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Carta aberta à sociedade

protestante
Estou sinceramente enojado. A quantidade de coisas pérfidas que um ser
humano é capaz de realizar já é grande, foro íntimo; mas, se analisarmos as
armas de tortura, execução e contenção de presos que ainda estão em uso
ao redor do mundo, certamente não deveríamos ficar surpresos de que
ainda não saímos da Idade Média. O uso de ferramentas de tortura e
execução, durante a era medieval, pelos poderes dominantes ao redor do
mundo e concatenadas pelo maldito livro “Malleus Maleficarum” ou “O
Martelo das Bruxas”, como práxis da Igreja Católica daquele período para
seus inquisidores, não é, em absoluto, um resquício de nosso passado mais
lúgubre e distante. Ecos daquele passado ainda resistem, ao redor do
mundo, em democracias como os Estados Unidos, Brasil, e em regimes
despóticos e pretensos a ditatoriais em nome de um deus inexistente e
intolerante, como no Irã e Coréia do Norte.

Não posso me posicionar diante de uma igreja completamente ignorante do


perigo que correm seus seletos missionários e outros irmãos sem deixar de
pragmatizar que, conquanto perigosa esta anuência ignorante, serei
considerado alarmista e político provinciano. Não. Admito que, embora
possamos estar sentados em nossa zona de conforto, não possamos
concordar de forma nenhuma com esta maneira de encarar a tortura e a
morte de pessoas honestas, capazes, audazes em anunciar o evangelho da
vida eterna. Mas, coloco um apóstrofe.

Enquanto o sangue de ovelhas inocentes clamam por nossa intervenção,


outro sem número de pessoas que igualmente merecem nossa observação
misericordiosa e (porquê não?) sedentas de conhecer o evangelho da
verdade, os injustiçados pela justiça, os condenados pela sociedade, os
párias de um mundo decadente e decaído, monstros criados por nós, (sim,
digo nós, eu, você, eles) encarcerados em prisões sem a mínima condição
de receber um animal sequer, alienados por não terem sido plenamente
convencidos e convertidos a uma percepção de sua própria necessidade de
Deus; não estamos fazendo absolutamente nada! Isto é inadmissível! Isto é
vergonhoso!

Os instrumentos de tortura mais eficazes não são aqueles que matam o


corpo: são os que eficazmente matam a alma. Tornam a condição já
miserável humana em subumana. Enquanto não insistirmos em reconhecer
e combater a praga alienante das ditas democracias e teocracias trôpegas
de justiça, que envenenam toda a base social com factóides ilustres de
história oficial, estaremos assinando nossa conivência, tal qual “bons
alemães” que, durante a Segunda Guerra Mundial, foram também
coniventes com a perseguição e extermínio de seis milhões de judeus,
quatro milhões de comunistas, e outro tanto de homossexuais, perseguidos
políticos, e todos que foram contra o establishment de Hitler.

Conclamo, pois, que levantemos os estandartes e imploremos a Deus, e agir


em nome desse mesmo Deus, para a causa do fim da má justiça: o fim da
pena capital no mundo, a punição severa de governantes e governados que
utilizem de quaisquer instrumentos de tortura e pena capital, a justa
adequação de presos de acordo com seus crimes, e a conscientização de
toda a sociedade laica acerca dos direitos essenciais do ser humano,
conforme estabelecido desde a Revolução Francesa e plenamente aceito por
todas as nações signatárias da ONU.

Tomemos vergonha na cara agora. Ou nos envergonharemos diante de


Deus, por sermos omissos? Eis a escolha.

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