-o
assim um ser vivente. Finalmente, vendo a solidão de Adão, Deus cria uma
companheira, a partir da costela de Adão, chamada de mulher e ao casal o paraíso
lhes pertencia, montando uma noção de natureza humana onde o pecado estaria
próximo ao desejo, impulso e descompromisso.
Não podemos deixar de mencionar também as representações dos órgãos
sexuais do homem e da mulher, pois desde a pré-história a humanidade atribui aos
órgãos sexuais poderes sagrados, poder este de promover a vida quando unidos.
Estas celebrações, aos órgãos masculinos e femininos, caracterizam o
falicismo, que pode ser culto ao falo (pênis) ou Yoni (vulva). O termo “falo” deriva do
grego “phallós”, símbolo de fertilidade e força, sendo que, o poder do falo sempre
estava aliado a um deus, como por exemplo, Dionísio na Grécia e Baco em Roma.
Registros arqueológicos datados de 25 mil anos atrás comprovam o quanto é
antigo a celebração do sexo. Estas celebrações se davam mais por medo de perder
o poder inexplicável, de gerar vidas, dos órgãos masculinos, ou seja, as celebrações
eram formas de demonstrar o valor que realmente era imposto (Taylor, 1997).
A representação plástica da vulva da mulher se dava através de estatuetas de
mulheres nuas e desproporcionais numa tentativa de representar estágios da
reprodução, como o período de fertilidade e de gravidez. Os elementos da natureza,
também estavam associados à sexualidade, por exemplo, a água e o frio estavam
para o sexo feminino e o fogo e o calor representava a masculinidade.
Segundo Carl Jung (apud Taylor, 1994), os primitivos usavam os símbolos
fálicos com grande liberdade, não confundindo jamais, o falo do símbolo ritual, com
o pênis ou a vulva.
Não somente no decorrer da antiguidade, o falo era tido como um maná criador
(símbolo de fertilidade divina), mas até hoje. O homem se espalhou por todo o
território terrestre e levou consigo a tradição do falicismo e o representaram através
de inúmeros objetos, elementos e animais. Alguns alimentos eram e ainda, são
considerados afrodisíacos por lembrar o formato de órgãos sexuais. As formas do
falo eram representadas em monumentos, como tonens e obeliscos feitos em
grandes proporções e de diversos materiais (ouro, prata, bronze, cobre, pedras, etc.
(Livro bíblico, Deuteronômios)
Quanto ao sexo e a religião, observa-se que ambos mantiveram estreitas laços
desde a pré-história, com o misticismo e os rituais sagrados, expressos livremente
pelas diversas culturas até a civilização contemporânea.
DESENVOLVIMENTO HUMANO E SOCIAL NA CONSTRUÇÃO DA
SUBJETIVIDADE AMOROSA E SEXUAL

A idéia de sexualidade como finalidade reprodutiva e de poder se manteve na


subjetividade das civilizações por muito tempo até o século XIX com as grandes
descobertas da psicanálise freudiana, na qual o sexo passou de uma simples função
reprodutiva e de poder para uma representação além dos órgãos reprodutivos, ou
seja, o sexo também como função na constituição da personalidade e lugar do
sujeito na sociedade.

A sexualidade na contemporaneidade vem sendo


compreendida como além das funções psicossociais, pois
os cenários socioculturais afetam diretamente nas
representações de gênero e formação da subjetividade.
(Heiborn, 2006 p.34)

Hoje, o adolescente expressa a necessidade de reafirmar-se em sua identidade


e em uma sociedade que suprimiu os rituais de passagem da adolescência. No
período da puberdade, não existe mais a iniciação nem a aprendizagem através da
cultura, as etapas apresentam-se de formas variadas diante das novas
configurações familiares da contemporaneidade.

A adolescência diferente da puberdade tem características tanto universais


quanto peculiar, na qual, conforme o ambiente sócio cultural que o jovem está
inserido será demarcado pelo despertar da sexualidade que, segundo Freud a
sexualidade não surge de modo abrupto nesse momento, mas sim numa construção
da subjetividade sexual desde o nascimento.

Atualmente temos testemunhado certos movimentos da rebeldia juvenil, não


que até então ela não fosse expressa, mas o adolescente se organiza de uma nova
forma ainda pacífica, porém com um ar de atitude e independência, indo às ruas
para manifestar suas idéias num impressionante movimento que teve a aprovação
de todos os “chamados adultos”. Está mais uma vez reconhecido o seu poder de
expressão, contestação e mudança; e com o aval da sociedade.

Buscando uma compreensão em relação aos aspectos ligados ao exercício da


sexualidade, faz-se necessário uma compreensão global da adolescência onde no
período de crescimento, que se inicia fisicamente com a puberdade e termina
quando se atinge a maioridade, o corpo cresce novas funções surge, a mente se
desenvolve, o ambiente modifica-se, a qualidade das sensações afetivas e sexuais
se transforma, nesse período denominado como adolescência. Segundo Papalia
(2006), a adolescência, fase peculiar da transição biopsicossocial, é um período
caracterizado pelas transformações biológicas e pela busca da definição de um
papel social, determinado pelos padrões culturais do meio social que esta.

A adolescência começa com a puberdade, período no qual consiste em


mudanças biológicas que produzem a maturação sexual, iniciando uma série de
mudanças especificamente sexuais, que culminam como desenvolvimento e a
manutenção dos órgãos sexuais e com a resposta fisiológica adulta. (Papalia, 2006)

Diante disso, começa o desenvolvimento da subjetividade amorosa e sexual,


onde a identificação principal é com o sentido atual do amor, a contingência mais
necessária a necessidade mais contingente; mas esse amor que para a maioria das
pessoas é considerado como um problema, o problema de ser amado, e não o de
amar, onde amor para eles pode ser algo simples, mas que encontrar o objeto
apropriado para amar ou ser amado é onde mora a dificuldade.

A explicação que se dá a essa atitude é de que nas culturas tradicionais em


geral, amar não significa subsídios para um laço matrimonial, pois o casamento
formal era decidido por convenções sociais. Porém, essa realidade mudou com o
tempo, e hoje nas últimas gerações, com relação ao conceito de amor romântico,
tornou-se universal e com a finalidade de promover a felicidade individual do amor,
que pode então resultar em casamento.
Com as novas configurações sociais, a liberdade de amar, a felicidade do
homem moderno consiste no privilégio que é dado ao objeto em detrimento da
importância da função.
O amor que se baseia somente na atração sexual e a consumação da realização
sexual, observada na atualidade com os relacionamentos “fast-food” ou o famoso
comportamento do “ficar”, é um amor considerado não duradouro, devido a ausência
de interação, um vínculo que não vincula, entre outros fatores que são a base de
alguns relacionamentos atuais. Mas por outro lado, algumas pessoas consideram
lucrativas essas trocas amorosas onde o prazer é satisfeito abrindo possibilidades
de novas trocas.
Pensando nisso e comparando a noção de “sexualidade” para psicanálise,
onde a sexualidade está para além do simples ato sexual, pois os impulsos oriundos
dos afetos sexuais é o que vai mover a vida do sujeito. Diante disso, os
relacionamentos atuais podem fazer surgir um vazio que nunca será preenchido,
pois na ética do prazer imediato e rápido não existe lugar para grandes
investimentos amorosos o que pode frustrar o sujeito. (Martinez, 1998).

SEXUALIDADE E SEUS LUGARES NA SOCIEDADE

De um ponto de vista ocidental, é possível perceber diferentes tipos de vínculos


amorosos que se configuram em níveis diferentes de investimentos. Podemos
observar quatro tipos de configurações amorosas, como o Sexual que se caracteriza
como o investimento que na realização do contato genital, o Eros como a evolução
para além do contato físico o enlace sentimental, a Philia sendo o sentimento de
familiaridade com envolvimento sentimental sem sentido sexual biológico e o Ágape
ou Caritas caracterizado como amor de companheirismo ou bem ao próximo.
Portanto, o que vai caracterizar o sexo como amor ou parte de um relacionamento é
o grau de intensidade da conjuntura destes diversos modos de relacionar-se,
deixando as configurações contemporâneas sobre os relacionamentos a cargo das
necessidades sentimentais individuais.
Fazendo um recorte para a atualidade, é notável a condição humana em que
as pessoas estão imersas em decorrência da capitalização com a idéia de
subjetividade individual, no qual, cada pessoa é responsável por sua constituição e
manutenção emocional, fazendo com que se minimizem cada vez mais as relações
interpessoais e ceda espaço para a acelerada comunicação em massa, como os e-
mails e chats da internet que ao contrário do ideal de aproximar as pessoas fornece
a opção do sujeito relacionar-se sem se envolver emocionalmente, no qual o
deixaria em estado de dependência ou compromisso, pois a escolha de novos
relacionamentos depende apenas de um clique em outro contato, afinal estar só
frente a uma tela de computador parece mais confortável do que vivenciar encontros
reais e partilhar emoções.
Segundo Rollo May, no passado recalcava-se o sexo e aflorava-se o amor, já
na atualidade recalca-se amor e entrega-se a paixão, porém não é que tenhamos
superado ou suplantado, mas esse novo modelo se apossa, hoje, da imitação
grosseira dos sentimentos que não são expressos ou bloqueando-os.
O fato da exclusão e repreensão dos investimentos amorosos sendo satisfeitos
por meio de práticas sexuais descompromissadas é mais uma evidência da
evolução narcísica da sociedade, onde a auto-realização amorosa estaria a serviço
da liberdade.
Acentuando as significações sobre o casamento, observamos a visão da
estabilidade financeira e independência oriunda do casamento (Duby, 2000). Onde o
papel da mulher era de ter os seus sentimentos devidamente “domesticados e
abafados” (Del Priore, 1997).
Segundo Calligaris, o casamento ainda é importante na sociedade atual, porém
não mais fundamental, pois o mais importante a ser considerado é o amor e a
cumplicidade para crescimento pessoal independente de estar casados ou não,
ficando clara a importância da afetividade no relacionamento.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com base em todas as transformações do comportamento sexual desde os


simples enamoramentos até os matrimônios ou formas de se relacionar sexualmente
na atualidade, houve uma grande evolução de papeis tanto da mulher quanto do
homem na sociedade e consecutivamente no seu papel nos relacionamentos
amorosos. Portanto, só nos resta questionar sobre novos tipos de relacionamento
que predominarão no futuro, novos comportamentos e atitudes frente a sexualidade,
novos modelos, de família de relacionar-se, amar e os valores éticos e morais que
serão tomados como embasamento.
Por fim, como característica do ser Humano, sempre estar em busca do livre
arbítrio ou liberdade tanto nos relacionamentos quanto aos sentimentos, corporal e
mental, promove e vai promover sempre a vida e a manutenção das diversidades
comportamentais na sexualidade e com o relacionamento amoroso, portanto amar
sempre independente da configuração e contexto sexual.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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